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ANA CATARINA SOARES DE AZEVEDO
PERSONALIDADE, PSICOPATIA E
AGRESSIVIDADE EM JOVENS ADOLESCENTES DO
ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO
Orientador: Professor Doutor João Pedro Oliveira
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias
Faculdade de Psicologia
Lisboa
2010
ANA CATARINA SOARES DE AZEVEDO
PERSONALIDADE, PSICOPATIA E
AGRESSIVIDADE EM JOVENS ADOLESCENTES DO
ENSINO BÁSICO E SECUNDÁRIO
Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Faculdade de Psicologia
Lisboa
2010
Dissertação apresentada para a obtenção do Grau de Mestre em Psicologia, Aconselhamento e Psicoterapias, conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Orientador: Professor Doutor João Pedro Oliveira
Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário
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Dedicatória
Dedico este trabalho à minha mãe, que nunca desistiu e sucumbiu apesar do sofrimento.
Às minhas amigas que têm um lugar especial no meu coração e que me acompanham para
a eternidade, principalmente aquelas que dão tudo sem pedir algo em troca como a Andreia Ferreira
e a Ana Simões.
Aos que se entregam de corpo e alma às causas solidárias, que lutam pelos caminhos da
acção social e da psicologia e são pouco reconhecidos.
Aos que sofrem no isolamento, e se escondem devido àquilo que a sociedade considera
como anormal, lembrem-se que não estão sozinhos.
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Agradecimentos
Ao Prof. Doutor João Pedro Oliveira, orientador e mentor, agradeço o apoio
incondicional, o voto de confiança que depositou no meu empenho e na minha determinação
neste projecto.
Ao Conselho Directivo da Escola Secundária de Sacavém, agradeço a disponibilidade e
o facto de me concederem a autorização para a realização do presente estudo.
À Exma. Sra. Directora do Conselho Directivo da Escola Secundária de Sacavém,
agradeço a disponibilidade, a cordialidade com que me recebeu e a forma como também abraçou
este projecto.
Aos Docentes do mesmo estabelecimento de ensino, sem eles não seria possível a
concretização deste estudo.
A todos os funcionários da escola Secundária de Sacavém, agradeço a solicitude, a
forma como me receberam, a orientação e o apoio disponibilizados.
A todos os alunos que aceitaram participar neste projecto, agradeço a simpatia e a sua
colaboração.
À minha família que desde sempre encorajou-me, motivou-me e prestou o apoio
incondicional em todos os campos, tanto emocionais como académicos, essenciais para o
progresso dos meus objectivos.
Aos meus amigos e amigas que eternamente acreditam e nunca desistem de mim,
sempre próximos e sempre à altura da amizade verdadeira.
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Resumo
Esta investigação centra-se no estudo dos factores que facilitam o desenvolvimento das
condutas violentas e delinquentes. Estes factores podem ser intrínsecos, ou seja, respeitantes à
personalidade do indivíduo e à sua predisposição para desenvolver as perturbações associadas à
criminalidade. O estudo destas variáveis permite analisar a forma como os indivíduos actuam em
concordância com a sua personalidade, o que possibilita o delineamento de programas de
prevenção que se adaptem a este tipo de população, com vista a diminuir o risco de conflitos inter-
sociais e os comportamentos disruptivos.
Este estudo analisa a associação entre traços de personalidade, traços psicopáticos e
atributos agressivos. A amostra utilizada é constituída por 123 estudantes do ensino básico e
secundário de ambos os sexos com idades compreendidas entre os 16 e os 22 anos (M= 17, 82 e DP
= 1,713), em que 59 estudantes são do sexo masculino e 64 estudantes do sexo feminino). As
medidas utilizadas são: a Paulhus Deception Scale (PDS; Paulhus e Delroy, 1998) para avaliar a
desejabilidade social; o Big Five Inventory (BFI; Benet-Martinez e John, 1998). com o objectivo de
avaliar a personalidade; a Levenson`s Self-Report Psychopathy Scale (LSRP; Levenson, Kiehl e
Fitzpatrick, 1995) de forma a avaliar os traços psicopáticos e o Aggression Questionnaire (AQ,
Buss e Perry, 1992) para avaliar as diferentes variantes da agressividade. Os resultados obtidos
demonstram a existência de correspondências positivas e significativas entre a dimensão de
neuroticismo e os atributos agressivos; entre a psicopatia primária e a agressividade física e verbal,
entre a psicopatia secundária e a irritabilidade e a hostilidade; e entre a psicopatia secundária e o
traço de neuroticismo. Assim como, de correlações negativas entre a psicopatia secundária e o traço
de amabilidade e entre a psicopatia secundária e o traço de conscienciosidade.
Palavras-chave: Personalidade; Psicopatia; Agressividade; Adolescentes.
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Abstract
This research focuses on the study of factors that facilitate the development of violent
and delinquent behavior. These factors may be intrinsic, in other words, related to the subject
personality and to his predisposition to develop disturbances associated to criminality. The study
of these variables allows an analysis of the way subjects act in accordance to their personality,
which may help in designing preventive programs in order to reduce the risk of inter-social
conflicts and disruptive behavior.
This study analyses the association between personality traits, psychopathic features and
aggressive attributes. The sample is constituted by 123 students of the basic education and high
school systems with and ages between 16 and 22 years old (M= 17, 82 and SD= 1,713), 59 males
and 64 females. The measures used are: the Paulhus Deception Scale (PDS; Paulhus and Delroy,
1998) to evaluate the social desirability; the Big Five Inventory (BFI; Benet-Martinez and John,
1998) with the objective of evaluating personality triats; the Levenson`s Self-Report Psychopathy
Scale (LSRP, Levenson, Kiehl and Fitzpatrick, 1995) to evaluate the psychopathic traits; and the
Aggression Questionnaire (AQ; Buss and Perry, 1992) to assess the different types of
aggressiveness. The results obtained show significant positive correspondences between
neuroticism and aggressive attributes; between primary psychopathy and physical and verbal
aggression, between secondary psychopathy, irritability and hostility; and between secondary
psychopathy and the trait of neuroticism. Negative correlations were found between secondary
psychopathy and the trait of conscientiousness.
Key words: Personality; psychopathy; aggressiveness; teenagers.
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Abreviaturas
AQ- Aggression Questionnaire
BFI - Big Five Inventory
DP – Desvio Padrão
LSRP- Levenson`s Self-Report Psychopathy Scale
M - Média
PDS- Paulhus Deception Scale
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Índice
Introdução ....................................................................................................................................10
Capítulo 1 - Personalidade..........................................................................................................12
1.1.- Conceito de personalidade ..................................................................................12
1.2.- Teoria dos traços .................................................................................................14
1.3.- Modelo dos cinco factores ..................................................................................16
Capitulo 2 - Psicopatia ................................................................................................................20
2.1.- Descrição clínica .................................................................................................20
2.2. - Psicopatia primária e secundária ........................................................................32
2.3.- O papel da agressividade na psicopatia...............................................................36
Capitulo 4 - Método.....................................................................................................................46
4.1. - Objectivo e hipóteses…………………………………………………………..46
4.2.- Descrição da amostra ..........................................................................................48
4.3.- Descrição dos instrumentos.................................................................................49
4.3.1.- Questionário sócio-demográfico………………………………………….....49
4.3.2.- Paulhus deception scale (PDS)……………………………………………. .49
4.3.3.- Big Five inventory (BFI)……………………………..……………………..50
4.3.4.- Levenson’s self-report psychopathy scale (LSRP)………………………….52
4.3.5.- Aggression questionnaire (AQ)……………………………………………..53
4.4.- Procedimento…………………………………………………………………...54
4.5.- Resultados ...........................................................................................................55
4.6.-Discussão dos resultados......................................................................................67
Conclusão ..................................................................................................................................75
Bibliografia...................................................................................................................................78
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Anexos……………………………………..……………………………………………………. 87
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Índice de Tabelas
Tabela 1. Os cinco factores de personalidade adjectivados e relacionados com os seus
opostos………………………………………………………………………………….19
Tabela 2. As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider
(1968) e as suas principais características ……………………………………………..22
Tabela 3. Variáveis sócio-demográficas……………………………………………… 49
Tabela 4. Estatística descritiva das variáveis estudadas……………………………….56
Tabela 5. Diferença de médias entre idades para as dimensões da personalidade, da
desejabilidade social, da psicopatia e da agressividade ………………………………..58
Tabela 6. Diferença de médias entre géneros para as dimensões de personalidade, de
desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade ………………………………..59
Tabela 7. Diferença de médias entre indivíduos com problemas judiciais e indivíduos
sem problemas judiciais para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social,
de psicopatia e de agressividade……………………………………………………….61
Tabela 8. Diferença de médias entre consumidores e não consumidores de substâncias
psicotrópicas e de estupefacientes para as dimensões de personalidade,
de desejabilidade social, de psicopatia e de
agressividade………………………………………………………………………… ..63
Tabela 9. Correlações entre traços de personalidade, desejabilidade social, atributos
agressivos e traços psicopáticos……………………………………………………… ..65
Tabela 10. Correlações entre traços psicopáticos, desejabilidade social e atributos
agressivos……………………………………………………………………………….66
Tabela 11. Correlações entre desejabilidade social e atributos agressivos
…………………………………………………….……………………………………67
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Introdução
A pertinência deste estudo prende-se com a prioridade em estudar os antecedentes das
formas de expressão das condutas violentas e delinquentes de modo a apelar ao desenvolvimento
de politicas e ao delineamento de programas de prevenção e de controlo dos comportamentos
problemáticos assumidos pelos jovens e adolescentes, com o propósito de evitar futuras
consequências na sociedade portuguesa.
Os jovens e os adolescentes estão mais susceptíveis a transgredir as normas e as regras
sociais, isto porque nesta fase de desenvolvimento existem mais probabilidades para se tornarem
perpetuadores ou vítimas de violência interpessoal.
Os comportamentos são expressões da personalidade individual, podendo ser
justificáveis através da avaliação dos traços de personalidade (Paunonen e Ashton, 2001). Allport
e Allport (1921) afirmou que os traços de personalidade representam predisposições para
responder ou reagir de modo semelhante a diferentes tipos de estímulos, ou seja, são
considerados como formas constantes e duradouras de reacção aos estímulos do meio ambiente.
São dotados de individualidade, determinam o comportamento e são passíveis de demonstração
empírica, sendo detentores de variações situacionais e inter-relacionais (Schultz e Schultz, 2002).
Born (2005) refere que as pessoas caracterizadas por uma conduta delinquente
demonstram mais agressividade, são mais impulsivos, detendo um fraco controlo sob os próprios
impulsos. A conduta delinquente está igualmente correlacionada com a psicopatia, as pessoas
com este tipo de personalidade revelam ser mais severas, frias, agressivas, menos preocupadas
com os outros, mais insensíveis e hostis, bem como, mais solitárias, não temendo o perigo ou os
riscos e sentindo prazer a praticar o que é erróneo aos olhos da sociedade.
Torna-se essencial também no estudo desta temática abordar o papel da agressividade,
de forma a perceber até que ponto esta se encontra correlacionada com os traços de personalidade
e com os traços psicopáticos dos jovens ou adolescentes. Sabe-se que a agressividade entre os
jovens tem vindo a aumentar, sendo um fenómeno que pode estar associado à resposta face aos
modelos sócio-culturais actuais.
De acordo com Sanmartin (2002) a agressividade consiste num mecanismo inato
presente em todos nós, e a expressão emocional ou a linguagem corporal constitui um dos
mecanismos capazes de inibir as acções de teor agressivo.
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Lorenz (1981) postula que existe uma tendência filogenética para a luta, logo a
agressividade é uma necessidade natural tanto nos seres humanos como nos animais, fazendo
parte do instinto de protecção de cada um.
Fromm (1975) defende que existem dois tipos de agressão: a agressão benigna que é
adaptativa em termos biológicos, ou seja, é accionada em situações de fuga ou de ataque como
forma de defesa e a agressão maligna, marcada pelos pretextos cruéis e caprichosos.
A agressão pode surgir e permanecer consoante alguns factores, tais como: os factores
fisiológicos, o uso de substancias tóxicas, os antecedentes familiares de violência, o abuso sexual
na infância, o facto de pertencer a comunidades violentas, o baixo desempenho escolar, uma
baixa auto-estima e poucas expectativas futuras, bem como, o facto de estar inserido numa
cultura familiar desadaptativa, e a exposição regular a vídeo jogos ou programas de TV com
características violentas.
Este estudo pretende analisar o perfil psicológico dos jovens e adolescentes pertencentes
à Escola Secundária de Sacavém. A análise em questão é executada a partir do modelo dos 5
factores, que inclui o estudo dos seguintes traços de personalidade: o traço de extroversão, de
amabilidade, de conscienciosidade, de neuroticismo e de abertura à experiência. Aborda-se
igualmente a variável psicopatia, mais precisamente os traços de psicopatia primária, de
psicopatia secundária e os atributos agressivos, ao nível dos factores de agressividade física e
verbal, da irritabilidade e da hostilidade.
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1. Personalidade
1.1. Conceito de personalidade
Allport (1937) classificou a personalidade como uma organização dinâmica do
indivíduo, condicionada por sistemas psicofísicos que determinam o comportamento e os
pensamentos considerados típicos num indivíduo.
Neste sentido, a personalidade consiste numa entidade única, que reflecte a forma como
uma pessoa pode pensar, agir, ou como se comporta em diversos contextos (Allport, 1974).
Allport (1937) delimitou sete estádios do desenvolvimento do “Eu”, ou seja, da
personalidade. O primeiro diz respeito à primeira infância, em que as crianças ainda não possuem
o “Eu” formado, sendo incapazes de se diferenciarem dos outros, ou seja, não são detentoras de
uma consciência real, apesar de serem conscientes em relação às pessoas ou aos objectos, pois
quando as mesmas fazem mal a si próprias não tem noção que auto-infligiram a dor. O segundo
estádio corresponde ao “Eu corporal”, existindo já consciência das sensações corporais por volta
dos 6 meses de idade, isto porque os órgãos sensoriais se tornam operacionais. O terceiro estádio
denomina-se por auto-identificação, surge aproximadamente no segundo ano de vida, altura em
que os sistemas mnésicos ganham forma e com a aprendizagem da linguagem apela-se a uma
continuidade do próprio “Eu”. O quarto estádio apelida-se de auto-estima e surge no terceiro ano
de vida, quando a criança começa a demonstrar iniciativa própria e deseja realizar algo sozinha.
O quinto estádio é caracterizado pela extensão do “Eu” e da auto-imagem, surge
aproximadamente aos 4 anos, nesta fase a criança torna-se egocêntrica, ganhando uma visão
própria do ambiente onde está inserida, manifestando por esta altura aspirações e expectativas
face ao que os outros comentam ou falam sobre ela. O sexto estádio apelidado de racional surge
entre os 6 e os 12 anos, dá-se lugar ao desenvolvimento do raciocínio e da solução de problemas.
Por último, o sétimo estádio consiste num período de esforço que se prolonga ate à adolescência,
marcando o início da planificação do futuro, ou seja, aprende-se que o êxito depende da
preparação e que é imperioso estabelecer objectivos próprios.
O desenvolvimento da personalidade não cessa, na idade adulta a personalidade pode ser
considerada madura se obedecer aos seguintes critérios: autonomia; capacidade para estabelecer
relações afectuosas com os outros, tolerância à frustração, percepções realistas e aptidões; insight
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e humor; e auto-determinação no alcançar dos objectivos que foram propostos ou planificados
(Veríssimo, 2001).
Por outro lado, Cattell (1950) encara a personalidade como uma predição do que uma
pessoa num dado contexto pode realizar, ou a forma como esta se vai comportar nesse ambiente
em especifico.
Mischel (1996) concebe o constructo personalidade como uma combinação de todas as
dimensões relativamente duráveis das diferenças individuais, sendo as mesmas passíveis de ser
medidas.
Linton (1845) perspectivou a personalidade como um processo organizado de processos
e de estados psicológicos específicos de um indivíduo.
Para Oliveira (2002, p. 52), a análise da personalidade do sujeito “pressupõe a
compreensão da organização idiossincrática de todos os seus atributos mentais e dos registos em
que estes se manifestam”.
Carver e Scheier (2000) reuniram os contributos das diversas teorias acerca da
personalidade, conceptualizando-a da seguinte forma: é um constructo dinâmico e psicológico,
possuindo bases fisiológicas, assim como, consiste numa força interna que determina o
comportamento, marcada por padrões de respostas recorrentes e consistentes.
Eysenck (1979) perspectivou a personalidade como uma organização relativamente
firme e durável do carácter, do temperamento, da inteligência, e da dimensão física de um
indivíduo, determinando a sua adaptação ao meio.
A personalidade é um constructo ambíguo, Skinner (1987) encara-a como um conjunto
de comportamentos originados por contingências de reforços específicos, enquanto que Rogers
(1961) defende que as pessoas possuem a liberdade para escolher o que pretendem ser e para
desempenhar um papel social à sua medida. Por outro lado, Gray (1994) e Tellegen (1985)
postulam que a personalidade é mediada em grande parte por factores biológicos.
Através dos contributos dos diversos seguidores do estudo da personalidade, no presente
este conceito é concebido como uma combinação de factores biológicos e de factores ambientais,
estando presente na vida psíquica de cada um de nós, ao nível dos processos cognitivos e na
expressão particular das emoções (Hansenne, 2004).
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1.2. A teoria dos traços
As teorias dos traços são dimensionais, pois centram-se na classificação da
personalidade de acordo com descrições em termos de características, que podem variar ao longo
de uma distribuição sem descontinuidades. O traço consiste num conjunto de comportamentos ou
de tendências correlacionadas com o agir, estes pretendem descrever e predizer o comportamento
que o indivíduo apresenta ou possui probabilidade de apresentar, não descrevem assim somente
um estado persistente. A teoria dos traços nasce com a análise factorial, esta baseia-se no estudo
das intercorrelações entre as formas de responder e de reagir habituais (Hansenne, 2004).
Allport (1937) afirma que os traços são predisposições para se responder sempre do
mesmo modo diante de diferentes estímulos, estes asseguram a estabilidade dos comportamentos
ao longo do tempo e nas várias experiências de vida, condicionando a percepção que os
indivíduos têm das circunstâncias. De acordo com esta lógica, os traços não podem ser encarados
como hábitos, e os mesmos podem ser medidos e estudados empiricamente.
Allport (1937) distinguiu os traços de duas formas: existindo os traços comuns e os
traços individuais ou as disposições pessoais, os primeiros são classificados como nomotéticos e
distribuem-se normalmente na população, realçando as características pertencentes a uma dada
cultura, os segundos possuem três categorias: cardinal correspondente às características mais
marcantes de uma pessoa; central associada às características qualificativas de um indivíduo,
podendo ser qualidades como a generosidade, timidez ou meticulosidade; e os traços secundários
ou individuais que dizem respeito a uma disposição pessoal que é própria do indivíduo, todavia
não é empregue de forma regular pelo mesmo.
Segundo McCrae e Costa (1992) os traços de personalidade são tendências, no sentido
em que são determinantes absolutos do comportamento, ou também podem ser considerados
como disposições que são coordenadas por outros factores, como sejam o papel social, a situação
ou o humor, condicionam por isso a reacção das pessoas num dado momento ou situação.
Diferenciam-se dos comportamentos aprendidos ou das condutas repetitivas e mecânicas, são por
outro lado padrões consistentes no indivíduo, podendo ser observáveis ao longo do tempo,
constituindo uma predição adequada do comportamento de uma pessoa a longo prazo. Os traços
de personalidade podem ser ainda considerados como dimensões das diferenças individuais, estes
podem ser representados por uma escala, onde uma dada pessoa pode ser contextualizada. De
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acordo com esta teoria todas as pessoas possuem traços e estes variam de acordo com o grau em
que são manifestados e possuem uma distribuição que se aproxima da curva normal, em que
quanto maior for a pontuação num traço, maior a probabilidade do sujeito reagir em consonância
com o comportamento em causa. Todavia, um traço não é um valor fixo, existindo maior
instabilidade em alguns traços comparativamente aos outros (McCrae e Costa, 1992).
Segundo Guilford (1975) o traço é definido de acordo com uma sequência:
primeiramente observa-se em que aspectos as pessoas diferem em termos de comportamento e de
qualidades comportamentais, estas qualidades serão descritas a partir de advérbios, por exemplo
ao referirmos que aquela pessoa agiu cautelosamente. Após este primeiro passo, aplica-se a
qualidade à pessoa que executou a acção com recurso a adjectivos, sendo a qualidade transferida
da acção para o actor, estabelecendo uma descrição com estabilidade futura, ou seja, existe uma
tendência para atribuir uma descrição à maioria dos actos pertencentes a um indivíduo. O
comportamento do sujeito passa deste modo a ser descrito através de uma qualidade ou de um
substantivo, por exemplo referimo-nos ao sujeito como sendo detentor de um traço de cautela.
