Tese de Mestrado - Ana Machado
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de
Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol
por Cromatografia Gasosa
Ana Catarina do Carmo Correia Rodrigues Machado
Dissertao para a obteno do Grau de Mestre em
Engenharia Alimentar
Orientador: Professor Doutor Miguel Mourato
Co-orientador: Engenheira Paula Vasconcelos
Jri:
Presidente: Doutora Maria Suzana Leito Ferreira Dias Vicente, Professora Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa.
Vogais: Doutora Maria Lusa Louro Martins, Professora Auxiliar do Instituto Superior de
Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa;
Doutor Miguel Pedro de Freitas Barbosa Mourato, Professor Auxiliar do Instituto
Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa;
Licenciada Paula Maria Machado George de Vasconcelos de Azevedo e Castro,
Tcnica Superior do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica
de Lisboa, na qualidade de especialista.
Lisboa, 2011
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
i
Agradecimentos
Gostaria de agradecer a todos aqueles que directa ou indirectamente contriburam para a
realizao deste trabalho.
Ao meu orientador, Professor Doutor Miguel Mourato e Professora Doutora Lusa Louro
Martins pela oportunidade que me deram de realizar este trabalho, pela disponibilidade e
apoio constantes ao longo do desenvolvimento do mesmo, pelas sugestes e tambm pela
forma muito simptica como sempre me acolheram.
Engenheira Paula Vasconcelos, co-orientadora deste trabalho, pela maneira como me
acolheu no Laboratrio de Estudos Tcnicos e pela disponibilidade e abertura com que me
cedeu todas as informaes necessrias para o desenvolvimento deste trabalho,
contribuindo com valorosas crticas.
A todas as pessoas que trabalham no Laboratrio de Estudos Tcnicos, mais conhecido
como Laboratrio de Azeites do Instituto Superior de Agronomia, nomeadamente
Engenheira Helena Alegre pelo auxlio prestado durante a execuo do trabalho prtico e
pela disponibilidade para me ajudar nas mais variadas situaes.
A todos aqueles, famlia, amigos e colegas, que directa ou indirectamente, deram o seu
contributo, encorajando-me para que este trabalho tivesse sido possvel. Agradeo
especialmente e carinhosamente Mainha e NN, que muito me apoiaram, dando-me
nimo nos momentos mais difceis da realizao deste trabalho.
Aos meus pais e NN um agradecimento muito especial, pois a eles devo tudo o que sou
e tudo o que tenho, incluindo este curso.
A todos, o meu muito obrigada.
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
ii
Resumo
O leo mineral um subproduto derivado da destilao do petrleo, aplicvel a nvel
cosmtico, farmacutico e alimentar, usado como aditivo alimentar, quando de grau prprio
para tal. No entanto, pode tambm ser considerado uma contaminao, especialmente
importante no leo de girassol devido ao episdio das 100.000 toneladas de leo de girassol
Ucraniano altamente contaminado. Este trabalho tem como objectivo a implementao de
um mtodo para a determinao de hidrocarbonetos alifticos saturados em leo de girassol
por cromatografia gasosa em coluna capilar, com injeco on column e detector FID. Para
tal foram avaliados parmetros como linearidade, gama de trabalho, limiares analticos,
preciso, exactido e robustez do mtodo. Os resultados mostram que o mtodo linear
para uma gama de trabalho entre 15 e 60 mg.kg-1, com um limite de repetibilidade de 6,11
mg.kg-1 e uma variabilidade de resultados associados ao mtodo de 0,48 mg.kg-1. O mtodo
permite detectar e quantificar o analito a partir de 21 mg.kg-1 e 24 mg.kg-1, respectivamente.
Face aos resultados obtidos em ensaios de recuperao e aos Z-score de 0,5 e 0,04 obtidos
em ensaios interlaboratoriais, o mtodo exacto. Verifica-se tambm a robustez do mesmo,
sendo um mtodo sensvel ao modo de integrao dos resultados.
Palavras-chave: hidrocarbonetos alifticos saturados, leo mineral, leo de girassol,
cromatografia gasosa.
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
iii
Abstract
Mineral oil is a by-product derived from petroleum distillation, applicable in the areas of
cosmetics, pharmaceuticals and food, used as food additive when in the proper grade of
purity for this propose. However, it can also be considered a contaminant, especially
important in sunflower oil, due to the episode of the 100.000 tons of highly contaminated
Ukrainian sunflower oil. This experimental work aims at implementing a method for the
determination of saturated aliphatic hydrocarbons in sunflower oil by capillary gas
chromatography with on column injection and FID detector. For such purpose parameters
like linearity, working range, thresholds, precision, accuracy and robustness of the method
were evaluated. The results show that the method is linear in the range between 15 and 60
mg.kg-1, with a repeatability limit of 6,11 mg.kg-1 and a variability of results obtained by this
method of 0,48 mg.kg-1. The method allows to detect and quantify the analyte from 21 mg.kg-
1 and 24 mg.kg-1, respectively. Considering the results obtained in recovery tests and Z-score
of 0,5 and 0,04 obtained in inter-laboratory tests, the method is accurate. The robustness of
this method is also verified, although it is sensible to the way the integration is performed.
Key - words: saturated aliphatic hydrocarbons, mineral oil, sunflower oil, gas
chromatography.
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
iv
Extended Abstract
Mineral oil is a by-product derived from the distillation of petroleum, chemically inert and
composed essentially by alkanes with between 15 and 40 carbons and cyclic paraffins, that
can be found in a great variety of food, like nuts, grains of coffee, rice, bread and bakery
products. The origin of this contamination is extremely diversified, highlighting the fact that
mineral oil can be used as lubricant of fibers that make up food packaging, in pesticide
formulation and as release agent in the area of bakery and pastry. This mixture of
compounds can also be used as food additives as long as it is a white mineral oil, that is, a
highly refined mineral oil from which aromatic hydrocarbons, harmful to human health, have
been removed. Even so, the contact of mineral oil with human body can be accomplished not
only by food products, but also through cosmetics, pharmaceuticals and due to pollution.
However, the interaction of this set of compounds with human body has never been
considered a health hazard, until the incident of the 100,000 tons of Ukrainian sunflower oil,
crude and refined, contaminated with high concentrations of mineral oil. From this moment, it
was established in the European Union that there was a need to control the quality of
vegetable oils, especially sunflower oil imported from Ukraine, instituting that a control of the
amount of saturated aliphatic hydrocarbons especially of mineral origin would have to be
made, which may not exceed a maximum level of 50 mg.kg-1, both for refined and crude
sunflower oil.
This experimental work aims at implementing an internal method for the determination of
saturated aliphatic hydrocarbons in sunflower oil by capillary gas chromatography with on
column injection and FID detector. In this method, a pre-treatment of the sample in column
chromatography is performed, using silica gel treated with silver nitrate and as eluent
chromatography-grade n-hexane. For validation purposes some parameters were evaluated,
including working range and linearity, analytical thresholds limits of detection and
quantification precision through repeatability and intermediate precision, accuracy through
recovery experiments and inter-laboratory tests as there are no certified reference materials
for the analysis of mineral oil and the robustness of the method. The results obtained in
these experiments show that the method is linear in the range between 15 and 60 mg.kg-1
and has a sensitivity of 0,0309 kg.mg-1. The repeatability limit, calculated on the basis of an
assay in repeatability conditions is 6,11 mg.kg-1 and the variability of results associated to the
method, calculated in the basis of an assay in condition of intermediate precision with
variation of the day of analysis, is 0,48 mg.kg-1. The method allows detection of the analyte
from 21 mg.kg-1, but quantification can only be accomplished from 24 mg.kg-1. Given the
results obtained in recovery experiments with recovery rates from 90 % to 110 % in an
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
v
assessment carried out with samples of sunflower and soybean oils, both crude and refined,
and the Z-score of 0.5 for a sample of sunflower oil and 0.04 for a soybean oil, obtained in
inter-laboratory assays, the method is considered accurate. The robustness of the method is
also verified, however being sensible to the way the integration is performed, it is important
to define objective criteria to successfully complete this stage of the process. To minimize the
possibility of introducing errors in the results, originating from the integration mode, there is a
need for standardization of methods used to perform this determination, which can be
achieved with the implementation of ISO guidelines that are still awaiting approval. In
addition, it was confirmed the need to use chromatography-grade n-hexane instead just
analytical purity, as it introduces a contamination with mineral oil in the sample that distorts
the results upwards. In comparing the method used in this experimental work with ISO
guidelines, which will be the basis for this determination in the future, it was found that there
are no significant differences in the results obtained. It was verified, thus, through validation
that this method allows the attainment of trustworthy results for the determination of
saturated aliphatic hydrocarbons of mineral origin in sunflower oil, taking into account the
results of the assessment of objective criteria that include the validation of a test method.
