TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial:...

26
Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006. Introdução A deposição do morto constitui um processo cultural ou uma série de processos pelos quais um grupo humano trata os remanescentes físicos de seus mortos. Os remanescentes desses processos são estudados a partir da sua observação no contexto arqueológico, durante a escavação. Um registro preciso dessa categoria de vestígio arqueológico – em especial o fotográfico –, da disposição dos ossos do esqueleto, dos materiais associados, forma e distribuição das covas e dos aspectos tafonômicos envolvidos, concorrem de maneira significativa para enriquecer sua descrição, bem como para a reconstrução das etapas do provável processo da deposição do morto e das práticas funerárias do grupo em estudo. Entretanto, uma complexa variedade de práticas de enterramento tem sido registrada por arqueólogos entre populações extintas. Assim, torna-se difícil elaborar critérios ou normas padronizadas com uma classificação abrangente – standard – dessas práticas, uma vez que somente algumas de suas muitas variedades podem ser encontradas em sítios arqueológicos. A interpretação dos vestígios funerários relacio- na-se à natureza de certos aspectos de cada tipo de ritual de sepultamento envolvido. Os itens encontrados TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA DESCREVER SEPULTAMENTOS HUMANOS: EXEMPLOS E SUGESTÕES* Sergio F.S. Monteiro da Silva** SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006. RESUMO: A tentativa de uniformização de termos e classificações para descrever e observar contextos arqueológicos de remanescentes esqueletais humanos tem sido uma preocupação recorrente dos arqueólogos e bioantropólogos. Trata-se de estabelecer quais elementos descritivos são importantes ou essenciais para a análise, reconstrução e interpretação de sepultamentos humanos inseridos em substratos e condicionantes culturais diversos. Entre os exemplos de sugestões encontrados na bibliografia consultada, verificou-se que existe sempre uma incidência de determinadas variáveis dos dados mortuários e que, em determinadas análises, é muito expressiva a correlação e a sinergia entre dados dos restos do corpo, dos acompanhamentos funerários e da cova. Descrever e classificar sepultamentos humanos implica em observar o todo dos vestígios funerários no contexto da deposição, incorporando dados bioarqueológicos. UNITERMOS: Metodologias – Arqueologia da Morte – Sepultamentos humanos – Contexto arqueológico. (*) Artigo originado da Dissertação de Mestrado do autor. (**) Doutor em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. [email protected]

Transcript of TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial:...

Page 1: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

Introdução

A deposição do morto constitui um processocultural ou uma série de processos pelos quais umgrupo humano trata os remanescentes físicos deseus mortos. Os remanescentes desses processossão estudados a partir da sua observação nocontexto arqueológico, durante a escavação. Umregistro preciso dessa categoria de vestígioarqueológico – em especial o fotográfico –, dadisposição dos ossos do esqueleto, dos materiais

associados, forma e distribuição das covas e dosaspectos tafonômicos envolvidos, concorrem demaneira significativa para enriquecer sua descrição,bem como para a reconstrução das etapas doprovável processo da deposição do morto e daspráticas funerárias do grupo em estudo.

Entretanto, uma complexa variedade depráticas de enterramento tem sido registrada porarqueólogos entre populações extintas. Assim,torna-se difícil elaborar critérios ou normaspadronizadas com uma classificação abrangente –standard – dessas práticas, uma vez que somentealgumas de suas muitas variedades podem serencontradas em sítios arqueológicos.

A interpretação dos vestígios funerários relacio-na-se à natureza de certos aspectos de cada tipo deritual de sepultamento envolvido. Os itens encontrados

TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA DESCREVERSEPULTAMENTOS HUMANOS: EXEMPLOS E SUGESTÕES*

Sergio F.S. Monteiro da Silva**

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos:exemplos e sugestões. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138,2005-2006.

RESUMO: A tentativa de uniformização de termos e classificações para descrevere observar contextos arqueológicos de remanescentes esqueletais humanos tem sidouma preocupação recorrente dos arqueólogos e bioantropólogos. Trata-se deestabelecer quais elementos descritivos são importantes ou essenciais para a análise,reconstrução e interpretação de sepultamentos humanos inseridos em substratos econdicionantes culturais diversos. Entre os exemplos de sugestões encontrados nabibliografia consultada, verificou-se que existe sempre uma incidência de determinadasvariáveis dos dados mortuários e que, em determinadas análises, é muito expressiva acorrelação e a sinergia entre dados dos restos do corpo, dos acompanhamentosfunerários e da cova. Descrever e classificar sepultamentos humanos implica emobservar o todo dos vestígios funerários no contexto da deposição, incorporandodados bioarqueológicos.

UNITERMOS: Metodologias – Arqueologia da Morte – Sepultamentos humanos –Contexto arqueológico.

(*) Artigo originado da Dissertação de Mestrado do autor.(**) Doutor em Arqueologia pelo Museu de Arqueologiae Etnologia da Universidade de São [email protected]

Page 2: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

114

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

podem indicar determinadas conformações culturais.Assim, artefatos e outros vestígios inumados podemrepresentar a) itens usados como adornos pessoais, b)itens preparados especialmente para o ritual funerárioe c) itens usados para fins utilitários, durante o tempode vida do falecido e não necessariamente por ele(Breternitz et al. 1971:179). Uma reconstruçãohipotética de um sepultamento pode conter eventos eevidências relacionados entre si (Tabela 1).

Nesse caso, os acompanhamentos funeráriospossuem funções possíveis, associadas as razõesdos participantes do funeral para sua inclusão nacova. Os ossos raspados de animal podem indicardemonstração de tristeza; o adorno de pescoçouma demarcação de status familiar ou grupal ou aeliminação às vistas dos vivos dos bens dos mortos;as lascas e uma lâmina de machado como itenspara utilização na vida postmortem; o bloco lítico

Reconstrução hipotética de um sepultamento*

TABELA 1

1 - Morte do indivíduo

2 - Produção de lâminas e um raspador a algumadistância do local do sepultamento

3 - Coleta de hematita, limonita e blocos líticos

4 - Abertura da cova para o sepultamento

5 - Borrifamento de ocre no fundo da cova

6 - Transporte do cadáver para o local dosepultamento e deposição do mesmo emposição fletida e cabeça voltada para o norte

7 - Deposição de artefatos na cova como colar dedente perfurado de animal, osso trabalhado ebloco lítico usado para moer ocre; uso devestimenta para o corpo do falecido ou paraos participantes do funeral; realização debanquete funerário para os participantes

8 - Cobertura do cadáver ou partes do mesmocom ocre

9 - Fogo aceso dentro ou perto da sepultura,ocasionando a queima parcial do cadáver oude ossos de animais depositados sobre ele

10 - Preenchimento da cova

Eventos

1 - Não observável; inferida pelos dadososteológicos

2 - Ausência de sinais de uso em lâminasencontradas em estrutura anômala a algumadistância do sepultamento. Ausência dessaslâminas no interior da cova

3 - Não observável

4 - Dado observado in situ

5 - Dado observado in situ

6 - Posição do corpo, da cabeça e disposiçãodos membros observáveis in situ

7 - Os artefatos achados in situ estavamdepositados junto do úmero esquerdo. Osdentes perfurados de animal estavam alinhadosao redor das vértebras cervicais, sugerindo queforam confeccionados para adornar o cadáverou já eram adornos pessoais do falecido emvida. Costelas de animais apresentavam sinais deraspagem e estavam depositadas na cova, sobreo corpo. Um bloco lítico encontrado apresentasinais de uso e intensa pigmentação por ocre

8 - Dado observado in situ

9 - Solo e ossos de animais carbonizados foramencontrados no interior e sobre a cova,recobrindo artefatos fragmentados e o esqueleto

10 - Dado observado in situ

Evidências ou Vestígios

*Os eventos não estão em ordem cronológica, podendo ter ocorrido simultaneamente.Fonte: adaptado de Breternitz et al. (1971:179).

Page 3: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

115

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

usado como moedor para produção do materialcorante presente na sepultura; o ocre comocosmético ou pigmento de caráter simbólico; líticoscom sinais de uso podem apresentar uma inclusãoinespecífica na cova mas, também, representar osbens que pertenciam ao falecido. Essas evidênciasou vestígios representam dados mortuários para aformulação de variáveis de contexto e de laborató-rio que possam ser analisadas e relacionadasdurante esse processo de interpretação de deposi-ções funerárias.

Um dos pré-requisitos para iniciar discussõessobre um dado complexo cultural, um estudocomparativo ou de descrição sobre os vestígiosfunerários é a existência de um sistema de classifi-cação e uma nomenclatura próprios, mais ou menosconhecidos entre os arqueólogos. Neste artigo,procuramos definir e demarcar os termos usados nadescrição das manifestações arqueológicas dosenterramentos humanos a serem observados aposteriori, por meio da análise de documentosvisuais produzidos em antigas escavações.1 Essestermos restringem-se a dois conjuntos de variáveisa saber:

a) Variáveis de campo – do contextoarqueológico do sepultamento – formadaspelos vestígios biológicos e culturais eminserção contextual, em suas relações espaciaise de situação. Registradas por meio desistemas de documentação diversos, referem-se aos dados de localização (sítio, setor,quadra, quadrícula, cota crânio), datas daevidenciação e exumação, número doenterramento, tipo de deposição, número deindivíduos depositados na mesma cova,conexão anatômica do esqueleto, orientaçãodo corpo (eixo crânio-bacia), da face e docrânio; posição do corpo, disposição pelo graude flexão dos membros e posição de suasextremidades, dimensões, orientação econteúdo da cova, tipo e distribuição dosmateriais associados junto ao esqueleto e as

relações de proximidade do enterramento comas demais estruturas arqueológicas, como asde habitação e os outros enterramentos. Osmateriais contidos no interior, sobre, sob ou aoredor da cova e do corpo indicam associaçõesreferentes às práticas mortuárias – e parcelasde eventos rituais – e que necessariamentedevem ser documentados e estudadas as suasrelações mediante análises que considerem osenterramentos inter e intragrupo, em macro emicrogrupos. Essas variáveis são expressaspelas terminologias e classificações comumenteutilizadas em arqueologia para os vestígiosfunerários e que podem ser revistas anosdepois da realização das etapas de campo, pormeio da documentação produzida.

b) Variáveis de laboratório – do materialósseo humano –, como os dados sobre osgraus de desgaste dentário, osteométricos eosteoscópicos, sobre sexo, idade, estatura,análises físico-químicas e microscópicas emestudos avançados sobre DNA, isótoposestáveis de determinados elementos químicospresentes nos ossos e dentes indicadores dedietas características, patologias e lesõesintencionais, acidentais ou de origemfisiopatológica que dimensionam estudos sobrepaleodieta, paleogenética, paleopatologia epaleodemografia. Para Sharer e Ashmore(s.d), White (1992, 2000), Chamberlain(1996), entre outros, a prática de laboratóriosobre as coleções esqueletais é indispensável.Essas variáveis estendem-se à caracterizaçãotipológica dos acompanhamentos funerários,dada pela análise morfológica, morfométrica equantitativa dos artefatos osteodontomalacológicose líticos, entre outros. Os acompanhamentosfornecem dados sobre seu uso como objetoritual funerário, de uso cotidiano ou adornos;procedência, indicando as áreas de captaçãode matéria- prima; sobre a caracterizaçãotecnológica do grupo; sobre sua freqüência emrelação ao sexo, idade e posição social, bemcomo inferem situações de contatos culturais epossíveis formas de subsistência baseadas nasatividades de caça, coleta, pesca e/ou horticultura.

As unidades representadas pelas variáveis decampo e de laboratório constituem as informaçõessobre o contexto arqueológico dos vestígiosfunerários e suas características tipológicas,

(1) O uso dos documentos visuais produzidos nasescavações realizadas em Tenório, Piaçaguera e Buracão,sítios arqueológicos do litoral do estado de São Paulo,escavados por pesquisadores do IPH e MAE-USP entreas décadas de 1960 e 1970, prescindiu das formulaçõesestabelecidas neste artigo, compondo os objetos deestudo do autor.

Page 4: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

116

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

biológicas específicas. O potencial de análise einterpretação dos sepultamentos humanos éesquadrinhado pela relação entre os elementos datríade componencial: corpo/cova/acompanhamentosfunerários. Os remanescentes biológicos e culturaisassociados com os sepultamentos e suas relaçõesespaciais podem sugerir hipóteses sobre a recons-trução de eventos ocorridos desde a morte até afinalização dos rituais funerários (Breternitz et al. 1971).

Em estudos arqueológicos os dois conjuntosde variáveis tornam-se complementares. A correla-ção entre os dados desses dois conjuntos devariáveis depende da forma de abordagem e dosproblemas formulados durante cada pesquisa.Assim, em estudos sobre a presença, forma elocalização de facetas articulares anômalas na tíbiae tálus de esqueletos pré-históricos relacionam-secom as posturas e estas com as atividades, o sexoe as idades dos indivíduos, a época do ano eperiodicidade de eventos culturais, bem como comas formas de subsistência e herança genética (Melloe Alvim e Uchôa, 1998).