Cattell (1950) recorreu a uma análise estatística para criar 171 variáveis, que
posteriormente foram alvo de uma análise factorial, onde extraiu 36 traços que apelidou de
superficiais, reduzindo-os a 12, que mais tarde designou de traços originais ou essenciais, a estes
foram acrescentados 4, constituindo os 16 traços avaliados pelo questionário 16PF. Afirma que os
traços podem ser únicos ou comuns, dinâmicos ou temperamentais. Constituem entidades
permanentes que são herdadas e que se desenvolvem ao longo da vida, possuindo uma hierarquia:
um traço comum pode ser medido em todos os indivíduos, recorrendo ao mesmo teste e que
difere mais em intensidade do que na forma. Enquanto que os traços denominados únicos
correspondem aos traços específicos de um indivíduo, que lhe são próprios e que dificilmente
estão presentes em outras pessoas. No topo superior da hierarquia localizam-se os traços de
segunda ordem, ou apelidados de super-traços, diferenciando os traços fortes dos traços de
superfície, os primeiros constituem os traços de base, cujas variações em valor são determinadas
por um único factor ou influência. Estes tipos de traços encontram-se repartidos em três
categorias: numa primeira categoria estão inseridos os traços relacionados com a habilidade, ou
seja, são classificados ou caracterizados de acordo com a forma como o sujeito realiza uma tarefa
em concordância com objectivos claros; na segunda encontram-se os traços associados ao
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temperamento do sujeito e às suas emoções; a última categoria envolve os traços dinâmicos que
dizem respeito às motivações e aos interesses individuais.
Os traços de superfície definem-se pelas características da personalidade que estão
intercorrelacionadas entre si e frequentemente são visíveis, apesar de não constituírem um factor.
Craig, Hogan e Wolf (1993) consideraram os traços como disposições cognitivo-
dinâmicas gerais, isto porque estes guiam ou dirigem o comportamento de diversas formas:
informam acerca das situações consideradas interessantes e determinam em quais nos devemos
envolver voluntariamente; predizem o estilo de comportamento mais provável numa determinada
circunstância; influenciam naquilo que pode ser entendido como reforçador ou não numa dada
situação, ou seja, determinam o modo como a situação vai ser percebida; e constituem
mecanismos auto-reguladores que se auto-sustêm, sendo neste sentido preditores
comportamentais mesmo sob grande intensidade situacional.
Kluckhohn e Murray (1953) elaboraram as disposições motivacionais dividindo-as em
disposições de realização e de associação. Defendem que os traços de interacção a que chamaram
de expressivos e de estilo, manifestam-se pela polidez, pela loquacidade, pela coerência, pela
indecisão, pelo espírito crítico e pela sociabilidade.
Eysenck (1979) teorizou quatro níveis inseridos na personalidade, que são: os tipos, os
traços, as respostas habituais e as respostas especificas. Na sua concepção os traços consistem em
construções teóricas baseadas em correlações entre as respostas habituais dos indivíduos, ou seja,
os traços são compostos por respostas habituais e especificas, as primeiras dizem respeito aos
comportamentos que surgem em determinadas situações, enquanto que as segundas são
desencadeadas ocasionalmente em situações particulares.
1.3. Modelo dos cinco factores
O modelo dos cinco factores da personalidade foi criado a partir de análises executadas
ao nível dos adjectivos que se adequavam à descrição do conceito de personalidade, e através da
realização de análises factoriais com o fim de delimitarem a personalidade em cinco factores
(John e Srivastava, 1999). Os cinco factores constituem disposições duradouras associadas aos
padrões comportamentais existentes e os traços de personalidade que compõem estes factores são
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manifestos nas diferentes faixas etárias, em ambos os sexos, nas várias etnias ou nacionalidades,
no entanto podem variar de acordo com certas culturas.
McCrae e Costa (2006) afirmam que os cinco factores consistem em tendências básicas
com uma base biológica, isto porque são disposições para agir e sentir de determinadas formas,
não sendo estas directamente influenciados pelo meio. Neste sentido, os traços de personalidade
são resultantes da biologia humana comparativamente à influência exercida pelas experiências ou
pelo desenvolvimento pessoal, não descurando a importância da adaptação do indivíduo ao seu
meio e as influências exercidas também por este, já que tais elementos determinam as escolhas e
as decisões individuais ao longo do tempo em concordância com os valores da pessoa.
Este modelo é hierárquico, sendo operacionalizado a partir de dois níveis: no nível
inferior situam-se os traços muito específicos, enquanto que no nível superior encontram-se
inseridos os cinco factores mais vastos (McCrae e Costa, 2006).
Neste sentido, as diferenças individuais podem ser divididas em cinco dimensões
principais: o primeiro factor designa-se por extroversão; o segundo por amabilidade, em que uma
pessoa com valores altos neste traço é caracterizada como atenciosa e afectuosa; o terceiro
corresponde à conscienciosidade, esta dimensão insere-se nas qualidades de honestidade,
persistência e planificação dos comportamentos, valores altos neste traço indicam que o indivíduo
pode ser escrupuloso, atento ou sério; o quarto factor denomina-se por neuroticismo ou
emocionalidade, correspondendo de modo específico à ansiedade; e por último o factor de
abertura à experiência (Hansenne, 2004).
O traço de abertura à experiência também apelidado de “imaginação”, está presente em
indivíduos geralmente considerados curiosos, com interesses variados, originais, criativos,
imaginativos, que não apreciam a rotina, uma pontuação baixa neste traço pode estar patente
numa pessoa com uma predisposição para o convencional, para a sensatez, com interesses
limitados e pouca expressão criativa (Pervin e John, 2004). Segundo Benet-Martínez e John
(1998) este traço também representa a complexidade, a abertura e a profundidade da mente
humana.
O traço de conscienciosidade é marcado pelo controlo da impulsividade ou da volição,
existindo assim controlo sob os impulsos e os comportamentos são dirigidos frequentemente para
um objectivo planeado à priori, tendo em conta o cumprimento de obrigações impostas pelo
próprio ou por outros (Benet-Martínez e John, 1998). Os indivíduos considerados conscienciosos
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são frequentemente cautelosos, demonstram ser dignos de confiança e organizados, cumprindo a
rigor as suas responsabilidades, são também ambiciosos e perseverantes. Todavia, os indivíduos
destituídos desta particularidade mostram-se desorganizados, descuidados, ociosos, negligentes,
relaxados e hedonísticos (Friedman e Schustack, 2004). Esta dimensão da personalidade prediz
eficazmente o desempenho escolar e o desempenho profissional (Freitas, Teixeira e Pasquali,
2005).
A dimensão de extroversão encontra-se associada a características como o entusiasmo, a
actividade, a sociabilidade, a dominância, a eloquência, o optimismo e o divertimento. Enquanto
que, a introversão está correlacionada com o retraimento, a submissão e a serenidade (Friedman e
Schustack, 2004).
A amabilidade apelidada igualmente de agradabilidade está presente nos indivíduos
considerados cooperativos, confiantes, prestativos, clementes e honestos. Os indivíduos com
baixos valores nesta dimensão são caracterizados como frios, indelicados, desconfiados,
vingativos, inescrupulosos e manipuladores (Friedman e Schustack, 2004).
O neuroticismo designado também por instabilidade emocional é marcado pela
ansiedade, sensibilidade emotiva, por uma preocupação excessiva, pela experiência frequente de
tensão e de insegurança. Os indivíduos sem este traço demonstram-se mais calmos, seguros,
pouco emotivos e descontraídos (Friedman e Schustack, 2004). Segundo McCrae e Costa (2006)
os sujeitos com resultados altos nesta dimensão possuem uma predisposição para sentir irritação,
melancolia e vergonha, possuem pouca tolerância à frustração, principalmente quando não
atingem os seus objectivos ou não satisfazem as suas vontades, assim como, possuem pouco
controlo sob os seus impulsos. Os comportamentos dos indivíduos considerados neuróticos
podem evoluir para algo compulsivo, podem se tornar imprudentes e exprimir a sua inquietude ou
angústia interiores com recurso a acções desadequadas.
Segundo Hansenne (2004) os adjectivos que se associam aos cinco factores da
personalidade são os seguintes: a extroversão é típica de uma pessoa faladora, feliz, enérgica,
gregária, confiante, espontânea, segura e activa no seu dia-a-dia; a amabilidade está presente
numa pessoa considerada como afectuosa, amável, educada, altruísta, submissa, modesta e
sensível; a conscienciosidade está presente nas pessoas caracterizadas como sérias, responsáveis,
cuidadosas, disciplinadas, detentoras do sentido do dever, perseverantes na procura do êxito,
deliberantes e assertivas; o neuroticismo é marcado pela ansiedade, cólera, depressão, timidez
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social, impulsividade e vulnerabilidade, estando associado à labilidade emocional e em relação ao
modo como cada indivíduo lida com a intensidade das suas reacções emocionais.
Tabela 1. Os cinco factores de personalidade adjectivados e relacionados com os seus opostos Os Factores e os seus
Opostos
Adjectivos
Extroversão/
Confiança; Espontaneidade; Assertividade; Actividade
Introversão Timidez; Inibição; Passividade; Submissão
Amabilidade/
Afectividade; Cortesia; Educação; Bondade
Hostilidade Frieza; Maldade; Rispidez; Irritabilidade
Conscienciosidade/
Seriedade; Responsabilidade; Cuidado; Disciplina
Impulsividade Frigidez; Irresponsabilidade; Negligência; Hesitação
Neuroticismo/ Ansiedade; Stress; Excitabilidade; Instabilidade
Estabilidade Emocional Calma; Relaxamento; Apaziguamento; Estabilidade
Abertura à Experiência/
Imaginação; Criatividade; Novidade; Curiosidade
Convencional
Concretude; Falta de originalidade; Rotina; Circunspecção
Hansenne (2004)
Eysenck (1992) foi um dos primeiros investigadores a associar os traços de
personalidade à activação neurofisiológica. Afirmava que a introversão correspondia a um nível
mais elevado da activação do sistema nervoso central, isto porque os introvertidos tendem a ser
mais vigilantes comparativamente aos extrovertidos, sendo que os primeiros reagem com mais
intensidade numa situação de perigo (Stelmack, 1990).
Bartol e Costello (1976) descobriram a partir dos seus estudos que os introvertidos
possuem uma tolerância mais baixa à dor, e sendo mais sensíveis protegem-se dos estímulos
exteriores.
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De acordo com Eysenck (1992) o traço de abertura à experiência encontra-se
correlacionado com a extroversão, pois existe uma propensão para sentir aborrecimento nas
pessoas com estes dois traços, no entanto isto não tem a ver necessariamente com a capacidade de
sociabilidade, típica da extroversão. Tal evidência é reforçada por Zuckerman (1991), afirmando
que a base biológica do traço de abertura à experiência é similar à do traço de extroversão, em
que os indivíduos que buscam frequentemente novas sensações apresentam maiores índices de
respostas à novidade em certos sistemas cerebrais, sobretudo ao nível do sistema de
neurotransmissores com a enzima monoaminoxidade, que tem como transmissores a dopamina e
a norepinefrina.
Nos seus estudos Zuckerman (1991) constatou que os indivíduos com maior
predisposição para a procura de novas experiências possuíam um nível baixo de norepinefrina, o
que faz com que busquem situações de risco e de perigo para estimularem o funcionamento da
norepinefrina neste sistema neuronal. Os indivíduos que consomem substâncias psicoactivas são
considerados pela maioria das investigações realizadas neste âmbito como detentores do traço de
abertura à experiência, a sua constante procura de sensações novas é influenciada pelos sistemas
de recompensa dos seus cérebros, que são mediados pela dopamina.
2. Psicopatia
2.1. Descrição clínica
Morel (1857) classificou os indivíduos com este tipo de personalidade como “maníacos
instintivos” que desde a infância manifestam comportamentos de desrespeito pelas normas
sociais, sendo portadores de tendências inatas para perpetuar o mal, eram por isso autores de
actos como o roubo, os incêndios, ou outros de categoria delituosa, desrespeitando facilmente as
normas sociais vigentes, mostrando-se desta forma destituídos de valores morais.
Lombroso nos finais dos anos 1880 (citado por Innes, 2004) interessou-se pelo estudo da
criminalidade, dando início à sua investigação com a dissecação de cérebros de cadáveres, a fim
de encontrar as causas estruturais para a loucura, sem no entanto obter êxito na sua busca. Ao
investigar também em relação às fisionomias de indivíduos criminosos encarcerados, inclusive
autopsiou um corpo de um criminoso que fora executado, concluiu que o mesmo possuía uma
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particularidade incomum no crânio, tais descobertas e estudos contribuíram para a divisão dos
casos em duas tipologias ou classificações: os “criminosos ocasionais” que cometiam os crimes
de acordo com as circunstâncias e os “criminosos naturais” que cometiam os crimes com grande
frequência, possuindo um defeito hereditário ao nível da sua estrutura física, pois eram
classificados como “atávicos” e possuíam características estruturais primitivas (braços
compridos, uma visão apurada idêntica à visão das aves de rapina, mandíbulas pesadas e orelhas
grandes). Tal teoria foi alvo de inúmeras críticas, pois fundamentava-se essencialmente em
aspectos morfológicos e anatómicos humanos.
Kraepelin (1988) desconsiderava a causa neurológica da psicopatia, afirmou que se
tratava de uma perturbação constitutiva, existindo por detrás do surgir da perturbação os factores
genéticos. Criou as seguintes tipologias de psicopata: os psicopatas excitáveis, mitómanos,
intuitivos e fantásticos ou instáveis.
Schneider (1974) contribui em muito para a definição actual de psicopatia, pois descobre
que esta consiste numa perturbação ao nível da personalidade, isto é, envolve desvios
quantitativos de características normais da personalidade. A partir dos seus estudos consegue
estabelecer vários subtipos de psicopata: os hipertímicos; os depressivos; os inseguros; os
fanáticos; os carentes de atenção; os emocionalmente lábeis; os explosivos; os perversos; os
abúlicos; os asténicos; os anéticos; e os frenasténicos. Neste sentido, os indivíduos com esta
perturbação eram destituídos de sentido moral, de honra, de pudor, de arrependimento e inclusive
de consciência. Afirmando também que as pessoas com este tipo de características eram
impossíveis de tratar ou de alterar a sua condição diagnóstica, a única solução possível seria o
internamento dos mesmos num local seguro, longe da sociedade.
As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider (1974)
obedeceram aos critérios de anormalidade de carácter psicossocial, à presença de impulsividade e
de incapacidade de controlo dos impulsos.
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Tabela 2. As subtipologias de personalidade psicopática elaboradas por Schneider (1968) e as suas principais características
As Subtipologias de Personalidade Psicopática
Características
Abúlico
Indivíduo com avolição, que cede facilmente às sugestões, vulnerável às circunstâncias que o induzem à prática de crimes e comporta-se de acordo com as suas próprias deduções sobre a realidade.
Anético
Indivíduo que exibe juízos e condutas isentas de valores morais, não possui escrúpulos no sentido em que é desfavorecido em termos de compaixão e de outros sentimentos, assim como, é atroz e pungente nas suas acções, com severas dificuldades de adaptação à escola e ao seu meio, sendo frequente praticar actos ilícitos, danos corporais e até homicídios.
Asténico
Indivíduo com traços neuróticos de personalidade, mais precisamente sintomas hipocondríacos, detendo um perfil psicológico de abatimento contínuo, focalizando o seu bem-estar nas fugas ao esforço e à auto-realização.
Carentes de Atenção
Indivíduo que mostra carências de afecto e de reconhecimento, possui traços histriónicos de personalidade, logo demonstra um comportamento “melodramático” com o intuito de atrair as atenções, bem como, sente-se frustrado com grande facilidade, principalmente nas situações em que não lhe é demonstrado afecto, atenção e elogios.
Hipertímico Equilibrado
Indivíduo que não possui sentido crítico, age conforme a sua interpretação imediata dos estímulos e é muito influenciável.
Hipertímico Agitado
Indivíduo conflituoso, de humor lábil e indeciso, sendo passível o cometimento de acções agressivas e criminosas.
Depressivo
Ao nível do humor é um indivíduo com uma angústia fácil, inseguro, duvida das suas próprias capacidades e o seu pensamento encontra-se centrado na sua própria imperfeição ou nos erros cometidos. É encarado como auto-exigente, obsessivo na execução daquilo que é considerado correcto, e com um temperamento irascível.
Explosivo
Indivíduo impulsivo, violento, capaz de actos desumanos, quando executa crimes cruéis raramente se recorda do sucedido, isto porque é comum possuir alterações ao nível da consciência e da memória.
Fanático
Indivíduo que se deixa dominar pelas ideias sobrevalorizadas que constrói, é frequente seguir com grande veemência uma doutrina religiosa, uma política ou uma filosofia. Quando é detentor de um QI acima da média, torna-se perigoso ao ponto de induzir os demais a aceitarem e a praticarem uma doutrina elegida pelo próprio.
Frenasténico
Indivíduo que foi vítima de alguma patologia ou acidente que afectou o seu sistema neuronal, apesar de conservar a capacidade de juízo concreto, compreende as relações de forma superficial e é detentor de um juízo crítico abstracto, sendo o seu percurso de vida talhado por sucessivos fracassos.
Schneider (1968)
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Cleckley (1988) encarou a psicopatia como uma doença mental, correspondendo a uma
“demência semântica”, ou seja a um défice ao nível da compreensão dos sentimentos humanos
em profundidade. Baseou-se na história clínica e de vida de 15 pessoas para definir a perturbação
em causa através de 16 características elementares: o facto de possuir um encanto superficial e
boa inteligência; não possuir alucinações ou outros sinais de pensamento irracional; incapacidade
de sentir ansiedade ou de manifestações neuróticas; mostrar-se indigno de confiança, mente e é
insincero no seu dia-a-dia, sendo uma atitude reforçada pela ausência de sentimentos de culpa ou
de vergonha, exibindo igualmente comportamentos anti-sociais sem escrúpulos aparentes; é
detentor de um raciocínio pobre e de uma incapacidade para aprender com a experiência;
predomina um egocentrismo patológico e uma incapacidade para amar, o que promove a pobreza
geral nas relações afectivas; possui incapacidade de intuição (insight), assim como, mostra-se
incapaz para responder na generalidade das suas relações interpessoais; há a manifestação
frequente de um comportamento fantasioso e pouco recomendável, que pode ser explicado ou
não pela ingestão de bebidas alcoólicas; executa ameaças de suicídio para obter o que pretende
dos outros, estas são raramente concretizadas; a sua vida sexual impessoal é trivial e pouco
integrada; e por último, é incapaz de seguir um plano de vida ou estabelecer objectivos de vida.
Apesar da boa impressão que um indivíduo psicopata transmite inicialmente aos outros,
à posteriori torna-se evidente que o mesmo não possui sentido de responsabilidade
independentemente das suas obrigações, sejam elas importantes ou não, este desconsidera
também o valor da moral ou da verdade, não experimenta sentimentos de culpa, não sente mal-
estar por mentir ou praticar actos ilícitos, e ao não sentir remorsos não aprende com os erros que
comete e remete a culpa das suas falhas noutra pessoa ou no sistema social. Este é dotado de uma
inteligência acima da média, no entanto ao ser punido pelas suas acções não altera o seu padrão
comportamental (Cleckley, 1988).
Ao nível da personalidade estes indivíduos são egocêntricos, sendo indiferentes ao
sofrimento alheio ou ao mal-estar que provocam nos outros, não possuem ressonância afectiva,
nem capacidade de insight, o que prejudica gravemente a sua avaliação da realidade, são também
incapazes de sentir empatia, por isso não respondem de forma convencional aos sentimentos e à
manifestação de afectos (Cleckley, 1988). Existindo uma predisposição para consumirem álcool,
o que os induz mais facilmente à adopção de condutas extravagantes e anti-socais,
frequentemente exibem práticas sociais desviantes e incestuosas, a tendência homossexual está
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raramente presente e as relações que estabelecem são impessoais e temporárias, não implicam
assim compromissos ou afectos duradouros (Cleckley, 1988).
A definição de psicopatia elaborada por Hare (2003) é baseada nas características
assinaladas por Cleckley (1988) de que o psicopata é encarado como um indivíduo temerário,
arrogante, insensível, dominante, superficial, egocêntrico, falso e manipulador. No âmbito
afectivo, estes indivíduos são detentores de emoções lábeis e superficiais, o seu perfil psicológico
é igualmente marcado pela ausência de empatia, do sentimento de ansiedade e de culpabilidade
ou de remorsos, assim como, é incapaz de estabelecer vínculos duradouros com as outras pessoas,
ou seguir qualquer tipo de princípios (Hare, 2003).