That is, it was verified that this method allows determining whether a specific sample is within
the legal limits in terms of food quality, thus allowing its commercialization. Although the
method is specific to sunflower oil, there is also the possibility of applying it to other
vegetable oils such as soybean oil, which was tested in this work in inter-laboratory trials and
recovery tests, or even applicable to another types of food.
As mineral oil, besides being a major contamination of human body accounting for the
accumulation of approximately 1 g of this mixture of compounds in human body fat and in
extreme cases of 10 g is also one of the most common contaminants found in food and
usually with unknown origin, its control is essential, especially in food, in order to control the
quality of ingested food. The inspection of this type of contamination becomes especially
important since this can happen with white mineral oil, also called food grade mineral oil or
technical grade oil, which is a mineral oil containing high amounts of aromatic hydrocarbons,
used for technical work as lubrication and equipment maintenance and therefore not fitted for
human consumption, what could adversely affect health of consumers, depending on the
degree of contamination.
Key - words: saturated aliphatic hydrocarbons, mineral oil, sunflower oil, gas
chromatography.
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
vi
ndice
ndice de Figuras viii
ndice de Quadros ix
Lista de Abreviaturas x
I. Enquadramento do tema 1
II. Introduo 2
II.1. leos e gorduras na indstria alimentar 2
II.2. Importncia nutricional dos leos vegetais 3
II.3. reas de aplicao dos leos vegetais 6
II.4. O girassol 8
II.4.1. A cultura do girassol 8
II.4.2. leo de girassol 9
II.5. A soja 12
II.5.1. A cultura da soja 12
II.5.2. leo de soja 14
II.6. Modo de produo de um leo vegetal 17
II.7. leo mineral 19
II.7.1. Aplicaes do leo mineral 20
II.7.2. leo mineral em alimentos 20
II.7.3. Toxicidade do leo mineral 22
II.8. Cromatografia gasosa 25
II.9. Validao de um mtodo analtico 29
III. Parte experimental 39
III.1. Materiais e reagentes 39
III.1.1. Materiais 39
III.1.2. Reagentes 39
III.2. Procedimento experimental 40
III.2.1. Preparao de gel de slica prateado 40
III.2.2. Preparao da coluna cromatogrfica de pr-tratamento 40
III.2.3. Fraccionamento do leo 41
III.2.4. Separao cromatogrfica 41
III.2.5. Determinaes quantitativas 42
III.3. Anlises efectuadas 43
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
vii
III.3.1. Limiares analticos 43
III.3.2. Curva de calibrao 44
III.3.3. Repetibilidade 44
III.3.4. Exactido 44
III.3.5. Robustez 44
IV. Resultados e discusso 46
IV.1. Curva de calibrao e sensibilidade 47
IV.2. Limiares analticos 51
IV.3. Preciso 56
IV.3.1. Repetibilidade 57
IV.3.2. Reprodutibilidade 60
IV.3.3. Preciso Intermdia 61
IV.4. Exactido 63
IV.4.1. Materiais de Referncia Certificados (MRC) 63
IV.4.2. Comparaes interlaboratoriais 63
IV.4.3. Ensaios de recuperao 67
IV.5. Robustez 68
V. Propostas para trabalho futuro 77
VI. Concluses 78
VII. Referncias bibliogrficas 81
VIII. Anexos 87
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
viii
ndice de Figuras
Figura 1: Variao da produo mundial de leos vegetais (em milhes de toneladas)
ao longo de seis anos. 3
Figura 2: Esquema representativo da estrutura de um triglicrido. 4
Figura 3: Evoluo da produo mundial dos principais leos vegetais, ao longo de
35 anos. 7
Figura 4: Produo mundial de girassol em kg/ha. 8
Figura 5: Produo nacional de girassol. 9
Figura 6: Principais pases de produo e consumo de leo de girassol. 10
Figura 7: Principais pases produtores de soja (dados de 2009/2010). 13
Figura 8: Principais produtores e consumidores de leo de soja (dados de 2009/2010). 15
Figura 9: Esquematizao da estrutura de um cromatgrafo gasoso. 26
Figura 10: Esquematizao da estrutura de um detector de ionizao por chama. 28
Figura 11: Rampa de temperatura do forno, na anlise cromatogrfica de leo
mineral. 42
Figura 12: Correlao entre concentrao de padres de parafina e sinal obtido em
termos de rea correspondente a leo mineral. 48
Figura 13: Correlao entre concentrao de padres de parafina e rea
normalizada correspondente a leo mineral. 48
Figura 14:Exemplificao da integrao da banda larga correspondente a leo mineral
num cromatograma referente a leo de girassol refinado. 73
Figura 15: Exemplificao da integrao pico a pico dos hidrocarbonetos alifticos
normais num leo para o mesmo leo de girassol refinado apresentado na Figura 13. 74
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
ix
ndice de Quadros
Quadro I: Composio genrica de leos alimentares. 4
Quadro II: Teor de cidos gordos de diversos leos vegetais. 5
Quadro III: Composio nutricional mdia do leo de girassol (valores por 100 g). 11
Quadro IV: Comparao da composio em cidos gordos de leo de girassol
tradicional e leo de girassol com elevado teor em cido oleico. 12
Quadro V: Composio nutricional mdia do leo de soja (valores por 100 g). 16
Quadro VI: Composio tpica em cidos gordos do leo de soja. 16
Quadro VII: Parmetros de validao a avaliar conforme o tipo de ensaio. 30
Quadro VIII: Compilao dos resultados de avaliao de qualidade do mtodo usado. 51
Quadro IX: Resultados obtidos (em mg.kg-1) nos dez replicados para determinao
dos limiares analticos. 52
Quadro X: Smula dos valores obtidos para os limites de deteco e de quantificao
pelos dois mtodos de clculo. 54
Quadro XI: Resultados obtidos (mg.kg-1) na determinao da repetibilidade. 57
Quadro XII: Resultados obtidos nos dez ensaios para a avaliao da preciso
intermdia. 61
Quadro XIII: Resultados obtidos (mg.kg-1) nos ensaios interlaboratoriais, para as
amostras de leo de girassol refinado e leo de soja bruto. 64
Quadro XIV: Resultados obtidos (mg.kg-1) pelo LET, na anlise de amostras de leo
de girassol refinado e leo de soja bruto, englobadas no ensaio interlaboratorial. 66
Quadro XV: Resultados obtidos nos ensaios de recuperao, para o estudo da
exactido do mtodo. 68
Quadro XVI: Resultados dos ensaios para testar a necessidade de filtrao de
amostras com impurezas. 70
Quadro XVII: Comparao de sistemas de integrao atravs da inspeco de
resultados obtidos para a anlise dos limiares analticos. 72
Quadro XVIII: Resultados da comparao entre mtodos. 75
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
x
Lista de Abreviaturas
ADI Admissible Dialy Intake Dose Diria de Ingesto Aceitvel
AVC Acidente Vascular Cerebral
EFSA European Food Safety Authority
FDA Food and Drug Administration
FID - Flame Ionization Detector - Detector de Ionizao por Chama
GC - Gas Chromatography - Cromatografia Gasosa
HPLC High Performance Liquid Chromatography Cromatografia Lquida de Alta
Eficincia
IRMM Institute for Reference Materials and Measurements
JECFA Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives
LC Liquid Chromatography Cromatografia Lquida
LD Limite de Deteco
LDL Low Density Lipoprotein
LET Laboratrio de Estudos Tcnicos
LQ Limite de Quantificao
MRC Materiais de Referncia Certificados
NIST National Institute of Standards and Technology
NOAEL No Observed Adverse Effect Level
SE Solvente Evaporation Evaporao de solvente
VLDL Very Low Density Lipoprotein
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
1
I. Enquadramento do tema
Os hidrocarbonetos de origem mineral - comummente designados por leo mineral - podem
ser encontrados numa grande variedade de alimentos, desde nozes, gros de caf, arroz,
po e produtos de padaria e ainda nos vegetais, sendo a provenincia desta contaminao
extremamente diversificada, destacando-se o facto de o leo mineral ser usado como
lubrificante de fibras que compem embalagens para alimentos, em formulaes de
pesticidas e ainda como agente antiaderente no ramo da padaria e pastelaria. Ainda assim,
o contacto do leo mineral com o organismo humano pode ser feito no s por via de
produtos alimentares, mas tambm atravs da cosmtica ou produtos farmacuticos ou
ainda devido poluio. No entanto este tipo de contaminao nunca havia sido
considerado perigoso para a sade, at ao incidente das toneladas de leo de girassol,
proveniente da Ucrnia, contaminado com elevadas concentraes de leo mineral (em
2008), existindo mesmo, leo de girassol bruto contaminado com 7000 mg.kg-1 e leo de
girassol refinado com 2000 mg.kg-1 de contaminao com esta mistura de compostos. A
partir deste momento, estabeleceu-se na Unio Europeia que havia necessidade de controlo
da qualidade dos leos vegetais, especialmente do leo de girassol importando da Ucrnia,
instituindo-se que deveria ser feito um controlo quantidade de hidrocarbonetos alifticos
saturados no leo de girassol, no devendo estes exceder um nvel mximo de 50 mg.kg-1,
tanto para leo de girassol refinado como bruto.
