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MIRIAM DANTAS ROSA TERCEIRO SETOR, RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E COLETA SELETIVA: AS ONG’S DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS EM LONDRINA – PR Londrina 2007

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MIRIAM DANTAS ROSA TERCEIRO SETOR, RESDUOS SLIDOS URBANOS E

COLETA SELETIVA: AS ONGS DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLVEIS EM

LONDRINA PR

Londrina

2007

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MIRIAM DANTAS ROSA

TERCEIRO SETOR, RESDUOS SLIDOS URBANOS E

COLETA SELETIVA: AS ONGS DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLVEIS EM

LONDRINA PR

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao, em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Estadual de Londrina, com requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento. Orientadora: Profa. Dra. Alice Yatiyo Asari.

Londrina 2007

MIRIAM DANTAS ROSA TERCEIRO SETOR, RESDUOS SLIDOS URBANOS E

COLETA SELETIVA: AS ONGS DE CATADORES DE MATERIAIS RECICLVEIS EM

LONDRINA PR

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao, em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento da Universidade Estadual de Londrina, com requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Profa. Dra. Alice Yatiyo Asari

Orientadora Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Prof. Dr. Jos Paulo P. Pinese

Universidade Estadual de Londrina

____________________________________ Prof. Dr. Valmir de Frana

Universidade Estadual de Londrina Londrina, 17 de Agosto de 2007.

AGRADECIMENTOS Ao cumprir mais uma etapa de minha vida, gostaria de registrar

meus sinceros agradecimentos s instituies e especialmente s pessoas que me

auxiliaram para que este trabalho fosse realizado. Sou grata a todos.

A DEUS, pela fora e luz em todos os momentos de minha vida;

minha famlia, que sempre esteve presente em todos os

momentos de dificuldades e alegrias;

minha estimada irm Rosinei, que apoiou e incentivou mais uma

etapa de minha vida.

Prof Dr Alice Yatiyo Asari, pela amizade, compreenso e

ensinamentos para meu crescimento intelectual e pessoal;

Ao meu grande amigo e esposo Rogrio Henrique, pela

compreenso e sinceros sentimentos de dedicao em todas as etapas dessa

importante tarefa.

minha querida amiga Helena, pela dedicao, pacincia, amizade,

carinho dedicados, que sempre me apoiou e incentivou todos os passos de minha

vida.

querida amiga Edna, por amizade e pacincia dedicadas.

Ao Departamento de Geocincias, professores e funcionrios;

A todas as instituies que forneceram dados pertinentes ao

desenvolvimento deste trabalho;

Aos integrantes das ONGs pesquisadas, que dispuseram de seu

tempo, fornecendo informaes que auxiliaram e possibilitaram a realizao deste

trabalho.

Ao governo do Estado de So Paulo, que atravs do FUNDESP

Fundo de Desenvolvimento Educacional de So Paulo, propiciou auxlio financeiro

com o Programa de Bolsa Mestrado direcionado aos professores efetivos da rede

estadual de ensino.

Dedicatria

minha querida mame Maria Aparecida, amado esposo Rogrio e estimadas irms que me apoiaram em todo o processo de minha formao pessoal e intelectual.

ROSA, Miriam Dantas. Terceiro setor, resduos slidos urbanos e coleta seletiva: as ONGS de catadores de materiais reciclveis em Londrina PR. 122f. 2007. Dissertao (Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2007.

RESUMO O objetivo geral desta pesquisa foi compreender o Terceiro Setor por meio da avaliao das ONGs de catadores de resduos slidos urbanos (RSU) reciclveis e/ou reaproveitveis, em Londrina. Utilizou-se a metodologia de pesquisa (em fontes primrias, como as ONGs integrantes do Programa de Coleta Seletiva, por meio de entrevistas e coleta de dados; e em fontes secundrias instituies sobre o Terceiro Setor e ONGs) e a de metodologia de anlise (levantamentos bibliogrficos, leituras e fichamentos sobre o tema em estudo). Analisando-se a constituio do pas, constata-se que Estado abdicou em vrios momentos histricos de sua tarefa de proporcionar, ou mesmo cumprir com suas obrigaes para com a sociedade, citando como exemplo: a garantia de direitos bsicos de todos os cidados, como educao, sade, moradia, alimentao, trabalho, entre outros. Neste momento, os convnios e alianas entre Estado, Mercado e a Sociedade Civil so muito necessrios, pois h clara necessidade de superar o quadro de excluso social e tambm promover uma dinmica de desenvolvimento sustentvel. H grandes discusses sobre o Terceiro Setor, quanto a sua prpria definio, caractersticas e at mesmo quanto ao seu real papel enquanto outro setor da sociedade civil. Mas, em geral, os autores analisados concordam que o chamado Terceiro Setor representado pelas Organizaes No Governamentais. As ONGs de catadores de materiais reciclveis fazem a coleta, triagem e comercializao de quatro grupos de resduos: papel, plstico, metal e vidro. Ressalte-se que os fatores que tornam a reciclagem do lixo economicamente vivel convergem, todos eles, para a proteo ambiental e a sustentabilidade do desenvolvimento, pois se referem economia de energia, de matrias-primas, de gua e tambm reduo da poluio do solo e subsolo, da gua e do ar. Assim como para a promoo de uma forma de desenvolvimento econmico e socialmente sustentvel, pois envolve ganhos para a sociedade como um todo. Verificou-se, portanto, que o Programa de Coleta Seletiva, como parte de poltica pblica de meio ambiente para absorver uma parcela da populao excluda na cidade, atende, apenas parcialmente, as necessidades dos integrantes das ONGs. Satisfaz minoritariamente a necessidade de ocupao e renda, porm, ainda preciso o desenvolvimento de polticas que solucionem a falta de infra-estrutura para o trabalho dessa parcela da populao que aponta a falta de incentivos do governo municipal como um empecilho para sua melhor sobrevivncia no espao geogrfico urbano. Palavras-chave: Terceiro setor. Resduos slidos urbanos. Coleta seletiva.

ROSA, Miriam Dantas. Third sector, urban solid residues the select collection: THE NGO DE management DE residues recycle in Londrina. 122f. 2007. Dissertao (Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento) Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2007.

ABSTRACT The general goal of this research was to understand the Third Sector by an avaliation of the NGOs management of urban solid residues recycle, in Londrina. The metodology of research used was (in primary sources, as NGO integrant of Programo fthe Select Collection by interviews data collects; and by secondary sources (intituitions) about the Third Sector and and NGO) and the analysis metodology (bibliographical surveys, readings and fichamentos about the subject in study). Analyzing the constitution of the country, is contacted that the State " abdicated" in some historical moments of its task to provide, or same to fulfill with its obligations to the society, citing as example: the guarantee of basic rights of all citizens, as education, health, housing, feeding, work, among others. At this moment the accords and alliances between State, Market and the Civil Society is very necessary, therefore it has clear necessity to surpass the picture of social exclusion and also to promote a dynamics of sustainable development. There is great discussion aboput the Third Sector, about a proper definition, characteristics and even though about its real paper, while another sector of the civil society. But, in general, the analyzed authors agree that the calledThird Sector, is represented by the Non Governmental Organizations. The NGO of collectors of recycle materials did the collection, selection and commercialization of four groups of residues: paper, plastic, metal and glass. One standes out that the factors that become the garbage recycling economically viable converge, all they, for the environment protection and the sustainability of the development, therefore they are mentioned to the economy of energy, raw materials, water and also to the reduction of the pollution of the ground and subsoil, the water and air. As well as for the promotion of one form of economic development and socially sustainable, therefore it involves profits for the society as a whole. Was verified, therefore, that the Program of Selective Collect, as part of public politics of environment to absorb a parcel of the population excluded in the city takes care of, only partially, the necessities of the integrant ones of the NGO. Satisfies restrict to the occupation and income, however, still is necessary the development of politics that solve the lack of infrastructure for the work of this parcel of the population that points the lack of incentives of the municipal government as one impediment with respect to its better survival in the urban geographic space. Keywords: Third sector. Urban solid residues. Select collection.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Diagrama das vias de acesso de agentes patognicos para o homem atravs do lixo disposto inadequadamente...........................35

Figura 02 Esquema da cadeia alimentar ...........................................................47 Figura 03 Ciclo de vida til do papel..................................................................50 Figura 04 Ciclo de vida do metal latinhas .......................................................53 Figura 05 Lixeiras para materiais reciclveis com as cores padronizadas

pelo CONAMA ...................................................................................57

Figura 06 Coleta Seletiva Porta-a-porta ............................................................63 Figura 07 Regio Sul e Sudeste: coleta seletiva de lixo ....................................64 Figura 08 BRASIL: composio da Coleta Seletiva - % do peso.......................65 Figura 09 Coleta diria de materiais reciclveis em Londrina............................74 Figura 10 Bens e equipamentos dos integrantes das ONG's ............................88 Figura 11 Mutiro para recolher materiais doados para construo das

moradias..........................................................................................102

Figura 12 Funcionamento do Projeto Onde Moras........................................103 Figura 13 Casa precria ..................................................................................103 Figura 14 Casa construda com os resduos de construo e demolio........104

LISTA DE FOTOS

Foto 01 Prensa para manuseio com materiais reciclveis. 2006. ONG RESSUL ..............................................................................................76

Foto 02 ONG Reciclando Vidas, localizada na Vila Marzia Londrina. Coordenadora: Vernica de Souza PR. 2006 .....................................77

Foto 03 Carrinho usado para coletar o lixo e caminho da empresa VISATEC. 2006 ...................................................................................83

Foto 04 Veculo utilizado para coleta de material reciclvel mantida com recursos prprios.................................................................................98

Foto 05 Funcionrios da empresa VISATEC durante a coleta de materiais reciclveis............................................................................................98

Foto 06 Triagem de materiais reciclveis na ONG AREL.................................99

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 Produo do lixo domiciliar .................................................................45 Quadro 02 Decomposio dos resduos slidos ..................................................45 Quadro 03 PAPEL: materiais reciclveis e no-reciclveis ..................................51 Quadro 04 PLSTICO: materiais reciclveis e no-reciclveis ............................52 Quadro 05 METAL: materiais reciclveis e no-reciclveis..................................54 Quadro 06 Reciclagem de vidro: pases da Europa Ocidental .............................55 Quadro 07 VIDRO: materiais reciclveis e no-reciclveis ..................................56

