Tese 03.12.10 Zenith Delabrida

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Universidade de Brasília Instituto de Psicologia O Cuidado Consigo e o Cuidado com o Ambiente Físico: Estudos Sobre o Uso do Banheiro Público Zenith Nara Costa Delabrida Tese de doutorado sob orientação de Hartmut Günther apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações. Brasília 2010

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Universidade de Brasília

Instituto de Psicologia

O Cuidado Consigo e o Cuidado com o

Ambiente Físico:

Estudos Sobre o Uso do Banheiro Público

Zenith Nara Costa Delabrida

Tese de doutorado sob orientação de

Hartmut Günther apresentada ao

Instituto de Psicologia da Universidade

de Brasília, como requisito parcial à

obtenção do título de Doutor em

Psicologia Social, do Trabalho e das

Organizações.

Brasília

2010

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Delabrida, Zenith Nara Costa.

O Cuidado Consigo e o Cuidado com o Ambiente Físico: Estudos Sobre o Uso do Banheiro Público.

Tese de doutorado. 137 f.

Universidade de Brasília. Brasil.

Orientador:

Hartmut Günther, Programa de Pós-graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, 2010.

Apoio:

Universidade Federal de Sergipe com o Programa Thesis (Programa de Auxílio para Capacitação de Docentes e Técnicos) em formato de financiamento.

Contato:

Universidade Federal de Sergipe Departamento de Psicologia - CECH Cidade Universitária “José Aloísio Campos”. Avenida Marechal Rondon, s/n - Jardim Rosa Elze São Cristóvão - SE - CEP: 49100-000

e-mail: [email protected]

Direção do Instituto de Psicologia:

Gardênia da Silva Abbad

Coordenação do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações:

Cláudio Vaz Torres

BANCA EXAMINADORA

03 DE DEZEMBRO DE 2010

HARTMUT GÜNTHER PRESIDENTE

CARLA COSTA TEIXEIRA MEMBRO EXTERNO

CLAUDIA MARCIA LYRA PATO MEMBRO EXTERNO

JOSÉ QUEIROZ PINHEIRO MEMBRO EXTERNO

JORGE MENDES DE OLIVEIRA-CASTRO

NETO MEMBRO EXTERNO

LUIZ PASQUALI SUPLENTE

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O CUIDADO CONSIGO E O CUIDADO COM O AMBIENTE FÍSICO:

ESTUDOS SOBRE O USO DO BANHEIRO PÚBLICO

RESUMO

O objetivo da tese foi investigar o banheiro público como um behavior setting. O aporte teórico é baseado nos conceitos e teorias da psicologia ambiental. Foram realizados quatro estudos seguindo a abordagem multimétodo. O primeiro estudo investigou por meio de observação os principais comportamentos de uso do banheiro público, dar descarga e lavar as mãos. O resultados indicam que o comportamento de dar descarga pode ser predito pelo gênero e pela ocorrência de interação social no banheiro público, enquanto que o comportamento de lavar as mãos pode ser predito pelo comportamento de dar descarga e a presença de suprimentos (papel higiênico, papel toalha e sabão). O segundo estudo, um experimento, utilizou prompts como intervenção para os dois comportamentos de uso. Com a introdução dos prompts a presença de outras pessoas no banheiro público passou a ser preditora dos comportamentos de dar descarga e lavar as mãos. No terceiro estudo foi feita uma survey avaliando uma universidade e seus banheiros públicos. Os resultados indicam que quanto maior a ligação à universidade melhor é a avaliação dos banheiros públicos. Finalmente, por meio de uma escala, foram investigados diferentes perfis de uso. Encontrou-se quatro formas de uso do banheiro público que se diferenciam em função do gênero, da idade e da escolaridade. Concluiu-se que o uso do banheiro público envolve uma dinâmica entre o cuidado consigo e o cuidado com o ambiente físico. Dessa forma, o banheiro público pode ser utilizado como um protótipo para a investigação das questões sócioambientais.

Palavras-chave: behavior setting, comportamento ecológico, prompt, relação público-privado, privacidade

PERSONAL CARE AND CARE FOR THE PHYSICAL ENVIRONMENT:

STUDIES ON THE USE OF PUBLIC TOILETS

ABSTRACT

The aim of this dissertation was to investigate public toilets as a behavior setting. The theoretical approach is based on concepts and theories in environmental psychology. Four studies were conducted on a multimethod approach. In Study 1 the main uses of the public toilet, flushing and washing hands were investigated based on observation techniques. The results indicated that flushing was predicted by gender and by the occurrence of social interaction in public toilet, while washing hands was predicted by flushing and the availability of supplies (toilet paper, paper towel, and soap). Study 2, a field experiment, showed that the presence of other users in the public toilet became a predictor of flushing and washing hands when prompts were introduced. Study 3, a survey, showed that, the higher the attachment to the university, the better the evaluation of its public toilets. Study 4 was based on a scale and identified four different patterns of public toilet use, according to gender, age, and educational level. As a whole, results suggest that using public toilet involves a dynamic relationship between personal care and caring for the physical environment. Therefore, public toilet can be used as a prototype for research of social environmental issues.

Key words: behavior setting, ecological behavior, prompt, public-private relationship, privacy

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DEDICATÓRIA “Quem sabe isso quer dizer amor: estrada de fazer o sonho acontecer” Marcio e Lô Borges

Ao meu pai, por tanta dedicação.

À minha mãe, por tanta luta.

Às minhas queridas vovó e titia (in memoriam), por tanta falta.

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AGRADECIMENTOS

“Mode não lhe dá maçada, Além do meu forte abraço, Mode não lhe incomodá, Vai no derradêro traço Desta carta má notada O meu agradecimento”

Vou fazê ponto finá. Nada mais tenho a dizê (...) (Patativa do Assaré) Uma tese é feita com muitas mãos. São registradas aqui as mãos que fizeram parte desse processo. Mesmo porque nenhum dos queridos colaboradores vê o banheiro público hoje como via antigamente...

Portanto, agradeço:

... ao meu orientador, professor Hartmut Günther à quem devo a grande oportunidade de trabalhar com Psicologia Ambiental e com os mais diversos temas que eu pude imaginar nesses mais de 10 anos de parceria. Agradeço à querida professora Isolda Günther que tantas vezes me traduziu o sentido de se fazer ciência. ... ao meu pai por tantos anos de paciência e dedicação, à minha mãe por não me deixar desistir e aos meus irmãos por serem o que são. Ao querido Maurílio que me deu o apoio na hora e no momento exato. ... aos meus amigos Ludmila, Juliana, Daniella, Cristiane, Carlos, Cleide, Clara e Janaína (Pedrinho também!) por serem tão presentes. Cada um de vocês me completa de uma forma e foram decisivos para que eu concluísse este trabalho. Agradeço também às queridas Solange e Renata, minhas queridas companheiras de doutorado e ao querido companheiro Vicente, também vizinho de laboratório. Agradeço à amiga Patricia por ter feito a minha inscrição no concurso da UFS, fato que mudou minha trajetória acadêmica e ao amigo Sergio, dentre outras coisas, sempre registra as minhas defesas! ... a todos os meus novos amigos de Aracaju, terra esta que me acolheu. ... aos professores Jorge, Zé Pinheiro, Carla, Claudia e Pasquali membros da banca por terem aceito o convite e por terem sido influência decisiva na condução do presente trabalho. Agradeço ainda a especial ajuda bibliográfica da professora Ariane. ... aos meus colegas de departamento que em diferentes momentos me auxiliaram na conclusão do doutorado, em especial, à Marley, Benedita e Marcelo. Quero lembrar também dos secretários Andréa e Marcos. ... aos meus primeiros alunos de pesquisa que me ajudaram a me lembrar do porquê eu tinha aceito o desafio do doutorado: Marcus, Camila, Timoteo, Danilo, Carla, Catarina, Marcel, Luana, Joana, Maria Clara, Waldez, Clístenes, Beatriz, Patricia, Juliana, Isis, Sandy. Em especial à Bia que tanto me ajudou com os dados. Agradeço também aos queridos alunos de Social da Danielle: Beatriz, David, Caio e Luisa que tanto me ajudaram na coleta de dados e aos queridos Cristina, Fabíola, Kaio, Laura, Mariana e Thiago por terem sido os primeiros a topar a ideia do banheiro público. ... aos queridos colegas de LPA Ana Beatriz, André, Dalma, Danielle, Fabio Cristo, Ingrid, Natalia, Sandra e Zuleide sempre tão dispostos a ouvir falar de banheiro público. Agradeço também aos queridos mocorongos: Fabio, Akira e Lude. Independente de quão qualificados vocês se tornem, serão sempre os meus mocorongos! ... à Carmen, Elisa, Tagore e Zuleide por me ajudarem na parte formal da tese. E também aos queridos Leonardo Martins, Marília Lessa e Andréa Dutra sem o suporte de vocês não haveria tese! ... aos funcionários encarregados pela limpeza dos banheiros públicos que sempre estiveram dispostos a responder as minhas perguntas “diferentes” e me auxiliar na pesquisa. ... ao Cicadt nas figuras da professora Dra. Renata Silva Mann e do secretário Luis Aimê Ramos da Silva pelo auxílio na minha liberação para a missão de trabalho na Universidade de Brasília. ... aos coordenadores do Programa de Pós-graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasília que sempre se dispuseram a resolver os problemas burocráticos. Agradeço também aos secretários Sonia, Marcos e Juliana. ... a todos aqueles que por um lapso de memória não foram citados nesta página, mas que inegavelmente estiveram presentes nesses longos anos de doutoramento e a todos os participantes das pesquisas, anônimos, mas que tornaram possível o presente trabalho.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 1  

2 CONTEXTO URBANO E AS QUESTÕES AMBIENTAIS ..................................... 3  

2.1 O comportamento ecológico no banheiro público  ...............................................................  4  

3 CONTEXTOS HISTÓRICO E SOCIAL ................................................................. 8  

3.1 A Higiene Pessoal: limpo, saudável e bonito  ........................................................................  8  3.1.1 A higiene no Brasil ...................................................................................................................................... 9  3.1.2 A prática do sanitarismo ........................................................................................................................... 10  

3.2 História do banheiro  ...........................................................................................................  11  3.2.1 O banheiro no Brasil ................................................................................................................................ 12  

3.3 O banheiro atual  .................................................................................................................  13  3.3.1 A configuração física ................................................................................................................................. 13  

4 BASES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA AMBIENTAL ........................................... 15  

4.1 Teoria do Behavior setting  ......................................................................................................  15  4.1.1 O banheiro público como um behavior setting ........................................................................................ 16  

4.2 Relações entre os ambientes físicos  .....................................................................................  19  4.2.1 O banheiro público inserido em outro ambiente físico ............................................................................ 20  

4.3 Privacidade e territorialidade  ..............................................................................................  20  4.3.1 O banheiro público como um território terciário .................................................................................... 22  

4.4 Teorias da relação público-privado  ....................................................................................  24  4.4.1 A relação público-privado no banheiro público ....................................................................................... 26  

5 PROPOSTA DE ESTUDO ..................................................................................... 28  

5.1 Perspectiva multimétodo  ....................................................................................................  29  

5.2 Objetivos: geral e específicos  ..............................................................................................  29  

6 ESTUDO 1: ANTECEDENTES COMPORTAMENTAIS E AMBIENTAIS DOS COMPORTAMENTOS DE DAR DESCARGA E LAVAR AS MÃOS ....................... 31  

6.1 Método  ................................................................................................................................  34  6.1.1 Local .......................................................................................................................................................... 34  6.1.2 Participantes ............................................................................................................................................... 34  6.1.3 Procedimento ............................................................................................................................................. 35  

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6.2 Resultados  ...........................................................................................................................  35  6.2.1 Hipótese 1: Variáveis comportamentais e variáveis ambientais no banheiro público alteram a frequência de dar descarga. ........................................................................................................................................................ 35  6.2.2.Hipótese 2: Variáveis comportamentais e variáveis ambientais no banheiro público alteram a frequência de lavar as mãos. ...................................................................................................................................................... 38  

6.3 Discussão  .............................................................................................................................  40  6.3.1 Hipóteses do estudo ..................................................................................................................................... 40  6.3.2 Funcionamento dos banheiros investigados .................................................................................................. 43  6.3.3 Limitações ................................................................................................................................................... 43  6.3.4 Conclusões .................................................................................................................................................. 44  

7 ESTUDO 2: USO DE SINALIZAÇÃO PARA OS COMPORTAMENTOS DE LAVAR AS MÃOS E DE DAR DESCARGA: UM ESTUDO EXPERIMENTAL ....... 46  

7.1 Método  ................................................................................................................................  49  7.1.1 Local ........................................................................................................................................................... 49  7.1.2 Participantes ................................................................................................................................................ 49  7.1.3 Instrumento ................................................................................................................................................ 49  7.1.4 Material ...................................................................................................................................................... 49  7.1.5 Procedimento .............................................................................................................................................. 49  

7.2 Resultados  ...........................................................................................................................  49  7.2.1 Hipótese 1: A utilização de prompts altera o comportamento de dar descarga .............................................. 51  7.2.2 Hipótese 2: A utilização de prompts altera o comportamento de lavar as mãos ............................................. 55  

7.3 Discussão  .............................................................................................................................  58  7.3.1 Funcionamento dos banheiros investigados .................................................................................................. 58  7.3.2 Discussão das hipóteses ................................................................................................................................ 60  

8 ESTUDO 3: A LIGAÇÃO AO LUGAR E A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO NA INVESTIGAÇÃO DE DOIS NÍVEIS DE BEHAVIOR SETTINGS: A UNIVERSIDADE E SEUS BANHEIROS .................................................................. 62  

8.1 Método  ................................................................................................................................  65  8.1.1 Participantes ................................................................................................................................................ 65  8.1.2 Instrumento ................................................................................................................................................ 66  8.1.3 Local ........................................................................................................................................................... 66  8.1.4 Procedimento .............................................................................................................................................. 66  

8.2 Resultados  ...........................................................................................................................  66  8.2.1 Qual a relação entre a avaliação da universidade e a avaliação dos seus banheiros públicos? ........................ 66  8.2.2 Qual a relação entre avaliação e uso dos banheiros públicos específicos da universidade? ............................. 67  8.2.3 Quais os antecedentes do uso dos banheiros públicos específicos da universidade? ........................................ 69  8.2.4 Quais os antecedentes da avaliação dos banheiros públicos específicos da universidade? ............................... 69  

8.3 Discussão  .............................................................................................................................  70  

9 ESTUDO 4: PERFIS PARA OS DIFERENTES PADRÕES DE UTILIZAÇÃO DO BANHEIRO PÚBLICO ............................................................................................. 74  

9.1 Método  ................................................................................................................................  76  9.1.1 Participantes ................................................................................................................................................ 76  

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9.1.2 Instrumento ................................................................................................................................................ 76  9.1.3 Procedimento teórico .................................................................................................................................. 76  9.1.4 Procedimento de coleta de dados ................................................................................................................ 78  

9.2 Resultados  ............................................................................................................................  78  9.2.1 Objetivo 1: Construção da Escala de Comportamentos Ecológicos no Banheiro Público (ECEBP). ............. 78  9.2.2 Objetivo 2: Verificar diferentes perfis para a escala ECEBP. ........................................................................ 81  

9.3 Discussão  .............................................................................................................................  84  

10 DISCUSSÃO GERAL ........................................................................................... 86  

10.1 Agenda de pesquisa  ..........................................................................................................  94  

10.2 Considerações finais  ..........................................................................................................  95  

11 REFERÊNCIAS .................................................................................................... 97  

Apêndice A – Planilha de Observação  ...................................................................................  103  

Apêndice B – Questionário  .....................................................................................................  104  

Apêndice C – Escalas e Termo de Consentimento  ................................................................  107  

Apêndice D – Categorização das respostas dadas à pergunta: “Qual a primeira palavra que lhe vem à cabeça quando você pensa nos banheiros dos pavilhões?”  ....................................  120  

Apêndice E - Tabela dos Construtos Teóricos e Itens Propostos Para a Construção da Escala ECEBP e a Sinalização Para qual dos Quatro Fatores Esse Item foi Agregado.  ...................  122  

Apêndice F – Fotos dos Banheiros Públicos Masculinos  ........................................................  124  

Apêndice G – Fotos dos Banheiros Públicos Femininos  .........................................................  125  

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LISTA DE TABELAS

Tabela 4.3.1.1 Variáveis envolvidas na caracterização de um banheiro como público ou privado........................................................................................................................................... 23

Tabela 6.1.2.1 Número de usuários observados em cada banheiro feminino e masculino....................................................................................................................................... 35

Tabela 6.2.1.1 Regressão logística do comportamento de dar descarga como função das variáveis gênero, localização do banheiro, quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine ou mictório, interação social e presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico)........................................................................................................................................ 36

Tabela 6.2.1.2 Correlação entre as variáveis critério (dar descarga e lavar as mãos) e as variáveis antecedentes (pessoas antes e depois de entrar na cabine ou usar o mictório, interação social, gênero, localização do banheiro, presença de papel higiênico, papel toalha e sabão)............................................. 37

Tabela 6.2.2.1 Regressão logística do comportamento de lavar as mãos como função do comportamento de dar descarga, quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine ou mictório, interação social, gênero, localização do banheiro, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico)........................................................................................................................................ 39

Tabela 6.2.2.2 Frequências. observadas (fobs) e esperadas (fesp) da presença de suprimentos em função da localização do banheiro público......................................................................................................... 39

Tabela 7.2.1.1 Regressão logística predizendo o comportamento de dar descarga a partir das variáveis gênero, prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine ou mictório, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico) e fase experimental (linha de base e intervenção)........................................................................................................................... 51

Tabela 7.2.1.2 Descrição das variáveis antecedentes em relação à média da quantidade de pessoas antes e depois do usuário sair da cabine ou mictório, frequência da interação social, gênero, suprimentos, prompt (cordial e neutro) e fase experimental (linha de base e intervenção) em função do comportamento de dar descarga......................................................................................................................................... 52

Tabela 7.2.1.3 Regressão logística predizendo o comportamento de dar descarga com os participantes que utilizaram a cabine a partir das variáveis gênero, prompt, quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine, interação social, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico) e fase experimental (linha de base e intervenção)..................................................................................... 53

Tabela 7.2.1.4 Regressão logística predizendo o comportamento de dar descarga na cabine e no mictório com os participantes masculinos a partir das variáveis prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel-toalha e papel higiênico), fase experimental (linha de base e intervenção) e local de dar descarga (cabine ou mictório)........ 54

Tabela 7.2.2.1 Regressão logística predizendo o comportamento de lavar as mãos a partir das variáveis gênero, prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine ou mictório, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel-toalha e papel higiênico), comportamento de dar descarga e fase experimental (linha de base e intervenção)..................................................................... 55

Tabela 7.2.2.2 Descrição das variáveis antecedentes em relação à média da quantidade de pessoas antes e depois do usuário sair da cabine ou mictório, frequência total de dar descarga, frequência de dar descarga apenas para aqueles que usaram a cabine, apenas para os homens que utilizaram o mictório, frequência da interação social, gênero, suprimentos, prompt (cordial e neutro) e fase experimental (linha de base e intervenção) em função do comportamento de lavar as mãos................................................................... 56

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Tabela 7.2.2.3 Regressão logística predizendo o comportamento de lavar as mãos com os participantes que utilizaram a cabine a partir das variáveis gênero, prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico), comportamento de dar descarga e fase experimental (linha de base e intervenção)...................... 57

Tabela 8.2.1.1 Índices de correlação entre os itens que avaliam a universidade e o item que avalia os banheiros públicos e as médias de cada item (0 = péssimo a 4 = ótimo)................................................ 67

Tabela 8.2.1.2 Regressão múltipla stepwise predizendo a avaliação dos banheiros públicos a partir da avaliação dos itens sala de aula, biblioteca, restaurante universitário, estacionamento, lanchonetes e xerox.. 67

Tabela 8.2.1.3 Regressão múltipla stepwise predizendo o uso dos banheiros públicos específicos a partir da ligação à universidade, o vínculo com a universidade, estar informado sobre mudanças na universidade, identificação com a universidade e variáveis demográficas: idade, gênero, tempo de universidade e participação em atividades da universidade......................................................................................... 69

Tabela 9.2.1.1 Autovalores empíricos e aleatórios para a escala ECEBP............................................. 78

Tabela 9.2.1.2 Matriz de correlação entre os fatores da escala ECEBP............................................... 79

Tabela 9.2.1.3 Matriz fatorial da escala ECEBP (N = 466)........................................................... 80

Tabela 9.2.1.4 Médias em cada um dos fatores da escala ECEBP (1 = quase nunca a 5 = quase sempre)........................................................................................................................................... 81

Tabela 9.2.1.5 MANOVA de medidas repetidas para os fatores da escala ECEBP em função do gênero e escolaridade covariando com a idade................................................................................................ 82

Tabela 9.2.1.6 Índices de correlação entre os fatores da escala ECEBP com as variáveis grau de cuidado com os banheiros públicos, número de banheiros na residência, idade e escolaridade................................. 83

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Descrição das relações de cuidado com o corpo e com o ambiente físico como base para o tripé da qualidade do banheiro público........................................................................................................... 14

Figura 2: Representação gráfica da relação entre os principais elementos de um behavior setting............................................................................................................................................ 41

Figura 3: Representação gráfica da relação entre os conceitos de privacidade, territorialidade, apinhamento e espaço pessoal............................................................................................................................... 21

Figura 4: Representação gráfica dos diferentes tipos de intrusões em um território......................................................................................................................................... 23

Figura 5: Gráfico da média da forma de uso dos banheiros públicos específicos relatada em uma escala de 0 (nada) a 4 (totalmente) em função das categorias da primeira palavra lembrada sobre os banheiros públicos específicos.......................................................................................................................... 68

Figura 6: Gráfico de dispersão da escala ECEBP............................................................................... 79

Figura 7: Média marginal estimada dos fatores do uso do banheiro público para escolaridade e gênero feminino covariando a idade.............................................................................................................. 83

Figura 8: Média marginal estimada dos fatores do uso do banheiro público para escolaridade e gênero masculino covariando a idade........................................................................................................... 83

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1 INTRODUÇÃO

O contexto de estudo do presente trabalho é o meio urbano que “proporciona opções que nenhum outro arranjo social permite” (Milgram, 1970, p. 1461), concentra o ser humano, espécie que exerce um grande impacto sobre o ambiente físico e que carece, para sua sobrevivência, de uma organização social condizente com suas necessidades individuais e grupais, mas sem inviabilizar os recursos naturais. Ao invés de focar nos problemas ambientais de maneira global, o objeto de estudo é um aparato público urbano, o banheiro público, fruto do processo histórico de mudanças em relação ao cuidado com o corpo, da relação do público e do privado e que pode ser utilizado como uma forma de se entender as variáveis envolvidas na relação comportamento-ambiente físico associadas às questões sócioambientais.

A ciência psicológica, como outras áreas do conhecimento, tem como um de seus propósitos dar respostas aos problemas ambientais e ampliar o entendimento dessas questões de uma maneira mais sistêmica. Isso inclui não apenas a ação humana como foco, mas também o contexto físico e social. Boa parte da tecnologia produzida ao longo dos anos pela humanidade tem contribuído para o esgotamento dos recursos naturais e para a poluição do ambiente natural. A necessidade de encontrar respostas para esses novos problemas e produzir uma tecnologia social que aponte para soluções, mostra que estamos passando por um momento de mudança na nossa relação com o ambiente físico.

Os problemas ambientais possibilitam e potencializam a emergência de uma nova forma de se relacionar com o ambiente físico, seja ele, construído ou natural. Ao longo da história da humanidade, situações de3crise, como a que vivemos atualmente, possibilitaram tanto a emergência de novos padrões comportamentais como o surgimento de novos valores associados a essas mudanças, como se pode observar no

que foi chamado de Processo Civilizador (Elias, 1939/1994).

Pode-se definir o Processo Civilizador como uma profunda transformação comportamental, a qual as sociedades ocidentais experienciaram a partir do Sec. XVI (Elias, 1939/1994). Esse processo permitiu a valorização de uma nova etiqueta social, uma mudança de valores e de comportamentos. Um dos conceitos chave desse processo é a civilidade que se refere a “regras claras que governam o comportamento social regulando a interação social” (Moser & Corroyer, 2001). A forma de se comportar considerada civilizada atualmente, nem sempre foi a forma vigente. Para se tornarem civilizadas, as sociedades ocidentais alteraram a forma de se relacionar com os outros publicamente, bem como as regras de comportamento no âmbito privado. Instituem-se novas regras de etiqueta, definindo padrões comportamentais rígidos como uma forma de predizer a ação dos indivíduos no futuro e deixar os comportamentos no presente coerentes com os do passado.

Um dos focos dessa transformação diz respeito às funções corporais e ao cuidado com o corpo que passaram do contexto público para o contexto privado. Para que isso ocorresse, houve todo um processo de controle dessas funções tornando sua expressão pública minimizada e o cuidado com o corpo padronizado. Os livros de etiqueta eram bem claros nesse sentido, descrevendo vários exemplos de comportamentos. À medida que a ciência ganhou o poder de explicar os eventos, foram utilizados também argumentos sanitários para o cuidado com o corpo e com suas funções (Elias, 1939/1994; Vigarello, 1985/1996), transformando o cuidado com o corpo em um hábito do cuidado com a saúde com demonstração de como se deve se comportar tanto no espaço público quanto no espaço privado.

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Da mesma forma, supõe-se que as mudanças ambientais estejam estabelecendo uma nova forma de se relacionar social e ambientalmente. Um novo processo histórico surge, já que há novos valores associados à relação pessoa-ambiente físico e há a necessidade de se encontrar respostas em função de quais comportamentos são funcionais e quais os comportamentos precisam se modificar para que a sociedade se adapte ao novo momento histórico.

Os termos utilizados para descrever novos fenômenos denotam um processo de mudança. Segundo Elias (1939/1994) “o aparecimento mais ou menos súbito de palavras em línguas quase sempre indica mudanças na vida do próprio povo, sobretudo quando os novos conceitos estão destinados a se tornarem fundamentais e de longa duração” (p.68). Alguns conceitos surgiram na literatura da psicologia e áreas afins para dar conta da investigação de comportamentos que dizem respeito à relação pessoa-ambiente físico, como comportamento pró-ambiental, comportamento ecológico e mesmo o termo ambiental com uma nova conotação não se referindo apenas ao ambiente a nossa volta, mas à interrelação pessoa-ambiente físico. Nesse sentido, as questões ambientais podem ser a origem de um novo processo histórico o qual podemos chamar de Novo Paradigma Ambiental (Bechtel, 2000).

Segundo o Novo Paradigma Ambiental, a ação humana na natureza traz consequências não somente para a topografia do ambiente físico ou a flora e a fauna, mas também para o indivíduo e toda a sua comunidade. A forma como o indivíduo e a comunidade atendem as suas necessidades a curto prazo implica no atendimento dessas necessidades a longo prazo. A relação público-privado passa a ser expressa em função de interesses coletivos ou individuais. O uso dos recursos ambientais tem que ser mediado não mais pelas necessidades individuais, mas pelo interesse coletivo que garanta a regulação dessa utilização impedindo a perda do recurso se

todas as necessidades individuais fossem atendidas. O ambiente físico passa a ser identificado como natural, sem impacto humano ou construído, com impacto humano. Além disso, nunca, durante toda a história ocidental, ficou tão claro que a ação sobre o ambiente físico pode não ter apenas consequências positivas, mas também consequências claramente negativas. Desse processo surge uma nova relação com o espaço. Passa-se a perceber a relação entre o local e o global. As ações locais não impactam apenas aquele local específico, mas podem ter um efeito maior que o esperado agindo, inclusive, globalmente.

O propósito do estudo é mostrar que esses aspectos podem ser relacionados ao banheiro público. Recente na história ocidental, por ser recente se ter um local específico de cuidado com o corpo para as necessidades fisiológicas e a higiene corporal, surge em meados do Sec. XIX, no meio urbano. Seu modelo foi originado no âmbito privado e, pela configuração das cidades e da distribuição das atividades das pessoas no espaço, passou a haver a necessidade da construção de um aparato público específico para o cuidado com o corpo (Greed, 2003).

O banheiro público é planejado em função dos contextos social e cultural, que estabelecem as normas para os cuidados com o corpo e com o ambiente físico, sendo, consequentemente, o local do cuidado com o próprio corpo que reflete num cuidado com todo o grupo social (Pathak, 2004; Van der Ryn, 1978/1999). Isso demonstra como a sociedade se organizou para lidar com a produção de seus dejetos e a relação com o ambiente à sua volta (Van der Ryn, 1978/1999).

Esse aparato público urbano é palco para a aprendizagem e inserção social. Tem sua presença na esfera pública como uma prestação de serviço. Trata-se de um contexto social que sinaliza relações de status baseadas no tamanho do banheiro, em seu design, no seu acesso. No banheiro público podem-se observar: situações de interação social, relação com um espaço público, o uso

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dos suprimentos fornecidos – água, papel, sabão - e alguns aspectos do impacto do comportamento humano no ambiente físico como a produção de lixo ou a não utilização da descarga.

Essas características permitem tratar o banheiro público como a concretização do Processo Civilizador e como um objeto de estudo para o Novo Paradigma Ambiental. Ele se localiza na intersecção entre o cuidado com o corpo e o cuidado com o ambiente físico e com a comunidade. A investigação dos comportamentos associados ao banheiro público e a sua relação com o ambiente físico podem contribuir para o desenvolvimento de uma nova tecnologia social que traga respostas para as questões ambientais, ou seja, a relação pessoa-ambiente físico.

Considerando a proposta de investigar o banheiro público e relacioná-lo às questões ambientais, optou-se por investigá-lo numa perspectiva multimétodo a partir de quatro estudos. O primeiro estudo investigou os comportamentos de utilização do banheiro por meio de observações. O segundo estudo testou o efeito de uma intervenção (prompt) nos comportamentos de utilização do

banheiro. No terceiro estudo, foi aplicado um questionário para avaliar dois níveis de ambientes físico, que inclui o banheiro público no nível menor. Finalmente, no quarto estudo, foi criada uma escala investigando os comportamentos de utilização do banheiro.

A introdução está estruturada em seções. Primeiramente, apresenta-se brevemente como as questões ambientais e o comportamento ecológico são concebidos no presente trabalho e a relação com o banheiro público. Em seguida, o banheiro público é apresentado com seu histórico. São descritos os aspectos sociais do mesmo e apresentam-se as teorias da psicologia ambiental que se aplicam ao estudo do aspecto psicológico desse objeto, tratado como um microcosmo sócioambiental. A seguir, é apresentada a proposta de estudo do comportamento ecológico utilizando o banheiro público. Em seguida são apresentados cada um dos estudos da tese e suas conclusões. Ao final, discute-se em conjunto as implicações dos resultados dos estudos apresentando uma conclusão geral do trabalho.

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2 CONTEXTO URBANO E AS QUESTÕES AMBIENTAIS

Em uma análise histórica, Bechtel (2000) mostra que passamos, enquanto ocidentais, por três revoluções do pensamento. A primeira quando Copérnico descobriu que o planeta Terra não era o centro do universo e de quebra, nós não estávamos no seu centro. A segunda quando Darwin apresentou a teoria da evolução das espécies nos colocando como mais uma dentre as demais espécies. E agora, a terceira revolução do pensamento, o Novo Paradigma Ambiental, que coloca o homem inserido na natureza numa relação de mútua influência. A tradução dessa nova forma de pensar tem-se direcionado para a preocupação com o uso dos recursos naturais que, até então, tinham sido tratados como se fossem inesgotáveis. Essa mudança na percepção torna o entendimento da relação comportamento-ambiente físico necessária. Para Bechtel, esse novo paradigma encerra, ao contrário dos outros, que as culturas ocidentais terão que mudar para preservar sua comunidade e o ambiente físico à sua volta.

O novo paradigma implica em entender o que são as questões ambientais. Frey (2000) é categórico ao tratar as questões ambientais como problemas ambientais que ocorrem quando o estado do ambiente biofísico traz consequências adversas sobre aquilo que as pessoas valorizam. No entanto, pode-se diferenciar entre dois tipos gerais de problemas: o primeiro é a diminuição ou eventual desaparecimento dos recursos que as pessoas valorizam, caracterizando o esgotamento dos recursos. A outra mudança ocorre quando ações no ecossistema geram mudanças numa direção indesejável, caracterizando a poluição.

Uma das ciências que tem contribuído para o entendimento dessas questões é a psicologia na sua vertente ambiental. Ao estudar a interação pessoa-ambiente físico, a psicologia ambiental trouxe para a investigação dois campos disciplinares específicos, que, até então, estavam bastante afastados (Carrus, Fornara, & Bonnes, 2005):

a arquitetura e o planejamento urbanístico e as ciências naturais-biológicas. Os estudos direcionados para o primeiro campo ficaram mais conhecidos como de psicologia ambiental arquitetural e os estudos do segundo campo como de psicologia ambiental verde. Essa distinção deve ser considerada como didática e se relaciona à perspectiva em que se vê a interrelação comportamento-ambiente físico.

Segundo Páramo (2007), a cidade possui dentre outros aspectos um valor intrínseco para educar seus habitantes. O autor se refere ao ambiente físico urbano como complementar para o estabelecimento de uma relação pessoa-ambiente físico coerente com as necessidades atuais. Da mesma forma, Steinberger (2000) defende que o ambiente físico urbano pode ser inserido nas questões ambientais, uma vez que não há dicotomia entre o ambiente físico urbano e o ambiente físico natural. A autora aponta que a visão mais tradicional dessa relação descreve a ameaça de uma urbanização total do planeta, eliminando o ambiente físico natural, sinalizando que o meio urbano necessariamente estaria em conflito com o meio natural. No entanto, a visão mais recente “privilegia o meio urbano como um espaço que possui uma dinâmica ambiental própria e única, resultante de uma interação entre o ambiente físico natural e ambiente físico construído, cuja harmonia é intrínseca e não extrínseca. Isso não lhe confere autonomia nem isolamento, mas apenas especificidade” (p. II). Não é possível isolar um ambiente do outro, porque na realidade eles acontecem relacionados.

A especificidade de cada ambiente físico confere uma intersecção, já que as mesmas pessoas circulam por ambos os ambientes. Essa interligação não é apenas espacial, mas também comportamental, o que permite que a psicologia ambiental investigue e intervenha nas questões humano-ambientais, independente do contexto urbano ou natural. As questões ambientais são questões

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humano-ambientais, ou melhor, sócioambientais que necessitam de uma visão sistêmica e ecológica do problema, interrelacionando as questões do meio urbano e do meio natural.

O banheiro público, caracteristicamente urbano, está incluso no cotidiano dos indivíduos, é considerado no presente trabalho como um objeto de estudo das questões sócioambientais. Algumas pesquisas em psicologia ambiental têm estudado ambientes físico ou situações específicas do dia a dia urbano. Estes estudos refletem uma necessária mudança de ênfase sinalizada por Saarinen (1976) ao dizer que “se sabe mais sobre o comportamento humano em ambientes estranhos, extremos e incomuns do que nos ambientes cotidianos” (p. 20). Como exemplo, alguns estudos têm dado a ênfase aos aspectos do dia-a-dia investigando creches (Campos-de-Carvalho, 2004), pátios escolares (Fernandes & Elali, 2008), a porta e suas diversas significações e utilidades (Cavalcante, 2004), o comportamento em filas de espera (Iglesias, 2007), um hospital menos danoso ambientalmente (Topf, 2005) e prédios que são construídos para que promovam menos gastos de energia (Thompson, 1980).

Ferreira (2004) avalia os estudos sobre o cotidiano como de maior validade ecológica, propondo que “um problema deve ser considerado válido, merecedor da atenção dessa área de conhecimento, se ele existir e for relevante na vida ... das pessoas” (p.22). Como nos estudos citados e seguindo a sugestão de Ferreira, o foco do presente trabalho é no cotidiano, contexto o mais próximo possível aos indivíduos. O entendimento de variáveis que atuam no banheiro público contribuir para o bem-estar dos habitantes do meio urbano em função da melhoria de ambiente físico e contribuir para o entendimento e a intervenção nos comportamentos ecológicos.

2.1 O comportamento ecológico no

banheiro público

Os estudos sobre o ambiente físico natural e as questões sócioambientais ganharam grande espaço nas pesquisas em psicologia ambiental. Esses trabalhos se relacionam com os estudos no ambiente físico urbano e o seu propósito envolve formas mais funcionais de interação com o ambiente físico. A psicologia ambiental surgiu como uma forma de preencher a lacuna da psicologia na investigação do efeito do ambiente físico no comportamento humano e da necessidade de estudar esse comportamento no contexto onde ele ocorre. O seu papel de referência tem aumentado à medida que se tem percebido com maior facilidade os efeitos do ambiente físico no comportamento e os efeitos do comportamento humano no ambiente físico. A psicologia ambiental é definida como a área de estudo que investiga a interrelação entre comportamento e ambiente físico. Assim, trata, de um lado, das manifestações do comportamento, tanto explicito quanto subjetivo e, por sua vez, o ambiente físico é entendido como natural ou construído (Günther, 2009).

O foco é no comportamento ambiental que engloba todas as ações e estados subjetivos, já que qualquer comportamento pode ser considerado ambiental, uma vez que ocorre em um determinado ambiente físico com uma determinada duração. Essa definição facilita o entendimento de que o comportamento e o ambiente físico estão interrelacionados, mas também, auxilia na compreensão da relação entre o comportamento humano e as questões sócioambientais. E, nesse sentido, Steg e Vlek (2009) definem comportamento ambiental como “todos os tipos de comportamentos que mudam a disponibilidade de material ou energia de um ambiente físico ou alteram a estrutura e dinâmica do ecossistema ou da biosfera”.

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O conceito mais utilizado na literatura da área é o comportamento pró-ambiental que se refere ao comportamento que causa o menor dano possível ao ambiente físico ou então, que traz benefícios (Corral-Verdugo, 2001; Steg & Vlek, 2009). Entretanto, esse termo exibe problemas conceituais. Ele traz, de forma subjacente, uma dificuldade em inserir o comportamento humano como parte necessária da relação pessoa-ambiente físico e não como o componente dessa equação que necessariamente tem que ser minimizado para diminuir seus danos ou que necessariamente traga benefícios.

O termo pró-ambiental surge associado ao Novo Paradigma Ambiental, mas a sua definição e seu uso ainda não são claros. Vários autores têm tentado, partindo de diferentes perspectivas, abordar a questão ambiental, no entanto, não há um consenso para sua definição (Corral-Verdugo, 2001; Corral-Verdugo & Pinheiro, 1999; Kurz, 2002; Lehman & Geller, 2004; Pato, 2004; Pinheiro & Pinheiro, 2007; Steg & Vleg, 2009). A palavra “ambiente” dificulta a definição do termo por assumir diferentes acepções e ser a palavra de maior peso.

Além disso, o mesmo fenômeno ao qual se refere o termo pró-ambiental tem sido chamado de comportamento pró-ecológico, conduta ambiental, comportamento ecológico, cuidado ambiental (Corral-Verdugo, 2001; Kurz, 2002; Pato, 2004; Pinheiro & Pinheiro, 2007). Pinheiro e Pinheiro trabalharam com o termo cuidado ambiental como uma forma de se aproximarem da expressão “cuidar do ambiente” amplamente utilizada na área de educação ambiental. Os autores tratam o termo como um tipo de comportamento pró-ambiental.

Corral-Verdugo (2001) utiliza o termo comportamento pró-ambiental, que parece ser o termo mais difundido na literatura e o define como “o conjunto de ações intencionais e efetivas que respondem a demandas sociais e individuais e que resultam na proteção do meio” (p.40). Como o autor descreve, essa definição traz

implicitamente que o comportamento pró-ambiental está relacionado a um estilo de vida.

Pato (2004) trabalha com o termo comportamento ecológico porque a palavra “ecologia parece ter uma conotação positiva para os brasileiros, associada ao cuidado com o meio ambiente” e define o termo como “o mesmo que pró-ecológico, ou seja, um agir em favor do meio ambiente” (pp.10). Tanto as intenções claras e conscientes das ações quanto o seu impacto sobre o meio fazem parte e delimitam o comportamento esperado como ecológico.

Os termos tratam do impacto do comportamento humano no ambiente físico, mas o fazem de maneiras distintas: Corral-Verdugo (2001) traz uma definição que pressupõe vários comportamentos que estariam sendo englobados no estilo de vida, Pato (2004) aponta para a necessidade de intencionalidade da ação e Pinheiro e Pinheiro (2007) trazem a necessidade de tornar o termo mais próximo das áreas de aplicação, como a educação ambiental. A relação entre o social e o individual, o quanto esses comportamentos podem se manter ao longo do tempo e a necessidade de se expressar isso em comportamento observável aparecem nas definições. No entanto, parece que qualquer comportamento que possa solucionar os problemas ambientais é pró-ambiental e o que cause dano é um comportamento anti-ambiental ou ambientalmente destrutivo. O ponto em discussão é que um mesmo comportamento pode ser classificado em uma das duas categorias dependendo do contexto em que é observado. A relação entre os comportamentos e o ambiente físico é sistêmica e não linear, dificultando o uso de definições baseadas apenas no comportamento sem levar em consideração o contexto.

A proposta do presente trabalho é que não se isole um comportamento para tratá-lo apenas como pró ou anti, ou seja, este comportamento é funcional e aquele é disfuncional sem analisar o contexto onde

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ele está inserido, entendendo que a relação é recíproca entre comportamento e ambiente físico. Há a necessidade de uma mudança de foco, não apenas selecionar comportamentos, mas entender a função que eles desempenham naquele sistema investigado.

Os comportamentos são ambientais em última análise, já que sempre ocorrem em um determinado contexto. Não necessariamente vão estar diretamente relacionados com o contexto imediato, mas sempre estarão relacionados a algum contexto. A investigação das questões sócioambientais traz fortemente a necessidade de se contextualizar os comportamentos para que se possa avaliar a sua funcionalidade, a polaridade desses comportamentos e as suas consequências.

As definições dos comportamentos pró e anti-ambientais não necessariamente se prendem ao ambiente físico onde ocorrem os comportamentos, concentrando-se no resultado final esperado que é a proteção ou cuidado do meio ambiente. Essa perspectiva dificulta a análise da funcionalidade do comportamento e reforça a visão negativa do comportamento humano no ambiente físico enfocando os comportamentos que são danosos numa grande variedade de contextos e fazendo a sua tradução para um comportamento mais adequado. No entanto, todo comportamento tem a sua história e a sua funcionalidade dentro de cada contexto onde ele ocorre (Goldiamond, 2002).

A proposta da psicologia ecológica de Barker, tal qual a proposta de Goldiamond, é focar numa análise molar do comportamento humano, mas investigando o comportamento humano e o ambiente físico numa visão de interdependência ou sinomorfia. O estudo das unidades ambientais naturais e o aporte teórico fornecido pela teoria permitem analisar a funcionalidade do comportamento naquele contexto para a manutenção do equilíbrio do mesmo. Os behavior settings são auto-reguláveis, lidando com ameaças internas e externas ao seu funcionamento. A análise é

feita a partir do entendimento da dinâmica daquele setting e das necessidades para a manutenção do seu equilíbrio. Essa perspectiva permite que se analisem os comportamentos com base no contexto onde ocorrem, aumentando a clareza na descrição de sua funcionalidade.

Como forma de aumentar a clareza conceitual dos termos utilizados na psicologia ambiental para tratar das questões sócioambientais e baseado na proposta de Barker, os comportamentos ambientais, foco de investigação do presente trabalho e exibidos no behavior setting banheiro público, serão tratados como comportamentos ecológicos e analisados em termos da sua funcionalidade para esse aparato urbano e para seu contexto ambiental. Entendendo que a depender da dinâmica de funcionamento do behavior setting eles assumem uma característica pró ou anti-ambiental. Dentro desse quadro de trabalho, os termos pró e anti-ambiental serão artificialmente utilizados para descrever os comportamentos de ajuste do funcionamento do behavior setting banheiro público e os comportamentos de ameaça ao seu funcionamento.

Como os comportamentos exibidos no banheiro público estão diretamente ligados aos hábitos de higiene desenvolvidos por cada cultura, a característica que une esses hábitos é o cuidado com o corpo. O termo cuidado, portanto, é um termo chave na descrição desses comportamentos e envolve o conceito de proteção (Pinheiro & Pinheiro, 2007). No banheiro público, trata-se da proteção de si que é traduzida na higiene e na estética do corpo. Envolve também o cuidado com a saúde da comunidade ao eleger um local para a eliminação dos dejetos corporais.