Assim se justifica o aparecimento de mtodos de ensaio para a determinao de
hidrocarbonetos alifticos saturados em leos vegetais, com o intuito de controlar a
qualidade dos leos que a Europa importa, visto que o consumo de leos vegetais tem
aumentado entre a populao, que procura uma alimentao mais saudvel.
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
2
II. Introduo
II.1. leos e gorduras na indstria alimentar
Os leos e gorduras so parte significativa dum vasto grupo de compostos designados
genericamente lpidos - cuja caracterstica comum o facto de serem geralmente solveis
em solventes orgnicos e insolveis, ou fracamente solveis, em gua - podendo ser
encontrados em clulas de origem animal, vegetal e microbiana. A distino entre leos ou
gorduras lquidas e gorduras faz-se pelo facto de serem lquidos ou slidos temperatura
ambiente, respectivamente. Estes compostos so conjuntamente com as protenas e
glcidos, os principais componentes estruturais de todas as clulas vivas, sendo a mais
concentrada fonte de energia (da sua oxidao resultam 9 kcal/g, enquanto da oxidao das
protenas e dos glcidos resultam apenas 4 kcal/g), fonte de cidos gordos essenciais (cido
linoleico - mega 6 - e cido linolnico - mega 3) e vitaminas lipossolveis (vitamina A, D,
E, K), o que lhes confere grande importncia nutricional (Lopes, 2000). So ingeridas como
gorduras visveis - manteiga, banha, leos de tempero, entre outros - ou como constituintes
dos alimentos, por exemplo, no leite, queijo ou carne. Contribuem para o sabor e
palatabilidade, flavour (como precursores de aroma) e textura dos alimentos e aumentam a
sensao de saciedade, aps a sua ingesto (Lopes, 2000).
Os pases ocidentais utilizaram durante muitos sculos essencialmente gorduras animais
para suprir as suas necessidades em termos de gordura, existindo, no entanto, algumas
excepes, em que eram utilizados leos produzidos localmente, podendo citar-se o
exemplo do azeite nos pases mediterrnicos e da colza em Frana e na Polnia, sendo
que, a manteiga e o sebo se mantiveram como as gorduras mais importantes na Europa at
meados do sculo XIX. Com a introduo, no final desse sculo, da prensagem hidrulica e
a extraco por solventes, os leos vegetais comearam a ganhar vantagem. Para alm
disto, aquando das conquistas coloniais, as oleaginosas tropicais, nomeadamente, o
amendoim, comearam a chegar Europa a preos muito baixos, fazendo concorrncias
aos produtos nacionais. No entanto, no final da Segunda Guerra Mundial, como
consequncia do aumento do preo do amendoim no mercado internacional, o Ocidente
comeou a desenvolver algumas culturas oleaginosas: o girassol em Frana e no leste da
Europa; a colza no Canad, Frana, Polnia, Alemanha e Sucia; e paralelamente, nos EUA
comeou a desenvolver-se a cultura da soja (Lopes, 2000).
Actualmente existe no mercado uma grande variedade de leos vegetais, tendo-se
verificado um aumento da produo dos mesmos ao longo dos ltimos anos - de
aproximadamente 119 milhes de toneladas em 2005/06 para aproximadamente 147
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
3
milhes de toneladas em 2010/11 (Carvalho, 2010). Ao nvel dos leos vegetais destacam-
se os de Palma, Soja, Colza e Girassol, como os de maior produo mundial (Figura 1).
Figura 1: Variao da produo mundial de leos vegetais (em milhes de toneladas) ao longo de seis anos.
Adaptado de Carvalho (2010).
II.2. Importncia nutricional dos leos vegetais
Quimicamente um leo composto por duas fraces (Quadro I):
Fraco saponificvel (representa cerca de 99 % de um leo): insolvel em gua,
constituda essencialmente por triglicridos, mas tambm por mono e diglicridos
resultantes da hidrlise dos primeiros. Contm ainda cidos gordos livres, fosfatdeos,
glucsidos e pigmentos verdes que contm clorofila e produtos resultantes da sua
decomposio. Muitas das caractersticas fsicas, qumicas e metablicas de um leo
dependem da composio desta fraco (Lopes, 2000; Silva, 2001);
Fraco insaponificvel (representa entre 0,5 e 1,5 % de um leo): solvel em gua,
constituda por componentes menores, os quais compreendem hidrocarbonetos,
esteris, ceras, lcoois, substncias corantes e aromticas, vitaminas, tocoferis e
polifenis. Esta a fraco responsvel pelo valor biolgico, nutricional e pela
resistncia oxidao de um leo. A sua concentrao depende do tipo de leo, no
entanto, esta fraco sempre maior no leo bruto do que no refinado,
0
5
10
15
20
25
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2005/06 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11
Pro
du
o
Mu
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e
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milh
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Ano
Coco
Algodo
Azeite
Palma
Palmiste
Amendoim
Colza
Soja
Girassol
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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independentemente do tipo de leo e, portanto, diminui com o processamento (Lopes,
2000; Silva, 2001).
Quadro I: Composio genrica de leos alimentares.
Componente % Componente ppm
Tocoferis 150 2000
Triglicridos 90 99 Tocotrienis 0,0 1500
Diglicridos 0,0 0,2 Fenis 0,0 50
Monoglicridos 0,0 0,2 Clorofilas e derivados 0,0 20
cidos Gordos Livres 0,2 9,5 Carotenides 0,0 500
Fosfolpidos 0,01 0,1 Metais 0,01 2,5
Esteris 0,4 2,0 Materiais oxidados 0,01 2,5
Humidade 0,0 0,1 Protenas 0,0 0,01
Gomas 0,0 2,0
Fonte: Lopes, 2000.
Os triglicridos compostos em que cada grupo hidroxilo do glicerol esterificado com uma
molcula de um cido gordo (Figura 2), num processo que controlado pelo metabolismo
da planta - so compostos especialmente importantes no que respeita s propriedades
fsicas, qumicas e biolgicas dos leos, no s porque so os componentes maioritrios
dos mesmos, mas tambm porque a posio e o tipo de cidos gordos num triglicrido vo
influenciar essas mesmas propriedades.
Figura 2: Esquema representativo da estrutura de um triglicrido.
Fonte: http://www.medicinapreventiva.com.ve/laboratorio/trigliceridos.htm
cido Gordo Livre
Triglicrido
Glicerol
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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Os cidos gordos que constituem os triglicridos dos leos so predominantemente cidos
alifticos monocarboxlicos de cadeia linear e nmero par de tomos de carbono, de C4 a
C24, podendo estes ser saturados quando possuem apenas ligaes simples entre os
tomos de carbono da cadeia carbonada - monoinsaturados ou polinsaturados quando
possuem uma ou mais ligaes duplas na cadeia carbonada, respectivamente. Dentre os
cidos gordos presentes em leos vegetais destacam-se o cido oleico (C18:1) como cido
gordo monoinsaturado, o cido linoleico (C18:2) como polinsaturado e o cido palmtico
(C16:0), na categoria dos cidos gordos saturados. O Quadro II apresenta a composio
mdia em cidos gordos de alguns leos vegetais.