LISTA DE MAPAS

Mapa 01 Localizao de Londrina (PR) .............................................................61 Mapa 02 Localizao das ONGs de catadores de materiais reciclveis em

Londrina (PR) ......................................................................................73

Mapa 03 Local de origem dos integrantes das ONGs no Estado do Paran ..122

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 ONG`s atuantes em Londrina (PR)..................................................... 72 Tabela 02 Formas de ingresso na ONG.............................................................. 81 Tabela 03 Existencia de patro ou chefe............................................................. 82 Tabela 04 Tempo que trabalha na ONG ............................................................. 83 Tabela 05 Horas trabalhadas no dia.................................................................... 83 Tabela 06 Formas de deslocamento at o setor de coleta.................................. 84 Tabela 07 Formas de pagamento e clareza dos preos de venda ...................... 85 Tabela 08 Existncia de reunies para discusso de assuntos surgidos ............ 85 Tabela 09 Tipos de doenas adquiridas no trabalho com a reciclagem .............. 86 Tabela 10 Existncia de reunies com a CEPEVE e benefcios conseguidos .... 87 Tabela 11 Casa prpria ....................................................................................... 88 Tabela 12 Melhorias a serem alcanadas pelas ONGs...................................... 89 Tabela 13 Satisfao com o trabalho de reciclagem ........................................... 90 Tabela 14 Preferncias no trabalho da reciclagem ............................................. 91 Tabela 15 Formas de contribuio do trabalho das ONG`s para

conservao do meio ambiente .......................................................... 92

Tabela 16 Perspectivas para o futuro ................................................................. 94 Tabela 17 Profisses exercidas pelos integrantes das ONGs e seus

familiares ............................................................................................ 94

Tabela 18 Local de nascimento do integrante da ONG e de seus familiares ...... 95 Tabela 19 Coordenadores: formas e tempo de ingresso no trabalho com os

materiais reciclveis ........................................................................... 96

Tabela 20 Tempo de existncia da ONG e forma de ingresso ............................ 96 Tabela 21 Criao e parceria das ONGs com a CEPEVE.................................. 97 Tabela 22 Formas que a CEPEVE paga as despesas ........................................ 97 Tabela 23 Formas de transporte do material reciclvel ....................................... 98 Tabela 24 Conquistas da CEPEVE para melhorar a vida dos coletores ............. 99 Tabela 25 Prdio prprio ou alugado .................................................................. 100 Tabela 26 Estrutura e equipamentos da ONG..................................................... 100 Tabela 27 Importncia do trabalho das ONGs para o meio ambiente ................ 101 Tabela 28 Importncia do trabalho das ONGs para a cidade de Londrina ......... 101

SUMRIO INTRODUO ......................................................................................................13 1 O TERCEIRO SETOR........................................................................................18 1.1 O TERCEIRO SETOR: CONCEPES E CARACTERSTICAS ......................................18

1.2 OUTROS SEGMENTOS DO TERCEIRO SETOR NO MUNICPIO DE LONDRINA (PR) ......27

2 A PROBLEMTICA DOS RESDUOS SLIDOS URBANOS RSU OU DO

LIXO......................................................................................................32 2.1 CLASSIFICAO DOS RESDUOS SLIDOS ............................................................36

2.2 RESDUOS RECICLVEIS .....................................................................................48

2.2.1 Papel ............................................................................................................50

2.2.2 Plsticos .......................................................................................................51

2.2.3 Metal.............................................................................................................53

2.2.4 Vidro .............................................................................................................55

3 PROGRAMA DE COLETA SELETIVA: TERRITORIALIDADES E

RECICLAGEM DE RSU ...........................................................................58 4 AS ONGS DE CATADORES DE RSU RECICLVEIS NO MUNICPIO DE

LONDRINA (PR).......................................................................................68 4.1 PERFIL SOCIOECONMICO DOS INTEGRANTES DAS ONGS DE RSU

RECICLVEIS NO MUNICPIO DE LONDRINA PR............................................80

4.2 Exemplos de Reaproveitamento de Materiais Reciclveis: projeto onde

moras e recicla UEL ..............................................................................102

CONSIDERAES FINAIS ................................................................................106 REFERNCIAS...................................................................................................109 ANEXOS .............................................................................................................115 ANEXO 1 Questionrio para Pesquisa de Campo Coletores ........................116

ANEXO 2 Questionrio para Pesquisa de Campo Coordenadores..............119

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INTRODUO

Apresenta-se, nesta dissertao os resultados da pesquisa

desenvolvida, a qual tem por recorte espacial o espao geogrfico do municpio de

Londrina (PR).

Assim, o objetivo geral que norteou a pesquisa foi compreender o

Terceiro Setor por meio da avaliao das ONGs de catadores1 de resduos slidos

urbanos (RSU) reciclveis e/ou reaproveitveis, em Londrina. Os objetivos

especficos foram: estudar o processo de constituio e desenvolvimento das ONGs

de catadores de resduos slidos reciclveis e/ou reaproveitveis e suas

participaes junto s organizaes pblicas e/ou privadas; analisar a gesto dos

RSUs; identificar e/ou propor a implementao de uma poltica municipal para o

gerenciamento integrado dos RSU; conhecer e analisar a legislao vigente sobre o

Terceiro Setor em nvel nacional e tambm os possveis estmulos municipais;

estudar os diversos segmentos do Terceiro Setor na cidade de Londrina; realizar um

levantamento de dados sobre Terceiro Setor na cidade de Londrina.

Quanto metodologia, Eco (1996) coloca que ao se realizar uma

pesquisa deve-se ter em mente as fontes e os mtodos que sero utilizados.

Esta dissertao valeu-se da metodologia de pesquisa, a qual

compreendeu a realizao de levantamentos sobre o Terceiro Setor com as ONGs,

em fontes secundrias, tais como, no IDEL (Instituto de Desenvolvimento de

Londrina), na CMTU (Companhia Municipal de Trnsito e Urbanizao de Londrina);

e primrias, nas ONGs integrantes do Programa de Coleta Seletiva de Londrina, por

meio de entrevistas e coleta de dados.

A metodologia de anlise consistiu em levantamentos bibliogrficos, leituras e fichamentos sobre o tema em estudo, os quais subsidiaram a redao da

dissertao.

A pesquisa em foco justifica-se pela necessidade de se promover o

desenvolvimento do tema: Geografia e Terceiro Setor, visto que a sociedade vem

executando tarefas antes delegadas ao Estado com muito mais ocorrncia do que

1 Cdigo Brasileiro de Ocupaes/Ministrio de Trabalho e Emprego. CATADOR DE MATERIAL RECICLVEL. Cd/CBO: 5192-5.

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antes. a populao tomando a frente na resoluo e/ou amenizao de conflitos

sociais.

Bourdieu apud Bonnewitz (2003, p. 14) coloca que os agentes

sociais conferem s suas aes um sentido inovador para enfrentar problemas:

Os agentes sociais tm capacidade de enfrentar situaes imprevistas e constantemente renovadas; alm do mais, nos diversos campos sociais, sabem estabelecer relaes entre os meios e os fins para adquirir bens raros.

Nota-se que a ineficcia do gestor pblico em solucionar os conflitos

scio-ambientais tem motivado a sociedade organizada a assumir essas

competncias que legalmente (constitucionalmente) caberiam ao Estado. a poltica

neoliberal delegando atribuies de setores estratgicos, como a sade, meio

ambiente, telecomunicaes, energia, s organizaes privadas dos segundo e

terceiro setores.

Isto posto, considera-se que este estudo dever contribuir para o

desenvolvimento e consolidao dessa linha de pesquisa, alm de possibilitar o

aprimoramento intelectual da pesquisadora.

A dissertao est organizada em quatro captulos, sendo que o

primeiro faz uma abordagem terica sobre o Terceiro Setor, concepes e

caractersticas, alm de apresentar informaes sobre outros segmentos do Terceiro

Setor na cidade de Londrina. O segundo trata da questo dos resduos slidos, mais

especificamente dos materiais reciclveis. No terceiro, realizou-se um estudo sobre

programa de coleta seletiva e suas territorialidades em mbito nacional e local. E no

quarto e ltimo captulo, apresenta os dados empricos das ONGs de catadores de

materiais reciclveis no municpio de Londrina, procurando enfatizar o perfil dos

integrantes, bem como dos seus coordenadores, sua situao econmica e social,

com vistas avaliao das suas condies de vida face ao trabalho de coleta,

triagem e comercializao dos materiais.

No que se refere ao contexto do pas, analisando-se a histria de

formao do Estado brasileiro, nota-se que, houve perodos de governos autoritrios

e democrticos, contribuindo para a formao de um Estado autoritrio-burocrtico,

com fortes caractersticas de um Estado interventor nas atividades econmicas,

resultando na constituio de um corpo de tcnicos e burocratas. Essa tendncia

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tornou-se mais intensa a partir da segunda metade da dcada de 1960, mais

precisamente a partir de 31 de maro de 1964, quando ocorreu o golpe militar,

colocando o pas sob a tutela de um Estado, poca em que o governo passou a ser

dirigido por militares, instituindo um modelo administrativo e centralizador, apoiado

por uma elite econmica privilegiada, com proteo estatal (HOBSBAWN, 2002).

Desde ento, o governo se propunha a modernizar o pas e a

desenvolver sua economia. Foi nesse perodo que se sucederam tambm diversas

formas de relacionamento entre Estado e sociedade civil, com dificuldades de

participao social e poltica. Durante o governo do general Ernesto Geisel (1974

1979) o pas se v mergulhado numa grave crise econmica; era o fim do milagre

econmico apregoado pelos militares. Comeava tambm uma lenta abertura

poltica, com avanos e retrocessos. Os movimentos polticos e sociais tiveram que

continuar lutando pela democracia at janeiro de 1985, com a eleio indireta que

colocava um ponto final na ditadura militar, e o pas passa a ter ento um presidente

civil novamente.

Assiste-se ao longo dos anos, de um lado, uma deteriorao da

economia do pas, e de outro, ao surgimento de reaes polticas dos atores sociais

de todas as origens com o pluripartidarismo. Instaura-se assim, um verdadeiro

paradoxo, pois ao mesmo tempo em que se consegue uma enorme conquista social,

que foi a promulgao da Constituio Federal de 1988, encontra-se um Estado

falido, incapaz de assumir seu papel de provedor do bem estar social.