O cuidado no banheiro público pode ser analisado em dois níveis. O primeiro nível é o individual, o indivíduo e o ambiente físico e o segundo nível é o comunitário, envolve a relação da comunidade com o ambiente físico. O primeiro nível trata do cuidado do indivíduo com o seu próprio corpo no

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O contexto urbano e as questões ambientais

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ambiente físico do banheiro público e o cuidado com esse ambiente físico. O segundo nível envolve o cuidado da comunidade com os seus dejetos em cuidado da sua saúde e o cuidado com o ambiente físico da cidade.

O foco do presente trabalho será no primeiro nível, individual. Será utilizado o termo cuidado para estabelecer a relação entre os hábitos de higiene e os comportamentos direcionados ao ambiente físico do banheiro público. Portanto, os comportamentos ecológicos investigados se referirão ao cuidado com o corpo e ao cuidado com o ambiente físico sendo considerados pró ou anti-ambientais de acordo com a sua função de manutenção ou

de prejuízo do funcionamento do behavior setting.

A partir desse ponto será apresentado o referencial teórico do presente trabalho que aborda os diferentes aspectos do banheiro público e o elege como um objeto de estudo sobre a relação pessoa-ambiente físico. O objetivo é explicitar, por meio do banheiro público, como o cuidado com o corpo e com o ambiente físico podem ser estudados empiricamente a partir dos conceitos e das teorias da psicologia ambiental para contribuir no entendimento das questões sócioambientais.

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3 CONTEXTOS HISTÓRICO E SOCIAL

Para entender um behavior setting é necessário dar atenção a alguns aspectos envolvidos no seu surgimento e na sua utilização. Na seção 4 será feito o detalhamento de como o objeto de estudo do presente trabalho será tratado sob a ótica do behavior setting. Mas, para que se possa fazê-lo, nesta seção devem ser abordados os aspectos que segundo Sommer e Wicker (1991) são necessários para se compreender um behavior setting que incluem história, tecnologia, nomenclatura, aspectos econômicos e contexto ambiental.

O banheiro público é resultado de um processo histórico-cultural a respeito da higiene pessoal. O histórico do banheiro se confunde com o histórico dos comportamentos de higiene corporal e suas características psicológicas. São considerados tanto os aspectos físicos quantos os culturais e psicológicos. Essa abordagem permite mostrar a relação recíproca entre comportamento e ambiente físico, uma vez que, os comportamentos de higiene tiveram um impacto no surgimento e na apresentação física do banheiro, auxiliam no entendimento da forma como as pessoas percebem e utilizam o banheiro público atualmente e cuidam individualmente ou comunitariamente dos dejetos referentes ao seu uso. Sendo um trabalho de psicologia ambiental, são descritos os comportamentos relacionados a esse ambiente físico e em seguida suas características físicas.

3.1 A Higiene Pessoal: limpo, saudável e

bonito

Ao longo da história humana as práticas de higiene, ou seja, as formas de se lidar com a limpeza, com a sujeira e com a saúde, foram construídas cultural e socialmente e se caracterizam por serem questões permanentes da humanidade ao traduzir a sua relação com o próprio corpo, com o corpo dos outros (Del Priore, 2007; Kira,

1966/1976; Rodrigues, 1995), com o ambiente físico e com a moral (Vigarello, 1985/1996).

Na cultura ocidental, os hábitos de higiene são normalmente baseados no tripé: estética, saúde e limpeza em oposição à sujeira transversalmente sustentados pelo conhecimento e pelas técnicas desenvolvidas para cada um desses aspectos e pela moral. Garantindo assim, domínios separados para o que é considerado limpo e para o que é considerado sujo. Esses domínios são relacionais e relativos, mas é claro que “o impuro, o poluente, é aquilo que não pode ser incluído se se quiser manter esta ou aquela ordem” e essa ordem tem em última estância uma função de organização social (Douglas, 1966/1991, p. 55).

Como no adágio “Cleanliness is next to Godliness”1 , Douglas (1966/1991) dá um grande status aos hábitos de limpeza. A autora mostra que a relação entre higiene e impureza permeia todas as relações sociais. Essas noções são base para ordenar e organizar o meio. Ela é enfática ao dizer que “onde houver impureza, há sistema” (p.50). A reação à sujeira sinaliza que há um sistema de crenças que organiza e classifica os objetos e as ações dentro de uma cultura. É como se a impureza fosse uma ofensa contra a ordem dada, já que o sujo, o impuro é qualquer coisa que não está no seu devido lugar. O efeito das práticas de higiene é dar ordem às relações sociais dentro de cada cultura, por exemplo, Vigarello (1985/1996) utiliza os termos limpeza coletiva ou limpeza popular como o efeito de ordem para a saúde coletiva.

Essa classificação é relacional. Um mesmo objeto pode ser considerado puro ou 1 Ditado utilizado na língua inglesa com sua tradução livre para o português: “A limpeza está próxima da santidade”. A sua origem não é clara, as fontes fornecem várias explicações em função do sentido do ditado se configurar em diferentes frases. As fontes entram em acordo afirmando ser herança da tradição babilônica e hebraica.

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impuro dependendo de onde ele esteja. Caracteristicamente na cultura ocidental, as lavagens e limpezas, as técnicas de isolamento e desinfecção são ancoradas na higiene, ou seja, eliminar potenciais ameaças ao corpo que não deveriam estar ali. O conhecimento sobre os organismos patogênicos é que direciona as nossas idéias sobre impureza (Douglas, 1966/1991) e ditam a moral sobre o que é certo e errado se fazer com o corpo e com o ambiente a nossa volta (Vigarello, 1985/1996).

3.1.1 A higiene no Brasil

A trajetória de colonização do território brasileiro evidencia dois contrastes. De um lado Salvador, fundada em 1549, reproduzia muitas das características de Lisboa, em especial a sujeira das ruas, o descuido com as questões sanitárias (Bueno, 2007). Pode-se citar algumas peculiaridades da apropriação daquele espaço pelos seus moradores. O abate do gado era feito na nascente do rio que ficou conhecido como rio das Tripas. Em dois anos o curso d’água que banhava a cidade já estava poluído e, apesar das muitas fontes, as águas próximas à cidade logo ficaram contaminadas. Não havia nem saneamento nem abastecimento de água, dificultando uma série de atividades dos cidadãos. Os banhos eram bianuais, como na Europa. Não havia qualquer sistema de saneamento público. As necessidades eram feitas em vasilhas e potes esvaziados no meio da rua, promovendo um convívio direto com lixo, dejetos e esgotos, ficando a população acometida de várias doenças. O poder público apenas ameaçava multar as pessoas o que ocasionava o despejo do lixo por detrás das casas.

Por sua vez, principalmente em Recife, a invasão holandesa trouxe hábitos diferentes dos portugueses. Uma vez em território brasileiro, os holandeses que eram conhecidos como o povo mais asseado da Europa, estabeleceram normas severas de urbanização, proibindo os moradores de jogar lixo nas vias públicas e deixar animais

soltos no perímetro urbano. Todos eram obrigados a varrer a rua defronte de suas habitações e, quando a chuva alagava, era preciso providenciar aterros.

As casas se tornaram higiênicas, arejadas e eficientes e o azulejo, peça decorativa de origem árabe muito conhecida pelos portugueses, foi adotado pelos holandeses e também passou a ser utilizada para tornar o ambiente físico mais agradável, mais fresco facilitando a sua limpeza. Freyre (1992) relata que esse período de ocupação holandesa foi o período de “prestígio da rua” ao limitar os abusos do ambiente particular e da casa e fixar a importância, a dignidade e os direitos da rua.

Seguindo a cronologia elaborada por Bueno (2007), em 1808 às portas do Século XIX, as questões de limpeza ainda não haviam se transformado em caso de saúde pública, como em outros países (Holanda e Alemanha), na França, Portugal e, consequentemente, no Brasil. Nessa época, os rituais de limpeza no Brasil não contavam com lixeiros, varredores ou órgãos públicos para organização de tal atividade, se utilizava de uma tina que ficava no interior das casas acumulando todo o lixo e dejetos da família, que era esvaziada quer diariamente, quer semanalmente. Esses barris eram esvaziados em plena rua, deixando que a enxurrada se encarregasse da limpeza. Onde não havia a tina, os detritos eram jogados no pátio à espera das chuvas. Os responsáveis por transportar os barris com os excrementos eram os “tigres”, escravos que realmente pareciam rajados pelas fezes a lhes escorrerem pelos ombros e corpo. Os terrenos baldios, os becos e as praias ficavam sempre cobertas por uma espessa camada de abominações. Nessa época não havia banheiros residenciais ou públicos.

Apesar da cidade do Rio de Janeiro se localizar na costa brasileira, seus habitantes só começaram a frequentar as praias em meados do Século XIX. A água ainda não era um atrativo, ao contrário, a água era concebida como perigo. Segundo Vigarello

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(1985/1996) com uma lógica de não contato para não deixar o corpo vulnerável às doenças “a água seria suscetível de infiltrar a pele, o que poderia influenciar as práticas de limpeza” (p. 8). De acordo com Rodrigues (1995) “o medo da água remanescente foi certamente uma das origens dos banheiros contemporâneos, com seus pisos, paredes e objetos envernizados, esmaltados e enladrilhados – lugares projetados para serem muito facilmente enxutos, se (coisa que se deve evitar), porventura, molhados” (p. 46) – o que ainda se pode observar nos banheiros atuais.

No entanto, não só a percepção de vulnerabilidade do corpo em relação à água, mas outro fator de evitação da água do mar eram as condições ambientais das praias. Os dejetos e outros tipos de lixo eram jogados no mar. O que tornava o local pouco convidativo para atividades de banho ou de lazer. E criou um problema circular. As pessoas não se interessavam pela água em função do medo e, portanto, não tinham um cuidado na manutenção da praia, sendo assim, não havia a solicitação do descarte dos dejetos ser feito de outra maneira. Ao mesmo tempo, esse descarte na praia inviabilizava a sua utilização por tornar o ambiente desagradável não permitindo uma mudança na relação com a praia e a água. Uma mudança no tratamento dos dejetos humanos e, consequentemente, na relação com a água só foi impulsionada nas culturas ocidentais pelas práticas do sanitarismo. Foi estabelecida uma nova relação entre o ambiente físico e a qualidade de vida, no que tange, principalmente à saúde.

3.1.2 A prática do sanitarismo

Com o advento do mercantilismo na idade moderna houve uma mudança no cuidado com a higiene tanto pessoal quanto pública, que passou a ser uma preocupação do Estado. Esse processo se deveu em parte ao fato de que a partir do Século XVI até XVIII, o sistema feudal foi sendo substituído

por Estados organizados interessados em fortalecer sua soberania (Bueno, 2007).

O surto de cólera que abateu Paris em 1832, propagando-se por toda a Europa, teve como efeito o reforço dos mecanismos de controle público e cristalizou em torno da população proletária uma série de temores políticos e sanitários. O foco de preocupação e intervenção era a população proletária, mas havia também uma preocupação em relação as suas habitações. Com base na preocupação sanitária, a intervenção na propriedade privada foi permitida ao poder público, o que persiste até os dias atuais.

A relação entre contaminação e as condições ambientais passou a ser mais observada. Em Londres, o cólera matou mais de 500 pessoas em dez dias, em aproximadamente três quarteirões de um mesmo lado da rua por causa de um poço contaminado. A fonte de contaminação foi descoberta ao se investigar o local de moradia de quem foi contaminado, locais frequentados e fonte de água utilizada (Tufte, 1997/2003). Até se descobrir o poço contaminado, a população próxima à rua com maior incidência de mortes foi desalojada. Percebe-se uma clara relação entre as práticas sanitárias, a atuação no cuidado com a saúde e a intervenção no ambiente físico.

No Brasil, os movimentos sanitaristas a partir do séc. XIX mudaram a configuração das cidades transferindo populações de um local para outro e atuando no espaço privado com a autorização de estar sob a tutela do estado e com o foco na saúde pública. As intervenções quase sempre recaem sobre a população mais pobre que tem menos acesso ao que a cidade deve oferecer aos seus cidadãos ficando mais vulnerável a problemas sanitários.

Ainda hoje, o cuidado com o sanear, limpar é concebido como uma questão de saúde pública e é função da vigilância sanitária se ocupar disso. O asseio, o controle das doenças, o cuidado com o ambiente comunitário e a promoção do

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bem-estar geral são seus propósitos gerais. Especificamente, o cuidado com a saúde pública trata da prevenção e diminuição dos riscos provocados por problemas sanitários decorrentes do ambiente físico, ou originados de doenças infecto-contagiosas. Além disso, há uma vigilância sobre quem fabrica, distribui e vende produtos cujo propósito é alimentar, embelezar ou medicar seres humanos (Bueno, 2005). Como Douglas (1966/1991) propõe, os rituais de purificação são uma forma de ordenar a nossa relação com o ambiente físico, com o próprio corpo e com o grupo social.

Todos os aspectos relacionados com as práticas de limpeza e o cuidado com a higiene, acima descritos, podem ser observados no banheiro. Esse ambiente físico se tornou o local do cuidado com o corpo e, consequentemente, local do cuidado com o ambiente comunitário ao se inserir na cadeia de intervenções sanitárias. No entanto, as práticas de limpeza herdadas não focam no ambiente físico, mas sim no cuidado com o corpo. O surgimento do banheiro público sinalizou a relação saúde-ambiente físico, mas não resolveu o problema. Não foi dado o mesmo status ao cuidado com o ambiente físico que ao cuidado com o corpo. O cuidado com o ambiente físico ficou circunscrito ao que pode afetar o cuidado com o corpo de forma imediata.

Apesar das pestes que dizimaram populações em vários países ocidentais ao longo da história – e continuam a fazê-lo, essa preocupação com o cuidado com o ambiente físico só apareceu recentemente quando se percebeu os efeitos do comportamento humano no ambiente físico e as consequências dessas ações. Como Van der Ryn (1978/1999) sugere, a forma como tratamos os dejetos humanos reflete nossas atitudes com o corpo e suas funções. Não é possível simplesmente dar descarga e supor que o problema está resolvido. O fato é que apenas se está deslocando o problema de lugar e postergando os efeitos negativos dessa prática no ambiente físico. O Novo

Paradigma Ambiental traz a idéia de que o cuidado com o ambiente físico é cuidado com a nossa própria saúde por entender as consequências do comportamento humano no ambiente físico e suas consequências para os seres humanos.

Essa seção apresentou como a forma que as pessoas se comportam no banheiro público se refere à forma como o cuidado com o corpo e com o ambiente físico foi sendo estruturada na cultura ocidental e, especificamente, na cultura brasileira. A lógica é afastar a ameaça do corpo usando o ambiente físico como depósitário. A percepção que essa relação é recíproca, ou seja, o corpo está ligado ao ambiente físico, consequentemente, um cuidado com o ambiente físico pode se tornar o cuidado com o corpo vem sendo construída em função, primeiro, das doenças e hoje, em função das questões ambientais. Após apresentar os aspectos comportamentais, na próxima seção será apresentado o aspecto físico a partir da história do banheiro público, especialmente, como este viabilizou que as medidas sanitárias passassem a fazer parte das práticas atuais ocidentais de higiene e como esse aparato urbano se inseriu no cotidiano social.

3.2 História do banheiro

Os dados históricos explicitam como a sociedade ocidental vem tentando cuidar do corpo e, consequentemente, do ambiente físico. Além disso, apesar das práticas de higiene serem traduzidas como um cuidado com a saúde e como um dever moral, elas se traduzem no dia-a-dia de diferentes formas, já que são herdeiras de diferentes concepções de limpeza e de sujeira. Por exemplo, muitas práticas atuais ainda remontam à Idade Média (Rodrigues, 1995).

A história do banheiro tanto residencial quanto público se confunde com a história sobre hábitos de higiene, de saúde e concepções morais. É um esforço social para se ter domínio sobre a sujeira e para promover a higiene e a saúde (Douglas,

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1966/1991; Vigarello, 1985/1996; Bueno, 2007). O banheiro surgiu quando a higiene pessoal ganhou status social tanto em relação à aparência física quanto em relação às questões sanitárias e com o fornecimento de saneamento básico para as residências com água encanada e escoamento do esgoto.

Na antiguidade os banhos e diversos cuidados com a higiene pessoal nas sociedades egípcia e chinesa eram comuns. Os egípcios construíram por volta de 2.500 a.C. banheiros elaborados dentro das pirâmides, certamente com a finalidade de tornar a eternidade dos faraós mais agradável. Os antepassados clássicos, principalmente os gregos e os romanos, os banhos públicos aconteciam reuniões, encontros, conversas e acordos que impulsionavam a política, as artes e as ciências (Deca, 2007).

A Idade Média protagonizou o total sepultamento dos hábitos de higiene como conhecidos até então. A Igreja abominou os banhos públicos. Segundo os sanitaristas, as constantes epidemias que assolaram o Velho Mundo durante a Idade Média foram provenientes da ausência de práticas de higiene, como conhecidas hoje, por parte da população. Nessa época, os banhos eram escassos, quase inexistentes (Deca, 2007). No Século XVIII ocorreu uma retomada das questões de saúde pública com reflexos na higiene pessoal e a partir do Século XIX, a ciência passou a ditar as regras, as questões sanitárias ganharam importância e foram se tornando também uma forma de diferenciação social.

Durante muito tempo foram utilizadas latrinas e para esvaziá-las havia o esvaziador, como os “tigres” no Brasil. Os mais privilegiados senhores possuíam um penico onde defecavam. Em 1775, em Londres, Alexander Cunnings desenvolve um sifão para os vasos sanitários, reduzindo os odores. Nessa época o vaso sanitário já existia, fora inventado em 1597, por John Harringston, mas para uso exclusivo de sua madrinha, a rainha Elizabeth I. O penico medieval ainda foi utilizado por muito

tempo até que George Jennings criou, em 1884, o “vaso pedestal”, com descarga conectada aos encanamentos. Estava inventado o vaso sanitário, ou melhor, a privada que acabou se disseminando. Com esse invento, no final do Século XVIII, os arquitetos passaram a incorporar o banheiro como um cômodo dentro da casa. No Século XIX, os artefatos dos banheiros adquiriram estética própria, sendo desenvolvidos em materiais ricos como mármore, granito, louça e metais. Os sistemas de canalização foram retomados, mesmo que de forma incipiente. Os banhos eram dados em tinas e a higiene diária ocorria por meio do famoso gomil em penteadeiras ou toucadores. A primeira banheira foi produzida em cobre, nos EUA, em 1800.

O Século XX impôs um salto na qualidade de vida das sociedades. A água encanada, o saneamento básico e mudanças culturais fizeram com que a civilização ocidental moderna se tornasse seguramente mais limpa e presumivelmente mais saudável. Os avanços tecnológicos foram decisivos para que se desenvolvesse uma sociedade voltada para a limpeza, a beleza e o bem estar. Os chuveiros entraram definitivamente na vida cotidiana. Tomar banho passou a ser tarefa diária e prazerosa. As descargas, os sifões e outros inventos tornaram-se instrumentos obrigatórios em qualquer espaço destinado a toilette. O mundo moderno passou a cultuar o banho e o asseio como uma forma de preservação da saúde e do bem estar.

3.2.1 O banheiro no Brasil

No Brasil, desde a época colonial, muito pouco se observou em termos de mudança das formas de higiene da população. No entanto, os problemas sanitários foram minimizados no país pelo convívio com os indígenas e o calor dos trópicos impôs uma rotina em que a água era mais importante e também abundante. Mas, apesar da quantidade de rios e cachoeiras brasileiras, as cidades só passaram a possuir sistemas

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Contextos histórico e social

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hidráulicos capazes de conduzir a água até elas no Século XIX. Até então, o transporte da água se dava por tonéis e o preço pago era alto. Os chafarizes, bastante comuns nas cidades desde o Século XVII, eram lugares de encontros dos escravos e depois dos negros libertos. Estes lugares se assemelhavam aos banhos públicos que reapareceram no Século XIX (Bueno, 2007; Deca, 2007).

Após o Século XIX, o Brasil passou a ser fortemente influenciado pelo modelo norte americano de asseio corporal. O modelo de banheiro conhecido atualmente surgiu depois da Segunda Guerra Mundial, com chuveiro, vaso sanitário e banheira, tornando-se usual nas residências brasileiras. Desde a época do descobrimento até esse momento, as casas não tinham uma “sala de banho” e um recinto para as necessidades fisiológicas, mesmo as ocupadas pela família real.

Posteriormente é que nas casas mais abastadas foram criados esses espaços e acrescentados espelhos, o bidet ou a ducha - inventada pelos franceses (Bueno, 2007). No entanto, em pleno Século XXI ainda temos casas sem saneamento básico e mesmo sem banheiros (Funasa, 2007). Essa construção tão comum para uma parte da população brasileira é precariamente atendida para outra parte da população, não sendo um espaço tão comum na paisagem urbana como se poderia esperar pela função de cuidado com o corpo e com o espaço partilhado socialmente. Essa ausência impede parte da população de se inserir em algumas práticas de higiene pessoal e no gerenciamento do impacto dos próprios dejetos no ambiente natural ou urbano.

3.3 O banheiro atual

As questões que envolvem a relação pessoa-ambiente físico no banheiro público podem ser estruturadas a partir da identificação dos aspectos relacionados à configuração atual do banheiro. Segundo o dicionário, o banheiro é “um aposento com

todo o aparelhamento de banho e aposento com vaso sanitário” (Ferreira, 1985, p.229). Essa definição é geral, válida para qualquer banheiro e auxiliou no entendimento das duas funções do banheiro, higiene pessoal e eliminação corporal, que têm implicações na sua configuração física.

3.3.1 A configuração física

Historicamente sempre houve aparatos com funções semelhantes ao banheiro, no entanto, a configuração atual é recente. O cuidado com o corpo em um local público começou originalmente com os banhos coletivos. Já as necessidades fisiológicas eram feitas em locais públicos por onde passava um canal de água no qual as pessoas lavavam a parte do corpo que entrou em contato com as fezes (Rodrigues, 1983).

Os banheiros públicos atuais são herança direta da Revolução Industrial (Sec.XVIII). Segundo Greed (2003) o banheiro público como herança da revolução industrial surgiu em função do grande contingente de pessoas que migrou para os centros urbanos. Essa aglomeração de pessoas gerou a necessidade de aparatos públicos para atender suas necessidades, incluindo, de cuidado com o próprio corpo.

Esse aparato começou a aparecer nos cortiços habitados pelo proletariado e foi migrando para outros espaços na cidade. As condições iniciais desses ambientes eram bem precárias (Van der Ryn, 1978/1999) essa constatação pode ser uma das explicações da percepção do banheiro público como sujo e dos muitos movimentos de tornar o banheiro público cada vez menos público e caracteristicamente mais privado (Osório & Ibañez-Novion, 1998; Teixeira & Bernardes, 2007).

O histórico do surgimento do banheiro como aparato público mostra implicações na concepção enquanto estrutura física - pública ou privada, na percepção por seus usuários enquanto um aparato público que implica na forma de sua utilização e impacta na sua manutenção. Podemos esquematizar

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as relações que o banheiro público traz na Figura 1. Esse aparato público permitiu o cuidado com o corpo para evitar doenças e o cuidado para se apresentar socialmente, bem como, um cuidado com o ambiente físico da comunidade ao viabilizar um melhor

controle dos dejetos humanos que implica na saúde coletiva da comunidade.

Figura 1: Descrição das relações de cuidado com o corpo e com o ambiente físico como base para o tripé da qualidade do banheiro

público.

Com base nessas duas relações de cuidado, supõe-se que ocorra a construção, a utilização e a manutenção desse aparato público. A alteração da dinâmica do banheiro público parece ocorrer caso se leve em consideração a sua construção, como os seus usuários o utilizam e como é feita a sua manutenção. Esses três aspectos são interrelacionados e nenhum deles por si só pode realmente alterar positivamente a sua qualidade. Portanto, o entendimento do funcionamento do banheiro público é dinâmico, baseado nas relações de cuidado com o corpo e com o ambiente físico, levando em consideração cada um dos elementos do tripé (construção, utilização e manutenção).

Apesar de todo um desenvolvimento tecnológico que permite a construção desse

aparato urbano para o cuidado com as necessidades fisiológicas e que implicam no cuidado com o corpo, na saúde individual e coletiva, esse ambiente físico é utilizado e mantido inadequadamente. A sociedade não tem conseguido resolver a questão do cuidado com os dejetos humanos o que está diretamente relacionado ao bem estar de seus cidadãos e é mediado pelo cuidado do ambiente físico.

Partindo dos recursos teóricos da psicologia ambiental, o banheiro público será apresentado como um objeto de estudo da psicologia, na interrelação pessoa-ambiente físico, com foco nos aspectos dessa dinâmica traduzidos tanto no espaço físico quanto no comportamento dos seus usuários.

Utilização do banheiro público

Manutenção do banheiro público

Construção do banheiro público

Cuidado com o corpo

Cuidado com o ambiente físico

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4 BASES TEÓRICAS DA PSICOLOGIA AMBIENTAL

Nesta seção apresenta-se o funcionamento do banheiro público enquanto um microcosmo sócioambiental a partir da Teoria dos behavior settings, entendendo a relação entre os ambientes físicos onde o banheiro público pode ser inserido, a importância da privacidade e os aspectos de territorialidade e a relação público-privado. Esses elementos teóricos auxiliam no entendimento da interrelação pessoa-ambiente físico, enfocando os comportamentos que ocorrem no banheiro público como uma unidade ambiental natural onde os componentes psicológicos e físicos atuam em sinomorfia.

4.1 Teoria do Behavior setting

A Teoria do Behavior setting de Barker e colaboradores (Barker, 1968; Wicker, 1983), também conhecida como psicologia ecológica, concebe o comportamento humano com base na sua inserção nas circunstâncias físicas descrevendo os padrões de comportamento que ali ocorrem. A tradução literal do termo behavior setting é o contexto no qual ocorre uma série de comportamentos e que explicita a interrelação comportamento-ambiente físico. Como será visto adiante, a teoria tenta entender essa relação de maneira molar. A tradução que comumente é feita do termo para o português é cenário comportamental que não permite demonstrar a relação dinâmica entre esses dois componentes. Portanto, utilizaremos o termo em inglês, como fazem Carneiro e Bindé (1997) e Barreto (2009).

Um behavior setting é precisamente delimitado no tempo e no espaço, onde ocorrem padrões estáveis de comportamento (Barker, 1968, p. 18). Pode ser subdividido resguardando as características físicas, temporais e as inter-relações entre seus

componentes humanos e não-humanos, ou pode ser entendido na ecologia de seus elementos componentes. Uma universidade, por exemplo, é formada por diferentes ambientes físicos que podem ser considerados diferentes settings. Esses ambientes físicos podem ser a sala de aula, a secretaria, o refeitório e o banheiro. Há uma interdependência interna entre seus componentes humanos e não-humanos, por meio de um programa comportamental, como pode ser observado na Figura 2. Além disso, há uma interdependência externa no ambiente ecológico onde os behavior settings estão organizados. Por exemplo, cada setting da universidade desempenha uma função no todo. As circunstâncias físicas de um behavior setting podem ser estáveis, como instituições religiosas ou utilitárias, como cursos em escolas ou hospitais. Já os padrões de ocorrência dos comportamentos são apresentados como as rotinas e as regras dos comportamentos definidos pelas pessoas relacionados às circunstâncias físicas definidas. Pode ser definida também como “uma articulação teórica dos acontecimentos da vida diária” (Carneiro & Bindé, 1997, p. 01).

A teoria se propõe a investigar os contextos nos quais o comportamento ocorre (Wicker, 1983) para então poder predizer o comportamento dos indivíduos, como uma forma de “desenvolver métodos e conceitos para lidar com o ambiente ecológico do comportamento humano molar” (Barker, 1968, p.01). A grande contribuição dessa teoria para a psicologia ambiental é permitir a identificação de unidades ambientais naturais e fornecer ferramentas teóricas para o entendimento do seu funcionamento (Wicker, 2002).

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Figura 2: Representação gráfica da relação entre os principais elementos de um behavior setting.

Nem todos os acontecimentos da vida diária podem ser chamados de behavior settings. Para um determinado ambiente físico ser considerado como um behavior setting, primeiro esse ambiente físico deve ser público, ou seja, estar fora da esfera privada e atender alguns critérios ou propriedades variáveis que o caracterizariam como um setting (Wicker, 1983). As propriedades se referem à localização geográfica, delimitação temporal, população participante, modelos de ação, mecanismo de comportamento, inserção e função nesse ambiente físico, pressão regulatória, autonomia e bem-estar (Barker, 1968).

Para testar se um ambiente físico poderia ser considerado um behavior setting, Barker (1968) investigou se havia uma sinomorfia comportamento-meio, ou seja, se havia uma interdependência entre comportamento e ambiente físico. Para isso utilizou cinco critérios principais. 1. Se havia um padrão de comportamentos, ou seja, se os comportamentos que ocorriam ali eram independentes das pessoas que os desempenhavam; 2. Se esses comportamentos eram ligados a um meio particular complexo que apresentaria as propriedades descritas acima; 3. Se ocorriam em um determinado tempo-espaço; 4. Se ocorria com sinomorfia entre comportamento e o ambiente físico onde o comportamento ocorria; 5. Se o ambiente físico era circundante ao comportamento.

Além desses critérios, para complementar a descrição de um behavior

setting apresenta-se ainda três conceitos adicionais. São conceitos que tratam do funcionamento geral de qualquer behavior setting, já levando em consideração as propriedades descritas. O primeiro conceito é de circuitos de programa e auxilia na compreensão de que atividades sempre ocorrem de maneira similar no setting. O segundo conceito é circuitos de manutenção, que viabiliza a manutenção do sistema do setting como um todo. O último conceito se refere aos genótipos do behavior setting. São settings que podem ser agrupados quando possuem programas semelhantes em vários níveis de abstração. Por exemplo, todas as aulas de matemática do terceiro ano em uma determinada escola podem ser consideradas pertencentes ao mesmo genótipo ou todos os postos de gasolina de uma determinada cidade (Barker, 1968; Carneiro & Bindé, 1997; Sommer & Wicker, 1991).

4.1.1 O banheiro público como um behavior

setting

Com base nos critérios expostos para classificação de um behavior setting e os conceitos associados ao seu funcionamento, o banheiro público é analisado para saber se o mesmo atende a esses critérios e se os conceitos se aplicam a ele. De forma geral, o intuito da aplicação da teoria dos behavior settings ao banheiro público é para auxiliar num melhor entendimento e descrição dos comportamentos que ocorrem nesse ambiente físico, embasar o entendimento do

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Bases teóricas

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mesmo como um objeto de estudo da psicologia ambiental e contribuir para a expansão dos conceitos da teoria de Barker (1968) para outros contextos que também exibem padrões comportamentais em sinomorfia com o ambiente físico.

Inicialmente, o banheiro público já atende à primeira condição, ser um ambiente físico público. É normalmente dividido em dois settings distintos (feminino e masculino) ou pode se cingir a apenas um cenário, sendo utilizado de forma unissex. Sua localização geográfica é fixa e determinada em função da relação que ocupa com os outros espaços ou das necessidades funcionais de cada local. Por exemplo, nos restaurante é normalmente localizado longe da cozinha; em shoppings deve se localizar em um ponto de fácil acesso, com proximidade a bebedouros, cabines telefônicas ou outros aparatos de utilidade pública; em universidades e outras instituições de ensino se localizam em pontos estratégicos que permitam o acesso à maioria dos frequentadores da instituição. Já em lojas de departamentos ou em supermercados comumente ficam em um local de difícil acesso para evitar que não-clientes o utilizem. Em prédios comerciais são mantidos trancados sendo necessário requisitar a chave para sua utilização.

A delimitação temporal refere-se à ocorrência sequencial determinada das atividades com uma duração pré-estabelecida. A utilização do banheiro público é determinada prioritariamente pelas necessidades fisiológicas de cada pessoa. A duração da permanência do usuário varia também em relação a qual necessidade fisiológica será atendida e quais outros itens físicos do banheiro serão utilizados. Há uma dificuldade em atribuir essa propriedade ao banheiro público pela variabilidade de ocorrência de sua utilização e duração para a mesma pessoa e para diferentes pessoas.

A população que utiliza o banheiro público é aquela que tem acesso ao ambiente onde o banheiro está localizado, seja um

shopping, um supermercado ou outro espaço público. A utilização também ocorre em função do tipo de banheiro público (feminino, masculino, infantil, para pessoas com necessidades especiais).

O principal modelo de ação no banheiro público, isto é, nos termos da teoria do behavior setting, “programa” pode ser descrito como de cuidado físico para a satisfação das necessidades fisiológicas, o cuidado com a higiene corporal e com a aparência física. Este conjunto de comportamentos são tratados no presente trabalho como o script de sua utilização. O principal mecanismo de comportamento é motor, havendo uma sequência motora de comportamentos pré-estabelecidos socialmente para a sua utilização.

O aspecto de inserção e função dos indivíduos nesse ambiente físico ocorre por meio das posições sociais e funcionais. Elas se dividem basicamente entre quem utiliza, quem cuida da sua manutenção e quem fiscaliza a manutenção. Quem utiliza é qualquer pessoa que tenha acesso ao banheiro, inclusive, quem cuida da sua manutenção. Essa utilização compreende os aspectos relacionados ao cuidado físico com o corpo. Quem cuida da manutenção são os funcionários da limpeza que têm a responsabilidade de manter o banheiro público sem nenhum vestígio de utilizações prévias e em condições agradáveis de utilização, além de serem submetidos à instância organizacional que regula o funcionamento do ambiente onde o banheiro se localiza e fiscaliza o seu estado de limpeza. Nem sempre existe quem fiscaliza e, quando existe, nem sempre exerce esta função. Os usuários também podem sinalizar a qualidade desse ambiente físico, função também nem sempre exercida pelos mesmos.

As condições de utilização do banheiro público também se relacionam à pressão regulatória das pessoas nesse cenário. Quanto maior a quantidade de pessoas utilizando o banheiro, maior a quantidade de vestígios comportamentais e maior a

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necessidade de manutenção por parte do pessoal da limpeza. Quando há uma grande quantidade de pessoas utilizando o banheiro, os próximos usuários podem esperar a liberação dos itens físicos ou podem procurar outro banheiro mais vazio e provavelmente em melhores condições de uso. Portanto, a quantidade de pessoas nesse cenário também é regulada em função da quantidade de pessoas no ambiente onde o banheiro público está inserido (restaurante, shopping, rodoviária, etc.) e em função da quantidade de banheiros que aquele ambiente possui. Logo, a autonomia no banheiro público é pequena já que não há nenhum mecanismo regulador da sua utilização senão a possibilidade de acesso ao ambiente onde ele se localiza. Normalmente, os seus usuários utilizam da autonomia de não frequentar aquele banheiro público em função da qualidade de limpeza apresentado pelo mesmo.

O bem-estar no banheiro público é proporcionado pela adequação do ambiente físico aos seus usuários e pelas condições de apresentação desse ambiente físico. A adequação se refere às características demográficas (e.g.: idade e sexo) e a alguma necessidade especial (e.g:. cadeirantes). As condições de apresentação ao seu usuário se referem à limpeza, à acessibilidade e à frequência de utilização das suas cabines, permitindo seu uso imediato ou, ainda, de qualquer outro item físico que o banheiro público ofereça como espelhos ou pia e a frequente manutenção dos mesmos.

Esses são os principais pontos utilizados para caracterizar o banheiro público como um behavior setting. Além destes, são aplicados ao banheiro público conceitos específicos para o seu funcionamento enquanto um setting. O primeiro conceito é o circuito de programa que se apresenta no banheiro público por meio de todas as atividades de cuidado com o próprio corpo e que são desempenhadas de acordo com um padrão, já que são todas aprendidas socialmente e sua variação é mais topográfica que funcional.

O segundo conceito é do circuito de manutenção que se dá através da manutenção do banheiro público e é feita pelo pessoal da limpeza, quase que exclusivamente. Como foi exposto anteriormente, a história desse aparato urbano desvinculou os seus usuários do seu cuidado, atribuindo esse cuidado inicialmente aos escravos (tigres) e atualmente aos funcionários responsáveis pela limpeza.

O último conceito é o genótipo que permite, em um nível de abstração, entender que todos os banheiros públicos possuem um programa semelhante independente da sua localização nos diferentes ambientes, do seu tamanho e de sua aparência estética. Aplicando integralmente o conceito de genótipo, Sommer & Wicker (1991) classificam os behavior settings com base numa taxonomia de ambientes. Utilizando essa taxonomia, os banheiros públicos podem ser classificados como da Família de serviço de utilidade pública, com um Genótipo de banheiro público, Subgenótipo como feminino, masculino, infantil e Behavior setting como banheiros públicos de um shopping e universidades, por exemplo.

Conforme exposto, o banheiro público atende a todos os critérios propostos por Barker (1968), com exceção ao terceiro critério no que se refere ao aspecto temporal. Não há um horário pré-determinado para a utilização do banheiro público, nem um tempo pré-estabelecido para a duração dessa utilização. Portanto, analisando rigorosamente, o banheiro não poderia ser considerado um behavior setting já que os três primeiros critérios são determinantes para que um contexto possa ser considerado um behavior setting.

O argumento de que o banheiro público é um behavior setting se baseia na literatura. Na lista de potenciais behavior settings apresentada por Barker (1968) há Girls Locker Room ou vestiário feminino. Este ambiente possui um funcionamento temporal semelhante ao do banheiro público por não ter uma delimitação de tempo fixa.

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Bases teóricas

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Cada usuária permanece no vestiário o tempo necessário para se arrumar. Mesmo assim, foi considerado pelo autor um behavior setting potencial. Correspondentemente, o banheiro público possui um script básico: entrar no banheiro, utilizar a cabine ou o mictório - dar descarga, ir para área da pia – lavar as mãos e sair. Entretanto, este script básico pode ser ligeiramente alterado em função do momento em que o banheiro público será utilizado, em função da presença de outras pessoas e das condições físicas desse ambiente físico. Portanto, a questão temporal pode ser abordada no banheiro público como um componente do seu programa de utilização, mantendo o aspecto dinâmico do entendimento da relação de sinomorfia entre comportamento e ambiente físico.

As investigações de ambientes físicos que podem ser agrupados em um mesmo genótipo é o aspecto teórico mais viável empiricamente da teoria (Sommer & Wicker, 1991). Wicker (1983) defendeu a necessidade de extrapolar o estudo da teoria dos behavior settings para outros contextos. Sommer & Wicker descreveram um posto de gasolina como um behavior setting. Como no banheiro público, a frequência dos fregueses para compra do combustível é variável, além da duração da permanência no estabelecimento ser em função da quantidade de combustível comprada ou da utilização de outros serviços oferecidos. Com base nesses argumentos, no presente trabalho, o banheiro público será considerado um behavior setting com a proposta de ampliar sua aplicação para um novo ambiente físico do cotidiano.

A seguir serão descritos aspectos teóricos que complementam a caracterização do banheiro público como um objeto de estudo da psicologia ambiental. O foco é na relação molar e na relação temporal já introduzidas pela teoria de Barker, além de tratar da dinâmica público-privado e dos conceitos de privacidade e territorialidade.

4.2 Relações entre os ambientes físicos

A teoria dos behavior settings auxilia na descrição do que ocorre dentro de cada setting e na relação entre os settings. Do mesmo modo que Barker (1968) estava interessado em entender a relação molar entre comportamento e ambiente físico, Russel e Ward (1982) inseriram na análise molar o trajeto que liga um espaço ao outro e que inclui também a dimensão temporal. Mas, sua proposta de análise se baseia na “organização do comportamento em um nível subjetivamente significativo – o nível em que cada pessoa planeja seu dia, vai ao trabalho e volta para casa – o nível de importância tanto prática quanto teórica” (p. 652). Esses autores estão interessados em entender como o trajeto e a passagem do tempo influenciam o comportamento dos indivíduos e a coerência dos mesmos com os espaços ora ocupados.

Similarmente a Barker, afirmaram que os comportamentos dos indivíduos são coerentes com o local onde eles ocorrem, cada local tem seu script comportamental e as pessoas não se comportam necessariamente desta ou daquela forma quando se dão conta que estão em um determinado lugar, mas que vão a esse lugar para se comportar dessa ou daquela forma.

As pessoas chegam a um lugar com alguma informação sobre ele e com algum planejamento, porque à medida que elas vão se deslocando no espaço, vão organizando suas ações tanto no tempo quanto no espaço. O planejamento das ações sempre ocorre em algum lugar, no entanto, não é dependente do espaço, mas do grau de conhecimento que o indivíduo tem em relação ao local que ele está planejando sua ação, já que o planejamento da ação em um determinado local pode ocorrer antes da pessoa chegar, ou após a sua chegada. A proposta é conceber a relação espaço-tempo a partir do deslocamento das pessoas no espaço e da ligação entre os diferentes ambientes ou settings.

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Sendo que “o ambiente físico é um complexo de lugares próximos e distantes, psicologicamente arrumados de tal forma que cada lugar é parte de um lugar maior e que pode ser dividido em partes menores” (Russel & Ward, 1982, p.654), os diferentes lugares passam a ser interligados em função da experiência do indivíduo nos mesmos e da maneira como ocorre o planejamento da ação em cada um desses espaços, incluindo nesse processo, o deslocamento do indivíduo no espaço e a sua configuração física.

4.2.1 O banheiro público inserido em outro

ambiente físico

Como tratado a partir da teoria do behavior setting, a relação temporal no banheiro público não é regulada previamente, mas em função de que necessidades ela vai atender no momento da sua utilização. Uma das peculiaridades é que no planejamento das ações no espaço o banheiro público normalmente não é incluído, uma vez que sua utilização não depende das ações conscientes do indivíduo, mas da necessidade fisiológica do seu corpo que está sob o controle indireto (quantidade de água ingerida, tipo de alimentação feita, etc.).

O uso do banheiro público pode ser descrito em função da disposição espacial dos diferentes ambientes físicos e de como é o trânsito das pessoas nesse espaço. O banheiro público normalmente é inserido em outro ambiente físico que possui suas peculiaridades e oferece certo grau de acesso a ele, dependendo das características das atividades ali realizadas.

A forma como o indivíduo planeja sua ação nos diferentes ambientes depende do grau de conhecimento que ele possui acerca de cada ambiente físico. O banheiro público é um ambiente físico que se frequenta eventualmente. Não necessariamente se tem um conhecimento a respeito do banheiro público daquele determinado ambiente físico quando se decide frequentá-lo. No entanto,

os banheiros públicos não variam muito em termos de atender às necessidades fisiológicas. Variam em termos estéticos, na característica de seus frequentadores e como é feita a sua manutenção.

O planejamento da sua utilização é relacionado ao que já se sabe sobre os demais banheiros públicos, sobre o banheiro público a ser utilizado e sobre o ambiente físico maior que insere o banheiro público. O banheiro público é entendido como inserido em um ambiente maior e interessa saber se os comportamentos de sua utilização podem ser influenciados pela relação estabelecida entre os indivíduos e o ambiente maior, bem como, saber da relação desses indivíduos com esse ambiente maior. Ou seja, está se tratando de diferentes territórios.

4.3 Privacidade e territorialidade

A territorialidade mostra como o ambiente físico tem uma clara função na interação social. Lyman e Scott (1967) conceberam a territorialidade como uma atividade fundamental humana. A importância do ambiente físico para os indivíduos e grupos pode ser vista a partir da forma como organizam esse espaço. Com origem nos estudos da etologia, o conceito de territorialidade está diretamente relacionado ao conceito de privacidade e é bastante aplicado na psicologia ambiental.

O conceito envolve o estabelecimento de uma regulação para a utilização de um determinado espaço físico. Essa regulação é feita por um grupo ou por um indivíduo, caracterizando a posse desse espaço como permanente, temporária ou esporádica. O conceito de territorialidade é um padrão de comportamentos e atitudes de um indivíduo ou um grupo, envolve a possessão, defesa, personalização e marcação de um lugar, variando de acordo com a situação ou o momento (Altman, 1975; Gifford, 2002).

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Figura 3: Representação gráfica da relação entre os conceitos de privacidade, territorialidade, apinhamento e espaço pessoal.