Quadro II: Teor de cidos gordos de diversos leos vegetais.
leos cidos gordos
saturados
cidos Gordos
Monoinsaturados
cidos Gordos Polinsaturados
cido Linoleico cido Linolnico
Colza 6 % 58 % 26 % 10 %
Girassol 11 % 2 % 69 % -
Palma 48 % 40 % 10 % -
Azeite 14 % 77 % 8 % < 1 %
Soja 15 % 24 % 54 % 7 %
Adaptado de Reda & Carneiro (2007).
Os cidos gordos desempenham diversas funes ao nvel da nutrio humana, podendo
ocasionar, consoante o tipo de cido gordo em questo, efeitos benficos ou prejudiciais
para a sade. O aumento de cidos gordos saturados na dieta induz a hipercolesterolemia,
ou seja, um aumento do colesterol total e da fraco aterognica (colesterol LDL),
enquanto os cidos gordos polinsaturados possuem o efeito contrrio reduo da
hipercolesterolemia. H vrias explicaes sobre os mecanismos pelos quais os cidos
gordos afectam as concentraes de colesterol plasmtico, podendo referir-se a mudana
na composio das lipoprotenas, alteraes na produo de LDL (Low Density Lipoprotein)
e VLDL (Very Low Density Lipoprotein) pelo fgado e ainda alterao da actividade dos
receptores da LDL (Moraes & Colla, 2006).
De entre os cidos gordos convm salientar o papel de dois cidos gordos essenciais - o
cido linoleico e o cido linolnico. Relativamente ao cido linoleico, o principal cido gordo
mega 6, possui um papel importante no organismo humano, visto que, num ser humano
saudvel ser convertido em cido gama-linolnico, sendo este posteriormente convertido
-
Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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em cido araquidnico, que atravs da via metablica da cascata do mesmo cido, produz
eicosanides, importantes compostos hormonais que desempenham um papel de extrema
importncia em muitas funes corporais, tais como reaco anti-inflamatria e participao
na estrutura das membranas celulares - influenciando a viscosidade sangunea,
permeabilidade dos vasos, aco antiagregadora e presso arterial (Guin & Henriques,
2011). Convm ainda salientar o papel do cido linolnico, a partir do qual so sintetizados,
no organismo humano, os cidos gordos de cadeia longa da famlia mega 3, sendo este
cido um precursor primordial das prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos, substncias
que possuem actividade anti-inflamatria, anti-coagulante, vasodilatadora e anti-agregante
(Moraes & Colla, 2006). Alm do papel nutricional na dieta, os cidos gordos mega 3
podem ajudar a prevenir uma variedade de doenas, incluindo doenas do corao, cancro,
artrite, depresso e Alzheimer. As deficincias de mega 3 esto relacionadas com a
diminuio da memria e capacidades mentais, baixa viso, maior tendncia para a
formao de cogulos sanguneos, diminuio da imunidade, entre outros (Guin &
Henriques, 2011). importante salientar que necessrio um equilbrio apropriado entre os
dois tipos de cidos gordos essenciais mega 3 e mega 6 visto que estes trabalham
em conjunto com o objectivo da promoo da sade. A deficincia ou o desequilbrio no
fornecimento destes dois cidos gordos ao organismo est relacionado com graves
condies de sade, de que so exemplo, ataque cardaco, cancro, asma, lpus, depresso,
envelhecimento acelerado, acidente vascular cerebral (AVC), hiperactividade e sndrome de
dfice de ateno (Guin & Henriques, 2011).
Relativamente aos cidos gordos monoinsaturados, para alm de serem eficazes redutores
de colesterol, estes possuem tambm outros efeitos benficos, tais como a diminuio da
oxidao do colesterol LDL e melhoria da palatabilidade dos alimentos (Moraes & Colla,
2006).
Assim, as recomendaes dietticas avanam no sentido de diminuir as gorduras saturadas
numa dieta, em favor das mono e polinsaturadas, sem que estas ltimas ultrapassem 10 %
das calorias totais (Moraes & Colla, 2006).
II.3. reas de aplicao dos leos vegetais
Um leo possui diversas aplicaes ao nvel alimentar, das quais se podem destacar o uso
para fins culinrios, fritura - quer domstica, quer industrial - panificao, produo de
margarinas, leo de tempero, entre outros. Os critrios de escolha de um leo alimentar
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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para determinada aplicao esto intimamente relacionados com a mesma: aroma e textura
do produto onde o leo seleccionado vai ser utilizado, gosto residual que deixa aps a sua
ingesto, estabilidade aromtica, disponibilidade no mercado, custo, necessidades
nutricionais especficas e ainda requisitos explcitos do consumidor alvo. De entre os
factores mencionados tem-se verificado uma predominncia da preocupao em termos
nutricionais - optando-se sempre que possvel, em termos das caractersticas desejadas
para o produto final, por leos com baixo teor em gordura saturada - e ainda em termos de
custos e disponibilidade no mercado (Lopes, 2000).
Convm ainda salientar que as especificaes para leos alimentares tm sofrido alteraes
ao longo do tempo, especialmente devido ao desenvolvimento de tcnicas analticas que
permitem conhecimentos mais detalhados ao nvel da qualidade nutricional e funcional dos
mesmos. Verifica-se que os factores que actualmente mais importncia possuem ao nvel
das caractersticas de um leo alimentar so o facto de ser totalmente de origem vegetal,
rico em cidos gordos polinsaturados e pobre em saturados, virtualmente livre de cidos
gordos trans, sem adio de leos hidrogenados e de corantes (Lopes, 2000).
Neste trabalho pretende-se implementar um mtodo para avaliar um dos parmetros de
qualidade associados ao leo de girassol determinao de hidrocarbonetos alifticos
saturados, mais comummente designada por contaminao com leo mineral - e ainda
extrapolar algumas concluses para o leo vegetal que se manteve durante muitos anos
como o de maior produo e consumo a nvel mundial leo de soja (Figura 3).
Figura 3: Evoluo da produo mundial dos principais leos vegetais, ao longo de 35 anos.
Fonte: Rosillo-Calle et al, 2009.
leo de Soja
leo de Colza
leo de Palma
leo de Girassol Pro
du
o
Mu
nd
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e
leo
s V
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tais
(m
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ano
)
Ano
-
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II.4. O girassol
II.4.1. A cultura do girassol
O girassol (Helianthus annuus L.) uma planta anual, da famlia das Asteraceae, originria
da Amrica do Norte. As flores desta planta so caracterizadas por possurem grandes
inflorescncias do tipo captulo (flores inseridas num receptculo discide ou arredondado
protegido por brcteas), que podem variar dos 7 aos 30,5 cm na diagonal, com disco floral
escuro e lgulas radiais de cor amarela, nos casos mais comuns, mas que tambm podem
ter cor vermelho mogno, laranja ou branco e um caule, que pode atingir at trs metros de
altura. Uma caracterstica peculiar do girassol o heliotropismo - movimento da planta em
direco ao sol - da qual deriva o seu nome comum. A flor do girassol contm no seu interior
vrias centenas de sementes, com um comprimento entre 0,8 e 1,7 centmetros e largura
entre 0,4 e 0,9 centmetros, sendo que a cor das mesmas varia de acordo com a variedade
de girassol, podendo ir do preto, ao branco, passando por preto com listas verticais brancas
(Grompone, 2005; RaB et al, 2008).
Os girassis tiveram a sua origem em 3000 a.C. nos povos indgenas da Amrica do Norte
que os cultivavam para alimentao, no entanto, apenas no sculo XVI as sementes desta
planta foram levadas para a Europa (Grompone, 2005). Actualmente cultivada em todo o
mundo (Figura 4), sendo uma oleaginosa que apresenta caractersticas agronmicas muito
importantes, como o rpido crescimento, elevada resistncia seca, s temperaturas baixas
e ao calor, o que lhe confere grande adaptabilidade a diferentes condies climatricas. Em
Portugal, devido capacidade de adaptao da cultura do girassol ao clima seco e quente,
a quase totalidade da produo nacional ocorre no Alentejo (Figura 5).
Figura 4: Produo mundial de girassol em kg/ha.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Sunflower.