Procurando rever as terminologias e classifica-ções para a descrição de sepultamentos humanospor meio de seus registros visuais ou observaçãodireta em contexto arqueológico, não poderíamosdesconsiderar as sugestões emitidas por Sprague(1968), Ubelaker (1996), Lothrop (1954), Tainter(1975), Haglund (1976), Robinson e Sprague(1965), Swedlund e Wade (1972), Blackwood eSimpson (1973), Barker (1977), Heizer (1950),Brothwell (1981), Joukowsky (1986), Heizer eGraham (1967), Griffin e Neumann (1942), Binford(1971), Saxe (1971) e Cheuiche (1984). Essestrabalhos, embora apresentem algumas divergênciasquanto aos sítios arqueológicos escavados e, emconseqüência, quanto à forma de abordagem dasterminologias funerárias de contexto arqueológico,acordam sobre suas definições, representando umaconsiderável contribuição para o entendimento eutilização dos termos normalmente aplicados aosvestígios funerários.

Buikstra e Ubelaker (1994), White (1992),Bass (1987), Steele e Bramblett (1989), Brothwell(1981) definiram os atributos básicos a seremregistrados sobre os esqueletos em laboratório,buscando esquadrinhar os potenciais interpretativose analíticos das coleções esqueletais de procedênciaarqueológica quanto aos aspectos morfoscópicos emorfométricos, patológicos, da diagnose sexual ecálculo etário, bem como princípios necessários aos

estudos dietários, em paleodemografia, paleopatologiae alterações de origem cultural que deixaram suasmarcas no material ósseo, como as deformaçõescranianas, desgastes extramastigatórios das coroasdentárias, traços de tratamentos médicos e rituais,como as trepanações cranianas e a cremação.

Uma diversidade de sugestões e modelos:busca pela exclusividade

Foi de Sprague2 (1959; 1965; 1968) aproposta de um modelo classificatório amplo paradescrever os enterramentos humanos, procurando,através de uma tabela, auxiliar na comunicaçãosistemática das variabilidades das práticas funerári-as e à caracterização dos seus vestígios no sítioarqueológico. Evidentemente, esse autor nãodescarta a possibilidade de posteriores acréscimose alterações ao modelo sugerido, concordando queas formas de abordagem dos vestígios funeráriosem contexto arqueológico possuem suas peculiari-dades, dependendo do arqueólogo, instituição, daequipe envolvida e dos problemas a serem solucio-nados.

Esse autor publicou uma revisão sobre ossistemas de descrição das formas de deposição domorto, apontando terminologias ambíguas eproblemáticas. Resumiu essas informações demodo a uniformizar um esquema de modelo com 11itens para ser continuamente aplicado em campo ecomplementado em laboratório.

Em contexto arqueológico as categorias aserem observadas e documentadas sobre osenterramentos humanos, com a aplicação determinologias e classificações sugeridas porSprague(1968) constam na Tabela 2.

Em laboratório, as categorias sugeridas porSprague (1968) referem-se a: a) demografia; b)sexo e idade; c) antropometria; d) patologias e e)anomalias. Este esquema classificatório nãopretende esgotar as possibilidades descritivas deanálise e interpretação dos vestígios funerários,

(2) Professor de Antropologia na Universidade deWashington, Roderick Sprague dedicou-se ao estudocultural baseado na análise e descrição de centenas desepultamentos e dos acompanhamentos funerários degrupos indígenas dos Estados Unidos, bem como emarqueologia histórica.

Page 5: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

117

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

Terminologias e classificações para sepultamentos humanos em contexto arqueológico

TABELA 2

1 - Forma da deposição

2 - Localização da área dadeposição

3 - Preparação do corpo

4 - Veículo ou invólucro docorpo para a deposição

5 - Individualidade (númeromínimo de indivíduos)

6 - Articulação do esqueleto(ou por região)

7- Disposição dos membros

8 - Posição do corpo

9 - Orientação

10 - Materiais associados

A – Deposição simples ( primária)

B – Deposição composta(secundária)

A - Fragmentário ou parcial (restosesparsos); B - Simples; C - Duplo;D - Triplo; E - Múltiplo (comesqueletos articulados); F - Emmassa (com esqueletos desarticu-lados)

A - Articulado; B - Semiarticulado;C - Rearticulado; D - Desarticu-lado; E - Perturbado

A - Grau de flexão

B - Disposição dos membrossuperiores

C - Rotação da cabeça

A - HorizontalB - Vertical

A - Cova; B - Corpo; C -Envoltório do corpo

A - Tipo; B - Quantidade(freqüência); C - Disposição(localização)

a) Inumação primária; b) Deposiçãoaquática; c) Deposição superficiala) Por processos redutivos:enterramento e subseqüente desenter-ramento; exposição ao ar; exposiçãoaos animais; descarnamento mecâni-co; cremação; decomposiçãoquímica; b) Deposição secundária:inumação; aquática; superficial

a) Estendido; b) Semi-fletido;c) Fletido; d) Fortemente fletidoa) Estendidos ao longo do corpo;b) Cruzados sobre a pelve;c) Dobrados sobre o tórax; d) Mãossobre a face

a) Decúbito dorsal; b) Decúbitoventral; c) Decúbito lateral direito;d) Decúbito lateral esquerdoa) Sentado

Fonte: adaptado de Sprague (1968: 483).

Page 6: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

118

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

mas, antes, sugerir um conjunto de variáveis,voltadas predominantemente ao contexto decampo, comum nas pesquisas arqueológicas.Torna-se desejável analisar o contexto da deposi-ção funerária, antes mesmo de analisar e esquadri-nhar estatisticamente os ossos por eles mesmos.

Para a descrição dos enterramentos emarqueologia, Ubelaker (1996) recorreu às termino-logias e classificações sugeridas nos trabalhos deGriffin e Neumann (1942), Bass (1962) e Sprague(1968). Assim, referindo-se aos enterramentosprimários, o autor procurou demonstrar a importân-cia da observação e mensuração dos artefatosassociados ao esqueleto, das características,proporções e orientação da cova, da textura ecoloração dos sedimentos depositados no seuinterior e especificamente sobre a exposição doesqueleto, seu registro fotográfico, descrição,localização, forma de deposição, posição, orienta-ção, profundidade, mensurações, coletas deamostras e outros procedimentos durante asescavações, como, por exemplo, a observação eregistro prévio das condições patológicas dosossos, presença de materiais perecíveis conserva-dos, manchas de solo e itens não culturais ou“inclusões naturais”.

Entre os primeiros estudos sobre as terminologiase classificações, aplicáveis aos sepultamentos humanos,temos o trabalho de Barber (1877). Esse autorsugeriu quatro métodos básicos de enterramentosou formas de deposição: inumação (subterrânea),cremação (subterrânea), embalsamamento(subterrâneo) e aéreo (acima do solo).

Yarrow (1881) discriminou sete formas deenterramento: inumação,3 embalsamamento,

deposição dos remanescentes em urnas,enterramento superficial, cremação ou queimaparcial, sepulturas aérea e aquática. Entretanto,suas proposições não são mutuamente exclusivas,podendo ocorrer embalsamamentos seguidos deinumação, entre outras deposições simultâneas ousucessivas e que deixam sua marca no contextoarqueológico.

No início do século XX, Orr (1919) sugeriu aseguinte classificação das formas de enterramento:cremação, embalsamamento ou mumificação,enterramento em cova, enterramento superficial,deposição em árvores e andaimes, deposição ouabandono do corpo na água, enterramento emurna, freqüentemente associado com cremação ebanquete funerário dos ossos do morto.

Kroeber (1927), estudando a distribuiçãogeográfica, variabilidade e mudança cultural doscostumes de enterramento e cremação entre gruposétnicos na América e África, considerou os centrosde freqüência ou caracterização das várias formasde práticas funerárias e suas mudanças decorrentesde contatos e implementos culturais entre diferentesgrupos populacionais. Outro caráter observado porKroeber (1927) para caracterizar as práticasfunerárias foi a longa duração temporal, compequenas modificações das suas instâncias, como,por exemplo, no Egito pré-dinástico, o neolítico naEuropa e a Cultura Pueblo, na América. Osmétodos de deposição dos mortos seriam molda-dos e influenciados por intrusões de gruposmigrantes, dissociação do grande bloco deatividade cultural da vida econômica e material, nosseus aspectos de subsistência, pelos outroscostumes conectados com o morto como os tabus,a destruição da sua propriedade e as cerimôniasposteriores ao sepultamento. Foram discriminadas,na América do Sul, as seguintes formas de deposiçãodo morto: enterramento simples, enterramentosecundário, sepultamento em urna, sepultamen-to secundário em urna, enterramento primárioou secundário na área interna da habitação domorto, mumificação, cremação, cremaçãosecundária, “eating of ashes” (em cinzas debanquete funerário) e “scaffold exposure”(exposição em andaime funerário). O enterramentosimples de Kroeber (1927) deve ser entendidocomo enterramento primário, não tendo relaçãocom o número de indivíduos depositados na mesmacova. Tanto a cremação, a mumificação, quanto oenterramento em urna ou na habitação do

(3) O termo inumação (inhumation) pode ser definidocomo a prática de enterramento do morto que difere dacremação e da exposição do corpo em andaimes ouárvores. Pode ocorrer em cova escavada, câmara naturalou nicho. Outros termos usados comumente paradescrever as inumações ou enterramentos são: estendidos(com os ossos da coluna vertebral e das pernas dispostosmais ou menos em uma linha reta), fletidos (com os ossosdas pernas fletidos a menos que 90o), agachados –crouched – (com as articulações do quadril e do joelhofletidos em ângulo maior que 90 graus), estendido emsupinação (de costas), de bruços (sobre o ventre) ou delado. O termo inumação (inhumation burial) refere-se,também, aos tipos de inumações em pequenos potes (jarburial), comuns na Itália, que diferem dos enterramentosem urnas (urn burial) e da cremação.

Page 7: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

119

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

morto sugeridos por Kroeber referem-se àsvariações de enterramentos primários.

Griffin e Newmann (1942) fizeram os primei-ros esforços para identificar e sugerir uma classifi-cação e uma terminologia úteis aos estudos daspráticas e descrição dos vestígios funerários.Criticados por Sprague (1968), esses autores nãoapresentaram, assim como os anteriores, categoriasmutuamente exclusivas. Aceitaram a inumaçãocomo uma categoria exclusiva, distinta da crema-ção. A cremação pode ser entendida como ummétodo de tratamento e redução do corpo para suaposterior deposição. Assim, Sprague (1968)sugeriu que qualquer esquema sobre a deposiçãodo morto deve utilizar dois termos distintos:deposição simples, cujos métodos estão orienta-dos por um princípio básico, em determinadomomento específico no tempo, e deposiçãocomposta, com implicação da existência de dois oumais estágios distintos de deposição, semelhantesao enterramento seguido do desenterramento,exposição e enterramento, exposição, cremação eenterramento ou cremação e dispersão das cinzas.São procedimentos funerários que resultam,respectivamente, em enterramentos primários esecundários.

O problema está em desenvolver um alfabetismovisual suficiente para distinguir e documentar,mediante a análise dos dados observáveis expostosno contexto arqueológico e das características dosvestígios funerários, a presença de uma primeiridadeou secundidade da deposição funerária e daintencionalidade na deposição dos materiaisassociados no enterramento. Uma das técnicas queauxiliam nesse processo é o da evidenciaçãosistemática dos vestígios arqueológicos peladecapagem e do total controle e/ou administraçãodas técnicas de documentação visual por parte doarqueólogo ou do bioarqueólogo.

Nesse sentido, voltado à utilização de métodose técnicas empregados pelo bioarqueólogo paraobtenção de séries esqueletais durante sua atuaçãona pesquisa arqueológica, Comas (1957) descre-veu cinco momentos que devem ser consideradosem campo e em laboratório: o da descoberta, doregistro dos dados, exumação, identificação ecaracterização dos enterramentos em tumbas e darestauração do material ósseo humano (Romero,1939; Angel, 1943). Esse autor privilegiava osestudos craniológicos e osteológicos, comunsdesde fins do século XIX à segunda metade do

XX, tanto por arqueólogos, quanto por antropólo-gos e paleontólogos. Segundo Comas (1957), osdados a serem registrados pelo antropólogo sobreos enterramentos humanos in situ são: 1) númerodo enterramento; 2) localização; 3) profundidadeem relação à superfície do sítio; 4) profundidadeem relação às estruturas depositadas sobre oenterramento (pisos de pedra, lápides etc.); 5)presença ou ausência de cova; 6) estado deconservação dos ossos (indicando quais as partesque se conservaram e as que não); 7) idadefisiológica e, se possível, o sexo; 8) classe ou tipode enterramento: primário (completo ou incom-pleto) que apresenta os ossos em conexão anatômica;secundário, onde não existe conexão anatômica eos ossos podem ser de indivíduos com diferentesidades fisiológicas; 9) posição (do corpo); 10)orientação; 11) descrição sumária dos objetosque possam achar-se em relação com o esquele-to (materiais associados). Esses dados têm semostrado recorrentes e com pouca variação quantoao seu uso na literatura arqueológica que utilizamos.

Para a ordenação e sistematização de conjun-tos de informações bibliográficas e diretas (decampo) sobre os tipos de enterramentos emestruturas monticulares e visando descrever omaterial ósseo humano exumado de quatro cerritosdurante as escavações da Comisión RescateArqueológico de la Cuenca de la Laguna Merínentre os anos de 1986 e 1989 na região de SanMiguel, Argentina, Femenías et al. (1990) propôsdez categorias a serem observadas durante aexposição, registro e remoção de vestígiosfunerários em contexto arqueológico (Tabela 3) quecomplementam as de Sprague (1968), em especialsobre as inumações.