Como um mecanismo no processo de estabelecimento das fronteiras interpessoais e grupais, a territorialidade possui íntima relação com três outros conceitos: privacidade, espaço pessoal e apinhamento. A privacidade é o conceito central, como se pode observar na Figura 3. Os mecanismos de regulação interpessoal estão em ação para garantir uma regulação do acesso a si e/ou ao grupo. O objetivo final é chegar a um nível ótimo de privacidade por meio da modulação entre a privacidade ideal desejada e a privacidade que a situação e os mecanismos de regulação permitem.

Por meio da utilização desses mecanismos e de outros, tanto verbais quanto não-verbais, o ambiente físico funciona como regulador da interação social e da privacidade. A análise desses mecanismos de regulação interpessoal citados - espaço pessoal, territorialidade e apinhamento - permite a inferência de como os outros mecanismos podem estar funcionando na regulação da privacidade. Esses quatro processos de gerenciamento do espaço se sobrepõem já que todos se referem ao controle que se tem do acesso a si (Gifford, 2002).

As diferentes características de cada tipo de território sinalizam qual grau de

privacidade é ali permitido e que tipo de privacidade é regulada. Altman (1975) distingue três tipos de territórios: primários, secundários e terciários ou públicos. Eles diferem-se na medida em que um território é central ao indivíduo ou grupo ou o quanto é ligado ao cotidiano. As duas dimensões que auxiliam na classificação dos territórios são a dimensão social - os grupos envolvidos e a dimensão temporal. Utiliza-se a denominação grupo primário – muito próximo, como a família e amigos – grupo secundário – razoavelmente próximo, como colegas de trabalho e grupo terciário ou público – com alguma relação social como pertencer à mesma associação ou país. A dimensão temporal refere-se à duração ou permanência nos territórios, isto é, breve, média e longa permanência no espaço.

Os territórios primários são definidos como aqueles territórios de uso ou posse exclusiva de indivíduos ou grupos, como a própria casa, onde é permitido grande personalização do espaço (e.g., com fotos pessoais). Há um grande poder de regulação da privacidade, a entrada nesse território necessita de permissão e a sua violação é muito grave e não há limite de permanência.

Os territórios secundários são menos centrais, menos permanentes e exclusivos. A

Territorialidade

Privacidade

Espaço pessoal

Apinhamento

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personalização é mais relacionada à presença física da pessoa ou a objetos específicos, por exemplo, sentar na mesma mesa do restaurante. A restrição de uso pode ser formal ou informal, o uso normalmente é frequente com permanência de tempo médio a longo. Pode ser considerado uma mistura de um território semi-público com controle regular dos ocupantes.

Os territórios terciários ou públicos, por sua vez, são temporários e, a princípio, qualquer pessoa tem acesso, mas a ação é regulada pelo que a cultura considera apropriado para um comportamento público e quase nenhuma personalização é permitida.

Uma das formas de se identificar um território é quando ele é invadido e como os indivíduos ou grupos se comportam para defendê-lo. Lyman e Scott (1967) descreveram três formas de intrusão: violação, quando o território é utilizado sem autorização, sendo mais comum em territórios secundários e públicos pela característica do acesso; invasão, quando há a presença física não autorizada no território que ocorre principalmente com os territórios primários, incluindo, o espaço pessoal e; contaminação, quando um território se torna impuro com relação a seu uso e sua definição. Tal intrusão pode ocorrer em todos os três tipos de territórios.

4.3.1 O banheiro público como um território

terciário

O conceito de territorialidade no banheiro público diz respeito à relação público-privado. Os banheiros podem ser divididos em uma porção pública (área da pia) e uma porção privada (cabine). Podem também ser diferenciados dos banheiros residenciais com características privadas e em função do gênero. Essa relação público-privado pode se caracterizar, de um lado, pela busca da privacidade como forma de se utilizar os espaços e, de outro lado, pelo uso de bens públicos. Essa caracterização

permite que se extrapole do aspecto eminentemente físico para se incluir os valores associados a um território público e como esses valores influenciam o comportamento dos indivíduos nesses ambientes.

Como o banheiro público é caracteristicamente dividido em dois territórios, parte pública e parte privada, o foco do presente trabalho é no aspecto da territorialidade e de seu papel na regulação da privacidade. Uma caracterização dos territórios pode auxiliar na análise dos comportamentos que ali ocorrem, na sua função na mediação da interação e na sua interrelação. O conceito de territorialidade será utilizado para demonstrar como a privacidade é permitida em cada área do banheiro público e como a necessidade de regulação do acesso ao indivíduo pode explicar os comportamentos ali observados.

Apesar de ter sido criado nos moldes de um ambiente privado, o banheiro público não permite que o indivíduo tenha o mesmo controle sobre a sua privacidade e sobre o contato com aspectos privados de outros indivíduos. A forma de utilização do banheiro público vai refletir as estratégias desenvolvidas por seus usuários para garantir a privacidade a uma atividade que nessa cultura é claramente do âmbito do privado, mas que tem que ser realizada num território terciário que permite a demarcação do território apenas durante a sua presença naquele espaço.

A definição de um banheiro como público ou como privado não depende apenas de suas características físicas, mas também em que tipo de território está localizado (primário – a casa; secundário – o escritório; terciário – shopping), o fluxo de pessoas que o utiliza, do grau de intimidade (conhecidas ou desconhecidas), das funções que ele tem que atender - necessidades fisiológicas e higiene pessoal (toalete básica com escovar os dentes ou o banho) e o grau de exposição do corpo (Tabela 4.3.1.1).

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Bases teóricas

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Tabela 4.3.1.1. Variáveis envolvidas na caracterização de um banheiro como público ou privado.

Característica do Banheiro

Tipo de território Intimidade Acesso/Fluxo de pessoas

Grau exposição do corpo

Primário Secundário Terciário Alta Baixa Alto Baixo Alto Baixo Privado x x x x x Público x x x x x O banheiro de casa pertence a um

território primário, todas as pessoas que têm acesso a ele fazem parte de um grupo íntimo, tem um baixo fluxo de uso e permite realizar as atividades de higiene pessoal e atender às necessidades fisiológicas sem expor o corpo a outra pessoa que não seja

extremamente íntima. Podemos considerar também um banheiro privado em um território secundário como o banheiro privativo de um determinado grupo de pessoas que trabalham juntas e que têm o controle do acesso a esse banheiro.

Figura 4: Representação gráfica dos diferentes tipos de intrusões em um território.

O banheiro de um shopping pertence a um território terciário. Ele é utilizado por várias pessoas diferentes, o que impede maior intimidade entre elas, há um alto grau de exposição do corpo, já que qualquer atividade que você realizar na área pública do banheiro será vista por várias pessoas. Permite a toalete, mas não o banho e garante atender às necessidades fisiológicas.

Apesar de em outras culturas ser um evento social (Kira, 1966/1976; Mehrabian, 1976) partilhado com outras pessoas, o banho para higiene pessoal é uma atividade na nossa cultura comumente realizada na residência, porque exige um grau de exposição do corpo maior que o alívio das

necessidades fisiológicas. Uma maior exposição pública do corpo durante situações de banho também ocorre na nossa cultura, mas são pontuais e relacionadas a uma situação específica, como o banho em um clube de esportes, após algum tipo de exercício físico. Como já descrito, um banheiro próximo ou semelhante a um toilette é mais caracteristicamente um banheiro público, enquanto que um banheiro mais próximo de uma sale du bain é um banheiro privado.

Para finalizar a análise do banheiro público como um território tratar-se-á das formas de identificação e defesa de um território a partir da intrusão de um

Violação

Território

Contaminação

Invasão

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indivíduo ou grupo. Lyman e Scott (1967) descreveram três formas de intrusão como sendo a violação, invasão e contaminação (Figura 4). A violação no banheiro público pode ser descrita quando alguma cabine é utilizada para guardar material de limpeza ou outros objetos, impedindo a sua utilização pelos seus frequentadores. Já os profissionais responsáveis pela limpeza do banheiro fogem a essa dinâmica e têm outras necessidades que não são atendidas pela configuração do banheiro público, dentre elas, guardar os materiais de limpeza e outros objetos pessoais.

A invasão ocorre quando alguém do sexo oposto entra no banheiro público. Isso vale tanto para homens entrando no banheiro feminino quanto mulheres entrando no banheiro masculino. A reação dos usuários é imediata, tanto de incômodo quanto de avisar ou sinalizar que a pessoa entrou no banheiro errado. Vale destacar que no banheiro masculino há também uma forte reação à invasão do espaço pessoal por outro usuário, em função da existência dos mictórios, o que altera totalmente o funcionamento desse espaço, comparado com o banheiro feminino, onde a preocupação maior é com a invasão de um indivíduo do sexo oposto.

A contaminação parece ser a intrusão mais característica do banheiro público. Os vestígios dos outros usuários do banheiro são percebidos como potenciais ameaças ao próximo usuário. E como esse ambiente físico é o local onde alguns vestígios corporais devem ser eliminados, há sempre a possibilidade de contato com os vestígios do usuário anterior, caso não haja um cuidado com a manutenção do ambiente físico. A reação dos usuários envolve evitar a utilização do banheiro público ou parte dele, por exemplo, uma determinada cabine.

4.4 Teorias da relação público-privado

Os espaços urbanos são divididos em públicos e privados, bem como os banheiros. Para entender a diferença na forma de

utilização do banheiro residencial e do banheiro público, pretende-se abordar essa divisão de duas formas. Primeiro enfocando como historicamente se estabeleceram os critérios de separação e utilização do que é público e privado (DaMatta, 1997; Arendt 1958/2004; Rodrigues, 1983) e analisando os comportamentos de regulação que ocorrem nos diferentes ambientes em função do grau de privacidade permitido e obtido (Altman, 1975). Segundo, estabelecendo que a relação entre o conflito do público com o privado implica em como os bens públicos são tratados por seus usuários.

Há uma tensão na sociedade ocidental entre o que é público e o que é privado, podendo se falar em uma oposição de usos e de significados desses dois ambientes e um movimento de valorizar o espaço privado em oposição ao espaço público. Essa tensão é descrita na definição de espaço público como o palco sobre o qual o drama da vida comunitária se desenrola (Carr, Francis, Rivlin & Stone, 1995).

Para entender esse movimento, Arendt (1958/2004) define o que é público a partir de dois aspectos. Por um lado como “tudo o que vem a público pode ser visto e ouvido por todos e tem a maior divulgação possível” (p. 59). E, por sua vez, “enquanto mundo comum reúne-nos na companhia uns dos outros e, contudo, evita que colidamos uns com os outros, por assim dizer” (p. 62). Apesar de descrever aspectos diferentes do que se pode chamar de público, essas definições são difíceis de serem aplicadas na realidade atual. Segundo a autora, há um declínio da esfera pública em função da intimidade de uma vida privada. A existência de espaços públicos na sociedade atual se complica em função do público passar a ser um meio de se garantir o privado, não havendo uma harmonia ou um equilíbrio entre as duas esferas.

O foco atual parece ser no controle de acesso que os outros têm sobre o indivíduo, o que corresponde, perfeitamente, com a definição de privacidade de Altman (1975). Baseado nesta definição, não há um interesse

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Bases teóricas

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de que tudo venha a público, que possa ser visto e ouvido por todos, que tenha a maior divulgação possível. Ao contrário, a forma para evitar colisões entre os membros da sociedade, não é partilhando um mundo comum, mas controlando o acesso que os outros têm a mim, ao meu mundo particular.

Essa sobreposição do privado ao público também pode ser observada especificamente no contexto brasileiro. DaMatta (1997) explicita essa relação ao estudar dois espaços, a casa e a rua. Espaços que funcionam como uma metáfora da relação entre espaços públicos e privados. Para o autor, o Brasil é uma sociedade relacional onde os contatos sociais é que são fundamentais. Há uma extrapolação do funcionamento privado para o público, em função do foco nos contatos sociais pessoais em detrimento dos interesses comunitários. O autor descreve a cidadania da rua como um espaço público negativo e perigoso, porque é constantemente ameaçada pelas relações individuais.

A rua para DaMatta é representada pelo eixo das leis impessoais que tradicionalmente são feitas visando corrigir uma prática social “ou até mesmo a instaurar novos hábitos sociais” (DaMatta, 1997, p. 18). Ao contrário do comportamento exibido em casa, onde se ressalta o indivíduo, na rua “passamos sempre por indivíduos anônimos e desgarrados, somos quase sempre maltratados pelas chamadas “autoridades” e não temos nem paz, nem voz” (p. 20). A consequência dessa percepção se traduz nos comportamentos, na rua e também nas coisas públicas que ela encerra, de descuido e desleixo atribuindo a responsabilidade ao Estado. Sendo que, “limpamos ritualmente a casa e sujamos a rua sem cerimônia ou pejo..” (p. 20).

Esse Estado que, alheio às práticas sociais, rigidamente tenta instaurar novos processos sociais. Esse conjunto legal não parte da prática social, mas de um discurso do Estado. Isso ocorre porque nessa dinâmica do público com o privado, há uma

tendência no Brasil de se extrapolar o comportamento da casa, do privado para a rua, para o público fazendo o Estado funcionar como o espaço privado de quem ocupa o poder.

Como argumenta Arendt (1958/2004), não havendo um equilíbrio entre os dois espaços, compromete-se o funcionamento de ambos, mas principalmente da esfera pública. A comunidade perde a autonomia de decisão sobre os aspectos comuns da convivência social e fica submetida à imposição de medidas que não se originaram de sua prática social, mas de indivíduos isolados do fluxo de acontecimentos sociais.

As pesquisas em psicologia têm apresentado estratégias para investigar e explicar a relação entre o uso dos espaços e dos bens públicos, entendendo como um dilema da nossa sociedade que, no contexto atual, se tornou mais contundente pelos problemas ambientais que se têm identificado em função da ação humana. As abordagens para o problema focam no conflito entre interesses individuais e interesses coletivos.

O primeiro aporte teórico fala da Armadilha Social que envolve qualquer situação em que os reforçadores de curto prazo, momentâneos, são inconsistentes com os interesses de longo prazo da sociedade (Costanza, 1987). Essa situação se configura numa armadilha, porque inviabiliza a resolução de problemas futuros que podem comprometer todo o funcionamento da sociedade.

Outra forma de abordar o conflito de interesses individuais e coletivos é por meio do Dilema dos Comuns. Nessa situação há um conflito entre um interesse agregado coletivo e numerosos interesses individuais. Esse aporte teórico descreve as variáveis envolvidas quando se tem que partilhar algum recurso público e o interesse individual não pode superar o interesse coletivo, caso contrário, inviabiliza esse bem público (Hardin, 1968).

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Pode-se também analisar esse contexto como uma situação de competição e cooperação, na qual há uma competição pela prevalência dos interesses individuais em detrimento da cooperação para a viabilização do interesse coletivo (Ribeiro, Carvalho & Oliveira, 2004). Como aponta Nevin (2005), a sociedade ocidental está mais sob o controle das variáveis que afetam os governantes individualmente, que sobre o controle das variáveis que afetam a sociedade como um todo. Nessa configuração, o foco das recompensas recai sobre o individual (governantes) em detrimento do coletivo (sociedade).

A relação público-privado e o contato com as consequências do comportamento são as variáveis que mais se destacam nesses aportes teóricos. Ajudam a compreender porque mesmo tendo consequências danosas para a sociedade, certos comportamentos se mantém. Além disso, a literatura sugere que as pessoas não têm a percepção das consequências futuras das suas ações, o que pode ser observado diretamente no banheiro público.

4.4.1 A relação público-privado no banheiro

público

Há uma confluência de aspectos públicos e privados na concepção do banheiro público e isso é facilmente percebido na sua configuração física. No entanto, foram as mudanças nas práticas de higiene do Séc. XIV até hoje, que mostraram um crescimento do espaço privado com foco nos cuidados do indivíduo para consigo mesmo. Os banhos públicos desaparecem entre os Séc. XVI e XVII, voltaram no Séc. XIX num formato muito parecido com o atual ao garantir intimidade e privacidade (Vigarello, 1985/1996).

O banheiro, como conhecemos atualmente, está relacionado ao processo de individualização que aconteceu no fim da Idade Média. Nesse período os espaços da casa que antes não eram bem delimitados

foram se especializando. O banheiro foi então se configurando, primeiro fora da casa e depois longe da cozinha (Rodrigues, 1995). Segundo autor, com aumento populacional pós-revolução industrial (sec. XIX), foram criados os banheiros públicos onde os ideais de higiene e individualização não conseguiram se realizar completamente, pois nos banheiros públicos, embora ele seja separado por gênero e possua uma parte privada, os mictórios se localizam na parte pública. Além disso, há uma proximidade tanto física quanto contato com vestígios íntimos dos outros usuários. Esse contato íntimo com estranhos parece ser o aspecto mais peculiar do banheiro que trouxe consequências para as interações sociais e para o uso desse ambiente físico.

O banheiro público envolve um dilema social quando se observa na sociedade ocidental uma tentativa cada vez maior de privatização dos espaços. Um exemplo dessa dificuldade da relação entre um espaço que é público com características de privado numa sociedade que enfatiza o privado é o comportamento de nojo comumente exibido nos banheiros públicos (Teixeira & Bernardes, 2007). Esse comportamento muitas vezes impede a correta utilização do banheiro público já que se evita ao máximo tocar o banheiro, principalmente com as mãos, com medo de um possível contato com qualquer vestígio do usuário anterior.

Relacionando os conceitos de público, privado e privacidade expostos, a divisão social em banheiros públicos e banheiros residenciais (privados) remete aos estudos sobre a relação público-privado. A divisão na estrutura física do banheiro público em parte pública (pia, espelho e mictório) e parte privada (cabines) remete aos estudos sobre privacidade. Há uma gradação dentro do banheiro público em como esse ambiente físico garante a privacidade, entre um ambiente mais próximo de um ambiente privado – parte privada e um ambiente caracteristicamente público. O impacto dessa relação na utilização do banheiro

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Bases teóricas

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público vai depender da relação público-privado que é estabelecida socialmente.

Na sociedade ocidental, o status do público é subvalorizado em função do status dado ao ambiente privado. A relação público e privado auxilia a entender porque uma necessidade tão básica e tão socialmente funcional é tratada diferentemente no meio público e no meio residencial.

O foco no privado pode impedir, segundo Augé (1992/1994), que se

estabeleça uma vinculação com os espaços públicos. E, no caso do banheiro público, por claramente inviabilizar o atendimento das necessidades dos usuários para os quais o modelo de banheiro é o banheiro residencial e suas necessidades devem ser atendidas como tal. No banheiro público as necessidades são atendidas de maneira coletiva o que inviabiliza o foco no individual, privado e trata do dilema social da utilização de um aparato público.

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5 PROPOSTA DE ESTUDO

As características do banheiro público apresentadas a partir da Teoria do behavior setting, permitem tratá-lo como um microcosmo sócioambiental, onde ocorrem acontecimentos da vida diária numa análise molar do funcionamento do banheiro público, inserindo-o em um contexto. Primeiro, a relação espacial entre os ambientes pode impactar no comportamento de seus frequentadores e auxilia na organização da sua ação no espaço, ao se deslocarem de um espaço a outro. Segundo, o banheiro público é um território terciário normalmente inserido em outro território secundário. Terceiro, uma das funções do banheiro público é a garantia da privacidade dos indivíduos na sua utilização. Quarto, o aspecto da privacidade remete à discussão da relação público-privado e como o foco no privado pode alterar a utilização de um ambiente físico que é público.

Manter o banheiro público em condições de uso exige esforço individual e coletivo. Implica em assegurar o conforto do usuário, bem como, a salubridade da cidade. Entender que variáveis estão relacionadas ao cuidado com o banheiro público é entender de forma geral como cuidar melhor do ambiente físico. Pois, ao contrário do banheiro residencial onde o próprio usuário, com alta probabilidade, é o próximo usuário e entra em contato com as consequências da sua utilização, no banheiro público é frequente que os usuários não voltem a utilizar o mesmo banheiro. Em outras palavras, o seu comportamento não é diretamente influenciado pelas consequências de seus atos. A boa utilização de um ambiente físico envolve a noção de consequência, o mesmo aspecto focado pelas questões sócioambientais que tratam diretamente das consequências da relação pessoa-ambiente físico a partir do Novo Paradigma Ambiental .

Para tratar o banheiro público como objeto de estudo da psicologia ambiental

levou-se em consideração os aspectos históricos que mostram como se originou essa unidade ambiental natural, fruto do processo civilizador, com suas características físicas, sociais e comportamentais que viabilizaram a sua construção, manutenção e utilização. Deve ser ainda considerado um aparato social urbano que implica em um cuidado no que tange aos dejetos humanos e seu impacto na qualidade de vida.

Aproveitando a característica de ser um ambiente físico suficientemente circunscrito que permite observar e manipular algumas variáveis que dizem respeito à relação pessoa-ambiente físico, investiga-se a utilização do banheiro público de modo multimétodo para estudar o comportamento ecológico. Tendo como foco as variáveis ambientais e comportamentais relacionadas à utilização do banheiro público, circunscritas no cuidado com o corpo e no cuidado com o ambiente físico.

Os banheiros públicos escolhidos são territórios terciários em território secundário – uma universidade - tanto femininos quanto masculinos, que são mais próximos de um toilette, constando de pia, espelhos, cabine com o vaso sanitário e mictórios para o banheiro masculino. A parte da pia e espelhos é considerada a parte pública do banheiro, por expor minimamente o corpo durante as atividades ali realizadas, enquanto a parte da cabine é considerada a parte privada do banheiro, pela atividade ali realizada necessitar de uma maior exposição do corpo. Não serão investigados banheiros públicos com outras características, como por exemplo, o banheiro infantil ou exclusivamente destinado a pessoas com necessidades especiais ou banheiros químicos.

O foco do presente trabalho será a utilização e manutenção do banheiro público. A utilização é abordada por meio dos estudos da tese e a manutenção será discutida ao final com base nos resultados

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Proposta de estudo

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dos estudos empíricos e nas características físicas dos banheiros públicos estudados.

Dando continuidade à proposta de estudo, será mostrado, a seguir, como a perspectiva multimultimétodo se adéqua ao estudo de um objeto de estudo novo na psicologia ambiental e como concilia algumas características da área para assim se apresentar os objetivos da tese, seus estudos, resultados e conclusões.

5.1 Perspectiva multimétodo

O uso da abordagem multimétodo no presente estudo se justifica por motivos teóricos e pela especificidade do objeto de estudo. A psicologia ambiental é caracteristicamente multimultimétodo, utilizando-se de diferentes métodos de investigação para entender o mesmo objeto de estudo ou de diferentes objetos de estudo num mesmo contexto (Günther e Rozestraten, 1993). Sendo que “não há teoria e/ou método que, por si só, seja capaz de explicar a complexidade do comportamento humano” (Günther, 2005, p. 180), o método tem a função de possibilitar que o pesquisador realize a investigação.

A utilização de diferentes métodos de investigação acrescenta uma visão mais complementar do objeto de estudo e para que se possa ao longo desse processo fazer ajustes no método para uma melhor aproximação com o objeto (Iglesias, 2007). Ressalta-se que a determinação da escolha do método é em função do problema de pesquisa e da adequação do mesmo ao objeto estudado. A área da psicologia ambiental se beneficia da utilização de uma pluralidade de métodos por seu caráter interdisciplinar e o foco nos eventos do cotidiano, exigindo diferentes métodos para o seu estudo e sistematização pela sua complexidade.

O presente estudo faz uso tanto de métodos centrados na pessoa quanto centrados no ambiente físico, para contemplar a necessidade de uma visão

sistêmica dos eventos que ocorrem no banheiro público. Os métodos centrados na pessoa são o experimento, a observação, a entrevista, questionário e outros tipos de auto-relato. Os métodos centrados no ambiente físico são a incursão pelo local, vestígios comportamentais e mapeamento comportamental (Günther, Elali & Pinheiro, 2008).

A escolha do método também se justifica pelo aspecto privado do banheiro público, que exige a utilização de outros métodos não apenas baseados em observação. Por sua vez, por ser um ambiente físico com uma delimitação territorial clara, facilita a utilização do método quase-experimental. Essa combinação de aspectos sugere que se aplique no estudo do banheiro público os métodos de experimentação, de observação de comportamentos da área pública do banheiro, da identificação de vestígios comportamentais, além das medidas de auto-relato tradicionalmente utilizadas em psicologia.

5.2 Objetivos: geral e específicos

Como já apresentado, as características dessa unidade ambiental natural (Wicker, 2002) permitem a investigação multimétodo da relação molar comportamento e ambiente físico a partir da utilização do banheiro público. Alguns estudos tratam o banheiro público como um sistema, mas não foram encontrados trabalhos concebendo o banheiro como um microcosmo sócioambiental. Sendo assim, para uma análise molar os comportamentos de uso do banheiro público são considerados como comportamentos ecológicos, ou seja, pró e anti-ambientais. Com base nesses aspectos temos como objetivos empíricos:

(1) identificar como variáveis ambientais e comportamentais são interrelacionadas no banheiro público e alteram a sua utilização;

(2) verificar como uma intervenção em comportamentos relacionados ao uso do banheiro público altera a sua utilização;

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(3) investigar a ligação ao lugar e a apropriação do espaço relacionado ao banheiro público;

(4) verificar a relação entre o cuidado com o ambiente físico, cuidado consigo e percepção de consequência.

Deste modo, foram realizados quatro estudos que apresentam um panorama multimétodo e pretendem responder às seguintes questões: (1) que aspectos do ambiente físico (localização e suprimentos) e social (presença de outras pessoas) alteram a utilização do banheiro público; (2) como modificações (prompts) no ambiente do banheiro público influenciam o comportamento de utilização (lavar mãos e dar descarga); (3) se a ligação e apropriação do ambiente onde o banheiro está inserido (universidade) pode modular a avaliação negativa desse ambiente físico; (4) como a percepção de consequência pode se relacionar com o cuidado com o ambiente físico e o cuidado consigo. Ao mesmo tempo que constituem uma exploração acerca de um aspecto da vida cotidiana pouco estudado, inclusive, na psicologia ambiental.

O conjunto dos resultados dos quatro estudos empíricos foi integrado e relacionado ao aporte teórico da tese para atingir os seguintes objetivos teóricos:

(1) conceitualizar o banheiro público como um microcosmo sócioambiental sob a perspectiva da psicologia ambiental aplicando a teoria do behavior setting;

(2) discutir a partir do uso do banheiro público a relação público-privado como um dilema dos comuns;

(3) contribuir para a definição do que seja o comportamento ecológico, utilizando a noção de contexto, funcionalidade e equilíbrio embutidas artificialmente no termo comportamento ecológico.

Os estudos serão apresentados a seguir em um formato de artigos independentes. Esse formato pode implicar em alguma repetição de ideias, nas próximas seções de 6 a 9, em função da característica da temática, banheiro público e o seu recorte a partir da psicologia ambiental.

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6 ESTUDO 1: ANTECEDENTES COMPORTAMENTAIS E AMBIENTAIS DOS

COMPORTAMENTOS DE DAR DESCARGA E LAVAR AS MÃOS

O tema saúde aparece na literatura quando se investiga os comportamentos nos banheiros públicos. Os estudos mais frequentes são sobre o comportamento de lavar as mãos, relacionados à preocupação sanitária pelo risco de contaminação (Drankiewicz & Dundes, 2003; Guinan, McGuckin-Guinan & Sevareid, 1997; Uzzell, 2005). Os resultados dos estudos mostram que as pessoas não lavam as mãos quando usam o banheiro público ou simplesmente não frequentam o banheiro.

Durante quatro semanas, Guinan et al. (1997) observaram a frequência de lavar as mãos em 120 estudantes secundaristas. Utilizaram uma planilha que identificava o gênero, o banheiro observado, o uso de sabão e o tempo de lavagem das mãos (maior ou menor que 5 segundos). Os observadores tinham um relógio de pulso para esse registro.

Os resultados mostraram que os homens lavam menos as mãos, mais rapidamente e utilizam menos sabão que as mulheres. De forma geral, as pessoas não lavam as mãos e quando lavam é por um período curto, não garantindo a efetividade da lavagem. No entanto, a média de frequência de lavagem das mãos em ambos os gêneros foi em torno de 50% das vezes que foram ao banheiro. Os autores não discutem quais as variáveis que poderiam estar associadas a essa baixa frequência de lavagem das mãos, apenas falam da necessidade de se mudar essa situação. O foco é na preocupação sanitária, com a saúde do usuário que não lava as mãos.

Kira (1966/1976) ao analisar os parâmetros ergonômicos do uso do banheiro relacionou seu uso ao contexto sociocultural. As pessoas lavam as mãos e dão descarga porque estão na presença de outras pessoas, enfatizando o aspecto social do banheiro e a relação desse comportamento com a privacidade.

Em relação ao cuidado com a saúde comunitária, a disponibilidade de um banheiro público acessível à população é importante para a saúde pública. Tanto que médicos do Hospital das Clínicas em São Paulo, elaboraram o guia “Banheiros em São Paulo,” na tentativa de auxiliar a população na utilização desse serviço público, além de chamar a atenção das autoridades para a questão (Barros & Pinho, 2009).

No entanto, não basta a simples existência de banheiros públicos, estes devem estar em condições de uso. As condições do ambiente físico do banheiro também impactam na sua utilização (Uzzell, 2005). As condições de uso envolvem a ausência de vestígios de outros usuários, a presença de suprimentos (água, sabão, papel), a qualidade dos itens físicos tanto no aspecto de funcionamento quanto no aspecto estético e a garantia de privacidade. Sendo que, a manutenção do banheiro por uma equipe de limpeza é fundamental para que o mesmo esteja em boas condições.

Dois estudos abordaram o trabalho de limpeza dos banheiros e relatam como esses trabalhadores são desvalorizados e relacionados ao produto do seu trabalho, gerando uma invisibilidade social (Pathak, 2004; Diogo, 2007). Ao contrário, a equipe de limpeza deve ter reconhecimento, treinamento e respeito, por desempenhar um papel importante na garantia da saúde coletiva (Greed, 2006).

A melhoria da qualidade dos banheiros públicos deve ser baseada no tripé: construção, manutenção e usuários (veja Figura 1). A equipe de limpeza é a principal responsável pela manutenção, sendo necessário se conciliar o fluxo de uso do banheiro com a frequência de limpeza do mesmo. Dessa forma, é estratégico para se ofertar um banheiro público de qualidade que os profissionais responsáveis por sua limpeza sejam devidamente remunerados e capacitados para

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que promovam adequadamente a manutenção desse ambiente físico.

A manutenção do banheiro público está diretamente relacionada ao perigo que esse ambiente físico oferece para a saúde. No entanto, o risco de contágio no banheiro público é questionado pelo estudo de Coelho et al. (1999). Os autores não encontraram correlação significativa entre a contaminação nos vasos sanitários e nas fezes de crianças usuárias desses banheiros públicos. Os resultados sugerem que parece haver forte relação entre a percepção de um banheiro sujo e a percepção de que esse ambiente físico está contaminado.

As concepções de limpeza e sujeira envolvem também o conceito de perigo e a necessidade de um processo de purificação para não permitir a contaminação por microorganismos (Douglas, 1966/1991). Por sua vez, a sujeira no banheiro público não é proveniente apenas dos dejetos humanos, mas dos suprimentos como água, sabão e papel utilizados de maneira incorreta e de outros objetos ou produtos trazidos para o banheiro público. O processo de limpeza do banheiro público pode ser considerado um ritual de purificação que atende essa necessidade. Senão, não poderíamos da mesma forma, utilizar o banheiro de casa.

A função do banheiro público na cidade é impedir que o meio urbano passe a ser um local de distribuição de organismos patogênicos. É considerado um local de transmissão desses organismos em função da presença dos dejetos humanos (Greed, 2006). No entanto, na falta de banheiros públicos, o ato de urinar nas ruas, por exemplo, é uma solução anti-sanitária que ameaça toda a comunidade. O banheiro público permite o cuidado com a lavagem das mãos e a correta eliminação das necessidades fisiológicas, propiciando um cuidado da saúde da comunidade como um todo.

A preocupação com a contaminação impede que os usuários utilizem adequadamente o banheiro público. Os banheiros públicos são avaliados

negativamente como sujos, desagradáveis e mal cheirosos. A partir de um estudo investigando a utilização por estudantes universitários de banheiros públicos e a sua percepção quanto dos encarregados pela limpeza (Todeschini, Pinto & Delabrida, 2004) observou-se que, apesar de ser um aparato público bastante freqüente no contexto urbano, a sua utilização envolve altos custos. Há uma percepção negativa dos banheiros públicos por parte dos usuários e uma percepção negativa dos encarregados sobre os usuários. Além disso, a regra é não tocar em nada com as mãos, evitar que o outro usuário perceba o que se passa na cabine e no mictório, manter distância, com o olhar fixo na parede (Uzzell, 2005).

Segundo Teixeira e Bernardes (2007) o comportamento de nojo, ou seja, medo ou incômodo das secreções ou vestígios de outra pessoa, modifica a utilização do banheiro público. Os autores investigaram os banheiros públicos de uma universidade para identificar os usos e as percepções da água. A hipótese do estudo era que os banheiros públicos da universidade poderiam ser fonte de desperdício de água. No entanto, encontrou-se que as pessoas não gastam tanta água no banheiro como deveriam, simplesmente porque usam o banheiro o mais “higienicamente” possível, ou seja, com o menor contato possível com seus itens físicos – inclusive as torneiras, em função dos possíveis vestígios dos outros usuários.

Teixeira e Bernardes destacaram que o banheiro público representa o paradoxo da utilização de um espaço que é público, mas com funções privadas. Esse espaço gera um incômodo quando não contempla o aspecto privado a que ele se propõe. Parece ser o estado de limpeza que mais sinaliza a limitação desse ambiente físico em atender as necessidades de seus usuários. O desconforto provocado pela falta de limpeza pode explicar porque em uma pesquisa feita sobre irritações no meio urbano, o banheiro público sujo apareceu como o sexto item que mais provoca irritação (Braga, Ehlert & Günther, 2007).

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Estudo 1: Observação

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Finalmente, o gênero é uma variável importante, visto que, divisão dos banheiros por sexo é mais uma função social que de uso, já que os banheiros residenciais são utilizados tanto por homens quanto por mulheres. Questiona-se o porquê da separação de uma mesma atividade em dois ambientes físicos. Qual o reflexo disso na interação social, no efeito que o outro tem no momento de cuidado com as necessidades fisiológicas. Kira (1970) sinalizou que a separação por sexo dos banheiros é devida a associação entre o fisiológico e o sexual. Esses dois aspectos são percebidos como sujos e tende-se a esconder ou disfarçar o envolvimento com eles.

Os estudos sobre gênero investigam comportamentos característicos de cada tipo de banheiro público, pois exibem dinâmicas sociais distintas. O banheiro feminino é caracteristicamente um ambiente social, enquanto que o banheiro masculino é caracteristicamente um ambiente para não se estabelecer interações sociais. No banheiro masculino a associação entre o fisiológico e o sexual é mais forte. Os homens evitam a interação social para não sugerir algum interesse sexual e configurar um assédio sexual. Corroborando essa hipótese, um estudo investigando relações homoeróticas mostrou como o banheiro público masculino é muitas vezes utilizado para encontros homossexuais (Pavie & Almeida, 2005).

Ainda sobre encontros homoeróticos no banheiro público, Humphreys (1970) investigou o posicionamento sexual de indivíduos que frequentavam as “tearooms” ou casas de chá – banheiros públicos usados para sexo impessoal. Esse estudo se tornou famoso, não propriamente pelos seus resultados, mas por levantar uma discussão sobre questões éticas. O autor seguiu os frequentadores de banheiros públicos até seus carros e com a informação da placa conseguiu identificar como os indivíduos se posicionavam frente a sua opção sexual ao entrevistá-los em suas residências. A questão ética envolve a identificação de informações sobre os indivíduos sem a autorização dos mesmos, mas

também envolve investigar aspectos privados dos indivíduos como a sua preferência sexual.

Estudos sobre os grafitos de banheiro também mostram diferentes comportamentos nos banheiros femininos e masculinos. Os grafitos não são um evento novo. Há na literatura vários estudos sobre grafitos, compreendidos como uma forma de linguagem e com foco no entendimento da simbologia desses escritos, exemplificados nas ruínas da cidade de Pompéia destruída há dois mil anos, nas paredes dos banheiros das casas Império Romano. Os grafitos são pichações produzidas em banheiros públicos preponderantemente nas portas, mas podem ocorrer nas paredes e no teto.

O estudo de Teixeira e Otta (1998) apontou diferenças entre os grafitos nos banheiros femininos e masculinos principalmente na categoria “xingamento”, que aparecia mais no banheiro masculino, enquanto que os femininos apresentam mais conteúdos de elogios. Além disso, os homens foram mais agressivos que as mulheres na produção dos grafitos. Em outro estudo Damião e Teixeira (2009) encontraram diferenças de gênero nas categorias encontradas. As mulheres escreveram mais sobre religião, romantismo e filosofia, enquanto que os homens registraram mais a própria presença, falaram mais sobre esportes, insultos e humor. Ambos os estudos foram realizados em instituições de ensino superior, registrando os grafitos e classificando-os em categorias.

Os estudos sobre gênero no banheiro público são muito úteis por identificar diferenças de gênero e o efeito da presença de outra pessoa. A necessidade de construção de dois ambientes físicos semelhantes, mas para públicos diferentes, já suscita a necessidade de uma melhor investigação da importância dessa diferenciação em função do gênero. Além disso, há uma dinâmica social claramente distinta entre os dois ambientes físicos, que favorece a interação social apenas no banheiro feminino.

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Sendo assim, de acordo com o objetivo geral da tese, este estudo visa identificar variáveis ambientais e comportamentais que possam influenciar em dois comportamentos implicados no uso de banheiros públicos femininos e masculinos: dar descarga e lavar as mãos. O estudo é baseado na literatura descrita sobre banheiros públicos e nos estudos pilotos Delabrida et al. (2006), Delabrida et al. (2007) e Silva et al. (2008).

Há de se observar, inicialmente, que a maioria dos estudos da literatura trata do comportamento de lavar as mãos, mas não incluem dar descarga. Os dados mostraram que a presença de outras pessoas no banheiro público alterou o comportamento de lavar as mãos. Analisando o funcionamento do banheiro público, verifica-se que o mesmo tem a peculiaridade de ser um ambiente físico público, mas seu uso implica em comportamentos privados. Os dois comportamentos de interesse do presente estudo – dar descarga e lavar os mãos – exemplificam essa dinâmica, pois implicam em uma dimensão privada e uma dimensão pública, respectivamente. A presença de uma pessoa estranha no espaço sinaliza que esse ambiente físico é um território terciário com menor grau de privacidade, mas que exige estratégias e uma configuração espacial que contemple o cuidado privado com o corpo. Sem a presença de uma pessoa estranha, o banheiro público pode se tornar um espaço privado (Kira, 1970).

Dessa forma, o ponto de investigação do Estudo 1 é a maneira como a presença de outras pessoas altera, ou não, a frequência de dar descarga e de lavar as mãos e em que direção. Esse arranjo permite investigar o efeito da presença de uma pessoa estranha no banheiro, tanto no cuidado com o ambiente físico em um local privado, i. é, dar descarga, quanto no comportamento de cuidado consigo, i. é, lavar as mãos.

Portanto, entendendo o banheiro público como um behavior setting no qual tanto variáveis sociais quanto variáveis ambientais podem interferir nos comportamentos alvo foi analisado: a quantidade de pessoas presentes

no banheiro público; o comportamento de interação social expressa (gesto ou verbalização); o gênero; a quantidade de folhas usadas e o descarte de papel-toalha; a duração da lavagem; a presença do papel higiênico, do papel-toalha e do sabão. Para responder à pergunta de quais antecedentes comportamentais e ambientais estão associados a comportamento de uso do banheiro público, dar descarga e lavar as mãos, foram formuladas duas hipóteses bidirecionais em função do fato de não existirem dados suficientes na literatura que permitiriam expectativas quanto a direção das interações entre suas variáveis. Sendo elas:

1.Variáveis comportamentais e variáveis ambientais do banheiro público alteram a frequência de dar descarga;

2.Variáveis comportamentais e variáveis ambientais do banheiro público alteram a frequência de lavar a mãos.

6.1 Método

6.1.1 Local

Foram escolhidos dois conjuntos de banheiros públicos (feminino e masculino) localizados em dois prédios com salas de aula da Universidade de Brasília (vide Apêndice F e G). Esses prédios são adjacentes e possuem uma mesma equipe de limpeza para a sua manutenção. Cada banheiro possui quatro cabines, três pias, um espelho, lixeiras dentro da cabine, uma lixeira externa e um conjunto com três mictórios (banheiro masculino).

6.1.2 Participantes

Participaram da pesquisa qualquer possível frequentador de dois conjuntos de banheiros públicos. Como mostra a Tabela 6.1.2.1, foram observados 262 usuários em um total de 9 horas e 36 minutos de observações. Em 72,5 % (187) das observações foram encontrados todos os suprimentos do banheiro (sabão, papel toalha e papel higiênico). Em nenhuma observação foi constatada a falta de água no banheiro. Em média, constatou-se a presença de uma pessoa (DP = 0,95) antes do usuário entrar na cabine ou utilizar o mictório e 1,3 pessoa (DP = 1,04), imediatamente depois que o usuário saiu da cabine ou do

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Estudo 1: Observação

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mictório. Em média cada usuário utilizou 2 toalhas (DP = 1,2) em cada ida ao banheiro público. Do total de usuários observados, 82,9 % (n = 214) lavaram as mãos e 76,3% (n = 196) deram descarga após utilizar a cabine ou o mictório. Mais mulheres lavaram as mãos (85,5%) e deram mais descarga (91%), enquanto que 77,6% dos homens lavaram as mãos e apenas 46,5% deram descarga. A maioria das pessoas que lavaram as mãos, 54,7% (n = 116), não utilizaram sabão. Três pessoas lavaram as mãos antes e depois de utilizarem a cabine. Dos 179 usuários que puderam ser observados utilizando papel (toalha ou higiênico), apenas dois usuários não jogaram o papel na lixeira. Além disso, 24 mulheres e 7 homens exibiram interação social no banheiro público.

Tabela 6.1.2.1. Número de usuários observados em cada banheiro feminino e masculino. Banheiro Prédio

1 2 Total

Feminino 103 72 175

Masculino 47 40 87

Total 150 112 262

Foi construída uma planilha de observação (vide Apêndice A) para registrar a ocorrência de uso da descarga, lavagem das mãos, sua duração, uso do sabão líquido, uso da toalha de papel ou papel higiênico, descarte da toalha de papel ou papel higiênico, quantidade de pessoas no banheiro antes e após a utilização da cabine ou do mictório, tipo de uso da cabine, ocorrência de comportamentos de interação social expressa (expressão verbal ou gesticulação como contato com outro usuário).

6.1.3 Procedimento

Seguiu-se o mesmo procedimento em cada um dos dois conjuntos de banheiros observados, femininos e masculinos. Os (as) frequentadores (as) dos banheiros públicos escolhidos foram observados em horários alternados (manhã, tarde e noite) por uma hora, durante duas semanas de segunda a sexta-feira. Cada banheiro foi observado a cada vez por um(a) pesquisador (a) (mulher para banheiro feminino e homem para

banheiro masculino), portando um relógio de pulso digital, a planilha de observação, uma revista ou livro e a caneta para registro. O(a) pesquisador(a) ficava do lado de fora do banheiro, o mais próximo possível à sua entrada. Uma vez que o participante alvo entrava no banheiro o(a) observador(a) seguia-o alguns instantes depois e aguardava na cabine ao lado até a saída do usuário da cabine ou a finalização do uso do mictório. Após a saída do usuário da cabine ou do mictório, ia para a área pública e ficava ali até a saída do usuário do banheiro. Os registros eram realizados fora do banheiro público ou dentro da cabine como uma forma do pesquisador ser o mínimo percebido no local. O(a) pesquisador(a) simulava ser um usuário do banheiro. Tudo foi feito de forma que o(a) participante não percebesse que se tratava de um pesquisador.

6.2 Resultados

Para se verificar cada uma das hipóteses, a apresentação dos resultados foi dividida em duas etapas: escolha e preparo da análise de dados e resultados das análises em função de cada hipótese. Sendo assim, segue a primeira hipótese.