O psicopata leva um estilo de vida criminal, utilizando com regularidade substâncias
ilícitas, e ao ter um fraco insight torna-se incumpridor de qualquer tipo de responsabilidade
(Hare, 1991; Hart, Hare e Harpur, 1992). Os indivíduos com esta perturbação ao nível da
personalidade possuem um encanto fácil, manipulam e controlam os outros através da
agressividade e da intimidação, com vista a satisfazerem os seus desejos internos e a elevarem a
sua auto-estima (Hare, 1999; Oliveira, 2004). Isto deve-se em parte à incapacidade para perceber
o estado emocional dos outros, assim como, desconhecem o sentimento de lealdade, são desleais
para todos os que lhe são próximos e para o sistema social em si.
Os psicopatas possuem uma necessidade voraz por estimulação, o que contribui para o
desejo de praticar acções anti-sociais, sem reflectirem sobre as consequências que podem advir
dos seus comportamentos delituosos (Oliveira, 2008, 2009), são deste modo considerados como
depredadores sociais, não seguindo qualquer lei ou regras sociais, cometem acções perversas
tendo como única e principal prioridade a satisfação dos seus próprios objectivos (Hare 1999).
Hare (1993) defende que a psicopatia é uma perturbação destituída de consciência, ou
seja, existe um handicap na formulação de juízo crítico acerca das acções do psicopata e a sua
agressividade é accionada de forma instrumental e fria, dependendo da natureza individual deste
e das influências sociais provenientes do seu meio envolvente. Apesar de tudo, o psicopata é
capaz de distinguir o que é errado do que é certo e no seu íntimo sabe os danos que provoca, logo
pode decidir entre o “mal” e o “bem”.
Os psicopatas são absolutamente competentes para enfrentar uma decisão promulgada
pelos sistemas de justiça, isto porque tem capacidade para optar e possuem plena consciência das
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consequências advindas dos seus actos, mas é frequente simularem uma perturbação mental para
não serem punidos judicialmente (Hare, 1993).
A facilidade que o psicopata possui para provocar a dor e o sofrimento alheio pode ser
justificada em parte pelo seu egocentrismo marcado, pela sua auto-avaliação exagerada, pelo seu
fraco controlo sob os impulsos e pela sua necessidade de controlo e de domínio (Hare, 1993).
Segundo Hare (2009) ninguém nasce psicopata, certas pessoas podem no entanto possuir
uma predisposição para a psicopatia. A psicopatia não consiste numa categoria descritiva, mas
sim numa medida que varia em proporção.
As perturbações psicopáticas consistem num diagnóstico já elaborado através da recolha
de histórias, de biografias, da observação de comportamentos e de atitudes. Neste sentido, a
psicopatia é uma semiologia psiquiátrica e também social, que é marcada por um percurso de
vida instável, dominado pelos encontros repetidos e sucessivos com a lei e por reincidências, isto
porque há ausência de aprendizagem com os erros passados. Nesta perturbação os
comportamentos agressivos são uma constante e os indivíduos psicopatas tornam-se cada vez
mais repressivos, anónimos e violentos, detentores de uma expressão mental pobre, assim como,
por um lado rejeitam mas por outro tem uma necessidade voraz de afecto, tornam-se impulsivos e
também pragmáticos, a sua solidão contrasta com uma grande dependência, sentem o
aborrecimento com grande facilidade e possuem uma predisposição para a mitomania,
considerados igualmente como exuberantes e possuidores de uma linguagem empobrecida.
Hare (2009) considera que a instabilidade motora, relacional, profissional e social faz
parte da disposição para a psicopatia e na sua escala para medir esta perturbação, a PCL-R, os
principais indicadores desta perturbação são avaliados a partir das seguintes características:
ausência de sentimentos morais, como o remorso ou a gratidão e a tendência para mentir e para
manipular.
A PCL-R foi elaborada com vista a medir os níveis de psicopatia e também para avaliar
a personalidade do indivíduo, permitindo a definição do risco que um determinado indivíduo
pode representar para a sociedade em questão (Hare, 2009). Esta escala foi construída com base
na assumpção de que a personalidade e o comportamento dos indivíduos agressores
diagnosticados com psicopatia diferem muito dos outros indivíduos considerados criminosos, isto
porque os psicopatas são os responsáveis pela maioria dos crimes violentos em vários países,
iniciam também os trilhos criminosos numa idade precoce, cometem uma grande variedade de
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crimes com grande regularidade, e inclusive apresentam um maior número de faltas disciplinares
no meio prisional, assim como, existe um maior índice de fracasso ao nível dos programas de
reabilitação destinados aos indivíduos com esta perturbação e os mesmos apresentam também
elevados índices de reincidência criminal (Hare, 1998).
A escala de psicopatia de Hare (1999) avalia quatro facetas: a faceta interpessoal contém
itens que avaliam a loquacidade, o encanto superficial, a sobrestima de si, a tendência para a
mentira patológica e o logro ou a manipulação; a faceta afectiva inclui itens que abordam a
ausência de remorsos ou de culpabilidade, o afecto superficial, a insensibilidade, a ausência de
empatia e a incapacidade para aceitar as responsabilidades pelos seus actos e gestos; a faceta ou
estilo impulsivo/irresponsável possui itens que medem a necessidade de estimulação, a tendência
para o aborrecimento e para o estilo de vida parasitário, a incapacidade para assumir a
responsabilidade pelos seus actos e gestos e ainda a impulsividade; e a faceta anti-social abrange
questões que colocam ênfase no fraco auto-controlo, na manifestação precoce de problemas ao
nível do comportamento, na delinquência juvenil e na diversidade de tipos de delitos cometidos
pelo sujeito.
Os psicopatas dificilmente sentem ansiedade, bem como, no geral não experienciam o
medo, sendo quase imunes ao stress, pois permanecem calmos em situações perigosas que
colocam em causa a sua própria segurança (Goleman, 2006). Em experiências onde os
participantes recebem antecipadamente a informação de que vão receber um choque eléctrico,
constatou-se que os participantes considerados psicopatas não manifestaram apreensão ou receio
(Edens e al, 2001). Ao nível fisiológico não apresentaram níveis de sudação ou níveis de
aceleração do ritmo cardíaco, o que era de esperar nas pessoas ditas normais, não possuem deste
modo medo por antecipação e permanecem calmos e serenos em situações de grande perigo ou
pressão (Edens e al, 2001).
Estes indivíduos demonstram dificuldades no reconhecimento do medo ou da tristeza ao
nível da expressão facial ou do timbre da voz das pessoas, o que pode explicar a ausência de
empatia ou de respostas afectivas (Goleman, 2006).
Um estudo de imagiologia cerebral realizado com um grupo de psicopatas perigosos
(Kiehl e al, 2001) apontou para a presença de um défice ao nível dos circuitos da amígdala, mais
precisamente num local cerebral que tem como funções principais interpretar e identificar as
emoções, bem como, descobriram-se anormalidades ao nível da região pré-frontal, que domina a
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função de inibição dos impulsos. Por outras palavras, os circuitos neuronais destes indivíduos
fazem com que os mesmos não sintam emoções do espectro do sofrimento com a intensidade dita
“normal”, sendo incapazes de vivenciar a aflição, não identificam também a dor humana (Mealey
e Kinner, 2002).
Os psicopatas podem ser socialmente hábeis, conseguindo através do seu encanto
dissuadir as pessoas quanto à sua verdadeira intuição, os psicopatas criminosos podem inclusive
ler livros de auto-ajuda com o intuito de manipularem eficazmente os seus “alvos”, de modo a
obterem o que desejam (Goleman, 2006). Isto constata-se também nos psicopatas que foram
sempre bem sucedidos e nunca foram punidos pelos seus actos ou crimes, principalmente no
tráfico de drogas e na extorsão, pois possuem uma grande capacidade de encanto superficial, de
mentira patológica e uma história de impulsividade, ao contrário dos outros que foram castigados
estes escaparam ao sistema judicial graças às suas reacções mais ansiogénicas, associadas às
ameaças antecipatórias, comportando-se com mais cautela e discrição (Goleman, 2006).
Já na infância estes indivíduos demonstram ser portadores de uma grande frieza ao nível
dos sentimentos, tendo uma vida interior pobre são incapazes de manifestar ternura por outrem
devido também à sua dificuldade precoce na identificação da dor emocional dos outros, não
inibindo as suas reacções cruéis. Desde cedo não mostram reticência em torturar animais, em
perseguir e intimidar os colegas, assim como, frequentemente despoletavam quezílias e faziam
parte das mesmas e ateavam fogos, na adolescência é comum fazerem recurso à violência de
modo a estabelecerem relações sexuais (Goleman, 2006).
Oliveira (2004) refere que permanecem como sinais identificatórios da existência de
psicopatia: a presença de respostas de evitamento afectivo, baixa ansiedade e baixa insegurança;
conteúdos narcisisticas e de auto-percepção grandiosa; o recurso exagerado a fantasias e
deficiente apreensão da realidade; e uma grande dificuldade na tradução de estímulos externos
em conteúdos internos que sejam significativos.
O funcionamento do psicopata pode ser entendido e delimitado em três níveis, que são
os seguintes: ao nível biológico, as pessoas com esta perturbação possuem um baixo teor de
activação, inclusive estudos científicos demonstram que as pessoas consideradas como
delinquentes são detentoras de uma sub-activação psicofisiológica crónica, avaliadas
principalmente pelos métodos de medição dos índices electrodérmicos, cardiovasculares e
corticais; ao nível inconsciente, que justifica a presença de relações objectais narcísicas e defesas
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primitivas; e ao nível pré-consciente ou consciente, revelado por um estilo cognitivo imaturo que
se desenvolve a partir das defesas primitivas e que está por detrás da elaboração de erros
específicos em termos de pensamento, onde transparecem as auto-percepções narcisistas (Meloy,
1988).
Os sujeitos considerados psicopatas são capazes de reter representações de si super-
grandiosas que por outro lado são isentas de valorização, estas determinam os seus
comportamentos externos de agressividade, ou seja, exteriorizam a agressividade como modo de
provarem a sua omnipotência e de afastarem o caos de fragmentação (a angústia), que poderão
sentir caso permitirem serem inundados pela percepção do vazio e pelo sentimento de vergonha
acerca de si próprios (Meloy, 1988).
Estes indivíduos caracterizam-se por um estilo cognitivo imaturo, em que predomina um
pensamento concreto, perspectivando os outros como objectos parciais, o que conduz à
incapacidade para sentir empatia ou de fazer perdurar os seus relacionamentos, que alternam
entre o aparente apego e o mais completo afastamento (Oliveira, 2004). Existe ainda uma
tendência para generalizar abusivamente a partir de diminutos acontecimentos concretos e pela
incapacidade em aprender com os erros cometidos. Neste sentido, o mundo e os objectos
imediatos são percebidos segundo um processo primitivo de recompensas e de punições, onde a
atenção é concentrada a curto prazo nos objectos considerados como recompensadores, isto
porque vêem no controlo sobre os objectos um meio eficaz para reforçar o seu “eu” grandioso e
que os impede de perceber as consequências, as ameaças ou danos que daí podem advir (Meloy,
1988).
Em suma, uma das respostas fisiológicas que distingue os psicopatas dos indivíduos
considerados anti-socias, consiste no sentimento de apego, que se encontra perturbado, ou seja,
existe na psicopatia uma incapacidade de apego (Meloy, 1988; Oliveira, 2004).
Hare e Schalling (1978) realizaram um estudo com psicopatas e indivíduos sem esta
perturbação, os psicopatas e os outros sujeitos foram expostos a uma determinada experiência
com uma contagem regressiva de 10 a 1, no final desta contagem sentiriam um pequeno choque
eléctrico em um dos seus dedos da mão. Durante a simulação, constataram que os indivíduos
considerados psicopatas demonstravam uma diminuição da taxa cardíaca, em vez de registarem
um aumento do índice cardíaco tal como se verificou nos outros sujeitos incluídos nesta
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experiência, tornando evidente que os psicopatas protegiam-se da dor desconectando os sinais de
medo que proviam do ambiente em que se encontravam inseridos.
Levenson (1990) define a psicopatia como o desejo pelo perigo e pela procura de
sensações ou de experiências de risco. Considera que esta perturbação não é originada por um
défice no funcionamento dos sistemas neuronais que medeiam os processos de ansiedade ou de
evitação, já que o comportamento anti-social intrínseco do indivíduo psicopata é baseado em
julgamentos que dão primazia aos seus próprios caprichos e desejos.
A clínica psiquiátrica actual conservou as seguintes particularidades na definição da
psicopatia (Braconnier, 2006): a psicopatia revela-se na facilidade de passagem ao acto, pela
impulsividade e agressividade assumidas pela regularidade de acções hetero e auto-agressivas
secundárias a frustrações, estas acções são inadequadas ao propósito individual ou em relação às
circunstâncias que poderão estar por detrás das mesmas, sendo a passagem ao acto a única
resposta ao conflito sentido, desvalorizando o diálogo ou qualquer tipo de elaboração psíquica;
existem evidências de dependência e de dificuldades de identificação; há procura intensiva de
novas experiências e de novas emoções devido à preponderância para sentir aborrecimento;
verificam-se também exigências megalómanas ou desmesuradas e uma vida afectiva muito pobre
em vínculos, que origina insatisfação, o mesmo se constata ao nível da vida sexual que
permanece pobre e insatisfeita, as relações são igualmente mantidas pela superficialidade e
impessoalidade, o que gera separações regulares com manifestações excessivas; existe uma
instabilidade em termos afectivos marcada pela hiperemotividade, pelas expulsões momentâneas
de angústia e de emoções, pela aparente falta de afecto e de interesse pelo outro e pela labilidade
emocional, caracterizada pelo aborrecimento e pelo mal-estar que depressa evoluem para a
exaltação ou excitação; está igualmente patente o sentir de uma insatisfação que não cessa,
podendo levar aos comportamentos perversos; e podem existir traços histéricos e paranóides.
Todavia, os conceitos actuais de personalidade anti-social e de psicopatia
frequentemente são confundidos, ambas as conceptualizações encontram-se centradas nos traços
de personalidade, como a manipulação, a ausência de remorsos e o egocentrismo. Os critérios de
diagnóstico de personalidade anti-social presentes na DSM-IV (2003) focam-se essencialmente
no comportamento, sendo a conduta criminosa uma condição essencial para o diagnóstico da
perturbação (Lilienfeld, 1998).
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A perturbação anti-social da personalidade é caracterizada segundo o DSM-IV (2003),
por um padrão global de desrespeito e violação dos direitos dos outros ocorrendo desde os 15
anos de idade, indicado por três ou mais dos seguintes critérios: existe incapacidade para se
conformar com as normas sociais no que diz respeito à legalidade dos seus comportamentos,
demonstra actos repetidos que são motivo de detenção; a evidência de falsidade, explícita nas
mentiras e na adopção de nomes falsos, assim como, tende a contrariar os outros para obter lucro
e prazer, tendo também como características predominantes a impulsividade ou a incapacidade
para planear antecipadamente; a irritabilidade e a agressividade presente nos conflitos constantes
e nas lutas físicas. Estes fenómenos explicam-se pela existência do desrespeito temerário em
relação à segurança de si próprio e dos outros, bem como, uma irresponsabilidade consistente
patente na incapacidade repetida para manter um emprego ou honrar com as obrigações
financeiras e pela incapacidade em sentir remorsos, dotada de uma racionalização e indiferença
após ter magoado ou ter roubado alguém.
Os 18 anos de idade constituem a idade mínima para que esta perturbação seja passível
de diagnóstico, apesar de existir evidência de uma perturbação ao nível do comportamento antes
dos 15 anos de idade. Este tipo de comportamento não deve ocorrer exclusivamente durante a
evolução da esquizofrenia ou de um episódio maníaco (DSM-IV, 2003).
Neste sentido, os critérios de diagnóstico do DSM-IV (2003) da perturbação anti-social
da personalidade não são eficazes na identificação dos indivíduos psicopatas que não possuem
condutas ou registos criminosos.
Millon (1998) critica a conceptualização de personalidade anti-social, referindo que os
critérios de diagnóstico primam pela identificação de comportamentos anti-sociais, delinquentes e
criminais descurando o papel dos traços de personalidade no diagnóstico da perturbação.
Weiner (1995) afirma igualmente que a conceptualização do DSM-IV (2003) no que
refere aos critérios de diagnóstico da perturbação anti-social possui restrições, isto porque reserva
o enfoque às condutas anti-sociais, e estas caracterizam a delinquência em termos associais, ou
seja, as condutas que vão contra as normas sociais, não considerando os traços afectivos e
interpessoais típicos da perturbação.
Segundo este autor a delinquência caracterológica é precursora da psicopatia, esta
desenvolve-se a partir do egocentrismo do indivíduo, que centrado em si próprio e nos seus
interesses faz uso das acções anti-sociais. O que demonstra o quão imperioso é considerar a
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presença dos traços de personalidade no diagnóstico da perturbação em questão, para que não se
cometam erros em termos de classificação.
A personalidade dissocial segundo o CID-10 (1992) aproxima-se da conceptualização do
DSM-IV (2003) acerca da personalidade anti-social, pois na classificação do CID-10 (1992) esta
é igualmente marcada pela indiferença ou pela insensibilidade total aos sentimentos dos outros e
pela ausência de capacidade de empatia, exibindo uma atitude muito acentuada e persistente de
irresponsabilidade e desrespeito pelas normas, regras e obrigações sociais, o que pode levar à
incapacidade para estabelecer relações duradouras, aliada à baixa tolerância da frustração, assim
como, à incapacidade para se sentir culpado e de aprender com a experiência ou com as sanções
que habitualmente são aplicadas devido à manifestação frequente de comportamentos delituosos
e de acções agressivas, perpetuadas e consumadas através do sentimento de uma irritabilidade,
que é persistente.
Segundo Kernberg (1984) o anti-social é uma pessoa centrada em si mesma, com um
self grandioso, com uma ambição desmesurada e uma atitude de superioridade, existindo também
um segundo rasgo ao nível da sua personalidade na relação de objecto: a inveja, a ideia de
exploração dos demais e a necessidade de desvalorizar outrem.
As personalidades narcisistas e anti-sociais possuem um self dividido em dois níveis
estruturais: num dos níveis estruturais o self real destas personalidades encontra-se isolado, vazio,
incapaz de qualquer tipo de aprendizagem, inferior e inseguro; e num outro nível está oculto por
uma máscara que se sobrepõe, esta mascara é grandiosa no caso do narcisista e destrutiva no
indivíduo com a perturbação anti-social da personalidade (DSM-IV, 2003).
Vários autores associam os traços de personalidade narcísicos à psicopatia, isto porque
os indivíduos considerados psicopatas recorrem a meios imorais e pouco pacíficos para
reforçarem a sua reputação, de forma a engrandecerem o seu próprio ego e serem detentores de
um estatuto invulnerável e indestrutível. E quando sentem que o seu estatuto encontra-se
ameaçado ou é desrespeitado respondem com grande agressividade, ameaçando quem se opõe ou
os ignora (DSM-IV, 2003).
Os indivíduos que integram os chamados grupos gangs ou outros grupos constituídos
por delinquentes e marginais, partilham este tipo de perfil psicológico, pois procuram
impressionar os outros através da exibição de actos violentos e as suas acções encontram-se
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direccionadas para a busca de liderança, oprimindo os outros com vista a atingirem tal fim (Born,
2005).
2.2. Psicopatia primária e secundária
Karpman (1961) distinguiu dois tipos de psicopatia, em que um denominou de
psicopatia idiopática ou primária e o outro tipo nomeou de sintomática ou secundária. A primeira
manifestava-se predominantemente por reacções psicopáticas, enquanto que a segunda incluía
também reacções similares às psicopáticas, no entanto estas correspondiam sobretudo a processos
neuróticos. O psicopata primário caracteriza-se pela sua frieza e crueldade, principalmente ao
nível do estabelecimento das relações interpessoais, por outro lado este mostra-se capaz de
simular emoções e vínculos afectivos de modo a obter ganhos próprios.
Cleckley (1988) verificou a partir das suas investigações a existência de algumas
diferenças importantes ao nível da agressividade dos psicopatas, pois um dos subgrupos formados
por este tipo de indivíduos manifestava hostilidade, enquadravam-se num perfil belicoso,
imprudente, e susceptível ao consumo de substâncias; enquanto que um segundo subgrupo
abrangia indivíduos marcadamente agradáveis e bem ajustados em termos psicológicos, todavia
demonstravam-se imprevisíveis ao nível do comportamento, sendo indignos da possível
confiança que os outros pudessem depositar nos mesmos; o terceiro subgrupo era constituído por
indivíduos que reuniam um perfil misto, ou seja, manifestavam episódios de grande irritabilidade
e agressividade, interpostos por momentos de cordialidade e de cooperativismo.
Hare (1984) estabeleceu três tipos de psicopatia: o psicopata primário que
corresponderia à descrição realizada por Cleckley (1988); o psicopata secundário ou o psicopata
neurótico, conhecido pela sua capacidade em estabelecer relações afectivas, conseguindo
igualmente sentir culpa ou remorsos pelos seus actos e ansiedade; e o psicopata dissocial que
possuía uma subcultura própria integrada e formada em meios marginais, era capaz também de
sentir culpa, de ser leal e de transmitir afecto, sendo a sua conduta dissocial devida a factores
ambientais.