Observa-se que o Estado em nenhum momento de sua constituio

histrica cumpriu seu papel de assegurar s pessoas o atendimento das

necessidades bsicas para a manuteno da vida social. Muitas causas so

apontadas, como afirma Fischer:

A fragilidade da economia; a precariedade da arrecadao tributria; os critrios de elaborao do oramento nacional; a amplitude da excluso social; a baixa capacidade de presso poltica das classes populares; a falta de sensibilidade dos tcnicos que elaboram e implementam as polticas governamentais (FISCHER, 2002, p. 41).

Sabe-se que as causas citadas, apresentaram-se em diferentes

conjunturas e em diversos arranjos, mas pode-se dizer que nunca houve uma

consolidao efetiva, voltada prioritariamente para atender as demandas sociais,

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visando a promoo do desenvolvimento e a superao das desigualdades de

distribuio de renda.

Aps presso de organismos internacionais e movimentos de

globalizao da economia, os governos promoveram um modelo de poltica

neoliberal e descentralizado, baseado na abertura da economia, prevendo um

Estado regulador ou gerenciador, com a presena de novas figuras institucionais,

como as organizaes sociais para o exerccio de atividades que at ento deveriam

ser realizadas pelo Estado. Consolida-se assim, uma multiplicidade de atores

sociais, tais como:

As ONGs, que assumiram sua posio de defesa de direitos e interesses; as associaes, principalmente aquelas que agregam comunidades populares; as entidades beneficentes e filantrpicas; e surpreendentemente, as empresas, as associaes empresariais, as fundaes e os institutos vinculados a corporaes (FISCHER, 2002, p. 43).

nesse contexto que as parcerias e alianas entre Estado, Mercado

e a Sociedade Civil so necessrias, pois h clara necessidade de superar o quadro

de excluso social e tambm promover uma dinmica de desenvolvimento

sustentvel. 2

A Lei 9790/1999 trouxe contribuies significativas para a regulao

do chamado Terceiro Setor, e mais tarde a Lei das PPP Parcerias Pblico

Privadas (11079/2004) tambm veio complementar o quadro.

Segundo o Ministrio do Planejamento (2007), nos ltimos anos, o

setor pblico, em diversos pases, premido pela necessidade de viabilizar

investimentos em contexto de restrio fiscal, encontrou nos arranjos de parceria

pblico-privada o mecanismo eficiente na proviso de servios pblicos.

Entende-se como parceria pblico-privada um contrato de prestao de servios de mdio e longo prazo (de 5 a 35 anos) firmado pela Administrao Pblica, cujo valor no seja inferior a vinte milhes de reais, sendo vedada a celebrao de contratos que tenham por objeto nico o fornecimento de mo-de-obra, equipamentos ou execuo de obra pblica. Na PPP, a implantao da infra-estrutura

2 aquele que atende s necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as geraes futuras atenderem a suas prprias necessidades. H que se lembrar que o conceito de necessidades deve ser discutido, bem como a noo de limites que devem ser impostos ao meio ambiente para garantir a sua preservao (PHILIPPI JR.; PELICIONI, 2005).

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necessria para a prestao do servio contratado pela Administrao depender de iniciativas de financiamento do setor privado e a remunerao do particular ser fixada com base em padres de performance e ser devida somente quando o servio estiver disposio do Estado ou dos usurios (MINISTRIO DO PLANEJAMENTO, 2007).

Nesse contexto, a PPP no se aplica s ONGs de catadores de

materiais reciclveis, uma vez que seus oramentos so bem inferiores ao previsto

na lei, e a parceria/convnio com o setor pblico ocorre com exclusiva prestao de

servios, fornecimento de mo-de-obra e equipamentos, infra-estrutura de uma

maneira geral, itens vedados pela lei.

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1 O TERCEIRO SETOR

Neste item, procura-se esboar um ensaio acerca da discusso

sobre o Terceiro Setor, abrangncia e aplicabilidade de seus conceitos na sociedade

atual com vistas ao trabalho das ONGs, especificamente as ONGs de catadores de

materiais reciclveis integrantes do CEPEVE Conselho das Organizaes dos

Profissionais de Resduos Slidos de Londrina.

1.1 O TERCEIRO SETOR: CONCEPES E CARACTERSTICAS

H dificuldades em ter-se uma concepo nica para o Terceiro

Setor, visto que tem-se uma enorme diversidade de organizaes que o compem e

tambm uma multiplicidade de formas e reas de atuao, que so resultantes da

prpria riqueza e da pluralidade da sociedade brasileira, e dos diferentes marcos

histricos, os quais acabam por definir os arranjos institucionais nas relaes entre o

Estado e o Mercado, bem como as relaes comerciais.

Porm, cabe ressaltar que as conceituaes de Terceiro Setor

trazem em sua origem o Estado como Primeiro Setor e o Mercado como o Segundo,

sendo que o Terceiro Setor apresenta-se com caractersticas de ambos, isto ,

cumpre o papel do Primeiro e utiliza a metodologia do Segundo; composto por

organizaes que objetivam benefcios coletivos, porm so, elas mesmas, de

natureza privada.

Para Fischer (2002) o Terceiro Setor a denominao para o

espao composto por organizaes privadas, sem fins lucrativos, cuja atuao

dirigida a finalidades coletivas ou pblicas, onde atuam diversas entidades que

variam em tamanho, grau de formalizao, volume de recursos, objetivo institucional

e forma de atuao.

Nesse sentido, Fernandes (1994) complementa e coloca que o

Terceiro Setor composto de organizaes sem fins lucrativos, criadas e mantidas

pela nfase na participao voluntria, num mbito no-governamental, oferecendo

continuidade a prticas tradicionais de caridade e filantropia, expandindo o seu

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sentido para outros domnios, graas, sobretudo, incorporao do conceito de

cidadania e de suas mltiplas manifestaes na sociedade civil.

Igualmente, Tenrio (2001) coloca que essas organizaes no

fazem parte do Estado, nem a ele esto vinculadas, mas se revestem de carter

pblico medida que se dedicam a causas e problemas sociais e, mesmo sendo

sociedades civis privadas, no tm como objetivo o lucro e sim o atendimento s

necessidades da sociedade.

Pode-se dizer que so entidades no-governamentais que

expressam a sociedade civil organizada, para o atendimento de interesse pblico em

diferentes reas e segmentos, dentre os quais destaca-se a Assistncia Social, a

Educao, a Sade, o Meio Ambiente, a Segurana Alimentar, dentre outras. Como

afirma Oliveira (2001, p. 75):

Entender o que so, de onde vem, o que querem, como cresceram e se multiplicaram, como atuam as organizaes de cidados implica retomar os fios de uma histria que combina valores e prticas ancestrais com fenmenos contemporneos e, em boa medida, anunciadores de profundas mudanas no perfil das sociedades e da ordem internacional.

Verifica-se assim que h a necessidade de conceituao e de

delimitao do chamado Terceiro Setor, pois permitir compreender que os trs

setores interagem e que o Mercado e o Estado no so regidos somente por uma

lgica intrnseca, e o comportamento do Terceiro Setor influenciar nas esferas

polticas e econmicas do pas. Permite inferir ainda que a definio do papel desse

Setor levar compreenso de que as transformaes que esto sujeitas as

sociedades globais exigem inovaes na forma de tratamento dos chamados

problemas sociais. preciso, portanto, uma revoluo nos papis sociais

tradicionais, na maneira de pensar e tratar a realidade social e, por fim, vencer os

obstculos entre o pblico e o privado.

Montao contrape, afirmando que:

O termo terceiro setor carente de rigor terico - no preciso na caracterizao do espao que ocupa, e antes confunde do que esclarece e desarticulado do social, pressupondo a existncia de um primeiro e um segundo setor dividindo a realidade social em trs esferas autnomas: o Estado, o mercado e a sociedade civil (MONTAO, 2003, p. 181).

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Dessa forma, Montao (2003) coloca que, numa perspectiva crtica e

de totalidade, o conceito de Terceiro Setor apresenta-se como ideolgico e

inadequado ao real, pois a realidade social no se divide em primeiro, segundo e

terceiro setor. Esta diviso compe-se de um artifcio positivista, institucionalista ou

estruturalista3. Entretanto, no se pode negar que est ocorrendo um fenmeno

efetivamente novo, visto que a sociedade civil est de fato realizando e

desenvolvendo atividades que anteriormente eram atribudas ao Estado. Verifica-se

que existem duas gneses nesse processo: uma por iniciativa da sociedade civil e

outra por iniciativa do Estado delegando competncias a estas organizaes.

Ao realizar-se um breve ensaio sobre os objetivos e a abrangncia

da Lei 9.790/99, isto , a lei que representa um marco legal, que legitimou e reforou

alguns preceitos para uma melhor visualizao e organizao do Terceiro Setor,

verifica-se que essa lei representa um pequeno passo na regulamentao entre as

relaes entre o Estado e a sociedade civil. O que se est buscando so

possibilidades de que a populao possa participar mais ativamente do processo

de desenvolvimento social do Brasil.

Em geral, a lei pretende estimular o crescimento do Terceiro Setor, o

que leva ao fortalecimento da sociedade civil, resultando em investimentos no

chamado capital social. nesse sentido que so necessrias algumas aes que

reconheam o carter pblico de um conjunto de organizaes da prpria sociedade

civil, e tambm facilitem a colaborao entre essas organizaes e o Estado. Trata-

se de uma emerso de uma esfera pblica no-estatal. Como afirma Ferrarezi:

Trata-se de construir um novo marco institucional que possibilite a progressiva mudana do desenho das polticas pblicas governamentais, de sorte a transform-las em polticas de parceria entre Estado e Sociedade Civil em todos os nveis, com a incorporao das organizaes de cidados na sua elaborao, na sua execuo, no seu monitoramento, na sua avaliao e na sua fiscalizao (FERRAREZI, 2000, p. 13).

Em sntese, essa Lei norteia as organizaes obteno do ttulo de

OSCIP, ou seja, de Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico. Tal

3 Considera-se que esta diviso decorre da necessidade em aprofundar os estudos acerca da realidade social, fragmentando-as em 1, 2 e 3 setor, mas sem perder a viso da totalidade. Alm do mais, a classificao das organizaes empresariais so realizadas conforme figuras e competncias jurdicas, com respaldo jurdico.