6.2.1 Hipótese 1: Variáveis comportamentais e variáveis ambientais no banheiro público alteram a frequência de dar descarga. Escolha e preparo da análise de dados

Como os comportamentos alvos eram variáveis dicotômicas e as variáveis preditoras eram tanto contínuas quanto dicotômicas, foi empregada a regressão logística para predizer a probabilidade que a presença de outros usuários associada a outras variáveis teria no comportamento de dar descarga e de lavar as mãos. Escolheu-se esse tipo de análise não apenas em função das características das variáveis, mas também em função do interesse de investigá-las em um modelo. Sendo que, as variáveis critério são variáveis dicotômicas, configuradas como 0 = não dar descarga e 1 = dar descarga ou 0 = não lavar as mãos e 1 = lavar as mãos. Foram inseridas no modelo como preditoras as variáveis contínuas quantidade de pessoas antes e logo após a

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entrada na cabine ou mictório e, as variáveis dicotômicas, presença ou não de papel higiênico, papel-toalha, sabão, o gênero, a localização do banheiro e presença ou não de interação social expressa.

Foram feitas transformações em duas variáveis. Foi criada uma variável chamada “suprimentos” a partir das variáveis de presença de papel higiênico, papel-toalha e sabão. Essa variável foi criada sinalizando (sim = 1) quando havia todos os suprimentos e quando, pelo menos, um dos suprimentos estava em falta (não = 0). A segunda variável criada foi “interação social” que reunia as informações das variáveis “gesto” e “verbal” que se referiam a alguma interação social expressa por meio de algum gesto ou sinalização verbal e que ocorria no banheiro com o participante sendo observado. A variável assumiu o valor “1” (sim) quando havia a emissão de gestos ou expressões verbais e o valor “0”(não) quando não havia nenhum tipo de interação social expressa. Além disso, como dados faltosos (missings) influenciam na qualidade da análise quando se

utiliza a regressão logística, foram excluídos oito sujeitos para os quais não foi possível registrar algum comportamento.

Resultados das análises: regressão logística e correlações

A Tabela 6.2.1.1 mostra os coeficientes de regressão, a estatística Wald, razão de chance (Odds Ratio) e coeficiente de intervalo de 95% para as razões de chance para cada um dos seis preditores da variável critério, dar descarga. Tendo em vista as variáveis na equação, com base nos coeficientes logísticos (B) e coeficientes exponenciados (Exp(B)), pode-se inferir que as variáveis antecedentes consideradas conjuntamente neste modelo que se apresentaram preditoras do comportamento de dar descarga são o gênero (B = - 2,67; Wald = 47,72; p <0,00) e o comportamento de interação social (B = - 0,96; Wald = 3,51; p <0,061). Embora o nível de significância de 0,061 seja acima do pré-estabelecido valor de significância de 0,05 pode-se interpretar esse valor como um indicativo de algo que merece ser melhor investigado.

Tabela 6.2.1.1. Regressão logística do comportamento de dar descarga como função das variáveis gênero, localização do banheiro, quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine ou mictório, interação social e presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico).

Variáveis B Wald GL P Exp(B) IC 95,0%

Baixo Alto Nº pessoas antes -0,25 1,40 1 ,237 0,78 0,51 1,18

Nº pessoas depois 0,18 0,71 1 ,398 1,20 0,79 1,82

Interação social -0,96 3,51 1 ,061 0,38 0,14 1,05 Gênero -2,67 47,72 1 ,000 0,07 0,03 0,15 Local do banheiro -0,02 0,00 1 ,969 0,99 0,46 2,12

Suprimentos -0,23 0,28 1 ,600 0,80 0,34 1,86 Constante 2,84 21,82 1 ,000 17,18

As duas variáveis indicadas como preditoras dos comportamentos alvo na regressão logística, gênero e interação social, tiveram valores menores que (1) um, na razão de chance (OR = Odds Ratio). Isso se deveu ao fato de que quando a estatística Wald é positiva, os valores da razão de chance são

maiores que 1(um), aumentando a chance de ocorrência da variável critério. Ao contrário, se o valor de Wald é negativo, a razão de chance é menor que (1) um, diminuindo a chance de ocorrência. A variação percentual foi obtida pela fórmula (Coeficiente exponenciado – 1,0) x 100 (Hair et al., 2009).

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Estudo 1: Observação

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Sendo assim, um aumento de 1 (um) para 2 (dois) no comportamento de Interação social indica uma diminuição de 62% de chance da pessoa dar descarga. Já para a variável gênero, a análise deve levar em consideração os valores atribuídos para cada gênero (masculino = 0; feminino = 1), portanto, observações feitas no banheiro masculino diminuem a chance de dar descarga em 93%.

Sobre a confiabilidade do modelo, o valor inicial do modelo vazio, isto é, 2 Log Likelihood foi de 272,93. Verificou-se que com a introdução das variáveis antecedentes no modelo o valor diminuiu para 208,09. Segundo as estatísticas de Cox & Snell e Nagelkerke, semelhantes ao R2 em regressão múltipla, sendo que a primeira não alcança valores iguais a um, por isso foi desenvolvida a segunda, verificou-se que o modelo de predição explica entre 23 e 34% da variância do comportamento de dar descarga. Bem como, os preditores, como descritos, diferenciaram quem utiliza a descarga e quem não utiliza a descarga (Omnibus, χ²gl = 6, N = 254 = 64,85; com p < 0, 000). O modelo foi capaz

de classificar corretamente com uma taxa de 79%. Sendo capaz de classificar corretamente quem utiliza a descarga em 89%, mas a classificação não foi expressiva em relação ao comportamento de quem não utiliza a descarga, por apresentar 47% de predição correta.

Pode-se concluir que a variável “gênero” diferencia entre aqueles que utilizam a descarga e aqueles que não a utilizam e há uma tendência para que a variável “interação social” tenha o mesmo efeito. Portanto, quando há interação social no banheiro e/ou o banheiro é masculino, a chance de dar descarga diminui.

Para compreender melhor a relação entre as variáveis do estudo, comportamentais e ambientais, foram feitas correlações. A Tabela 6.2.1.2 mostra a correlação entre as variáveis critério e as variáveis antecedentes. Pode-se observar que o comportamento de dar descarga se correlaciona principalmente com gênero (r = 0, 44; p < 0,000) e com o comportamento de lavar as mãos (r = 0, 26; p < 0,000).

Tabela 6.2.1.2. Correlação entre as variáveis critério (dar descarga e lavar as mãos) e as variáveis antecedentes (pessoas antes e depois de entrar na cabine ou usar o mictório, interação social, gênero, localização do banheiro, presença de papel higiênico, papel toalha e sabão). Variável comportamental (VC) Variável Ambiental (VA)

Lavar mãos

Dar descarga Interação

Nº Pessoas antes

Nº Pessoas depois Gênero Localização

Papel higiênico

Papel toalha Sabão

VC L. as mãos 1 Descarga 0,26** 1 Interação 0,07 0,05 1 VA P. antes 0,07 0,02 0,17 1 P. depois 0,11 0,08 0,29** 0,48** 1 Gênero 0,1 0,44** 0,09 -0,17** -0,21** 1 Localização 0,12* 0,04 0,03 0,17** 0,17** 0,07 1 P. higiênico 0,1 0,08 0,04 -0,02 0,04 0,20** 0,02 1 P. toalha 0,79 0,08 0,06 -0,15* -0,06 0,17** 0,22** 0,55** 1

Sabão 0,02 0,06 0,05 0,01 0,031 0,14* 0,28** 0,11 0,01 1

* p < 0,05; **p < 0,01. As correlações entre as variáveis dicotômicas foram feitas a partir da análise de coeficiente de contingência para dados nominais. As correlações entre as variáveis dicotômicas e as variáveis contínuas foram feitas a partir da análise point-biserial.

Há outras correlações encontradas que auxiliam na descrição dos comportamentos nos banheiros pesquisados. A correlação entre a quantidade de pessoas no banheiro antes do

indivíduo entrar na cabine e depois de ter saído é estatisticamente significativa (r = 0,48; p < 0,000), indicando o fluxo de utilização dos banheiros observados. Além disso, há

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correlação, para gênero, entre a quantidade de pessoas antes e depois (antes: r = - 0,17; p < 0,007; depois: r = - 0,21; p < 0,001). As correlações negativas para gênero são em função do valor que foi atribuído ao banheiro feminino (f = 0) e ao banheiro masculino (m = 1) demonstrando haver mais pessoas no banheiro feminino que no masculino.

A localização dos banheiros se correlaciona com papel-toalha (r = - 0,22; p < 0,000) e com a presença de sabão (r = - 0,28 = ; p < 0,000). Os banheiros do prédio 2 estavam melhor abastecidos, com mais de 90% das vezes com sabão e papel-toalha, enquanto que os banheiros do prédio 1 foram abastecidos em mais de 70% das vezes observadas. O gênero também se correlacionou com os suprimentos. Os banheiros femininos estavam mais abastecidos com papel higiênico e papel-toalha, enquanto que os banheiros masculinos estavam mais abastecido com sabão. Apenas a presença dos suprimentos papel higiênico e papel-toalha se correlacionam (r = - 0,55; p < 0,000).

6.2.2.Hipótese 2: Variáveis comportamentais e variáveis ambientais no banheiro público alteram a frequência de lavar as mãos. Escolha e preparo da análise de dados

Para análise do comportamento alvo de lavar as mãos foi feito o mesmo preparo dos dados que para a análise de dados do comportamento de dar descarga. Foram inseridas no modelo, como preditoras, as variáveis contínuas quantidade de pessoas antes e logo após a entrada na cabine ou mictório e, as variáveis dicotômicas presença ou não de papel higiênico, papel toalha, sabão, o gênero, a localização do banheiro e presença ou não de interação social expressa. Incluiu-se o comportamento de dar ou não descarga por ser antecedente ao comportamento de lavar as mãos no script de utilização do banheiro público. Como dito anteriormente, foram feitas análises de regressão logística em função das características das variáveis do modelo (Tabachnick & Fidell, 2007).

Resultados das análises: regressão logística, teste t e qui-quadrado

A Tabela 6.2.2.1 mostra os coeficientes de regressão, a estatística Wald, razão de chance (OR = Odds Ratio) e coeficiente de intervalo de 95% para as razões de chance para cada um dos sete preditores da variável critério, lavar as mãos. Tendo em vista as variáveis na equação, os coeficientes logísticos (B) e coeficientes exponenciados (Exp(B)) permitem inferir que as variáveis antecedentes consideradas conjuntamente neste modelo que se apresentaram preditores do comportamento de lavar as mãos são a localização do banheiro público (B = 1,01; Wald = 5,90; p <0,015), a presença de suprimentos - sabão, papel toalha e papel higiênico – (B = 0,92; Wald = 4,46; p <0,035) e o comportamento de dar descarga (B = 1,88; Wald = 16,24; p <0,00). Verificou-se pela razão de chances que o maior impacto é da variável comportamento de dar descarga (OR = 6,55; IC 95% = 2,62-16,33). As outras duas variáveis parecem ter o mesmo impacto, localização do banheiro (OR = 2,75; IC 95% = 1,21-6,22) e suprimentos (OR = 2,52; IC 95% = 1,07-5,92).

A variação percentual foi obtida pela fórmula (Coeficiente exponenciado – 1,0) x 100, e resulta que o aumento de 1 (um) ponto no comportamento de dar descarga aumenta as chances em 555% no comportamento de lavar as mãos (Hair et al., 2009). Em outras palavras, quando todas as outras variáveis estão constantes, um aumento de 1 (um) para 2 (dois) no comportamento de dar descarga indica um aumento em torno de 6 vezes nas chances do sujeito ser classificado no grupo que lava as mãos. Já para a Localização do banheiro esse aumento é de 1,75% e, para Suprimentos, esse aumento é de 1,5%.

Sobre o ajuste do modelo, o valor inicial do modelo vazio, isto é, 2 Log Likelihood foi de 234,17. Verificou-se que com a introdução de todas as variáveis antecedentes no modelo o valor diminuiu e passou a ser de 204,83. Verificou-se, também, os valores de Cox & Snell R2 = 0,11 e Nagelkerke R2 = 0,18. Estas estatísticas são semelhantes ao R2 em regressão múltipla, sendo que a primeira não alcançou

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Estudo 1: Observação

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valores iguais a um, por isso foi desenvolvida a segunda. Segundo esses testes, o modelo de predição explica entre 11 e 18% da variância do comportamento de lavar as mãos e tendo Omnibus Tests significativo de χ²gl = 7, N = 254 = 29,34 com p < 0,001 indicando que o conjunto de preditores, como descritos,

diferencia quem lava as mãos e quem não lava as mãos. O modelo foi capaz de classificar corretamente com uma taxa de 83%. Sendo capaz de classificar corretamente quem lava as mãos em 99%, mas não pode predizer o comportamento de quem não lava as mãos por apresentar apenas 7% de predição correta.

Tabela 6.2.2.1. Regressão logística do comportamento de lavar as mãos como função do comportamento de dar descarga, quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine ou mictório, interação social, gênero, localização do banheiro, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico).

Variáveis B Wald GL P Exp(B) IC 95,0%

Baixo Alto

Descarga 1,88 16,24 1 0,000 6,55 2,63 16,34

Nº Pessoas antes 0,15 0,38 1 0,537 1,16 0,73 1,86

Nº Pessoas depois 0,16 0,50 1 0,481 1,17 0,76 1,82

Interação social 0,69 1,33 1 0,249 2,00 0,62 6,51

Gênero 0,63 1,83 1 0,176 1,88 0,75 4,66

Local do banheiro 1,01 5,90 1 0,015 2,75 1,22 6,23

Suprimentos 0,92 4,46 1 0,035 2,52 1,07 5,92

Constante -1,51 4,39 1 0,036 0,22

Concluindo, as variáveis antecedentes “dar descarga”, “localização do banheiro” e “suprimentos” distinguiram entre aqueles que lavam as mãos e aqueles que não lavam as mãos. A antecedente que mais fortemente

diferencia os dois grupos é “dar descarga”. As outras duas variáveis mostram um pequeno aumento na probabilidade de lavar as mãos.

Tabela 6.2.2.2. Frequências. observadas (fobs) e esperadas (fesp) da presença de suprimentos em função da localização do banheiro público.

Suprimentos

Sim Não Total

fobs fesp fobs fesp N %

Localização banheiro Prédio 1 83 103 62 41,1 145 57,1

Prédio 2 99 78,1 10 30,9 109 42,9

Total 182 72 254 100 O qui-quadrado tabela é de 34,554 com gl = 1 e com p < 0,00.

Complementando as análises da regressão logística, o local do banheiro ao qual foi atribuído o valor de 1 (um) na regressão foi o Banheiro prédio 1, que possui um maior volume de pessoas circulando que o Banheiro prédio 2. Foi feito um teste t para comparar a

quantidade de pessoas antes e depois da utilização da cabine. Na Tabela 6.2.2.2 descreve-se uma outra análise, qui-quadrado entre as variáveis “suprimentos” e “localização do banheiro”. A presença de suprimentos está

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relacionada com a localização do banheiro pesquisado, ou seja, prédio 1 e prédio 2.

Além disso, os dados mostram que os banheiros do prédio 2 possuíam todos os suprimentos com frequência maior que o esperado. No Banheiro 1 há mais pessoas antes (m = 1,12; DP = 0,92) e depois (m = 1,43; DP = 1,0) em relação ao Banheiro 2, com média de pessoas antes de 0,81 (DP = 0,92) e média de pessoas depois de 1,1 (DP = 0,96). Essas diferenças são estatisticamente significativas tanto para pessoas antes (t = -2,605; p<0,01), quando para pessoas depois (t = -2,573; p<0,011 ). Sendo assim, a função da variável “local do banheiro” em aumentar a chance de lavar as mãos pode estar relacionada ao fluxo de pessoas no banheiro.

6.3 Discussão

A discussão do Estudo 1 é apresentada nos seguintes termos: (1) discussão das hipóteses do estudo; (2) discussão do funcionamento dos banheiros investigados; (3) limitações (4) conclusão.

6.3.1 Hipóteses do estudo

O objetivo do Estudo 1 foi mostrar a interrelação entre variáveis ambientais e comportamentais no banheiro público e como estas variáveis alteram a sua utilização. O uso do banheiro foi estudado a partir do comportamento de dar descarga e lavar as mãos investigando se a presença de outras pessoas no banheiro, bem como, outras variáveis ambientais e comportamentais desse behavior setting influenciariam na sua utilização.

Os modelos de regressão logística não identificaram uma relação entre a presença de pessoas antes e depois do indivíduo sair da cabine ou mictório e a frequência de dar descarga e lavar as mãos. As hipóteses do estudo foram baseadas na literatura e sugere que se lava as mãos, principalmente para evitar o constrangimento de ser identificado como alguém que não “aprendeu” o que foi ensinado (Kira, 1966/1976).

Apesar de os resultados das análises não sustentarem as hipóteses investigadas, alguns comportamentos observados sugerem que essa hipótese possa ser em parte corroborada, já

que, para algumas pessoas, a presença de outra pessoa influencia no comportamento de lavar as mãos. Foi observado que alguns usuários lavaram as mãos quando perceberam a presença dos observadores. Outras pessoas conversavam com conhecidos no momento de lavar as mãos e saiam sem lavá-las. Esses comportamentos ocorreram tanto no banheiro feminino quanto no masculino, o que sugere que o efeito do constrangimento pode ocorrer quando a outra pessoa no banheiro público é desconhecida.

Alguns outros comportamentos observados merecem atenção. No banheiro feminino foram observadas mulheres apenas molharem as mãos para arrumarem o cabelo, sem lavá-las após utilizar a cabine. No banheiro masculino foi observado que os homens iniciavam a escovação dos dentes, após utilizar a cabine ou o mictório, sem ter lavado as mãos. Em ambos os banheiros foi observado também que algumas pessoas lavavam as mãos e as enxugavam nas roupas, mesmo na presença de papel-toalha ou de papel higiênico. Todas essas descrições mostram que uma possível forma de identificar outras variáveis preditoras dos comportamentos de dar descarga e lavar as mãos estejam relacionadas a essas interrupções dos comportamentos alvos.

Os modelos de regressão logística identificaram que a principal relação de predição para o comportamento de dar descarga foi com as variáveis gênero e interação social expressa. Sendo que o comportamento de lavar as mãos é predito pelo comportamento de dar descarga, pela localização do banheiro, pela presença de suprimentos e ambos têm relação com o fluxo de usuários e com a presença de suprimentos.

Esses resultados foram analisados com base no script comportamental de utilização dos banheiros públicos observados. O script nada mais é que o programa de funcionamento do behavior setting e auxilia no entendimento da relação entre as variáveis comportamentais e as variáveis ambientais. No banheiro feminino o script de utilização do banheiro público constava da seguinte

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sequência: entrar no banheiro, verificar a disponibilidade de suprimentos, pegar uma porção de papel higiênico e, na sua falta, uma porção de papel toalha, se dirigir até a cabine, utilizá-la, dar descarga, sair, lavar as mãos, enxugar as mãos e sair do banheiro. No banheiro masculino essa sequência era feita no caso da cabine ser utilizada. A sequência do mictório seria mais curta, sem a consulta dos suprimentos. Pode-se observar pequenas variações na sequência descrita.

Deve-se destacar que o comportamento de dar descarga precede o comportamento de lavar as mãos. O fato de dar descarga pode predispor o usuário a lavar as mãos como um cuidado consigo, com uma preocupação de contaminação com o ato de acionar a descarga (Teixeira & Bernardes, 2007; Vigarello, 1985/1996; Uzzell, 2005). Dessa forma, o comportamento de dar descarga parece ser fundamental para a utilização do banheiro pois viabiliza o cuidado com o ambiente físico, a eliminação dos dejetos humanos, e o cuidado consigo, lavar as mãos para evitar a contaminação.

Do mesmo modo, a presença de suprimentos viabiliza o comportamento de lavar as mãos. Seguindo o script de utilização, ao entrar no banheiro o usuário logo verifica a disponibilidade de suprimentos que estão relacionados à utilização da cabine, mas também, com as condições para se lavar as mãos e enxugá-las. Ao ter condições para lavar as mãos na saída da cabine, o usuário poderia estar mais disposto a dar descarga. Portanto, a presença de suprimentos também parece ser fundamental para a utilização do banheiro. Com base nessas duas análises, a sequência do script pode explicar a alta correlação entre o comportamento de dar descarga e o comportamento de lavar as mãos.

O comportamento de lavar as mãos teve como preditores, além do comportamento de dar descarga, a localização do banheiro e a presença de suprimentos. A variável suprimentos pode estar relacionada ao comportamento de lavar as mãos, porque muitos participantes observados verificavam a sua disponibilidade quando entravam nos

banheiros pesquisados, inclusive essa verificação faz parte do script de utilização do banheiro. As duas variáveis preditoras são correlacionadas com uma terceira variável, o fluxo de pessoas em cada banheiro. Há uma interessante triangulação nesse resultado. A variável localização do banheiro só explica o comportamento de lavar as mãos em função do fluxo de usuários, que é maior no banheiro do prédio 1 que no do prédio 2. Esse fluxo altera a presença dos suprimentos nos banheiros. Quanto maior o fluxo, maior a utilização dos suprimentos. Como o banheiro do prédio 1 tem um maior fluxo de frequentadores, tem menor quantidade de suprimentos. Como a localização do banheiro foi considerada uma preditora, essa relação com a variável suprimentos pode explicar o seu efeito em relação ao comportamento de lavar as mãos. Por sua vez, o fluxo de usuários pressupõe a presença de usuários no banheiro, o que indiretamente poderia sugerir o efeito da presença de pessoas no banheiro público e o aumento da frequência de lavar as mãos por seus usuários.

O modelo de regressão para o comportamento de dar descarga apontou como preditores a interação social expressa e o gênero. Deve-se destacar que a variável interação social expressa, pode ser entendida com base na variável gênero. Interpretando os dados da regressão com base nos dados das correlações pode-se supor que a variável interação social expressa atua no comportamento de dar descarga em função do gênero. Os resultados sugerem que a interação social expressa no banheiro masculino diminui a chance que se utilize a descarga. Enquanto que, no banheiro feminino, a presença de interação social expressa aumenta a chance que as mulheres dêem descarga. Sugerindo que a privacidade seja uma variável importante no banheiro masculino.

Os comportamentos de lavar as mãos e dar descarga são mais consistentes nos banheiros femininos. Principalmente o comportamento de dar descarga, já que apenas 46,5% dos homens utilizaram descarga durante o período de observação, enquanto

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que 91% das mulheres deram descarga. Parece que a configuração física do banheiro masculino, que permite menor privacidade ao utilizar o mictório, afeta a utilização do mesmo. Além disso, no banheiro masculino a interação social é desfavorecida muito em função da preocupação com o assédio sexual por parte dos homens (Pavie & Almeida, 2005).

Deve-se ressaltar que o mictório fica na área pública do banheiro, apesar de ser vinculado a um comportamento da área privada, o que implica em uma diferença para o banheiro feminino. O mictório dificulta a análise, porque é um ambiente do privado que se encontra no ambiente físico público. A pressa na utilização do mictório para evitar algum constrangimento pode favorecer que não se dê descarga após a sua utilização. A falta de privacidade também pode provocar no usuário a impressão de falta de cuidado com o atendimento das suas necessidades.

Ainda tratando da variável gênero, de modo geral, os dados indicaram que as mulheres mostraram ter um cuidado maior com o próprio corpo e com o ambiente físico. Os estudos sobre comportamento pró-ambiental corroboram com este achado, uma vez que apontam mais comportamentos de cuidado com o ambiente físico por parte das mulheres (Corral-Verdugo, 2001). Os resultados do presente estudo nos levam a sugerir que o comportamento de cuidado com o ambiente físico pode ser estendido para o comportamento de cuidado com o próprio corpo. Os homens mostraram cuidado com o corpo, mas pouco cuidado com o ambiente físico. Das variáveis preditoras investigadas a variável gênero é a única que está relacionada a ambos os comportamentos, ou seja, que pode predizer os comportamentos de lavar as mãos e de dar descarga.

Concluindo, o modelo de regressão logística foi capaz de predizer o comportamento de dar descarga e lavar a mãos, mas não foi capaz de predizer o comportamento de não lavar as mãos e não dar descarga. O que sugere que as variáveis ambientais e comportamentais observadas

estão relacionadas ao script de utilização do banheiro público, mas não estão relacionadas à quebra desse script. Supõe-se que decorre daí a dificuldade em identificar outras variáveis relacionadas aos comportamentos alvos do presente estudo.

A despeito dos dois comportamentos critério serem os principais comportamentos na utilização do banheiro, fazerem parte do script principal de uso dessa unidade ambiental natural e estarem diretamente relacionados às condições físicas de utilização do banheiro, a forma de utilização do banheiro público também parece ser organizada antes da chegada do indivíduo ao local, durante o seu deslocamento (Russel & Ward, 1982). Dar descarga e lavar as mãos, pela sua importância na utilização do banheiro, são incluídos no planejamento do uso e, portanto, podem também ser preditos por variáveis não relacionadas diretamente com esse ambiente físico, como experiências prévias com banheiros públicos, por exemplo, regras pessoais e hábitos de higiene pessoal.

Finalmente, as variáveis ambientais que foram identificadas como relacionadas aos comportamentos alvos do Estudo 1 são a presença de suprimentos e a configuração física do banheiro. A presença de suprimentos altera o comportamento de lavar as mãos e a configuração física do banheiro masculino, diminuindo a privacidade, afeta o comportamento de dar descarga. As variáveis comportamentais, gênero e interação social, impactam no comportamento de dar descarga. Os dados apontam, ainda, que a interação social no banheiro masculino diminui a chance de se dar descarga, enquanto aumenta a chance de dar descarga no banheiro feminino.

Sendo que, o comportamento de lavar as mãos, mais relacionado ao cuidado com o corpo, parece ser melhor predito pelas variáveis ambientais, enquanto que o comportamento de dar descarga, relacionado ao cuidado com o ambiente físico, parece ser melhor predito pelas variáveis sociais. Essa conclusão sugere que os comportamentos pró-ambientais, ou seja, de cuidado com o

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Estudo 1: Observação

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ambiente físico, estejam mais relacionados a aspectos sociais que a aspectos do ambiente físico. O cuidado com o corpo é que estaria mais relacionado às características do ambiente físico.

6.3.2 Funcionamento dos banheiros investigados

Se fôssemos montar um script da utilização dos banheiros públicos investigados com base nas observações realizadas neste estudo teríamos dois scripts, um para o banheiro feminino e outro para o banheiro masculino. No banheiro feminino, as mulheres entram, usam a cabine, 91% delas dão descarga e 85,5% lavam as mãos. A metade delas vai lavar as mãos com sabão e a outra metade não vai utilizá-lo. Vão utilizar, em média, duas toalhas para secar as mãos e todas vão jogar o papel na lixeira. Uma em cada sete mulheres vai estabelecer uma interação social. No banheiro masculino, os homens entram, usam o mictório, menos da metade (46,5%) deles irá dar descarga e 77,6% vão lavar as mãos. A metade dos homens vai lavar as mãos com sabão e a outra metade não vai utilizá-lo. Vão utilizar, em média, duas toalhas para secar as mãos e todos vão jogar o papel na lixeira. Um em cada 12 homens irá estabelecer uma interação social.

6.3.3 Limitações

As limitações do estudo se referem, principalmente, ao método utilizado para a coleta de dados. A observação é considerada como o método base para qualquer investigação empírica. Tem como vantagens possibilitar o contato com o fenômeno estudado e permitir descrever outras relações que envolvem o objeto de estudo escolhido, com base no contexto de sua ocorrência. Além disso, permite ter acesso ao fenômeno sem muita intrusão e fornece uma descrição clara do fenômeno. Entretanto, sua limitação diz respeito ao fato de não permitir isolar variáveis para identificar seus efeitos, porquanto não se tem controle sobre o comportamento alvo.

Os observadores do presente estudo tiveram uma postura passiva, não-intrusiva e tentaram passar despercebidos como se fossem usuários dos banheiros pesquisados. Os

registros eram feitos ou dentro da cabine ou fora do banheiro. A planilha ficava escondida entre o material que os observadores portavam para não ser percebida pelos usuários dos banheiros. A principal dificuldade enfrentada pelos observadores foi não ser percebido antes da pessoa entrar na cabine e após a sua saída. Quando os pesquisadores avaliavam que a pessoa havia percebido a sua presença registravam a si mesmo na planilha de observação como mais uma pessoa no banheiro. Contudo, existe a possibilidade de que a presença do observador tenha alterado o fenômeno estudado.

Com base nas características e limitações das observações e na forma como as mesmas foram feitas nos banheiros públicos pesquisados pode-se apontar algumas limitações do estudo. Primeiro, apesar das observações terem sido montadas para não serem intrusivas, a quantidade de pessoas registradas foi superestimada, porque muitas vezes os observadores foram percebidos pelos usuários e a sua presença teve que ser registrada na planilha de observação.

Segundo, foi o observador que avaliou se o usuário havia ou não percebido a sua presença. Bem como, o fato de entrar na cabine do lado, ou mesmo caminhar no banheiro faz barulho e não se pode ter certeza que os observadores não foram percebidos.

Terceiro, a maioria dos dados registrados apresentam correlações entre si, o que dificulta estabelecer a direção da influência de cada variável preditora nas variáveis critério. A observação foi capaz de oferecer muitas informações sobre o comportamento de dar descarga e lavar as mãos, mas a limitação do método recai justamente no seu poder preditivo.

Quarto, o banheiro público é um ambiente físico público, mas onde ocorrem comportamentos do âmbito privado. Conduzir observações nesse ambiente físico exige do observador um treino e uma disciplina para permitir que ele ou ela possa fazer as observações sem se sentir constrangido. Não é à toa que o banheiro

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público é pouco pesquisado. Tratar das questões de higiene, de questões que envolvem as necessidades fisiológicas e a privacidade é muito constrangedor para a nossa cultura. E, quinto, pela característica do fenômeno não foi possível estabelecer a fidedignidade entre os observadores por não se ter um parâmetro de comparação. Participaram da pesquisa, 2 (dois) observadores homens e 3 (três) observadoras mulheres.

O principal impacto das limitações é no poder preditivo dos dados. Como a observação não se propõe a estabelecer uma relação causal entre os eventos, o presente estudo não pretende apresentar dados conclusivos sobre os comportamentos pesquisados. O objetivo foi identificar como as variáveis selecionadas poderiam ser organizadas em função dos comportamentos de dar descarga e lavar as mãos. O próximo passo será o estudo experimental que manipula as variáveis previamente identificadas como relevantes para os comportamentos alvo. Além disso, as dificuldades encontradas neste estudo observacional refletem as dificuldades encontradas neste tipo de estudo.

A literatura tem solucionado o problema utilizando medidas não reativas. Judah et al. (2009) utilizaram o monitoramento não-intrusivo e, como foi utilizado no estudo Delabrida et al. (2006), os registros são feitos quando não há ninguém no banheiro público. Essas duas medidas resguardam as pesquisas de estarem invadindo a intimidade dos usuários do banheiro público o quê, potencialmente, poderiam infringir questões éticas.

A importância para o presente estudo da observação in locu foi ter acesso à sequência de comportamentos exibidos pelos usuários desde a sua entrada no banheiro, até a sua saída. A noção dessa sequência possibilitou entender o banheiro público como um behavior setting e permitir ter acesso a outros comportamentos que não apenas os comportamentos selecionados e constantes da planilha. Esse tipo de informação só é possibilitada ao se utilizar a observação como método de pesquisa.

6.3.4 Conclusões

A psicologia ambiental trata a relação pessoa-ambiente físico como uma interrelação. Tantos os aspectos sociais quanto os aspectos físicos do contexto influenciam o comportamento. O Estudo 1 mostrou que variáveis sociais (gênero e interação social) e variáveis ambientais (suprimentos) estão envolvidas no funcionamento do banheiro público. Portanto, a qualidade do banheiro público, com base nesses dados, envolve levar em consideração as especificidades de mulheres e homens no atendimento das necessidades fisiológicas e no cuidado da higiene pessoal e garantir que os suprimentos para a utilização do banheiro estejam disponíveis para os seus usuários.

O tripé da qualidade do banheiro público (veja Figura 1) envolve a manutenção, utilização e construção do banheiro. No Estudo 1 os três aspectos são abordados. A manutenção porque o comportamento de lavar as mãos é predito pela presença de suprimentos (papel toalha, higiênico e sabão líquido), a utilização, porque foi possível descrever como os dois gêneros utilizam o banheiro e a construção porque, principalmente, no banheiro masculino a configuração física do mictório parece ter um efeito sobre o comportamento de dar descarga. Dessa forma, com base nos dados do Estudo 1, pode-se sugerir que a manutenção dos suprimentos no banheiro público deva ser feita levando em consideração a frequência de utilização desse banheiro público para que sempre haja suprimentos disponíveis. Pois, a presença dos suprimentos pode aumentar a frequência de lavar as mãos. Corroborando os resultados da regressão logística, durante as observações foi registrado que as pessoas ao entrarem no banheiro verificavam a presença dos suprimentos, antes de se dirigirem à cabine.

Como há uma forte correlação entre os comportamentos de utilizar a descarga e de lavar as mãos, pode-se supor que a presença de suprimentos também esteja relacionada ao comportamento de dar descarga. O usuário sabendo que ele ou ela vai poder lavar as mãos

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Estudo 1: Observação

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após utilizar a cabine e, portanto, vai poder se “descontaminar” da utilização da descarga, a frequência desse comportamento poderia ser maior na presença de suprimentos. Um estudo experimental poderia ser feito investigando banheiros que permitissem ao usuário saber com antecedência a disponibilidade de suprimentos e banheiros que não permitissem acesso à essa informação.

Sugere-se em relação a construção do banheiro público que ele tenha seus itens em bom estado de manutenção e que favoreça, principalmente no banheiro masculino, a privacidade na sua utilização. Uma forma de aumentar a privacidade é ter divisórias para o mictório, aumentando o conforto do usuário.

Outro aspecto é a manutenção da limpeza. Como os homens dão menos descarga, o mictório ou o vaso permanecem mais tempo sujos. O odor característico da

falta de descarga é facilmente sentido, bem como a aparência física dos itens e gera comportamentos de nojo e receio de contaminação. Essas duas variáveis estão associadas à utilização do banheiro público mediando o grau de contato com os itens do banheiro (Teixeira e Bernardes, 2007). Esse processo gera um ciclo vicioso o qual desfavorece dar descarga quando do uso do mictório ou da cabine. Uma forma de quebrar esse círculo vicioso é aumentar o grau de limpeza do banheiro público, promovendo uma manutenção constante.

No próximo estudo será discutido o efeito de uma intervenção no banheiro focando o comportamento de dar descarga, bem como o comportamento de lavar as mãos, como uma forma de aumentar a frequência desses comportamentos.

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7 ESTUDO 2: USO DE SINALIZAÇÃO PARA OS COMPORTAMENTOS DE LAVAR AS MÃOS E DE

DAR DESCARGA: UM ESTUDO EXPERIMENTAL

O uso de prompts, pequenas mensagens indicando qual o comportamento adequado, parece ser o instrumento de intervenção mais comuns em banheiros públicos. Foram utilizados para diminuir a ocorrência de pichações, modificar comportamentos específicos do uso do banheiro público ou disponibilizar informações relevantes aos usuários.

Prompts são definidos como pequenas mensagens que sinalizam um comportamento correto ou a correta utilização de algum item físico (Durdan, Reeder, Hecht, 1985). Podem ser verbais ou pictóricas, um exemplo conhecido de prompt é o símbolo de reciclagem com as setas em direção circular. A literatura divide os prompts em categorias em função do tipo da mensagem seja ela positiva e negativa, da característica da mensagem, geral ou específica e da descrição da norma, descritiva ou prescritiva (APA online, 2009; Cialdini & Reno, 1990; Durdan, Reeder, Hecht, 1985).

Dois estudos experimentais tiveram o objetivo de reduzir o comportamento de grafito no banheiro. Watson (1996) investigou a colocação de prompts em banheiros masculinos para diminuir a pichação nas portas. Com as paredes dos banheiros previamente pintadas, foi feita uma linha de base do comportamento de pichação para, em seguida, colocar prompts sugerindo que a manutenção das paredes sem pichação seria revertida em doação de dinheiro para a universidade (altruísmo) e, por último, a fase de follow-up com a retirada dos prompts. Os resultados mostraram que houve uma remissão do comportamento durante a fase de intervenção, que se manteve após a retirada dos prompts, mas sem maiores discussões sobre o impacto dos resultados.

Baseado no estudo de Watson (1996), os autores Mueller, Moore, Doggett e Tingstrom (2000) investigaram além da utilização do mesmo prompt de altruísmo, que eles chamaram de contingência positiva, prompt

sinalizando contingência negativa (punição) e um prompt neutro, simplesmente pedindo para não pichar. Os autores observaram a remissão do comportamento de pichar em todas as condições durante a fase de intervenção, sendo que em apenas dois banheiros, um na condição de prompt positivo e outro na condição de prompt negativo, houve aumento desse comportamento durante a intervenção e, após a retirada dos prompts, houve a reincidência do comportamento de pichar. Os autores concluíram que, independentemente do tipo de prompt, ocorreu diminuição do comportamento de pichar.

Esse estudo contribui para uma melhor caracterização dos prompts positivos e negativos, não apenas utilizando a forma como se estrutura a frase (“Não jogue o lixo no chão” versus “Mantenha a sala limpa”), mas sinalizando a função desse comportamento pela contingência descrita. Os autores, no entanto, não explicam o fato de o comportamento de pichar ter retornado com a retirada do prompt. Não discutem as implicações desses resultados no banheiro feminino ou relacionam o comportamento de grafito a alguma classe de comportamentos, por exemplo, de comunicação, que poderia auxiliar no entendimento da sua funcionalidade, ocorrência, remissão e retorno.

Usando a mesma lógica dos estudos para diminuição de grafitos, Grogono et al. (1980) utilizaram as portas de banheiros públicos em residências universitárias para instruir os estudantes universitários a respeito dos cuidados em caso de um ataque cardíaco. As instruções foram anexadas nas portas das cabines. Os resultados mostraram que o grupo experimental se diferenciou significativamente do grupo controle quando aplicado um teste escrito a respeito dos procedimentos envolvidos na ressuscitação cardiorespiratória.

Os autores afirmam que as portas dos banheiros podem ser utilizadas como um local

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Estudo 2: Experimento

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instrucional. Pode-se supor que as informações exibidas nesse cartaz, por estarem relacionadas a um cuidado com a saúde, mas não estarem diretamente relacionadas a algum comportamento no banheiro público, gerariam menos reatância e foram realmente efetivas.

Essa hipótese de cuidado com a saúde se sustenta em função dos resultados de outro estudo que utilizou diferentes mensagens como prompts para o aumento do comportamento de lavar as mãos (Judah et al., 2009). Os pesquisadores testaram sete tipos diferentes de mensagens baseados em diferentes domínios teóricos: percepção de risco; ativação de conhecimento; normas ou afiliação; status ou identidade; conforto; mensagem desagradável e dicas. Havia uma condição controle sem mensagem e uma condição controle com mensagens de controle positivo. Duas mensagens foram testadas para cada domínio. Cada mensagem foi randomicamente distribuída e apresentada por uma hora a cada três dias, em dois banheiros públicos. A mensagem era apresentada em um placar eletrônico luminoso. A taxa de lavagem das mãos foi mensurada a partir de sensores sensíveis à passagem dos usuários através da porta do banheiro e em função da quantidade de sabão utilizada.

Os resultados mostraram que os homens frequentam mais o banheiro público que as mulheres e que o banheiro feminino apresenta mais picos de uso. Para os homens as mensagens mais efetivas foram com tônica desagradável e normas. Para as mulheres as mensagens mais efetivas foram ativação do conhecimento, controle positivo e percepção de risco. Foi observado também uma maior taxa de lavagem das mãos quando havia mais pessoas no banheiro, alterando a funcionalidade dos prompts. Havia um aumento do uso de sabão quando havia mais pessoas no banheiro. Para os homens as mensagens se tornavam mais efetivas quando havia mais pessoas no banheiro.

Esse estudo foi inovador por observar o comportamento no banheiro público sem intrusão de observadores e utilizando medidas

indiretas do uso do banheiro (uso do sabão). No entanto, não foi possível registrar o comportamento de lavar as mãos sem sabão. Essa informação poderia melhor clarificar a influência dos prompts, indicando que diferentes intervenções devem ser implementadas em cada tipo de banheiro, feminino e masculino, contribuindo para a efetividade das intervenções no banheiro público e a contribuição de cada domínio teórico. Os autores não discutem a causa dessas diferenças de gênero ou variáveis a ela associada.

De modo geral, os estudos apontam que a categoria de prompts mais efetiva depende do tipo de situação. Nos estudos sobre grafitos parece não haver diferenciação entre os tipos de prompt no banheiro público, pelo menos ao que se refere ao comportamento de grafito. Em relação ao comportamento de lavar as mãos, o tipo de prompt parece ser uma variável relevante e exercer diferente influência, dependendo do sexo. Apesar de ser uma intervenção barata, fácil de aplicar, deve-se observar que a maioria dos estudos sobre prompts na literatura investiga o comportamento de descarte indevido de lixo, o que sugere que a investigação dessa modalidade nos banheiros públicos possa ser frutífera e possibilite padronizar o uso de prompts estabelecendo semelhanças ou diferenças.

O conceito mais aplicado na investigação do banheiro é a necessidade de privacidade. É um aspecto que impacta sobre os comportamentos no banheiro público pela importância da privacidade na vida dos habitantes urbanos e o fato dessa variável ser, em algum grau, contemplada no banheiro público. Teixeira e Otta (1998) mostraram esse aspecto a partir dos grafitos como meio de comunicação social facilitada pela esfera privada do banheiro público onde o anonimato é assegurado. Quando o indivíduo entra na cabine ele está provisoriamente isolado e protegido do contato com outros indivíduos.

Middlemist, Knowles e Matter (1976) mostraram a importância da privacidade na utilização do mictório. Quando os usuários

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Delabrida, Z.N.C. 48

estavam sozinhos no banheiro, demoravam em média 4,9 segundos para iniciar o ato e sua duração média era de 24,8 segundos. Quando o espaço pessoal era invadido, o atraso médio no início do ato era de 8,4 segundos e sua duração média era de 17,4 segundos. Esses resultados reforçam a importância da privacidade nos banheiros públicos.

O anonimato é uma variável importante, principalmente porque permite a desvinculação do sujeito do seu vestígio e da forma de utilização do banheiro. Na área pública do banheiro, ocorre a mudança de utilização do mesmo. O comportamento de lavar as mãos é alterado em função da presença de pessoas no momento em que a pessoa sai da cabine. A presença de outras pessoas aumenta a frequência desse comportamento (Judah, et al. 2009; Osório & Ibañez-Novion, 1998; Teixeira & Bernardes, 2007). Sendo que, Judah et al.(2009) relatam que a presença de mais pessoas no banheiro público, quando da utilização de prompts, aumenta o comportamento de lavar as mãos. Esse efeito é mais observado no banheiro masculino.

O conceito de privacidade é utilizado por Kira (1970) para tratar do anonimato. Para o autor, tanto o banheiro residencial quanto o público são usados para se obter privacidade de uma variedade de propósitos emocionais os quais não têm nenhuma relação com a higiene pessoal: mal-humor, choro, devaneio ou a procura de alívio para alguma situação social. Há três categorias de privacidade no banheiro: 1. Privacidade de ser ouvido, mas não visto; 2. Privacidade de não ser visto ou ouvido; e 3. Privacidade de não ser visto, ouvido ou percebido.

Essas categorias retratam o grau de privacidade desejada, que influencia a sua tradução no ambiente físico. Isso pode ser observado em função da localização do banheiro em relação as outras áreas desse espaço, a localização da porta, o tratamento acústico, a localização e tamanho das janelas, o quanto o banheiro é exclusivo para uma pessoa ou pode ser partilhado por outras. Essas categorias são estratégicas por permitir que

esse espaço seja usado socialmente apesar de associado às necessidades fisiológicas e que possa exercer uma função social na garantia da privacidade dos indivíduos.

A literatura mostra que o uso de prompts como intervenção em banheiros públicos é uma medida de fácil aplicação e com bons resultados durante o período da intervenção (Delabrida et al., 2006). Dando continuidade ao Estudo 1, este estudo pretendeu investigar o efeito do uso de prompts na modificação dos comportamentos de dar descarga e lavar as mãos. Foram escolhidos dois tipos de mensagens, neutras e cordiais.