Karpman (1961) e Poythress e Skem (2006) defendiam que o psicopata secundário era
semelhante ao psicopata primário ao nível do fenótipo, mas desigual ao nível constitucional.
Ambos os tipos de psicopata exibem indiferença e insensibilidade emotiva, não olhando os seus
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meios para atingir os seus próprios fins, pois utilizam e manipulam outrem para que os seus
objectivos se tornem atingíveis, sendo igualmente detentores de uma conduta anti-social. O
psicopata primário distingue-se do secundário pela sua organização emocional instintiva, já que o
psicopata secundário é capaz de expressar em algumas situações empatia, ansiedade, depressão e
o desejo de aceitação social, vivenciando com mais intensidade os conflitos neuróticos.
Para além disto, os psicopatas primários actuam de modo a obterem o máximo de
excitação possível, enquanto que o psicopata secundário actua segundo as suas emoções, em
concordância com o ódio sentido ou o desejo de vingança, sendo um perfil típico do conflito
neurótico, por outro lado demonstram-se capazes de realizar uma aprendizagem social, tornando-
se possível incluir uma abordagem psicoterapêutica no delineamento da intervenção para estes
casos de psicopatia secundária (Karpman, 1961; Poythress e Skem, 2006).
Segundo Zágon (1995) tanto a psicopatia primária como a secundária podem ser
condicionadas pela presença de um défice neurológico ao nível do sistema de inibição do
comportamento, que tem a finalidade de regular a reactividade a estímulos aversivos e encontra-
se conexado com as experiências de afecto negativo, como a ansiedade, podendo também existir
uma desregulação ao nível do sistema de activação comportamental, este por sua vez rege a
motivação apetitiva e encontra-se associado com a experiência de afecto positivo e com a
impulsividade. Por outras palavras, o psicopata primário sofre de uma incapacidade ao nível do
funcionamento do sistema de inibição comportamental, que lhe conserva um temperamento
“audaz”, enquanto que a psicopatia secundária está subjacente ao mau funcionamento do sistema
de activação comportamental, que se mostra hiperactivo nos indivíduos com este tipo de
perturbação.
Porter e Woodworth (2006) apoiam-se noutro tipo de perspectiva, declarando que o
conflito patente na psicopatia secundária é mais de natureza dissociativa do que neurótica, as suas
características de afecto superficial e as emoções pobres e um estilo de vida marcadamente
egocêntrico, centrado na obtenção dos seus próprios fins, correspondem de certo modo ao
aparente problema dissocitaivo.
Eysenck (1981, 1995) postulou que a psicopatia primária caracteriza-se pela ausência de
sentimentos, de culpabilidade, de empatia ou de sensibilidade, deste modo os indivíduos com esta
perturbação possuem mais probabilidades de cometimento de actos puramente delitivos e
agressivos.
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Enquanto que, os psicopatas considerados secundários possuem altos valores de
extroversão e de neuroticismo, estes reagem com grande intensidade aos estímulos externos e
tendem a permanecer pouco activados durante os períodos de descanso ou durante a sua vida
diária, são deste modo detentores de uma grande distractibilidade e são relativamente desinibidos.
No entanto ao cometerem actos prejudiciais a outrem sentem-se culpabilizados e são capazes de
experimentar remorsos (Eysenck, 1995, 2006; Eysenck e Eysenck, 1976).
Por outro lado, Blackburn (1971) afirma que o psicopata primário é mais extrovertido,
seguro de si mesmo, dominante, apresentando níveis baixos de ansiedade, possuindo uma
socialização adequada e uma ausência de insight, caracterizada pela sua rigidez mental, enquanto
que o psicopata secundário sofre de alterações ao nível emocional, vivenciando com mais
intensidade e frequência a ansiedade social, isto deve-se também a um narcisismo mais atenuado,
marcado por uma auto-estima pobre, sendo um indivíduo retraído, propenso ao sentimento de ira
e de irritação, mostrando-se igualmente mais submisso e isolado socialmente, estes sintomas são
característicos dos traços neuróticos ao nível da sua personalidade (Blackburn, 1998).
Poythress e Skeem (2006) consideram que o psicopata primário sofre de um défice
afectivo congénito, enquanto que o psicopata secundário apresenta uma alteração afectiva que foi
adquirida, logo os psicopatas secundários tornam-se mais propensos à adopção de
comportamentos transgressivos e à ideação suicida, existindo assim um maior risco de suicídio
nestes indivíduos, podendo este ser reforçado pela sua ansiedade e pela sua impulsividade.
Neste sentido, os psicopatas primários são caracterizados pela sua violência
instrumental, sendo a partir desta que pretendem alcançar um objectivo exterior, enquanto que o
comportamento dos psicopatas secundários é marcado por um tipo de violência reactiva regular
associada à sua predisposição para sentir ansiedade e ira (Poythress e Skem, 2006). Sendo estes
últimos encarados como defensivos, rancorosos e susceptíveis à frustração e à critica (Blackburn,
1971).
Segundo Levenson, Kiehl e Fitzpatrick (1995), a psicopatia primária é marcada por
atitudes egoístas e despreocupadas, o individuo com esta perturbação tende a possuir uma postura
manipulativa em relação aos outros, enquanto que a psicopatia secundária encontra-se associada a
um estilo de vida impulsivo, derrotista, bem como a um pobre controlo dos impulsos e na falha
para aprender com os erros do passado.
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Levenson (1995) criou a escala de avaliação dos índices de psicopatia (Levenson´s Self-
Report Psychopathy Scale) aplicável à população em geral, sendo um grande contributo para o
estudo da psicopatia, isto porque anteriormente a maioria das medidas que avaliavam esta
perturbação destinavam-se à população institucionalizada, enquanto que esta escala pode ser
aplicada à população em geral.
Patrick (2000) e Blair (2003) estabeleceram uma diferenciação entre a psicopatia e a
perturbação anti-social da personalidade, afirmando que não são duas perturbações semelhantes,
pois possuem factores causais diferentes: a psicopatia primária é descrita e caracterizada por
défices emocionais e afectivos e pelo sentimento constante de egoísmo, enquanto que a
personalidade anti-social equipara-se à psicopatia secundária, pois este tipo de psicopatia é
marcada por alterações ao nível do comportamento, concretamente pelas acções anti-socias, sem
existir deterioração das emoções.
Eysenck (1992, 1994) nos seus estudos acerca da personalidade de indivíduos
considerados criminosos, constatou que os sujeitos considerados extrovertidos tendem a
manifestar comportamentos delituosos, sendo que a base neurofisiológica da extroversão está
relacionada com o funcionamento do sistema reticular ascendente e o consequente nível de
activação (arousal) cortical é mais baixo nos extrovertidos comparativamente aos introvertidos.
Os extrovertidos mostram-se mais rápidos no desenvolvimento da inibição reactiva, que
posteriormente levam mais tempo a fazer desaparecer, e por este motivo possuem mais
dificuldades em aprender ou a condicionar em relação aos introvertidos.
Neste âmbito, também é adequado abordar a preponderância do traço de neuroticismo,
visto que uma pessoa com um neuroticismo alto tende a reagir excessivamente aos estímulos,
quer externamente caso seja extrovertido, quer internamente se for introvertido. A base
neurológica deste traço encontra-se centrada na actividade do sistema nervoso autónomo, que é
demarcado por reacções excessivas e ansiosas principalmente nas situações marcadas por
estimulações aversivas, interferindo sobretudo na capacidade de aprendizagem social (Eysenck,
2006). Seguindo esta lógica, para qualquer nível de extroversão quanto mais alto for o
neuroticismo, maior será o nível de comportamento delituoso esperado. O indivíduo que situa a
sua personalidade neste nível será menos socializado, isto porque possui dificuldades de
condicionamento, e uma labilidade emocional exagerada (Eysenck, 2006).
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No que concerne ao traço de abertura à experiência, Zuckerman (1991) revela que o
mesmo é assinalado por uma tendência em procurar sensações e experiências novas variadas,
complexas e intensas, as pessoas com valores altos neste traço possuem uma predisposição para
correr riscos com a finalidade de satisfazer os seus objectivos, estando esta particularidade
associada aos comportamentos de risco, como sejam o consumo de substâncias ou à condução
perigosa sob o efeito do álcool (Oliveira, 2007, 2009; Oliveira e Mestre, 2006).
Segundo Pinatel, citado por Borlandi, Mucchielli, Blanckaert e Sibeud (2001) existem
quatro traços particulares que constituem uma nova organização da personalidade e são idênticos
nas pessoas com comportamentos delituosos ou violentos: o egocentrismo, o indivíduo
egocêntrico percebe o mundo em função dos seus próprios interesses, logo existe uma certa
indiferença quanto às consequências dos seus actos em relação às suas vítimas e em relação aos
julgamentos de outrem, acerca dessas mesmas acções. Por outras palavras, uma pessoa com
egocentrismo e considerada delinquente sente frustração e passa para o acto sem se interrogar. A
labilidade constitui outro traço deste tipo de personalidades, sendo esta referente à dificuldade de
adaptação às diversas situações, em que o indivíduo não é capaz de medir as consequências das
suas acções e reage sem ter em consideração o passado nem o futuro, assim como não dá
importância às ameaças de sanções, não possuindo uma conduta estável ao longo do seu percurso
de vida, nem conseguindo gerir racionalmente as suas actividades ou relações. A agressividade
também é outra característica presente, sendo definida como uma tendência para agir e reagir
com violência, ou seja a pessoa recorre à força para atingir os seus fins e para fazer face às suas
frustrações sem se preocupar com as consequências futuras. E por último, a existência de
indiferença afectiva, marcada pela ausência de empatia (Oliveira, 2004), os indivíduos com esta
característica são insensíveis ao sofrimento alheio, e ao não sentirem compaixão podem provocar
sofrimento sem se deterem, não têm noção da dor que podem infligir, por conseguinte as suas
acções são marcadas pela frieza, mantendo as incapacidades de vinculação e as suas carências
afectivas.
2.3. - O papel da agressividade na psicopatia
As investigações empíricas realizadas no âmbito da psicopatia confirmam a existência
de uma forte relação entre psicopatia e o comportamento violento nos indivíduos do género
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masculino considerados delinquentes (Oliveira, 2004, 2007, 2008, 2009; Oliveira, Anciães e
Faria, 1999; Patrick, Zemplolich e Levenston, 1997). Os investigadores Williamson, Hare e
Wong (1987) enunciam que pontuações altas em psicopatia encontram-se associadas com a
prática frequente de crimes violentos e de acções agressivas, sobretudo no que concerne ao
comportamento dos psicopatas reclusos, que utilizam a agressividade como forma de controlarem
ou de liderarem os demais no mesmo meio prisional. Fora do contexto prisional os psicopatas
utilizam as estratégias de coacção ou de ameaças na prática dos crimes considerados mais graves,
assim como utilizam armas e a perseguição de desconhecidos com o intuito de obterem ganhos
pessoais.
Segundo Serin e Amos (1995), os psicopatas libertados por cumprirem a pena de prisão
que lhes foi atribuída cometem mais crimes violentos do que outrora, antes de serem punidos
judicialmente.
Buss (1961) e Dodge (1991) baseiam-se na teoria de Cleckley (1988) acerca do
psicopata verdadeiro para concluírem que a agressão deste indivíduo é de carácter mais
instrumental do que proactivo, ou seja, não é accionada como meio de defesa, sendo sim
motivada pelas circunstâncias. O psicopata verdadeiro é teorizado como um indivíduo predador,
que faz recurso regular da violência, sendo uma estratégia usual para intimidar e para atingir as
suas próprias metas.
A agressão passional ou reactiva é executada como produto das circunstâncias e insere-
se mais nas condutas ditas anti-sociais, ou seja é mais frequente nos indivíduos considerados anti-
socais reincidentes, já que estes preservam menos frieza em termos emocionais
comparativamente aos indivíduos considerados psicopatas verdadeiros (Buss, 1961 e Dodge,
1991).
As teorias de Cleckley (1988) estão em concordância com o postulado de Buss e Dogde
(1961), pois o primeiro conceptualiza a diferença entre os psicopatas e os delinquentes
reincidentes em termos de ressonância emocional, referindo que os psicopatas são incapazes de
sentir culpa ou remorsos, são egocêntricos ao ponto de não conseguirem amar ou transmitir
afectos, fazem um recurso diligente da insinceridade e da mentira patológica, bem como, do
encanto superficial para manipularem outrem e são indiferentes ao nível das suas relações
interpessoais.
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Neste sentido, a insensibilidade emocional é mais camuflada e preponderante nos
psicopatas delinquentes comparativamente à insensibilidade dos delinquentes reincidentes.
A psicopatia pode ser distinguida de outras formas de comportamento anti-social e
agressivo, que podem constituir características mais sintomáticas correlacionadas com as
perturbações de base emocional, como a delinquência neurótica, ou reflectem a socialização
dentro de uma subcultura que funciona em oposição à sociedade (Shine e Ferraz, 2000). Ao
contrário dos psicopatas, os delinquentes neuróticos e subculturais experimentam o sentimento de
culpa e de remorso em relação ao seu comportamento transgressivo e conseguem inclusive
estabelecer com os outros relações afectivas. A distinção clínica é efectuada pelos estudos que
utilizam o método electroencefalograma (EEG), que auxiliou na constatação de várias
irregularidades ao nível cerebral nos indivíduos psicopatas, sobretudo em relação à actividade
exagerada de ondas cerebrais lentas, que nos psicopatas fortemente impulsivos e agressivos
encontram-se localizadas nas regiões temporais do cérebro (Mata, 1999).
Em termos fisiológicos e hormonais, a hormona epinefrina assume uma grande
importância na explicação das condutas agressivas consideradas fora da normalidade. Esta
hormona controla o fluxo sanguíneo, melhora a força muscular e incrementa a intensidade e o
ritmo respiratório, preparando fisiologicamente uma pessoa para reagir com medo, com a fuga ou
com o ataque, dando origem a um estado apelidado de estimulação cortical. As pessoas com uma
estimulação cortical diminuta são habitualmente agressivas e quando se sentem ameaçadas,
sentem menos stress e ansiedade, respondendo de forma mais violenta e intensa. Por essa razão,
os indivíduos considerados criminosos e os psicopatas necessitam de experimentar estímulos
mais intensos para sentir mais excitação, comparativamente às pessoas ditas normais, e inclusive
demoram mais tempo para retornar aos níveis fisiológicos normais. A capacidade de
aprendizagem também se encontra associada a este handicap, pois os indivíduos com história
criminosa e com personalidade psicopática possuem mais dificuldades para apreender um
comportamento aceitável em termos sociais a partir de estímulos negativos ou até positivos
(Innes, 2004).
Richards (1998) também defende que uma base biológica pode explicar o facto do
psicopata possuir dificuldades de apego e de identificações malignas, pois isto pode ocorrer
segundo duas hipóteses: o psicopata possui um défice na capacidade de apego e de vinculação,
que pode advir do funcionamento de vias neurológicas inespecíficas ou por uma configuração
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politética de genes, assim como, pode possuir um defeito que resulta do excesso de impulsos
agressivos, ou da presença de um handicap nas funções inibitórias, ou podem coexistir ambas as
limitações. E os efeitos das experiências infantis precoces aliados com a predisposição biológica
referida anteriormente reúnem as condições necessárias para o desenvolvimento de psicopatia.
Os psicopatas secundários são considerados os indivíduos mais transgressivos em
termos sociais, e evidências científicas confirmam a existência de maiores anormalidades
neuronais que podem justificar o porquê destes indivíduos reagirem com mais fúria face a
ameaças físicas e verbais (Blackburn, 1998).
Millon (1998) possui uma perspectiva similar, afirmando que a agressividade nas
personalidades com estas particularidades diz respeito a um contra-ataque preventivo, que
provém de um julgamento antecipatório em relação a uma possível humilhação ou ameaça que
pode ser dirigida ao próprio. Em síntese, estas condutas estão intimamente relacionadas com as
crenças interpessoais, que por sua vez encontram-se associadas a uma rigidez cognitiva,
conduzindo às reacções de carácter hostil e aversivo como resposta a um comportamento de
outrem que foi mal interpretado ou avaliado pela pessoa que possui a perturbação.
As subtipologias de psicopatia realizadas por Millon (1998) demonstram características
que são comuns a todos os psicopatas, como o egocentrismo acentuado e a ausência de empatia: o
psicopata carente de princípios possui traços narcísicos e histéricos ao nível da sua personalidade,
ao nível comportamental as suas condutas são marcadas pela arrogância, existindo também uma
auto-desvalorização acentuada e uma indiferença face ao sofrimento dos outros. Levam um estilo
de vida fraudulento, exploram e manipulam os demais, são dotados de uma extrema
irresponsabilidade social, devido em parte às suas fantasias grandiosas, à sua capacidade para a
mentira, à sua incapacidade para se sentirem culpabilizados pelos seus actos e devido à sua
exímia capacidade para enganarem outrem através do seu encanto, e colocam-se no papel de
outra pessoa com grande facilidade, conseguindo marcar as pessoas através de uma amabilidade e
cortesia falsas; o psicopata malévolo é caracterizado pelas suas atitudes hostis e por um desejo
apurado de vingança, possui uma conduta constante de desafio face à sociedade, dando azo aos
seus impulsos de forma extremamente nociva. Possuem traços paranóides, permanecendo em
frequente desconfiança diante os comportamentos dos outros, antecipam sob falsas interpretações
possíveis traições ou punições, por exemplo a amabilidade dos outros serve de motivo para as
suas suspeitas, julgam que estão a iludi-lo e a enganá-lo, podendo praticar o assassínio e outras
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acções graves. Ao serem punidos pelos seus actos a sua adaptação à sociedade torna-se nula,
aumentado ainda mais o seu desejo de vingança e a sua agressividade, apesar de possuírem juízo
crítico e de conseguirem diferenciar o errado do certo. E com base nesta capacidade de
discernirem o certo e o errado tornam-se verdadeiros oportunistas e dissimulam as suas
verdadeiras atitudes ou condutas perante as figuras de autoridade, são igualmente selectivos na
escolha das suas vitímas, identificam à priori os indivíduos mais vulneráveis e aqueles que se
mostram mais submissos na concretização dos seus próprios desejos. Retiram sensações de
grande prazer ao provocarem a dor alheia; o psicopata dissimulado utiliza a sua versatilidade para
enganar, é igualmente dramático e teatral nas suas inter-relações, tem uma necessidade incessante
por atenção e estimulação, os seus comportamentos e atitudes são manifestados segundo o
principio da sedução, quando deseja atrair os outros ao seu plano e à satisfação dos seus
objectivos. Não sente igualmente culpabilização pelos seus actos, a culpa é sempre projectada em
terceiros, a sua falsidade e a sua capacidade de premeditação são engenhosas ao ponto de usufruir
de outrem para a concretização dos seus próprios fins. Quando são punidos ou os seus
“esquemas” são expostos, tendem a reagir de forma explosiva e agressiva; o psicopata ambicioso
age com vista somente aos seus interesses pessoais, julga-se privado de direitos e de regalias que
os outros têm, logo tenta compensar tal privação com recurso a acções como o roubo ou a
violação dos direitos dos outros, todavia não se sente preenchido apesar dos seus esforços ilícitos,
experimentando permanentemente o sentimento de inveja e de vazio, aprecia também a
ostentação do seu poder ou das suas propriedades luxuosas; e o psicopata explosivo faz uso da
sua hostilidade de forma imprevisível, age sem controlo sob a sua própria agressividade, sendo
agressivo sem motivo aparente. É hipersensível aos sentimentos de traição, julga que está a ser
enganado pelos outros em todas as circunstâncias, explodindo ao menor indício (Millon, 1998)
O ser humano pode evidenciar agressividade afectiva e agressividade predatória
(Oliveira, 2004). Segundo Oliveira (2004) a agressividade afectiva é executada em estados
emocionais intensos, sendo caracterizada como uma reacção face a um estímulo considerado
perigoso e que ameaça a segurança do indivíduo.
Oliveira (2004) revela também que os indivíduos considerados psicopatas possuem um
outro tipo de agressividade especifica, marcada por fantasias de ensaio, e caracterizada como
predatória. Estes indivíduos que manifestam agressividade predatória planeiam o acto que irão à
posteriori executar, tal agressividade pode advir de uma questão filogenética mal resolvida e está
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patente na psicopatia grave, sendo realizada a partir da fantasia de ensaio, esta fantasia existe na
realidade e realiza-se como se um projecto se tratasse, permanecendo uma fantasia repetitiva,
ritualista, mas detentora de mais detalhes, sendo gradualmente enriquecida até à execução da
acção ansiada.