21

qualificao acompanhada de algumas exigncias, as quais so relacionadas

natureza jurdica da entidade, seus objetivos sociais e normas tributrias.

Pode-se dizer que os principais elementos para a implementao da

Lei so os seguintes:

Estatuto de OSCIP (Organizao da Sociedade Civil de

Interesse Pblico);

Requerimento para qualificao como OSCIP;

Termo de parceria4;

Termo de Adeso ao Servio Voluntariado.

A Lei 9.790/99 foi regulamentada pelo Decreto 3.100, de 30 de

Junho de 1999. Os procedimentos para a obteno da qualificao das entidades

como Organizao da Sociedade Civil de Interesse Pblico foram disciplinadas pelo

Ministrio da Justia por meio da Portaria 361, de 27 de Julho de 1999.

Segundo Ferrarezi (2000, p. 28), os objetivos especficos dessa lei

foram os seguintes:

1. Qualificar as organizaes do Terceiro Setor por meio de critrios

simples e transparentes, criando uma nova qualificao, ou seja, Organizao da

Sociedade Civil de Interesse Pblico/OSCIP. Esta nova qualificao inclui as formas

recentes de atuao das organizaes da sociedade civil e exclui aquelas que no

so de interesse pblico, que se voltam para um crculo restrito de scios ou que

esto (ou deveriam estar) abrigadas em outra legislao;

2. Incentivar a parceria entre as OSCIPs e o Estado, por meio do

Termo de Parceria, um novo instrumento jurdico criado para promover o fomento e

a gesto das relaes de parceria, permitindo a negociao de objetivos e metas e

tambm o monitoramento e a avaliao dos resultados alcanados;

3. Implementar mecanismos adequados de controle social e

responsabilidade das organizaes com o objetivo de garantir que os recursos de

4 O Termo de Parceria uma das principais inovaes da Lei das OSCIPs. Trata-se de um novo instrumento jurdico criado pela Lei 9.790/99 (art. 9) para a realizao de parcerias unicamente entre o Poder Pblico e a OSCIP para o fomento e execuo de projetos. Em outras palavras, o Termo de Parceria consolida um acordo de cooperao entre as partes e constitui uma alternativa ao convnio para a realizao de projetos entre OSCIPs e rgos das trs esferas de governo, dispondo de procedimentos mais simples do que aqueles utilizados para a celebrao de um convnio (SEBRAE, 2007).

22

origem estatal administrados pelas OSCIPs sejam, de fato, destinados a fins

pblicos.

importante salientar que a Lei 9.790/99 trouxe mudanas

considerveis em relao legislao anterior, ainda vigente. As principais delas

referem-se ao processo de qualificao, que passou a ser menos oneroso e mais

gil; a abrangncia institucional, isto , fez-se o reconhecimento de organizaes

cujas reas de atuao no eram contempladas legalmente; o acesso aos recursos

pblicos, de forma menos burocrtica e com maior controle pblico e social; aos

mecanismos de planejamento, avaliao e controle dos projetos que envolvem

recursos pblicos, ou seja , uma espcie de gesto estratgica.

Salienta-se ainda que, segundo Azevedo (2007), a qualificao

como OSCIP5 no substitui a Declarao de Utilidade Pblica Federal, fornecida

pelo Ministrio da Justia, e o Certificado de Fins Filantrpicos6, fornecido pelo

Conselho Nacional de Assistncia Social (CNAS)7.

Para que uma instituio se qualifique como OSCIP, preciso

atentar para alguns requisitos estabelecidos na Lei 9.790/99:

1. Ser pessoa jurdica de direito privado sem fins lucrativos;

2. Atender aos objetivos sociais e s normas estatutrias previstas

na Lei;

E, para a forma jurdica, citada acima, de acordo com o artigo 16 do

Cdigo Civil, esta pode ser composta de sociedades civis ou associaes civis ou,

ainda, fundaes de direito privado.

Conforme o pargrafo 1 do artigo 1 da Lei 9.790/99, considerada

sem fins lucrativos a:

5 As organizaes do Terceiro Setor que se transformarem em OSCIP, devem aps cinco anos optar por uma das qualificaes: OSCIP ou Utilidade Pblica. J as qualificaes estaduais e municipais permanecem. 6 Filantropia - Na raiz, o termo significa "amor humanidade", "humanitarismo", tradicionalmente est relacionado s atividades de pessoas abastadas que praticam aes sociais sem fins lucrativos ou doam recursos para entidades beneficentes; atualmente, tem se restringido a doaes de particulares para causas sociais e para o investimento social das empresas privadas. (TERCEIRO SETOR EM REDE, 2006) 7 Assistncia Social - Prestao de servio gratuito de natureza variada aos membros da comunidade visando atender necessidades daqueles que no dispem de recursos suficientes; segundo a LOAS, a assistncia social tem por objetivos: a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice; o amparo s crianas e adolescentes carentes; a promoo da integrao ao mercado de trabalho; a habilitao e reabilitao das pessoas portadoras de deficincia e a promoo de sua integrao vida comunitria. LOAS - Lei Orgnica da Assistncia Social 8742/93 - a legislao que define objetivos, princpios e diretrizes da Assistncia Social e que cria o CNAS, bem como os conselhos estaduais e municipais. (TERCEIRO SETOR EM REDE, 2006)

23

[...] a pessoa jurdica de direito privado que no distribui, entre os seus scios ou associados, conselheiros, diretores, empregados ou doadores, eventuais excedentes operacionais, brutos ou lquidos, dividendos, bonificaes ou parcelas de seu patrimnio, auferidas mediante o exerccio de suas atividades, e que os aplica integralmente na consecuo do respectivo objeto social.

A Lei 9.790/99 abrange as instituies que tenham pelo menos uma

das seguintes finalidades, conforme artigo 3:

1. Promoo da assistncia social;

2. Promoo gratuita da educao;

3. Promoo gratuita da sade;

4. Promoo da cultura, defesa e conservao do patrimnio

histrico e artstico;

5. Promoo da segurana alimentar e nutricional;

6. Defesa, preservao e conservao do meio ambiente e

promoo do desenvolvimento sustentvel;

7. Promoo do voluntariado;

8. Promoo dos direitos estabelecidos, construo de novos

direitos e assessoria jurdica gratuita de interesse suplementar;

9. Promoo da tica, da paz, da cidadania, dos direitos humanos,

da democracia e de outros valores universais;

10. Promoo do desenvolvimento econmico e social e combate a

pobreza;

11. Experimentao, no lucrativa, de novos modelos scio-

educativos e de sistemas alternativos de produo, comrcio,

emprego e crdito;

12. Estudos e pesquisas, desenvolvimento de tecnologias

alternativas, produo e divulgao de informaes e

conhecimentos tcnicos e cientficos que se referem s

atividades supra mencionadas;

Assim, nota-se que so variadas as reas que cada instituio pode

desenvolver suas atividades e prestar servios sociedade.

24

Outro ponto interessante, que costuma levantar muita polmica, o

fato dos dirigentes receberem ou no uma determinada remunerao pelos servios

prestados s organizaes denominadas OSCIP. Para tentar resolver essa questo,

a Lei 9.790/99, estabelece que cada organizao deve expressar em seu estatuto

uma das alternativas possveis: a) No remunera os dirigentes, sob nenhuma forma;

b) Remunera os dirigentes que efetivamente atuam na gesto executiva da entidade

ou prestam servios especficos, de acordo com os valores praticados no mercado

da regio onde atua, lembrando que, de acordo com a legislao tributria em vigor,

se a entidade remunerar seus dirigentes no ter iseno do Imposto de Renda.

Uma das principais inovaes da Lei 9.790/99 o Termo de

Parceria, visto que, esse termo consolida um acordo de cooperao entre as partes

e constitui uma alternativa ao convnio para a realizao de projetos entre OSCIPs

e rgos das trs esferas de governo. Em sntese, esse termo se efetiva por meio de

um concurso de projetos, os quais devem desenvolver um programa e contemplar

aspectos como objetivos, metas, resultados, indicadores de desempenho e

mecanismo de desembolso.

Para finalizar, no se pode esquecer de comentar sobre a prestao

de contas anual da OSCIP. Segundo a Lei 9.790/99, ela deve ser realizada sobre a

totalidade das operaes patrimoniais e resultados da entidade, devendo ser

apresentados documentos, tais como: relatrio anual de exerccio de atividades;

demonstrao de resultados do exerccio; balano patrimonial; demonstrao das

origens e aplicaes de recursos; demonstrao das mutaes do patrimnio social;

notas explicativas das demonstraes contbeis; parecer e relatrio de auditoria

independente, somente para os casos em que os recursos recebidos pela OSCIP,

por meio de Termo de Parceria, for igual ou ultrapasse a seiscentos mil reais.

A referida prestao de contas8 se mostra bem minuciosa, mas

observa-se que necessria, visto que, uma prestao contnua de contas por

mtodos que se baseiam mais na eficincia/eficcia do que na formalidade,

tornando as contas transparentes. Para que se consiga legitimar, estimular o

crescimento do Terceiro Setor e fortalecer as organizaes que dele fazem parte

8 Para mais informaes ver MUELLER, Charles Curt. Os economistas e as relaes entre o sistema econmico e o meio ambiente. Braslia: Editora Universidade de Braslia / Finatec, 2007. DE CARLO, S. O sistema integrado de contas econmico-ambientais: sntese e reflexes sobre sua aplicao no Brasil. In: ROMEIRO, Ademar Ribeiro (Org.) Avaliao e contabilizao de impactos ambientais. Campinas: Imprensa Oficial do Estado de So Paulo, 2004.

25

preciso adotar medidas, para que se possa desenvolver um trabalho srio. No se

est defendendo a burocratizao do setor, mas sim, o incremento do mesmo.

Como foi colocado anteriormente, as transformaes da sociedade

so dinmicas e complexas e as organizaes que compem o Terceiro Setor

devem acompanhar essas transformaes, de modo a atuar mais significativamente.

A Lei 9.790/99 significou uma vitria para as organizaes do

Terceiro Setor, constituindo numa nova identidade sob a forma de OSCIPs -

Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico.