O conceito de cordialidade foi escolhido por se referir ao processo civilizador do qual o banheiro público é fruto. As mensagens neutras foram escolhidas por permitir um contraponto na sinalização do comportamento correto, apenas descrevendo o comportamento a ser feito. Portanto, com base no método experimental, utilizando mensagens que sinalizam o comportamento adequado, pretendeu-se com este estudo investigar se a introdução de prompts que sinalizassem os comportamentos alvo com mensagens neutras e mensagens cordiais alteraria a frequência desses comportamentos no behavior setting banheiro público.

A condição cordial sinalizava um cuidado com o próximo usuário e com a saúde, enquanto que a condição neutra descrevia a correta ação a ser realizada naquele local. Ressalta-se que os dados do Estudo1 são a linha de base do Estudo 2 ao dar continuidade às observações, explorando um delineamento experimental.

Sendo assim, esse estudo verificou como uma sinalização para comportamentos relacionados ao uso do banheiro público altera a sua utilização com as seguintes hipóteses testadas na sua forma alternativa:

1. A utilização de prompts altera o comportamento de dar descarga;

2. A utilização de prompts altera o comportamento de lavar as mãos.

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Estudo 2: Experimento

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7.1 Método

7.1.1 Local

Dois conjuntos de banheiros públicos que se concentram em dois prédios com salas de aula da Universidade de Brasília, os mesmos do Estudo 1. Esses prédios se localizam próximos um ao outro e possuem uma mesma equipe de limpeza para sua manutenção. Cada banheiro possui quatro cabines, três pias, um espelho, lixeiras dentro da cabine, uma lixeira externa e um conjunto com três mictórios (banheiro masculino). Em 92,5% das observações havia papel higiênico disponível para os usuários, em 87,5% das observações havia papel-toalha e em 80% das observações havia sabão. Não foi relatada falta de água pelos observadores. Os prompts cordiais foram inseridos no conjunto de banheiros do prédio 1 e os prompts neutros foram inseridos no conjunto de banheiros do prédio 2.

7.1.2 Participantes

Possíveis frequentadores dos dois conjuntos de banheiros públicos (feminino e masculino) da Universidade de Brasília.

7.1.3 Instrumento

Planilha de observação

A mesma planilha de observação do Estudo 1 (Vide Apêndice A) que mensurava a ocorrência de lavagem das mãos, sua duração, uso do sabão líquido, uso da toalha de papel ou papel higiênico, descarte da toalha de papel ou papel higiênico, uso da descarga, quantidade de pessoas no banheiro antes e após a utilização da cabine ou do mictório, tipo de uso da cabine, ocorrência de comportamentos de interação social expressa (expressão verbal ou gesticulação como contato com outro usuário).

7.1.4 Material

Prompts

A montagem das frases dos prompts foi baseada na literatura, no estudo Delabrida et al. (2006) e em entrevistas não-estruturadas com os funcionários da limpeza responsáveis pelos banheiros estudados. Os prompts neutros nos banheiros femininos e masculinos: “Lave as mãos após utilizar a cabine”; “Lave as mãos

após utilizar a cabine ou o mictório”; “Dê descarga após utilizar o sanitário”; “Dê descarga após utilizar o mictório ou o sanitário”. Os prompts cordiais nos banheiros femininos e masculinos: “Em cuidado com a saúde, lave as mãos”; “Em cuidado com o próximo usuário, dê descarga”.

7.1.5 Procedimento

Seguiu-se o mesmo procedimento em cada um dos quatro banheiros observados. O (a) pesquisador (a) observou o banheiro em horários alternados (manhã, tarde e noite) por uma hora, durante duas semanas, de segunda a sexta-feira. Duas semanas para a linha de base (Estudo 1) e duas semanas para a intervenção (prompts). Ambos os tipos de prompts (cordial e neutro) foram afixados um abaixo do outro. No banheiro feminino, próximo ao porta papel higiênico e acima da pia para lavar as mãos e, dentro da cabine, na porta, para dar descarga. Já no banheiro masculino foram afixados também próximo ao porta papel higiênico e acima da pia para lavar as mãos, acima do mictório e dentro da cabine na parede logo acima da descarga, para dar descarga.

Foram realizadas ao todo 16 horas de observação. Cada banheiro foi observado em cada vez por um pesquisador (mulher para banheiro feminino e homem para banheiro masculino) com um relógio de pulso digital no pulso, a planilha de observação, uma revista ou livro e a caneta para registro. O pesquisador (a) ficava do lado de fora do banheiro, o mais próximo possível à sua entrada, assim que o (a) participante alvo entrava no banheiro o observador entrava alguns instantes depois e aguardava na cabine ao lado, até a saída do usuário da cabine ou a finalização do uso do mictório. Após a saída do usuário da cabine ou do mictório, ia para a área pública e ficava ali até a saída do usuário do banheiro. Os registros eram realizados fora do banheiro público ou dentro da cabine.

7.2 Resultados

De acordo com o objetivo de verificar como uma intervenção altera comportamentos relacionados ao uso do banheiro público

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foram considerados os comportamentos de uso do banheiro como dar descarga e lavar as mãos. A intervenção utilizou prompts em duas condições experimentais, neutro e cordial, focando na área pública e na área privada do banheiro. Foram levadas em consideração variáveis ambientais e comportamentais. Sendo assim, para investigar o poder preditivo das variáveis antecedentes, realizou-se regressões logísticas para as variáveis critério de uso do banheiro.

Em função das características físicas do banheiro masculino que permitem a ocorrência do comportamento de dar descarga em dois locais diferentes, cabine e mictório, e segundo análises preliminares que mostraram haver diferença nos dados, as variáveis critério foram reorganizadas. Dessa forma, como variáveis critério foram consideradas: 1) os comportamentos de dar ou não descarga na cabine; 2) os comportamentos de lavar ou não as mãos, após utilizar a cabine; 3) o comportamento de dar, ou não, a descarga do mictório; e 4) o comportamento de lavar as mãos, após utilizar o mictório.

Como variáveis antecedentes para a primeira variável critério, dar descarga na cabine, foram consideradas a introdução de prompts nos banheiros públicos (linha de base e intervenção), a especificidade dos prompts (cordial e neutro); o abastecimento dos suprimentos (papel-toalha, higiênico e sabão); a quantidade de pessoas antes e depois do usuário sair da cabine; a interação social expressa (verbal ou gestual) e o gênero.

Para a segunda variável critério, lavar as mãos após utilizar a cabine, foram consideradas como variáveis antecedentes a introdução de prompts nos banheiros públicos (linha de base e intervenção); a especificidade dos prompts (cordial e neutro); o abastecimento dos suprimentos (papel toalha, higiênico e sabão); a quantidade de pessoas antes e depois do usuário sair da cabine, a interação social expressa (verbal ou gestual); o gênero e dar ou não dar descarga.

Para a terceira variável critério, dar descarga após uso do mictório, foram

consideradas como variáveis antecedentes a introdução de prompts nos banheiros públicos (linha de base e intervenção); a especificidade dos prompts (cordial e neutro); o abastecimento dos suprimentos (papel toalha, higiênico e sabão); a quantidade de pessoas antes e depois do usuário sair da cabine ou do mictório; a interação social expressa (verbal ou gestual) e; o local de dar descarga (cabine ou mictório).

Para a quarta variável critério, lavar as mãos após usar o mictório, foram consideradas como variáveis antecedentes a introdução de prompts nos banheiros públicos (linha de base e intervenção); a especificidade dos prompts (cordial e neutro); o abastecimento dos suprimentos (papel-toalha, higiênico e sabão); a quantidade de pessoas antes e depois do usuário sair da cabine e a interação social expressa (verbal ou gestual).

Preparo da análise

Foram excluídos oito casos em função dos dados faltosos (missing). Como no Estudo 1, as variáveis referentes aos comportamentos de gesto e verbal foram transformadas em uma única variável, descrevendo assim os comportamentos denominados de interação social expressa e foi criada a variável suprimentos, que indica quando todos os suprimentos estavam presentes. Para todas as variáveis dicotômicas foram utilizados os mesmos valores 1 = sim, ocorrência e 0 = não, não ocorrência, a fim de viabilizar as análises paramétricas. Foi criada a variável “local da descarga” para a qual o uso do mictório teve valor “0” e o uso da cabine teve valor “1”.

A variável fase experimental se refere à linha de base sem prompts e a intervenção com os prompts. A variável “prompt” se refere ao tipo de intervenção feita nos banheiros, a mensagem neutra = 0 e a mensagem cordial = 1. Como nos banheiros do prédio 1 foram colocados os prompts cordiais e nos banheiros do prédio 2 foram colocados os prompts neutros, a variável “localização do banheiro” do Estudo 1 passou a se chamar Prompt neste estudo.

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Estudo 2: Experimento

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7.2.1 Hipótese 1: A utilização de prompts altera o comportamento de dar descarga

São apresentados a seguir os resultados que buscam verificar a primeira hipótese do estudo, utilizar ou não a descarga na cabine e o comportamento masculino de dar descarga no mictório e na cabine.

Utilizar ou não a descarga na cabine

Para verificar a influência das variáveis antecedentes no comportamento de dar descarga realizou-se duas regressões logísticas. O primeiro modelo foi utilizado para a comparação com os resultados do Estudo 1. O segundo modelo foi utilizado para investigar as hipóteses do presente estudo.

O primeiro modelo se refere às análises feitas com todos os participantes do estudo. A Tabela 7.2.1.1 mostra as variáveis antecedentes consideradas conjuntamente no modelo de regressão logística. A variável que se apresentou como preditora do comportamento de dar descarga foi o gênero (B = -2,67; Wald = 62,68; p <0,00). Verificou-se pela razão de chances que o impacto observado para a variável gênero (OR = -0,66;

IC 95% = 0,33-0,13) é significativo estatisticamente. A interpretação desse resultado deve se basear nos valores atribuídos para os tipos de banheiros na regressão. O banheiro masculino recebeu o valor “0”, enquanto que o banheiro feminino recebeu o valor “1”. Dessa forma, ser usuário do banheiro masculino diminui as chances de dar descarga em 34%.

Avaliando a adequação do modelo, o valor inicial do modelo vazio foi de 417,32. Verificou-se que com a introdução das variáveis antecedentes no modelo o valor diminuiu para 324,80. O modelo de predição explica entre 20 e 30% da variância do comportamento de dar descarga e indica que os preditores, como descritos, diferenciam quem dá e quem não dá descarga (Omnibus, χ²gl = 8, N = 431 = 92,52; p < 0, 000). O modelo foi capaz de classificar corretamente com uma taxa de 82%, sendo capaz de classificar corretamente quem utiliza a descarga em 96,5%, mas não sendo capaz de predizer quem não dá descarga por ter um percentual de apenas 19,5% de predição correta.

Tabela 7.2.1.1. Regressão logística predizendo o comportamento de dar descarga a partir das variáveis gênero, prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine ou mictório, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico) e fase experimental (linha de base e intervenção).

Variáveis B Wald Gl P Exp(B) IC 95%

Baixo Alto

Nº Pessoas antes -0,14 0,57 1 0,449 0,87 0,61 1,24 Nº Pessoas depois 0,04 0,05 1 0,826 1,04 0,74 1,47

Interação social -0,50 0,87 1 0,351 0,61 0,21 1,73

Gênero -2,67 62,68 1 0,000 0,07 0,04 0,13

Suprimentos -0,30 0,94 1 0,333 0,74 0,40 1,36

Prompt 0,35 1,32 1 0,250 1,42 0,78 2,60

F.Experimental -0,03 0,01 1 0,927 0,97 0,54 1,74

Constante 3,00 45,10 1 0,000 20,17

Pode-se concluir, comparando as Tabelas 6.2.1.1 (Estudo 1) e 7.2.1.1, que a intervenção dos prompts teve impacto sobre a variável interação social expressa, que deixou de ser preditora do comportamento de dar

descarga. O gênero continuou como variável preditora, sugerindo que as mulheres têm mais chances de dar descarga que os homens. A Tabela 7.2.1.2 esclarece o resultado da regressão logística, mostrando que 268 (94%)

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Delabrida, Z.N.C. 52

mulheres utilizam a descarga, enquanto que, apenas 78 (54%) homens a utilizaram.

Tabela 7.2.1.2. Descrição das variáveis antecedentes em relação à média da quantidade de pessoas antes e depois do usuário sair da cabine ou mictório, frequência da interação social, gênero, suprimentos, prompt (cordial e neutro) e fase experimental (linha de base e intervenção) em função do comportamento de dar descarga.

Variáveis Dar descarga

Antecedentes Sim Não Total

Nº Pessoas antes   1,01 0,88 0,99

Nº Pessoas depois   1,29 1 1,23

Interação social Sim 41 6 47

Não 305 79 384

Gênero Fem. 268 18 286

Masc. 78 67 145

Suprimentos Sim 238 54 292

Não 108 28 136

Prompt Cordial 200 57 257

Neutro 146 28 174

Fase Experimental L. de base 177 34 211

Intervenção 169 51 220

O segundo modelo analisou apenas os participantes que utilizaram a descarga na cabine. Os resultados são apresentados na Tabela 7.2.1.3, que mostra as variáveis antecedentes consideradas conjuntamente no modelo de regressão logística. As variáveis que se apresentaram como preditoras do comportamento de dar descarga foram a quantidade de pessoas presentes assim que o usuário saiu da cabine (B = 0,44; Wald = 3,76; p <0,052) e o gênero (B = -1,82; Wald = 20,49; p <0,00).

Verificou-se pela razão de chances que o maior impacto foi da variável referente à quantidade de pessoas depois que o usuário sai da cabine (OR = 1,55; IC 95% = 1,00 - 2,41). O aumento de 1 ponto na quantidade de pessoas logo após a saída da cabine aumenta as chances em 55% no comportamento de dar descarga (Hair et al., 2009). A razão de chances para a variável gênero (OR = 0,16;

IC 95% = 0,07 - 0,36) deve ser analisada em função dos valores que cada gênero recebeu na regressão logística. Aos banheiros femininos foi atribuído o valor “0”, enquanto que os banheiros masculinos receberam o valor “1”. Deve-se inverter a interpretação da razão de chances para entender o resultado. Pertencer ao gênero masculino diminui em 84% a chance de dar descarga.

O valor inicial do modelo vazio foi de 251,159. Verificou-se que com a introdução das variáveis antecedentes no modelo o valor diminuiu para 218,631. O modelo de predição explica entre oito e 17% da variância do comportamento de dar descarga e indica que os preditores, como descritos, diferenciam quem dá a descarga e quem não dá descarga (Omnibus, χ²gl = 8, N = 362 = 32,53; p < 0, 000). O modelo foi capaz de classificar corretamente, com uma taxa de 88,9%, sendo capaz de classificar corretamente quem lava as mãos em 100%, mas não é capaz de predizer quem não lava as mãos.

Comparando os resultados da Tabela 7.2.1.1 com os resultados da Tabela 7.2.1.3 o gênero feminino continua sendo preditor do comportamento de dar descarga. Por sua vez, o gênero masculino tende a ser preditor do comportamento de não dar descarga, mesmo que apenas se limitando a avaliar a utilização da cabine, dispositivo que é semelhante ao banheiro feminino.

Dar descarga na cabine está associada também à presença de outras pessoas no banheiro. Quando se investiga apenas os usuários da cabine, a presença de pessoas depois da utilização da cabine parece predispor a uma maior frequência em dar descarga na cabine. Além disso, o efeito da variável gênero aumenta, quando se investiga apenas quem utilizou a cabine, sendo esse aumento de 34% para 84% na razão das chances em não dar descarga no banheiro masculino.

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Estudo 2: Experimento

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Tabela 7.2.1.3. Regressão logística predizendo o comportamento de dar descarga com os participantes que utilizaram a cabine a partir das variáveis gênero, prompt, quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine, interação social, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico) e fase experimental (linha de base e intervenção).

Variáveis B Wald GL P Exp(B) IC 95%

Baixo Alto

Nº Pessoas antes -,26 1,53 1 ,217 ,77 ,52 1,16

Nº Pessoas depois ,44 3,76 1 ,052 1,55 1,00 2,41

Interação social -,78 2,16 1 ,142 ,46 ,16 1,30

Gênero -1,82 20,49 1 ,000 ,16 ,07 ,36

Suprimentos -,25 ,41 1 ,523 ,78 ,36 1,68

Prompt ,46 1,38 1 ,240 1,59 ,73 3,46

F.Experimental ,28 ,59 1 ,443 1,33 ,64 2,75

Constante 2,47 24,01 1 ,000 11,81 O comportamento masculino de dar descarga no mictório e na cabine

Esta análise verificou a influência das variáveis antecedentes no comportamento de dar descarga do mictório e da cabine para a amostra masculina. O uso da descarga no mictório foi considerado como um comportamento do ambiente privado, como é o uso da descarga na cabine.

O modelo de regressão logística analisou apenas os participantes homens para o comportamento de dar descarga para comparar o efeito da localização da descarga. Os resultados são apresentados na Tabela 7.2.1.4, que mostra as variáveis antecedentes consideradas conjuntamente no modelo de regressão logística. A variável que se apresentou como preditora do comportamento de dar descarga foi a localização da descarga (B = 1,67; Wald = 17,40; p < 0,00). Verificou-se, pela razão de chances, que o impacto da variável referente à localização da descarga, se no mictório ou na cabine (OR = 5,31; IC 95% = 2,42 - 11,63), seguiu a seguinte razão, dar descarga na cabine aumenta as chances em 431% no comportamento de dar descarga (Hair et al., 2009). Quando todas as outras variáveis estão constantes, dar descarga na cabine indica um aumento em torno de 5 vezes nas chances do sujeito ser classificado no grupo que utiliza a descarga.

Avaliando o modelo, o valor inicial do modelo vazio foi de 194,267. Verificou-se que, com a introdução das variáveis antecedentes no modelo, o valor diminuiu para 168,621. O modelo de predição explica entre 17% e 22% da variância do comportamento de dar descarga e indica que os preditores, como descritos, diferenciam quem utiliza a descarga e quem não a utiliza entre os homens (Omnibus, χ²gl = 7, N = 145 = 25,646; p < 0, 001). O modelo foi capaz de classificar corretamente com uma taxa de 69,5%, sendo capaz de classificar corretamente quem utiliza a descarga em 73% e sendo capaz de predizer quem não utiliza a descarga com um percentual de 66% de predição correta. O modelo teve um bom ajuste aos dados, o que confirma que a variável localização da descarga, cabine ou mictório, tenha efeito sobre o comportamento de dar descarga para os homens. Das variáveis antecedentes esta foi a única que se mostrou estatisticamente significativa.

Foi testado o modelo que prediz o comportamento de lavar as mãos dos homens que utilizaram o mictório. No entanto, o poder preditivo do modelo se mostrou fraco (Omnibus, χ² gl = 6, N = 67 = 2,82; p < 0, 831) e nenhuma das variáveis antecedentes se mostrou preditora. Pode-se concluir a respeito do comportamento de dar descarga ao se observar, na Tabela 7.2.1.2, que a frequência diminuiu entre a linha de base n = 177 (84%)

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e a intervenção n = 169 (77%) e que o comportamento de não dar descarga aumentou entre a linha de base n = 34 (16%) e a intervenção n = 51 (23%). No entanto, essa alteração não foi suficiente para que a variável fase experimental fosse estatisticamente significativa no modelo de regressão logística

(Tabelas 7.2.1.1 , 7.2.1.3 e 7.2.1.4). Sobre a efetividade dos dois tipos de prompts utilizados, cordial e neutro, os dados da Tabela 6.2.2.2 mostram que a frequência foi maior na condição neutra n = 146 (84%) que na condição cordial n = 200 (77%).

Tabela 7.2.1.4. Regressão logística predizendo o comportamento de dar descarga na cabine e no mictório com os participantes masculinos a partir das variáveis prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel-toalha e papel higiênico), fase experimental (linha de base e intervenção) e local de dar descarga (cabine ou mictório).

Variáveis B Wald GL P Exp(B) IC 95%

Baixo Alto

Nº Pessoas antes -0,11 0,13 1 0,717 0,90 0,50 1,61 Nº Pessoas depois -0,16 0,27 1 0,601 0,85 0,47 1,55

Interação social 0,01 0,00 1 0,994 1,01 0,08 12,48

Suprimentos 0,18 0,18 1 0,667 1,20 0,53 2,69

Prompt 0,54 1,61 1 0,205 1,72 0,75 3,95

F.Experimental -0,27 0,45 1 0,504 0,76 0,34 1,70

Cabine/Mictório 1,67 17,40 1 0,000 5,31 2,42 11,63

Constante -0,62 1,32 1 0,251 0,54

Foi testado o modelo que prediz o comportamento de lavar as mãos dos homens que utilizaram o mictório. No entanto, o poder preditivo do modelo se mostrou fraco (Omnibus, χ² gl = 6, N = 67 = 2,82; p < 0, 831) e nenhuma das variáveis antecedentes se mostrou preditora. Pode-se concluir a respeito do comportamento de dar descarga ao se observar, na Tabela 7.2.1.2, que a frequência diminuiu entre a linha de base n =177 (84%) e a intervenção n =169 (77%) e que o comportamento de não dar descarga aumentou entre a linha de base n = 34 (16%) e a intervenção n = 51 (23%). No entanto, essa alteração não foi suficiente para que a variável fase experimental fosse estatisticamente significativa no modelo de regressão logística (Tabelas 7.2.1.1 , 7.2.1.3 e 7.2.1.4). Sobre a efetividade dos dois tipos de prompts utilizados, cordial e neutro, os dados da Tabela 6.2.2.2 mostram que a frequência foi maior na condição neutra n = 146 (84%) que na condição cordial n = 200 (77%).

Apesar de, em nenhum dos modelos de regressão logística testados, a variável prompt ter sido estatisticamente significativa para o comportamento de dar descarga, deve-se ressaltar, no entanto, que descarga na cabine está associada também à presença de outras pessoas no banheiro e ao gênero (Tabelas 7.2.1.1 e 7.2.1.3). O gênero feminino foi preditor do comportamento de dar descarga e o gênero masculino foi preditor do comportamento de não dar descarga. Quando comparados os banheiros feminino e masculino apenas em relação à utilização da cabine, a presença de pessoas depois que o usuário saiu da cabine também foi preditora do comportamento de dar descarga (Tabela 7.2.1.3).

Analisou-se, também, o item mictório, que pode tanto ser considerado da área pública como um item do privado (Tabela 7.2.1.4). Quando analisado o comportamento de dar descarga na cabine e no mictório, tratando como se fossem dois comportamentos da área privada, o preditor encontrado foi a

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Estudo 2: Experimento

55

localização da descarga. Quem utiliza a descarga na cabine, tem maior chance de pertencer ao grupo dos que dão descarga, enquanto que, quem usa no mictório tem maior chance de não dar descarga (Tabela 7.2.1.4).

7.2.2 Hipótese 2: A utilização de prompts altera o comportamento de lavar as mãos Lavar ou não as mãos

Para verificar a influência das variáveis antecedentes no comportamento de lavar, ou não, as mãos realizou-se duas regressões logísticas. O primeiro modelo foi utilizado para a comparação com os resultados do Estudo 1. O segundo modelo foi utilizado para investigar as hipóteses do presente estudo.

O primeiro modelo se refere às análises feitas com todos os participantes. Os resultados são apresentados na Tabela 7.2.2.1, que mostra as variáveis antecedentes consideradas conjuntamente no modelo de regressão logística. As variáveis que se apresentaram como preditoras do comportamento de lavar

as mãos são o comportamento de dar descarga (B = 1,639; Wald = 20,130; p < 0,00) e a quantidade de pessoas no banheiro depois que o indivíduo saiu da cabine ou do mictório (B = 0,381; Wald = 4,110; p < 0,043).

Verificou-se pela razão de chances que o maior impacto é da variável referente ao comportamento de dar descarga (OR = 5,148; IC 95% = 2,51 - 10,533). Um menor impacto foi observado pela variável quantidade de pessoas depois que o indivíduo saiu da cabine ou do mictório (OR = 1,464; IC 95% = 1,013 - 2,116). O aumento de 1 ponto no comportamento de dar descarga aumenta as chances em 414% no comportamento de lavar as mãos (Hair et al., 2009). Em outras palavras, quando todas as outras variáveis estão constantes, um aumento de 1 para 2 no comportamento de dar descarga assinala um aumento em torno de 5 vezes nas chances do sujeito ser classificado no grupo que lava as mãos. Já para a quantidade de pessoas depois que o indivíduo saiu da cabine ou do mictório implica em um aumento de 46%.

Tabela 7.2.2.1. Regressão logística predizendo o comportamento de lavar as mãos a partir das variáveis gênero, prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine ou mictório, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel-toalha e papel higiênico), comportamento de dar descarga e fase experimental (linha de base e intervenção).

Variáveis B Wald GL P Exp(B) IC 95%

                Baixo Alto

Descarga 1,639 20,130 1 ,000 5,148 2,516 10,533

Nº Pessoas antes -,214 1,406 1 ,236 ,807 ,567 1,150 Nº Pessoas depois ,381 4,110 1 ,043 1,464 1,013 2,116

Interação social -,081 ,025 1 ,874 ,922 ,339 2,508 Gênero ,169 ,197 1 ,657 1,184 ,562 2,497

Suprimentos ,059 ,033 1 ,856 1,061 ,559 2,014

Prompt -,485 2,483 1 ,115 ,616 ,337 1,125

F.Experimental ,375 1,456 1 ,228 1,455 ,791 2,678

Constante ,370 ,486 1 ,486 1,448 O valor inicial do modelo vazio foi de

342,697. Verificou-se que com a introdução das variáveis antecedentes no modelo, o valor diminuiu para 310,171. O modelo de predição explica entre 7 e 13% da variância do comportamento de lavar as mãos e indica que os preditores, como descritos, diferenciam

quem lava as mãos e quem não as lava (Omnibus, χ²gl = 8, N = 431 = 32,52; p < 0, 000). O modelo foi capaz de classificar corretamente com uma taxa de 86%. Sendo capaz de classificar corretamente quem lava as mãos em 95%, mas não é capaz de predizer quem não

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Delabrida, Z.N.C. 56

lava as mãos, por ter um percentual de apenas 3,4% de predição correta.

Pode-se concluir, comparando as Tabelas 6.2.2.1 (Estudo 1) e 7.2.2.1, que a intervenção dos prompts altera a função de outras pessoas no banheiro público para o comportamento de lavar as mãos, quando há pessoas logo após a saída do indivíduo da cabine ou do mictório. Como se pode observar na Tabela 6.2.2.1, as variáveis preditoras do comportamento de lavar as mãos, além da variável dar descarga, foram local do banheiro e suprimentos. Com a introdução no modelo de regressão logística da variável fase experimental, ou seja, a intervenção nos banheiros com os prompts, a variável pessoas depois que o indivíduo saiu da cabine ou do mictório passou a ser preditora do comportamento de lavar as mãos, ao invés, da localização e da presença de suprimentos (Tabela 7.2.2.2).

Tabela 7.2.2.2. Descrição das variáveis antecedentes em relação à média da quantidade de pessoas antes e depois do usuário sair da cabine ou mictório, frequência total de dar descarga, frequência de dar descarga apenas para aqueles que usaram a cabine, apenas para os homens que utilizaram o mictório, frequência da interação social, gênero, suprimentos, prompt (cordial e neutro) e fase experimental (linha de base e intervenção) em função do comportamento de lavar as mãos.

Variáveis Lavar as mãos

antecedentes Sim Não Total

Descarga  

Geral S 313 33 346

N 58 27 85

Cabine S 292 30 322

N 23 17 40

Mictório S 20 2 22   N 35 10 45 Nº Pessoas antes   1 0,92 0,99 Nº Pessoas depois   1,28 0,93 1,23

Interação social

Sim 41 6 47

Não 330 54 384

Gênero

Fem. 253 33 286

Masc. 118 27 145

Suprimentos

Sim 251 41 292

Não 118 18 136

Prompt Cordial 226 31 257

Neutro 145 29 174

F. Experimental

L. de Base 178 33 211

Intervenção 193 27 220

Corroborando os resultados da regressão logística, a Tabela 7.2.2.2 mostra que havia mais pessoas depois do usuário sair da cabine ou mictório quando o usuário havia lavado as mãos que quando ele não havia lavado as mãos, sendo essa diferença estatisticamente significativa (t = - 2,34; p < 0,02). Esse efeito não foi observado para a quantidade de pessoas antes do usuário entrar na cabine ou utilizar o mictório. Observa-se também que a frequência de não lavar as mãos aumenta quando não se dá descarga. A porcentagem de não lavar as mãos quando se utilizou a descarga é de 11%, enquanto que a porcentagem de não lavar as mãos quando não se utilizou a descarga é de 47%. Pela regressão logística não foi possível identificar qual prompt teve mais efeito. No entanto, observando a Tabela 7.2.2.2, pode-se identificar uma diferença do comportamento de lavar as mãos entre as fases experimentais de linha de base e intervenção, os usuários lavaram mais as mãos durante a intervenção.

O segundo modelo analisou apenas os participantes que utilizaram a descarga na cabine. Os resultados são apresentados na Tabela 7.2.2.3 , que mostra as variáveis antecedentes consideradas conjuntamente no modelo de regressão logística. A variável que se apresentou como preditora do comportamento de lavar as mãos foi o comportamento de dar descarga (B = 1,93; Wald = 21,77; p <0,00). Verificou-se, pela razão de chances, que o impacto da variável referente ao comportamento de dar descarga (OR = 6,90; IC 95% = 3,06 - 15,52) seguiu a seguinte razão: o aumento de 1 ponto no comportamento de dar descarga aumenta as chances em 590% no comportamento de lavar as mãos (Hair et al., 2009). Em outras palavras, quando todas as outras variáveis estão constantes, um aumento de 1 para 2 no comportamento de dar descarga pressupõe um aumento em torno de 6 vezes nas chances

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Estudo 2: Experimento

57

do sujeito ser classificado no grupo que lava as mãos.

O valor inicial do modelo vazio foi de 278,958. Verificou-se que com a introdução das variáveis antecedentes no modelo o valor diminuiu para 245,739. O modelo de predição explica entre 7 e 13% da variância do comportamento de lavar as mãos e indica que os preditores, como descritos, diferenciam

quem lava as mãos e quem não lava as mãos (Omnibus, χ²gl = 8, N = 262 = 33,22; p < 0, 000). O modelo foi capaz de classificar corretamente com uma taxa de 87%, sendo capaz de classificar corretamente quem lava as mãos em 98,4%, mas não sendo capaz de predizer quem não lava as mãos por ter um percentual de apenas 10,6% de predição correta.

Tabela 7.2.2.3. Regressão logística predizendo o comportamento de lavar as mãos com os participantes que utilizaram a cabine a partir das variáveis gênero, prompt (cordial ou neutro), quantidade de pessoas antes e depois da entrada na cabine, presença ou ausência dos suprimentos (sabão, papel toalha e papel higiênico), comportamento de dar descarga e fase experimental (linha de base e intervenção).

Variáveis B Wald GL P Exp(B) IC 95%

                Baixo Alto

Descarga 1,93 21,77 1 ,000 6,90 3,06 15,52

Nº Pessoas antes -0,14 0,50 1 ,478 0,87 0,60 1,27

Nº Pessoas depois

0,32 2,42 1 ,120 1,38 0,92 2,07

Interação social -0,05 0,01 1 ,921 0,95 0,34 2,65

Gênero -0,13 0,09 1 ,768 0,88 0,38 2,03

Suprimentos -0,06 0,03 1 ,873 0,94 0,45 1,96

Prompt -0,57 2,67 1 ,102 0,56 0,28 1,12

F.Experimental 0,41 1,37 1 ,243 1,51 0,76 2,99

Constante 0,25 0,19 1 ,665 1,28

Dar descarga foi o principal preditor do comportamento de lavar as mãos investigando todos os participantes ou apenas aqueles participantes que utilizaram a cabine. Quando pesquisado todos os participantes, a presença de pessoas após dar descarga aparece como preditor. O que não ocorre quando se investiga apenas aqueles que utilizaram a cabine, ou seja, sem os homens que utilizaram o mictório. A relação do uso da cabine com o comportamento de lavar as mãos pode ser observado na Tabela 7.2.2.2, quem não utilizou a cabine lavou menos as mãos proporcionalmente do que quem utilizou a cabine.

Resumindo, pode-se observar na Tabela 7.2.2.2 que a frequência entre a linha de base n = 178 (84%) e a intervenção n = 193 (88%) aumentou, sugerindo um efeito da intervenção no comportamento alvo. Da mesma forma que para o comportamento de dar descarga, a

análise logística não mostrou a variável fase experimental como preditora do comportamento de lavar as mãos (Tabelas 7.2.2.1 e 7.2.2.3). No entanto, deve-se sinalizar que dos dois tipos de prompts utilizados, cordial e neutro, os dados da Tabela 7.2.1.4 mostram que houve uma pequena diferença entre a frequência de lavar as mãos na condição cordial n = 226 (88%), que foi ligeiramente maior que na condição neutra n = 145 (83%). Além disso, dar descarga continua sendo preditor do comportamento de lavar as mãos após usar a cabine, mesmo após a introdução dos prompts (Tabela 7.2.2.3). E, de forma geral, além de dar descarga, a presença de pessoas após a saída da cabine ou do mictório passa a ser preditor com a introdução dos prompts (Tabela 7.2.2.1).

Para o comportamento de lavar as mãos a variável gênero não parece ser preditora, como pode-se observar na Tabela 7.2.2.2

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cujos dados indicam que homens n = 118 (81%) e mulheres n = 253 (88%) lavam as mãos em uma frequência semelhante, com maior frequência para as mulheres. Além do mais, a variável gênero não se mostrou preditiva do comportamento de lavar as mãos em nenhum dos modelos de regressão logística testados.

Pode-se concluir o efeito dos prompts na área pública e privada do banheiro, observando as Tabelas 7.2.1.2 e 7.2.2.2. Como se verifica, com a introdução dos prompts houve um aumento no comportamento de lavar as mãos e uma diminuição no comportamento de dar descarga. Os dados também sugerem que os prompts neutros foram mais efetivos na área pública e que os prompts cordiais exerceram efeito na área privada. No entanto, nenhuma das regressões logísticas confirmou esse efeito.

Resumindo, o comportamento de dar descarga, de modo geral, está mais associado ao gênero feminino, enquanto que o comportamento de não dar descarga, ao gênero masculino. Quando comparado apenas quem utilizou a descarga na cabine, o gênero feminino continua como preditor e, acrescenta-se, quanto maior a quantidade de pessoas fora da cabine quando o usuário sair, maior a chance que ele ou ela dê descarga. Analisando apenas a amostra masculina, utilizar a cabine aumenta a chance de dar descarga. Por sua vez, utilizar o mictório é preditor de não dar descarga. Para o comportamento de lavar as mãos, de forma geral, os preditores são dar descarga previamente e quanto maior a quantidade de pessoas no banheiro na saída da cabine ou do mictório, maior a chance de se lavar as mãos. Quando se analisa, apenas, o comportamento de lavar as mãos após a utilização da cabine, apenas dar descarga previamente é preditor.

7.3 Discussão

A discussão do Estudo 2 será apresentada nos seguintes termos: (1) discussão do funcionamento dos banheiros investigados e (2) discussão das hipóteses do estudo.

7.3.1 Funcionamento dos banheiros investigados

Antes de iniciar a discussão propriamente dita, é preciso caracterizar os banheiros pesquisados a partir das observações feitas e dos resultados encontrados. Os banheiros de ambos os prédios podem ser considerados limpos, contém os suprimentos (papel higiênico, toalha e sabão), não há falta de água na pia ou na descarga. Os itens do banheiro funcionam e quando algum item está com problemas ele é interditado. Há espelhos, é amplo, a lixeira fica próxima do porta papel toalha e do porta papel higiênico. Os banheiros são limpos três vezes ao dia, no início da manhã, na hora do almoço e no final do dia. O lixo é recolhido no momento da limpeza e uma vez entre os horários da limpeza. Eles são considerados um dos melhores banheiros da Universidade (vide Estudo 3). A constância dos suprimentos, a mesma equipe de limpeza e a facilidade para conduzir a observação pela proximidade dos prédios e pelo corredor amplo, onde os observadores poderiam permanecer sem serem percebidos, já que os outros alunos utilizam a mesma prática de ficar sentados ou em pé no corredor viabilizou a investigação desses banheiros públicos.

A frequência de lavar as mãos pode ser considerada alta em ambos os banheiros. Mais de 80% dos homens e das mulheres que participaram da pesquisa lavaram as mãos ao frequentar o banheiro. A grande maioria das mulheres também utiliza a descarga, mas menos da metade dos homens a utiliza. Esses dados mostram que a utilização para o comportamento de dar descarga é adequada no banheiro feminino e parcialmente adequada no banheiro masculino. Pode-se avaliar a utilização dos banheiros como parcialmente adequada, já que a maioria dos usuários (61%) não utiliza sabão para lavar as mãos. No entanto, apenas três pessoas não jogaram o papel na lixeira.

A não utilização do sabão para lavar as mãos pode ser devido ao formato dos recipientes de sabão líquido, que não são afixados de maneira correta, o quê dificulta seu manejo. Outra explicação se baseia na

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Estudo 2: Experimento

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presença dos observadores, já que algumas pessoas foram observadas apenas molhando os dedos ou toda a mão, quando perceberam a presença dos observadores. No modelo de regressão logística a presença de pessoas depois da utilização da cabine ou do mictório é um preditor do comportamento de lavar as mãos (Tabela 7.2.2.3).

Com base nos aspectos tratados pela história da higiene, esses dados sugerem que haja dois grupos de pessoas (Vigarello, 1985/1996). Aquelas que lavam as mãos com uma preocupação de limpeza e aquelas que lavam as mãos como uma consequência do contexto social. O uso do sabão pode estar relacionado a como a pessoa avalia esse comportamento: proteção contra agentes externos ao organismo ou etiqueta social de utilização do banheiro. Se avalia esse comportamento como proteção contra agentes externos ao organismo, é fundamental a utilização do sabão. Se avalia este comportamento como etiqueta social, é apenas necessário que desempenhe o procedimento socialmente aceito.

A forma de entendimento desses resultados tem implicações prática, teórica e de método. As implicações prática e teórica se referem à forma de abordagem do comportamento de lavar as mãos. Se a mensagem vai focar na proteção contra agentes externos ao organismo ou vai focar na etiqueta social. A sugestão é que se foque nos dois aspectos, saúde e etiqueta social. No estudo de Judah et al. (2009), ao testar alguns tipos de prompts baseados em diferentes teorias, mostrou-se que o efeito dos prompts é diferenciado para homens e mulheres. Para as mulheres, os prompts mais efetivos foram baseados na teoria do risco e normas e afiliação. Enquanto que, para os homens, foram mais efetivos os baseados nas normas e afiliação, conforto e “disgust” (uma mistura de desagradável com humor). Independente do gênero, os prompts efetivos tratam do aspecto da proteção corporal (teoria do risco e “disgust”) e das normas e afiliação, da pertença a um grupo. Sendo que, o conceito de etiqueta está diretamente associado a pertencer a um

grupo, nesse caso, o grupo que sabe usar bem um banheiro seguindo normas e afiliação. As teorias que possam tratar tanto do aspecto de proteção corporal quanto de normas serão mais bem sucedidas quanto ao objetivo de aumentar o comportamento de lavar as mãos com sabão.

A implicação de método refere-se à forma de coleta dos dados. No estudo de Judah et al. a frequência de lavar as mãos foi investigada a partir da utilização do sabão. No entanto, o presente estudo identificou que nem todos que lavam as mãos utilizam o sabão. Investigar os comportamentos no banheiro público com medidas indiretas necessita de uma prévia observação in locu do comportamento alvo e se as medidas indiretas contemplam as possíveis facetas desse comportamento. No caso do comportamento de lavar as mãos, além da utilização, ou não, do sabão, a duração da ação também é importante para a definição operacional desse comportamento e, consequentemente, para sua investigação.

Não foi possível investigar se existem preditores específicos do comportamento de lavar as mãos sem sabão, em função do tamanho da amostra. E, não foi possível analisar a duração da lavagem em função da qualidade do dado, que muitas vezes não pode ser registrado. Além disso, foi possível observar que o comportamento de descarte do papel-toalha tem relação com o ambiente físico e social, porque o cesto de lixo ficava posicionado de uma maneira que realmente facilitava o seu correto descarte e não se via papel no chão que sugeria uma norma descritiva de que as pessoas naquele ambiente físico não jogam o papel no chão (Cialdini & Reno, 1990).

A frequência de lavar as mãos em ambos os banheiros, feminino e masculino, pode ser considerada alta. O mesmo se aplica para o banheiro feminino em relação a dar descarga. A utilização da descarga no banheiro masculino na cabine se assemelha ao banheiro feminino, a diferença é em relação à utilização da descarga no mictório. Salvo o uso da descarga no mictório, os outros dados sugerem um efeito teto, ou seja, os comportamentos

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observados já eram desempenhados em alta frequência, permitindo pouca alteração com a introdução dos prompts. Esse resultado sugere que o efeito teto mascarou o efeito direto dos prompts.

7.3.2 Discussão das hipóteses

A intervenção se baseou na introdução nos banheiros de prompts com mensagens que se referiam ao comportamento de dar descarga e ao comportamento de lavar as mãos em duas condições, neutro e cordial. No prompt neutro, a mensagem sinaliza claramente qual comportamento deve ser realizado, enquanto que no prompt cordial, a mensagem remete à consequência para o próximo usuário ou para a comunidade em geral.

Ao contrário do que a literatura sugere sobre o uso de prompts (Durdan, Reeder, Hecht, 1985; Cialdini & Reno, 1990; APA online, 2009; Judah et al., 2009), não se observou efeito no uso do banheiro público em função do tipo da mensagem. Os resultados mostraram que independentemente da característica da mensagem, a variável presença de pessoas depois que o(a) usuário(a) utilizou a cabine ou o mictório pôde predizer os comportamentos de lavar as mãos e dar descarga com a introdução dos prompts.

Para o comportamento de lavar as mãos, os preditores quando se analisa toda a amostra são o comportamento de dar descarga e a quantidade de pessoas depois de o usuário sair da cabine ou do mictório. Quando investigada apenas a amostra de quem utiliza a cabine, dar descarga é o único preditor. Em relação ao comportamento de dar descarga, o gênero é o principal preditor quando analisada toda a amostra. Quando analisado apenas quem utiliza a cabine, a quantidade de pessoas após sair da cabine passa também a ser preditora do comportamento de dar descarga. Resumindo, com a introdução dos prompts a presença de outras pessoas influencia o comportamento de dar descarga na cabine e influencia lavar as mãos após dar descarga do mictório.

Lavar as mãos no Estudo 1 foi predito pelo comportamento de dar descarga, pela presença dos suprimentos e pela localização do

banheiro, o banheiro de maior fluxo. No presente estudo, o comportamento de dar descarga continuou como preditor, mas a presença de pessoas após a utilização da cabine ou do mictório passou a ser preditora também. A presença de outras pessoas no banheiro é relacionado ao fluxo de pessoas no banheiro. No entanto, o que parece ter ocorrido é que a colocação dos prompts nos banheiros pode ter potencializado o efeito da presença de outra pessoa no local. Esses resultados corroboram, em parte, com o que Judah et al. (2009) encontraram. Os autores identificaram uma correlação positiva entre a quantidade de pessoas no banheiro e a quantidade de sabão utilizada no banheiro masculino, bem como, os prompts foram mais efetivos para os homens, quando havia mais pessoas no banheiro. No presente estudo, esse efeito foi observado em relação à utilização do mictório que parece estar relacionada a um menor uso da descarga.

Ao se escolher um banheiro público em bom estado de conservação e com a manutenção da limpeza constante numa universidade, em dois prédios onde circulam as mesmas pessoas no semestre, essas boas condições tiveram como consequência uma adequada utilização do banheiro por parte dos participantes da pesquisa em relação a lavar as mãos e a dar descarga para os quais prompts puderam ter pouco efeito. Esse contexto favoreceu a investigação de que outras variáveis poderiam afetar os comportamentos alvo e como os prompts poderiam potencializar outras variáveis alterando os comportamentos de lavar as mãos e dar descarga.