Em suma, na agressividade predatória não existe activação emocional e o objectivo do
indivíduo que a manifesta reduz-se à obtenção de um fim previamente determinado, para tal
executa acções repetitivas de perseguição e de agressão. Adopta este tipo de comportamento
como uma estratégia para engrandecer o seu “self”, porque teme o sentimento de inferioridade e
não pretende de modo algum tornar-se vítima dos outros, fomentando desta forma as suas
fantasias de omnipotência.
Focando agora nos factores de risco inerentes à agressividade e ao desenvolvimento de
psicopatia verificamos que um factor preditivo da agressividade futura de uma criança pode
consistir no nível de agressividade do seu progenitor quando tinha a mesma idade do seu filho.
Por outro lado, a separação dos pais concebida durante a infância da criança pode
promover a conduta anti-social e a delinquência.
Investigações realizadas neste âmbito confirmam que as relações entre ambos os
progenitores marcadas pelos conflitos pessoais e pelas agressões, reproduzem-se igualmente na
dinâmica relacional com os filhos, influenciando negativamente o percurso de vida destes,
conduzindo-os às práticas anti-sociais ou delinquenciais ou aos comportamentos disruptivos.
Assim como, o facto de existir um filho mais velho considerado anti-social na família, a
probabilidade dos outros irmãos adoptarem também uma conduta delinquente é maior (Goleman,
1995).
Os traumas de infância conhecidos como “desordem dissociativa de identidade” são
encarados como uma estratégia de sobrevivência que a criança implementa para “fugir” aos
abusos físicos, sexuais e emocionais que sofre no meio familiar ou social onde esta se encontra
inserida. Durante esta dissociação a criança não é capaz de associar uma dada informação como
habitualmente fazemos no nosso quotidiano, o que possibilita um escape mental limitado das
experiências de tortura, de dor e das situações angustiantes que vive, disto pode resultar um lapso
de memória, afectando o sentido da história pessoal da mesma criança e prejudicando gravemente
a sua própria identidade, surgindo uma “fragmentação”, que poderá prolongar-se até à idade
adulta (Innes, 2004).
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Em síntese, a propensão para o crime e para o desenvolvimento de psicopatia pode ser
desencadeado pelos traumas infantis que são originados por uma família disfuncional, que utiliza
a agressividade na resolução de quezílias ou de outros aspectos e a criança ao conviver só com
este tipo de ambiente, desenvolve mais cedo ou mais tarde a crença de que a agressividade é a
forma ideal para lidar com as outras pessoas (Innes, 2004).
Athens (1992) é um criminologista americano que realizou vários estudos com
criminosos violentos em regime de reclusão, verificou a partir das suas investigações um padrão
de desenvolvimento social distintivo na maioria dos indivíduos considerados violentos e
agressivos. Este processo possui quatro etapas e dá-se num meio familiar que se demonstra
violento e pouco estimulativo, marcado por experiências angustiantes ocorridas durante a
infância destes indivíduos com história criminal. A primeira fase é denominada como
“brutalização”, isto porque a criança é forçada a submeter-se a uma figura de autoridade
agressiva que implementa comportamentos opressores, ameaças de agressão ou atitudes de
coacção. O que leva a criança a interiorizar através deste modelo educativo desadequado que a
agressão pode ser utilizada como uma estratégia para resolver qualquer tipo de problema que
surgirá futuramente. A segunda fase denominada por “beligerância”, surge no momento em que a
criança decide evitar futuras subjugações violentas e agressivas recorrendo à própria
agressividade. A terceira fase conhecida como “desempenho violento”, é marcada pela conquista
do respeito por parte da criança através do mesmo método coactivo e agressivo de que fora
vítima, ou seja os outros passam a respeitá-la porque a mesma é autora de actos violentos que
causam temor ou receio da sua própria perigosidade. A última e quarta fase é designada por
“virulência”, a criança torna-se orgulhosa quando confrontada com o seu êxito, determinando e
acreditando veemente que a violência e a agressão constituem o único meio fiável para lidar com
as pessoas e passa a socializar e a estabelecer inter-relações com as pessoas que partilham os
mesmos princípios que ela
Neste sentido, muitos são os factores de risco subjacentes ao início de uma carreira
delinquente, como o facto de ter nascido num meio hostil, favorável à criminalidade, onde esta
constitui um estilo de sobrevivência; a família pode não possuir também as condições necessárias
para proteger e cuidar da criança devidamente, que muitas vezes sofre de maus-tratos ou com o
desinteresse demonstrado pelos pais em relação à mesma; ou pelo facto de a criança pertencer a
uma classe social pobre (Goleman, 1995).
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Segundo Hare (1999) o comportamento delinquente tem origem na infância, existindo
uma continuidade conductual na infância, na adolescência e na adultez, sendo a psicopatia ou os
traços psicopáticos identificáveis numa fase precoce do indivíduo. Por outras palavras, os
psicopatas podem iniciar actividades anti-socias numa idade precoce, continuando com estes
actos durante uma grande parte das suas vidas, apesar de aos 35 anos ou a partir dos 40 anos os
índices de criminalidade tendem a diminuir, tal não significa que diminua o seu grau de
agressividade, pois este tende a manter-se ao longo dos anos (Hare, 2004).
A diferença entre a psicopatia e a perturbação anti-social da personalidade reside no
facto da primeira perturbação constituir num conjunto de traços de personalidade e de
comportamentos desviantes em termos sociais, enquanto que a perturbação anti-social refere-se
principalmente a um conjunto de condutas delitivas e anti-socias, onde são incluídos nesta
categoria psiquiátrica vários delinquentes que não são psicopatas. Todavia a relação entre a
psicopatia e a perturbação da personalidade anti-social é assimétrica, isto porque 90% dos
psicopatas delinquentes cumprem os critérios de diagnóstico da perturbação anti-social da
personalidade, mas só 25% destes poderiam ser diagnosticados com psicopatia (Hare, 2003).
Megargee, citado por Rossi e Sloore (2008) ao estudar homicidas definiu dois tipos de
personalidade: as sobre-controladas e as sub-controladas. As primeiras envolvem as tendências
agressivas muito fortes, que no entanto são contidas em consonância com as normas internas, que
são muito rígidas. Por outras palavras, as pessoas com este tipo de perfil em termos de
personalidade são capazes de manifestarem um comportamento conformista durante vários anos,
todavia se existir a inversão do equilíbrio entre os factores inibidores e os estimulantes,
provavelmente assiste-se à explosão violenta dos impulsos reprimidos, deste modo ao vencerem
as barreiras do controlo interno podem levar a cabo acções anti-sociais mais violentas, sendo
passível o cometimento do homicídio. Contrariamente, as pessoas detentoras de uma
personalidade sub-controlada não possuem mecanismos que possam inibir a sua própria
agressividade, no entanto mesmo estando mais propensas ao envolvimento em eventos agressivos
não significa que exibam mais acções violentas, ou seja, os actos violentos como o homicídio
ocorrem mais por acaso ou devido às circunstâncias. Neste tipo de personalidade não se evidencia
uma acumulação de tensões associada a uma premeditação do acto, como se observa na
personalidade sobre-controlada.
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Slabin e Guerra (1988) realizaram um estudo com jovens delinquentes condenados
devido à prática de crimes graves e com jovens estudantes do ensino secundário com altos níveis
de agressividade, verificaram que ambos os grupos partilhavam uma característica em comum,
pois quando possuem problemas ou um mau relacionamento com outrem adoptam no momento
uma postura de oposição, considerando essa pessoa como uma ameaça, apesar de nada
conhecerem sobre a mesma ou de adoptarem uma estratégia mais adequada na resolução das
divergências. Não reflectem nas possíveis consequências dos seus actos agressivos, interiorizam
que o facto de eles próprios serem violentos é normal e se deve a alguém que os irritou, por esse
motivo agridem e lutam, pois caso não o fizerem de acordo com o seu raciocínio são
considerados cobardes pelos outros, e que à partida as suas vítimas não sofrem tanto como os
outros julgam.
Os comportamentos para-delinquenciais são os comportamentos que “ mostram
dificuldade séria de adaptação a uma vida social normal, pela sua situação, pelo seu
comportamento ou pelas tendências que haja revelado” e “se entreguem à mendicidade,
vadiagem, prostituição, libertinagem, abuso de bebidas alcoólicas ou uso ilícito de
estupefacientes” (OTM, 1978).
Um estudo nacional levado a cabo por Reis (2007) acerca da evolução da delinquência,
desde a idade pré-escolar ate à adolescência, constatou que os primeiros comportamentos para-
delinquenciais se desenvolvem por volta dos 9 ou 10 anos de idade. Aos 11 e 12 anos de idade as
crianças com estes precedentes começavam a envolverem-se com grupos de pares delinquentes,
afastando-se progressivamente da escola, e ao adoptarem uma postura desregrada eram
facilmente impulsionadas para a execução de actos transgressivos, motivadas também pelos
colegas ou parceiros de grupos, que proporcionavam a atribuição de um estatuto elevado dentro
dessa pequena associação, levando ao aumento da sua auto-estima e ao sentimento de lealdade
para com esse grupo.
Aos 13 anos de idade os indivíduos iniciam-se no consumo de drogas, como o haxixe e o
pólen, assim como, no consumo de álcool, o que aumenta a impulsividade dos mesmos, e ao
mesmo tempo possibilita a prática de furtos, de roubos e a exposição ao perigo (Reis, 2007).
Verificou-se também que os jovens que adoptam este tipo de conduta numa idade mais
avançada tornam-se mais propensos à prática de crimes violentos, mais especificamente
relacionados com a ofensa à integridade física, à condução de veículos sem carta de condução,
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aos crimes de extorsão e de profanação de cadáveres e ao vandalismo, este tipo de
comportamentos são quase sempre accionados em grupo (Reis, 2007).
A escola revela-se um local vulnerável à concentração dos furtos e dos roubos,
sobretudo de telemóveis, de peças de vestuário de marca, de dinheiro e de bicicletas. E a grande
generalidade dos crimes é cometido com recurso à hostilidade, às ameaças e à agressividade
física, em que os roubos e furtos são executados de acordo com algumas metas definidas à priori:
podem servir para a aquisição de dinheiro com a venda dos materiais roubados, tornando possível
a compra de outros produtos ou objectos que legalmente não seriam obtidos; podem ser
praticados por diversão, pela procura de excitação a partir do desrespeito das normas; ou podem
servir como forma para ocupar os seus tempos livres (Reis, 2007). Tornando explicito o facto do
sistema escolar poder constituir o berço das futuras carreiras criminosas ou dos percursos
implícitos na psicopatia.
Este tipo de condutas pode ser seguido por um indivíduo que no passado fora vítima de
agressões por parte dos colegas, em que este passa assumir mais tarde o papel de agressor, como
uma necessidade voraz de transferir a angústia interior nos seus comportamentos ou acções, já
que muitos destes indivíduos foram vítimas de mau tratos, de negligência ou de abandono por
parte dos pais, assim sendo à posteriori elaboram uma ideia baseada no negativismo e na sua
revolta em relação aos outros, isto vai debilitar os seus vínculos pessoais e sociais, bem como,
condicionará negativamente o estabelecimento de futuras relações inter-pessoais. Estes factores
induzem à formação de um sentimento de não pertença à sociedade ou à escola, que os leva a
enveredar pela delinquência e futuramente poderão cair nas malhas do crime violento,
possibilitando o desenvolvimento de perturbações ao nível da personalidade, como a psicopatia
(Reis, 2007).
Uma das teorias que explica a problemática da agressividade consiste na teoria da
aprendizagem social, que refere que quando um jovem ou adolescente manifesta uma conduta
agressiva, está a reagir perante um conflito que pode resultar dos seguintes factores: problemas ao
nível das suas relações sociais, ao nível do relacionamento com pessoas mais adultas, devido ao
desrespeito pelas normas impostas pelos indivíduos mais velhos, que por sua vez punem os seus
comportamentos desrespeitosos, ou em relação aos indivíduos pertencentes à mesma faixa etária
do jovem ou adolescente, que despoletam quezílias de teor agressivo (Marsellach, 2002).
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O jovem ou adolescente aprende assim a comportar-se de forma agressiva através da
imitação do comportamento dos pais, de outros indivíduos adultos ou através dos seus colegas e
amigos, a este processo dá-se o nome de modelagem e ocorre quando o sujeito torna-se vítima
dos seus próprios pais que seguem padrões educativos com recurso à agressão física ou verbal, e
quando o mesmo encontra-se rodeado de modelos agressivos, adquirindo um reportório
comportamental centralizado na tendência para responder e reagir de forma agressiva face à
apresentação de eventuais conflitos (Marsellach, 2002).
Segundo Palomero e Fernández (2001) as estruturas sociais possuem uma grande ênfase
na problemática que a agressividade constitui actualmente, isto porque, geram três tipos de
agressividade: a agressividade indirecta, cultural e estrutural. A cultura ocidental apresenta a
rivalidade, a competência, as quezílias, o confronto e a violência como variáveis desejáveis e
inevitáveis e os processos de socialização e de educação continuam a dar formação aos
adolescentes e aos jovens de acordo com este modelo agressivo.
4. Método
4.1. Objectivo e hipóteses
O objectivo deste estudo prende-se com a análise da associação entre traços de
personalidade, traços psicopáticos e atributos agressivos. Propõe-se a abordar a associação das
variáveis já mencionadas no sentido de colmatar a falta de intervenções no âmbito da
investigação da carreira criminosa e da personalidade ou das condutas dos psicopatas jovens,
demonstrando o quão necessário é a identificação precoce no desenvolvimento dos traços
psicopáticos. Sendo igualmente imperioso conhecer de que forma o processo de desenvolvimento
do adolescente pode torná-lo vulnerável, existindo uma maior exposição a situações de risco que
envolvem sobretudo a agressividade, os comportamentos anti-sociais e a utilização de substâncias
ou de estupefacientes.
Neste sentido foram formuladas as seguintes hipóteses:
H1 - O traço de neuroticismo estará directamente relacionado com os atributos
agressivos. Segundo Eysenck (1981), o sujeito com uma conduta anti-social geralmente possui
traços de neuroticismo ao nível da sua personalidade. Tranah, Harnett e Yule (1998) referem
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igualmente que os indivíduos com uma emocionalidade negativa, com uma baixa auto-estima,
assim como, com condutas agressivas, desadaptativas em termos sociais possuem traços
neuróticos. Benet-Martinez (1998) revela que o traço de personalidade neuroticismo diz respeito
à estabilidade emocional com uma afectividade negativa, estando presente uma predisposição
para sentir ansiedade, tristeza, irritabilidade, assim como para manifestar comportamentos
ofensivos ao nível da agressividade física, da hostilidade e da irritabilidade.
H2 - A psicopatia secundária estará associada de forma positiva ao traço de abertura à
experiência e irá associar-se de forma negativa com o traço de amabilidade. A psicopatia
secundária encontra-se relacionada com um perfil psicológico derrotista, com incapacidades ao
nível do controlo dos impulsos e com um processo de aprendizagem limitado face aos erros
cometidos, assim como, a um estilo de vida impulsivo, centralizado na procura de novas
experiências (Levenson, Kiehl e Fitzpatrick, 1995). O psicopata secundário é um indivíduo que
prima pelas condutas delinquentes, sendo frequente experienciar sentimentos de ira e de
irritabilidade, utiliza em várias circunstancias uma violência reactiva, devido à sua incapacidade
para tolerar criticas e para lidar com a frustração, o que possibilita a prática de acções e a
manifestação de comportamentos aversivos ou rancorosos (Blackburn, 1998; Poythress e Skem,
2006).
H3 - A expressão da agressividade física e verbal será maior na psicopatia primária,
enquanto que a manifestação de irritabilidade e hostilidade será mais marcada na psicopatia
secundária. O psicopata primário possui um perfil psicológico típico de um agressor ou
manipulador, existe nele a inaptidão para sentir culpabilidade e empatia, comete mais facilmente
actos de teor agressivo, reagindo a partir de uma violência instrumental (Eysenck, 1981, 1995;
Blackburn, 1971; Poythress e Skeem, 2006). Enquanto que, o psicopata secundário possui traços
neuróticos, estando susceptível à sensação de ansiedade e de culpabilidade, ou seja, sente afectos
negativos com grande intensidade e quando provoca danos prejudicais a terceiros pode sentir
remorsos, sendo passível a realização de aprendizagem em termos sociais e esta necessidade de
se sentir integrado e de ser aceite socialmente inibe com mais eficácia as suas respostas
agressivas. No entanto, devido ao seu fraco controlo sob os seus prórios impulsos, as suas
reacções a partir de actos antisociais são acentuadas, descontrolando-se facilmente, o que lhe
confere um estatuto habitualmente deliquencial (Karpman, 1961; Eysenck, 1976, 1995, 2006;
Poythress e Skeem, 2006).
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H4 - Existirá uma correlação positiva e significativa entre psicopatia secundária e o traço
de neuroticismo e uma correlação negativa entre psicopatia secundária e o traço de
conscienciosidade. Os psicopatas secundários possuem traços de neuroticismo ao nível das suas
personalidades, adoptam com mais frequência comportamentos transgressivos, assim como,
encontram-se mais vulneráveis à execução de ideações suicidas, devido à sua predisposição para
sentir ansiedade e para agir com impulsividade (Eysenck, 1976, 1995, 2006; Poythress e Skeem,
2006; Blackburn, 1998).
4.2. Descrição da amostra
Na tabela 3 apresentam-se as características demográficas da amostra utilizada para esta
investigação: a amostra é constituída por 123 estudantes do ensino básico e secundário com
idades compreendidas entre os 16 e os 22 anos (M= 17,82; DP= 1, 713).
No que respeita ao género, 59 dos estudantes (48 %) são do género masculino e 64
(52%) do género feminino.
Em termos de etnia, 57 estudantes (46.3%) são de etnia branca ou caucasiana e 66
(53.7%) são de etnia negra.
Em relação ao estado civil, 117 elementos da amostra (95.1%) revela ser solteiro, 4
deles (3.3%) refere ser casado e 1 dos alunos ( 8%) afirma viver em união de facto.
Na sua grande generalidade, os estudantes frequentam o 10º ano escolar (M= 10,32;
DP= 1,437).
Treze dos alunos inquiridos, ou seja, 10.6% da amostra revelam possuir problemas com
a justiça, enquanto que 110 dos estudantes (89.4 %) afirmam não possuir problemas com a
justiça.
Relativamente à toma de medicação, 20 dos estudantes (16,3%) afirmam utilizar
medicamentos, enquanto que 103 dos estudantes (83.7%) referem não utilizar qualquer tipo de
medicamento.
No que concerne ao recurso a substâncias psicotrópicas e estupefacientes, oito alunos
(6.5%) afirmam ter experimentado esse tipo de substâncias, enquanto que 114 dos alunos
(92,7%) negam a utilização das mesmas.
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Tabela 3. Variáveis sócio-demográficas
4.3. Instrumentos
4.3.1. Questionário de informação demográfica, com as seguintes variáveis: idade, sexo,
etnia, estado civil, habilitações literárias, ano escolar que frequenta, se já teve problemas com a
justiça, se toma medicação e se já tomou ou toma algum tipo de estupefacientes ou de substâncias
psicotrópicas.
4.3.2. Desejabilidade Social. Avaliada através da Paulhus Deception Scale (PDS) de
Paulhus e Delroy (1998). Este questionário possui 40 itens que avaliam a tendência para dar
respostas desejáveis em termos sociais, é constituído por duas escalas: a sub-escala de auto-
apresentação favorável (AF) constituída pelos itens de 1 ao 20, avalia a tendência de dar auto-
descrições honestas mas enfatizadas, representando o enviesamento inconsciente favorável
N % Mínimo Máximo M DP Idade 16 22 17.82 1.713 Género
Masculino 59 48.0 Feminino 64 52.0
Etnia
Branca/ Caucasiana 57 46.3 Negra 66 53.7
Outra 0 0 Estado civil
Solteiro 117 95.1 Casado 4 3.3 União de facto 1 .8 Divorciado 0
Viúvo 0 Habilitações literárias 9.58 1.570 Ano escolar 10.32 1.437 Problemas com a Justiça
Sim 13 10.6 Não 110 89.4
Medicação Sim 20 16.3 Não 103 83.7 Substâncias
Sim 8 6.5 Não 114 92.7
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intimamente relacionado com o narcisismo (Paulhus e John, 1998), como por exemplo: “Tenho
muita confiança nos meus julgamentos” (item17) e a sub-escala de gestão da imagem (GI) que
envolve os itens 21 ao 40, esta analisa a tendência para fornecer auto-descrições enfatizadas de
forma exagerada à audiência, centrando-se na avaliação das categorias de desejabilidade social,
mais conhecidas por fingimento ou mentira, nesta sub-escala os indivíduos são solicitados a
classificar até que ponto concordam com os vários comportamentos desejáveis socialmente, por
exemplo: “Obedeço sempre à lei, mesmo que seja improvável ser apanhado” (item 26) ou com os
comportamentos indesejáveis (“Já meti baixa por doença no emprego ou na escola, apesar de não
estar realmente doente.”, item 37). O formato de resposta é dado numa escala de 5 pontos, em que
o 1 corresponde a “nada verdade” e o 5 corresponde a “bastante verdade”.