Nesse contexto, o municpio de Londrina privilegiado com a

parceria entre setor pblico e a sociedade civil por meio das 30 ONGs que

desenvolvem um trabalho de tratamento de resduos slidos urbanos, mais

especificamente a coleta e a comercializao dos resduos, as quais sero objeto de

pesquisa emprica da dissertao.

Para ampliar a participao e divulgao das instituies do Terceiro

Setor criou-se o Mapa do Terceiro Setor, projeto administrado pelo Centro de

Estudos do Terceiro Setor (CETS) da Escola de Administrao de Empresas de So

Paulo da Fundao Getlio Vargas (FGV-EAESP).

...tem como finalidade dar transparncia e credibilidade s organizaes do terceiro setor no Brasil, identificando, sistematizando e divulgando suas aes relevantes, alm de servir como material para pesquisas e estudos acadmicos sobre as organizaes sociais e seus projetos e disponibilizar ao pblico em geral informaes que contribuam para a proposio de polticas pblicas e parcerias com empresas (MAPA DO 3 SETOR, 2007).

O funcionamento e desenvolvimento do Mapa do Terceiro Setor se

do por meio do autocadastramento de organizaes do Terceiro Setor que desejam

participar de seu banco de dados. Esse cadastro feito pela prpria organizao

mediante o preenchimento da ficha disponvel na seo "Cadastro - Organizao",

sendo que os dados ficam disposio do pblico em geral, via Internet9.

Segundo o CETS (Mapa do Terceiro Setor, 2007), os objetivos do

estudo, atravs do mapa consistem em:

9 Para mais informaes consulte .

26

ser um canal de divulgao das organizaes do terceiro setor como agentes de transformao social, registrando iniciativas na promoo humana, no trabalho voluntrio, na gerao de emprego e renda e no incremento da economia nacional. Possibilitar o intercmbio de experincias; formar uma rede de colaboradores, facilitando o acesso de voluntrios, parceiros e patrocinadores; contribuir para a organizao e fortalecimento do terceiro setor. Oferecer material para pesquisa e estudos acadmicos de programas e projetos sociais; disponibilizar informaes que contribuam na proposio de polticas pblicas e responsabilidade social corporativa.

Os benefcios para o terceiro setor, ainda segundo o CETS, seriam

muitos, dentre eles:

Contribui para a formao de um cadastro nacional das organizaes do terceiro setor, registrando suas atividades e distribuio espacial. Registra as iniciativas do terceiro setor na promoo do trabalho voluntrio, na gerao de empregos e de renda, na idealizao e execuo de projetos e no fortalecimento da economia nacional. Estimula e identifica a prtica da transparncia entre as organizaes (MAPA DO 3 SETOR, 2007).

E para as organizaes cadastradas, destaca-se os seguintes

benefcios: divulga suas aes, o que possibilita o alcance de potenciais financiadores, doadores e voluntrios. Facilita o intercmbio de experincias entre organizaes que atuam na mesma rea ou em outros segmentos do terceiro setor. Facilita o acompanhamento das atividades da organizao beneficiada por seus doadores, possibilitando traar um panorama de suas aes. Gratuito. No h custo para se registrar e as informaes podem ser atualizadas sempre que necessrio (MAPA DO 3 SETOR, 2007).

O Mapa do Terceiro Setor conta nesse primeiro momento com 249

organizaes cadastradas, divididas em 719 unidades distribudas em 23 estados

brasileiros. Estima-se que existam 250 mil organizaes no pas. As pesquisas

atuais no conseguiram ainda acompanhar o rpido crescimento das organizaes

do terceiro setor. Por isso, a idia que o mapa seja construdo de forma

27

participativa, explica Luis Carlos Merege (informao verbal), coordenador do CETS

FGV (MAPA DO 3 SETOR, 2007)10.

H um guia de busca de organizaes, no qual, basta selecionar no

mapa, o Estado onde deseja efetuar a busca. Depois deve-se selecionar o

Municpio, nome da organizao, rea de atuao, entre outros. Trata-se de um

mapa vivo com banco de dados atualizado sobre o terceiro setor.

1.2 OUTROS SEGMENTOS DO TERCEIRO SETOR NO MUNICPIO DE LONDRINA (PR)

Estudos da Rede de Informaes para o Terceiro Setor RITS,

apontam que no cdigo de direito brasileiro, no h qualquer designao de ONG,

seja no cdigo civil ou em outra lei. No h uma espcie de sociedade chamada

ONG no Brasil, mas um reconhecimento supralegal, de cunho cultural, poltico e

sociolgico:

ONGs so entidades as quais as pessoas se vinculam por identificao pessoal com a causa que elas promovem. Essas entidades, por natureza, no tm finalidade lucrativa, mas uma finalidade maior, genericamente filantrpica, humanitria, de defesa de interesses que costumam ser de toda a populao e que, historicamente, deveriam ser objeto de atividade do poder pblico. Destina-se a atividades de carter eminentemente pblico, sendo a parcela da sociedade civil, como um todo, que se organiza na defesa de seus interesses coletivos. Dessa forma, distinguem-se at de seus scios e passam a fazer genericamente parte do patrimnio de toda a sociedade, s vezes, no mundo inteiro (RITS, 2007).

Dessa forma, a sigla ONG, refere-se genericamente, ao conjunto de

organizaes do Terceiro Setor tais como associaes, cooperativas11, fundaes,

institutos.

10 Detalhamento das organizaes do Terceiro Setor encontram-se no site: 11 Cooperativa uma associao autnoma de pessoas que se unem, voluntariamente, para satisfazer aspiraes e necessidades econmicas, sociais e culturais comuns, por meio de um empreendimento de propriedade coletiva e democraticamente gerido. Diferencia-se de outros tipos de associaes de pessoas por seu carter essencialmente econmico. A sua finalidade colocar os produtos e ou servios de seus cooperados no mercado, em condies mais vantajosas do que os

http://www.sebraeminas.com.br/culturadacooperacao/oscip/terceiro_setor.htm

28

Trata-se de um fenmeno mundial, no qual a sociedade civil se

organiza espontaneamente para a execuo de certo tipo de atividade cujo carter

de interesse pblico, sendo que a forma societria mais utilizada a da associao

civil (em contrapartida s organizaes pblicas e s organizaes comerciais), so

regidas por estatutos, tm finalidade no econmica e no lucrativa

(SEBRAEMINAS, 2007).

A esfera de atuao da ONG a esfera pblica, embora no estatal.

importante mencionar tambm, que nem todas as ONG`s tm uma funo pblica

direcionada a promoo do bem-estar social (educacionais, de tratamento mdico,

de caridade aos pobres, cientficas, culturais) e que apresentam diferentes graus de

institucionalizao. H ONG`s cuja funo nica e exclusivamente atender aos

interesses do seu grupo fundador e/ou administrador, como alguns sindicatos, as

cooperativas, as associaes de seguro mtuo (RITS, 2007).

E a designao OSCIP, o mesmo que ONG? No, de modo geral,

esta entendida como uma instituio em si mesma, porm, uma qualificao

decorrente da lei 9.790. Pode-se dizer que so ONGs, que obtm um certificado

emitido pelo poder pblico federal ao comprovar o cumprimento de determinados

requisitos.

As ONGS, que com a adoo da referida lei, provavelmente

passaro a ser denominadas de OSCIP's, so entidades privadas atuando em

reas tpicas do setor pblico, e o interesse social que despertam merece ser,

eventualmente, financiado pelo Estado ou pela iniciativa privada, para que suportem

iniciativas sem retorno econmico (SEBRAEMINAS, 2007).

Como qualificao, a OSCIP opcional, significa dizer que as ONGS

j constitudas podem optar por obter a qualificao e as novas, podem optar por

comear j se qualificando como OSCIP.

As organizaes, as ONGs de catadores de materiais reciclveis em

Londrina, ainda no se caracterizaram como OSCIPs, nem mesmo o Conselho dos

Profissionais de Reciclagem que ser estudado nos prximos captulos.

Ao buscar no site do Mapa do Terceiro Setor (MAPA DO TERCEIRO

SETOR, 2007), informaes sobre outros segmentos do Terceiro Setor em Londrina,

constatou-se mais de 300 organizaes, lotadas nas seguintes reas de atuao:

mesmos teriam isoladamente. Desse modo a Cooperativa pode ser entendida como uma empresa que presta servios aos seus cooperados (SEBRAEMINAS, 2007).

29

Cultura e recreao;

Educao e pesquisa;

Sade;

Assistncia e promoo social;

Meio Ambiente;

Desenvolvimento comunitrio, social e econmico;

Servios legais, defesa de direitos civis e organizacionais;

Intermedirias, filantrpicas e de promoo de assistncia social;

Atividades internacionais;

Religio;

Associaes profissionais, de classes e sindicatos.

Destaca-se abaixo, de modo aleatrio, algumas organizaes que

atuam na rea da sade e seus respectivos objetivos: (MAPA DO TERCEIRO SETOR, 2007);

Lago Igap - Defesa dos direitos humanos e cveis de pessoas vivendo e ou

convivendo com HIV/AIDS e promover o desenvolvimento de atividades cientficas e

sociais visando a preveno e combate discriminao da sndrome imuno

deficincia adquirida (AIDS). Tem foco, no que diz respeito aos direitos humanos,

em especial os direitos dos Homossexuais (travestis, gays, garotos de programa e

lsbicas), de sua importncias enquanto ser humano e cidado, combater toda a

manifestao de opresso, violncia fsica e moral, preconceito e discriminao de

todas as formas; desenvolve aes de prestao de servios na rea de assistncia

social aos seus associados na busca de promoo humana, em insero no

mercado de trabalho e ou alternativa de gerao de renda;

Jardim Shangri-l A - Minimizar o impacto que as drogas provocam no indivduo,

na famlia e na sociedade, fornecendo aos dependentes qumicos condies para se

manterem como no-usurios, s famlias so fornecidas informaes precisas para

lidarem com o problema e, sociedade conhecimentos para a preveno e no-

aceitao do estado atual de permissividade das drogas;

BOA VISTA - Resgatar a auto-estima dos idosos, sendo uma alternativa sria para

que eles recuperem sua autonomia. No se constitui apenas em um local de

tratamento;

30

BOURBON - Assistncia ao renal carente com cestas bsicas. Atendimento

especial aos renais carentes da cidade de Londrina e regio oferecendo: -

assistncia na rea de Psicologia, Nutrio, Odontologia e Fisioterapia - doao de

alguns remdios;

CENTRO - Promover aes scio-educativas populaes especficas e em

geral, priorizando a preveno das DST/HIV/AIDS, observando os princpios da

sade pblica, direitos humanos e da cidadania;

JARDIM PETRPOLIS - Minimizar as angstias e dificuldades das pessoas

carentes que realizam tratamento do cncer em Londrina, atravs do atendimento

social, psicolgico e espiritual, possibilitando um melhor enfrentamento da doena.