Produo de girassol em kg/ha
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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Esta grande versatilidade ainda reforada pelas vrias aplicaes relativas ao girassol,
das quais se podem destacar:
dos frutos, mais comummente chamados de sementes, extrado o leo de girassol,
utilizado na alimentao humana - para cozinhar, em cru ou em margarinas - na rea
dos cosmticos e na produo de biodisel;
tambm as sementes desta planta podem ser utilizadas na alimentao humana;
das flores do girassol pode ser produzido
mel;
em substituio de outros gros, a
semente de girassol muitas vezes
utilizada na alimentao animal, assim
como as suas folhas;
a flor comercializada como ornamento,
sendo algumas variedades especialmente
produzidas para este fim;
o girassol pode ser usado em adubao
verde, devido ao seu desenvolvimento inicial rpido, eficincia desta planta na
reciclagem de nutrientes e como agente protector dos solos contra a eroso e infestao
de invasoras, atravs do fenmeno da alelopatia - capacidade que as plantas possuem
de produzirem substncias qumicas que, libertadas no ambiente de outras, influenciam
de forma favorvel ou desfavorvel o seu desenvolvimento;
os caules desta planta possuem uma fibra que pode ser utilizada na produo de papel.
II.4.2. leo de girassol
A grande importncia econmica do cultivo de girassol a nvel mundial deve-se excelente
qualidade do leo comestvel que se extrai da semente desta planta, que considerado
dentro dos leos vegetais, um dos que possui melhor qualidade a nvel nutricional e
organolptico (aroma e sabor). Alm disso, a massa resultante da extraco do leo -
altamente proteca - pode ser utilizada para produo de alimentao animal (Grompone,
2005).
Os maiores produtores de leo de girassol a nvel mundial so a Ucrnia, Rssia, Europa e
Argentina, no entanto, os maiores consumidores so a Europa, a Rssia e a Turquia
(Carvalho, 2010). A importncia de um leo em termos de consumo reflecte, em parte, a
Figura 5: Produo nacional de girassol.
Fonte: INE, 2011.
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distribuio geogrfica da produo de sementes ou frutos associados a esse leo, bem
como dos usos e costumes do povo em questo. Assim, se justifica a elevada produo de
leo de girassol em regies de grande abundncia de sementes, onde o seu consumo
muito reduzido e pases com baixa produo de leo face s necessidades de consumo.
Figura 6: Principais pases de produo e consumo de leo de girassol.
Adaptado de Carvalho, 2010.
O leo de girassol essencialmente constitudo por triacilgliceris (98 - 99 %) e uma
pequena fraco de fosfolpidos, tocoferis, esteris e ceras (fraco insaponificvel).
Possui um elevado teor em cidos gordos insaturados (cerca de 83 %), mas um teor
reduzido em cido linolnico ( 0,2 %), sendo rico essencialmente em cido linoleico, um
dos cidos gordos essenciais. As variaes no teor deste cido gordo so consequncia
no s da variedade, como de diferenas climticas durante o seu cultivo. Dois factores que
favorecem este leo em termos de qualidade nutricional so o facto de proporcionar um
cido gordo essencial (cido linoleico) e possuir, simultaneamente, baixa quantidade de
cido palmtico que se pensa aumentar o colesterol LDL no sangue (Grompone, 2005).
Para alm disto, o cido linoleico presente no leo de girassol, pertencente ao grupo dos
cidos gordos mega 6, transformado pelo organismo humano em cido araquidnico e
em outros cidos gordos polinsaturados. Os mega 6 derivados do cido linoleico exercem
um importante papel fisiolgico ao participarem na estrutura das membranas celulares,
influenciando a viscosidade sangunea, permeabilidade dos vasos, aco anti-agregadora,
presso arterial, reaco inflamatria e funes plaquetrias (Moraes & Colla, 2006).
0
1000
2000
3000
4000
5000
Pro
du
o
e C
on
sum
o
(em
milh
are
s d
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ela
das
)
Pas
Consumo
Produo
-
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Este leo possui como constituinte maioritrio da sua fraco tocoferlica a forma -
tocoferol, ao contrrio da maioria dos leos vegetais que tm a forma - tocoferol. O -
tocoferol presente no leo de girassol apresenta, a temperaturas elevadas, menor actividade
antioxidante do que o - tocoferol dos leos em que mais abundante, mas, por outro lado,
o leo de girassol apresenta maior actividade em vitamina E do que os leos onde
predomina a forma tocoferol (Grompone, 2005).
Quadro III: Composio nutricional mdia do leo de girassol (valores por 100 g).
Valores nutricionais por 100 g
Energia 884 kcal
Hidratos de carbono 0 g
Gordura 100 g
Saturada 10,3 g
Monoinsaturada 19,5 g
Polinsaturada 65,7 g
Protena 0 g
Vitamina E 41,08 mg
Vitamina K 5,4 g
Adaptado de Grosvenor & Smolin, 2002; Karleskind, 1996.
Para alm do leo de girassol rico em cido linoleico, existem hoje disponveis no mercado
outros tipos de leo de girassol (Karleskind, 1996):
leo de girassol com alto teor de cido linoleico (leo de girassol tradicional);
leo de girassol com elevado teor de cido oleico (aproximadamente 82 % de cido
oleico);
leo de girassol com teor mdio de cido oleico (aproximadamente 69 % de cido
linoleico).
As variaes nos perfis de cidos gordos so fortemente influenciadas tanto por factores
genticos da cultura, como pelo clima, sendo que se justifica o aparecimento deste tipo de
leos de girassol modificados de forma a aumentar a estabilidade oxidativa do mesmo -
diminuindo o contedo em cidos gordos polinsaturados e aumentando os monoinsaturados
- mantendo o baixo nvel de gordura saturada (Quadro IV) e a riqueza em vitamina E.
-
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Quadro IV: Comparao da composio em cidos gordos de leo de girassol tradicional e leo de
girassol com elevado teor em cido oleico.
cido gordo
Composio (%)
leo de girassol
tradicional
leo de girassol com elevado teor em
cido oleico
cido Palmtico (C16:0) 7 3
cido Esterico (C18:0) 4 5
cido Linoleico (C18:2) 70 9
cido Oleico (C18:1) 16 83
cido Linolnico (C18:3) Pequenas quantidades Pequenas quantidades
Adaptado de Karleskind, 1996.
O leo de girassol , assim, uma fonte importante de cidos gordos essenciais e de vitamina
E, que pode ser utilizado a frio directamente sobre os alimentos, em molhos para saladas,
maionese, entre outros. Entra ainda na composio de numerosas margarinas e cremes
vegetais de barrar, em combinao com outros componentes de ponto de fuso mais
elevado e na produo de produtos de panificao e de conservas, tendo em conta que o
seu teor de gordura saturada mais baixo do que o de leos de milho ou soja, por exemplo.
Tambm pode ser utilizado como leo de fritura, em especial as variedades ricas em cido
oleico, cuja estabilidade s alteraes pelo aquecimento superior das variedades com
teores elevados de cido linoleico.
II.5. A soja
II.5.1. A cultura da soja
A soja (Glycine max), originria do leste Asitico, pertencente famlia Fabaceae, uma
leguminosa rica em protena, que cultivada para alimentao humana e animal e ainda
para a produo de biodiesel. Esta leguminosa foi durante muito tempo um alimento
desconhecido, excepto para segmentos muito especficos da populao - por exemplo, os
vegetarianos - no entanto, hoje amplamente usada na alimentao humana, quer na forma
de bebida (mais conhecida como leite de soja), quer na forma de tofu ou como ingrediente
de sumos de fruta e iogurtes.
A soja uma planta anual, cultivada nos meses mais quentes - com temperaturas entre os
20 e 40 C - sendo uma cultivar muito rentvel, visto que uma planta muito resistente a
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parasitas. A altura desta leguminosa pode variar entre os 20 centmetros e os 2 metros; as
vagens, caules e folhas esto cobertos de pequenos plos castanhos ou cinzentos e as
folhas so trifoliadas, com trs a quatro folhetos por cada folha. As flores frteis nascem na
axila da folha e podem possuir cor branca, rosa ou roxa, sendo que, antes das sementes
atingirem a maturidade, caem as folhas. O fruto, que cresce em aglomerados de trs ou
quatro, uma vagem peluda de 3 a 8 centmetros e contm cerca de duas a quatro
sementes no seu interior. A semente da soja possui um invlucro duro, resistente gua e
com funo de proteco da mesma, podendo este possuir vrias cores, incluindo preto,
castanho, azul, amarelo e verde. A semente constituda por aproximadamente 40 % de
protena, 21 % de leo, 34 % de hidratos de carbono e 5 % de cinzas (Wolf & Cowan, 1975).