Ao nível das qualidades psicométricas, o PDS obteve um Alfa de Cronbach entre .83 e
.86, sendo detentor de uma consistência interna satisfatória em relação à população escolar (.83;
N=289), assim como em relação a outras amostras, como a população geral (.85), os novos
reclusos (.86; N= 603) e os recrutas militares (.85; N= 124).
No presente trabalho encontramos os valores α de Cronbach seguintes: .80 para a escala
de gestão da imagem, .76 para a escala de auto-apresentação favorável .78 para a escala total.
No que respeita à validade convergente, a sub-escala AF correlaciona-se
significativamente com o optimismo medido pelo questionário LOT de Scheier e Carver (1985),
(r = .41); com o inventário de mecanismos de defesa de Ihilevich e Gleser´s (1986), (r =. 34); e
com a reavaliação positiva (r = .44), com o distanciar (r = .33), e com o escape de evasão (r =
.39), operacionalizados pela escala de formas de coping de Lazarus e Folkman, (1984). Enquanto
que a sub-escala GI associa-se de forma significativa com as escalas que avaliam a mentira,
presentes no questionário Eysenck`s EPI e no MMPI e com as escalas de role-playing, existente
por exemplo no questionário Wiggins Sd. Ao nível das intercorrelações, a correlação entre a
escala AF e GI utilizando uma amostra de estudantes universitários é baixa (. 20; N= 180); o
mesmo se sucede no estudo com 320 estudantes universitários, as duas sub-escalas
correlacionam-se entre si de forma igualmente baixa (. 23).
4.3.3. Personalidade. Avaliada através do questionário Big Five Inventory (BFI) de
Benet-Martínez e John (1998). O questionário é constituído por 44 itens que se distribuem por
cinco dimensões: a extroversão constituída por 8 itens (1, 6, 11, 16, 21, 26, 31 e 36); a
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amabilidade constituída por 9 itens (2, 7, 12, 17, 22, 27, 32, 37 e 42); a conscienciosidade
constituída por 9 itens (3, 8, 13, 18, 23, 28, 33, 38 e 43); o neuroticismo constituído por 8 itens
(4, 9, 14, 19, 24, 29, 34 e 39), e a abertura à experiência constituída por 10 itens (5, 10, 15, 20,
25, 30, 35, 40, 41 e 44). O formato de resposta é de tipo Likert de 5 pontos, que varia de 1
(discordo fortemente) a 5 (concordo fortemente). Nas dimensões de extroversão e de
neuroticismo a amplitude dos resultados varia de 8 a 40; para as dimensões de amabilidade e de
conscienciosidade os valores variam entre 9 e 45, e para a dimensão de abertura à experiência o
resultado varia entre 10 e 50. Os resultados mais elevados demonstram que uma dada dimensão
da personalidade se acentua comparativamente às outras.
Ao nível da consistência interna, o questionário ostenta um coeficiente Alfa de
Cronbach entre .75 e .90 na variação das escalas do BFI, com uma média de .80.
Em relação à adaptação do questionário BFI para a população dos Estados Unidos,
obtiveram-se os seguintes coeficientes do Alfa de Cronbach para as cinco dimensões do BFI:
extroversão (. 88; N= 711); amabilidade (. 79; N= 711); conscienciosidade (. 82; N= 711);
neuroticismo (. 84; N=711); e abertura à experiência (. 81; N=711); com uma média de .83
(Benet-Martínez e John, 1998).
No que concerne à adaptação do questionário BFI para a população Espanhola, foram
calculados os seguintes coeficientes para as cinco dimensões: extroversão (. 85; N= 894);
amabilidade (. 66; N= 894); conscienciosidade (. 77; N= 894); neuroticismo (. 80; N=894); e
abertura à experiência (. 79; N= 894); com uma média de.78 (Benet-Martínez e John, 1998). A
confiança de teste-reteste realizada num intervalo de três meses apresenta um coeficiente entre
.80 e .90, com uma média de.85.
No presente trabalho encontramos os valores α de Cronbach seguintes: .73 para a escala
de extroversão, .71 para a escala de amabilidade, .72 para a escala de conscienciosidade, .70 para
a escala de neuroticismo e .70 para a escala de abertura à experiência.
Relativamente à validade, as intercorrelações entre as cinco escalas tendem a ser baixas,
a maioria está abaixo dos .20 e só duas ultrapassam os .30. Ao nível da validade convergente as
escalas do BFI têm uma correlação mais elevada com as escalas de McCrae e Costa (1997) e de
Goldberg (1993), (média r =.75 e .80, respectivamente) comparativamente à correlação entre as
escalas do BFI (média r = .65).
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4.3.4. Psicopatia. Operacionalizada através do questionário Levenson`s Self- Report
Psychopathy Scale (LSRP; Levenson, Kiehl e Fitzpatrick, 1995).
Esta medida consiste num questionário de auto-avaliação para adultos de aplicação
individual com 26 itens no total, que pretendem avaliar os traços de comportamento e da
personalidade geralmente associados à psicopatia na literatura (Levenson, Kiehl e Fitzpatrick,
1995). A medida é constituída por duas sub-escalas, em que uma é relativa à psicopatia primária
(16 itens: 1- 16) e a outra à psicopatia secundária (10 itens: 17-26). O formato de resposta é dado
numa escala de tipo Likert, de 4 pontos, em que 1 corresponde a “nunca”, 2 a “poucas vezes”, 3 a
“algumas vezes” e 4 a “quase sempre”. Os itens da sub-escala de psicopatia primária foram
elaborados para aceder às atitudes egoístas, despreocupadas e a uma postura manipulativa em
relação aos outros, por exemplo “O sucesso é baseado na sobrevivência dos mais aptos; os
vencidos não interessam” (item 1) ou “As pessoas que são suficientemente estúpidas para serem
enganadas, geralmente merecem-no” (item 7). Enquanto que os itens da sub-escala de psicopatia
secundária foram desenvolvidos para aceder a um estilo de vida impulsivo, derrotista, bem como
a um pobre controlo sob os próprios impulsos e na falha para aprender com os erros anteriores,
tais como “Não planeio nada com muita antecedência” (item 20) ou “Quando fico frustrado,
alivio a tensão através da irritação” (item 25).
Relativamente às qualidades psicométricas, o questionário LSRP ostenta um Alfa de
Cronbach de .82 para a sub-escala psicopatia primária e de .63 para a sub-escala de psicopatia
secundária, manifestando desta forma consistência interna. É de referir que este instrumento tem
sido utilizado em estudos portugueses (Oliveira, 2007, 2009; Oliveira, Faria e Fazendeiro, 2003).
No presente trabalho encontramos os valores α de Cronbach seguintes: .76 para a escala
de psicopatia primária e .64 para a escala de psicopatia secundária.
Em relação à validade convergente, a sub-escala de psicopatia primária correlacionou-se
de forma significativa com a escala “acção anti-social”, igualmente elaborada por estes
investigadores (r = .44; p≤.001), com a sub-escala “evitamento ao mal” da medida
correspondente ao questionário Multimensional Personality Questionnaire (MPQ) (r = -. 17;
p≤.001), e com as sub-escalas “susceptibilidade ao aborrecimento” e “desinibição” relativa à
medida pertencente ao questionário Sensation Seeking Scale (r = . 34 e r =. 39; p≤.001; N=
487). A sub-escala psicopatia secundária associou-se de forma significativa com a escala “acção
anti-social” referida anteriormente (r =. 29; p≤.001), com a sub-escala “reacção ao stress” do
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MPQ (r =. 41), e com a sub-escala “ susceptibilidade ao aborrecimento” relativa ao questionário
Sensation Seeking Scale (r =. 27; N=487). As duas sub-escalas de psicopatia presentes na medida
LSRP associaram-se de forma significativa (r =. 40; p≤.001; N= 487).
4.3.5. Agressividade. Avaliada através do Aggression Questionnaire (AQ) de Buss e
Perry (1992).
Este questionário é constituído por 29 itens que se encontram distribuídos por quatro
factores: agressão física (9 itens), agressão verbal (5 itens), irritabilidade (7 itens), e hostilidade
(8 itens). Cada item consiste num estado em que os participantes se enquadram, classificando
numa escala de Likert de 5 pontos: desde “nada”, “quase nada”, “por vezes”, “bastante” a
“muito”.
No que concerne às qualidades psicométricas, as sub-escalas do questionário AQ exibem
consistência interna, os Alfas de Cronbach calculados para as quatro sub-escalas foram: agressão
física (. 75; N= 69); agressão verbal (. 51; N= 69); irritabilidade (. 67; N=69); e hostilidade (. 69;
N= 69). O factor geral apresentou um Alfa de .86. Num estudo realizado por Léon, Reys, Vila,
Pérez, Robles e Ramos (2002) utilizou-se uma amostra constituída por 345 estudantes de
nacionalidade Espanhola, onde a consistência interna das quatro sub-escalas do questionário AQ
calculada a partir do Alfa de Cronbach assumiu os seguintes valores: agressão verbal (. 57);
agressão física (. 63); irritabilidade (. 77); e hostilidade (. 67). O factor geral corresponde a um
Alfa de .82. No que respeita ao cálculo da fidelidade teste-reteste, estes mesmos investigadores
recorreram a uma amostra de 154 estudantes também de nacionalidade Espanhola, onde
constataram que esta foi relativamente estável, tendo sido analisada num intervalo de 5 semanas,
obtendo os seguintes coeficientes para as sub-escalas do AQ: agressão verbal (. 72); agressão
física (. 81); irritabilidade (. 88); e hostilidade (. 57); com um valor geral de .81.
No presente trabalho encontramos os valores α de Cronbach seguintes: .78 para a escala
de agressividade física, .74 para a escala de agressividade verbal, .70 para a escala de
irritabilidade, .72 para a escala de hostilidade e .85 para a escala total.
Em relação à validade convergente, o questionário Cook-Medley Hostility Scale (HO)
correlaciona-se de forma significativa com o questionário AQ (r =. 59; p ≤.01; N=384), assim
como, existe uma associação significativa entre o questionário Buss-Durkee Hostility Inventory e
o questionário AQ (r =. 79; p≤.01; N= 384). A sub-escala irritabilidade do questionário AQ
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estabeleceu uma correlação significativa com as sub-escalas impaciência e hostilidade do
questionário Jenkins Activity Scale, Forme H (JASE-H), (r =. 63; p ≤ . 01; N= 384). As sub-
escalas agressão física e agressão verbal do questionário AQ estabeleceram também uma
correlação significativa com as sub-escalas irritabilidade-expressão (r =. 22 e r =. 25
respectivamente; p ≤ . 01); N= 384) e irritabilidade-traço (r =. 32 e r =. 25 respectivamente; p ≤ .
01; N= 384) do questionário State-Trait Anger Expression Inventory (STAXI) de Léon, Reys,
Vila, Pérez, Robles e Ramos (2002). Segundo Buss e Perry (1992), as sub-escalas do questionário
AQ não estão fortemente intercorrelacionadas, sendo que a maioria está abaixo dos .50, em que a
sub-escala agressão verbal apresenta uma correlação moderada com a sub-escala agressão física
(r = . 54; p≤.001); a sub-escala irritabilidade mantém uma correlação moderada com a sub-escala
agressão física (r =. 47; p≤. 001) e com a sub-escala agressão verbal (r = . 56; p ≤.001); e a sub-
escala hostilidade possui correlações moderadas com as seguintes sub-escalas: agressão física (r
=. 45; p≤. 001); agressão verbal (r =. 50; p≤.001); e irritabilidade (r =. 57; p≤ .001). Morren e
Meesters (2002), testaram as correlações entre as sub-escalas do AQ através de uma amostra
constituída por 73 estudantes de nacionalidade Holandesa, concluindo que: a sub-escala agressão
física estabelece uma correlação baixa com a sub-escala hostilidade (r =. 26; p≤.02; N= 73); a
sub-escala agressão verbal possui uma correlação fraca com a sub-escala hostilidade (r = .27;
p≤.02; N= 73); e as 2 sub-escalas agressão física e agressão verbal correlacionam-se entre si de
forma moderada (r =. 38; p≤.02; N= 73).
4.4. Procedimento
Os participantes foram informados individualmente sobre o objectivo geral do estudo,
solicitando a sua participação voluntária e sendo o protocolo em questão entregue em mão para o
seu devido preenchimento, após o consentimento dos mesmos. Foi igualmente solicitado o
consentimento para aplicação do respectivo questionário à Presidente do Conselho Executivo da
Escola Secundária de Sacavém e aos encarregados de educação dos alunos de idade menor (ver
Anexo 2).
Foi transmitido aos participantes que as informações disponibilizadas pelos mesmos
seriam confidenciais e que poderiam desistir do preenchimento do protocolo a qualquer
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momento. A aplicação dos 123 protocolos ocorreu nas instalações da escola, ou seja, nas salas de
aulas.
O presente estudo é de carácter transversal, uma vez que os participantes só foram
avaliados uma única vez, relativamente à relação entre traços de personalidade, traços
psicopáticos e atributos agressivos. O desenho deste estudo é de cariz correlacional, isto porque
pretende-se analisar a associação entre as variáveis traços de personalidade, traços psicopáticos e
atributos agressivos.
4.5. Resultados
Todos os dados obtidos nos questionários foram introduzidos numa base de dados e
tratados no programa estatístico SPSS (Statistical Package for Social Sciences) versão 17.0 para
o Windows.
A tabela 4 mostra os dados descritivos das seguintes variáveis: as cinco dimensões da
personalidade operacionalizadas pelo questionário Big Five (BFI); as duas sub-escalas de
desejabilidade social do questionário Paulhus Deception Scale (PDS); os quatro factores de
agressividade do questionário de agressividade (AQ); e as duas sub-escalas de psicopatia,
presentes na Levenson Psychopathy Scale (LSRP). Esta tabela contém os valores mínimos e
máximos para cada dimensão, assim como os valores médios e de desvio padrão.
Relativamente à variável personalidade obtivemos-se os seguintes valores para as cinco
dimensões: na extroversão, os valores variam entre 14 e 40, com um valor médio de 27,88 e um
desvio padrão de 5,386; na amabilidade, os valores variam entre 21 e 43, possuindo uma média
de 33,85 e um desvio padrão de 4,943; os valores na dimensão de conscienciosidade variam entre
17 e 38, com um valor médio de 29,82 e um desvio padrão de 4,860; no factor neuroticismo, os
valores variam entre 14 e 35, onde o valor médio é de 23,54 e o desvio padrão de 4,507; e na
dimensão de abertura à experiência, os valores variam entre 18 e 46, detendo um valor médio de
34, 89 e um desvio padrão de 5,477.
No que concerne à variável desejabilidade social, na dimensão de gestão da imagem, os
valores variam entre 0 e 11, o valor médio obtido é de 3,17, com um desvio padrão de 2,660; para
a dimensão de auto-apresentação favorável, os valores variam entre 2 e 17, com um valor médio
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de 8,85 e um desvio padrão de 3,355; e para a dimensão de desejabilidade social total, os valores
variam entre 3 e 25, com uma média de 12.02 e um desvio padrão de 4.785.
No que diz respeito à variável agressividade, os valores patentes nos quatro factores são:
na agressividade física, os valores variam entre 11 e 44, demonstrando uma média de 22,03 e um
desvio padrão de 6,453; para a dimensão de agressividade verbal, os valores variam entre 7 e 25,
com um valor médio de 14,25 e um desvio padrão de 3,220; no factor irritabilidade, os valores
variam entre 7 e 32, possuindo uma média de 17,30 e um desvio padrão de 5,298; na dimensão de
hostilidade, os valores variam entre 12 e 40, exibindo um valor médio de 23,59 e um desvio
padrão de 5,399; e na agressividade total, os valores variam de 48 e 133, apresentando um valor
médio de 77,18 e um desvio padrão de 15, 417.
Quanto à variável psicopatia, verifica-se que ao nível da dimensão de psicopatia
primária, os valores variam entre 19 e 55, com um valor médio de 35,33 e um desvio padrão de
7,290 e na psicopatia secundária, os valores variam entre 13 e 32, demonstrando um valor médio
de 22,71 e um desvio padrão de 3,765.
Tabela 4. Estatística descritiva das variáveis estudadas
A tabela 5 apresenta os valores médios e de desvio padrão, por idades, para as dimensões
do Big Five (BFI), de desejabilidade social (PDS), de psicopatia (LSRP) e de agressividade (AQ),
bem como o resultado do teste t de Student para amostras independentes. Constata-se a partir da
Mínimo Máximo M DP Extroversão 14 40 27.88 5.386 Amabilidade 21 43 33.85 4.943 Conscienciosidade 17 38 29.82 4.860 Neuroticismo 14 35 23.54 4.507 Abertura à experiência 18 46 34.89 5.477 Gestão da Imagem 0 11 3.17 2.660 Auto-apresentação Favorável 2 17 8.85 3.355 PDS_TOT 3 25 12.02 4.785 Agressividade Física 11 44 22.03 6.453 Agressividade Verbal 7 25 14.25 3.220 Irritabilidade 7 32 17.30 5.298 Hostilidade 12 40 23.59 5.399 Agressividade Total 48 133 77.18 15.417Psicopatia Primária 19 55 35.33 7.290 Psicopatia Secundária 13 32 22.71 3.765
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tabela 5, que existem diferenças significativas entre idades em relação ao traço de amabilidade (t
(123) = - 2.352; p =, 020), sendo que os sujeitos com idade inferior a 17 anos (valor considerado
a partir de um ponto de corte estabelecido em função do percentil 50) apresentam um valor médio
superior (M= 35, 49; DP= 5,365) comparativamente aos sujeitos com idade superior ou igual a 17
anos (M= 33,20; DP= 4,639), (ver tabela 5).
Na análise da variável psicopatia, encontram-se igualmente diferenças significativas
entre idades, mais precisamente em relação à psicopatia primária (t (123) = 2,211; p =, 029),
onde os indivíduos com idade superior ou igual a 17 anos revelam um valor médio mais elevado
(M= 36,23; DP=7,095) face ao valor obtido pelos indivíduos com idade inferior a 17 anos (M=
33,06; DP=7,380). Nas restantes variáveis não se verificam diferenças significativas entre idades,
(ver tabela 5).
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Tabela 5. Diferença de médias entre idades para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade
* p<0,05
A tabela 6 apresenta os valores médios e de desvio padrão, por géneros, para as
dimensões do Big Five (BFI), de desejabilidade social (PDS), de psicopatia (LSRP) e de
agressividade (AQ), bem como o resultado do teste t de Student para amostras independentes.
A partir da análise das dimensões ao nível da personalidade, verificam-se diferenças
significativas entre géneros no traço de conscienciosidade (t (123) = -2,087; p =, 039), no qual os
sujeitos do sexo feminino revelam um resultado médio superior (M= 30,69; DP= 4,556),
Idade >= 17 Idade < 17 M DP M DP t p Extroversão 27.91 5.642 27.80 4.758 .101 .920 Amabilidade 33.20 4.639 35.49 5.365 -2.352 .020* Conscienciosidade 30.10 4.730 29.11 5.178 1.017 .311 Neuroticismo 23.12 4.541 24.57 4.313 -1.616 .109 Abertura à experiência 34.88 5.544 34.94 5.385 -.062 .951 Gestão da Imagem 3.18 2.680 3.14 2.647 .073 .942 Auto-apresentação Favorável 8.64 3.238 9.40 3.623 -1.140 .256 PDS_TOT 11.82 4.706 12.54 5.008 -.757 .451
Agressividade Física 22.43 7.114 21.03 4.294 1.089 .278 Agressividade Verbal 14.27 3.396 14.20 2.774 .113 .911 Irritabilidade 17.18 5.613 17.60 4.467 -.394 .695 Hostilidade 23.12 5,332 24.77 5.462 -1.535 .128 Agressividade Total 77.01 16.614 77.60 12.098 -.190 .849 Psicopatia Primária 36.23 7.095 33.06 7.380 2.211 .029*
Psicopatia Secundária 22.85 3.911
22.34 3.395 .676 .501
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comparativamente ao resultado obtido pelos indivíduos do género masculino (M= 28,88; DP=
5,041).
Em termos de agressividade, verificam-se diferenças significativas entre géneros ao
nível da agressividade física (t (123) = 2,577; p =, 011), em que o género masculino destaca-se
com um valor médio superior (M= 23,56; DP= 7,630) em comparação com o género feminino
(M= 20,62; DP= 4,779), (ver tabela 6)
Existem igualmente diferenças significativas entre géneros relativamente à psicopatia,
em que na psicopatia primária (t (123) = 2,902; p =, 004) o género masculino obteve um valor
médio mais elevado (M=37,25; DP= 7,305) comparativamente ao género feminino (M= 33,55;
DP= 6,861), (ver tabela 6).
Não se verificam diferenças significativas entre géneros nas restantes variáveis (ver tabela
6).