Heizer (1950) ao descrever os aspectos maisimportantes da exposição, registro e remoção deenterramentos em campo, sugeriu dois tipos dedeposição funerária a serem registrados, oenterramento e a cremação (Tabela 4).

Mais tarde, Heizer e Grahan (1967) sugeriramquatro tipos básicos de enterramentos: primários,secundários, múltiplos e as cremações.

Nos enterramentos primários (primaryinterment) os ossos do esqueleto apresentam-searticulados. O corpo teria sido depositado na covaantes da decomposição, nas posições contraído oufletido, estendido ou sentado, de frente, lado ou decostas. Mediante um estudo sistemático dos ossos,após sua exposição, torna-se possível descrever e

Page 8: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

120

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

precisar a posição do corpo na época em que foidepositado na cova. Corpos enterrados nessascircunstâncias podem sofrer, a posteriori, mumificaçãonatural, como os escavados por Lythgoe (1965).

O enterramento secundário (secondaryinterment) caracteriza-se, geralmente, pelapresença de um pacote ou fardo (bundle), queresultou da coleta dos ossos após a remoção

intencional das partes moles por exposição,decomposição por bactérias e que foram posterior-mente depositados em uma cova. Os ossos doesqueleto não estão em conexão anatômica normal.

Os enterramentos múltiplos (multiple interment),tratados em especial por Ubelaker (1974 e 1981) eHeizer e Graham (1967) ocorrem quando umaúnica cova contém remanescentes esqueletais de

1- Modalidade de inumação

2 - Tipo de inumação

3 - Grau de perturbação

4 - Estado de conservação

5 - Modificações

6 - Posição

7 – Orientação

8 - Materiais associados

9 – Sexo

10 - Idade (grupos etários ou em anos)

Ordens de categorias, tipos e características das inumações

TABELA 3

a) Individualb) Múltipla

a) Primária – esqueleto fortemente fletido, levemente fletido ouestendido

b) Secundária – em pacotes ou em urnasc) Indeterminada – material ósseo isolado

a) Não perturbadab) Pouco perturbadac) Muito perturbada

a) Bomb) Regularc) Mau

a) Queimadob) Presença de CaCO3c) Fragmentado-fraturadod) Outras

a) Decúbito dorsalb) Decúbito lateral – direito, esquerdoc) Decúbito ventral

a) Crânio ou eixo crânio-bacia em relação aos pontos cardeais,colaterais e subcolaterais

a) Tipo (morfoscopia, morfometria, matéria-prima)b) Localização junto ao esqueleto

a) Femininob) Masculinoc) Indeterminado

a) Criançab) Jovem (adolescente)c) Adultod) Adulto maduroe) Velho

Fonte: adaptado de Femenias et al. (1990).

Page 9: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

121

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

vários indivíduos (acima de três), enterradossimultaneamente. Esse tipo de enterramento indicaa morte de muitas pessoas em decorrência de umamesma causa, epidemias ou guerras. O termo“múltiplo”, referente ao número de indivíduoscontidos em uma mesma cova, assim como“simples”, “duplo” e “triplo”, não é um tipo dedeposição, como descreveu Sprague (1968).Portanto, não deve ser entendido como um dos trêstipos básicos de enterramento, mas como umaoutra distinção referente aos tipos de enterramentosprimários e secundários, aplicando-se a ambos.

A distinção entre os enterramentos (primários,secundários e múltiplos) e cremações como tiposexclusivos, criticados por Sprague (1968) foi

retomada e desenvolvida por Ubelaker (1996).Assim, um enterramento pode apresentar o esqueletocremado, sendo primário ou secundário. A cremaçãoé considerada como mais um tipo de enterramento.Brothwell (1981) reuniu os muitos tipos deenterramentos humanos em cinco grupos (Tabela 5).

Esses tipos foram classificados pelos critériosde articulação do esqueleto, invólucro do corpo(urna etc.), posição do corpo e disposição dosmembros, condições da deposição e tratamento docorpo, como o descarnamento (caso 5). O tipo 1de Brothwell (1981) refere-se aos enterramentossecundários. Os tipos 2 a 5 constituem enterramentosprimários. Em Brothwell (1981) o termo“enterramento” refere-se ao corpo.

TABELA 4

Tipos de deposições funerárias

1 – Enterramento 2 – Cremação

a) Primário (remanescentes físicos de um corpo articulado):

- Estendido (dorsal ou ventral)- Semi estendido- Semifletido- Fletido (dorsal, ventral, lateral direito , lateral esquerdo)- Sentado

b) Secundário a) Primária b) Secundária

Fonte: adaptado de Heizer (1950).

2 - Enterramentoestendido

1 - Remanescentesfragmentados

3 - Enterramentofletido

4 - Enterramentocontorcido

5 - Outros tiposde enterramentos

Tipos de enterramentos humanos

TABELA 5

Esparsos ou emurnas

A orientação (eixocrânio-bacia) emum grupo deenterramentospode ou não sersimilar. Podemocorrerposicionamentosespeciais dosmembros superio-res e da cabeça

Usualmente ocorpo estádistintamentedeitado de lado,com membrossuperiores einferiores fletidos,em posiçõesgeralmente nãoespeciais oudiferentes paracada membro

É uma das numero-sas posiçõesatípicas em que ocorpo pode estarposicionado. Apostura anormaldenotaenterramentos feitosàs pressas, ou devítimas de batalhase acidentes, já emrigidez ou decom-posição cadavérica

Referem-se aoutros tiposincomuns deposições, relacio-nadas à posiçãoque o mortocostumava repetirem vida, e outras,que só podem serrealizadas em corpojá esqueletizado oumumificado eamarrado

Fonte: adaptado de Brothwell (1981).

Page 10: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

122

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

Assim teremos, segundo Heizer (1950),Heizer e Grahan (1967) e Ubelaker (1996) seis tiposbásicos de deposições funerárias: enterramentoprimário, enterramento secundário, enterramentomúltiplo primário, enterramento múltiplosecundário, cremação primária e cremaçãosecundária. Os caracteres da presença ouausência predominante de conexão anatômica(enterramentos primário e secundário), do númerode indivíduos enterrados na mesma cova(enterramento múltiplo) e do tipo de tratamentorecebido pelo cadáver (cremação) seriamdeterminantes nesta classificação. Esse número detipos de deposição aumentaria se considerarmosos termos simples, duplo e triplo, empregadospara distinguir o número de indivíduos enterrados,bem como se considerarmos as outras formas detratamento do corpo antes da sua deposição e aarticulação e desarticulação conjuntas num mesmoesqueleto.

Uchoa (1973) distinguiu quanto aos tiposenterramento primário e secundário se sãosimples, duplos, triplos ou múltiplos, de acordocom o número de indivíduos depositados na mesmacova. Um enterramento múltiplo, assim como acremação, não constituem tipos de enterramentos.O termo “múltiplo” refere-se ao número deindivíduos depositados na cova, assim como“cremação” é um processo redutivo de preparaçãodo corpo empregado no caso de uma deposiçãocomposta (Sprague, 1968). Para a autora, ossepultamentos sempre equivalem ao próprioesqueleto. Assim, o número de sepultamentos emum sítio dado é exatamente o mesmo dos esquele-tos ou indivíduos exumados.

Os vestígios funerários evidenciados emcampo sob a forma de ossos cremados, podemconstituir cremações primárias, em que os ossosdo esqueleto foram queimados na cova, “verdes”(com a medula óssea), em conexão anatômica (epossivelmente com as partes moles do corpo) ousecundárias, caracterizadas por sucessivas etapas:cremação dos ossos ou do corpo; posteriorrecolhimento; deposição dos restos em covas eurnas. A presença de partes queimadas ou crema-das do esqueleto podem indicar a presença deestruturas de fogueira associadas ao enterramento,muito próximas, como elemento da prática funeráriado grupo ou como processo pós-deposicional deorigem natural ou antrópica contemporâneas ou nãoà época do enterramento.

Segundo Ubelaker (1996), os enterramentoshumanos são classificados em três tipos básicos:enterramentos primários, enterramentossecundários e cremações. Esse autor procuroudemonstrar a importância da delimitação e obten-ção de dados sobre a cova durante o processo deexposição do esqueleto.

O termo “enterramento secundário” foidefinido por Ubelaker (1996), Almagro (s.d),Heizer (1950) e Heizer e Grahan (1967) e aplica-dos por Uchôa (1973) e Machado (1984).Descrito por Sprague (1968) como deposiçãosecundária, uma das formas de deposiçãocomposta, não deve ser confundido com osenterramentos simples, duplo, triplo ou múltiplo,que são indicadores do número de indivíduosdepositados na mesma cova e numa mesmaseqüência funerária. Assim, “también hayinhumaciones secundarias, es decir, que serealizan tras una deposición del cadáver enalgún lugar, y cuando se há corrompido o se lohan comido los animales, se realiza la inhumacióndefinitiva de los restos”. (Almagro, s.d.: 254).

Segundo Heizer e Grahan (1967) caracteriza-se o enterramento secundário como resultado dacoleta de ossos cujas partes moles foram removidasintencionalmente, pela exposição, ação de bactériase que foram depositados em uma cova. Essesossos não apresentam conexão anatômica entre si.Apresentam-se sob a forma de “bundle burials”.

Ubelaker (1996) que pesquisou osgrandes ossuários do sítio Juhle em Mariland, entre1971 e 1972, e os conteúdos das urnas docemitério de Ayalan, na costa sul do Equador,definiu os enterramentos secundários e delimitouseus problemas . Para Ubelaker:

“Secondary inhumation consists ofnon-articulated collections of bones. Theyrepresent a complicated method of treatmentof the dead involving two or more stages.The first is removal of the flesh, which maybe accomplished with tools or by allowingdecomposition to proceed naturally aboveor below ground. The second stage iscollection or disinterment of the bones,which may be kept briefly or for manyyears. The third stage is reburial individuallyor in a mass grave” (Ubelaker 1996:20).

Nesse caso, a presença de partes articula-das do esqueleto pode ser observada devido aos

Page 11: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

123

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

métodos de descarnamento e decomposiçãoempregados. Estes podem resultar na permanênciade facetas articulares e discos intervertebrais unindoalguns ossos.

Ainda, considerando a definição doenterramento secundário, para Martín (1994):

“Nas sociedades indígenas americanas,os rituais fúnebres foram variados ecomplexos e os enterramentos primáriossão equivalentes em número aos secundári-os, nos quais realiza-se um segundoenterramento depois da perda das partesbrandas do corpo, ritualizando-se o esquele-to” (Martín 1994: 30).

Tipos diferentes de enterramentos4 e decerimônias funerárias implicam em diferentesformas de tratamento, disposição e deposição docorpo. Assim, segundo Haglund (1976), escavan-do um sítio cemitério aborígene em Broadbeach,Austrália, os enterramentos humanos foramclassificados em dois tipos, como observamos naTabela 6.

Nesta perspectiva, os remanescentes crema-dos são uma categoria de enterramento secundário.Para Ubelaker (1996), a cremação constitui umtipo diferenciado de enterramento, ao lado do

primário e do secundário. Em Sprague (1968), acremação é um dos processos de tratamento porredução do corpo, constituindo a forma deapresentação de vestígios humanos em deposiçõescompostas ou secundárias.

Os fardos de ossos ou bundle-burials,dispostos na horizontal ou vertical, foram conside-rados por Haglund (1976) como uma das categori-as de enterramento secundário. Essa categoria ébastante significativa para a compreensão doenterramento secundário, classificação recorrentena literatura arqueológica. Assim, a descrição dosbundle-burials oferecida pela autora pareceu-nossignificativa:

“ The corpse had, in most cases, beendismantled completely, the bones rearrangedand then bound with some wrappingmaterial, probably bark or skin, into acompact bundle. In all examples, thewrapping had disappeared but can beinferred from the shape of the burials (...)The skull, usually upright, rested on top of,or just within, the top part of a bundle ofpostcanial bones (...) The mandible was justbelow the skull but had been separated fromit(...) The long bones formed the vertical‘walls’ of the bundle, but were often manedin two groups at the front and back of theskull, giving the bundle na oval crosssection(...) The central core consisted ofribs, vertebrae, scapulae, clavicules, bonesof hards and feet , and other smallerbones(...) Sometimes two or more vertebraewere found in such a position that they musthave been held together by ligaments orother incompletely decomposed softtissue(...)” (Haglund 1976 : 9)

Tipos de enterramentos humanos

TABELA 6

1 - Enterramento primário 2 - Enterramento secundário

A - Estendido

B - Parcialmente desarticulado, rearticulado ouanômalo

C – Fletido

A - Pacote ou fardo de ossos , “bundle-burials” :a) vertical, b) horizontal

B - Ossos esparsos

C - Cremado

Fonte: adaptado de Haglund (1976).

(4) Entenda-se enterramento como sinônimo de sepulta-mento e de inumação. O termo sepultamento parece maisamplo, não incluindo somente a inumatio (tornar húmus),mas quaisquer formas de deposição do corpo. Assim,deposição é sinônimo de sepultamento bem comoenterramento é sinônimo de inumação. Todo enterramentoe toda inumação é uma deposição ou sepultamento, mas,nem todo sepultamento ou deposição é um enterramentoou inumação.