Instituies que atuam na rea de Promoo e assistncia social:

ADEFIL Associao dos Deficientes Fsicos de Londrina; presta atendimento

pessoa portadora de deficincia, visa atender portadores de deficincia fsica de

nvel leve, moderado e severo, e outras deficincias (deficincia auditiva, deficincia

visual, deficincia mental e deficincia orgnica), dando-lhes assessoria e orientao

aos direitos assegurados legalmente, promover o convvio comunitrio, a

qualificao profissional, a prtica de esportes e integrao social, bem como

socializar informaes pertinentes aos deficientes;

ALIANA Associao Londrinense de Assistncia; presta atendimento s

pessoas idosas e criana, alm disso, tem-se um atendimento s famlias carentes

voltada valorizao do ser humano;

APA Associao de Proteo aos Autistas - Integrar o autista, dar condies de

vida, dignidade, fornecer apoio para que seja um ser mais independente.

Associao Ncleo Esperana - Ajudar a transformar a favela Novo Amparo II em

um bairro com toda a infra-estrutura e servios disponveis comunidade de forma a

potencializar melhorias nas reas social, da sade e da educao atravs da

melhoria das condies de higiene, da qualidade de vida e do respeito dignidade

humana, bem como conscientizar os moradores da regio, da importncia de

assumirem sua cidadania e aprenderem conceitos da moral crist sob a viso

kardecista (MAPA DO TERCEIRO SETOR, 2007).

31

Instituies que atuam na rea de Meio Ambiente, alm das ONGs que sero apresentadas no captulo trs:

Associao de Proteo Ambiental e Ecoesportes - PATRULHA DAS GUAS;

ECO POLIS;

Organizao BEIJA-FLOR - Desenvolver um conjunto integrado de aes

envolvendo a comunidade, escolas, universidades, faculdades, empresas, no intuito

de propiciar um engajamento da sociedade causa ambiental;

Projeto CASA AZUL - Defesa, conservao, preservao e educao ambiental;

Projeto CRIANA PRA FRENTE - Congrega os moradores em torno de seus

interesses fundamentais, busca solues para os problemas, promove o

desenvolvimento comunitrio bem como proporciona aos seus moradores condies

favorveis realizao das necessidades de habitar, trabalhar, recrear. Seu pblico

alvo so a criana, o idoso, as famlias carentes e os deficientes especiais;

Meio Ambiente Equilibrado - oferecer a cada cidado oportunidade de viver

dignamente conforme os valores ticos e morais numa sociedade justa e solidria

(MAPA DO TERCEIRO SETOR, 2007).

Verifica-se, portanto, que a cidade de Londrina conta com diversos

tipos de instituies que atuam no Terceiro Setor, como aquelas destacadas acima,

e ainda existem muitas outras, que possuem as mais variadas misses e objetivos,

sempre buscando atuar na soluo de problemas junto sociedade civil de uma

maneira geral.

32

2 A PROBLEMTICA DOS RESDUOS SLIDOS URBANOS RSU OU DO LIXO

Neste captulo aborda-se a questo dos Resduos Slidos, sua

composio e tratamento, visando analisar o sistema de reaproveitamento, ou seja,

os materiais reciclveis.

Quanto a palavra lixo, derivada do termo latim lix significa "cinza".

No dicionrio, ela definida como sujeira, imundicie, coisa ou coisas inteis, velhas,

sem valor. Lixo, na linguagem tcnica, sinnimo de resduos slidos e

representado por materiais descartados pelas atividades humanas (FREITAS

MENIN, 1998). Desde os tempos mais remotos at meados do sculo XVIII, quando

surgiram as primeiras indstrias na Europa, o lixo era produzido em pequena

quantidade e constitudo essencialmente de sobras de alimentos.

A partir da Revoluo Industrial, as fbricas comearam a produzir

objetos de consumo em larga escala e a introduzir novas embalagens no mercado,

aumentando consideravelmente o volume e a diversidade de resduos gerados nas

reas urbanas. O homem passou a viver ento a era dos descartveis, em que a

maior parte dos produtos desde guardanapos de papel e latas de refrigerante, at

computadores so inutilizados, ficando sem uso com muita rapidez.

Ao mesmo tempo, o crescimento acelerado das metrpoles fez com que as reas

disponveis para colocar o lixo se tornassem escassas. Os resduos acumulados no

ambiente aumentaram a poluio do solo, das guas e pioraram as condies de

sade das populaes em todo o mundo, especialmente nas regies menos

desenvolvidas. Atualmente, em algumas cidades no Brasil, a maior parte dos

resduos recolhidos nos centros urbanos so depositados sem qualquer cuidado em

locais existentes nas periferias das cidades e so chamados de lixes a cu aberto.

A questo que tem preocupado tcnicos e intelectuais de vrias

reas do conhecimento : o que fazer com tanto lixo? Felizmente, o homem tem a

seu favor vrias solues para dispor de forma correta, sem acarretar prejuzos ao

meio ambiente e sade pblica. O ideal seria que todos evitassem o acmulo de

detritos, diminuindo o desperdcio de materiais e o consumo excessivo de

embalagens.

33

Nos ltimos anos, nota-se uma tendncia mundial em reaproveitar

cada vez mais os produtos jogados no lixo para fabricao de novos objetos, atravs

dos processos de reciclagem, o que representa economia de matria-prima e de

energia fornecidas pela natureza. Assim, o conceito de lixo tende a ser modificado,

podendo ser entendido como "coisas que podem ser teis e aproveitveis pelo

homem" (FREITAS MENIN, 1998, p. 31).

Note-se que as cidades brasileiras, especialmente os maiores

centros urbanos, mas tambm os pequenos, encontram-se com graves problemas

ambientais, principalmente ligados ao lixo e poluio atmosfrica.

O lixo urbano, por exemplo, vem se transformando em um problema,

j que muitas cidades no possuem um sistema de coleta eficiente. Geralmente, os

resduos no so reaproveitados atravs do processo de reciclagem e a disposio

feita de maneira inadequada nos chamados lixes. Esses depsitos a cu aberto

contaminam o solo, o ar, os rios e as guas subterrneas, contribuindo para a

proliferao de inmeros animais transmissores de doenas.

Assim, a sade da populao pode ser prejudicada de vrias

maneiras, como por exemplo, atravs da gua contaminada.

Quanto a poluio atmosfrica, que proveniente dos veculos

automotores, das indstrias e da queima de lixo, afeta direta ou indiretamente a

populao de um modo geral, causando doenas respiratrias, alergias, entre

outras.

A questo do lixo merece ateno, pois se constitui num srio

problema ambiental da sociedade. No municpio de Londrina, existem projetos de

tratamento do lixo, especialmente os materiais que podem ser reutilizados. Os

estudiosos12 definiram o lixo slido, como resduos, e como so produzidos em

ambiente urbano, adotou-se a concepo de Resduos Slidos Urbanos, os quais

tem poltica para sua regulamentao nas esfera nacional ou municipal.

Os Resduos Slidos Urbanos, por serem originados de vrias

fontes, apresentam-se como um dos mais srios problemas a serem solucionados

pela sociedade em prol da sustentabilidade dos recursos naturais e, sobretudo dela

mesma. E esse problema no pode ser tratado apenas pelos rgos responsveis

pela limpeza pblica, deve-se envolver a sociedade como um todo, visto que todos

12 Monteiro et al., 2001.

34

os dias so produzidos enormes quantidades de resduos de todo o tipo, os quais

so descartados no meio ambiente e precisam de uma destinao final adequada.

Para se estabelecer um tratamento adequado para os resduos slidos necessrio

compreender o ambiente urbano numa esfera complexa, como afirma Lima (1995,

p.09) A problemtica do lixo no meio ambiente urbano abrange alguns aspectos relacionados sua origem e produo, assim como o conceito de inesgotabilidade e os reflexos de comprometimento do meio ambiente, principalmente do solo, do ar e dos recursos hdricos.

Nesse sentido, pode-se dizer que os Resduos Slidos Urbanos

resultam da atividade diria da populao e que os fatores cruciais que envolvem a

administrao da origem e produo resumem-se basicamente em dois: interao

entre aumento populacional e a intensidade da industrializao.

Como exemplo, cita-se que o aumento da populao exige reforo

na produo de alimentos e bens de consumo direto fazendo com que o homem

transforme mais intensamente matrias-primas em produtos, que resultaro,

posteriormente, em grandes quantidades de resduos, que se no receberem o

devido tratamento, possibilitaro a degradao ainda maior do meio ambiente.

Para Lima (1995, p. 10) o lixo urbano inesgotvel em vista de sua

origem [...] e os seus efeitos sero irreversveis, caso nenhuma ao seja feita para

resolv-los, lembrando que quanto aos aspectos epidemiolgicos relacionados com

os resduos, dependendo da forma de disposio final, muitas so as possibilidades

de comprometimento do meio ambiente, que colocam em risco a vida do homem.

Dessa forma, as principais vias de acesso de agentes patognicos

originados dos resduos so as seguintes, conforme figura 1.

35

Moscas, mosquitos

LIXO

VIAS INDIRETAS

Ar, solo, gua: Vrus, bactrias

Baratas

RoedoresSunos, ces, gatos aves

FONTESPRIM-RIAS

VIA DIRETA HOMEM

Figura 01 Diagrama das vias de acesso de agentes patognicos para o homem atravs do lixo disposto inadequadamente.

Fonte: Lima (1995, p. 10)

A figura 01 permite dizer que a possibilidade de perda ou de

responsabilidade pelo dano da disposio do lixo de forma inadequada pode ser

muito variada e tambm esto relacionadas a processos naturais, que geralmente

vo alm do controle do homem, como por exemplo a decomposio da matria

orgnica.