Tabela 6. Diferença de médias entre géneros para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social, de psicopatia e de agressividade
* p<0,05; ** p<0,01.
A tabela 7 apresenta os valores médios e de desvio padrão, por indivíduos com
problemas judiciais e por indivíduos sem problemas judiciais, para as dimensões do Big five
Masculino Feminino M DP M DP t p Extroversão 27.54 5.224 28.19 5.555 -. 662 .509 Amabilidade 33.32 4.922 34.34 4.951 -1.147 .254 Conscienciosidade 28.88 5.041 30.69 4.556 -2.087 .039* Neuroticismo 23.07 4.958 23.97 4.039 -1.109 .270 Abertura à experiência 34.85 5.420 34.94 5.572 -.091 .928
Gestão da Imagem 3.34 2.502 3.02 2.809 .672 .503
Auto-apresentação Favorável 8.24 3.334 9.42 3.299 -1.979 .050 PDS_TOT 11.58 4.430 12.44 5.089 -.997 .321 Agressividade Física 23.56 7.630 20.62 4.779 2.577 .011* Agressividade Verbal 14.54 3.202 13.98 3.239 .960 .339 Irritabilidade 17.66 5.809 16.97 4.801 .723 .471 Hostilidade 24.15 5.545 23.08 5.250 1.104 .272 Agressividade Total 79.92 17.411 74.66 12.951 1.910 .058 Psicopatia Primária 37.25 7.305 33.55 6.861 2.902 .004** Psicopatia Secundária 22.95 4.171 22.48 3.366 .682 .496
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(BFI), de desejabilidade social (PDS), de psicopatia (LSRP) e de agressividade (AQ), bem como
o resultado do teste t de Student para amostras independentes. Através da análise da tabela em
questão verifica-se a existência de diferenças significativas entre os indivíduos com problemas
judiciais e os indivíduos sem problemas judiciais, relativas ao traço de amabilidade (t (123) = -3,
206; p =, 002), em que os indivíduos sem problemas judiciais possuem um valor médio superior
(M= 34,33; DP= 4,696) em comparação ao valor médio obtido pelos indivíduos com problemas
judiciais (M = 29,85; DP= 5,352). Em relação ao factor de conscienciosidade (t (123) = 3,582; p
=, 000) constatam-se igualmente diferenças significativas, em que os indivíduos sem problemas
judiciais superam com um resultado médio elevado (M= 30,34; DP= 4,685) face ao resultado
médio obtido pelos indivíduos com problemas judiciais (M= 25,46; DP= 4,215), (ver tabela 7).
No que respeita aos atributos agressivos, observam-se também diferenças significativas
entre os indivíduos com problemas judiciais e os indivíduos sem problemas judiciais, sobretudo
no que refere à agressividade física (t (123) = 4,590; p =, 000), em que os indivíduos com
problemas judicias são detentores de um valor médio superior (M= 29,23; DP = 9,382) em
relação ao valor médio obtido pelos indivíduos que não possuem problemas judiciais (M= 21, 18;
DP= 5,478); o mesmo se verifica ao nível da irritabilidade (t (123) = 3,474; p =, 001), em que os
indivíduos com problemas judiciais revelam um valor médio superior (M = 21,92; DP= 5,188),
face ao valor médio adquirido pelos indivíduos sem problemas judiciais (M= 16,75; DP = 5,060);
e em relação à agressividade total (t (123) = 3,514; p =, 001), em que os indivíduos com
problemas judiciais revelam um valor médio superior (M= 90,77; DP= 18,217)
comparativamente ao valor médio adquirido pelos indivíduos sem problemas judiciais (M=
75,57; DP= 14.313), (ver tabela 7).
Relativamente aos traços psicopáticos, verificam-se diferenças significativas entre os
indivíduos com problemas judiciais e os indivíduos sem problemas judiciais, especificamente em
relação ao factor psicopatia secundária (t (123) = 2,200; p =, 030), em que os indivíduos com
problemas judiciais possuem um valor médio mais elevado (M= 24,85; DP= 3,460),
comparativamente ao valor médio adquirido pelos indivíduos sem problemas judiciais (M=
22,45; DP = 3,733), (ver tabela 7).
Não se verificam diferenças significativas entre os indivíduos com problemas judiciais e
os indivíduos sem problemas judiciais nas restantes variáveis (ver tabela 7).
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Tabela 7. Diferença de médias entre indivíduos com problemas judiciais e indivíduos sem
problemas judiciais para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social, de psicopatia e
de agressividade
* p<0,05; ** p<0,01; *** p<0,001
A tabela 8 contém os valores médios e de desvio padrão, por indivíduos consumidores e
por indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes, para as
dimensões do Big five (BFI), de desejabilidade social (PDS), de psicopatia (LSRP), e de
agressividade (AQ), assim como, o resultado do teste t de Student para amostras independentes.
A partir do exame da tabela 8, constatam-se diferenças significativas entre os indivíduos
consumidores e os indivíduos não consumidores, sobretudo ao nível do traço de amabilidade (t
(123) = - 2,381; p =, 019), observam-se diferenças significativas, sendo que os indivíduos não
consumidores são detentores de um valor médio superior (M= 34,11; DP = 4,759) face ao valor
médio apresentado pelos indivíduos consumidores (M = 29,88; DP= 6,357); e o traço de
conscienciosidade (t (123) = 2,192; p=, 030) apresenta igualmente diferenças significativas entre
os indivíduos consumidores e os não consumidores, sendo que os indivíduos não consumidores
Problemas com a
Justiça Sem problemas com
a Justiça M DP M DP t p Extroversão 27.00 5.477 27.98 5.391 -.620 .536 Amabilidade 29.85 5.352 34.33 4.696 -3.206 .002** Conscienciosidade 25.46 4.215 30.34 4.685 -3.582 .000*** Neuroticismo 25.08 5.634 23.35 4.351 1.307 .194 Abertura à experiência 33.15 6.669 35.10 5.317 -1.214 .227
Gestão da Imagem 3.00 2.082 3.19 2.728 -.244 .808
Auto-apresentação Favorável 7.23 2.682 9.05 3.385 -1.863 .065 PDS_TOT 10.23 3.004 12.24 4.919 -1.435 .154 Agressividade Física 29.23 9.382 21.18 5.478 4.590 .000*** Agressividade Verbal 14.23 4.065 14.25 3.129 -.025 .980
Irritabilidade 21.92 5.188 16.75 5.060 3.474
.001** Hostilidade 25.38 6.252 23.38 5.281 1.268 .207 Agressividade Total 90.77 18.217 75.57 14.313 3.514 .001** Psicopatia Primária 38.62 8.827 34.94 7.032 1.735 .085 Psicopatia Secundária 24.85 3.460 22.45 3.733 2.200 .030*
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possuem um valor médio elevado (M= 30,10; DP= 4,786) comparativamente ao valor médio
obtido pelos indivíduos consumidores (M= 26, 25; DP= 5.007), (ver tabela 8).
No que concerne à desejabilidade social, constatam-se diferenças significativas entre os
indivíduos consumidores e os indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de
estupefacientes, sobretudo ao nível da dimensão auto-apresentação favorável (t (123) = -2,308;
p=, 023), sendo que os indivíduos não consumidores possuem um valor médio superior (M=
9,04; DP= 3,382) comparativamente ao valor obtido pelos indivíduos consumidores (M= 6,25;
DP= 1,753), (ver tabela 8)
No que respeita aos atributos agressivos denotam-se igualmente diferenças
significativas, especificamente ao nível da agressividade física (t (123) = 3,653; p =, 000), em
que os indivíduos consumidores são detentores de um valor médio mais elevado (M= 29,62; DP=
7,708) em relação ao valor médio obtido pelos indivíduos não consumidores (M = 21,43; DP=
6,022); na dimensão irritabilidade (t (123) = 2,339; p =, 021), também se verificam diferenças
significativas, em que os indivíduos consumidores possuem um valor médio superior (M= 21,50;
DP= 6,392) comparativamente ao valor médio obtido pelos indivíduos não consumidores (M=
17,04; DP= 5,127); e ao nível da variável agressividade total (t (123) = 3,100; p =, 002), em que
os indivíduos consumidores possuem um valor médio superior (M= 93,00; DP= 16,204)
relativamente ao valor médio obtido pelos indivíduos não consumidores (M= 76,04; DP=
14.875), (ver tabela 8).
Na análise dos resultados apresentados ao nível da psicopatia, observam-se diferenças
significativas entre os indivíduos consumidores e os não consumidores de substâncias
psicotrópicas e de estupefacientes na variável psicopatia primária (t (123) = 2,223; p =, 028), os
indivíduos consumidores possuem um valor médio superior (M= 40,75; DP= 9,192) em relação
ao valor médio obtido pelos indivíduos não consumidores (M= 34,90; DP= 7,048), (ver tabela 8).
Não se verificam diferenças significativas entre os indivíduos consumidores e os
indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes nas restantes
variáveis (ver tabela 8).
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Tabela 8. Diferença de médias entre consumidores e não consumidores de substâncias
psicotrópicas e de estupefacientes para as dimensões de personalidade, de desejabilidade social,
de psicopatia e de agressividade
* p<0,05; ** p<0,01; *** p<0,001
Foram ainda efectuadas correlações através do coeficiente de Pearson com o intuito de
verificar a associação entre as variáveis traços de personalidade com base no modelo dos 5
factores, em relação à desejabilidade social, aos traços psicopáticos e aos atributos agressivos.
No que respeita às correlações entre traços de personalidade e desejabilidade social, na
gestão da imagem verifica-se uma correlação no sentido positivo com a dimensão de
conscienciosidade (r =. 250; p≤.01). Ao nível do factor auto-apresentação favorável surge uma
correlação moderada no sentido positivo com a dimensão de amabilidade (r =. 399; p≤.01), e com
a dimensão de conscienciosidade, a correlação ocorre no sentido positivo (r =. 299; p≤.01),
enquanto que relativamente à desejabilidade social total existem correlaçoes moderadas no
sentido positivo com as seguintes dimensões da personalidade: amabilidade (r =. 363; p≤.01) e
consciensiocidade (r =. 348; p≤.01), (ver tabela 9).
Consumidores Não Consumidores
M DP M DP t p Extroversão 30.12 7.160 27.71 5.268 1.223 .224 Amabilidade 29.88 6.357 34.11 4.759 -2.381 .019* Conscienciosidade 26.25 5.007 30.10 4.786 2.192 .030* Neuroticismo 26.25 6.606 23.38 4,310 1.755 .082 Abertura à experiência 37.62 6.046 34.75 5.410 1.440 .152
Gestão da Imagem 3.75 2.053 3.12 2.711 .641 .523
Auto-apresentação Favorável 6.25 1.753 9.04 3,382 -2.308 .023* PDS_TOT 10.00 3.251 12.17 4.873 -1.236 .219 Agressividade Física 29.62 7.708 21.43 6.022 3.653 .000 ***
Agressividade Verbal 15.00 3.381 14.22 3.225 .660 .511
Irritabilidade 21.50 6,392 17.04 5.127 2.339
.021* Hostilidade 26.88 4.673 23.35 5.411 1.794 .075 Agressividade Total 93.00 16.204 76.04 14.875 3.100 .002** Psicopatia Primária 40.75 9.192 34.90 7.048 2.223 .028*
Psicopatia Secundária 24.62 4.534 22.56 3.706 1.501 .136
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A respeito da análise das correlações entre traços de personalidade e agressividade, em
termos de agressividade física verifica-se uma correlação moderada no sentido negativo em
relação à dimensão de amabilidade (r = -. 427; p≤.01), enquanto que para a dimensão de
conscienciosidade a correlação ocorre no sentido negativo (r = -. 242; p≤.01), e na dimensão de
neuroticismo surge no sentido positivo (r =. 187; p≤.05). Constatou-se inclusive que ao nível da
agressividade verbal há uma correlação no sentido positivo com a dimensão de extroversão (r =.
211; p≤.05), (ver tabela 9).
Quanto à irritabilidade observam-se correlações no sentido negativo com as seguintes
dimensões da personalidade: amabilidade (r = -. 339; p≤.01) e com a dimensão de
conscienciosidade (r = -. 268; p≤.01). O traço de neuroticismo estabelece uma correlação
moderada no sentido positivo com a irritabilidade (r =. 434; p≤.01), (ver tabela 9).
A variável hostilidade mantém uma correlação no sentido positivo com a dimensão de
neuroticismo (r =. 216; p≤.05), (ver tabela 9).
Enquanto que ao nível da agressividade total existe uma correlação moderada no sentido
negativo com a amabilidade (r = -. 370; p≤.01), assim como, ocorre uma correlação no sentido
negativo entre a agressividade total e a conscienciosidade (r = -. 234; p≤.01) e entre a
agressividade total e o neuroticismo, onde a correlação encontra-se no sentido positivo (r =. 325;
p≤.01)
Na análise da associação entre traços de personalidade e de psicopatia, evidenciam-se
correlações ao nível da psicopatia primária, existindo uma correlação no sentido negativo com a
dimensão de amabilidade (r = -. 338, p≤.01). Ao nível da psicopatia secundária existe uma
correlação no sentido negativo com a dimensão de amabilidade (r = -. 327; p≤.01) e o traço de
conscienciosidade estabelece uma correlação moderada também no sentido negativo (r = -. 375;
p≤.01), por outro lado constata-se igualmente uma correlação no sentido positivo com o traço de
neuroticismo (r =. 314; p≤.01), (ver tabela 9).
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Tabela 9. Correlações entre traços de personalidade, desejabilidade social, atributos agressivos e traços psicopáticos
* p<0,05; ** p<0,01
No que se refere às associações entre a psicopatia e a desejabilidade social, encontrou-se
ao nível da psicopatia primária uma correlação moderada no sentido negativo com a variável
auto-apresentação favorável (r = -. 353; p≤.01) e com a desejabilidade social total, onde a
correlação se efectua no sentido negativo (r = -. 232; p≤.01). Na psicopatia secundária constatam-
se correlações no sentido negativo com as seguintes variáveis: gestão da imagem (r = -. 303;
p≤.01) e auto-apresentação favorável (r = -. 312; p≤.01). Na desejabilidade total, a correlação é
moderada e encontra-se também no sentido negativo (r = -. 387; p≤.01). (ver tabela 10).
No que respeita às correlações entre psicopatia e agressividade verificam-se associações
significativas, sendo que ao nível da psicopatia primária ocorrem correlações moderadas no
sentido positivo com as seguintes dimensões da agressividade: agressividade física (r =. 513;
p≤.01); agressividade verbal (r =. 436; p≤.01); irritabilidade (r =. 364; p≤.01); hostilidade (r =.
358; p≤.01) e agressividade total (r =. 556 p≤.01); Em relação à psicopatia secundária,
evidenciam-se correlações moderadas no sentido positivo com as seguintes dimensões da
agressividade: agressividade física (r =. 376; p≤.01); irritabilidade (r =. 370; p≤.01); hostilidade (r
=. 428; p≤.01); e agressividade total (r =. 454; p≤.01) (ver tabela 10).
Extroversão Amabilidade Conscienciosidade Neuroticismo Abertura à Experiência
Gestão da Imagem .170 .149 .250** .001 .0138 Auto-apresentação Favorável -.048 .399** .299** -.008 .040 PDS_TOT .061 .363** .348** .000 .105 Agressividade Física .126 -.427** -.242** .187* -.036 Agressividade Verbal .211* -.138 .030 .108 .141 Irritabilidade .158 -.339** -.268** .434** .000 Hostilidade -.167 -.131 -.133 .216* .024 Agressividade Total .093 -.370** -.234** .325** .023 Psicopatia Primária .043 -.338** -.140 -.031 -.073 Psicopatia Secundária -.130 -.327** -.375** .314** .015
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Tabela 10. Correlações entre traços psicopáticos, desejabilidade social e atributos agressivos
* p<0,05; ** p<0,01
Da análise das correlações entre desejabilidade social e agressividade, verificam-se
associações significativas, sobretudo ao nível da relação entre a auto-apresentação favorável e a
agressividade física, onde a correlação é moderada no sentido negativo (r = -. 388; p≤.01);
existindo também uma correlação entre a auto-apresentação favorável e a irritabilidade, que
ocorre no sentido negativo (r = -. 225; p≤.05); entre a dimensão auto-apresentação favorável e a
hostilidade, em que a correlação é também no sentido negativo (r = -. 296; p≤.01); e entre a
dimensão auto-apresentação favorável e a agressividade total, em que a correlação é também
moderada no sentido negativo (r = -. 375; p≤.01), (ver tabela 11).
Ao nível da relação entre a desejabilidade social total e a agressividade, verificam-se
associações significativas, especificamente entre a desejabilidade social total e a agressividade
física, onde existe uma correlação no sentido negativo (r = -. 222; p≤.05); entre a desejabilidade
social total e a hostilidade, onde a correlação é igualmente no sentido negativo (r = -. 252; p≤.01);
e entre a desejabilidade social total e a agressividade total, em que a correlação encontra-se
também no sentido negativo (r = -. 246; p≤.01), (ver tabela 11).
Psicopatia Primária
Psicopatia Secundária
Gestão da Imagem .029 -.303** Auto-apresentação Favorável -.353** -.312** PDS_TOT -.232** -.387** Agressividade Física .513** .376** Agressividade Verbal .436** .091 Irritabilidade .364** .370** Hostilidade .358** .428** Agressividade Total .556** .454**
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Tabela 11. Correlações entre desejabilidade social e atributos agressivos
* p<0,05; ** p<0,01
4.6. Discussão dos resultados
O objecto de estudo da investigação em causa consiste na análise da associação entre
traços de personalidade, traços psicopáticos e atributos agressivos.
Um dos aspectos a salientar neste estudo diz respeito ao facto de se debruçar na análise
da associação entre estas três variáveis, utilizando uma amostra que na realidade não é
considerada como amostra clínica ou forense. Todavia, os indivíduos que constituíram esta
amostra podem ser contextualizados num grupo com características desviantes, pois na sua
grande generalidade são detentores de comportamentos que vão contra às normas sociais vigentes
e que são o resultado de um fraco controlo emocional.
A idade contitui uma variável importante neste estudo, na medida em que após a análise
dos resultados obtidos a partir do teste t de Student ao nível das diferenças de médias entre idades
para as dimensões estudadas, verifica-se que existem diferenças significativas entre idades para o
traço de amabilidade, sendo que os indivíduos com idade inferior a 17 anos possuem um valor
médio superior em comparação com os indivíduos com idade superior ou igual a 17 anos.
Constatam-se diferenças significativas entre idades no que respeita ao traço de psicopatia
primária, onde os alunos com idade superior ou igual a 17 anos demonstram um valor médio
elevado, o que vai de encontro ao postulado de Marietan (1998) segundo o qual os traços de
personalidade psicopática manifestam-se na infância, acentuam-se na adolescência e
desenvolvem-se plenamente na fase adulta de um indivíduo.
O género tornou-se também uma variável imperiosa nesta investigação, constatou-se
através da análise estatística dos dados obtidos pelo teste t de Student, que existem diferenças
Gestão da Imagem
Auto-apresentação Favorável
PDS_TOT
Agressividade Física .090 -.388** -.222* Agressividade Verbal .085 -.148 -.057 Irritabilidade .007 -.225* -.154 Hostilidade -.079 -.296** -.252** Agressividade Total .030 -.375** -.246**
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significativas entre géneros em relação ao traço de conscienciosidade, sendo que os elementos do
sexo feminino demonstram um resultado médio superior nesta dimensão.
No que respeita aos atributos agressivos, encontram-se diferenças significativas entre
géneros em relação à agressividade física, os indivíduos do género masculino obtiveram um
resultado médio superior, reagindo com mais violência no estabelecimento de relações sociais.
Deve-se considerar que nos rapazes existe uma maior influência em termos biológicos que dita
este tipo de actuação menos adequada, enquanto que nas raparigas a influência cultural pesa mais
na explicação da sua agressividade (Carrasco e Barrio, 2007). Vários investigadores sugerem que
a hormona sexual masculina, a testosterona está directamente associada a crimes agressivos e
anti-sociais, como a violação e o homicídio e com a busca de novas sensações. Estando patente
neste estudo a associação da agressividade com esta hormona sexual, em que os indivíduos com
idade superior ou igual a 17 anos apresentam maiores níveis de psicopatia primária, possuindo
uma predisposição para a agressividade em termos comportamentais. De acordo com Innes
(2004), os níveis de testosterona aumentam na puberdade e aos 20 anos, sendo esta época de
desenvolvimento mais associada às taxas elevadas de crime. O sistema límbico que controla as
emoções como a raiva, o amor-ódio, o ciúme e a devoção religiosa pode ser afectado pela
testosterona, sendo passível o cometimento de acções agressivas e impulsivas (Innes, 2004).