A cultura da soja teve a sua origem no leste Asitico, onde possuiu um importante papel
como parte da dieta das populaes durante sculos. No inicio do sculo XVIII esta cultura
foi introduzida na Europa e em 1765 nas colnias britnicas da Amrica do Norte, onde foi
inicialmente cultivada para forragem. No entanto, apenas em 1910 a cultura da soja ganhou
a devida importncia alimentar fora do continente Asitico, sendo que na Amrica foi
considerada apenas um produto industrial, at 1920, altura em que comeou a ser
considerada mais importante a nvel alimentar (Wolf & Cowan, 1975). Actualmente os
maiores produtores de soja a nvel mundial so os Estados Unidos da Amrica, Brasil e
Argentina (Figura 7), tendo, entre 1970 e 2007, os dois ltimos vindo a aumentar a produo
desta leguminosa, relativamente aos Estados Unidos da Amrica. A produo mundial desta
semente em 2009/2010 foi de aproximadamente 260 milhes de toneladas (The AOCS Lipid
Library, 2011).
Figura 7: Principais pases produtores de soja (dados de 2009/2010).
Adaptado de The AOCS Lipid Library, 2011.
35%
27%
21%
6% 3% 3% 1%
4% EUA
Brasil
Argentina
China
ndia
Paraguai
Canad
Outros
-
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A soja considerada uma fonte completa de protena, pois contem quantidades
significativas de todos os aminocidos essenciais, que tm necessariamente de ser
fornecidos ao organismo humano, visto que este no possui capacidade de os sintetizar.
Para alm disto, esta leguminosa e os seus derivados, ricos em isoflavonas, desempenham
um papel importante na atenuao ou tratamento dos sintomas associados menopausa
(calores, afrontamentos, dores articulares, aumento de peso, etc.). O seu elevado teor de
fibra de extrema importncia para o trnsito intestinal e para evitar picos de glucose no
sangue, visto que retarda a absoro de acares, sendo extremamente benfico para
diabticos. Para indivduos com estmago sensvel, a soja pode no ser tolerada, devendo-
se, neste caso, optar pelos derivados fermentados, sendo que a fermentao leva a um
aumento do teor de vitamina B12, que quase exclusiva de alimentos animais, pelo que,
este tipo de alimento essencial para uma dieta vegetariana (Silva, 2001; Wolf & Cowan,
1975).
II.5.2. leo de soja
As sementes da soja podem ser processadas de variadas maneiras, originando refeies de
soja, farinha, leite de soja, tofu, protena vegetal texturizada usada na preparao de vrios
alimentos vegetarianos, lecitina de soja e leo de soja. No entanto, a maioria da cultura
desta leguminosa destina-se produo do correspondente leo vegetal, resultando da
extraco do mesmo uma pasta com elevado teor proteico, que utilizada para alimentao
animal. Apenas uma pequena quantidade do cultivo da soja destinado ao consumo
humano directo (Silva, 2001).
A produo de leo de soja altamente dependente do mercado existente para o respectivo
bagao e/ou produtos base de gro integral, comparativamente com os outros leos
vegetais. A importncia da protena de soja tem conduzido a elevadas produes de leo de
soja, apesar deste ter um elevado nvel de cidos gordos polinsaturados, que o tornam
susceptvel oxidao e consequentemente promove o desenvolvimento de odores e
sabores estranhos, bem como um elevado contedo em fosfatdeos, que necessitam de ser
removidos, mas que constituem uma importante fonte comercial de lecitina. Uma
possibilidade em questo para a resoluo deste obstculo passa pelo melhoramento
gentico da cultura da soja, com a finalidade de obter sojas do tipo oleico, que representam
uma gordura mais estvel em termos de oxidao (Silva, 2001).
-
Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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Os maiores produtores e consumidores de leo de soja, a nvel mundial, so os Estados
Unidos da Amrica, China, Brasil e Argentina, sendo que a Europa consome pouco mais do
que aquilo que produz (Figura 8). Segundo dados de 2009/2010, tanto a produo como o
consumo mundial deste leo aproxima-se das 38 milhes de toneladas (The AOCS Lipid
Library, 2011).
Figura 8: Principais produtores e consumidores de leo de soja (dados de 2009/2010).
Adaptado de The AOCS Lipid Library, 2011.
A semente da soja possui aproximadamente 20 % de leo, que um dos mais consumidos
a nvel mundial, exceptuando apenas o leo de palma (Carvalho, 2010). O leo de soja
bruto constitudo tipicamente por 96 % de triglicridos, 2 % de fosfolpidos, 1,6 % de
matria insaponificvel (maioritariamente esteris e tocoferis), 0,5 % de cidos gordos
livres, bem como, pequenas quantidades de pigmentos carotenides, sendo que, aps
refinao do leo, a fraco no triglicerdica fica reduzida a menos de 1 % (Silva, 2001). A
composio em cidos gordos do leo de soja depende da variedade e das condies de
cultura, mas uma composio tpica ser de 10 - 18 g de gordura saturada, 17 - 26 g de
monoinsaturada e 54 - 72 g de polinsaturada, por cada 100 g de leo de soja. Os cidos
gordos insaturados maioritrios no leo de soja (Quadro VI) compreendem 4 a 10% de cido
-linolnico (C18:3), 50 a 62 % de cido linoleico (C18:2) e 17 a 26 % de cido oleico
(C18:1). Contm ainda cidos gordos saturados aproximadamente 2 a 5 % de cido
esterico (C18:0) e 8 a 13 % de cido palmtico (C16:0) que so cidos gordos saturados
de cadeia longa (Karleskind, 1996).
0
2
4
6
8
10
12
Pro
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sum
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Produo
Consumo
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Quadro V: Composio nutricional mdia do leo de soja (valores por 100 g).
Valores nutricionais por 100 g
Energia 886 kcal
Hidratos de carbono 0 g
Gordura 98,5 g
Saturada 15,5 g
Monoinsaturada 22,1 g
Polinsaturada 55,6 g
Protena 0 g
Vitamina E 16 mg
Adaptado de Grosvenor & Smolin, 2002; Karleskind, 1996.
O leo de soja possui aplicaes alimentcias diversificadas tais como leo de cozinha,
tempero de saladas, produo de margarinas, gordura vegetal, maionese, entre outras. Uma
vantagem do leo de soja relativamente aos outros leos vegetais o seu baixo preo
aliado excelente qualidade. Para alm disto, os bagaos resultantes da extraco do leo
de soja so ricos em protena e por isso so procurados como suplemento proteico, no s
para raes animais, mas tambm como suplemento proteico vegetal na alimentao
humana, que , a nvel mundial, muito pobre em protenas de origem vegetal (Silva, 2001).
Quadro VI: Composio tpica em cidos gordos do leo de soja.
cido gordo Composio (%)
cido Palmtico (C16:0) 8 13
cido Esterico (C18:0) 2 5
cido Linoleico (C18:2) 50 62
cido Oleico (C18:1) 17 26
cido Linolnico (C18:3) 4 - 10
Adaptado de Karleskind, 1996.
O facto do leo de soja ser rico em gorduras polinsaturadas, torna-o importante como fonte
de cidos godos essenciais cido linoleico e linolnico que possuem como funo a
proteco das artrias da deposio do colesterol, facilitam ainda o processo digestivo e
promovem a absoro de vitaminas lipossolveis (A, D, E, K) (Guin & Henriques, 2011).
-
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II.6. Modo de produo de um leo vegetal
Os leos vegetais podem ter origem na polpa dos frutos ou em sementes oleaginosas,
sendo que, os mtodos de extraco de um leo variam consoante a matria-prima de
partida, tendo em conta que as sementes podem ser armazenadas, enquanto a polpa de
frutos necessita de ser imediatamente processada, para evitar decomposio lipdica, que
se inicia imediatamente aps a colheita.
No entanto, a maioria dos leos vegetais obtido a partir de sementes oleaginosas por
processos de extraco, que originam um leo bruto, o qual sofre posteriormente refinao.
Este processo pode dividir-se em trs blocos com vrias etapas (Freire, 2002):
Pr-tratamentos: seleco e limpeza das sementes, secagem, descasque, triturao
e cozedura;
Obteno do leo: extraco, eliminao de solventes;
Refinao: desgomagem, neutralizao, branqueamento e desodorizao.