Page 12: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

124

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

A categoria partly dismantled ou dismembredde enterramento primário definida por Haglund(1976) implica em remanescentes de esqueletoscujos membros e porções articuladas do troncoforam dispostas parcialmente em conexão anatômicanormal. Trata-se de uma forma de vestígio resultan-te de uma deposição composta, associada àaplicação de processos redutivos do corpo, comoo enterramento seguido de desenterramento,descarnamento ou decomposição química, propos-tos por Sprague (1968). A presença da manipula-ção dos ossos e partes desarticuladas do corpo,antes do enterramento definitivo, em que o corponão teria sido enterrado com os ossos normalmentearticulados, caracterizaria, para outros autorescomo Ubelaker (1996) e Heizer e Grahan (1967),uma categoria de enterramento secundário.

A intencionalidade antrópica em relação àdeposição e disposição do corpo já tratado,descarnado e desarticulado, pode ser confundidaem contexto arqueológico com desmembramentosdo esqueleto originários dos processos maisavançados da decomposição cadavérica –esqueletonização, em especial aos corpos deposita-dos verticalmente em relação ao plano do solo, quepodem sofrer desmantelamento parcial dosmembros, crânio e coluna vertebral. Os corposdispostos verticalmente podem apresentar, in situ,o aspecto estrelado, com queda dos membrossuperiores sobre os inferiores.

Haglund (1976) distinguiu, ainda, outroselementos caracterizadores das práticas funeráriasdados pelos tipos de cova (de forma horizontal,vertical, suas dimensões e orientação do eixoprincipal) e os materiais associados.

Determinados procedimentos mortuáriosresultam em vestígios ósseos não articulados oupartes isoladas – restos esparsos e articuladas doesqueleto, indicando uma seqüência complexa deeventos ocorridos entre a deposição e a escavaçãodo enterramento no contexto arqueológico. Seuregistro decorre de perfis longitudinais e transver-sais, assim como da planta baixa da área, com oquadriculamento e a precisa identificação daposição dos ossos desarticulados para a reconstituiçãoda maneira e a seqüência da deposição e adescrição das práticas funerárias e suas alteraçõestafonômicas (Roksandic 2002).

Os enterramentos perturbados por outroenterramento exemplificados por Montardo (1994)através dos estudos de Banner (1961) sobre os

Kaiapó não devem ser confundidos com asdefinições dos enterramentos secundários descritasanteriormente. Para Banner (1961):

“(...) os índios se servem de umasepultura velha para um segundo enterro.Quando restos do primeiro ocupante aindaestão na esteira com que o jazigo foiforrado, esta é retirada com cuidado.Enquanto os homens cavam mais algunscentímetros para dar ao túmulo aspectonovo, as mulheres vão remexer a cinzahumana, catando as contas e miçangas quesobreviveram à decomposição do dono!Depois do novo ocupante estar em posição,os restos do primeiro voltam novamente àterra, despidos de todos os enfeites edeixados ao lado daquele que agora ocupao primeiro lugar (...) quando uma pessoa dedestaque morre em viagem, e precisa serenterrada num lugar onde não há outrasepultura, os parentes poderão voltar maistarde, a fim de levar a ossada para fazernovo enterro onde terá a companhia dequalquer outro morto”. (Banner 1961: 45-46)

Esqueletos desarticulados de crianças,pintados com ocre, depositados junto comesqueletos de adultos podem ser resultado,segundo Banner (1961) de um tratamento dadopela própria mãe que desenterra seu filho e oguarda até conceber outra criança, quando volta aenterrá-lo, desta vez com um parente adulto. Trata-se de um enterramento não coletivo como afirmaMontardo (1994), mas de um enterramentosecundário simultaneamente a um primário, umamodalidade mista com procedimentos tanto dasinumações primárias quanto das secundárias.

No caso dos enterramentos secundários, o queincluiria as cremações segundo Haglund (1976) ouas excluiria (Ubelaker 1996), dois critériosclassificatórios propostos por Sprague (1968) sãoimportantes: o da individualidade e da articula-ção. A individualidade relaciona-se à determinaçãodo número mínimo de indivíduos envolvidos nummesmo recipiente (urna, tumba, esteira, estojo) ecova. Seu grau varia em fragmentário (unidadesósseas e fragmentos), parcial (unidades ósseasarticuladas), simples (individual), duplo, triplo,múltiplo e em massa.

Rohr (1960:19), ao escavar o sambaqui dePraia Grande, Rio Vermelho, Santa Catarina, em

Page 13: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

125

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

1959, descreveu-nos o enterramento secundáriocomo sendo resultado de uma segunda inumação.5

Sobre o tratamento em campo desse tipo deenterramento, Romero (1939) já alertava sobre asseguintes observações: a) quando o enterramento ésecundário, assim como para o primário, a distri-buição dos ossos in situ dita as regras para oprosseguimento da escavação; b) como osenterramentos secundários quase sempre compre-endem várias camadas de ossos, o processo deescavação se segue por níveis naturais ou artificiais;c) o numero elevado de ossos pode indicar apresença não de um enterramento secundário, masde vários enterramentos primários, de indivíduoscom diferentes idades, que por motivos de ordemmecânica após a deposição, misturaram-se; d)convém registrar detalhadamente os ossos emcroqui, identificando-os com precisão (unidadeanatômica, região do esqueleto, lado, direção dasepífises, posição dos fragmentos uns em relaçãoaos outros); e) esses desenhos servem como guiaspara a identificação do número de indivíduosenterrados; f) enterramentos secundários degrandes extensões devem ser subdivididos emblocos separados durante a escavação, sendoexumados e documentados separadamente, paraposterior interpretação.

Heizer (1950), Heizer e Graham (1967) eUbelaker (1996) distinguem enterramentos primárioe secundário de cremação. Como o enterramento,a cremação pode ser primária, na qual o corpo foiqueimado na cova e secundária, caracterizada pela

coleta, possível tratamento e acondicionamento edeposição das cinzas e fragmentos calcinados empequenas covas.

Cremação é uma prática de queimar o morto,representada no contexto arqueológico poraglomerados de ossos humanos queimados,parcialmente íntegros ou, comumente, estandofragmentados e desarticulados ou sob a forma decinzas que podem ter sido depositadas em urnascinerárias para posterior deposição (Bray e Trump1970). Trata-se de um dos métodos de redução docorpo realizado durante ou para a sua deposição –inumação em cova, urna, entre outras. Portantoconstitui uma categoria de enterramento secundárioou, excepcionalmente, primário. Almagro (s.d)definiu a cremação como mais um rito de inumaçãoou modalidade de enterramento, distinguindo-a aolado da primária e secundária: “Al lado de tandiversos ritos de inhumación hay otros en que elcadáver es incinerado en un ushinium y luego lascenizas se guardan de diversas maneras: en urnascinerarias cerámicas o de piedra, en pozos, enmonumentos, o se pone simplesmente una estela enel lugar de la pira ritual” (Almagro, s.d: 254). Acremação primária é aquela contida em seusubstrato original, junto aos restos da pira cinerária;a cremação secundária implica na coleta, possíveltratamento – pulverização, quebra – acondiciona-mento e retirada do substrato original: os ossosqueimados são depositados uma segunda vez,encontrando-se incompletos, em covas restritas ouem recipientes cerâmicos, sem quaisquer traços deconexão anatômica.

Para Machado (1990), a cremação constituiuma prática funerária que pode ser assim descrita eproblematizada, em linhas gerais:

“Cremações são conjuntos de ossoshumanos que foram intencionalmente queima-dos. São considerados chamuscados,queimados, calcinados ou incinerados, deacordo com a intensidade dos graus dequeima. Os restos cremados podem fornecerdados de valor comparativo e imediatopara o arqueólogo se forem estudadosatravés de procedimentos disciplinados deanálise” (Machado 1990: 235).

A partir da identificação dos fragmentosósseos humanos quanto à unidade óssea a quepertencem, do cálculo do número mínimo deindivíduos, a estimativa do período geral de

(5) “(...) Segunda inumação, como usavam os homens deCro Magnon e como está, ainda hoje, em uso entre osindígenas do Amazonas e outros grupos. Esta ‘inumaçãodupla’ estêve em uso, há milênios na primitiva Irlanda,Creta, Alemanha, França, etc. Consistia em amarrar omoribundo ou o defunto, logo após a morte, de mãos e pésencolhidos, à maneira do feto no ventre da mãe, e enterrá-loem terra úmida. Após um ano, decomposta a carne, oesqueleto era desenterrado, limpado de carnes, pintado devermelho e então ‘inumado’ segunda vez. À cerimônia dadupla inumação, ao que parece, procedia-se apenas porocasião da morte de um dos grandes chefes e,freqüentemente, era feita dentro de uma urna funerária (...),certas tribos da Amazônia modernizaram a técnica destadupla inumação. Em vez de enterrarem o cadáver duranteum ano, suspendem-no, durante uma noite, nas águas deum rio, infestado de piranhas. Êstes peixinhos vorazesencarregam-se de transformar o cadáver, em poucas horas,num esqueleto perfeitamente despido de carne”.

Page 14: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

126

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

idade biológica individual e a indicação de sexo,bem como pela observação cromática dosefeitos do calor e dos padrões de fraturas,podem ser formuladas as seguintes questõespertinentes às cremações evidenciadas em sítiosarqueológicos:

“ É possível dizer pela aparência dosossos queimados se eles estavam ou nãodescarnados quando expostos ao fogo?Pode haver indicações de desarticulaçãointencional? Os sinais diferenciados dequeima nos ossos podem indicar a posiçãodos restos durante a cremação e a intensi-dade do calor? De que modo as evidênciasdo contexto arqueológico e o tipo de coletapermitem esclarecer aspectos importantesdo rito funerário? Que problemas sãoenfrentados na identificação de ossoscremados e nas estimativas de idade esexo?” (Machado 1990: 238)

A estas questões, podemos incluir os própriosproblemas enfrentados durante a utilização –observação da coloração que infere graus detemperatura e de direcionamentos de fraturas queindicam se a queima foi feita antes ou depois de umprocesso de esqueletização e perda gradativa dematérias orgânicas do osso – e viabilidade doemprego direto – sem experimentação de outrosmétodos como os físico-químicos e de microscopiaeletrônica – para o cálculo das temperaturas dequeima na própria coleção em análise e experimen-tações amostrais – de metodologias para aobservação e descrição, análise e identificação dastemperaturas de queima dos ossos humanos comoas propostas por Shipman, Walker e Bichell(1985), Baby (1950), Gejvall (1963), Van Vark(1970), Dokládal (1971) Binford (1963), Stewart(1979) e Ubelaker ( 1989), e empregadas emconjunto primeiramente por Machado (1990) .

Esse tipo de deposição, juntamente com osenterramentos primários, secundários e “múltiplos”(Heizer e Graham 1967) ou juntamente com osenterramentos primários e secundários (Ubelaker1996 e Heizer 1950) apresenta problemas naobservação e registro da identificação e posiçãodos ossos devido à intensa fragmentação, deforma-ção, redução e cristalização dos mesmos, resultan-tes da ação do calor. O mesmo ocorre com adiagnose sexual, cálculo da idade e identificaçãodas patologias, anomalias e traumas.

O trabalho de Shipnan, Walker e Bichell(1985) procurou estabelecer, através da observa-ção das cores predominantes dos ossos queima-dos os intervalos das temperaturas às quais teriamsido submetidos. Kneip e Machado (1992),utilizando esses princípios, estudaram a cremaçãocomo variabilidade nas práticas funerárias degrupos pescadores-coletores-caçadores do litoraldo Rio de Janeiro.

A disposição do enterramento refere-se àconfiguração do corpo na cova. Este pode estardisposto em decúbito dorsal, ventral, lateral direitoou esquerdo, sentado ou estendido. A relação dossegmentos do corpo entre si determina a posição(Anderson, 1962:159) do esqueleto. Esta é descritaem relação a três componentes anatômicos: osmembros inferiores, os membros superiores e ocrânio. A posição do esqueleto é um dos critériosclassificatórios restritos aos enterramentos primários.

O primeiro aspecto da posição do esqueleto édado pelo grau de flexão, importando somente arelação entre os membros inferiores e o tronco.Este grau, segundo Ubelaker (1996), dado peloângulo formado entre o eixo da coluna vertebral(do tronco, eixo crânio-bacia ou eixo forame-occipitale-sacrum) e os eixos longitudinais dosfêmures pode ser descrito pelos termos “estendido”(Â aproximadamente 180º), “semi-fletido” (Â maiorou igual a 90º e menor que 180º), “fletido” (Âmenor que 90º) e “fortemente fletido”6 (Â aproxi-madamente igual a 0º).

Para estabelecer limites mais precisos entre osângulos para descrever a disposição do corpo e dosmembros quanto à flexão, sugerimos: para estendido– Â maior que 135o e menor ou igual a 180o; semi-fletido – Â maior ou igual a 90o e menor ou igual a135o ; fletido – Â maior ou igual a 45o e menor que90o e fortemente fletido – Â maior ou igual a 0o emenor que 45o. Trata-se de uma regulagem angularbaseada nas propostas de Ubelaker (1996) e Saxe(1971). Este ângulo de 45o, elevado para delimitar asposições fortemente fletido e estendido para

(6) A classificação tightly flexed de Ubelaker (1996, p. 18,fig. 18) foi adotada para o ângulo de 10o , formado entreos eixos longitudinais do fêmur e da tíbia. Para os mesmoseixos, um ângulo de 25o indica a categoria flexed. Para umângulo de 120o, formado entre os eixos da colunavertebral e o fêmur, o esqueleto está semi-fletido(semiflexed category).