Os dados sugerem que a hipótese da efetividade dos prompts em função da localização do comportamento alvo no banheiro, área pública ou privada, possa ser corroborada se pesquisados banheiros que tenham uma menor taxa de lavagem das mãos, em função da alta frequência de lavar as mãos e dar descarga no presente estudo. Entre os homens, a localização do comportamento de dar descarga, se na cabine ou no mictório, altera a frequência do comportamento. Os

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usuários da cabine utilizam mais a descarga que os usuários do mictório.

O mictório pode ser considerado um item ambíguo do banheiro público por se localizar na área pública, mas se referir a uma ação do privado. Tentou-se considerá-lo tanto um item do ambiente público, relacionando ao comportamento de lavar as mãos, quanto um item do ambiente privado, relacionando ao comportamento de dar descarga na cabine. Os resultados mostram que a localização da descarga prediz a frequência do comportamento alvo, ou seja, há maior

probabilidade de ser dar descarga na cabine que no mictório.

Pode-se concluir que um aumento no comportamento de dar descarga também tem efeito no comportamento de lavar as mãos. Lehman e Geller (2004) sugerem que se trabalhe com comportamentos que podem ter maior impacto de modo geral, o comportamento de dar descarga parece atender a esse pré-requisito, por ser o comportamento de maior impacto na condução do script de utilização do banheiro público e por ser preditor do comportamento de lavar as mãos.

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8 ESTUDO 3: A LIGAÇÃO AO LUGAR E A APROPRIAÇÃO DO ESPAÇO NA INVESTIGAÇÃO DE

DOIS NÍVEIS DE BEHAVIOR SETTINGS: A UNIVERSIDADE E SEUS BANHEIROS

Este estudo trata da relação que as pessoas estabelecem com os diferentes ambientes físicos do seu cotidiano. Para tanto, os conceitos de Ligação ao Lugar, Apropriação do Espaço e Não-lugar serão apresentados para posteriormente se discutir a sua aplicação ao banheiro público.

Os conceitos de Ligação ao Lugar e Apropriação do Espaço focalizam em como os espaços adquirem um significado que permite às pessoas se sentirem pertencendo a esses espaços, desenvolvendo uma ligação afetiva e atuando sobre os mesmos, personalizando-os. A partir do momento em que uma pessoa se sente ligada, pertencendo a um espaço, este espaço se torna um lugar que faz parte, inclusive, da sua identidade. Como descreveu Moles (1976) o espaço, como o tempo, podem ser considerados como um quadro de referência ou uma quantidade utilizável, necessário ao processo de viver”(p.78).

A ligação ao lugar pode ser definida como um vínculo ou elo afetivo entre uma pessoa e os lugares específicos. O componente afetivo é o elemento que caracteriza os estudos sobre ligação ao lugar e, segundo Giuliani (2003), se dividem basicamente em três temas: qualidade do ambiente residencial, identidade e territorialidade.

A qualidade ambiental é abordada a partir de dois aspectos. O primeiro enfatiza a ligação afetiva com o lugar, investigando principalmente as características individuais, o contexto sócio-físico, respostas avaliativas e comportamentais para mensurar o desenvolvimento de laços afetivos com o ambiente residencial. O segundo enfatiza as medidas de qualidade ambiental envolvidas na satisfação dos habitantes, sendo a satisfação mensurada pelas atitudes dos habitantes para com o seu ambiente residencial (Giuliani, 2003). No entanto, a literatura sugere que a amplitude de variação de lugares que uma pessoa pode se ligar não é restrita apenas ao lugar onde nasce e mora. Pode ser desde um

objeto até o planeta terra (Altman & Low, 1992 apud Hidalgo & Hernández, 2001).

A identidade de lugar é vista como parte ou extensão da identidade do sujeito, segundo Proshansky, Fabian e Kaminoff (1983) “é uma subestrutura da identidade da pessoa sendo as cognições sobre o mundo físico no qual os indivíduos vivem” (pp. 59). O conceito de identidade de lugar, ou espacial, é usado também para descrever a identidade de um grupo (Giuliani, 2003).

O terceiro e último tema é a territorialidade. Como apresentado anteriormente, é uma forma de controle sobre o ambiente físico, definida como apropriação do espaço onde ligação, ocupação e defesa são seus três elementos constituintes. É a expressão da identidade individual e grupal tanto na forma de ocupação do espaço quanto nos comportamentos de controle e na personalização do espaço. A ligação ao lugar parece depender da função do território como primário, secundário ou terciário e do tempo de experiência com esse espaço (Giuliani, 2003).

A apropriação do espaço é definida como a maneira em que uma pessoa ou grupo se reconhece e se identifica com o lugar onde vive (Pol, 1996; 2002). O conceito de apropriação surgiu a partir da teoria marxista, em oposição ao conceito de alienação, que se refere à re-identificação com o objeto por meio da ação do trabalho, uma vez que esse objeto fora previamente alienado do sujeito.

Pol (1996; 2002) propõe um modelo dual: ação-transformação e identificação simbólica. O primeiro se refere à ação-transformação para o qual o espaço é transformado, de acordo com as necessidades baseadas no movimento de transformação e personalização, na busca de se deixar uma marca e fazer daquele espaço parte da rede de espaços significativos. O segundo se refere à identificação simbólica, que pode ser tanto

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individual quanto social, em que os componentes afetivos, cognitivos e interativos estão em relação. São acrescidos ainda os seguintes aspectos para caracterizar o modelo: a identidade do espaço ou identidade de lugar, que faz com que o espaço passe a ser um referencial de próprio reconhecimento; a dimensão territorial, que é propriamente a delimitação física; a dimensão psicossocial, que são as peculiaridades partilhadas por aquele grupo, daquele espaço; e a dimensão temporal, que permite um entendimento histórico do espaço.

Os conceitos de Ligação ao Lugar e Apropriação do Espaço (Giuliani, 2003; Pol, 1996; 2002) procuram explicar como os diferentes espaços podem ser apropriados pelos indivíduos com foco no aspecto afetivo e no aspecto da ação. No entanto, deve-se destacar uma das limitações dos estudos com base nesses conceitos, que se refere a não se tratar da possibilidade de que haja espaços que possam não ser apropriados, ao mesmo tempo, que tentam investigar espaços que têm uma função na vida do indivíduo como a vizinhança e a casa, espaços obviamente com algum grau de vinculação.

Como contraponto às duas teorias Augé (1992/1994) sugere que haja a impossibilidade de ligação a certos lugares. O conceito de não-lugar é utilizado para atribuir a alguns espaços públicos a característica de despersonalização, para explicar como as pessoas se relacionam com os espaços contemporâneos e como esses diferentes espaços podem ser definidos. Para Augé (1992/1994) “Se um lugar pode se definir como identitário, relacional e histórico, um espaço que não pode se definir nem como identitário, nem como relacional, nem como histórico definirá um não-lugar” (p.73).

O autor propõe que nem todos os espaços podem ser apropriados, no sentido de se estabelecer uma ligação afetiva com esse lugar, ou permitem uma apropriação, inclusive propondo o banheiro público como um não-lugar. Segundo o autor, como consequência desse processo, a não-ligação aos lugares seria um fator de dificuldade da vida urbana atual, por não permitir uma ligação afetiva e uma

ação do indivíduo nesse espaço, já que, essa ligação a um espaço auxilia na constituição da identidade do sujeito e organiza as suas ações no dia-a-dia.

Esses espaços são caracteristicamente pontos de trânsito e suas ocupações são temporárias. Assim, espaços com fins de transporte, trânsito, comércio ou lazer que não implicam numa apropriação dos mesmos, nos quais o usuário temporário não estabelece uma relação, serão considerados não-lugares. No lugar se é, no não-lugar se está. Essa diferença na relação com o espaço traz consequências no seu uso e na sua apropriação.

Augé (1992/1994) sugeriu que essas consequências sejam negativas para o sujeito, deixando-o desvinculado dos espaços que ele frequenta no seu cotidiano, favorecendo a impessoalidade e o não pertencimento a um grupo. Está embutida nessa análise a questão de como entender essa “transformação” de lugares em não-lugares e vice-versa. Segundo Augé (1992/1994), não existem não-lugares em sua forma pura. Dessa forma, o banheiro público pode ser um espaço identitário, relacional e histórico dependendo da relação que cada indivíduo estabelece com esse espaço.

É ressaltado pelo autor que a proliferação dos não-lugares na sociedade contemporânea e a dificuldade de transformá-los em lugares que permitam a vinculação desse sujeito a esse espaço, “.. não é certo que as ameaças que pesam sobre o meio ambiente bastem para isso” (Augé, 1992/1994, p.110). Não é suficiente a ameaça de perda dos espaços sociais para que haja outra forma de vinculação com os mesmos. Há a necessidade de que se permita uma maior vinculação dos indivíduos aos espaços. As questões sócioambientais são consideradas como força para o estabelecimento de uma nova relação com o espaço, com os ambientes físicos, mas a dúvida é se essa variável é suficiente para mudar a vinculação com os ambientes físicos. O que parece certo é que se os indivíduos não mudarem sua relação com os espaços, o bem-

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estar e a qualidade de vida podem estar comprometidos.

O banheiro público é um bom exemplo para as questões sócioambientais quando se identifica que muitos usuários o utilizam da forma que lhes convém, mesmo que possam vir a utilizá-lo novamente em um curto espaço de tempo. Esse comportamento sinaliza uma falta de vinculação com esse espaço e compromete a sua utilização. Portanto, a vinculação ao espaço é uma variável importante no entendimento do comportamento no banheiro público.

A característica do uso do banheiro público como local de ocupação temporária e de fluxo contínuo de pessoas faz com que esse espaço possa ser caracterizado como um não-lugar. O tempo que o indivíduo passa no banheiro público é limitado ao tempo de cuidado com seu próprio corpo. Não há ali uma vinculação àquele espaço já que ele será utilizado pelo próximo usuário assim que for desocupado.

No entanto, nesse ambiente físico, tanto no banheiro masculino quanto no feminino, são permitidas interações sociais e é o local de trabalho dos funcionários da limpeza. Além disso, como não há uma regulação de tempo nem de frequência de utilização, funciona como um aparato público protegido onde os indivíduos podem frequentar e passar o tempo que for necessário para atender às suas necessidades. Há regulação do seu acesso pelos usuários, seja por meio de pagamento, seja por meio do controle do acesso ao ambiente onde o banheiro público está inserido. Mas, é o usuário quem decide quanto tempo vai passar ali e dentre as necessidades que o banheiro público pode atender, qual delas será satisfeita naquele momento.

O grau de identificação com o banheiro público parece ser baixo pelas características de seu território, que é público, e pela característica das atividades que são ali realizadas, de cuidado com o próprio corpo, não favorecendo a vinculação dos indivíduos ao ambiente físico e não impactando a sua identidade. Da mesma forma que a qualidade

do ambiente residencial é um aspecto dos estudos sobre a Ligação ao Lugar, a qualidade do ambiente físico do banheiro público é um aspecto importante que impacta na sua utilização (Delabrida et al., 2007; Santos, Vasconcelos, Oliveira & Delabrida, 2009).

O aspecto da territorialidade, apesar de conter claramente o elemento de ligação, trata da ocupação e defesa desse espaço e ambos os conceitos, ligação ao lugar e apropriação do espaço tratam desse aspecto. Pode-se observar claramente a ocupação do banheiro público durante o período de sua utilização e a defesa para impedir a entrada de intrusos.

A ação-transformação no banheiro público envolve a personalização do espaço por meio de grafitos como marcas perenes e transformações pontuais que envolvem o script de sua utilização. A identificação simbólica envolve os componentes afetivos, cognitivos e interativos. São manifestos afetos negativos em relação ao banheiro público, coerentes com avaliações negativas do ambiente físico. A cognição envolve a noção de como o banheiro público deve ser utilizado, o conhecimento do seu script e os diferentes processos interativos que dependem do tipo do banheiro público, feminino e masculino.

A dimensão territorial é propriamente a delimitação física. A dimensão temporal auxilia na caracterização do banheiro público como um território terciário e pode influenciar no seu uso. O aspecto temporal também tem impacto no cuidado com o ambiente físico, porque quanto menor tempo se passa no banheiro público, mais se pode interferir na sequência adequada de utilização do mesmo, ou seja, no seu script de utilização (Silva et al., 2008). Essa dimensão também faz referência ao entendimento histórico do banheiro público, seu surgimento pós revolução industrial e o processo histórico de mudança nos rituais de limpeza que possibilitaram a sua existência.

O presente estudo usa os conceitos de Ligação e Apropriação para investigar o banheiro público, que é um território terciário, considerado na literatura como um não-lugar

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Estudo 3: Survey

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e que, portanto, os seus frequentadores não relatariam nenhum dos aspectos descritos pela literatura de ligação ou apropriação. Para isso, baseia-se na interrelação dos diferentes ambientes físicos (Barker, 1968; Russel & Ward, 1982).

Os conceitos Ligação ao Lugar e Apropriação do Espaço (Giuliani, 2003; Pol, 1996; 2002) serão tratados como complementares por abordarem diferentes aspectos da relação dos indivíduos com os espaços que os mesmos frequentam e os vários aspectos abordados podem auxiliar na aplicação dos conceitos ao banheiro público. Como há uma grande amplitude de lugares que uma pessoa pode se ligar desde um objeto até o planeta terra, essa possibilidade insere o banheiro público como um lugar com o qual os indivíduos podem estabelecer algum tipo de ligação e exercer algum grau de apropriação.

Os territórios secundários, como o local de trabalho, a escola ou a vizinhança são territórios que contém territórios terciários na sua configuração física. O banheiro público é normalmente, um território terciário inserido em territórios secundários como o local de trabalho ou o local de estudo ou mesmo a vizinhança, principalmente em função do tamanho desse território secundário e do tipo de acesso que se tem a ele.

A universidade é composta por vários behavior settings com diferentes genótipos. Um desses genótipos é o banheiro público. Como no estudo de Santos, Vasconcelos, Oliveira e Delabrida (2009) que investigou a relação dos usuários com o terminal de ônibus e seus banheiros públicos, neste estudo pretende-se investigar a relação entre o banheiro público e uma universidade. Sendo assim, o objetivo do presente estudo é investigar o quanto a relação com o ambiente maior (uma universidade) e com o ambiente menor (banheiro público) podem informar sobre como é o uso e a avaliação do ambiente menor. Especificamente, como o grau de ligação e apropriação daquele território secundário influenciaria na avaliação e no uso do território terciário? Para isso, a apropriação do espaço será medida a partir das perguntas que

avaliam os elementos da universidade, dentre eles, o banheiro público. A apropriação do espaço será acessada por meio dos itens que investigam o envolvimento dos professores, alunos e funcionários com a universidade.

Dessa forma, este estudo atende ao objetivo de investigar a ligação ao lugar e a apropriação do espaço da universidade relacionadas à avaliação e ao uso do banheiro público por meio das seguintes perguntas:

1. Qual a relação entre a avaliação de elementos da universidade e a avaliação dos seus banheiros públicos?

2. Qual a relação entre avaliação e uso dos banheiros públicos específicos da universidade?

3. Quais são os antecedentes do uso dos banheiros públicos específicos da universidade?

4. Quais são os antecedentes da avaliação dos banheiros públicos específicos da universidade?

8.1 Método

8.1.1 Participantes

Foram respondidos 331 questionários, sendo 170 (51%) questionários no prédio 1 e 161 (49%) questionários no prédio 2. A maioria dos respondentes 178 (54%) eram homens, com idade média de 22,2 (DP = 6,4) anos, sendo 319 (96%) estudantes, 1 servidor (0,3%) e 10 (3%) professores. Os participantes eram originários de 70 cidades diferentes, nacionais e internacionais, sendo 54% (N = 177) originários de Brasília.

A amostra é de conveniência ou não probabilística, no entanto, tentou se cobrir o universo dos cursos e turnos de aulas nos locais de coleta. Dos 36 cursos representados na amostra, os quatro cursos mais frequentes foram Ciências Contábeis com 129 (39%) participantes, Ciências Sociais com 20 (9%), Administração com 22 (7%) e Arquivologia com 17 (5%), sendo que 59% (194) dos respondentes estudavam no período diurno. Os participantes frequentavam a universidade 5 vezes por semana com permanência de 6 horas por dia e tinham, em média, 2,1 (DP =

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3,3) anos de universidade com mediana de 1,0 anos (min = 0; max = 36 anos). Dentre as atividades extras que mais realizavam nas dependências da universidade estavam: lazer com 60 (18%) participantes, alguma atividade esportiva com 45 (14%) participantes, pertença a algum grupo religioso com 13 (4%) participantes e pertença a algum laboratório de pesquisa com 37 (11%) participantes, desses 22 (7%) tinham um espaço próprio nesse laboratório.

8.1.2 Instrumento

O questionário (vide Apêndice B) consistiu de um conjunto de questões referentes à: a) avaliação de elementos físicos da universidade; b) relação afetiva com ambiente físico e social da universidade e o seu envolvimento com a mesma; c) avaliação de aspectos físicos da universidade e dos banheiros públicos; d) forma de uso do banheiro público e; e) dados demográficos. As questões foram abordadas em cinco perguntas abertas e 10 perguntas fechadas. As perguntas fechadas foram mensuradas utilizando dois formatos de escala tipo Likert de 5 pontos: 0 = nada a 4 =totalmente e 0 = péssimo a 4 = ótimo.

8.1.3 Local

Dois conjuntos de banheiros públicos localizados em dois prédios com salas de aula da Universidade de Brasília.

8.1.4 Procedimento

Os questionários foram aplicados nos mesmos prédios dos Estudos 1 e 2, cerca de um mês após a realização dos estudos anteriores. A pesquisadora de posse de uma carta de apresentação contatou previamente os professores que ofereciam aulas nos dois prédios alvo para marcar o dia e horário da aplicação dos questionários aos alunos e a esse professor. Na sala de aula, a mesma se apresentava aos alunos, apresentava os objetivos gerais da pesquisa e entregava os questionários. O consentimento informado era a primeira página do instrumento e era retirado logo após a entrega do questionário. A aplicação foi realizada nos três turnos e nos

dois prédios, com duração máxima para o preenchimento do questionário de 20 minutos. Os funcionários da universidade, professores e técnico-administrativo, que trabalhavam nos prédios alvo também foram contatados e convidados a participar da pesquisa.

8.2 Resultados

Os resultados do Estudo 3 são apresentados em função das respostas às perguntas levantadas. Foram feitas correlações, análise de variância (Anova), análise fatorial, regressão e análise discriminante a partir das variáveis alvo de cada pergunta, tendo sempre como variáveis critério a avaliação e o uso dos banheiros públicos de toda a universidade ou dos banheiros públicos específicos dos dois prédios alvo da universidade. A seguir são apresentadas as análises para responder a primeira pergunta.

8.2.1 Qual a relação entre a avaliação da universidade e a avaliação dos seus banheiros públicos?

Para responder a essa pergunta foi feita uma análise de correlação entre os itens investigados que avaliam os aspectos da universidade: salas de aula, biblioteca, restaurante universitário, estacionamentos, lanchonetes, xerox e os banheiros públicos, seguindo uma escala variando entre péssimo = 0 e ótimo = 4. Os resultados são apresentados na Tabela 8.2.1.1.

Como se pode observar, analisando as médias, o banheiro público foi o item que teve médias mais baixas, seguido pelo restaurante universitário, as salas de aula e as lanchonetes. Além disso, se correlacionou positivamente com todos os itens, sendo estatisticamente significativas essas correlações, com o maior índice em relação ao restaurante universitário (r = 0,40; p > 0,01) e a sala de aula (r = 0,39; p > 0,01). Indicando uma relação do banheiro público com os outros itens com avaliações semelhantes.

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Tabela 8.2.1.1. Índices de correlação entre os itens que avaliam a universidade e o item que avalia os banheiros públicos e as médias de cada item (0 = péssimo a 4 = ótimo).

Banheiros RU S. de aula Lanchon. Estacion. Xerox Biblioteca

Banheiros 1 RU 0,40** 1 Sala de aula 0,39** 0,28** 1 Lanchonetes 0,27** 0,08 0,28** 1 Estacionamentos 0,26** 0,14* 0,30** 0,44** 1 Xerox 0,25** 0,22** 0,20** 0,45** 0,32** 1 Biblioteca 0,31** 0,37** 0,41** 0,30** 0,38** 0,33** 1

MÉDIA 1,28 (DP = 0,91)

1,89 (DP = 0,95)

1,93 (DP = 0,82)

1,96 (DP = 0,93)

2,17 (DP = 0,99)

2,23 (DP = 0,98)

2,48 (DP = 0,97)

* p < 0,05; **p < 0,01.

Para investigar se a avaliação dos itens da universidade poderiam ser preditora da avaliação dos banheiros públicos realizou-se uma regressão stepwise, que mostrou as avaliações das salas de aula, do restaurante universitário e das lanchonetes como responsáveis por 27% da avaliação dos banheiros públicos (R2 = 0,27). São

apresentados na Tabela 8.2.1.2 os resultados da regressão com três modelos. O primeiro modelo (r = 0,40) apenas com a variável sala de aula, o segundo modelo (r = 0,50) com as variáveis sala de aula e restaurante universitário e o terceiro (r = 0,53) com as variáveis sala de aula, restaurante universitário e lanchonetes.

Tabela 8.2.1.2. Regressão múltipla stepwise predizendo a avaliação dos banheiros públicos a partir da avaliação dos itens sala de aula, biblioteca, restaurante universitário, estacionamento, lanchonetes e xerox.

Modelo B Erro Beta P 1 (Constante) 0,40 0,12 .001 Sala de aula 0,45 0,06 0,40 .000 2 (Constante) 0,02 0,13 .866 Sala de aula 0,35 0,06 0,32 .000 RU 0,30 0,05 0,31 .000 3 (Constante) -0,19 0,15 .194 Sala de aula 0,30 0,06 0,27 .000 RU 0,29 0,05 0,31 .000 Lanchonetes 0,17 0,05 0,17 .001

O primeiro modelo com a variável sala de aula (B = 0,40; p = 0,000) tem o maior poder preditivo (R2 = 0,16). Com o acréscimo da variável restaurante universitário (B = 0,30; p = 0,000) a predição aumenta em 9% e com o acréscimo da variável lanchonetes (B = 0,17; p = 0,001) aumenta em 3%. Dado os itens da universidade investigados, apenas a avaliação das salas de aula, seguida da avaliação do restaurante universitário e das lanchonetes poderia predizer a avaliação dos banheiros públicos da universidade.

8.2.2 Qual a relação entre avaliação e uso dos banheiros públicos específicos da universidade?

Para responder à pergunta comparou-se o agrupamento de respostas por análise de conteúdo sobre a primeira palavra lembrada em relação aos banheiros específicos com a forma que os respondentes relataram usar os banheiros públicos específicos. Foi feita uma análise fatorial da escala, de cinco pontos (0 = nada a 4 = totalmente), que tratou da forma de uso dos banheiros públicos específicos. A análise mostrou a presença de apenas um fator

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Delabrida, Z.N.C. 68

com KMO = 0,69 e com índice de precisão = 0,61. Com a retirada do item referente à influência no uso do banheiro público pela presença de outras pessoas (M = 1,47; DP = 1,40), o índice obteve um aumento (α = 0,68). Sendo assim, o fator Forma de Uso do Banheiro Público Específico (M = 3,18; DP = 0,70) ficou composto pelos itens que se referem ao uso baseado no respeito para com o pessoal da limpeza (M = 3,33; DP = 0,99), preocupação com o risco de contaminação (M = 3,06; DP = 1,21), cuidado com o próximo usuário (M = 3,15; DP = 1,01), nojo de encostar em alguma parte do banheiro (M =

2,95; DP = 1,25), preocupação em deixar o banheiro em condições de uso (M = 3,43; DP = 0,79). A análise de conteúdo permitiu encontrar quatro categorias de respostas que podem ser consideradas avaliações a respeito dos banheiros públicos específicos: positivas, negativas, neutras e sobre higiene (Vide Apêndice D).

Foi realizada uma análise de variância (ANOVA) para estabelecer a relação entre uso e avaliação dos banheiros públicos específicos. A Figura 5 mostra o resultado da ANOVA segundo a qual os grupos se diferem (F3, 301 = 5,09; p = 0,002).

Figura 5: Gráfico da média da forma de uso dos banheiros públicos específicos relatada em uma escala de 0 (nada) a 4 (totalmente) em função das categorias da primeira palavra lembrada sobre os banheiros públicos específicos.

Com base no teste pos hoc LSD as categorias se diferenciaram entre si (F3,301 = 5,09; p = 0,002). A categoria negativa (M = 3,29; DP =0,67) se diferenciou da categoria positiva (M = 2,99; DP = 0,78; p = 0,002) e da categoria neutra (M = 2,86; DP = 0,67; p = 0,006), sendo essas diferenças estatisticamente significativas. A categoria neutra também se diferenciou da categoria higiene (M = 3,23; DP = 0,66) sendo estatisticamente significativa (p = 0,047). Os respondentes que tiveram a primeira palavra lembrada categorizada como

positiva ou neutra a respeito dos banheiros públicos apresentaram uma menor média na Forma de Uso dos Banheiros Públicos Específicos em relação aos que avaliaram negativamente ou com base em aspectos de higiene.

Analisando a diferença entre os gêneros, as mulheres (M = 3,47; DP = 0,56) tiveram maior média ao descrever a forma de uso do banheiro público que os homens (M = 2,94; DP = 0,72), sendo essa diferença estatisticamente significativa (t = 7,33; p =

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Estudo 3: Survey

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0,000). As mulheres parecem utilizar melhor o banheiro público que os homens, mas a distribuição das respostas nas categorias de adjetivos que avaliam o banheiro público não difere entre os dois grupos (X22, 284 = 2,43; p = 0,30).

8.2.3 Quais os antecedentes do uso dos banheiros públicos específicos da universidade?

Foi feita uma regressão múltipla linear stepwise para identificar os preditores do fator

Forma de Uso do Banheiro Público Específico. Foram consideradas variáveis antecedentes: o fator Ligação à Universidade, as questões 6, 7 e 13 que tratam do vínculo com a universidade, estar informado sobre mudanças na universidade, identificação com a universidade e as variáveis demográficas: idade, sexo, tempo de universidade e participação em atividades da universidade.

Tabela 8.2.1.3. Regressão múltipla stepwise predizendo o uso dos banheiros públicos específicos a partir da ligação à universidade, o vínculo com a universidade, estar informado sobre mudanças na universidade, identificação com a universidade e variáveis demográficas: idade, gênero, tempo de universidade e participação em atividades da universidade. Modelo B Erro Beta P

1 (Constante) 3,47 0,05 .000 Gênero -0,53 0,07 -0,38 .000

Para extrair o fator Ligação à Universidade foi feita uma análise fatorial com as três questões que tratavam sobre se sentir em casa na universidade, se sentir ligado à universidade e sentir como seu o ambiente físico da universidade utilizando uma escala de cinco pontos (0 = nada a 4 = totalmente). A análise mostrou a presença de apenas um fator com KMO = 0,71 e com um bom índice de precisão (α = 0,82).

Os resultados da regressão são apresentados na Tabela 8.2.1.3. Apenas gênero foi preditor do fator Forma de Uso do Banheiro Público (r = 0,38). Esse resultado explica 14% do uso dos banheiros públicos específicos e sugere que a ligação à universidade não tenha impacto no comportamento de utilização dos banheiros, que é feito de forma melhor pelas mulheres (M = 3,37; DP = 0,56) que pelos homens (M = 2,94; DP = 0,72).

8.2.4 Quais os antecedentes da avaliação dos banheiros públicos específicos da universidade?

Uma análise discriminante stepwise foi realizada utilizando as variáveis que investigavam a ligação à universidade, bem como, a variável de forma de uso dos banheiros específicos e dados demográficos (gênero, idade, tempo de universidade). A

função da análise foi identificar se essas variáveis antecedentes discriminariam as categorias de palavras lembradas a respeito dos banheiros públicos específicos. Foram utilizadas apenas as categorias que polarizavam as avaliações, positivas e negativas.

Os resultados iniciais mostraram que os grupos se diferem (Box’s M = 1,68; p < 0,079) e, portanto, as demais análises puderam ser realizadas. Apenas uma função discriminativa foi calculada, sendo em quatro passos. O primeiro passo identificou o fator Forma de Uso dos Banheiros Públicos específicos (F1,

230.000 = 8,41; p < 0,004), o segundo passo acrescentou o fator Ligação à Universidade como discriminante (F2, 229.000 = 7,81; p < 0,001), o terceiro passo acrescentou a idade como discriminante (F3, 228.000 = 7,74; p < 0,000) e finalmente, o quarto passo acrescentou o vínculo com a universidade como discriminante (F4, 227.000 = 6,85; p < 0,000) . A função discriminativa calculada foi estatisticamente significativa (X2 = 25,98; W=0,89; gl = 4; p < 0,000). A correlação canônica para a função foi de 0,33 que representa respectivamente 33% da relação total entre os preditores e os grupos e foi

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responsável por 100% da variabilidade explicada entre os grupos.

Concluindo, a categoria positiva (M = 2,99; DP = 0,78) e a categoria negativa (M = 3,29; DP =0,67) se diferenciam em função da forma de uso do banheiro público específico, da ligação à universidade, da idade e do vínculo com a universidade. Como já identificado na Pergunta 2 do presente estudo, quem avalia negativamente (M = 3,28; DP =0,67) tem um melhor uso do banheiro público específico que quem avalia positivamente (M = 2,99; DP =0,77). No entanto, quem avalia positivamente os banheiros públicos específicos tem uma maior ligação (M = 2,56; DP = 0,77) que quem avalia negativamente (M = 2,20; DP = 0,90) e tem uma menor idade (M = 21; DP =5,0) que quem avalia negativamente (M = 22,8; DP = 6,5).

Sobre o vínculo à universidade, dos 66 participantes que avaliam positivamente, 39 (59%) afirmaram se apresentar a outras pessoas falando do seu vínculo com a universidade enquanto 27 (41%) não exibem esse comportamento. Dos 172 participantes que avaliam negativamente 118 (69%) afirmam se apresentar falando do vínculo com a universidade, enquanto que 54 (31%) não falam do seu vínculo com a instituição. Quem avalia negativamente se apresenta falando do seu vínculo com a universidade com uma maior porcentagem que quem avalia positivamente.

Esses resultados são baseados em 74,6% dos casos corretamente classificados, sendo o grupo que avalia negativamente foi corretamente classificado em 96% dos casos enquanto que o grupo que avalia positivamente foi classificado em 21% dos casos corretamente.

8.3 Discussão

O objetivo do presente estudo não foi identificar a ligação e a apropriação do banheiro público, mas investigar se esses conceitos poderiam ser aplicados na investigação da avaliação e na utilização desse aparato urbano. Os resultados sugerem que a

ligação à universidade pode diferenciar a forma como os seus frequentadores avaliam os banheiros públicos.

Baseado na análise do behavior setting banheiro público (Barker, 1968) e na relação entre os ambientes físicos (Russel & Ward, 1982), o banheiro público foi considerado como um território terciário inserido em outro behavior setting, uma universidade, que é um território secundário. Dessa forma foi possível investigar seu uso e avaliação em função da relação dos indivíduos com a universidade.

Duas questões se referiam propriamente à apropriação do espaço: interesse pelas mudanças da universidade (48,8% sim e 50,3% não) e participação em atividades extra-classe (34,5% sim e 64,5% não). E, como feito por Carrilo e Aguayo (2003) ao investigar a apropriação do espaço por uma comunidade próxima à Cidade do México, foi considerada como apropriação o tempo que se passa no lugar. Os respondentes passam em média 6 horas por dia com frequência de 5 (cinco) vezes por semana. Apesar da permanência durante toda a semana na universidade e boa parte do dia, as respostas às perguntas indicam uma baixa apropriação do que acontece na instituição e das atividades extras oferecidas. Supõe-se que a maior parte do tempo que se passa na universidade é em sala de aula. No entanto, analisando as questões referentes à ligação ao lugar, há ligação afetiva com a instituição, já que 65,5% dos respondentes confirmaram falar do seu vínculo com a universidade ao se apresentar e uma moderada ligação a partir do fator Ligação à Universidade com média de 2,34 (DP = 0,87).

Os resultados das análises paramétricas mostraram que há uma relação entre a avaliação dos dois níveis de ambiente: a universidade e seus banheiros públicos. Sendo que, o banheiro foi o item pior avaliado e essa avaliação pode ser predita pela avaliação dos outros três itens pior avaliados: sala de aula, a melhor preditora seguida da avaliação do restaurante universitário e das lanchonetes. Como os respondentes passam muito tempo na universidade tendo aulas torna os itens descritos de grande importância no seu bem-

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Estudo 3: Survey

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estar nesse período e, segundo os resultados, os banheiros públicos, as salas de aula, o restaurante universitário e as lanchonetes não têm atendido satisfatoriamente essas necessidades. Vale ressaltar, portanto, que não apenas o banheiro público.

A avaliação negativa do banheiro público está em acordo com o que já foi observado na literatura (Braga, Ehlert, & Günther, 2007; Santos, Vasconcelos, Oliveira & Delabrida, 2009; Silva et al., 2008; Todeschini, Pinto & Delabrida, 2004); os dados mostraram também que outros itens da universidade podem predizer a avaliação do banheiro público por terem igualmente uma avaliação negativa. Essa predição é de 27%, sugerindo que outras variáveis podem estar atuando na avaliação dos itens da universidade. No estudo de Silva et al. (2008) a condição de banheiro público sujo foi a mais associada à imagem de um banheiro público. O aspecto público também foi destacado nos resultados do estudo de Santos, Vasconcelos, Oliveira e Delabrida (2009), que encontrou um uso diferenciado e depreciativo para o banheiro público em relação ao banheiro residencial. Portanto, apenas pelo fato de ser um ambiente físico público predispõe a uma avaliação negativa.

A análise de variância mostrou que o fato de se ter uma imagem positiva do banheiro público, o que sugere uma avaliação positiva, não está relacionada com um uso adequado. Quem tem uma imagem negativa, o que também sugere uma avaliação negativa dos banheiros, relatou uma utilização mais adequada e um maior vínculo com a universidade. Supõe-se que ter uma avaliação negativa do banheiro faz com que o indivíduo tenha mais atenção na sua utilização que ao avaliar o banheiro positivamente, ou seja, fique mais exigente. Ao avaliar negativamente se tem uma expectativa que o banheiro não esteja em condições de utilização e, portanto, para que o usuário não se coloque em uma situação de risco, ele ou ela fará mais atenção ao utilizar o banheiro público.

Os dados do Estudo 1 foram coletados nos banheiros públicos dos prédios 1 e 2 aos quais o questionário deste estudo faz referência e

mostram que as pessoas fazem um adequado uso desses banheiros públicos, por exemplo, lavando as mãos e dando descarga. Apesar de se ter uma imagem negativa, positiva, neutra e de higiene desse behavior setting, uma vez dentro dele, o usuário se comporta de acordo com esse contexto. A noção de contexto é importante para entender os comportamentos no banheiro público. Corral-Verdugo e Pinheiro (1999) discutem que o uso do auto-relato tem a limitação de colocar o respondente em um contexto verbal, “fora do cenário ambiental físico-químico que se deseja estar” (p.8). A pergunta sobre se a presença de outros usuários reforça a análise dos autores já que apesar de no Estudo 2 ter se identificado que a presença de outro usuário altera o comportamento de uso do banheiro público, lavar as mãos e dar descarga, neste estudo os respondentes afirmaram que influencia muito pouco (M = 1,47; DP = 1,40). Nem sempre estamos conscientes do efeito do contexto em nosso comportamento (Zimbardo, 1971).

Supõe-se ainda que quem avaliou negativamente os banheiros públicos específicos apresentou mais desejabilidade social, pois de forma geral, as pessoas avaliam os banheiros públicos negativamente (Delabrida et al., 2007; Santos, Vasconcelos, Oliveira e Delabrida, 2009). Quem avaliou positivamente estava mais disposto a descrever claramente a forma como utiliza o banheiro público o que pode ter influenciado as médias. Os itens da escala podem ter contribuído para esse efeito, já que descreviam formas social e moralmente corretas de se utilizar o banheiro público. Para verificar esse efeito, juntamente com o questionário, poderia ter sido aplicado um instrumento que mensurasse a desejabilidade social.

As mulheres, como sugere a literatura (Corral-Verdugo, 2001; Silva et al., 2008) e no que foi observado nos Estudos 1 e 2, são mais cuidadosas com o ambiente físico e, neste caso, utilizam o banheiro público mais adequadamente que os homens. No entanto, não houve diferença de gênero na distribuição dos adjetivos positivos, negativos, neutros e de higiene sugerindo mais uma vez que a

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avaliação não está diretamente relacionada ao uso do banheiro.

Já a variável gênero se relaciona diretamente com o uso dos banheiros públicos sendo considerada preditora do uso dos banheiros públicos dos dois prédios pesquisados. A ligação e a apropriação da universidade não parecem influenciar o uso dos banheiros público. No entanto, o fator Ligação à Universidade influenciou a avaliação dos banheiros públicos específicos, bem como a idade e a forma de utilização desses banheiros públicos específicos. Esse resultado sugere que a ligação ao ambiente secundário possa influenciar a imagem ou a avaliação dos banheiros públicos. Quem associou os banheiros públicos específicos a palavras positivas relatou também uma maior ligação à universidade que quem associou a palavras negativas.

Deve-se destacar que os banheiros públicos específicos dos dois prédios pesquisados têm a peculiaridade de terem sido bem avaliados pelos respondentes. Ao contrário do que sugerem os dados dos estudos de Delabrida et al. (2007) e Santos, Vasconcelos, Oliveira e Delabrida (2009) os banheiros públicos são avaliados, de modo geral, negativamente. Alguns respondentes consideram esse conjunto de banheiros como os melhores da universidade. Esse dado permitiu comparar aqueles com uma posição favorável e aqueles com uma posição desfavorável. Dessa forma, foi possível identificar que a ligação à universidade diferencia quem avalia positivamente o banheiro público.

A discussão sobre o quanto o banheiro público pode ser considerado um não-lugar (Augé, 1992/1994) trata da ligação ao lugar e da apropriação do espaço, mas trata principalmente de como é o uso do ambiente público na nossa sociedade. Da mesma forma que Arendt (1958/2004) e DaMatta (1997) discutem a relação do público e do privado na sociedade ocidental, sinalizando para as consequências negativas do foco no privado em detrimento do público para toda a comunidade, Augé ressalta as consequências

negativas da desvinculação dos espaços e sugere que os problemas ambientais talvez tenham força suficiente para provocar uma mudança nessa relação.

Entendendo os lugares como identitários, relacionais e históricos, os banheiros públicos pesquisados não podem ser considerados não lugares, mas um local que provoca diferentes reações. Sua adequada utilização está relacionada ao gênero e sua avaliação está relacionada à vinculação à universidade e ao uso. Mas, principalmente, esse estudo revela que os ambientes públicos podem ser entendidos a partir da sua relação com os demais ambientes que compõem aquele local ou que compõem o espaço urbano como um todo, dado que as mesmas pessoas frequentam esses diferentes locais.

Dois aspectos são comuns a ambos os conceitos Ligação ao Lugar e Apropriação do Espaço, os aspectos de territorialidade e de identidade. Sendo que este último também aparece no trabalho de Augé (1992/1994). O aspecto da territorialidade parece ser mais básico, já que é a partir da noção do território, de um espaço físico específico relacionado às atividades do indivíduo e com seus vínculos afetivos, que ele ou ela pode perceber esse lugar como uma extensão da sua identidade.

Por ser um território terciário, o banheiro público não favorece a identificação dos indivíduos diretamente com esse espaço. É nesse aspecto que reside a crítica de Augé ao tratar o banheiro público como um não-lugar. Ou seja, a permanência do indivíduo naquele local é muito breve para que se possa ter uma noção de território, implicar na sua identidade e desenvolver uma apropriação daquele espaço.

De acordo com a literatura, a ligação ao lugar pode influenciar em comportamentos de cuidado com o ambiente físico (Carrilo e Aguayo, 2003; Scannell, 2003). No entanto, isso não foi observado no presente estudo. O uso dos banheiros públicos especificados no questionário está relacionado ao gênero, enquanto que a ligação à universidade prediz como os respondentes avaliam esses banheiros

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Estudo 3: Survey

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públicos. Dessa forma, a ligação ao território secundário (universidade), pode influenciar a avaliação, mas o uso do território terciário (banheiro público) está relacionado a outras variáveis sociais e contextuais.

Concluindo, os conceitos tratados neste estudo podem ser aplicados à investigação de ambientes físicos que não necessariamente impliquem em uma vinculação direta por seus frequentadores, como a casa ou a vizinhança.

Podem auxiliar no entendimento da sua avaliação e do seu uso. Permitem uma compreensão da relação dos indivíduos com os aparatos públicos e sugerem que a relação entre vinculação, avaliação e uso deve ser melhor explorada para se entender o papel da ligação aos lugares e da apropriação dos espaços em relação à forma de utilização dos ambientes físicos.

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9 ESTUDO 4: PERFIS PARA OS DIFERENTES PADRÕES DE UTILIZAÇÃO DO BANHEIRO

PÚBLICO

Os usuários de banheiros públicos frequentemente se queixam em relação à qualidade de utilização desse aparato público urbano. A literatura sugere que a inadequação do uso do banheiro público não reside no grau de dificuldade dos comportamentos, mas nas concepções de limpeza e sujeira que os originaram, além do processo histórico de mudança de hábitos que possibilitou o surgimento desse aparato urbano, a dinâmica público-privado, por ser um aparato público com características privadas, e no cuidado com a saúde do indivíduo e da comunidade.

Tratando das concepções de limpeza e sujeira (Douglas, 1966/1991), Osório e Ibañez-Novion (1998) e Teixeira e Bernardes (2007) usaram essas concepções para entender os comportamentos no banheiro público. Ambos os estudos fizeram uma investigação etnográfica para identificar as características de utilização dos banheiros públicos. Os resultados mostram que os itens físicos do banheiro não são utilizados da forma prevista. Para Osório e Ibañez-Novion (1998), a investigação do banheiro público trata da construção de um espaço social urbano e das posturas assumidas pelos usuários frente aos atos de eliminação corporal, ou seja, frente a tudo o que pode estar relacionado à ida ao banheiro. A contradição na utilização do banheiro público é ter sido um ambiente construído para tal fim, mas não ser utilizado adequadamente. Por exemplo, a descarga é raramente utilizada.

O processo histórico que se refere à mudança de hábito, chamado de processo civilizador (Elias, 1934/1994), focou a atenção nos hábitos de higiene do próprio indivíduo, no cuidado e proteção do próprio corpo, em detrimento a qualquer outro aspecto do ambiente físico ou em relação ao próximo usuário. Deve-se destacar que a relação é com o usuário anterior em função dos vestígios deixados pelo mesmo. Teixeira e Bernardes (2007) complementam a análise tratando da

relação público-privado. Para os autores, o banheiro público não garante o aspecto privado a que ele se propõe, porque permite que se tenha contato com vestígios de outros usuários e consequentemente, essa incoerência compromete a sua utilização.

Além disso, o aspecto privado tem um impacto no comportamento dos usuários do banheiro público, por exemplo, trabalhadores quando perguntados se lavavam as mãos após usar o banheiro público responderam que não, porque apesar de ser aceitável lavar as mãos em público, eles achavam que esse era um comportamento íntimo e privado (Uzzell, 2005). Havia uma preocupação em função do que os outros poderiam falar deles como se ainda estivesse em vigor o processo civilizador.

Por sua vez, o banheiro público tem uma função social que inclui a privacidade para seus usuários (Kira, 1970; 1966/1976), mas principalmente, se refere ao impacto social desse aparato urbano. Pathak (2004) e Greed (2003) mostram o banheiro público como forma de melhoria das condições sociais e da saúde do ambiente urbano.

Para Pathak (2004) as várias mudanças nas práticas sociais foram, ao longo da história, propiciadas pela invenção do banheiro, que se tornou um importante elemento da organização social atual. O banheiro é considerado como uma invenção para melhorar a condição humana. Para o autor a criação de banheiros públicos tem as funções de dar oportunidade de outro tipo de trabalho para aqueles que limpam fossa na Índia; cuidar do aspecto sanitário de uma forma ecologicamente adequada inserindo a proteção ambiental também como foco; e cuidar da saúde tanto do usuário quanto do público em geral. O banheiro público é uma ferramenta para engenharia social, justiça social e mudança social e ambiental. Reforçando a sua importância para a sociedade.