A prpria definio do resduo slido no uma tarefa fcil. Para

Bond e Straub (1973, p. 80) apud Ogata (1983, p. 17):

Compreende-se por resduo slido todo material slido putrescvel, combustvel, no combustvel, rejeitado pelas atividades industrial, comercial, agrcola e da comunidade; a no esto includos, porm, os materiais slidos dissolvidos no esgoto domstico ou em resduos industriais aquosos.

Salienta-se tambm que os resduos slidos constituem-se num dos

tipos de dejetos de um espao urbano ou rural, sendo que h ainda os resduos

lquidos e gasosos, que so provenientes das atividades humanas. Os resduos

lquidos normalmente so captados por uma rede de canais subterrnea. J os

gasosos, tratados ou no, acabam sendo lanados na atmosfera. Os resduos

slidos necessitam ser coletados, de residncia em residncia, vrias vezes por

semana.

36

Segundo Lima (1995, p. 11) o conceito de lixo, sua origem e

formao, esto relacionados a vrios fatores: variaes sazonais, condies

climticas, hbitos e costumes, variaes na economia, [...] nvel educacional,

segregao na origem e coleta.

O lixo pode ser definido como:

Todo e qualquer resduo que resulte das atividades dirias do homem na sociedade. Estes resduos compem-se basicamente de sobras de alimentos, papis, papeles, plsticos, trapos, couros, madeira, latas, vidros, lama, gases, vapores, poeiras, sabes, detergentes e outras substncias descartadas pelo homem no meio ambiente (LIMA, 1995, p.11).

Note-se que dos fatores citados, h outros que tambm so

responsveis pelas variaes na quantidade e qualidade do resduo. Como exemplo,

cita-se os deslocamentos populacionais peridicos nos perodos de frias de vero e

inverno. Com a paralisao das atividades escolares, ocorre modificao na rotina

dos estabelecimentos comercial e industrial, o caso das cidades tursticas, onde a

quantidade de lixo pode at dobrar, obrigando os responsveis pela limpeza pblica

municipal a incrementar o sistema de coleta e tratamento dos resduos.

2.1 CLASSIFICAO DOS RESDUOS SLIDOS

Os problemas decorrentes do lixo no meio ambiente esto

relacionados a sua origem e produo, bem como o comprometimento da sociedade

para com estes (CALDERONI, 2003).

De acordo com a sua natureza e estado fsico, pode-se classificar o

lixo em quatro formas: slido, lquido, gasoso, pastoso. Contudo, considerando-se a

origem e a produo, pode-se classific-lo como:

a) Lixo residencial: denominado tambm de lixo domiciliar ou

domstico, constitudo por sobras de alimentos, invlucros, papis, papeles,

plsticos, vidros, trapos, entre outros.

37

b) Lixo comercial: originado de estabelecimentos comerciais como

lojas, lanchonetes, restaurantes, escritrios, hotis, bancos. Os objetos mais comuns

nesse tipo de lixo so papis, papeles, plsticos, restos de alimentos, embalagens

de madeira, resduos de lavagens, sabes.

c) Lixo industrial: o resduo resultante de atividades industriais,

estando neste grupo o lixo resultante das construes. De uma maneira geral, essa

classe de resduos responsvel pela contaminao do solo, do ar, dos recursos

hdricos, devido forma de coleta e a disposio final que, na maioria dos casos,

fica sob a responsabilidade do prprio gerador.

d) Lixo hospitalar: gerado nos estabelecimentos vinculados aos

servios de sade.

d1) Resduos comuns: restos de alimentos, papis, invlucros.

d2) Resduos especiais: so restos oriundos das salas

cirrgicas das reas de incinerao e isolamento.

e) Lixo especial: so os resduos em regime de produo transiente,

como veculos abandonados, podas de jardins e praas, mobilirio, animais mortos,

descargas clandestinas, entre outros;

f) Outros: so aqueles originados de sistemas de varredura e

limpeza de galerias e bocas de lobo.

Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT

(2007), houve a criao da norma NBR 10004 para resduos slidos/classificao,

em 1987 e revisada em 2004. Essa Norma foi baseada no Regulamento Tcnico

Federal Norte-Americano denominado Code of Federal Regulation (CFR) title 40

Protection of environmental Part 260-265 Hazardous waste management". Tem

por objetivo classificar os resduos slidos quanto sua periculosidade,

considerando seus riscos potenciais ao meio ambiente e sade pblica, de modo

que propicie um gerenciamento adequado. Porm, salienta-se que a ABNT NBR

10004:2004 no uma Norma que objetiva permitir ou no a utilizao de resduos

slidos, cabendo a ela to somente classific-los como perigosos ou no perigosos,

e assim servir como uma referncia aos diversos setores envolvidos com o

gerenciamento de resduos slidos.

Os resduos so classificados em: Classe I, perigosos aqueles que

apresentam periculosidade com risco sade pblica ou riscos ao meio ambiente,

38

que apresentem caractersticas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade,

toxicidade, patogenicidade, nas condies em que esto estabelecidas na norma ou

que esto relacionadas em tabelas contendo a relao de resduos perigosos de

fontes no especficas e a relao de resduos perigosos de fontes especficas;

Classe II, no perigosos, estes podendo ser: Classe II A (no-inertes) aqueles que

no se enquadram nas classificaes Classe I ou Classe II B. Podem ter

propriedades como: biodegradabilidade, combustibilidade ou solubilidade em gua;

Classe II B, (inertes) aqueles que quando tiverem uma amostra segundo norma

NBR 10007 e solubilizados segundo norma NBR 10006 no tiverem nenhum de

seus constituintes solubilizados a concentraes superiores aos padres de

sustentabilidade da gua, excetuando-se os padres de aspecto, cor, turbidez

dureza e sabor (ABNT, 2007).

Acrescente-se ainda que para minimizar os riscos ao meio ambiente

cita-se o Mtodo Zeri. O Zero Emissions Research Initiative (ZERI) foi lanado pela

United Nations University (UNU) em 1994. Seu principal idealizador, Gunter Pauli,

recebeu a incumbncia de criar um plano de ao para implementar a Agenda 21 da

ONU, voltado para envolver o setor empresarial no processo do desenvolvimento

sustentvel. Esquematizou as linhas mestras do ZERI como um programa de longo

prazo, visando o estreitamento de parceria com o setor privado no esforo coletivo

de eco-restruturao, envolvendo a academia, o governo e a sociedade (BELLO,

1998).

O objetivo do mtodo ZERI encontrar modos de minimizar a

necessidade de entradas (inputs) no processo principal e alcanar um nvel mximo

de sadas (outputs) ao se buscar um aproveitamento total (CAPRA, 2002).

Como fator econmico, o ZERI, prope a utilizao integral dos

recursos que servem de matria-prima e fonte de energia, ultrapassando o

pressuposto de que os recursos naturais so limitados, que possam ser utilizados de

maneira mais abrangente. O ZERI traz a abordagem sistmica para dentro do

conjunto das atividades industriais. Contrape-se, assim, viso linear tradicional da

empresa, na qual o processo produtivo se resume em trs estgios: insumo,

processo e produto. Analisa o processo produtivo interligado e sugere polticas e

estratgias de gesto do sistema econmico e social. Busca na cincia fsico-

biolgica fundamentos para propor uma relao simbitica, no parasitria,

harmonizando as atividades econmicas com os ciclos naturais dos ecossistemas.

39

Utiliza-se do conhecimento cientfico para promover a conscincia de que a atividade

humana deve sintonizar-se com o ritmo de vida dos ecossistemas para tornar-se

sustentvel (BIDONE, 1999).

Entretanto, sabe-se que na prtica, isso requer a reestruturao do

conjunto das atividades econmicas, em particular da produo industrial, imitando

os ciclos de vida existentes na natureza (BELLO, 1998).

O mtodo ZERI utiliza os conceitos de entradas e sadas. No sentido

em que sadas se transformam em entradas, Pauli (1999) estabelece cinco passos

para implantar o ZERI:

1. Estabelecer modelos de aproveitamento total utilizando matrizes

Input /Output;

2. Buscar de forma criativa valor agregado para os componentes no

utilizados. Com base em sadas e entradas, toda vez que gerado um novo resduo,

este novamente inserido no ciclo econmico. Pode surgir mais de uma soluo de

uso para um dado resduo. A metodologia ZERI estabelece as seguintes prioridades:

avaliar o potencial para o valor agregado, estabelecer as necessidades de energia,

determinar os investimentos de capital, revisar as necessidades de espaos fsicos e

calcular as oportunidades de criao de postos de trabalhos;

3. Utilizar modelos de conglomerados industriais de que forma

atividades diferentes podem ser integradas em uma rede ou em uma srie de redes

interligadas;

4. Identificar avanos tecnolgicos no planejamento de um

conglomerado de indstrias em um sistema pode estar faltando determinada

tecnologia: ou no se tem conhecimento das tecnologias disponveis, ou se faz

necessrio o desenvolvimento de novas tecnologias;

5. Elaborar poltica ajuste de poltica de acordo com as

necessidades de elaborao do produto (PAULI, 1999).

Trata-se de uma metodologia para uma opo vivel no

desenvolvimento sustentvel, na qual traz novas possibilidades de negcios atravs

da agregao de valor.

Ainda no contexto de no agresso ao meio ambiente, prope-se

uma gesto integrada de resduos slidos13. Segundo Monteiro et al. (2001, p. 08):

13 Trata-se de uma poltica pblica de Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos que atualmente abrange tanto o espao urbano quanto o rural.

40

Gerenciamento Integrado de Resduos Slidos Urbanos , em sntese, o envolvimento de diferentes rgos da administrao pblica e da sociedade civil com o propsito de realizar a limpeza urbana, a coleta, o tratamento e a disposio final do lixo, elevando assim a qualidade de vida da populao e promovendo o asseio da cidade, levando em considerao as caractersticas das fontes de produo, o volume e os tipos de resduos para a eles ser dado tratamento diferenciado e disposio final tcnica e ambientalmente corretas , as caractersticas sociais, culturais e econmicas dos cidados e as peculiaridades demogrficas, climticas e urbansticas locais.