Page 15: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

127

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

Ubelaker (1996), deve ser reduzido para 15o .Assim, temos uma sugestão mais adequada: a)estendido – Â maior que 165o e menor ou igual a180o; b) semi-fletido – Â maior ou igual a 90o emenor ou igual a 165o; c) fletido – Â maior ou iguala 15o e menor que 90o; d) fortemente fletido – Âmaior ou igual a 0o e menor que 15o.

A posição fletida do esqueleto já havia sidosugerida por Wilder (1905) e, juntamente com a semi-fletida, pela “First Archaeological Conferense on theWoodland Pattern” de 1943. Os artigos de Wilder eWhipple (1917) apresentaram significativos avançossobre os pressupostos para o uso da “posição fletida”.O termo compressed flexed body como umavariação do tipo de enterramento fletido (flexedburial) foi aplicado por Lothrop (1954). Sprague(1968) propôs, antes de Ubelaker (1996), o termo“fortemente fletido” (tightly flexed), útil quandocuidadosamente definido durante sua aplicação.

Blackwood e Simpson (1973) estabeleceramcódigos para a identificação e posição das unidadesósseas do esqueleto que facilitam a leitura decroquis-desenhos esquemáticos dos enterramentos:na seqüência da descrição de um enterramento, ostermos direito (D) e esquerdo (E) referem-se sempreaos lados direito e esquerdo do esqueleto; os termossuperior e inferior, proximal e distal, medial e lateralsão igualmente utilizáveis no senso anatômico; ostermos por cima, em baixo, acima e abaixo, emtorno referem-se às posições das unidades ósseasdo esqueleto na cova e em relação às demaisestruturas e unidades ósseas; as unidades ósseas,

sempre identificadas em contexto, recebem as siglasSc (escápula), Cl (clavícula), P (pelve), U (úmero), R(rádio), Ul (ulna), F (fêmur), T (tíbia), todosacompanhados de D ou E (direito ou esquerdo).

Na seqüência da descrição de um enterramentoem contexto arqueológico, esses autores adotaramtermos específicos para o posicionamento do corpo(horizontal e vertical e/ou oblíqua) e dos membrosinferiores em relação a uma linha de orientaçãogeral do tronco, bem como uma lista de posiçõesgerais do esqueleto.7 Estes termos estão na Tabela 7.

Posição do esqueleto (attitude of burial)

TABELA 7

Fonte: adaptado de Blackwood e Simpson (1973: 140).

Posição horizontal Posição vertical e/ou oblíqua

3 - Sentado ou acocorado2 - Fletido (flexed)1 - Estendido (extended)

a) Estendido em decúbito dorsal(extended supine)

b) Estendido em decúbito ventral(extended prone)

c) Estendido em decúbito lateraldireito (extended on right)

d) Estendido em decúbito lateralesquerdo (extended on left)

a) Fletido em decúbito dorsal(flexed supine)

b) Fletido em decúbito ventral(flexed prone)

c) Fletido em decúbito lateraldireito (flexed on right)

d) Fletido em decúbito lateralesquerdo (flexed on left)

a) sentado e fletido, com fêmurese tíbias verticalmente ao corpo(flexed saquatting burial)

(7) Os termos descritos por Blackwood e Simpson (1973)para a descrição dos enterramentos quanto a sua fragmen-tação e/ou posição são: supine extended burial; unusualkind; flexed burial lying on the left side; reclining supineburial (com fêmures e tíbias verticalmente ao corpo); fullyextended burial with the body in a straight line lying onthe right side; supine flexed burial with the head inclinedto the left; supine flexed burial; supine burial; fullyextended supine burial; very fragmentary skeleton; veryfragmentary skeleton lying on the right side; fragmentaryprone burial; fragmentary flexed burial; fragmentaryextended supine burial; very fragmentary flexed skeleton;very incomplete skeleton extending; fragmentary skeleton,apparently buried supine with the legs flexed upwards;squatting burial; flexed burial with the body lying on theright side; a prone extended burial; extended supineburial; supine burial, apparently extended; flexedsquatting burial; fragmentary burial, apparently on theright side; flexed prone burial; severely flexed burial lyingon the right side, semi-prone; apparently an extendedsupine burial and flexed supine burial in association withother skeleton (s).

Page 16: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

128

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

Entretanto, segundo Ubelaker (1996), convémconsiderar a flexão dos membros inferiores pelaobtenção dos ângulos formados entre os eixoslongitudinais dos fêmures e das tíbias. Nesteprocedimento são utilizados os mesmos termosaplicados para os ângulos entre o eixo da coluna eos fêmures.

Saxe (1971) estabeleceu cinco códigos paradescrever os graus formados pelos ângulos deflexão entre o fêmur e a coluna vertebral, entre ofêmur e a tíbia, entre a coluna vertebral e os úmerose entre os úmeros e as ulnas: 1 = ângulo aproxima-do de 45º (médio), 2 = ângulo menor que 45º

(fechado), 3 = ângulo de 45º a 90º (moderado), 4 =entre moderado e estendido (aberto), 5 = ângulode 180º (estendido).

A posição dos membros8 superiores (Mygoda1979: 188-189) pode ser dividida em quatrocategorias: estendidos ao longo do corpo, cruzadossobre a pelve, dobrados sobre o tórax ou voltadospara a cabeça . Esses termos, devido a sua nãoexclusividade, podem ser aplicados individualmentepara cada membro superior. Em Tenório (Uchôa1973) os esqueletos não apresentaram, em suamaioria,9 essas categorias nos dois membrossuperiores: ocorriam duas posições diferentes paracada membro superior simultaneamente. Os grausde flexão – associados à posição – são os mesmosque para os membros inferiores sugeridos por Saxe(1971). Ele estabeleceu três posições básicas parao esqueleto (deitado ou em decúbito 1 – do ladoesquerdo, 2 – do lado direito, 3 – de costas),10

podendo apresentar torções em três regiões docorpo: na região da escápula e membros superiorese da pelve (inclinados ou voltados posteriormenteou anteriormente) e região dos membros inferiores(voltados à esquerda ou à direita da colunavertebral) . As mãos podem estar dispostas naregião da cabeça ou tórax ou na região abdominal,pélvica e dos membros inferiores. Esses termospara as posições aplicam-se a enterramentosprimários simples, com um só indivíduo. O autordistingue outras posições para as mãos ementerramentos duplos, acrescentando as informa-ções: mãos na região da cabeça ou coluna vertebraldo outro indivíduo. Entretanto, essas posições nãoocorrem exclusivamente para as mão direita eesquerda, podendo ocorrer distintas posiçõessimultaneamente, uma para cada mão.

A terceira categoria de posições está relacio-nada com a rotação da cabeça, definida pelomovimento da mesma em um plano lateral ao redorde um eixo central. Assim, a porção anterior docrânio – face – pode estar voltada para a direita,esquerda, anteriormente, para o tórax ou voltadapara trás. No caso dos esqueletos de inumaçõesprimárias, a indeterminação do facing ou dasposições dos membros indica um estado deperturbação e desarticulação dos ossos ocasiona-das pelos processos formativos do depósitoarqueológico.

A orientação do esqueleto é definida peladireção da cabeça a partir da linha formada entre ocentro do crânio e o centro da pelve. Assim,segundo Rose (1922): “(...) por orientação euentendo facing, a situação de maneira que aface do cadáver está voltada em uma direçãodada”(Rose 1922: 127).

Na literatura arqueológica, termos semelhan-tes a “cabeça direcionada para” ou “crânio voltadopara” muitas vezes são usados para indicarorientação. Uchôa (1973) adotou a orientação emrelação à direção do eixo crânio-bacia, no sentidoda pelve para o crânio e da face – face voltadapara –, ambas em relação aos pontos cardeais.Dois ou mesmo três tipos de orientação podem serobtidos (Sprague 1968), como a da cova, doinvólucro/recipiente e do corpo. A orientação dacova e do invólucro é determinada pelos seus eixoslongitudinais, sempre no sentido do crânio. Aorientação do corpo quando posicionado horizon-talmente refere-se à direção da posição da cabeçaem relação á linha formada entre os centros do

(8) Esta posição é observada em relação à superfície emque o membro se acha apoiado e em relação aos ângulosformados pelos eixos longitudinais dos ossos articulados.(9) O esqueleto do enterramento XIX de Tenórioapresentava os membros superiores com as mãos junto aocrânio. Em outros casos, como nos esqueletos dosenterramentos XX, XXVI e XXVIII, somente um dosmembros superiores estava voltado para o crânio,enquanto o outro encontrava-se estendido, em direção ousobre a pelve ou fletido sobre o ventre ou tórax.(10) Decúbito dorsal – com o dorso voltado para baixo;decúbito ventral – com o ventre voltado para baixo;decúbito lateral direito – com o lado direito do corpovoltado para baixo; decúbito lateral esquerdo – com o ladoesquerdo do corpo voltado para baixo; outras posições –sentado, em suspensão (quando preso a um suporte quelhe impede o apoio total na superfície): todos esses termosreferem-se à posição do cadáver (esqueletizado ou não) emrelação à superfície em que foi depositado.

Page 17: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

129

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

crânio e da pelve (Heizer 1958). A orientação deum enterramento vertical (sentado) refere-se àdireção para a qual a face ventral do corpo estádirecionada podendo, ainda, ser entendida emtermos de graus, através dos pontos cardeais esuas subdivisões. Outro ponto de orientação estána direção do plano da face do crânio.

Blackwood e Simpson (1973) determinaram aorientação do esqueleto através de um alinhamentogeral do corpo em direção ao crânio. Ementerramentos estendidos – extended burials –,essa linha ou eixo de orientação – orientation line– geralmente coincide com a linha que conecta ocentro dos ossos dos pés com o centro do crânio.Nos enterramentos com esqueletos fletidos, osflexed burials, está representada pela linha centrale longitudinal do tronco, independentemente daposição dos membros inferiores. Trata-se de umalinha de orientação que não considera os eixosformados pelos pontos centrais forame magno-sacro – da coluna vertebral – ou do crânio-pelveespecificamente. Embora impreciso para o cálculoda orientação em relação aos pontos cardeais,colaterais e/ou subcolaterais,11 é uma das únicaspossibilidades de se estabelecer uma orientaçãopossível para esqueletos desarticulados e sob aforma de bundle burials ou em enterramentossecundários múltiplos. Aí, a relação de conexãoanatômica necessária para a determinação depontos e estabelecimentos de eixos ou linhasdirecionais inexiste, tornando-se possível estabele-cer essa linha pelo eixo longitudinal mais longo doconjunto de ossos, cuja orientação é dada emgraus.

Duas outras categorias de informaçõesreferentes ao enterramento estão representadaspela mensuração da sua profundidade, isto é, daespessura da cova, seu nível estratigráfico emrelação à superfície do sítio, a profundidade dosossos mais superficiais e aqueles situados maisinferiormente na cova. Esse procedimento de obteros níveis superior, inferior e médio e mensurar osesqueletos, seus materiais associados e a cova foiamplamente utilizado por Uchôa (1970, 1973) nosenterramentos dos sítios Piaçaguera, Tenório e MarVirado, no litoral de São Paulo.

Mensurações como o comprimento e larguramáximos do esqueleto e a posição de todos osacompanhamentos funerários a partir de pelomenos dois pontos de referência no esqueletoconstituem o segundo grupo de informaçõesproposto por Ubelaker (1996). Ademais não sãoraras as tomadas de medidas osteométricas durantea exposição de esqueletos em campo,12 emdecorrência da iminente fragmentação e impossibili-dade da retirada de ossos com diáfises ou especial-mente as epífises íntegras para posterior mensuraçãoem laboratório .

Informações complementares às categoriasvistas até aqui como o tipo de enterramento,posição, orientação e mensuração, tambémexclusivas de campo, referem-se à observação dascondições patológicas e tafonômicas do esqueleto,que podem ser destruídas durante a exumação domesmo, devendo ser, na medida do possível,registradas in situ.

Excepcionalmente, em áreas com condiçõesde umidade, temperatura, pressão e pH favoráveisà preservação de materiais perecíveis como tecidosorgânicos, vegetais, cabelo, entre outros, estespodem aparecer no contexto arqueológico doenterramento, devendo ser escavados e removidoscom técnicas adequadas. Amostras de soloretiradas ao redor do esqueleto e analisadas quantoa sua composição química e física funcionam comoguias sobre a variação do grau de acidez oualcalinidade do solo e sua relação com o estado deerosão e preservação dos ossos. Esses sedimentosdo interior da cova podem conter microfragmentosde artefatos, ossos de fetos, restos de alimentação/oferendas, bem como grãos de pólen e outros. Asinclusões naturais como os raros fragmentosconservados de larvas de insetos necrófagos queatuaram no processo de decomposição do cadáverpodem servir de indicadores dos intervalos anuaisem que os enterramentos foram realizados.

Sprague (1968) sugere para o registro dosacompanhamentos funerários o critério da suadisposição em relação ao corpo e a cova. Os

(11) Ver novos sistemas de localização e direcionamentode eixos de ossos longos através do uso de GPS emmapeamentos sucessivos de inumações.