Relativamente etapa de pr-tratamento h a salientar que antes de se proceder
extraco do leo necessrio averiguar a qualidade das sementes e a rentabilidade do
processo. Os aspectos da colheita, armazenamento e manuseamento de oleaginosas so
factores importantes a ponderar na avaliao do seu valor comercial. Material estranho, tal
como folhas verdes, sementes imaturas, insectos, pigmentos, humidade e temperatura
podem provocar oxidao e deteriorao da matria-prima.
Aps a colheita, as sementes oleaginosas so sujeitas a um processo de secagem, o que
permitir um armazenamento prolongado, com o mnimo de deteriorao. Procede-se em
seguida remoo de impurezas recorrendo para tal a aspiradores, peneiras e ims. Este
um passo de extrema importncia para a obteno de um leo de elevada qualidade e
tambm para prevenir que ocorram danos nos equipamentos. Aps a eliminao de
impurezas, muitas sementes necessitam de ser descascadas, de que exemplo, as
sementes de girassol, sendo que, este passo serve para aumentar a capacidade de
extraco. Em seguida procede-se cozedura, um passo importante na inactivao de
enzimas lipolticas ou outras indesejveis e para promover o rompimento da estrutura da
clula (Freire, 2002).
O passo seguinte aps o pr-tratamento das sementes a obteno propriamente dita
do leo, sendo que, a extraco, na maioria dos casos, se realiza mediante presso,
-
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seguida de extraco com um solvente orgnico. Nesta segunda extraco tritura-se o
resduo, seca-se e submete-se a uma extraco por percolao, habitualmente em
contracorrente. A mistura solvente/leo separa-se por destilao com recuperao de
solvente. Um dos solventes permitidos e dos mais usados o hexano, que, apesar de ser
inflamvel, menos txico do que os outros possveis solventes. O bagao resultante do
processo de remoo de solvente destinado alimentao animal (Freire, 2002).
O produto obtido por presso e extraco das sementes oleaginosas um leo bruto, que
contm 10 a 15 % de impurezas, principalmente cidos gordos livres e fosfolpidos, que so
posteriormente eliminados atravs de um processo de refinao. necessria a eliminao
destes compostos, pois podem conferir sabor, cheiro e aparncia desagradveis e diminuir a
estabilidade do produto final. A refinao engloba quatro processos (Freire, 2002):
a) Desgomagem: uma etapa que visa remover fosfatdios que, devido ao seu poder
emulsionante, conduziriam a perdas de leo durante o processo de refinao. Na
desgomagem procede-se hidratao dos fosfatdios usando solues aquosas de
cido fosfrico ou ctrico a 60 80 C. Os fosfatdios tornam-se insolveis no leo, sendo
removidos por centrifugao ou filtrao.
b) Neutralizao: a segunda etapa do processo de refinao, sendo necessria pelo facto
de os leos brutos possurem teores elevados de cidos gordos livres, que um risco
acrescido de deteriorao oxidativa do leo em questo. Uma colheita cuidada e um
armazenamento adequado das sementes so muito importantes para a obteno de um
leo bruto com um teor em cidos gordos livres reduzido. Estes compostos provocam
odores desagradveis, irritao na lngua e garganta, pelo que, tm de ser removidos
para que leo se torne edvel. Para a remoo dos cidos gordos livres, os leos so
tratados com hidrxido de sdio (NaOH) ou potssio (KOH) a quente. Os cidos gordos
precipitam na forma de sabo e podem ser eliminados por adio de gua e
decantao/centrifugao. Na soluo alcalina tambm podem ser eliminadas outras
impurezas como protenas, fosfolpidos e sais minerais.
c) Branqueamento: o seu principal objectivo a remoo dos compostos corados
indesejveis presentes nos leos brutos ou parcialmente refinados. O mtodo baseia-se
na oxidao/absoro de pigmentos, recorrendo-se para tal a terras ou carbono
activados, o que origina um produto sem cor. Nesta fase podem ainda ser eliminados
perxidos, ies de metais pesados, aflotoxinas e alguns pesticidas.
d) Desodorizao: normalmente o ltimo passo na refinao de leos. Consiste
basicamente em eliminar algumas substncias, no eliminadas nas fases anteriores e/ou
resultantes de degradaes ocorridas ao longo do processo de refinao, que produzem
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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odores desagradveis, como aldedos, cetonas ou resduos de cidos gordos livres.
Recorre-se para tal a destilao a presso reduzida e temperaturas prximas de 200 C,
devendo evitar-se aquecimentos prolongados que podem originar polimerizao. A
remoo destas substncias assegura a estabilidade do produto, garantindo-lhe um
perodo de vida aceitvel.
Em geral no se quantificam com rigor as caractersticas do leo aps cada etapa de
refinao, no entanto, imprescindvel um controlo eficaz de todas as operaes unitrias,
de modo a satisfazer as especificaes impostas por lei, para cada tipo de leo. As
caractersticas finais do leo refinado so avaliadas com base em anlises fsico-qumicas e
organolpticas, recorrendo-se, para tal a um painel de provadores.
A extraco recorrendo a hexano continua a ser uma questo problemtica no
desenvolvimento da indstria dos leos. O hexano usado comercialmente no n-hexano
puro, mas uma fraco do petrleo, que consiste numa mistura de hidrocarbonetos
saturados com seis tomos de carbono, da qual o n-hexano pode estar na percentagem de
50 a 90 % em volume (iso-hexano e metilciclopentano costumam estar presentes em
quantidades apreciveis). No controlo de qualidade do solvente deve ter-se em ateno que
o ponto de ebulio no pode ser inferior a 65 C, no deve conter enxofre (produz odores
indesejveis e cria problemas na refinao e hidrogenao) e os teores em benzeno e
outros compostos aromticos devem ser baixos, dada a sua toxicidade. As principais
desvantagens do hexano relacionam-se com a alta inflamabilidade e dependncia do
petrleo como matria-prima (Freire, 2002).
Para o objectivo deste trabalho a implementao de um mtodo para a determinao de
contaminao por leo mineral, em leo de girassol importante saber o modo de
produo de um leo, visto que, nesta etapa que, mais provavelmente, o leo de girassol
pode ser contaminado atravs do contacto com hexano impuro.
II.7. leo mineral
O leo mineral, tambm chamado de parafina lquida, vaselina lquida ou leo branco, um
produto secundrio derivado da destilao do petrleo no processo de produo de
gasolina, sendo, consequentemente, produzido em grandes quantidades e logo, um produto
de baixo custo. Caracteriza-se por ser um leo transparente, incolor e quimicamente quase
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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inerte, composto essencialmente por alcanos - tipicamente entre 15 e 40 carbonos - e
parafinas cclicas (Karasek et al, 2010).
II.7.1. Aplicaes do leo mineral
As possibilidades de utilizao deste leo so diversas:
como leo de refrigerao e isolamento de transformadores elctricos;
para transporte e armazenamento de metais alcalinos (evitando a reaco destes com a
humidade atmosfrica);
na rea medicinal, como laxante;
como hidratante em cremes e loes;
como auxiliar tecnolgico (por exemplo, como lubrificante);
na forma de emulso (numa mistura de gua, sabo e leo mineral) no combate a
pulges e colchonilhas em plantas, ou seja, como produto fitossanitrio, sendo este
classificado ao nvel ecotoxicolgico como isento, ou seja, no apresenta problemas ao
nvel ambiental e para a sade humana, podendo mesmo ser usado em agricultura
biolgica;
como aditivo alimentar (por exemplo, como agente de revestimento).
Devido a esta diversidade de aplicaes, este leo produzido em dois graus de pureza:
em grau tcnico e em grau medicinal ou grau alimentar, sendo este ltimo uma fraco do
leo mineral ao qual foram extrados, com recurso a solventes, os hidrocarbonetos
aromticos e subsequentemente sujeito a hidrogenao para converter o resduo de
hidrocarbonetos aromticos em hidrocarbonetos saturados.
II.7.2. leo mineral em alimentos
A presena de hidrocarbonetos de origem mineral em vrios alimentos conhecida desde o
incio de 1990. So exemplos disso, as nozes, gros de caf, arroz e outros alimentos que
so vulgarmente transportados e armazenados em embalagens de sisal e juta, que
possuem frequentemente contaminao por leo mineral, libertado das fibras lubrificadas.