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Estudo 4: Escala

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Da mesma forma, Greed (2006) mostra que a melhoria do ambiente urbano e a garantia da saúde da comunidade estão associadas à existência do banheiro público como um local de cuidado com o descarte dos dejetos humanos e da viabilização dos hábitos de higiene relacionados às necessidades fisiológicas. A não existência do banheiro público disponível para a população que frequenta a cidade impacta na saúde do indivíduo, na sua mobilidade na cidade e na saúde e no bem-estar social da comunidade, por trazer o descarte dos dejetos humanos para qualquer lugar na cidade.

A autora propõe tornar os banheiros públicos um sistema, como é o sistema de transporte público. Para tanto, deve-se identificar as necessidades dos usuários em cada local, ter uma proporção mínima de banheiros em função da quantidade de pessoas na região, um planejamento temporal da frequência de uso, o local escolhido deve ser de fácil acesso e ser rapidamente encontrado, o seu design interno deve ser adequado tanto para homens quanto para mulheres e outros tipos de usuários, ter uma manutenção constante tanto da limpeza quanto dos suprimentos utilizados.

Esses estudos sobre o banheiro público possuem uma visão mais sistêmica e mostram como esse aparato social urbano está relacionado a variáveis que se referem à dinâmica social do ambiente urbano. Essa complexidade de elementos atesta sua importância como um aparato social urbano com funções de inserção social e cuidado com a saúde individual e pública e como local de estudo do impacto que o comportamento causa no ambiente físico e como o ambiente físico e social impacta no comportamento dos indivíduos.

Observa-se que a literatura que investiga o banheiro público como um aparato público tem descrito os comportamentos que ali ocorrem a partir de estudos etnográficos. Esses estudos auxiliam no entendimento do banheiro público como um microcosmo sócioambiental, descrevendo os comportamentos de utilização e outros

comportamentos que podem ocorrer nesse ambiente físico e que causam diferentes impactos no ambiente físico e no comportamento dos outros usuários.

Pode-se concluir que a utilização do banheiro público está relacionada a aspectos pessoais, como de educação formal e a percepção de um acordo social para a viabilização da utilização desse espaço que se referem ao produto do processo civilizador; a uma preocupação com a saúde do próprio indivíduo baseado nas concepções de limpeza e sujeira; ao impacto social desse aparato urbano ao alterar o acesso dos indivíduos à cidade e impacto na salubridade da comunidade.

O aspecto menos investigado e pouco destacado na literatura se refere ao cuidado com o ambiente físico no sentido de uma mudança em relação ao aspecto ambiental focando no impacto do comportamento humano. Esse aspecto surge a partir de um novo processo que pode ser chamado de Novo Paradigma Ambiental (Bechtel, 2000). O cuidado relacionado aonde será construído o banheiro público, como será feito o gerenciamento para um correto descarte dos dejetos e como o usuário irá se comportar dentro do banheiro público. Com base nesta última característica, o presente estudo, portanto, além de tratar dos aspectos descritos na literatura, foca no cuidado dos usuários com o ambiente físico do banheiro público.

Da mesma forma, um outro método deve ser abordado, já que a literatura não investigou, por meio de medidas de auto-relato, como esses comportamentos se inter-relacionam, podem ser agrupados e se estão associados a aspectos demográficos. Sendo que, alguns dos comportamentos que ocorrem no banheiro público são difíceis de serem identificados, utilizando apenas o método observacional, pelo aspecto privado desse ambiente físico, o que justifica a utilização de outros métodos de investigação.

Portanto, o presente estudo investigou o relato dos comportamentos de utilização do banheiro público. Esses comportamentos

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Delabrida, Z.N.C. 76

foram identificados a partir da literatura encontrada e baseado nos resultados dos estudos de Delabrida et al. (2007) e Santos, Vasconcelos, Oliveira e Delabrida (2009). Além disso, foram classificados com o auxílio de quatro juízes especialistas em quatro temas: relação com o ambiente físico, cordialidade, percepção de consequência e nojo do banheiro público. A construção do instrumento se baseou nos quatro temas com o propósito de atender ao objetivo de verificar a relação entre cuidado com o ambiente físico, cuidado consigo e percepção de consequência no uso do banheiro público. De acordo com o objetivo geral foram elaborados os seguintes objetivos específicos:

1. Construção de uma Escala de Comportamentos Ecológicos no Banheiro Público (ECEBP);

2. Verificar diferentes perfis para a Escala ECEBP.

9.1 Método

9.1.1 Participantes

Responderam ao instrumento 466 participantes, sendo 51% mulheres (n = 238) com média de idade de 23,5 (DP = 8,3). Dos que responderam, 84% (n = 374) eram estudantes universitários, 9% (n = 41) possuíam até o ensino médio e 7% (n = 30) haviam concluído o ensino superior. Os moradores de Brasília representam 51% (n = 236) da amostra, enquanto que os moradores de Aracaju são 49% (n = 230) dos participantes. Foi perguntado também quantos banheiros havia na residência e se havia um banheiro no quarto. Foi relatado em média 2,48 (DP = 1,66) banheiros por residência e 75% dos participantes não tinham banheiro no quarto.

9.1.2 Instrumento

Foi construído um instrumento composto de duas escalas (vide Apêndice C), tendo duas variações, uma para cada gênero. A primeira escala contém 45 itens que tratam do comportamento de uso do banheiro público, mensurada a partir de uma escala tipo Likert de 5 pontos (de 1 = quase nunca a 5 = quase sempre) e a segunda escala, com 20 itens, que

tratam de aspectos da estrutura física do banheiro público, mensurada a partir de uma escala tipo Likert de 5 pontos (de 0 = nada a 4 = totalmente). Finalizando o instrumento indagou-se sobre os dados demográficos. As escalas foram construídas seguindo as fases de elaboração de instrumento recomendadas por Pasquali (2001). Apenas a primeira escala será tratada no presente estudo por atender aos seus objetivos.

A escala ECEBP trata dos comportamentos de utilização do banheiro público criados a partir de quatro temas: (A) relação com o ambiente físico, (B) cordialidade, (C) percepção de consequência e (D) nojo do banheiro público. Além dos 43 itens relacionados aos temas, a escala masculina contém dois itens específicos referentes ao uso do mictório e a feminina contém dois itens específicos referentes ao descarte de absorvente íntimo e de papel higiênico (vide Apêndice E). A Escala foi denominada Escala de Comportamentos Ecológicos no Banheiro Público (ECEBP).

9.1.3 Procedimento teórico

Para montar os itens da ECEBP foi feito primeiro o procedimento teórico (Pasquali, 2001). No procedimento teórico são tratadas as definições constitutivas e operacionais de cada um dos construtos. A definição constitutiva trabalha no nível abstrato e é feita por meio de outros construtos, em termo de conceitos próprios da teoria em que ele se insere. A definição operacional trabalha no nível empírico e é a tradução concreta, em termos comportamentais, dos construtos previamente definidos. Os quatro temas são definidos a seguir.

(A) Relação com o ambiente físico

Definição constitutiva: para a psicologia ambiental a relação pessoa-ambiente físico é bi-direcional, ou seja, o comportamento influencia o ambiente físico e o ambiente físico influencia o comportamento. Todo comportamento é ambiental, porque ocorre em um determinado ambiente físico com uma determinada duração. Ele pode ser classificado em comportamento pró-ambiental, que se

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Estudo 4: Escala

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refere ao comportamento que causa o menor dano possível ao ambiente físico ou então, que traz benefícios (Steg & Vlek, 2009). E, ao contrário, pode ser classificado em comportamento anti-ambiental, que é aquele que causa danos ao ambiente físico. No presente trabalho esses termos são agrupados no termo comportamento ecológico.

Definição operacional: com base na definição constitutiva esse construto é subdividido em três características. A primeira, cuidado com o ambiente físico, aborda o uso do banheiro público seguindo o script de utilização relacionado ao comportamento pró-ambiental. A segunda, não cuidado com o ambiente físico, aborda o uso do banheiro público não seguindo o script de utilização adequado relacionado ao comportamento anti-ambiental. E, finalmente, o terceiro, uso particular do banheiro público, que aborda o uso do banheiro público de forma mais similar a um banheiro privado;

(B) Cordialidade

Definição constitutiva: o comportamento cordial, segundo Leite (1969) é uma aptidão para o social e é utilizado para definir o comportamento do brasileiro. Esse conceito está ligado ao conceito de comportamento pró-social em psicologia e ao conceito de civilidade nas ciências sociais. O conceito de comportamento pró-social “representa uma categoria de comportamentos que são definidos por alguns segmentos significativos da sociedade ou grupo como de benefício geral para outras pessoas” (Penner et al., 2005 p. 366). O conceito de civilidade trata da percepção que os ocidentais, principalmente europeus, têm de si numa perspectiva de superioridade em relação às outras sociedades. Não há nenhuma ação que não possa ser classificada como civilizada ou não civilizada. A expectativa é que todos os indivíduos das sociedades ocidentais se comportem civilizadamente como forma de mediar as relações sociais (Elias, 1934/1994).

Definição operacional: esse construto envolve os comportamentos de cuidado no uso do banheiro público que se reflete em um

cuidado com o/a outro/a usuário/a e que viabiliza a utilização do banheiro;

(C) Percepção de consequência

Definição constitutiva: esse construto se baseia nos conceitos de Dilema Social (Hardin, 1969), Armadilha Social (Constanza, 1987) e Competição e Cooperação (Ribeiro, Carvalho & Oliveira, 2004). Todos esses conceitos envolvem a dicotomia entre o individual e o grupal podendo ser vista também como uma dicotomia público-privado. Tratam da percepção das consequências das ações atuais no futuro, priorizando os ganhos de curto prazo em detrimento dos ganhos de longo prazo. Os ganhos de curto prazo normalmente não permitem que o indivíduo entre em contato com as consequências dos próprios comportamentos que impactam a longo prazo no grupo.

Definição operacional: esse construto envolve a percepção da possibilidade de retorno ao mesmo banheiro público que permite ter contato com as consequências das próprias ações, ou seja, a forma com que se utilizou o banheiro previamente impacta nas condições de utilização desse banheiro na próxima visita por aquele (a) usuário (a);

(D) Nojo do banheiro público

Definição constitutiva: é baseada no conceito de nojo definido por Teixeira e Bernardes (2007) como a dimensão simbólica da sujeira, que remete à aversão física e à evitação do contato com o outro e com o que é do outro, principalmente, seus vestígios. Segundo os autores, o pouco zelo pela preservação dos equipamentos, principalmente dos banheiros, deve-se muitas vezes à experiência de “nojo” que esses espaços propiciam.

Definição operacional: esse construto envolve evitar o uso do banheiro público em função da falta de limpeza para evitar a possibilidade em ter contato com a utilização do banheiro feita por outra pessoa. Essa preocupação se reflete numa utilização o mais rápido possível, ou mesmo, na não utilização do banheiro público.

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Delabrida, Z.N.C. 78

9.1.4 Procedimento de coleta de dados

Os (as) participantes foram abordados individualmente em feiras, pontos turísticos, correios, clínica de atendimento, posto de lavagem de carros, parques de duas capitais brasileiras (Aracaju - SE e Brasília - DF) e foram convidados a participar da pesquisa. Os pesquisadores estavam de posse de prancheta e canetas para auxiliar no preenchimento do instrumento. Participaram também estudantes universitários de três universidades (duas públicas, em Aracaju e Brasília e uma particular em Aracaju), que foram abordados em salas de aula mediante a autorização dos professores e participação voluntária na pesquisa. Todos os participantes receberam uma cópia e assinaram o consentimento informado concordando em participar da pesquisa (vide Apêndice C).

9.2 Resultados

Os resultados do Estudo 4 estão estruturados em função de cada um dos dois objetivos específicos do estudo. Ambas as variações dos instrumentos, feminina e masculina, foram analisadas conjuntamente. Os itens específicos feminino e masculino não foram incluídos nas análises da estrutura interna dos instrumentos e não foram analisadas diferenças culturais. Foi feita uma análise fatorial da escala e análise da variância multivariada (Manova) para identificação dos perfis. A seguir são apresentadas as análises referentes aos dois objetivos do estudo.

9.2.1 Objetivo 1: Construção da Escala de Comportamentos Ecológicos no Banheiro Público (ECEBP).

Para verificar a estrutura interna da Escala ECEBP e, assim, estabelecer sua validade de construto, foi feita uma análise fatorial PAF utilizando o pacote estatístico SPSS (versão 17). Numa análise preliminar dos componentes principais (PC), verificou-se que:

Na extração de 8 componentes sugerida pela análise paralela inicial com 43 itens, 11 deles não tiveram carga relevante (igual ou superior a 0,30), em nenhum dos componentes. Estes itens são os seguintes: 01, 04, 07, 12, 16, 18, 27, 30, 38, 40 e 42. Assim,

estes 11 itens foram retirados, procedendo-se nova extração PC com os 32 itens restantes. A matriz das intercorrelações desta última análise era fatorizável, isto é, apresentava suficiente covariância que permitisse a procura de fatores. O coeficiente KMO, que indica tal evento, foi de 0,757 que pode ser considerado mediano.

Para se decidir o número de componentes a serem extraídos da matriz, sendo que a análise paralela indicou a presença de até cinco ou seis componentes (Tabela 9.2.1.1) e o gráfico de dispersão (Figura 5) mostrou que a escala pode comportar entre quatro e sete componentes.

Tabela 9.2.1.1. Autovalores empíricos e aleatórios para a escala ECEBP.

Componente Autovalores iniciais

Autovalores Aleatórios Total

% da variância

1 4.493 14.039 1.522893431

2 2.700 8.438 1.454777237

3 1.801 5.629 1.403423317

4 1.647 5.147 1.358124027

5 1.422 4.443 1.318243367

6 1.282 4.007 1.281782591

.. .. .. ..

32 .311 .971 .577735653

De posse dessas informações, procedeu-se a uma análise PAF para a extração de seis fatores e submetê-los a uma rotação oblíqua (Direct oblimim) para verificar se eles eram correlacionados ou não, evento que poderia sugerir a presença de componentes de segunda ordem. O resultado dessa análise mostrou que dois dos fatores possuíam apenas três itens. Além disso, foi analisada a possibilidade do instrumento conter apenas dois fatores. Essa hipótese foi descartada pelos dois fatores não se relacionarem com a proposta teórica. Por isso, procedeu-se a uma extração de quatro fatores, com base também no objetivo inicial da construção do instrumento. Essa extração deixou 23% de covariância residual. Uma extração de cinco fatores baixou a covariância residual para 13%. Dessa forma, o aumento da matriz fatorial de quatro para seis fatores,

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Estudo 4: Escala

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que implica numa complexificação da matriz em quase 50% para ganhar somente 10% de explicação, não se justifica. Assim, a solução fatorial de quatro fatores se apresentou como a mais satisfatória, sendo, inclusive, os fatores

não correlacionados, justificando uma rotação ortogonal com o método Varimax (Tabela 9.2.1.2). Os resultados dessas análises estão apresentados na Tabela 9.2.1.3.

Número de componentes

Figura 6: Gráfico de dispersão da escala ECEBP.

Como critério de extração dos itens foi feita a supressão de cargas inferiores a 0,35. Pasquali (2001) sugere como valor de corte 0,30. Da mesma forma que Tabachnick e Fidel (2007) sugerem que os itens devem ser analisados com carga a partir de 0,32, ficando a cargo do pesquisador decidir qual a melhor

carga para o corte (p. 649). Foi escolhido como valor de corte 0,35 coerente com as cargas apresentadas pelos itens e sua adequação ao fator. Com esse critério, oito itens não apresentaram cargas maiores que 0,35 (Itens: 02, 06, 08, 26, 29, 31, 35, 41).

Tabela 9.2.1.2. Matriz de correlação entre os fatores da escala ECEBP.

Fator

Cuidado com o ambiente físico

(Fator 1)

Cuidado consigo (Fator 2)

Uso como de casa (Fator 3)

Uso do banheiro que

não para necessidades

(Fator 4) Cuidado com o ambiente físico (Fator 1) 1 Cuidado consigo (Fator 2) -0,23 1 Uso como de casa (Fator 3) 0,16 0,03 1 Uso do banheiro que não para necessidades (Fator 4) 0,20 -0,15 0,11 1

Foram extraídos quatro fatores, denominados, respectivamente como Cuidado com o ambiente físico, Cuidado consigo, Uso

como de casa e Uso do banheiro que não para necessidades que não são correlacionados entre si. A seguir, descrevem-se os quatro

Component Number3231302928272625242322212019181716151413121110987654321

Aut

oval

or

5

4

3

2

1

0

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fatores que foram interpretados com base nos quatro temas: (A) relação com o ambiente

físico, (B) cordialidade, (C) Percepção de consequência e (D) Nojo do banheiro público.

Tabela 9.2.1.3. Matriz fatorial da escala ECEBP (N = 466). Fator h2

Itens CAF** CC UCC UNNF (ÑC)* Saio do banheiro público sem dar descarga quando estou com pressa -0,678 0,483 (CA) Ao utilizar o vaso da cabine dou descarga 0,643 0,469 (PC) Utilizo o banheiro público lembrando que um próximo/a usuário/a vai utilizá-lo 0,521 0,469 (CO) Aciono a descarga se alguém antes de mim não a acionou 0,453 0,283 (NO) Abro a porta da cabine com os pés -0,424 0,305 (CA) Procuro um cesto para jogar o papel 0,413 0,272 (CO) Procuro me organizar para que a utilização da cabine respeite a ordem de chegada 0,385 0,316

(CA) Lavo as mãos após utilizar a cabine/mictório 0,377 0,266 (CO) Caso o papel não caia no cesto, pego do chão e coloco no cesto 0,375 0,235 (CO) Permito que alguém com mais urgência que eu utilize o banheiro primeiro 0,374 0,227 (PC) Ao utilizar um banheiro público procuro me lembrar que poderei utilizá-lo novamente 0,365 0,359

(NO) Dou descarga com os pés, cotovelo ou joelho -0,361 0,275 (NO) Utilizo um banheiro público caso eu esteja realmente precisando ir ao banheiro 0,458 0,229 (NO) Sinto nojo ao entrar em um banheiro público 0,431 0,241 (NO) Uso o banheiro público no menor tempo possível 0,396 0,222 (NO) Saio do banheiro público sem utilizá-lo se ele estiver sujo 0,392 0,224 (NO) Utilizo o banheiro público tocando no que for inevitável 0,388 0,168 (NO) Procuro utilizar um banheiro público pouco frequentado 0,387 0,171 (PC) Uso o banheiro público como o de casa quando utilizo o mesmo banheiro frequentemente 0,648 0,414

(PS) Comporto-me no banheiro público como no banheiro de casa 0,618 0,404 (CO) Arrumo os itens do banheiro que estiverem fora de ordem 0,373 0,265 (UP) Prefiro frequentar banheiros que tenham espelho 0,478 0,255 (UP) Escovo os dentes em um banheiro público 0,434 0,145 (UP) Converso com as pessoas dentro do banheiro público 0,357 0,197

% de variância explicada 9,77 5,83 5,41 3,06 Autovalor 14,04 8,44 5,63 5,15 N. de itens 12 06 03 03 Alfa 0,76 0,56 0,62 0,47 Lambda 0,77 0,57 0,66 0,47

Variância residual: 5 fatores = 18%; 4 fatores = 23%; 2 fatores = 34%. Variância total explicada por quatro fatores = 33,25%. * Legenda dos construtos: (ÑC) Não cuidado com o ambiente físico, (CA) Cuidado com o ambiente físico, (CO) Cordialidade, (PC) Percepção de consequência e (NO) Nojo do banheiro público. ** Legenda dos fatores: (CAF) Cuidado com o ambiente físico, (CC) Cuidado consigo, (UCC) Uso como de casa e (UNNF) Uso não para necessidades fisiológicas

Fator 1: Cuidado com o ambiente físico (12 itens; índice de precisão de 0,76), agrupou os itens relacionados aos construtos de cuidado com o ambiente físico, à cordialidade com o próximo usuário expressa no cuidado com o

banheiro e à percepção de consequência da utilização do banheiro público sobre o próprio usuário. Os dois itens de maior carga fatorial, “Saio do banheiro público sem dar descarga quando estou com pressa” com carga negativa

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e “Ao utilizar o vaso da cabine/mictório dou descarga” resumem a definição do fator, pois envolvem um cuidado com o ambiente físico do banheiro. Este explicou 9,8% da variância total.

Fator 2: Cuidado consigo (6 itens; índice de precisão de 0,56), agrupou os itens relacionados ao construto de nojo do banheiro como forma de evitar o contato com os vestígios de outras pessoas. Os dois itens de maior carga fatorial, “Utilizo um banheiro público caso eu esteja realmente precisando ir ao banheiro” e “Sinto nojo ao entrar em um banheiro público” envolvem a sensação de utilizar um banheiro público e o comportamento de evitar o contato com o banheiro público. Este explicou 5,8% da variância total.

Fator 3: Uso como de casa (3 itens; índice de precisão de 0,62), agrupou os itens relacionados à percepção da consequência da utilização do banheiro público sobre o próprio usuário e à cordialidade com o próximo usuário expressa no cuidado com o banheiro. O item de maior carga fatorial desse fator, “Uso o banheiro público como o de casa quando utilizo o mesmo banheiro frequentemente” é o item que melhor representa o construto percepção de consequência. Além disso, todos os outros itens envolvem de alguma forma a percepção de consequência da ação do usuário. Este explicou 5,4% da variância total.

Fator 4: Uso não para necessidades fisiológicas (3 itens; índice de precisão de 0,47), agrupou os itens relacionados a transformar o banheiro público em um ambiente físico não apenas para atender as necessidades fisiológicas, mas permitir outros usos. Este explicou 3,1% da variância total.

Com base nos fatores empíricos identificados para a Escala de Comportamento Ecológico no Banheiro Público foi feita a extração das médias de cada um dos fatores que são descritas na Tabela 9.2.1.4. O fator 1, Cuidado com o ambiente físico (M = 4,06; DP = 0,67) e o fator 2, Cuidado consigo (M = 3,91; DP = 0,69) foram

os que tiveram a maior média. Enquanto que o fator 3, Uso como de casa, foi o que obteve a menor média (M = 2,00; DP = 1,01) seguido do Uso do banheiro que não para necessidades (M = 2,95; DP = 1,02).

Tabela 9.2.1.4. Médias em cada um dos fatores da escala ECEBP (1 = quase nunca a 5 = quase sempre).

Média

Desvio Padrão

Cuidado com o ambiente físico (Fator 1) 4,06 0,67

Cuidado consigo (Fator 2) 3,91 0,69

Uso como de casa (Fator 3) 2,00 1,01 Uso não para necessidades fisiológicas (Fator 4) 2,95 1,02

9.2.2 Objetivo 2: Verificar diferentes perfis para a escala ECEBP.

Para investigar se existem diferentes perfis para os respondentes da escala ECEBP foi feita uma Manova do tipo medidas repetidas. Na Manova foi considerada como variável dependente multivariada os fatores obtidos na análise fatorial que se referem ao uso do banheiro público Fator 1 = Cuidado com o ambiente físico, Fator 2 = Cuidado consigo e Fator 3 = Uso como de casa. Como variáveis de agrupamento (1) o gênero e (2) o grau de escolaridade: se possui, está cursando ou se não possui ensino superior. Como variáveis de covariância (3) a idade e (4) o grau de cuidado com o banheiro público relatado numa escala de 0 a 10.

Considerando como critério de inclusão de fatores o valor de Alfa de Cronbach de 0,60 o Fator 4, Uso não para necessidades fisiológicas, não foi incluído nas análises por exibir um índice de precisão muito baixo (α = 0,47) e se referir a um construto que não é do objetivo do estudo investigar. Por sua vez, o Fator 2 foi mantido na análise por possuir índice de precisão maior (α = 0,56), apesar de menor que o critério, é coerente com os objetivos do estudo que não tem fins de diagnóstico, mas de investigação empírica.

Os resultados da Manova são apresentados na Tabela 9.2.1.5. Usando o critério de Wilks, os fatores envolvidos no uso

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do banheiro público fugiram do paralelismo (F2, 430 = 51,52; p = 0,000), em outras palavras, foi encontrado um efeito de interação, sendo entre o uso do banheiro público e o grau de

cuidado (F2, 430 = 12,90; p = 0,000), bem como em relação ao gênero (F2, 430 = 10,89; p = 0,000) e ao grau de escolaridade (F4, 860 = 3,75; p = 0,011).

Tabela 9.2.1.5. MANOVA de medidas repetidas para os fatores da escala ECEBP em função do gênero e escolaridade covariando com a idade. Testes multivariadosa

Efeito Wilks F Hipótese Erro p η2 Poder

λ gl gl Parcial observadob

Uso banheiro público 0,81 51,52 2 430.000 .000 0,19 1,00

Uso banheiro * Idade 1,00 2,63 2 430.000 .074 0,12 0,52

Uso banheiro * Grau de cuidado 0,94 12,90 2 430.000 .000 0,06 1,00

Uso banheiro * Gênero 0,95 10,89 2 430.000 .000 0,05 1,00

Uso banheiro * Escolaridade 0,97 3,75 4 860.000 .011 0,02 0,84 Uso banheiro * Gênero * Escolaridade 0,99 1,87 4 860.000 .350 0,01 0,35

Testes do efeito dentre sujeitos (Within-subjects)

Fonte gl Média F p η2 Poder

Quadrática Parcial Observado

Medida:Uso do banheiro público - Esfericidade assumida

Uso banheiro público 2 38,63 72,26 .000 0,14 1,00

Uso banheiro * Idade 2 1,60 2,99 .051 0,01 0,58

Uso banheiro * Grau cuidado 2 6,81 12,74 .000 0,03 1,00

Uso banheiro * Gênero 2 8,13 15,20 .000 0,03 1,00

Uso banheiro * Escolaridade 4 1,56 2,90 .021 0,01 0,78

Uso banheiro * Gênero * Escolaridade 4 0,53 0,99 .412 0,01 0,31

Erro (Uso banheiro público) 862 0,53

Testes do efeito entre sujeitos (Between-subjects)

Fonte gl Média F p η2 Poder

Quadrática Parcial Observado

Medida: Uso do banheiro público – Variável transformada: média

Intercepto 1 91,29 473,82 .000 0,52 1,00

Idade 1 4,13 21,47 .000 0,05 0,99

Grau de cuidado 1 8,98 46,60 .000 0,10 1,00

Gênero 1 1,16 6,01 .015 0,01 0,68

Escolaridade 2 0,39 2,04 .132 0,01 0,42

Gênero * Escolaridade 2 0,01 0,03 .968 0,00 0,05

Erro (Uso banheiro público) 438 0,19

a Baseado na soma dos quadrados Tipo III. b Calculado usando alfa = 0,05.

Considerando o quanto os fatores de uso do banheiro público variaram, pode-se observar na Tabela 9.2.1.5 que os fatores se diferenciam significativamente (F2, 862 = 72,26; p = 0,000) indicando efeito de interação além dos grupos. Há diferenças significativas no uso

do banheiro * grau de cuidado, uso do banheiro * gênero e uso do banheiro * escolaridade, há um tendência a ser estatisticamente significativa a diferença no uso do banheiro * idade. Ao considerar o quanto os fatores de uso do banheiro público se

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Estudo 4: Escala

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diferenciaram entre os grupos, foram encontradas diferenças significativas dentre idade (F1, 438 = 21,47; p = 0,000), grau de

cuidado (F1, 438 = 46,60; p = 0,000) e gênero (F1, 438 = 6,01; p = 0,015).

Tabela 9.2.1.6. Índices de correlação entre os fatores da escala ECEBP com as variáveis grau de cuidado com os banheiros públicos, número de banheiros na residência, idade e escolaridade.

Idade

Cuidado ambiente

Cuidado consigo

Uso como de casa

Grau de cuidado Escola

Idade 1 Cuidado ambiente 0,28** 1 Cuidado consigo 0,07 0,11* 1 Uso como de casa 0,20** 0,28** -0,14** 1

Grau de cuidado 0,19** 0,43** 0,08 0,24** 1 Escolaridade -0,07 0,04 -0,02 -0,19** 0,01 1

* p < 0,05; **p < 0,01.

De modo geral, há diferentes perfis em função do gênero e do grau de escolaridade. Como se pode observar na Tabela 9.2.1.6, idade e grau de cuidado se correlacionam positivamente com os fatores, ou seja, quanto maior a idade e o grau de cuidado com o banheiro público relatado haverá um maior cuidado com o ambiente físico do banheiro público, maior cuidado consigo e maior uso do

banheiro público como de casa. As mulheres (M = 3,89; DP = 0,99) relataram um maior cuidado com o banheiro público, de forma geral, que os homens (M = 3,48; DP = 1,00) sendo essa diferença estatisticamente significativa (t = 4,42; p = 0,000). Mas, não há diferença de idade entre os dois grupos.

Como se pode observar comparando as Figuras 6 e 7, o Fator 3 se diferencia dos outros dois fatores significativamente (p >0,05), sugerindo pouca preocupação em utilizar o banheiro público como o de casa. As mulheres têm um maior cuidado com o

ambiente físico e consigo que os homens, mas um menor uso do banheiro público como de casa. Independente do gênero, quanto menor o grau de escolaridade maior o uso do banheiro público como de casa. Entre as mulheres, o cuidado com o ambiente físico

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varia muito pouco em relação ao grau de escolaridade, enquanto que para os homens o cuidado consigo é o fator estável para a escolaridade.

9.3 Discussão

Este estudo visou investigar se o relato da forma de utilização do banheiro público pode se organizar em função de construtos baseados nos temas relacionados ao banheiro público pela literatura. Além disso, a medida de auto-relato permitiu identificar perfis de usuários que outros métodos não puderam fazê-lo.

Pode-se concluir que a forma de utilização do banheiro público varia em função do grau de cuidado com o banheiro público de modo geral, do gênero e da escolaridade. O padrão de utilização dos diferentes perfis envolve o cuidado com o ambiente físico, o cuidado com a própria saúde, a utilização do banheiro público como de casa e uma necessidade de utilizar o banheiro público não somente como local para o cuidado com as necessidades fisiológicas.

O Fator 1-Cuidado com o ambiente físico foi o fator com melhor índice de precisão (α = 0,76), e sugere que o cuidado com o ambiente físico do banheiro público, ou seja, um uso adequado, pode ser expresso fazendo atenção à utilização, sendo cordial, não tendo nojo e percebendo as consequências do próprio uso.

O Fator 3- Uso como de casa agrupou dois itens do tema percepção de consequência e um item do tema cordialidade. No uso do banheiro público a percepção de consequência é utilizar o banheiro público como o de casa.

O tema cordialidade com o próximo usuário se distribuiu entre os fatores cuidado com o ambiente físico e o uso como de casa, sugerindo que esse tema poderia ser estruturado a partir desses dois aspectos. Nesse ambiente físico o cuidado com o próximo usuário é traduzido no cuidado com o ambiente físico. Por exemplo, dar descarga é um cuidado com o ambiente físico que tem impacto direto sobre o próximo usuário daquela cabine. Como o brasileiro é considerado um povo cordial (Leite, 1969) essa associação parece ser frutífera no intuito de

tornar os habitantes urbanos engajados em comportamentos mais adequados ambientalmente.

O Fator 2-Cuidado consigo está diretamente relacionado ao tema nojo. No estudo Silva et al. (2008) foi identificado que o cuidado consigo pode comprometer o cuidado com o ambiente físico. Esse fator não se correlaciona com os outros fatores sinalizando que o cuidado consigo é um aspecto diferenciado do cuidado com o ambiente físico e das outras formas de utilização do banheiro público.

O Fator 4-Uso não para necessidades fisiológicas agrupou os três itens do tema uso particular do banheiro público, mas teve o menor índice de precisão (α = 0,47). Esse baixo índice de precisão é devido, em parte, ao baixo número de itens. Além disso, é um construto que foi pouco explorado no questionário, sugerindo que possa ser melhor explorado em uma outra versão do instrumento, já que parece ser importante para explicar o comportamento dos indivíduos no banheiro público. A necessidade de transformar esse espaço, que é público, em um uso particular pode auxiliar no entendimento da relação público-privado. A literatura já sugere que os brasileiros se comportam na rua como se estivessem em casa, mas sem a mesma relação de cuidado com a rua que se tem com a casa (DaMatta, 1997).

Os resultados da Manova sugerem que os respondentes têm um cuidado com o ambiente físico e um cuidado consigo, mas um baixo uso do banheiro público como o de casa. Ter um maior cuidado com o ambiente físico e, ao mesmo tempo um maior cuidado consigo, parece ser conflitante porque não são ações complementares. O cuidado com o ambiente físico implica em um maior contato com os itens do banheiro público, enquanto que o cuidado consigo implica no não contato com os itens e até mesmo sua não utilização.

Pode-se explicar esse dado, entendendo o cuidado com o ambiente físico, se referindo a quando os participantes encontram um banheiro limpo e o cuidado consigo se

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Estudo 4: Escala

85

referindo a quando os participantes encontram um banheiro sujo. Como foi encontrado no estudo de Silva et al. (2008), o estado de conservação do banheiro público altera a sua utilização. A preocupação consigo parece influenciar também no não uso do banheiro público como o de casa. Estruturalmente os dois banheiros, residencial e público, são muito semelhantes.

Os resultados sugerem que as consequências da utilização do banheiro público só são percebidas quando tocam no aspecto individual. Não são percebidas quando tocam no aspecto do grupo. Nenhum item que se referiu à percepção de consequência da ação do indivíduo no próximo usuário apresentou carga suficiente para entrar na análise. Foi feita, inclusive, uma análise dos componentes principais (PC) dos itens excluídos, mas os mesmos não se agruparam em nenhum fator. O único item que permaneceu na análise e que claramente trata da preocupação com o próximo usuário, item 28 (vide Apêndice E) foi agrupado no Fator 1 – Cuidado com o ambiente físico.

O gênero, a escolaridade e o grau de cuidado relatado com o banheiro público diferenciam os padrões de utilização do banheiro público. O principal dado se refere ao fato de que as mulheres se apresentaram com mais cuidado com o ambiente físico e consigo, mas com menor uso do banheiro público como o de casa que os homens. Estudos sobre comportamento pró-ambiental (Corral-Verdugo, 2001; Hunter, Hatch & Johson, 2004) sugerem que as mulheres sejam mais pró-ambientais, i. é, tenham atitudes mais favoráveis ao cuidado do ambiente físico que os homens.

O presente estudo investigou o efeito da idade e da escolaridade com base na descrição de comportamentos e os dados mostram que a idade não diferencia claramente os usuários e a escolaridade tem uma relação inversa com usar o banheiro público como o de casa. Ao contrário do que sugere a literatura, que quando investigado o posicionamento do indivíduo, atitudes em relação a alguma

questão, como no estudo de Orpen (1982) conclui-se que atitudes pró-ambientais se correlacionam positivamente com o nível educacional e, negativamente, com idade.

Deve-se ressaltar que a literatura não havia pesquisado o dilema entre o individual e o social a partir da utilização de um ambiente físico - sendo um fato mais imediato - mas em consideração às consequências futuras (Brun, 2001) na próxima utilização do banheiro público. Não aparece também na literatura a percepção de consequência usando os conceitos de público e privado, o banheiro de casa e o banheiro da rua. Investigar como cada gênero representa a relação entre o público e o privado pode auxiliar no entendimento da diferença de utilização do banheiro público. Além disso, o cuidado com o banheiro público se correlaciona com o cuidado com o ambiente físico. Se a pessoa tem um maior cuidado com o banheiro público de forma geral, pode ter mais cuidado com o seu ambiente físico, no momento da utilização.

Apesar do uso de medidas de auto-relato serem vulneráveis à desejabilidade social e à memória do respondente (Corral-Verdugo & Pinheiro, 1999) todas as questões da escala se referiam a ações concretas, o que pode ter minimizado esse efeito. Sendo que, muitos dos comportamentos investigados não poderiam ter sido investigados de outra maneira, por fazerem parte do âmbito do privado. Dessa forma, as limitações do estudo se referem principalmente às limitações da própria escala. Os fatores 3 e 4 tiveram poucos itens e, de modo geral, não refletiram claramente os construtos teóricos propostos, com exceção do fator 2. A escala permitiu ter uma noção geral de como os comportamentos de utilização do banheiro público podem ser agrupados nos construtos propostos e sinalizar para diferentes perfis de utilização do banheiro público. No entanto, seria interessante fazer uma revisão da escala para que ela tenha índices mais confiáveis e aborde mais aspectos da utilização do banheiro público de que tratam os construtos teóricos.

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10 DISCUSSÃO GERAL Esta tese se insere na tradição de estudos

que tenta entender o efeito do contexto no comportamento dos indivíduos (Lewin, 1939; Barker, 1968; Milgram, 1970; Zimbardo, 1971; Goldiamond, 2002). Segundo Zimbardo “De modo geral, nós somos e fazemos o que é determinado pela situação em que estamos” (p. 114), ou seja, as variáveis do contexto tem mais efeito sobre o nosso comportamento que normalmente temos consciência. Lewin foi o primeiro psicólogo social a propor que o ambiente à volta do sujeito também é parte do que deve ser levado em consideração em termos psicológicos. Inclusive sugere que comportamento é função da pessoa e do ambiente físico com a famosa fórmula: C = f(PxA). No entanto, quem melhor operacionalizou essa relação na psicologia ambiental foi Barker (1968) ao investigar os behavior settings. Complementarmente, Milgram (1970) contribuiu para mostrar como o ambiente urbano influenciava o comportamento dos seus moradores, auxiliando na contextualização e na investigação da funcionalidade de comportamentos inadequados socialmente.

Este trabalho também se insere dentre aqueles que tentam melhorar o ambiente urbano ao investigar o banheiro público (Pathak, 2004; Uzzell, 2005; Greed, 2003). Sendo que, poucos estudos se dedicaram a entender a complexidade de aspectos que envolvem utilização, manutenção e construção do mesmo. Saarinen (1976) sugere que isso ocorra porque nossas atitudes em relação à higiene pessoal impediram que o banheiro fosse olhado com o devido cuidado e interesse. Uzzell (2005) resume o papel social dos banheiros públicos como importantes para as questões de saúde, para as questões de sustentabilidade e uma importante questão de negócio. Para este autor, não é coincidência que as sociedades mais civilizadas na história humana trataram a higiene pessoal e pública como uma questão de segurança e prosperidade.

O banheiro público é um aparato público urbano que surge em função de mudanças no cuidado com o corpo. Ao longo da história da higiene ocidental o cuidado com o corpo se torna cada vez mais privado e é necessário que haja um ambiente público que permita às pessoas privacidade para – não apenas - cuidar do corpo ao saírem de casa. A partir do relato histórico, se destaca que o interesse da psicologia ambiental nesse ambiente físico deve ser no seu surgimento, já que também implica em um cuidado com o ambiente físico ao se ter um local para a destinação dos dejetos humanos protegendo o ambiente urbano desse tipo de contaminação (Greed, 2006).

Deve-se destacar que o processo de purificação envolve rituais de limpeza para o qual limpo e sujo são sempre relacionais (Douglas, 1966/1991), por isso a preocupação com a limpeza em um banheiro público e em um banheiro residencial assumem conotações diferentes e faz com quê as pessoas utilizem os dois locais de forma muito diferente, mesmo que seja estruturalmente muito semelhantes.

Constatou-se que nesse ambiente físico temos dois grupos de variáveis. Um grupo relacionado ao cuidado com o corpo e outro grupo relacionado ao cuidado com o ambiente físico. O cuidado com o ambiente físico se refere tanto ao processo de purificação do ambiente em função da eliminação dos dejetos humanos quanto à dinâmica de um ambiente físico que é público. Sendo um aparato público, no nível individual, há regras para sua utilização que permitem que outras pessoas o utilizem também. No nível comunitário sua construção e manutenção estão relacionadas a concepções de cuidado e de qualidade do meio urbano.

A história da higiene no Brasil mostra que a relação dos brasileiros com o ambiente físico está relacionada mais ao descarte do que é indesejável do que uma concepção da interrelação comportamento-ambiente físico.

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Segundo Bueno (2007) foi a invasão holandesa que mais influenciou uma outra postura em relação ao ambiente físico, com maior preocupação nas consequências do cuidado com o ambiente físico na qualidade urbana. Atualmente, o Novo Paradigma Ambiental colocou novamente em pauta a necessidade de uma postura de cuidado com o ambiente físico.

As questões ambientais tratam da importância de se ter uma concepção mais integrada dos eventos, entendendo qual o papel do comportamento humano na relação pessoa-ambiente físico em função de suas consequências. O estudo do banheiro público traz a discussão a respeito das questões ambientais para dentro do ambiente urbano, ao permitir mostrar que a construção e a utilização desse ambiente físico sinaliza como é o cuidado com o ambiente físico naquele contexto. Por exemplo, pode-se levar em conta desde a forma do uso da água até a existência de um sistema sanitário e as estratégias de eliminação ou de aproveitamento dos dejetos.

O banheiro público, por ser um ambiente físico com uma delimitação física clara, permitiu que se investigassem comportamentos ecológicos de forma direta, por meio da observação ou experimentação e de forma indireta com métodos de auto-relato. Isso se refletiu no arranjo dos estudos, que permitiu que se utilizasse diferentes métodos numa abordagem multimétodo o que viabiliza responder perguntas distintas a respeito do mesmo objeto. Cada um dos estudos empíricos do presente trabalho visou responder a um objetivo específico, que se refere ao objetivo geral de tornar o banheiro público um objeto de estudo da psicologia ambiental, contribuindo para o estudo das questões ambientais.

Os primeiros estudos se basearam na observação e na experimentação para entender a dinâmica de funcionamento do behavior setting banheiro público e testar uma intervenção. Os outros dois estudos se basearam em auto-relato para ter acesso às

informações que a observação e a experimentação não puderam investigar. Os Estudos 1 e 2 são complementares por utilizarem o mesmo instrumento de coleta de dados, mas são estudos diferentes, que atendem a objetivos diferentes. Essa estrutura permitiu que os dados dos dois estudos fossem analisados de forma independente para um melhor entendimento desse behavior setting, identificação dos limites da investigação de ambientes físicos públicos e aplicação dos demais conceitos teóricos da tese. O instrumento do Estudo 3 foi aplicado no mesmo local, mas em datas diferentes, que dos Estudos 1 e 2 permitindo investigar o comportamento de uso daqueles banheiros públicos por meio de auto-relato, complementando os dados da observação e da experimentação. O Estudo 4 também utilizou a medida de auto-relato, mas foi o mais geral tanto em termos da amostra quanto da forma de investigação dos comportamentos de uso do banheiro público, o que permitiu investigar como o relatado dos participantes se agrupavam nas diferentes formar de se utilizar o banheiro público.

Como sugere Corral-Verdugo e Pinheiro (1999) e Lehman e Geller (2004), foram utilizados métodos de auto-relato, mas também foram feitas observações e foi utilizada a experimentação. As análises dos dois primeiros estudos focaram modelos com variáveis comportamentais e ambientais para aumentar o poder preditivo dos achados. Foram dois comportamentos alvos, lavar as mãos e dar descarga, que podem ser relacionados a todos os construtos pesquisados no banheiro público. Além disso, esses comportamentos são estratégicos na utilização do banheiro público.

O presente estudo utilizou teorias da psicologia ambiental como forma de integrá-las em um mesmo objeto com base na discussão levantada por Kurz (2002). Da mesma forma que muitos estudos da psicologia ambiental apenas se baseiam em auto-relatos, muitos estudos que investigam

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a questão sócioambiental não trabalham com os conceitos da área.

De acordo com as abordagens para aumentar o comportamento pró-ambiental propostas por Steg e Vlek (2009) os fatores que influenciam os comportamentos no banheiro público do aspecto motivacional foram tratados a partir das regras associadas à higiene, traduzidas na forma como se utiliza o banheiro público, à relação público-privado e à ligação e à apropriação do ambiente onde o banheiro está inserido. O contexto teve papel fundamental na descrição e explicação dos comportamentos no banheiro público. E o aspecto habitual dos comportamentos foi tratado a partir do script de utilização do banheiro. Foi feita uma intervenção com uma estratégia informacional. Levando em consideração todos esses aspectos como critérios de avaliação, pode-se dizer que o presente trabalho contribuiu para a investigação das questões sócioambientais.