(12) A antropóloga do Laboratório de Antropologia Físicado Musée de l’Homme de Paris, Dra Evelin Perry, realizoudiversas mensurações de esqueletos in situ, durante asescavações no sítio Justino, Piranhas, Sergipe, feitas pelaequipe de arqueólogos da Universidade Federal deSergipe conveniada com a CHESF em 1992.

Page 18: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

130

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

ornamentos anexados ao corpo e vestimentas são,possivelmente, traços do processo de preparaçãodo corpo. Entretanto essa distinção pode não serdeterminada em um contexto arqueológico. Essematerial pode estar dentro, sob, sobre ou junto dealguma região do corpo, bem como preenchendo acova. As marcas, testemunhos da existência dacova, como blocos líticos, nichos e demais estrutu-ras que a conformam podem ser consideradascomo uma classe especial de materiais associados:as estruturas funerárias, dispostas com evidenteintencionalidade durante a deposição do morto.

O material associado ao enterramento estárepresentado, como dado observável no contextoarqueológico, pelos itens não perecíveis, como asvalvas de moluscos, ossos e dentes de animais,exoesqueletos de equinodermas e crustáceos. Temsido considerados com a mesma significação ostermos “material associado” e “ acompanhamentofunerário”. Esta categoria funerária aparece como“oferendas presentes na cova”, “mobiliário funerá-rio” (mobiliere funeraire, grave furniture),“oferendas funerárias” (grave offerings), “mobiliá-rio mortuário” (mortuary furniture), “beigaben”,que são tidos como menos precisos por implicaremfunção e intencionalidade precisas. Constituem osgrave goods ou as inclusions de Sprague (1968) eHodson (1977), os clothes and ornaments,ornaments, insignia and amulets e os offeringsfor the dead, food and drink e companions, deAlexander (1969) e os ajuar y elementos asociadosde Femenías et al. (1990). Ubelaker (1996) sugereas “associações” – materiais associados –, dividi-das em artefatos e espécies (fauna). Essas“associações” podem corresponder aos materiaisperecíveis e aos itens não culturais. Heizer (1950)sugere “objetos associados”, divididos em artefatose ornamentos. Uchôa (1973) utilizou o termo“materiais associados” para designar os objetosassociados ao esqueleto, de deposição intencionale relacionados ao processo de preparação docorpo e de caráter funerário. Esses materiaisassociados comporiam três grupos: os representati-vos do padrão de enterramento, como os restos defogueiras, carvão, ocre, blocos líticos, sedimentos erestos vegetais; um grupo de restos de fauna emvalvas de moluscos, ossos e dentes, todos semtrabalho e o dos artefatos líticos, ósseos, conchíferose em dentes. A disposição desses materiaisassociados junto ao corpo e na cova deve serdocumentada precisamente, pois segundo Ubelaker

(1996) funciona como um dos indicativos dafunção desse material.

O ocre sob a forma de pigmento ferríficopulverizado ou em blocos de hematita compacta,limonitizada, constitui outro tipo de materialassociado encontrado nos enterramentos, recobrindopartes ou totalmente os esqueletos e demaisacompanhamentos. Esse tipo de material foidescrito em Menghin (1931), Obermeier (1912) eTiburtius e Leprevost (1952). Referindo-se amateriais corantes e esqueletos pintados de oitosambaquis da região sul do Brasil, Tiburtius eLeprevost (1952:151) descrevem as análisesquímicas procedidas em fragmentos de hematitapolida (utilizadas como adorno?), desbastadas poratrito e/ou raspagem, para a obtenção do pigmentocorante em pó. Nos sambaquis onde foramencontradas estas pedras corantes, ocorriamesqueletos de adultos ou crianças, depositadossobre camadas desse pigmento vermelho erecobertos – também seus acompanhamentosfunerários – de uma “fina película” do mesmopigmento. Sobre as observações de Menghin(1931) e Obermeier (1912) a respeito de esquele-tos pintados encontrados nas grutas de Grimaldi,em Mentone e em outros sítios europeus, Tiburtiuse Leprevost (1952) relataram que “(...) muitasvezes os defuntos eram colocados em umasuperfície plana revestida de uma camada deóxido de ferro vermelho e pulverizados com êstepigmento. Tão logo a carne se decompunha, oóxido de ferro depositava-se nos ossos eadornos, que tomavam uma coloração forte-mente avermelhada. Não se pode supor (...) quea carne fosse prèviamente retirada, coloridos osossos e em seguida adicionada, para entãosepultar, pois do contrário não se encontrariamos esqueletos tão bem conservados e em perfeitadisposição anatômica (...) além de esqueletos,também objetos vários foram encontradosrecobertos por vermelhão” (Tiburtius e Leprevost1952: 153-154).

Diferentemente dos casos encontrados porVerneau nas grutas de Grimaldi e demais sítioseuropeus, os esqueletos pigmentados dos sambaquisdo Paraná e Santa Catarina representam umaminoria de ocorrências, com ossos superficialmentee homogeneamente coloridos de pigmento ocre.Entretanto, estudos referentes aos problemas deinterpretação cultural do corante vermelho nointerior das práticas funerárias, no contexto da

Page 19: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

131

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

evolução humana (Wreschner 1980) e mesmosobre suas características físico-químicas (Tiburtiuse Leprevost 1952; Faria et al. 2002), forma deelaboração e de pigmentação do corpo do morto –o pigmento é espargido, depositado em blocos quese diluem e/ou como pigmentos misturados aaglutinantes/fixadores que são aplicados sobre aepiderme do cadáver ou na superfície de ossos jálimpos? – por populações extintas são ainda raros,especialmente no Brasil.

Os procedimentos de preparação da área doenterramento por meio da construção de mounds,postes, fossos, rampas, cercados e plataformas depedra, turfa ou madeira resultam na variação detextura e coloração do solo, bem como na visibilidadedo enterramento ou do conjunto de enterramentosno sítio arqueológico, em especial na Europa enorte da África.

Outro critério, referente à articulação entreos ossos ou conexão anatômica é observado pelasua graduação. Somente em enterramentosprimários ou em corpos que sofreram processosmoderados de redução é possível a evidenciaçãode esqueletos articulados. A semiarticulação ouarticulação parcial refere-se à condição na qualuma unidade óssea está na ordem da sua conexãoanatômica com outra, entretanto, encontra-se alémdos limites das cápsulas articulares. Um esqueletorearticulado é aquele em que foi feita uma tentativade rearticulação intencional das unidades ósseas,após um primeiro processo de desarticulação pordestroncamento, desmembramento, espostejamentopor traumas, decomposição intencional dascápsulas sinoviais pelo processo lento ou rápido deesqueletização por enterramento temporário,submersão para maceração ou exposição controla-da do corpo a animais necrófagos. Os graus dearticulação do esqueleto, segundo Ubelaker(1996) e Brown (1971), podem ser: 1) completa,em que todos os ossos do esqueleto estão naposição e articulação corretas ou 2) parcial, emque alguns ossos estão em conexão anatômica. Aarticulação parcial entre as unidades ósseas doesqueleto pode indicar um período de tempo entrea morte e a deposição e a estimativa desse período.Normalmente os ossos das mãos, pés, costelas evértebras são encontrados parcialmente articuladosdevido a sua mobilidade por processos pós-deposicionais formativos do substrato arqueológicoem que estão inseridos e ao próprio processo deesqueletização e reacomodação desses ossos. Um

terceiro grau, em que inexiste conexão anatômicacompleta ou parcial é o estado de desarticulaçãoentre as unidades ósseas.

Quando o corpo foi enterrado incompleto edesarticulado, especialmente se não apresentapequenos ossos, um longo período, possivelmentemeses, se não anos, separam o momento da mortee o do enterramento final. Muitos tipos de armaze-nagem ou enterramentos temporários podem tersido praticados nesse período, ocasionando aperda de alguns ossos. O crânio, a mandíbula,determinados dentes e outros ossos longospoderiam ter sido extraídos nesse mesmo períodopara fins rituais ou pela ação de animais queocasionariam quebras, roeduras e extravios.13

Assim, um mesmo esqueleto pode apresentar ossosnos três graus de articulação: completamentearticulados, parcialmente desarticulados edesarticulados. A observação das posições dosossos fornece informações para serem usadas nareconstituição de aspectos da prática funerária dogrupo, assim como excluir ou incluir a ação dedeterminados processos após a deposição. Otermo “rearticulação”, empregado por Haglund(1976), implica em uma articulação artificial eintencional de origem antrópica, fazendo parte daetapa de tratamento e deposição do corpo na cova.

Lothrop (1954), escavando enterramentosna praia de Venado, no Panamá, trabalhou comesqueletos desarticulados e articulados de corposque teriam sido enterrados ainda vivos, em rituaisde suicídio, após morte involuntária sacrificial ecom mutilação pela decapitação ou extração decaninos. A observação dessas formas de morte apartir dos restos esqueletais decorre das posiçõesdos ossos e as marcas de lesões que apresentam.Nos casos de corpos enterrados ainda vivos, osesqueletos estavam com mandíbulas abertas e osossos dos dedos sugerindo movimentação dasmãos. A morte involuntária, decorrente de rituaisde sacrifício em Venado teriam deixado suas

(13) Modificações iniciais dos vestígios são condiciona-das pela atividade dos agentes tanatófagos. Marcas ealterações deixadas pela ação de uma variável faunacadavérica durante os estágios de decomposição docorpo humano observadas como traços cronotanatológicosindicadores da época da morte e da deposição constituemdados normalmente estudados em Medicina Legal, maisespecificamente pela Tanatologia Forense e, maistardiamente, pela Arqueologia Forense.

Page 20: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

132

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

marcas in situ, na região posterior das vértebraslombares e nas cervicais, partidas em vida,identificável pela posição anormal, desarticuladado crânio e torção brusca das cervicais pordestroncamento. Em outros casos, esqueletos deadultos são encontrados sob a forma de bundleburials em urnas ou articulados junto a urnascontendo esqueletos de crianças, também emconexão anatômica. Para Lothrop (1954) osbundle burials consistem de ossos que forampreservados após o descarnamento para seremdepositados em cova permanente.

Nas mutilações, partes do corpo são removi-das em rituais e novamente depositadas junto docorpo. No caso dos crânios e dentes, estes podemser removidos e não mais rearticulados, sendoenterrados como “troféus”, com corpos nãomutilados. As marcas de remoção dos crânios –cortes – podem estar nos côndilos da mandíbula eno atlas de esqueletos articulados.

Segundo Lothrop (1954), os enterramentosde acordo com os problemas que encontrou nosítio da praia de Venado, apresentaram-se nosseguintes tipos: fletido (de costas, de frente, doslados direito ou esquerdo), estendido (de costas,de frente, dos lados direito e esquerdo), sittingburials (sentado), infant burials, bundleburials, urn burials, mouth open-alive e asmutilations, eventos exclusivos. Estes últimospodem apresentar lesões somente no crânio,ausência deste, mandíbula ausente, membrosuperior ausente, pé ausente, outros ossosausentes, dente extraído, falanges de dedosamputadas, dedos sobre o crânio, esqueletoscom marcas de espostejamento, decapitação,com lesão contusa das vértebras dorsais,lombares ou das cervicais.

Por outro lado, os fenômenos cadavéricostransformativos, conservativos e destrutivos(Gonzales et al. 1954), podem ou não deixar suasimpressões in situ. Assim, a ação dos animaisnecrófagos e grupos entomológicos podem intervirno desaparecimento das partes moles do cadáver,esqueletizando-o, assim como sobre os materiaisperecíveis associados ao corpo. O processo deesqueletonização, resultante da ação de uma faunaentomológica relacionada ao processo de miasiscadavérica foi estudado por Bertomeu (1975) eSpitz e Fisher (1977), entre outros. A esqueletizaçãoresulta no desaparecimento das cápsulas sinoviais edos ligamentos articulares entre os ossos, permitindo

a mobilização dos mesmos pela ação de quaisquerprocessos formativos do sítio arqueológico.

As modificações post mortem do corpo foramdefinidas por White (2000) como decorrentes daação de animais necrófagos, das práticas funerárias,do canibalismo, decomposição química, dacremação e da fragmentação intencional dos ossos.Assim, não perfazem apenas a ação dos agentesnaturais, mas também resultam da intervençãoantrópica, ocorrendo antes, durante ou após adeposição. Os aspectos tafonômicos, classificadosem biológicos, físicos e antrópicos, foram estuda-dos sob uma perspectiva arqueológica por White(2000), Haglund e Sorg (1997), Henderson (1987)e Bonnichsen e Sorg (1989).

Em Duday (1978) e Duday e Manet (1987) éressaltada a importância da comunicação constanteentre o arqueólogo e o osteólogo durante assucessivas fases de escavação dos remanescentesesqueletais. A disposição do esqueleto informasobre como o corpo teria sido depositado. Ascircunstâncias culturais e tafonômicas envolvidasapós a morte e o enterramento influenciam noestado de conservação apresentado pelo esqueletoe no direcionamento das estratégias de escavação,descrição, registro, consolidação, transporte erestauro do material, bem como no estudo dascoleções esqueletais constituídas.