O gerenciamento integrado revela-se com a atuao de subsistemas

especficos que demandam instalaes, equipamentos, pessoal e tecnologia, no

somente disponveis na prefeitura, mas oferecidos pelos demais agentes envolvidos

na gesto, entre os quais se enquadram: a populao, empenhada na separao e

acondicionamento diferenciado dos materiais reciclveis em casa; os grandes

geradores, responsveis pelos prprios rejeitos; os catadores, organizados em

cooperativas, capazes de atender coleta de reciclveis oferecidos pela populao

e comercializ-los junto s fontes de beneficiamento; os estabelecimentos que

tratam da sade, tornando-os inertes ou oferecidos coleta diferenciada, quando

isso for imprescindvel; a prefeitura, atravs de seus agentes, instituies e

empresas contratadas, que por meio de acordos, convnios e parcerias exerce,

claro, papel protagonista no gerenciamento integrado de todo o sistema

(MONTEIRO et al., 2001).

O manejo ambientalmente saudvel de resduos deve ir alm da simples deposio ou aproveitamento por mtodos seguros dos resduos gerados e buscar desenvolver a causa fundamental do problema, procurando mudar os padres no-sustentveis de produo e consumo. Isto implica a utilizao do conceito de manejo integrado do ciclo vital, o qual apresenta oportunidade nica de conciliar o desenvolvimento com a proteo do meio ambiente (AGENDA 21, 2007)

A preocupao com a questo dos resduos provenientes dos

servios de sade recebeu tratamento especial pela ANVISA Agncia Nacional de

Vigilncia Sanitria, devido ao risco que pode oferecer populao e tambm para

41

estimular o melhor gerenciamento desse tipo de resduos por parte do gerador, que

passou a ser o responsvel legal.

Nesse sentido, os resduos de servios de sade so comumente

conhecidos por RSS. Segundo a RDC Resoluo da Diretoria Colegiada n 306,

de 07 de dezembro de 2004 que revogou a RDC n 33/2003 da ANVISA Agncia

Nacional de Vigilncia Sanitria, os resduos originados dos servios de sade

devem obedecer a uma segregao por categoria, visando a minimizao dos

impactos ambientais e riscos agregados aos resduos produzidos.14

De acordo com a ANVISA (2006), os resduos so previamente

separados na fonte geradora obedecendo as seguintes classificaes:

Potencialmente Infectantes: resduos com a possvel presena de

agentes biolgicos que, por suas caractersticas de maior virulncia ou

concentrao, podem apresentar risco de infeco; seu acondicionamento

realizado em lixeiras com tampas e acionamento por pedal, revestidas internamente

por saco plstico branco e leitoso, identificado por simbologia prpria, impermevel e

resistente a ruptura e vazamentos;

Qumicos: resduos contendo substncias qumicas que

apresentam risco sade pblica ou ao meio ambiente, independente de suas

caractersticas de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade;

Radioativos: quaisquer materiais resultantes de atividades

humanas que contenham radionucldeos em quantidades superiores aos limites de

iseno especificados na norma NE-6.0215 do CNEN Conselho Nacional de

14 RESOLUO DA DIRETORIA COLEGIADA - RDC N 306, DE 7 DE DEZEMBRO DE 2004, considerando a necessidade de aprimoramento, atualizao e complementao dos procedimentos contidos na Resoluo RDC 33, de 25 de fevereiro de 2003, relativos ao gerenciamento dos resduos gerados nos servios de sade - RSS, com vistas a preservar a sade pblica e a qualidade do meio ambiente considerando os princpios da biossegurana de empregar medidas tcnicas, administrativas e normativas para prevenir acidentes, preservando a sade pblica e o meio ambiente; considerando que os servios de sade so os responsveis pelo correto gerenciamento de todos os RSS por eles gerados, atendendo s normas e exigncias legais, desde o momento de sua gerao at a sua destinao final; considerando que a segregao dos RSS, no momento e local de sua gerao, permite reduzir o volume de resduos perigosos e a incidncia de acidentes ocupacionais dentre outros benefcios sade pblica e ao meio ambiente; considerando a necessidade de disponibilizar informaes tcnicas aos estabelecimentos de sade, assim como aos rgos de vigilncia sanitria, sobre as tcnicas adequadas de manejo dos RSS, seu gerenciamento e fiscalizao [...](ANVISA, 2006). 15 Estabelece o processo relativo ao licenciamento de instalaes radioativas no tocante s atividades relacionadas com a localizao, construo, operao e modificaes de Instalaes Radiativas. Define os limites de iseno do processo de licenciamento em funo da atividade especfica das fontes radioativas a serem utilizadas em uma Instalao; D.O.U. 02 de junho de 1998. (CNEN, 2006)

42

Energia Nuclear, que considera a reutilizao desses rejeitos imprpria ou no

prevista;

Comuns: resduos que no necessitam de processos

diferenciados relacionados ao acondicionamento, identificao e tratamento. So

considerados Resduos Slidos Urbanos RSU. Seu acondicionamento feito em

lixeiras prprias, revestidas internamente com saco plstico preto, impermevel e

resistente a ruptura e vazamento, no ocorrendo discriminao de resduos

orgnicos e/ou de reciclveis;

Perfurocortantes: objetos e instrumentos capazes de cortar ou

perfurar. So descartados separadamente, imediatamente aps o uso e

acondicionados em caixa de papelo de uso nico, confeccionada exclusivamente

para essa finalidade. So caixas dotadas de simbologia prpria, e posteriormente

lacradas e embaladas em saco branco leitoso com identificao de resduo perfuro

cortante.

Os servios hospitalares, ambulatoriais, de farmcias so geradores

dos mais variados tipos de resduos, que so resultados de curativos, aplicao de

medicamentos que em contato com o meio ambiente ou misturado ao lixo domstico

podero ser patgenos ou vetores de doenas, devendo receber destinao final

adequada, tais como tcnicas de autoclave ou incinerao.

O gerenciamento dos Resduos de Servios de Sade (RSS)

compe-se de um conjunto de procedimentos de gesto que tem por objetivo a

minimizao da produo de resduos, alm de proporcionar aos resduos gerados

um encaminhamento seguro, de forma eficaz, atentando proteo dos

trabalhadores, preservao da sade pblica, dos recursos naturais e do meio

ambiente.

Os resduos gerados a partir de construo e demolio tambm

deveriam ser tratados com mais rigor tcnico, pois em Londrina constituem-se em

enorme peso e volume. Para que isso ocorra seria necessrio o desenvolvimento de

uma gesto diferenciada, tal como Gesto Diferenciada de Resduos Slidos da

Construo Civil e Demolio RCD. Para a ABNT (2007) so os resduos de

Classe III. Em Londrina, o Projeto Onde Moras (vide captulo 4) um exemplo de

reaproveitamento de resduos para a construo de casas populares, sendo que o

municpio tambm pode reaproveit-los para a construo de estradas vicinais.

43

A necessidade de polticas especficas para a Gesto de Resduos

Slidos da Construo Civil e Demolio premente em qualquer cidade brasileira.

Nesse sentido, a Gesto Pblica deve estar atenta ao desenvolvimento de polticas

que atendam a essa demanda da sociedade e fornea respaldo ao meio ambiente

urbano, visto que, na maioria dos casos, ele que sofre as conseqncias de aes

impensadas de grupos de pessoas, empresas pblicas e privadas.

No municpio de Londrina, a gerao de resduos ocorre a partir de

vrias prticas, tais como: construo, reformas e ampliao de prdios pblicos ou

privados, estabelecimentos comerciais ou residenciais, sendo que estes podem

apresentar-se em grandes ou pequenos volumes.

Quando no h regulamentao para a captao dos resduos

nessas atividades, os geradores ou os coletores buscaro reas livres nas

proximidades para efetuar a deposio dos resduos.

Para a eliminao dos pequenos volumes de resduos, os geradores

costumam contratar um carroceiro para efetuar a coleta. Na maioria dos casos, a

pessoa faz um pagamento pela prestao de servio e cabe ao carroceiro o destino

adequado para o resduo. Este agente o carroceiro deposita o resduo no aterro

ou simplesmente deposita-o em terreno baldio ou fundo de vale mais prximo.

No caso dos grandes volumes de resduos, tem-se algumas

empresas que atuam na coleta. Essas empresas alugam caambas para que seja

feito o depsito de resduo por mais ou menos cinco dias. Trata-se de uma

prestao de servio em que o contratante efetua o pagamento de determinado

valor, e a empresa torna-se responsvel pela destinao final, a qual, na maioria das

vezes, levada ao aterro municipal, sob o pagamento de uma determinada taxa.

Existe uma variedade de reas no municpio de Londrina com a

finalidade de servir como depsitos clandestinos de entulhos, resduos da

construo e demolio. Tambm podem ser visualizados restos de lixo e pneus, em

fundos de vale, terrenos baldios, praas, entre outros.

Segundo Pinto (1999, p. 49):

A caracterstica tpica das deposies irregulares resultantes da inexistncia de solues para a captao dos RCD a conjuno de efeitos deteriorantes do ambiente local: comprometimento da paisagem urbana, do trafego de pedestres e de veculos, da drenagem urbana, atrao de resduos no-inertes, multiplicao de vetores de doenas e outros.

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Assim, torna-se evidente que h a necessidade de criao de

depsitos alternativos para os resduos da construo e demolio. A seguir,

apresenta-se as Diretrizes Bsicas para a Gesto Diferenciada.

A Gesto Diferenciada a nica forma de romper com a

pulverizao de depsitos clandestinos em ambientes urbanos. Trata-se da

incorporao de aes consideradas imprescindveis, tais como: coleta seletiva e

reciclagem, compostagem de resduos orgnicos e podas vegetais,

reaproveitamentos de entulhos e outros.

Para Pinto (1999, p. 110) as diretrizes bsicas da Gesto

Diferenciada dos resduos so as seguintes:

Facilitao total da disposio dos RCD e outros resduos que

normalmente com ele transitam;

Diferenciao integral dos resduos capturados;

Alterao da destinao dos resduos captados.

Acrescenta-se s referidas diretrizes, que as mesmas sejam

aplicadas de forma integrada entre agentes geradores e coletores, pblicos e

privados.

A facilitao da disposio ocorre por meio de uma oferta mais

abrangente de reas pblicas de pequeno e mdio porte para o descarte de