Ao aplicar o conceito de behavior setting (Barker, 1968) ao banheiro público foi possível destacar a variável temporal. O tempo de permanência no banheiro público se relaciona à sua característica de território terciário (Altman, 1975; Gifford, 2002). Quanto menor o tempo que se passa no banheiro público, menor é a vinculação a ele, já que a territorialidade é um modulador da ligação ao lugar (Giuliani, 2003), caracterizando-o, apenas, como um local de passagem (Augé, 1992/1994) e favorecendo a escolha de uma estratégia de utilização que desfavorece o cuidado com o ambiente físico e com o próximo usuário, para favorecer apenas o cuidado com o indivíduo.

O tempo e o espaço são as variáveis base para qualquer análise em psicologia ambiental (Moles, 1976). Os indivíduos interligam os diferentes ambientes ao se deslocarem de um local para outro, em função do tempo que permanecem em cada lugar e do planejamento da ação no ambiente físico (Russel & Ward, 1982). Behavior settings distantes no espaço são interligados por pertencerem ao mesmo

genótipo, ou seja, por possuírem um programa de funcionamento semelhante. Essa rede de behavior settings está inserida em outros ambientes físicos. As mesmas pessoas que frequentam o ambiente onde o banheiro público está inserido, como uma universidade, provavelmente irão frequentar o banheiro.

O cuidado com o ambiente físico do banheiro público foi associado a um cuidado com o próximo usuário. Essa pode ser a forma de se resolver os dilemas entre as necessidade individuais e grupais (Hardin, 1968). Relacionar o indivíduo com o ambiente físico como uma gestalt, o que pode favorecer a percepção das consequências da ação dos indivíduos no ambiente físico e o reflexo dessas modificações no ambiente físico nos próprios indivíduos. Quanto mais interligada for a percepção da relação pessoa-ambiente físico, mais fácil é entender a sua dinâmica e poder privilegiar escolhas que não visem apenas o individual, mas o grupal. O grupal se relaciona diretamente com a percepção das consequências de longo prazo (Nevin, 2005).

O banheiro público, simplesmente por ser público, já é avaliado negativamente. E essa dinâmica entra em um ciclo vicioso que desfavorece tanto o planejamento da construção desses aparatos públicos, quanto a sua manutenção. O banheiro público não sendo preparado para manutenção da limpeza compromete a sua utilização e reforça a avaliação negativa do que é público. Esse é o dilema brasileiro, encontrar outras estratégias que não fazer um uso do que é público de maneira privada (DaMatta, 1997), já que não permite que o grupo tenha contato com as consequências das suas ações. O público é de todos, mas não é de ninguém.

A privacidade é o conceito mais claramente aplicável ao banheiro público. Comportamentos de proteção a esse território contra intrusões mostram claramente o quanto a privacidade é importante. Há reações negativas por parte das mulheres e dos homens, ao haver

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violação desse espaço (Lyman & Scott, 1967), quando se faz uso do banheiro público, por exemplo, para encontros homoeróticos (Humphreys, 1970), ao haver invasão pelo gênero oposto e ao se perceber a possibilidade de contaminação por vestígios de outro usuário.

Os resultados dos estudos mostraram a importância da privacidade para o banheiro público masculino que possui o mictório. O fato dos homens terem que satisfazer sua necessidade fisiológica na parte pública do banheiro influenciou na sequência do script de utilização, desfavorecendo o uso da descarga. Além disso, um dos aspectos levantados pela Escala de Comportamento Ecológico do Banheiro Público (ECEBP) foi o uso que não para as necessidades fisiológicas, se relacionando à possibilidade de utilizá-lo de maneira que não relacionada à atender as necessidades fisiológicas, suscitando outros usos para o banheiro público, inclusive um uso mais particular.

De modo geral, os resultados dos estudos mostraram que variáveis demográficas e ambientais auxiliam no entendimento dos comportamentos de utilização do banheiro público. Os comportamentos de cuidado com o corpo e o cuidado com o ambiente físico podem ser exemplificados pelos dois comportamentos básicos de utilização: dar descarga e lavar as mãos.

Os comportamentos de cuidado com o corpo se referem ao âmbito privado enquanto que o cuidado com o ambiente físico ao âmbito público do banheiro público. Essa dinâmica público-privado influencia a utilização do banheiro público, o grau de cuidado com o indivíduo em oposição ao grau de cuidado com o ambiente físico. O fato de ser um aparato público com características privadas ressalta o aspecto da privacidade e a necessidade de regulação do acesso a si (Altman, 1975). Nesse quadro devem ser inseridas as variáveis relacionadas ao gênero, ao grau de escolaridade, à idade e às características físicas do banheiro público: cabine ou mictório, presença de suprimento, a

presença e o fluxo de pessoas, a sinalização por prompts.

Os comportamentos ecológicos no banheiro público podem ser moderados em pró ou anti-ambientais a depender dos aspectos físicos, por exemplo, a presença de suprimentos, já que a adequada utilização do banheiro público está diretamente relacionada às boas condições do ambiente físico e ao grau de avaliação como mais próximo de um banheiro residencial. Além disso, a variável gênero é o grande preditor de uso, ou seja, o fato de pertencer ao gênero feminino aumenta a chance de comportamentos de cuidado consigo e com o ambiente físico.

O banheiro feminino e o banheiro masculino têm dinâmicas de funcionamento bastante distintas. Essa diferença se refere a características de cada gênero e à configuração física de cada banheiro. No banheiro feminino é valorizada a interação social enquanto que no banheiro masculino a privacidade tem uma maior importância. A configuração do ambiente físico dos banheiros favorece uma maior privacidade no banheiro feminino que no banheiro masculino, que é menor em função da existência do mictório. A menor privacidade parece abrir brecha para assédio sexual no banheiro masculino (Pavie & Almeida, 2005). Como reação, há menos interação social, talvez como uma forma de proteção. Esses dados corroboram com a proposta de Kira (1970) ao destacar a importância da privacidade no banheiro. Como é percebido e gerenciado o grau de acesso de um usuário ao outro nos banheiros femininos e masculinos parece alterar a dinâmica desses dois behavior settings.

A literatura trata a presença de outro usuário como uma situação ou de influencia social interativa ou não-interação social (Argo, Dahl & Manchanda, 2005), presença passiva de um expectador ou a presença de outro engajado na mesma atividade (Zajonc, 1965). No presente trabalho foi registrada a presença de outro usuário logo antes do participante entrar na cabine e logo depois

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de sair da cabine. Esse aspecto foi investigado por meio de observação nos Estudos 1, 2 e no Estudo 3 um dos itens do questionário investigava esse aspecto. A análise dos resultados do Estudo 1 não sinalizou o efeito da presença de outra pessoa no banheiro público em relação ao comportamento de dar descarga e lavar as mãos, ou seja, a mera presença no banheiro público. Bem como no Estudo 3, os resultados mostraram que as pessoas não relatam influência da presença de outro usuário no banheiro público na forma de utilização. Entretanto, no Estudo 2, quando foram introduzidos os prompts neutros e cordiais, a presença de outro usuário na saída do participante da cabine passou a ser preditor dos comportamentos de dar descarga e lavar as mãos. Esses resultados sugerem um impacto social nos comportamentos alvo independentemente do tipo de prompt.

O impacto social pode ser definido “como o resultado da presença real, implícita ou imaginada de outros indivíduos (Latané, 1981) e é resultado das seguintes forças sociais: robustez, imediaticidade e número. A robustez se refere ao poder, importância ou intensidade dessa presença; a imediaticidade é a proximidade no tempo e espaço; número se refere à quantidade de pessoas. Zajonc (1965) trata do impacto social como facilitação social para a qual a presença de outra pessoa deixa o indivíduo mais atento à situação. Essa presença fornece dicas do comportamento apropriado e auxilia o indivíduo a mensurar o perigo da situação.

As frases dos prompts sinalizavam a norma injuntiva, ou seja, o que deve ser feito (Cialdini & Reno, 1990). A norma descritiva, ou seja, o que de fato é feito, com base nas características do ambiente físico dos banheiros pesquisados, pode ser descrita como um cuidado com o ambiente físico já que são banheiros limpos e bem cuidados pela equipe de limpeza. Inclusive eles foram bem avaliados pelos respondentes do questionário do Estudo 3. Caso o efeito do

impacto social fosse devido ao significado das frases uma das condições, neutro ou cordial, teria sido mais efetiva.

A inserção dos prompts no banheiro público parece ter alterado a função da presença de outras pessoas no banheiro tornando os indivíduos mais atentos à essa presença, que mediou o comportamento de dar descarga e lavar as mãos. Esse efeito foi baseado no número médio de 1,3 (DP = 1,04) pessoas. Não foi possível fazer inferências sobre a robustez dessa presença, mas houve imediaticidade temporal, logo após a saída da cabine, o que sugere o impacto social. Esse efeito já havia sido observado na literatura no banheiro masculino, mas não no feminino (Judah et al., 2009). Pode-se concluir que o efeito de prompts no banheiro público é mais complexo do que a simples sinalização do comportamento correto a ser feito alterando a dinâmica desse behavior setting.

O uso de prompts é uma forma de se lidar com o comportamento humano em contextos públicos. Williamson (2002) discute a utilização desse tipo de intervenção e sugere que essa sinalização não deve ser feita em termos de interesses particulares. A decisão de como se comportar em um determinado aparato público deve estar acordada entre aqueles que frequentam aquele local. Essa proposta é um desafio para a cultura ocidental, que normalmente resolve as diferenças no ambiente público com estratégias privadas. Para contemplar o banheiro público nessa discussão, sugere-se que as intervenções no mesmo não sejam baseadas na expectativa de um uso do banheiro público como o residencial, mas que facilitem o uso comunitário desse aparato público. Alguns conceitos da literatura utilizados na tese tratam desse aspecto. Apesar do efeito do prompt cordial não ter se destacado empiricamente, conceitualmente o conceito de cordialidade (Leite, 1969), bem como, civilidade (Elias, 1934/1994; Moser & Corroyer, 2001) e pró-social (Penner et al., 2005) focam no aspecto público que pode trazer benefícios ao grupo

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social favorecendo a solução com foco nas necessidades grupais.

Encerrando essa parte da discussão serão discutidos, a seguir, os objetivos teóricos da tese que se referem aos conceitos que embasaram a estrutura geral do trabalho. Sendo assim, são apresentadas as discussões em função de cada um dos objetivos teóricos, para posteriormente se fazer as considerações finais do presente trabalho.

Conceitualizar o banheiro público como um microcosmo sócioambiental sob a perspectiva da psicologia ambiental aplicando a teoria do behavior setting

A possibilidade de tratar o banheiro público como um microcosmo sócioambiental se baseia na análise molar, característica da teoria ecológica de Roger Barker. Os comportamentos são contextualizados e podem favorecer ou desfavorecer o funcionamento do behavior setting. As variáveis temporais e do ambiente físico fazem parte da análise da mesma forma que os comportamentos. A tese do presente trabalho é que todos esses elementos da relação pessoa-ambiente físico podem ser aplicados ao banheiro público.

Pode-se afirmar que a forma como os frequentadores utilizam o banheiro público pode favorecer ou desfavorecer a qualidade desse ambiente físico. Por exemplo, o ato de dar descarga, descartar corretamente o papel na lixeira ou enxugar as mãos com o papel toalha sem molhar o chão auxiliam na manutenção da qualidade do ambiente físico para o próximo usuário. Da mesma forma que as variáveis ambientais, como a presença de suprimentos ou a disposição dos itens no espaço alteram a forma de utilização. Além disto, o tempo que o usuário passa no banheiro público pode influenciar seu comportamento, alterando o script de utilização.

Os comportamentos observados foram analisados em um modelo que incluía tanto variáveis comportamentais (lavar as mãos, dar descarga, interação social expressa,

gênero) quanto variáveis ambientais (presença de outras pessoas, presença de suprimentos, localização do banheiro, cabine/mictório). Essa análise permitiu demonstrar como os comportamentos no banheiro público podem ser analisados no contexto onde tais comportamentos ocorrem. O modelo permitiu, também, investigar o impacto do ambiente físico no comportamento de utilização do banheiro público, e, ainda, o impacto do comportamento no ambiente físico. Essa concepção ecológica dos comportamentos só foi possível por meio da compreensão da sequência de utilização do banheiro público.

O relato do comportamento no banheiro público sugere que o programa de funcionamento do behavior setting segue um script de utilização, mas que a forma como esses comportamentos serão desempenhados dependerá do foco no cuidado com o ambiente físico que, por sua vez, inclui o cuidado com o próximo usuário ou o foco no cuidado com a própria saúde, na tentativa de evitar qualquer contaminação. Essas duas estratégias podem ser relacionadas ao que a literatura chama de comportamento pró-ambiental (Corral-Verdugo, 2001), que gera o menor dano ao ambiente físico, e poderia favorecer todos os participantes desse behavior setting (usuários, funcionários da limpeza) e o comportamento anti-ambiental (Steg &Vlek, 2009), que provoca dano ao ambiente físico, que favoreceria apenas, aquele usuário específico na sua tentativa de modular o acesso a si dos possíveis vestígios deixados por outro usuário. A escolha de uma ou outra estratégia de utilização parece ser influenciada pela condição de limpeza do banheiro. A manutenção do banheiro público limpo parece ser fundamental na escolha da estratégia de cuidado com o ambiente físico e com o próximo usuário, sendo válido para os dois gêneros (Wilson & George, 1982)

O banheiro público foi considerado no presente trabalho como um genótipo, já que os vários banheiros públicos urbanos podem ser agrupados em redes, pois possuem o

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mesmo programa de funcionamento. Foram escolhidos banheiros de uma universidade pública para se investigar a relação entre dois ambientes que estão interrelacionados fisicamente, a universidade como um todo e seus banheiros públicos. A forma de se comportar em outros ambientes da universidade se relaciona com o uso do banheiro público e a relação de apego e apropriação com a universidade influencia a avaliação do banheiro público. A noção de rede de settings implica no entendimento de onde essa rede está inserida para que se possa relacionar o conceito de genótipo aos conceitos de ligação ao lugar e apropriação do espaço.

Portanto, o presente trabalho acrescenta à teoria Barkeriana, utilizando o conceito de behavior setting, a partir do banheiro público, o termo comportamento ecológico, mostrando que o banheiro público tem um programa de funcionamento que envolve tanto comportamentos considerados pró-ambientais, dar descarga, lavar as mãos quanto comportamentos anti-ambientais como dar descarga com os pés. O que está em jogo não é apenas o comportamento, mas a forma como o comportamento é realizado e a sua função (Goldiamond, 2002).

A forma de utilização é modulada pela dinâmica explicitada no conflito de utilização: o cuidado com o ambiente físico, que envolve o cuidado com os demais usuários e o cuidado consigo mesmo, a proteção da saúde do indivíduo, ao evitar qualquer contato com algo que venha do outro nesse aparato público. Sendo assim, os comportamentos não podem ser analisados independentemente da função que eles atendem, como evitar o contato com os vestígios ou deixar o banheiro em condições de utilização para o próximo usuário. Caso contrário, essa análise irá descontextualizar esses comportamentos dificultando o seu entendimento e possíveis intervenções.

O limite da teoria ecológica de Barker é não incluir a dinâmica público-privado no conceito de behavior setting. Isso se justifica por

não ser o objetivo do conceito contemplar esse aspecto, mas delimitar unidades ambientais naturais e investigar a sinomorfia entre comportamento e ambiente físico. No entanto, como veremos a seguir, é um importante aspecto que deve ser investigado quando se trata de ambientes públicos.

Discutir a relação público-privado utilizando os conceitos de territorialidade e privacidade

Os conceitos de territorialidade e privacidade são relacionados à investigação da relação público-privado no banheiro público. O conceito de privacidade tem um foco no individual e o conceito de territorialidade, no grupo. Essa relação entre o indivíduo e o grupo tem sido tratada com base nas questões sócioambientais como um dilema entre os interesses individuais e os interesses grupais (Costanza, 1987; Hardin, 1968; Kurz, 2002; Nevin, 2005; Ribeiro, Carvalho & Oliveria, 2004; Steg & Vlek, 2009). E esse é um dos desafios que se observa no uso do banheiro público, a necessidade da garantia da privacidade dos indivíduos em consonância com a garantia de sua utilização pelo próximo usuário que é mediada pelo usuário anterior.

Essa é uma questão a ser discutida já que a preocupação com a privacidade basicamente foca no controle que se tem do acesso a si (Altman, 1975). A delimitação territorial no banheiro público tem a função de mediar o acesso dos outros usuários àquele que está usando o banheiro naquele momento. Para Kira (1970) tanto o banheiro residencial quanto o público são usados para se obter privacidade de uma variedade de propósitos emocionais os quais não têm nenhuma relação com a higiene pessoal, todos tem relação com o controle do acesso a si. A função é permitir que esse espaço seja usado socialmente apesar de associado às necessidades fisiológicas e que possa exercer uma função social na garantia da privacidade dos indivíduos que é um importante fator de bem-estar.

Por sua vez, no banheiro público pode-se traduzir o dilema do conflito de interesses

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do indivíduo e do grupo tratando do foco no cuidado com o corpo e o foco no cuidado com o ambiente físico. O foco no cuidado com o corpo representa o interesse individual de utilização do banheiro público para garantir, exclusivamente, a saúde daquele indivíduo. O foco no cuidado com o ambiente físico representa o interesse do grupo de ter um banheiro público sempre utilizável.

Como o banheiro público se relaciona a diferentes necessidades dos habitantes urbanos, a delimitação espacial tenta atender a essas diferentes demandas. O foco na privacidade aumenta o bem-estar do usuário, mas dificulta o seu uso público por se direcionar ao aspecto privado. Além disso, o foco privado parece estar na contra-mão da solução das questões sócioambientais. Se a utilização do banheiro público for feita com base apenas no cuidado do próprio corpo e na garantia da sua integridade, dada a concepção de que o local de eliminação dos dejetos humanos é um local de contaminação, a utilização do banheiro público será feita no menor tempo possível e com o menor cuidado com o ambiente físico. Se o foco for no uso coletivo de um bem público, haverá um maior cuidado com o ambiente físico, que inclusive, impactará o próprio usuário numa próxima utilização e na proteção de sua saúde.

A relação público-privado no banheiro público deve ser vista com uma metáfora do processo de mudança da relação com o ambiente físico. O cuidado consigo não pode mais ser visto exclusivamente como um cuidado com o próprio corpo, um cuidado com o indivíduo. O cuidado com o ambiente físico é que vai proporcionar a qualidade de vida do indivíduo e da comunidade. A forma como o indivíduo cuida do banheiro público impacta na comunidade usuária daquele banheiro.

Do mesmo modo que a forma que a comunidade cuida dos dejetos do banheiro público impacta na qualidade de vida do indivíduo. Ou seja, o banheiro público está envolvido no dilema entre o individual e o

grupal em dois momentos, quando da decisão de utilização do banheiro público e quando da decisão da forma de descarte dos dejetos. Quanto mais se escolher estratégias que favoreçam o grupo, ao invés do indivíduo, melhor será esse gerenciamento para o indivíduo a longo prazo.

Contribuir para a definição do que seja o comportamento ecológico, utilizando a noção de contexto, funcionalidade e equilíbrio embutidas no termo comportamento ecológico.

O comportamento ecológico foi definido no presente trabalho como incluindo os termos comportamento pró-ambiental e comportamento anti-ambiental como forma de descrever os comportamentos que ocorrem no banheiro público. Segundo a teoria de Barker (1968), os comportamentos em um behavior setting são dinâmicos e podem favorecer ou desfavorecer o seu programa de funcionamento.

No banheiro público os comportamentos também podem ser vistos de maneira funcional e sua modificação deve focar no equilíbrio das necessidades dos usuários nesse ambiente físico e o que esse behavior setting pode oferecer. Os comportamentos exibidos no banheiro público têm foco no cuidado com o corpo. No entanto, para realizar o programa de cuidado com o corpo é necessário que se tenha um cuidado com o ambiente físico. Nessa dinâmica, os comportamentos voltados para o cuidado com o ambiente físico podem ser considerados como comportamentos pró-ambientais e os comportamentos de dano ao ambiente físico podem ser considerados como comportamentos anti-ambientais.

A dinâmica de funcionamento do banheiro público implica no arranjo do ambiente físico e da disponibilização de suprimentos (água, sabão, papel). Caso esse arranjo não seja adequado, toda uma sequência de utilização inadequada se inicia. Pode-se descrever um exemplo comumente observado nos banheiros estudados. A falta de papel toalha aumenta a utilização do

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papel higiênico que acaba mais rápido do que deveria. A falta de papel toalha e higiênico implica em uma menor frequência de lavagem das mãos, como identificado no presente trabalho. As pessoas que lavam as mãos as secam balançado-as no chão. O chão começa a ficar molhado. Água no chão do banheiro público sinaliza que a cabine não foi devidamente utilizada. O banheiro molhado, já que a água próxima à área da pia é levada pelos pés até a área da cabine, começa a realmente ficar sujo. Se a equipe de limpeza não interromper esse processo, as pessoas vão utilizar o mais rápido possível o banheiro para sair dele rapidamente, já que passa a ser desconfortável permanecer ali mais tempo comprometendo um adequado uso.

O que se propõe analisar a partir da cena descrita é que os comportamentos descritos de utilização do banheiro a partir da falta do papel toalha são comportamentos anti-ambientais. No entanto, se as condições ambientais fossem diferentes, esses mesmos comportamentos seriam classificados como pró-ambientais. Portanto, a análise dos comportamentos anti e pró-ambientais não pode ser isolada do contexto onde ocorrem e mais que isso, não podem ser entendidos sem a compreensão do programa de funcionamento de cada behavior setting. Utilizar aleatoriamente os termos anti e pró-ambiental para classificar comportamentos ou pessoas sem os contextualizar, não parece ser uma linha de ação que traga resultados esclarecedores.

O foco de estudo das questões sócioambientais deve ser os comportamentos ecológicos, já que as mesmas pessoas podem ser pró e anti-ambientais e comportamentos topograficamente iguais podem ser classificados como pró e anti-ambientais. Um exemplo dessa ambiguidade é que um dos dilemas de utilização do banheiro público parece ser a descarga. Não dar descarga causa impacto no próximo usuário, mas, utilizá-la frequentemente pode causar um dano ambiental em função da quantidade de água que se gasta em cada

utilização da mesma (3 litros). Esse dilema se encaixa perfeitamente no dilema dos comuns (Hardin, 1968), ou seja, o conflito entre as demandas individuais, ter um banheiro sem vestígios e as necessidades grupais, uso da água.

10.1 Agenda de pesquisa

Como foram realizados quatro estudos, alguns aspectos merecem ser discutidos como forma de dar continuidade ao que foi encontrado na investigação empírica. As limitações de cada estudo foram apresentadas nas respectivas discussões específicas de cada um deles. A agenda de pesquisa se baseia nessas limitações para propor a continuidade dos estudos.

De forma geral, o banheiro público permite a investigação dos dilemas dos comuns (Hardin, 1968) entendendo os recursos do banheiro público – água, sabão, papel, produtos de limpeza - como finitos que devem ser descartados. Dessa forma pode-se criar vários estudos experimentais, quase-experimentais ou cenários para investigar as estratégias de resolução dos conflitos entre os interesses individuais e grupais.

Os conceitos de privacidade e a relação público-privado são estruturais no banheiro público. A configuração física desse espaço permite diferentes graus de privacidade, e por isso, o banheiro público é tão utilizado para atividades que exigem privacidade como pichações ou encontros homoeróticos. Ao mesmo tempo, esse espaço é um aparato público onde é permitido o acesso a qualquer pessoa, salvo restrições de gênero ou outra restrição específica, como por exemplo, ter a quantia para pagar a entrada. É importante se ter mais clareza sobre o real grau de privacidade necessário em banheiros públicos.

O gênero é uma variável importante no banheiro público. O que sugere que tenhamos dois behavior settings distintos: feminino e masculino. Estruturalmente esses dois ambientes são distintos o que influencia a sua utilização. É necessário investigar

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Discussão Geral  

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melhor essa variável. As diferenças entre os gêneros são genuinamente relacionadas ao aspecto social e cultural ou o fato do ambiente físico ser diferente proporciona usos diferentes do banheiro público? Há diferença no processo civilizador entre homens e mulheres? O que favorece que mulheres sejam mais cuidadosas com o ambiente físico ao mesmo tempo em que são mais preocupadas consigo? Essas perguntas podem guiar novos estudos sobre o gênero complementando os achados do presente trabalho e do que já foi investigado na literatura.

A respeito do Estudo 1 sugere-se desenvolver outras formas de se mensurar a presença de outro usuário no banheiro público. Poderia se pensar na utilização de medidas não-reativas como sensores de movimento, mas seria interessante investigar se as pessoas no banheiro público são conhecidas ou desconhecidas. Algumas observações sugerem um possível efeito diferenciado em função do contato social prévio.

O Estudo 2 trouxe o aspecto do impacto social. Nem todos os aspectos da teoria de Latané (1991) foram abordados nesse estudo. Seria interessante investigar os aspectos de robustez e de imediaticidade, principalmente física, para auxiliar na investigação da variável presença de outra pessoa e seu impacto na correta utilização do banheiro público. Além de investigar também como as pessoas perceberam as mensagens dos prompts, já que não houve diferença entre os dois tipos de frases (cordiais e neutras).

Por ter tentado investigar uma relação que não está estabelecida na literatura, o Estudo 3 indicou as dificuldades em traduzir os conceitos de ligação ao lugar e apropriação do espaço a um território terciário, bem como, a própria dificuldade de operacionalização desses conceitos. Sendo assim, devem ser melhor investigadas as relações entre imagem e avaliação, bem como, a investigação por auto-relato do uso do banheiro público.

Os resultados do Estudo 3 sugerem desejabilidade social nas respostas, principalmente, porque se trata de comportamentos do âmbito do privado. Os dados indicam que ligação e apropriação são conceitos interligados e que necessitam de vários indicadores para se ter acesso a eles, portanto, sugere-se que esses conceitos sejam utilizados em pesquisas com modelos que favoreçam análises como de equação estrutural.

A escala do Estudo 4, ECEBP, deve ser melhorada. Dois fatores possuem apenas três itens o que dificulta a representação dos construtos subjacentes. Esses construtos são importantes para a compreensão da utilização do banheiro público e estabelecem uma ligação entre seu uso e as questões sócioambientais.

10.2 Considerações finais

Não se pode desconsiderar que estamos passando por um processo de mudança, o que Bechtel (2000) descreveu como Novo Paradigma Ambiental. No outro momento de mudança descrito, o Processo Civilizador (Elias 1939/1994), a preocupação residiu em predizer o comportamento do outro na interação social, estipulando regras de etiqueta para que se saiba diferenciar quem é civilizado de quem não o é. A questão agora é saber se o outro está contribuindo com a comunidade na sua ação no ambiente físico, sem promover o esgotamento dos recursos naturais ou provocar alguma forma de poluição ambiental.

Todo comportamento humano é ambiental e as questões sócioambientais apenas explicitam a importância dessa relação pessoa-ambiente físico. Portanto, o contexto urbano é tão palco para a investigação das questões ambientais, como o é o contexto natural. É o estudo do cotidiano que nos traz desafios. A princípio, parece simples investigar um objeto de estudo que todos conhecem e frequentam. Como se o contato com o ambiente físico e sua dinâmica social favorecessem a aplicação dos conceitos. No entanto, há tantos

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dificultadores teóricos como em qualquer outro objeto de estudo, essa proximidade torna-se também uma limitação. Como se ao saber utilizar uma máquina, se soubesse imediatamente os mecanismos de seu funcionamento. Além disso, tratar com um objeto tão próximo do privado requer estratégias metodológicas e pessoais para tornar acessível à investigação aquilo que socialmente deveria estar escondido.

As práticas de higiene tratam do cuidado com o corpo, mas que se reflete num cuidado com a comunidade (Van der Ryn, 1978/1999). Ao longo da história da higiene pode-se perceber que o cuidado com o corpo tem se ampliado cada vez mais para um cuidado com o ambiente físico (Vigarello, 1985/1996; Tufte, 1997/2003). Os rituais de limpeza envolvem o próprio corpo, o corpo dos outros, o ambiente físico e a moral. Sendo que os hábitos atuais estão envolvidos também com a estética e com a saúde. Todos esses aspectos estão subjacentes ao que cada época considerou como perigo e desenvolveu rituais de purificação para afastá-los (Douglas, 1966/1991). A purificação visa a limpeza das impurezas e o que é sujo e o que é limpo são domínios separados, mas relacionais. Ou seja, se sabe o que é limpo a partir do que se considera sujo, o que pode oferecer perigo. Ao longo da história ocidental houve

alteração da relação com a água em função de considerá-la um agente de contaminação ou de limpeza (Vigarello, 1985/1996). Entender o que é limpo e o que é sujo no banheiro público é fundamental para entender a dinâmica de utilização por seus frequentadores como um ritual de purificação.

Dois comportamentos que podem parecer triviais, jogar o papel toalha no lixo ou deixá-lo em cima da pia ao utilizar um banheiro público e jogar um papel pela janela do carro ou guardá-lo na sacolinha apropriada dentro do carro, concentra toda a história da higiene no Brasil. Esses comportamentos tratam do repertório de cuidado consigo, com o ambiente físico e com o outro desenvolvido ao longo da nossa história. As primeiras escolhas têm como consequência tornar impuros os ambientes públicos ao simplesmente se livrar daquilo que foi considerado impuro. As segundas escolhas tratam os ambientes como puros e o que é considerado impuro deve ser alocado no seu devido lugar, que pode ser dentro desse ambiente físico, mas que proteja os indivíduos, bem como o ambiente físico, de sua contaminação. A questão é em qual direção a história vai dar prosseguimento. A aposta é que a psicologia ambiental possa contribuir neste processo.

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Delabrida, Z.N.C. 116

28) Utilizo o banheiro público rapidamente mesmo que o próximo usuário tenha dificuldade em utilizá-lo.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

29) Abro a porta da cabine com os pés.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

30) Levo sempre comigo papel higiênico ou equivalente para no caso de não ter no banheiro que vou utilizar.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

31) Aviso as pessoas da correta utilização do banheiro.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

32) Economizo água ao lavar as mãos ou escovar os dentes.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

33) Procuro me organizar para que a utilização da cabine respeite a ordem de chegada.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

34) Converso com as pessoas dentro do banheiro público.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

35) Caso o papel não caia no cesto, pego do chão e coloco no cesto.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

36) Sento no vaso ao utilizar a cabine.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

37) Procuro utilizar um banheiro público pouco freqüentado.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

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Apêndices  

117

38) Consumo alimentos no banheiro público.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

39) Uso o mictório para eliminar objetos que quero jogar fora.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

40) Uso o banheiro público como o de casa quando utilizo o mesmo banheiro freqüentemente.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

41) Utilizo papel toalha mais que o necessário.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

42) Faço apenas xixi em banheiros públicos.

1 2 3 4 5

Quase nunca Quase sempre 43) Entro no banheiro público para falar ao celular.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

44) Fico irritado quando não tem papel higiênico, papel toalha e sabonete no banheiro público.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

45) Saio do banheiro público sem dar descarga quando estou com pressa.

1 2 3 4 5 Quase nunca Quase sempre

B) Qual o grau de cuidado que você tem com o ambiente do banheiro público:

0 1 2 3 4 5 Nenhum Extremo

Por quê? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________

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Delabrida, Z.N.C. 118

C) Marque qual o grau de importância para você dos seguintes aspectos do banheiro público: IMPORTÂNCIA nada pouco indiferente muito totalmente 1.Ter um local dentro da cabine para colocar os objetos (livros, bolsa, pasta, sacola)

0 1 2 3 4

2.Ter secador de mão a ar. 0 1 2 3 4 3.Ter mictórios com divisões para permitir maior privacidade.

0 1 2 3 4

4.Encontrar sabonete para lavar as mãos. 0 1 2 3 4 5.Encontrar toalha de papel. 0 1 2 3 4 6.Encontrar papel higiênico. 0 1 2 3 4 7.Ter espelhos. 0 1 2 3 4 8.Ser bem iluminado. 0 1 2 3 4 9.Ter lixeiras disponíveis e acessíveis. 0 1 2 3 4 10.Ter um banheiro com pequeno fluxo de usuários. 0 1 2 3 4 11.Ter manutenção constante pelo pessoal da limpeza.

0 1 2 3 4

12.Um banheiro grande e espaçoso. 0 1 2 3 4 13.Ter um assento (sofá, cadeira, poltrona) dentro do banheiro.

0 1 2 3 4

14.Ter um banheiro limpo. 0 1 2 3 4 15.Ter a presença de uma pessoa da limpeza. 0 1 2 3 4 16.Ter uma ‘caixinha’ de sugestões/reclamações. 0 1 2 3 4 17.Ter avisos aos usuários sobre o cuidado com o banheiro.

0 1 2 3 4

18.Ter um desodorizador. 0 1 2 3 4 19.Ter protetor plástico removível para o assento. 0 1 2 3 4 20.Ter torneiras de pressão 0 1 2 3 4

Dos aspectos acima, qual você sente mais falta no banheiro público: _______________________ Você pensou em algum banheiro público específico para responder o questionário ( ) Não ( ) Sim Qual:_____________________ Qual o banheiro público que você mais gosta de utilizar: _______________________________ Qual o banheiro público que você menos gosta de utilizar: _____________________________ Agora algumas informações Sua idade: _____________________ Sexo: ( ) Feminino ( ) Masculino Ocupação: ___________________________ Escolaridade: __________________ Quantos banheiros têm na sua casa? _____ Você possui banheiro no quarto: ( ) Sim ( ) Não Comentários sobre a pesquisa? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________

☺ Muito obrigada!

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Apêndices  

119

Universidade de Brasília Instituto de Psicologia

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado(a) participante,

Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa do Programa de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações (PSTO), conduzida pela aluna Zenith Nara Costa Delabrida ([email protected]), regularmente matriculada e sob a orientação do professor Hartmut Günther, PhD coordenador do Laboratório de Psicologia Ambiental (www.psi-ambiental.net). O propósito da pesquisa é investigar os comportamentos que acontecem no banheiro público. As instruções constam no cabeçalho do instrumento.

Desde já, informamos que sua participação é voluntária e pode ser interrompida em qualquer etapa. No entanto, é muito importante para nós que você responda todo o instrumento. Sendo que, a qualquer momento, você poderá solicitar informações sobre os procedimentos ou outros assuntos relacionados a este estudo. Garantimos que todos os cuidados necessários serão tomados para garantir o sigilo e a confidencialidade de suas informações individuais, preservando sua identidade e das instituições envolvidas na pesquisa.

Este termo deverá ser preenchido e assinado em duas vias, sendo que uma permanecerá com você (a parte abaixo da linha tracejada) e a outra permanecerá anexada ao instrumento. Essa folha será destacada imediatamente após a coleta de dados evitando a identificação do questionário.

Agradecemos a sua participação e contribuição para o desenvolvimento de pesquisas que visam a melhoria do ambiente público. Eu, ___________________________________________________________________ expresso meu consentimento em participar da referida pesquisa.

_______________________, ______ de ______________ de 2009. Assinatura do participante:_______________________________________________ Assinatura do pesquisador:_______________________________________________ - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Prezado(a) participante,

Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa do Programa de Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações (PSTO), conduzida pela aluna Zenith Nara Costa Delabrida ([email protected]), regularmente matriculada e sob a orientação do professor Hartmut Günther, PhD coordenador do Laboratório de Psicologia Ambiental (www.psi-ambiental.net). O propósito da pesquisa é investigar os comportamentos que acontecem no banheiro público. As instruções constam no cabeçalho do instrumento.

Desde já, informamos que sua participação é voluntária e pode ser interrompida em qualquer etapa. No entanto, é muito importante para nós que você responda todo o instrumento. Sendo que, a qualquer momento, você poderá solicitar informações sobre os procedimentos ou outros assuntos relacionados a este estudo. Garantimos que todos os cuidados necessários serão tomados para garantir o sigilo e a confidencialidade de suas informações individuais, preservando sua identidade e das instituições envolvidas na pesquisa.

Este termo deverá ser preenchido e assinado em duas vias, sendo que uma permanecerá com você (a parte abaixo da linha tracejada) e a outra permanecerá anexada ao instrumento. Essa folha será destacada imediatamente após a coleta de dados evitando a identificação do questionário.

Agradecemos a sua participação e contribuição para o desenvolvimento de pesquisas que visam a melhoria do ambiente público. Eu, ___________________________________________________________________ expresso meu consentimento em participar da referida pesquisa.

_______________________, ______ de ______________ de 2009. Assinatura do participante:_______________________________________________ Assinatura do pesquisador:_______________________________________________

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Apêndices 120

Apêndice D – Categorização das respostas dadas à pergunta: “Qual a primeira palavra que lhe vem à cabeça quando você pensa nos banheiros dos

pavilhões?” PRIMEIRA PALAVRA: NEGATIVA PRIMEIRA PALAVRA: POSITIVA PRIMEIRA PALAVRA: NEUTRA PORQUISSE 1 ACEITAÇÃO 1 BANHEIRO NORMAL 1 ABANDONO 1 ACEITÁVEL 2 BANHEIROS 2 BAGUNÇA 1 ADEQUADOS 3 CONVENIÊNCIA 1 BARATA 1 AGRADÁVEL 1 MÉDIO 2 BARULHO E MAU CHEIRO 1 AROMA 1 PADRÃO 1 CHEIRO RUIM 3 ARRUMADINHO 1 PÚBLICO 1 DECADENTE 1 BONS 19 RAZOÁVEIS 3 DEFICIÊNCIA 1 CONSERVADOS 1 REFORMA 1 DEPLORÁVEL 1 EM BOAS CONDIÇÕES DE USO 1 REFORMADO 1 DESAGRADÁVEL 1 ESCURIDÃO 1 REGULAR 1 DESCASO 2 ESPAÇO FÍSICO 2 SUFICIENTE 1 DESCONFORTO 3 ESPELHOS 6 USÁVEIS 3 DESCUIDADOS 1 LIMPOS 6 USÁVEL 1 DESESPERO 1 MELHORES DA UNB 7 OPERANTE 1 ECA 4 NORMAIS 4 NECESSIDADE 2 ESCASSEZ 1 ORGANIZAÇÃO 1 ABERTOS 1 FALTA 1 ORGANIZADO 1 TOTAL 23 FALTA DE CUIDADO 1 ORGANIZADOS 2 FALTA DE HIGIENE 1 ÓTIMOS 1 FALTA DE PAPEL HIGIÊNICO 21 SEMPRE TEM PAPEL HIGIÊNICO 1 FALTA DE PRODUTOS DE LIMPEZA 1 TRANQUILOS 1 FEDOR 24 ÚTEIS 2 HORRÍVEIS 5 ZELO 1 IMUNDOS 3 ALÍVIO 1 INADEQUADOS 2 TOTAL 67 INEXISTENTES 1 INSATISFATÓRIOS 1 PRIMEIRA PALAVRA: HIGIENE LONGE 1 CUIDADO COM A HIGIENE 1 MÁ CONSERVAÇÃO 1 DESCARGA 1 MAL 1 HIGIENE 4 MAL ESTRUTURADOS 2 LIMPEZA 8 MAU CHEIRO 14 LIXO 4 MERDA 1 ODOR 3 MUITO RUIM 1 PAPEL HIGIÊNICO 13 NADA HIGIÊNICOS 1 PIA 1 NOJENTO 3 SABONETE 1 NOJO 7 URINA 1 ODOR INSURPOTÁVEL 1 TOTAL 37 PÉSSIMOS 6 PORCARIA 1 POUCA LIMPEZA 1 PRECARIEDADE 2 PRECÁRIOS 3 RODOVIÁRIA 1 RUIM 4 SEM SABÃO 1 SÓ USAR QUANDO MUITO NECESSÁRIO 1 CONTINUA

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Apêndices  

121

SOCORRO 1 CONTINUAÇÃO SUJEIRA 20 SUJOS 16 TERRIVEIS 1 TRISTE 1 PIXAÇÃO 1 CARÊNCIA 1 TOTAL 178

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Delabrida, Z.N.C. 122

Apêndice E - Tabela dos Construtos Teóricos e Itens Propostos Para a Construção da Escala ECEBP e a Sinalização Para qual dos Quatro Fatores

Esse Item foi Agregado. Construtos Itens No. Itens

Rel

ação

com

o a

mbi

ente

físi

co

Cuidado com o ambiente físico

9

Ao usar a cabine levanto o assento do vaso

Lavo as mãos após utilizar a cabine/mictório (Fator 1)

Sinto-me obrigado/a a lavar as mãos se há outras pessoas no banheiro público

Ao utilizar o vaso da cabine/mictório dou descarga (Fator 1)

Procuro um cesto para jogar o papel (Fator 1)

Economizo água ao lavar as mãos ou escovar os dentes

Fico irritado quando não tem papel higiênico, papel toalha e sabonete no banheiro público

Não cuidado com o ambiente físico  Jogo o papel fora do cesto de lixo

5

Saio do banheiro público sem dar descarga quando estou com pressa (Fator 1)

Uso o vaso/mictório para eliminar objetos que quero jogar fora

Utilizo papel toalha mais do que seria necessário

Saio do banheiro público sem dar descarga quando estou com pressa

Uso particular do banheiro público  Uso o banheiro público como um espaço para ter um pouco de privacidade

6

Entro no banheiro público para falar ao celular

Consumo alimentos no banheiro público

Prefiro frequentar banheiros públicos que tenham espelho (Fator 4)

Converso com as pessoas dentro do banheiro público (Fator 4)

    Escovo os dentes em um banheiro público (Fator 4)

Cor

dial

idad

e: c

uida

do

com

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róxi

mo/

a

Permito que alguém com mais urgência que eu utilize o banheiro primeiro (Fator 1)

5

Aciono a descarga se alguém antes de mim não a acionou (Fator 1)

Aviso as pessoa da correta utilização do banheiro

Procuro me organizar para que a utilização da cabine respeite a ordem de chegada (Fator1) Caso o papel não caia no cesto, pego do chão e coloco no cesto (Fator 1)

Arrumo os itens do banheiro que estiverem fora de ordem (Fator 3)

Perc

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o de

co

nseq

uênc

ia

O fato de utilizar o mesmo banheiro público altera a minha forma de utilizá-lo

5

Ao utilizar um banheiro público procuro me lembrar que poderei utilizá-lo novamente (Fator 1) Utilizo o banheiro público lembrando que uma próximo/a usuário/a vai utilizá-lo (Fator 1) Comporto-me no banheiro público como no banheiro de casa (Fator 3)

Uso o banheiro como o de casa quando utilizo o mesmo banheiro frequentemente (Fator 3) Procuro deixar o banheiro público em melhor estado que o encontrei

Noj

o: e

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o

Uso o banheiro público no menor tempo possível (Fator 2)

13

Saio do banheiro público sem utilizá-lo se ele estiver sujo (Fator 2)

Utilizo o banheiro público tocando no que for inevitável (Fator 2)

Sinto nojo ao entrar em um banheiro público (Fator 2)

Utilizo o banheiro público caso eu esteja realmente precisando ir ao banheiro (Fator 2) Faço apenas xixi em banheiros públicos continua

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Apêndices  

123

Sento no vaso ao utilizar a cabine continuação Abro a porta da cabine com os pés (Fator 1)

Dou descarga com o pés, cotovelos ou joelho (Fator 1)

Procuro utilizar um banheiro público pouco frequentado (Fator 2)

Levo sempre comigo papel higiênico ou equivalente para o caso de não haver no banheiro que vou utilizar

Utilizo o banheiro público rapidamente mesmo que a próximo/a usuário/a tenha dificuldade em utilizá-lo

Procuro outra cabine se o vaso apresentar sinais de utilização por outra pessoa

Feminino

Quando tenho que trocar o absorvente preocupe-me em enrolá-lo e descartá-lo adequadamente

2 Utilizo o vaso para jogar fora o papel higiênico

Masculino Evito usar o mictório quando há outros homens no banheiro

2 Só utilizo o mictório quando estou com pressa

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Apêndices 124

Apêndice F – Fotos dos Banheiros Públicos Masculinos

Prédio 1

Prédio 2

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Apêndices  

125

Apêndice G – Fotos dos Banheiros Públicos Femininos

Prédio 1

Prédio 2