As formas de enterramento podem serclassificadas e sistematizadas considerando-se asterminologias vistas até então, de acordo com asvariáveis de campo e de laboratório que se seguem:a) tipo de deposição funerária (enterramento) ede tratamento dado ao corpo, por descarnamentoe desarticulação, pigmentação e/ou queima, entreoutros; b) identificação das características dascondições da deposição funerária, com alocalização espacial em relação a outras estruturasarqueológicas e enterramentos; orientação, forma edimensões da cova; c) tipo, número, localização edados morfoscópicos e morfométricos dosmateriais associados ao corpo no enterramento ed) estado de preservação dos esqueletos, númeromínimo de indivíduos, sexo, idade biológica epatologias (Cheuiche Machado 1995).

Conclusões e sugestões

A partir dessa breve revisão das terminologiase classificações que pareceram mais significativas

Page 21: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

133

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

para podermos planejar uma discussão sobre comodescrever e compreender os vestígios funerários nocontexto arqueológico, no âmbito de uma Arqueo-logia da Morte, foram escolhidas e adaptadas asvariáveis funerárias observáveis tanto em campoquanto em documentações visuais já produzidasdurante antigas escavações. O objetivo final desselevantamento é instrumentalizar uma recogniçãovisuográfica sistematizada de deposições funerári-as nos variados contextos arqueológicos e fazer umbom uso dos seus registros fotográficos, com vistasà catalogação das coleções esqueletais e dosmateriais associados; contribuição com os métodose técnicas de escavação de deposições funerárias,em especial aquelas encontradas em todo o litoralbrasileiro e em sítios de interior, representandoparcelas do comportamento funerário e dascaracterísticas bioarqueológicas de populaçõespescadoras-coletoras-caçadoras e horticultoras.

A proposição que sugerimos para esquematizara leitura dos sepultamentos humanos em contextoarqueológico, baseada em sugestões terminológicascomo as de Sprague (1967), Ubelaker (1996),Brothwell (1981), Heizer e Grahn (1967) e Heizer(1950), entre outros descritos anteriormente,considera as seguintes características básicas:

a) as características da deposição: oaspecto da primeiridade ou secundidade deuma deposição funerária é indicado, a priori,pela presença ou ausência de conexãoanatômica entre as unidades esqueléticas.Nesse caso a interferência de fatores pósdeposição, biológicos ou naturais podedificultar a identificação da intencionalidade ounão intencionalidade antrópica desse aspecto,observável em contexto arqueológico. Oprocesso de redução do corpo pela queimapode resultar em outro aspecto da deposiçãofunerária: a cremação (Ubelaker 1996).Temos por essas características o tipo desepultamento (primário, secundário, terciário,cremação, restos esparsos). A deposiçãopode ser compreendida como contenedoradas características b), c) e d), descritas aseguir;

b) as características do corpo:

b.1) o critério da articulação: conside-rando a ausência de conexão anatômicageneralizada entre as unidades esqueléticas, aidentificação e direcionamento das mesmas (o

sentido proximal-distal nos fragmentos dediáfises) deve ser registrado;14

b.2) o critério da posição: considerandoa presença de conexão anatômica generaliza-da entre as unidades esqueléticas, umaclassificação das disposições dos membros eposição do corpo tem sido comumenteempregada. O primeiro tipo de posição docorpo refere-se à forma como este foidepositado na cova: horizontalmente, emdecúbito (lateral direito, esquerdo, ventral oudorsal), verticalmente, sentado (com eixocrânio–bacia perpendicular ou inclinado paracima ou para baixo em relação ao plano dabase da cova), entre outras variações; aflexão do corpo (estendido, semi-fletido,fletido, fortemente fletido) é dada pelo graude flexão entre os eixos longitudinais dosfêmures e o eixo crânio-bacia; a posição dacabeça refere-se sempre ao lado para o quala face está voltada (para a frente, para o ladodireito, lado esquerdo, para trás, para baixo– com mento sobre o esterno –, para cima);posição das mãos e dos pés (cruzados,cruzados sobre o tórax, sobre a pelve, sobrea face, entre outras); a disposição dos mem-bros (estendidos, semi-fletidos, fletidos,fortemente fletidos), com membros superiores15

estendidos ao longo do corpo, voltados parafrente, para trás, para a direita ou esquerda,para cima; as torções na região das cinturasescapular e pélvica (voltadas para o ladodireito, esquerdo, para baixo ou para cima,sempre em discordância com as posiçõesesperadas para o decúbito e as demais.Embora subjetivas, podem ser quantificadaspela mensuração dos ângulos formados entreos eixos longitudinais dos ossos longos entresi e entre a coluna vertebral, sugeridos porSaxe (1971) e Ubelaker (1996).

(14) Nesse caso, em esqueletos fragmentados, odirecionamento proximal-distal (P-D) das diáfises podeajudar na identificação de possíveis áreas em conexãoanatômica ou mesmo auxiliar na identificação derearticulações ósseas intencionais ou de áreas semi-articuladas do esqueleto.(15) Nos membros inferiores, os graus dos ângulosformados entre os eixos longitudinais dos fêmures e o eixocrânio-bacia têm sido empregados para mensurar a flexãodo esqueleto (do corpo ou do “enterramento”).

Page 22: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

134

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

b.3) o critério da orientação: refere-se àdireção – em relação aos pontos cardeais,acidentes geográficos entre outros escolhidos,escolhidos pelo pesquisador como significati-vas – para a qual está voltada a face, o crânio(região do bregma, vertex ou a partir docentro do neurocrânio), o eixo crânio-bacia(ou eixo formado pelos pontos do centro doforame occipital maior – centro do canalvertebral da primeira vértebra sacral, ou eixoda coluna vertebral) e o ventre (região anteriordo abdômen). Esse critério da orientaçãomerece discussões, considerando a totalausência de informações sobre as preferênciasquanto à orientação dos corpos entre aspopulações extintas da costa brasileira,excetuando-se as informações etnográficas.Trata-se de item inespecífico;

b.4) o critério do número mínimo deindivíduos presentes na mesma cova:16 sãoempregados os termos simples (para um únicoindivíduo), duplo (para dois indivíduos), triplo(para três indivíduos), múltiplo (para mais detrês indivíduos). São ainda encontrados termoscomo em massa e coletivo, designandodeposições funerárias com número elevado deindivíduos depositados em uma mesma cova;

b.5) outros critérios referem-se à identifi-cação e cuidados durante a evidenciação eretirada de fragmentos ou ossos completos,com as seguintes características: patológias,pseudopatologias, caracteres epigenéticos,caracteres para dimorfismo sexual ou cálculode idade da morte, traços de lesões causadasantemortem, perimortem ou postmortem(descarnamento), com sinais de queima oucarbonização total. Os dentes articulados ounão aos ossos alveolares requerem cuidadosespeciais, pois podem apresentar caracterescomo acúmulos de tártaro salivar, abcessosque resultaram em pouca sustentação óssea dodente e superfícies de atrição dentária quepodem sofrer perdas e deslocamentosirreversíveis durante a escavação, assim comoamostras para análises bioquímicas e biofísicas.

O processo de sedimentação e seus padrõesde orientação espacial sobre os vestígios esuas relações com os danos causados aosossos deve ser considerado (Gifford 1981);

c) as características do material associa-do no enterramento: referem-se a uma primeiraidentificação em campo sobre a situação dosmesmos em relação às unidades esqueléticas(podem estar sob, sobre, junto à extremidadeproximal, em volta, do lado direito, esquerdo,dentro). Neste caso, a localização de artefatose ecofatos, bem como de estruturas constitutivasda cova são importantes para o estabelecimen-to das relações associativas intencionais enão-intencionais. Em campo temos o inícioda quantificação e qualificação desses materiais,aprimoradas com os implementos tecnológicose as análise e classificação (a exemplo deTixier 1980) em laboratório; os blocos líticos,carvão (remanescentes de fogueiras oubraseiros) e ocre constituem materiais associa-dos no enterramento que podem fazer parte dapreparação do corpo ou da cova, normalmen-te associados à ritualização funerária, aocomportamento funerário. Referem-se aosacompanhamentos funerários, às estruturasfunerárias associadas e às inclusões naturais;

d) as características da cova: comumentedifíceis de observação em contexto arqueológico,as dimensões e forma (comprimento, largura,profundidade mínimos e máximos; formascircular, oval, quadrangular, retangular, superfici-almente em forma de morrote, com estruturasvisíveis ou não à época do enterramento),orientação (do eixo longitudinal, no sentidopelve-crânio) e conteúdo17 (tipos de sedimentosde preenchimento, estruturas de revestimento ecobertura, intrusões), constituem característicassignificativas no processo de registro. O recipien-te e o envoltório do corpo como as urnas e asesteiras funerárias constituem elementos semprecomplementares e que auxiliam na delimitação dapossível área da cova: são considerados emconjunto com a cova.

(17) Os blocos líticos podem constituir elementos deproteção do corpo, portanto partes da estrutura da cova;podem ser usados na própria confecção das paredes da covae terem servido para acentuar a visibilidade da inumação.

(16) Este número, embora possa ser dado em campo, étambém normalmente estabelecido após exames emlaboratório, em especial nos casos de esqueletosextremamente fragmentados e em deposições secundárias.

Page 23: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

135

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

As terminologias e classificações descritaspelos autores, à exceção de Sprague (1969),pareceram-nos recorrentes a trabalhos anteriores,sem a introdução de termos novos (Ubelaker1996). As raras tentativas de normalizar e clarearessas terminologias procuram reduzir e suprimir assinonímias e ambigüidades, evitando termosreferentes a morfologia técnica imprecisa, termino-logias não excludentes e procurando manter termos

exclusivos para um mesmo fenômeno. A subjetivi-dade da tipologia, privilegiando certos atributosfunerários em detrimento de outros resulta nacriação de novos tipos (Haglund 1976; Ubelaker1989 e Heizer 1950), que acabam compondo umléxico terminológico em constante remodelação,enriquecendo as opções de descrição, análise einterpretação dos enterramentos humanos por partedo arqueólogo.

SILVA, S.F.S.M. Terminologies and classifications used to describe human burials: examples andsuggestions. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

ABSTRACT: The attempt at a standard of classifications and terms to describeand observe archaeological contexts of human skeletal remains has been a recurringconcern of the archaeologists and bioanthropologists. The problem is to establishwhich descriptive elements are important or essential for the analysis, reconstructionand interpretation of human burials inserted in substrata and several cultural systems.Among the examples of suggestions found in the consulted bibliography, it was verifiedthat there always exists an incidence of certain variables of the mortuary data and that,in certain analyses, it is very expressive the correlation and the synergy among data ofthe remains of the body, of the funerary accompaniment and of the grave. To describeand classify human burials implies in the observation of the totality of funerary remainsin the context of the deposition, while incorporating bioarchaeological data.

UNITERMS: Methodologies – Archaeology of Death – Human burials –Archaeological context.

ALEXANDER, J.1969 The Directing of ArchaeologicalExcavations. London, John Baker: 181-223.

ALMAGRO, M.s.d. Introduccion al Estudio de la Prehistoria y de

la Arqueología de Campo. 3 ed. EdicionesGuadarrama, Madrid: 95-278.

ANDERSON, T.E .1962 The Human Skeleton. A Manual for

Archaeologists. National Museum of Canada,Ottawa: 159.

ANGEL, J.L.1943 Treatment of Archaeological Skulls.

Anthropological Briefs, New York, 3: 3-8.BABY, R.S.

1954 Hopewell cremation practices. Ohio Histo.Soc. Papers Archaeology, 1: 1-7.

BANNER, H.1961 O índio Kayapó em seu acampamento.

Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi,Belém, 3.

BARBER, E.A.1877 Aboriginal Funeral Customs in the United

States. American Naturalist, Cambridge, 11:197-204.

BARKER, P.1977 Techniques of Archaeological Excavation.

Universe Books, New York: 96-100.BASS, W.M.

1987 Human Osteology (A Laboratory and FieldManual). Missouri Archaeological Society,Columbia.

BERTOMEU, M.P. DE P.1975 La miasis cadavérica en la esqueletización,

Referências bibliográficas

Page 24: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

136

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

Real Sociedade Española de História Natural,Centenario 1871-1971, Conselho Superior deInvestigaciones Científicas, Madrid: 463-482.

BINFORD, L.R.1971 Mortuary practices: their study and their

potential. J. A. Brown (Ed.) Approaches tothe social dimensions of mortuary practices.Memoirs of the Society for American Archaeology.25, American Antiquity, 36 (3): 6-29.

1963 An Analysis of Cremations from threeMichigan Sites. Wisconsisn Archaeologist,44: 98-110.

BLACKWOOD, R.; SIMPSON, K.N.G.1973 Attitudes of Aboriginal Skeletons excavated

in the Murray Valley, Region bethweenMildura and Renmark, Australia. Memoirs ofthe National Museum of Victoria, The WilliamBuckland Foundation Volume. Melbourne,Australia, 34: 99-150.

BONNICHSEN, R.; SORG, M.H. (Eds.)1989 Bone Modification. Orono, Maine. Center for

the Study of the First Americans.BRAY, W.; TRUMP, D.

1970 A Dictionary of Archaeology, London: 144-117.BRETERNITZ, D.A.; SWEDLUND, A.C.; ANDERSON, D.C.

1971 An Early Burial from Gordon Creek, Colorado.American Antiquity. Journal of the Society forAmerican Archaeology. (reports), 36 (2): 170-182.

BROTHWELL, D.R.1981 Digging up bones. 3. ed. London: British

Museum, Oxford University Press.BROWN, J. A.

1971 The dimensions of status in the burials atSpiro. J. A. Brown (Ed.) Approaches to theSocial Dimensions of Mortuary Practices.Memoirs of the Society for AmericanArchaeology. 25, American Antiquity,London, 36 (3): 92-112.