Estudos transculturais demonstram que os níveis hormonais em conjunto com as normas
e os valores socioculturais contribuem largamente para a manifestação de comportamentos e das
atitudes agressivas no género masculino, o que leva estes indivíduos a adquirir esta actuação
comportamental como própria do seu género e da sua identificação (Vasconcelos, Gouveia,
Pimentel e Pessoa, 2008).
Os indivíduos do género feminino por outro lado tendem a reprimir a agressividade e
possuem dificuldades na manifestação da ira ou de emoções negativas. Apesar de sentirem mais
ansiedade, culpa e constrangimento comparativamente ao género masculino face à realização de
acções agressivas (Vasconcelos, Gouveia, Pimentel e Pessoa, 2008). Tal evidência encontra-se
em consonância com os resultados obtidos neste estudo, pois os elementos do género feminino
mostram-se mais conscienciosos em relação aos elementos do género oposto, possuindo mais
auto-domínio nas suas reacções comportamentais.
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Ao nível dos traços psicopáticos, verificam-se diferenças significativas relativamente à
dimensão de psicopatia primária, em que os indivíduos do género masculino demonstram um
resultado médio superior comparativamente aos elementos do sexo feminino.
A variável problemas com a justiça também se tornou imperiosa nesta investigação, a
análise estatística dos resultados obtidos pelo teste t de Student permitiu conhecer que ao nível do
traço de amabilidade e de conscienciosidade existem diferenças significativas entre os indivíduos
com problemas com a justiça e os indivíduos que relatam não possuirem problemas com a justiça.
Os indivíduos que referem não possuirem problemas com a justiça são maioritários, ou seja,
possuem um nível médio elevado de amabilidade e de conscienciosidade, o que confirma
novamente o facto de que a amabilidade e a conscienciosidade estejam relacionadas com as
características psicológicas, como a disciplina, o controlo das emoções e dos impulsos (McCrae e
Costa, 2006).
Relativamente aos atributos agressivos existem igualmente diferenças significativas,
tornando-se clarividente que os indivíduos que possuem problemas com a justiça possuem um
índice médio elevado de agressividade física, de irritabilidade e de agressividade total.
Na análise dos dados relativos aos traços psicopáticos verificam-se também diferenças
significativas, mais especificamente em relação à psicopatia secundária, onde constata-se que os
indivíduos com problemas judiciais ou que já foram punidos pelo seu comportamento apresentam
um nível médio mais elevado. O que vai de encontro com o postulado de que os indivíduos que
possuem traços de neuroticismo demonstram uma maior vulnerabilidade para o cometimento de
acções delituosas, sendo punidos judicialmente por este tipo de comportamentos. Eysenck (1981,
1995) revela que um indivíduo considerado criminoso pelo sistema judicial tende a possuir níveis
mais elevados de neuroticismo, sendo que o psicopata secundário é detentor de uma
particulariade neurótica ao nível da sua personalidade. Poythress e Skeem (2006), e Blackburn,
(1998) também referem que o psicopata secundário tende a cometer mais acções transgressivas
devido à sua tendência para sentir ira ou irritabilidade.
O facto dos indivíduos consumirem ou não substâncias psicotrópicas e estupefacientes
constitui uma variável essencial na compreensão do perfil psicológico dos adolescentes ou jovens
com problemas ao nível do comportamento. Verificou-se a partir da análise estatística dos
resultados obtidos pelo teste t de Student que existem diferenças significativas entre os indivíduos
consumidores e os indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes
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ao nível do traço de amabilidade e de conscienciosidade, sendo que os indivíduos não
consumidores revelam um resultado médio superior, não possuindo uma predisposição para
recorrerem à utilização deste tipo de substâncias, esta evidência corrobora a teoria de McCrae e
Costa (2006), de que os sujeitos com estes traços ao nível da sua personalidade mostram-se mais
responsáveis e disciplinados na sua actuação social, sem a necessidade de procurarem novas
estimulações.
No que concerne à desejabilidade social, existem diferenças significativas entre os
indivíduos consumidores e os indivíduos não consumidores, em relação à variável auto-
apresentação favorável, em que os indivíduos que não consomem substâncias ilícitas apresentam
um resuldado médio superior. Tal evidência demonstra que as pessoas que fazem uma utilização
regular de substâncias que afectam o seu funcionamento fisiológico, cognitivo e até emocional
não possuem a preocupação de transmitir uma imagem favorável de si próprios a terceiros, sendo
vulgarmente consideradas como anti-sociais pela sociedade, devido também ao desabrochar dos
comportamentos delinquenciais a partir da utilização destes químicos, que conduzem
inexoravelmente à dependência (Manita, 1997).
Relativamente aos atributos agressivos existem diferenças significativas ao nível da
agressividade física e da irritabilidade, em que os indivíduos consumidores possuem um valor
médio mais elevado. O que significa que os indivíduos que manifestam frequentemente
agressividade física e irritabilidade possuem uma tendência para o consumo de substâncias
psicotrópicas e de estupefacientes, assim como, é frequente os consumidores crónicos
apresentarem irritabilidade e agressividade, e neste caso especifico, os adolescentes ou jovens
tendem a infringir as regras sociais sob o efeito deste tipo de substâncias (Heim e Andrade,
2008).
Em suma, a agressividade em geral encontra-se interligada com o consumo de
substâncias psicotrópicas e de estupefacientes, tal facto confirma-se neste estudo, existindo
diferenças significativas entre os indivíduos consumidores e os indivíduos não consumidores no
que concerne à dimensão de agressividade total, onde os sujeitos que afirmam consumir
substâncias deste teor revelam um resultado médio superior.
Neste sentido, o adolescente ou jovem que executa este tipo de hábitos de adição sofre
de alterações do humor, tornando-se mais hostil, ansioso e com défices ao nível do seu sistema
cognitivo (Messas, 2009).
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No que diz respeito aos resultados obtidos na variável psicopatia, existem diferenças
significativas ao nível da psicopatia primária, onde os indivíduos consumidores possuem um
nível médio mais elevado. O que demonstra que os psicopatas primários possuem uma maior
predisposição para o consumo de substâncias psicotrópicas, em comparação com os psicopatas
secundários. Tal evidência confirma a teoria de Karpman (1961) de que os psicopatas primários
actuam de modo a obterem o máximo de estimulação possível, sendo passível a utilização regular
deste tipo de substâncias.
Os resultados obtidos foram de encontro à primeira hipótese colocada (H1), isto é,
verifica-se uma associação significativa no sentido positivo entre o traço de neuroticismo e os
atributos agressivos, sobretudo ao nível da irritabilidade. Estudos realizados anteriormente
também reforçam o facto do neuroticismo se relacionar expressamente com a agressividade
(Caprara e Pastorelli, 1993; Kroes, Veerman e de Bruyn, 2005). Um indivíduo com neuroticismo
apresenta habitualmente uma forte instabilidade emocional e intensas reacções emocionais, o que
faz com que actue de forma irracional em situações adversas e conflituosas, fazendo um recurso
imoderado da agressividade (Sisto e Oliveira, 2003). Pontuações altas neste traço indicam que a
pessoa tem uma predisposição para sentir ansiedade, tensão e emotividade, apresentando
frequentemente problemas ao nível da sua auto-estima, possuindo comportamentos que se
afastam dos ideais sociais, sendo mais fácil catalogar a pessoa com este perfil como anti-social ou
psicopata, tornando-se por vezes uma vítima de exclusão social, o que proporciona por outro lado
a escolha individual por caminhos menos adequados como os trilhos criminosos ou do roubo.
Enquanto que, a conscienciosidade estabelece uma correlação negativa com os atributos
agressivos e com a psicopatia secundária, isto porque esta dimensão da personalidade é marcada
pela capacidade de controlo de impulsos e pela capacidade de permanecer calmo e dar azo à
razão mesmo em situações muito complexas de perigosidade, esta evidência é também
confirmada por vários investigadores (Heaven, 2008; Pervin e John, 2001). O mesmo ocorre com
a amabilidade que se correlaciona negativamente com os atributos agressivos e com os traços
psicopáticos, ou seja, com ambas as dimensões de psicopatia. A amabilidade é definida como um
traço de personalidade que tem como características principais as atitudes e os comportamentos
pró-sociais, ou seja, os indivíduos com este traço são socialmente agradáveis, calorosos, dóceis,
generosos e leais. Enquanto que, os psicopatas e os indivíduos agressivos possuem um perfil
contrário, dando primazia à frieza e à crueldade na sua actuação social. A amabilidade surge
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correlacionada de forma significativa, mas no sentido negativo com os traços de psicopatia neste
estudo, principalmente com a psicopatia primária, o que corrobora a teoria de Cleckley (1982), de
que a loquacidade e a amabilidade dos psicopatas primários seria a característica mais importante
da sua personalidade, pois estes indivíduos utilizam uma cortesia e uma amabilidade falsas para
dissimular as suas próprias intenções dos outros.
Normalmente associa-se a extroversão à agressividade, mas neste estudo só se verificou
uma associação significativa no sentido positivo com a agressividade verbal, o que vai de
encontro com as conclusões obtidas pelos investigadores Caprara, Barbaranelli e Zimbardo,
(1996). Esta evidência contradita a teoria de Eysenck (2006), de que os indivíduos com níveis
altos de extroversão estão mais predispostos a reagir com grande intensidade aos estímulos
externos e sendo também mais desinibidos manifestam com facilidade acções agressivas e
delituosas.
A segunda hipótese (H2) formulada neste estudo não se confirmou, pois não se
evidenciou uma associação significativa no sentido positivo entre a psicopatia secundária e o
traço de abertura à experiência. No entanto, verifica-se uma associação negativa entre a
psicopatia secundária e o traço de amabilidade. Como já se referiu anteriormente, estudos
efectuados neste âmbito demonstram que a variável amabilidade se correlaciona negativamente
com os traços psicopáticos (Cleckley, 1982).
A inexistência de uma correlação significativa no sentido positivo entre a psicopatia
secundária e o traço de abertura à experiência neste estudo invalida a hipótese (H2). Não
confirma por isso os dados científicos de Levenson (1995), onde a psicopatia secundária
relaciona-se claramente com o traço de abertura à experiência. O novo modelo de Esterly e Neely
(1997) propõe tal como a teoria de Levenson (1995), que a psicopatia secundária possui traços de
personalidade ligados ao neuroticismo, ou seja, o psicopata secundário sente mais ansiedade e
pode-se tornar mais facilmente dependente do álcool e de substâncias psicotrópicas ou de outros
estupefacientes, sendo mais provável manifestar comportamentos impulsivos dirigidos para a
procura de novas experiências, frequentemente associadas ao perigo e ao risco, como as
aventuras de cariz sexual, o jogo patológico ou os crimes de furto. Enquanto que o psicopata
primário não prima pela procura de novas sensações ou experiências, sendo improvável
manifestar comportamentos impulsivos, mas quando se verificam este tipo de condutas
Ana Catarina Soares de Azevedo, Personalidade, Psicopatia e Agressividade em Jovens Adolescentes do Ensino Básico e Secundário
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habitualmente têm como finalidade a redução do mal-estar que este possa sentir (Esterly e Neely,
1997).
Por outro lado, nos estudos realizados por Carrasco e Barrio (2007), os traços
psicopáticos e os atributos agressivos não se associam de forma significativa com o traço de
abertura à experiência. Estes autores consideram que são escassos os casos actuais em que estas
duas variáveis estabeleçam uma relação significativa com o traço de abertura à experiência, tal
pode-se explicar pelo facto deste traço de personalidade se encontrar mais correlacionado com o
rendimento escolar. Este resultado diverge da teoria de Zuckerman (2006), de que os indivíduos
com valores altos no traço de abertura à experiência, apresentam com mais probabilidade
comportamentos anti-sociais, comportando-se de acordo com os seus desejos ou caprichos,
mostram-se frequentemente em conflito com as normas sociais e com as regras familiares,
exibindo um gosto ávido pelas situações de risco, não temendo o perigo alheio.
A terceira hipótese (H3) estabelecida neste estudo confirma-se, existindo uma
associação significativa no sentido positivo entre a psicopatia primária e a agressividade física e
verbal e entre a psicopatia secundária e a irritabilidade e a hostilidade. Segundo alguns estudos
científicos actuais realizados por Zágon (1995) e por Poythress e Skem (2006), o indivíduo com
psicopatia primária é considerado como o mais impulsivo em comparação com o psicopata
secundário, recorrendo mais frequentemente à agressividade como forma de atingir os seus
desejos mais íntimos, e ao não possuir controlo sobre os seus impulsos reage de forma mais
violenta e desinibida nas suas inter-relações (Zágon, 1995; Poythress e Skem, 2006). Enquanto
que, na psicopatia secundária o espectro emocional encontra-se muito afectado, pois o indivíduo
com esta perturbação tem têndencia a evidenciar neuroticismo, demonstrando instabilidade na
sua actuação social, ou seja, verificam-se comportamentos marcados pela ira e pelas acções
delinquenciais (Karpman, 1961; Poythress e Skem, 2006).
A última hipótese (H4) colocada é igualmente confirmada, a psicopatia secundária
encontra-se correlacionada de forma significativa no sentido positivo com o traço de
neuroticismo e associa-se de forma negativa com o traço de conscienciosidade, isto porque os
psicopatas secundários possuem maiores índices de ansiedade, sendo capazes de vivenciar em
algumas ocasiões depressão, empatia e desejo de ser aceite pela sociedade, estando propensos a
sentir os conflitos neuróticos com regularidade (Karpman, 1961; Poythress e Skem, 2006).
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Quanto aos resultados obtidos para a variável de desejabilidade social, a gestão da
imagem apresenta uma correlação no sentido positivo com a dimensão de conscienciosidade,
enquanto que a auto-apresentação favorável apresenta correlações no sentido positivo com as
dimensões de amabilidade e de conscienciosidade. No entanto, a dimensão de auto-apresentação
favorável correlaciona-se negativamente com o traço de neuroticismo.
Na análise das associações entre a psicopatia e a desejabilidade social, verificou-se que a
psicopatia primária correlaciona-se significativamente de forma moderada e no sentido negativo
com a dimensão auto-apresentação favorável, bem como, estabelece uma correlação no sentido
negativo com a desejabilidade social total. Em contrapartida, a psicopatia secundária associa-se
de forma significativa no sentido negativo com as dimensões de gestão de imagem e de auto-
apresentação favorável e com a dimensão de desejabilidade social total estabelece uma
associação significativa de forma moderada, também no sentido negativo
Em termos de associações entre a desejabilidade social e os atributos agressivos,
constatam-se correlações significativas de forma moderada no sentido negativo entre a auto-
apresentação favorável e as dimensões de agressividade física e de agressividade total, assim
como, verificam-se correlações significativas no sentido negativo entre a auto-apresentação
favorável e as dimensões de irritabilidade e de hostilidade.
No mesmo sentido, a dimensão de desejabilidade social total estabelece correlações
significativas no sentido negativo com as dimensões de agressividade física, de hostilidade e de
agressividade total. O que pressupõe que os alunos que desejam passar uma auto-imagem
favorável a outrem não assumem, ou não desejam demonstrar agressividade no seu quotidiano
social, controlando este tipo de características comportamentais.
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Conclusão
A psicopatia é uma condição psicológica de difícil identificação. Na sua acepção comum
este conceito surge frequentemente associado a crimes e a contravenções, ou seja, na sua
semiologia confunde-se psicopatia com marginalidade, isto deve-se ao facto de existirem poucos
estudos acerca desta perturbação na literatura clínica e cientifica, e o indivíduo que possui esta
perturbação não se assume como um doente, não busca por auxílio especializado nem por
qualquer tipo de tratamento, quem toma este tipo de iniciativas normalmente é a família ou as
pessoas que foram vítimas dos seus actos, sendo quase inacessível o contacto com quem padece
de psicopatia, o que dificulta a recolha de informação imperiosa para preencher as lacunas
expostas no diagnóstico e na caracterologia desta perturbação.
Este estudo foi efectuado com o princípio de servir como clarificador desta terminologia
psicológica, que como se constatou abarca os comportamentos ligados à agressividade e os traços
de personalidade, que devem ser estudados e abordados com mais dilação e cientificismo. Tendo
como objectivo primordial a indagação da associação entre os traços de personalidade, os traços
psicopáticos e os atributos agressivos.
Através da análise dos resultados referentes à diferença de médias entre os indivíduos
com idade igual ou superior a 17 anos e os indivíduos com idade inferior a 17 anos, verifica-se
que os indivíduos com idade inferior a 17 anos possuem valores mais elevados ao nível do traço
de amabilidade.
No exame dos resultados referentes aos traços psicopáticos, os alunos com idade
superior ou igual a 17 anos possuem valores mais elevados ao nível da psicopatia primária.
No que diz respeito à diferença entre géneros, constata-se que os indivíduos do género
masculino possuem resultados superiores ao nível da agressividade fisica, assim como,
evidenciam valores superiores em relação à psicopatia primária. Enquanto que os indivíduos do
género feminino possuem valores mais elevados ao nível do traço de conscienciosidade.
Relativamente às diferenças entre os indivíduos com problemas judiciais e os indivíduos
sem problemas judiciais, verifica-se que os indivíduos sem problemas na justiça evidenciam
resultados superiores ao nível do traço de amabilidade e de conscienciosidade.
Em relação aos resultados obtidos nos atributos agressivos, os indivíduos com
problemas judiciais possuem maiores índices de agressividade física, de irritabilidade e de
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agressividade total. O mesmo se constata em relação aos traços psicopáticos, pois os indivíduos
com problemas judiciais apresentam superioridade em termos de valores médios na psicopatia
secundária.
A partir do exame dos dados relativos às diferenças entre os indivíduos consumidores e
os indivíduos não consumidores de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes, verifica-se que
os indivíduos que não consomem este tipo de substâncias possuem resultados superiores ao nível
do traço de amabilidade e de conscienciosidade.
Relativamente à desejabilidade social, os indivíduos que relatam não consumirem
substâncias psicotrópicas ou estupefacientes possuem resultados superiores ao nível da dimensão
auto-apresentação favorável.
Os indivíduos que referem a utilização de substâncias psicotrópicas e de estupefacientes
possuem maiores índices de agressividade física, de irritabilidade e de agressividade total. Os
mesmos sujeitos apresentam igualmente maiores níveis de psicopatia primária.
Com vista a confirmar as hipóteses colocadas nesta investigação, analisou-se as
associações entre as variáveis incluídas neste estudo, onde se verificou uma associação
significativa no sentido positivo entre o traço de neuroticismo e os atributos agressivos, inclusive
a irritabilidade mantém uma relação expressiva com o neuroticismo, estando em consonância
com a hipótese (H1) estabelecida nesta investigação.
Contudo, a hipótese (H2) não se confirma, não se observou uma associação significativa
no sentido positivo entre a psicopatia secundária e o traço de abertura à experiência, assim como,
este traço de personalidade não manteve correlações significativas com nenhuma das variáveis
incluídas neste estudo. Todavia, a psicopatia secundária estabeleceu uma correlação negativa com
o traço de amabilidade neste estudo, tal como se verificou em investigações realizadas
anteriormente.
A hipótese (H3), de que a psicopatia primária se associa de forma significativa no
sentido positivo com os atributos agressivos, mais precisamente em relação à agressividade física
e verbal é válida. Também se comprova a existência de uma correlação significativa entre a
psicopatia secundária e as variáveis irritabilidade e hostilidade. Constata-se que a psicopatia
primária relaciona-se manifestamente com a agressividade no geral, e que o indivíduo com
psicopatia secundária sofre de alterações ao nível emocional e ao nível do humor, que o tornam
frequentemente hostil e encolorizado.
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A última hipótese (H4) é igualmente corroborada, verifica-se uma associação
significativa no sentido positivo entre a psicopatia secundária e o traço de neuroticismo e uma
associação negativa entre a psicopatia secundária e o traço de conscienciosidade, atribuindo uma
característica ansiosa na classificação desta perturbação psicopática.
Uma das limitações presente nesta investigação prende-se com o número reduzido de
participantes na amostra, sendo que a distribuição dos protocolos foi realizada numa escola
secundária, logo é essencial e ético solicitar a autorização prévia do director do conselho
directivo, dos docentes e dos encarregados de educação para a aplicação dos mesmos, o que
limitou esta aplicação, pois o acesso às turmas escolares executou-se em consonância com o
consentimento dos respectivos responsáveis mencionados anteriormente. Verificou-se também a
inerência da desejabilidade social nas respostas às questões relacionadas com a personalidade e
com os comportamentos que os estudantes adoptam face a situações complexas.
O facto dos alunos terem que preencher os questionários na presença dos colegas e dos
docentes fez com que existissem momentos de distracção e de burburinho entre eles, perturbando
a concentração dos mesmos no preenchimento dos respectivos protocolos.
Futuras investigações sobre esta temática, recorrendo a este tipo de amostra deverão
aumentar o tamanho da mesma e a sua heterogeneidade, assim como, seria adequado um aluno
por mesa de modo a evitar a desordem e a partilha de ideias pessoais durante o preenchimento
individual dos protocolos.
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