BUIKSTRA, J.E.; UBELAKER, D.H. (Ed.)1994 Standards for Data Collection from

Human Skeletal Remains. Arkansas Archaeol.Surv. Res. Ser. Fayetteville. 44.

CHAMBERLAIN, A.1994 Human Remais. Interpreting the Past,

Trustees of the British Museum by BritishMuseum Press.

COMAS, J. 1957 Recolección, restauración y conservación de

materiales óseos. Manual de Antropologíafísica. Sección de Obras de Antropología.Fondo de Cultura Económica, 1ª ed., México:411-421.

DEDET, B.; DUDAY, H.; TILLIER, A-M.1991 Inhumations the foetus, nouveau-nés et

nourinons dans les protohistoriques duLanguedoc: l’exemple de Gailhan (Gard).Gallia. Fouilles et Monuments Archéologiquesen France Métropolitaine. Centre National dela Recherche Scientifique, France, 48: 59-108.

DOKLÁDAL, M.A.1971 Further Contribution to the Morphology of

Burned Human Bones. V. Novotny (Ed.) Proc.Anthrop. Congr., Prague, and Humpolec(1969), Prague: 561-568.

FARIA, D.L.A.; AFONSO, M.C.; EDWARDS, H.G.M.2002 Espectroscopia Raman: uma nova luz no

estudo de bens culturais. Revista do Museude Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 12:249-267.

FEMENÍAS, J; LÓPEZ, J.M.; BRACCO, R.; CABRERA, L.;CURBELO, C.; FUSCO, N.; MARTÍNEZ, E.

1990 Tipos de enterramiento en estructurasmonticulares (“cerritos”) en la región de laCuenca de la Laguna Merín (R. O . U.).Revista do CEPA, (Anais da V ReuniãoCientífica da SAB) Faculdade de Filosofia,Ciências e Letras (APESC), Santa Cruz do Sul,RS, 17 (20): 345-356.

GEJVALL, N.G.1963 Cremations. D. Brothwell; E. H. Higgs (Eds.)

Science in Archaeology. New York: 379-390.GIFFORD, D.P.

1981 Taphonomy and Paleoecology: A criticalreview of archaeology’s sister disciplines.M.B. Schiffer (Ed.) Advances in ArchaeologicalMethod and Theory, New York, AcademicPress, 4: 365-438.

GONZALES, T. A.; VANCE, M.; HELPERN, M.; UMBERGER, C.1954 Legal Medicine (Pathology and Toxicology),

2ed. New York: 36-81.GRIFFIN, J.B.; NEUMANN, G.K.

1942 A Suggested Classification and Nomenclaturefor Burial Location, Position and Description.Society for American Archaeology Notebook.Ann Arbor, 2: 70-79.

HAGLUND, L. 1976 An Archaeological Analysis of the Broadbeach

Aboriginal Burial Ground. University ofQueensland Press.

HAGLUND, W.D.; SORG, M.H. (Eds.)1997 Forensic Taphonomy: The Postmortem Fate

of Human Remains, Boca Raton, Florida: CRCPress.

HEIZER, R.F. (Ed.)1950 A Manual of Archaeological Field Methods.

The National Press, California: 39-43.HEIZER, R.F.; GRAHAM, J.A.

1967 Excavation and recording of skeletal remains.A Guide to Field Methods in Archaeology(Approaches to the Anthropology of theDead). Palo Alto, California, The NationalPress: 109-121.

HEIZER., R.F.1958 A Guide to Archaeological Field Methods.

Palo Alto, California: The National Press.HENDERSON, J.

1987 Factors determining the state of preservationof human remains. A. Boddington; A.N.Garland; R.C. Janaway (Eds.) Death, Desay

Page 25: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

137

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

and Reconstruction. Manchester, ManchesterUniversity Press: 43-54.

HODSON, F.R.1977 Quantifying Hallstatt: some initial results.

American Antiquity. 2 (3): 395-412.JOUKOWSKY, M.

1986 Burials. A Complete Manual of FieldArchaeology (tools and techniques of fieldwork for archaeologists). New York, PrenticeHall Press: 183-197.

KNEIP, L.M.; MACHADO, L.M.C.1992 A Cremação e outras práticas funerárias em

sítios de pescadores-coletores pré-históricosdo litoral de Saquarema, RJ. VI ReuniãoCientífica da Sociedade de ArqueologiaBrasileira, Rio de Janeiro. Anais, Rio deJaneiro, 2: 457-465.

KROEBER, A.1927 Disposal of the dead. American Anthropologist,

29: 308-315.LOTHROP, S.K.

1954 Suicide, sacrifice and mutilations in burials atVenado Beach, Panama. American Antiquity,Washington, 19 (3): 226-234.

LYTHGOE, A.M.1965 The Predynastic Cemetery N 7000, Naga-Ed-

Dêr, part IV. , Los Angeles: University ofCalifornia Press.

MACHADO, L.C.1984 Análise dos remanescentes ósseos humanos

do sítio arqueológico Corondó, RJ. Aspectosbiológicos e culturais. Série Monografias,Instituto de Arqueologia Brasileira, Rio deJaneiro: 1.

1990 Sobre as práticas funerárias de cremação esuas variações em grutas do norte e noroestede Minas Gerais. Revista do CEPA. Santa Cruzdo Sul, 17 (20): 235-247.

1995 Tendências à Continuidade e Mudança emRitos Funerários – Populações Pré-Históricasdo Estado do Rio de Janeiro. M. Beltrão (Org.)Arqueologia do Estado do Rio de JaneiroArquivo Público do Estado do Rio de Janeiro,Secretaria do Estado de Justiça: 111-120.

MARTÍN, G.1994 Os Rituais Funerários na Pré-História do

Nordeste. CLIO, Série Arqueológica, 10: 29-46.1996 A vida espiritual: o culto aos mortos. Pré-

História do Nordeste do Brasil. Ed.Universitária da UFPE: 281-294.

MENGHIN, O.1931 Weltgeschichte Der Stenzeit. Wein: Anton

Scholl & Co.MONTARDO, D.L.

1994 Algumas reflexões sobre o uso das informa-ções etnográficas como ferramenta para oestudo dos vestígios funerários na Arqueolo-gia Brasileira. M. Consens; J.M.L. Mazz; M. delC. Curbelo (Eds.) Arqueologia en el Uruguay:120 años después (VIII Congreso Nacional de

Arqueologia Uruguaya), Museo RegionalFrancisco R Mazzoni, Maldonado: 437-438.

1995 Práticas Funerárias das Populações Pré-coloniais e suas evidências arqueológicas(reflexões iniciais), Dissertação de Mestrado,PUC, RS.

MYGODA, J.1979 Metodologia Pericial para exames em locais de

morte violenta (homicídio, suicídio, acidente,tentativa) – Elementos do Cadáver. Revista daPolícia Civil, Anais, Escola de Polícia Civil,Estado do Paraná, 7: 188-189.

OBERMEIER, H.1912 Der Mensch aller Zeiten. I. Der Mensch der

Vorzeit, Allgemeine Verlags Gesllschaft,Berlim: 190.

ORR, R.B. (Ed.)1919 Mortuary Customs of Our Indian Tribes.

Annual Archaeological Report. Report of theMinister of Education, Toronto.

ROBINSON, W.J.; SPRAGUE, R.1965 Disposal of the Dead at Point of Pines,

Arizona. American Antiquity, 30 (4): 442-453.ROHR, S.J.A.

1960 Pesquisas paleo-etnográficas na Ilha de SantaCatarina, n.II – 1959. Pesquisas (Antropolo-gia), Rio Grande do Sul: Instituto Anchietanode Pesquisas: 8-19.

ROKSANDIC, M.2002 Position of Skeletal Remains as a Key to

Understanding Mortuary Behavior. W.D.Haglund; M.H. Sorg (Eds.) Advances inForensic Taphonomy. Method, Theory, andArchaeological Perspectives. CRC Press,LLC: 99-117.

ROMERO, J.1939 Técnica antropológica de exploración, XXVII

Congresso Internacional de Americanistas,Sesión de México, México, 1: 156-177.

ROSE, H.J.1922 Celestial and Terrestrial Orientation of the

Dead. Journal of Royal AnthropologicalInstitute, London, 52 (1).

SAXE, A.1971 Social dimensions of mortuary practices in a

Mesolithic population from Wadi Halfa, Sudan.J. Brown. Approaches to the social dimensionsof mortuary practices. Memoirs of the Societyfor American Archaeology. 25: 39-57.

SHARER, R.J.; ASHMORE, W.s.d. The Nature of Archaeological Data.

Fundamentals of Archaeology. London,Benjamin Cummings Publishing Company:66-106.

SHIPMAN, P.; WALKER, A.; BICHELL, D.1985 The Human Skeleton. London, Harvard

University Press: 343.SPITZ, W.V.; FISHER, R.S.

1977 Medicolegal Investigation of Death, 2 ed.Springfield, Thomas.

Page 26: TERMINOLOGIAS E CLASSIFICAÇÕES USADAS PARA … · tríade componencial: corpo/cova/acompanhamentos funerários. Os remanescentes biológicos e culturais associados com os sepultamentos

138

SILVA, S.F.S.M. Terminologias e classificações usadas para descrever sepultamentos humanos: exemplos e sugestões. Rev.do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 15-16: 113-138, 2005-2006.

SPRAGUE, R.1959 A Comparative Cultural Analysis of an

Indian Burial Site in Southeast Washington.Master’s thesis, Washington State College(University), Pullman.

1965 The Descriptive Archaeology of the PalusBurial Site, Lyons Ferry, Washington. Reportto US my Corps of Engineers. WallaLaboratory of Anthropology, WashingtonState University, Pullman.

1968 A suggested terminology and classificationfor burial description. American Antiquity, 33(4): 479-485.

STEELE, D.G.; BRAMBLETT, C.A.1989 The Anatomy and Biology of the Human

Skeleton. Texas A & M University Press. STEWART, T.D.

1979 Essentials of Forensic Anthropology.Springfield, Illinois, USA: Charles C. ThomasPublisher.

SWEDLUND, A.C.; WADE, W.D.1972 Laboratory Methods in Physical Anthropology.

Arizona: Prescott College Press.TAINTER, J.A.

1978 Mortuary Practices and the Study ofPrehistoric Social Systems. M.B. Schiffer(Ed.) Advances in Archaeological Methodand Theory. New York, Academic Press, 1:105-141.

1975 Social inferences and mortuary practices: anexperiment in numerical classification. WorldArchaeology, 7: 1-15.

TIBURTIUS, G.; LEPREVOST, A.1952 Sôbre a ocurrência de pedras corantes e

esqueletos pintados, nos sambaquis dosEstados do Paraná e Santa Catarina. Arquivosde Biologia e Tecnologia, 7 (17): 149-155.

TIXIER, J.; INIZAN, M.; ROCHE, H.1980 Préhistoire de la Pierre Taillée (1-

Terminologie et technologie) Cercle deRecherches et d’ Etudes Pré-historiques,Valbonne.

UBELAKER, D.H.1974 Reconstruction of Demographic Profiles from

Ossuary Skeletal Samples: A Case Study fromthe Tidewater Potomac. SmithsonianContributions to Anthropology. WashingtonD C, 18.

1981 The Ayalan Cemetery: A Late IntegrationPeriod Burial Site on the South Coast of

Ecuador. Smithsonian Contributions toAnthropology. Washington DC, 29.

1989 Human Skeletal Remains: Excavation,Analysis, Interpretation. Chicago , Aldine, 2nd

Edition.1996 Human Skeletal Remains (excavation,

analysis, interpretation). Manuals onArcheology 2. Smithsonian Institution,Washington.

UCHÔA, D.P.1973 Arqueologia de Piaçaguera e Tenório:

análise de dois sítios pré-cerâmicos dolitoral paulista. Tese de Doutoramento. RioClaro, 230p.

1969/1970 Nota prévia sobre os sepultamentos dePiaçaguera. Estudos de Pré-História Geral eBrasileira. São Paulo, IPH/USP: 487-491.

UCKO, P.J.1969 Ethnography and archaeological interpretation

of funerary remains. World Archaeology, 1:262-281.

VAN VARK, G.N.1970 Some Statistical Procedures for the

Investigation of Prehistoric Human SkeletalMaterial. Thesis, Rijksuniversiteit deGroningen.

WHITE, T.D.; FOLKENS, P.A.2000 Human Osteology. 2 ed. San Diego, California:

Academic Press.WHITE, T. D.

1992 Prehistoric Cannibalism. Princeton: PrincetonUniversity Press.

WILDER, H.H.; WHIPPLE, R.W.1917 The Position of the Body in Aboriginal

Interments in Western Massachusetts.American Anthropologist, Lancaster, 19 (3):376-380.

WILDER, H.H.1905 Excavation of Indian Graves in Western

Massachusetts. American Anthropologist, 7 (2).WRESCHNER, E.E.

1980 Ochre and Human Evolution: A Case forDiscussion. Current Anthropology (shortercontributions), 21 (5): 631-635.

YARROW, H.C.1881 A Furter Contribution to the Study of the

Mortuary Customs of North AmericanIndians. First Annual Report of the Bureauof (American) Ethnology for 1880-81.Washington: 87-203.

Recebido para publicação em 23 de setembro de 2006.