Este lubrificante das fibras no de grau alimentar, pelo que, possui elevadas quantidades
de hidrocarbonetos aromticos e poliaromticos. Outro exemplo, compreende salame,
bombons, mel e outros produtos que entram em contacto com materiais de embalagem
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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contendo leo mineral, como o caso de papel encerado, caixas revestidas com papel
encerado ou latas revestidas de parafina. Tambm o po, biscoitos e outros produtos de
padaria podem aparecer contaminados com hidrocarbonetos de origem mineral
provenientes da utilizao de leo mineral como agente antiaderente, ou seja, para facilitar o
desenformar dos produtos de padaria (Fiorini et al, 2008; Karasek et al, 2010; Moret et al,
1997). Alimentos secos para bebs e cereais podem apresentar este tipo de contaminao
resultante da migrao dos componentes mais volteis, da mistura que se designa leo
mineral, do papel reciclado de que feita a cartonagem ou das impresses feitas na mesma
- uma vez que, as tintas usadas para ilustrar as cartonagens que embalam os alimentos so
uma mistura de componentes que compreendem, entre outros, produtos derivados do leo
mineral de elevado ponto de ebulio (Droz & Grob, 1997; Vollmer et al, 2011). Os vegetais
tambm podem apresentar este tipo de contaminao proveniente de poluio ambiental ou
de resduos de formulaes de pesticidas (Fiorini et al, 2008).
No entanto, a contaminao com hidrocarbonetos de origem mineral nunca havia sido
considerada perigosa para a sade at ao incidente, em 2008, das 100 000 toneladas de
leo de girassol proveniente da Ucrnia contaminado com elevadas concentraes de leo
mineral, tendo em conta que dentre as vrias toneladas contaminadas, existia leo de
girassol bruto contaminado com at 7000 mg/kg e leo de girassol refinado com 2000
mg/kg. A provenincia desta contaminao elevadssima nunca chegou a ser confirmada,
mas as autoridades suspeitam de fraude, com a adio intencional de leo mineral ao leo
de girassol (Biedermann & Grob, 2009).
A contaminao de leo de girassol por leo mineral pode ocorrer em trs situaes
distintas, sendo, na maioria dos casos, difcil rastrear a origem de tal contaminao:
Contaminao com resduos de produtos fitossanitrios, o que uma situao rara, visto
que, o pesticida que contm na sua formulao leo mineral (chamado leo de vero)
considerado isento em termos toxicolgicos, pelo que, no persiste por perodos longos
nos produtos onde aplicado e, assim, considera-se que no perigoso para a sade;
Contaminao durante a etapa de extraco do leo, o que pode ocorrer por utilizao de
n-hexano (solvente de extraco) contaminado ou por fugas de leo dos equipamentos
ou ainda por contacto do leo vegetal com leo utilizado para efeitos de limpeza e
manuteno desses mesmos equipamentos, sendo esta a justificao mais comum para
o aparecimento deste tipo de contaminao;
Deposio de leo mineral nas sementes de girassol a partir do ar, ou seja, resultante de
poluio, que pode ter um contributo extremamente elevado e importante para a
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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contaminao de produtos alimentcios com leo mineral, resultante de gases expelidos
do tubo de exausto de motores a diesel, poeiras de estradas pavimentadas, gases
libertados de motores a gasolina, fumos da operao de transformar industrialmente
carnes e fumaa da queima de madeira - listados por ordem de importncia (Neukom et
al, 2002).
II.7.3. Toxicidade do leo mineral
Os hidrocarbonetos de origem mineral podem entrar em contacto com o corpo humano, no
s pela via alimentar, mas tambm atravs de cosmticos, produtos farmacuticos e pelo
ambiente.
A nvel toxicolgico, o leo mineral de grau alimentar ou medicinal geralmente seguro para
o contacto e consumo por parte do ser humano e foi aprovado pela Food and Drug
Administration - FDA o seu uso ao nvel de cuidados pessoais e produtos cosmticos, assim
como aditivo alimentar, possuindo uma dose de ingesto diria aceitvel (ADI) de 10 mg/kg
de peso vivo (Fiorini, 2010). Assim, o leo mineral de grau alimentar tambm conhecido
como leo mineral branco no constitui um perigo toxicolgico, podendo mesmo ser usado
como aditivo alimentar (que declarado no rtulo dos alimentos em que utilizado como
tal), no entanto, uma presena inesperada de leo mineral num dado alimento deve ser
sempre considerado um alerta, visto no existir informao acerca da provenincia e
composio desse leo mineral.
Ainda relativamente investigao da toxicidade do leo mineral, foi efectuado um estudo
pela Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA) para avaliao
toxicolgica do mesmo, sendo, para tal, os derivados do leo mineral agrupados em classes
(Grundbck et al, 2010):
O leo mineral considerado de baixa toxicidade desde que seja altamente refinado ou
um leo branco (leo de grau alimentar), ou seja, constitudo exclusivamente por
hidrocarbonetos saturados e com massa molecular suficientemente elevada para que a
absoro por parte do organismo seja o mais baixa possvel (massa relativa de pelo
menos 480 Da e menos de 5 % de componentes abaixo dos C25), possuindo neste caso,
um nvel dirio de ingesto aceitvel de 10 mg/kg de peso vivo;
leos minerais com baixas massas moleculares e mais de 5 % de componentes abaixo
dos C25, possuem um ADI 1000 vezes mais baixo, ou seja 0,01 mg/kg de peso vivo.
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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Neste estudo (Grundbck et al, 2010) verificou-se que a maior parte das contaminaes
contabilizadas pertence segunda classe considerada, logo, assumindo um peso de 60 kg e
o consumo dirio de 1 kg de alimentos contaminados com leo mineral deste tipo, o limite
legal ser de 0,6 mg por kg de alimento. No entanto, estes clculos no tm em conta que,
segundo este mesmo estudo, a maior parte dos leos minerais que contaminam os
alimentos no so de grau alimentar e, portanto, contm compostos aromticos. Assim,
tendo em conta os dados dos estudos toxicolgicos efectuados pela JECFA neste mbito,
verifica-se que nem um valor de 0,6 mg/kg para o limite de contaminao por leo mineral
no prprio para fins alimentares, pode no ser considerado seguro.
O que se verifica ao nvel de estudos toxicolgicos (Grundbck et al, 2010; EFSA, 2009)
que se tem negligenciado o facto de o leo mineral ser extremamente importante em termos
de toxicidade para o organismo humano, visto que um dos contaminantes alimentares
mais encontrados nos diversos alimentos, normalmente com origem desconhecida, e um
dos maiores contaminantes no organismo humano, tendo uma pessoa em mdia 1 g de
parafinas minerais acumulada na gordura, atingindo em casos extremos as 10 g (Concin et
al, 2008; Fiorini et al, 2008; Grundbck et al, 2010).
Estimativas conservadoras indicam que o consumo dirio de parafinas minerais, a nvel
Europeu, oscila entre 0,39 e 0,91 mg por kg de peso vivo, por dia, para um adulto e na
ordem de 0,75 a 1,77 mg por kg de peso vivo, por dia, para uma criana (Tennant, 2004),
sendo as fontes de tal exposio o mais variadas possvel, dadas as aplicaes do leo
mineral a nvel alimentar. Estes valores correspondem a uma concentrao mdia de leo
mineral nos alimentos de 25 a 60 mg/kg, tendo como referncia o consumo de um
quilograma de alimento por dia. O organismo humano tem ainda contacto com
hidrocarbonetos minerais atravs de cosmticos e medicamentos, no entanto, para este tipo
de produtos no existem estudos sobre exposio.
Tendo em conta a informao disponvel em termos de estudos toxicolgicos, efectuados
com animais (EFSA, 2009; Nash et al, 1996) no existem evidncias que sugiram que a
exposio tpica crnica ou sub-crnica a leo mineral branco, ou seja, altamente refinado,
produza mudanas significativas ou alteraes histopatolgicas ao nvel dos rgos internos
ou nos locais de aplicao. Analogamente, no existe evidncia de que exposio tpica
crnica a leos minerais brancos produza qualquer efeito adverso ou diminua o tempo de
vida dos animais onde tais estudos foram efectuados. A preocupao relativamente
exposio a leos minerais est amplamente relacionada com os resultados obtidos num
estudo com ratos, onde a ingesto durante noventa dias de leo mineral produziu
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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granulomas ao nvel do fgado e histiocitose nos linfonodos mesentricos, sem qualquer
toxicidade clnica evidente, sendo que se verificou posteriormente, por reproduo do estudo
com outras espcies, que estes sintomas s acontecem especificamente nesta espcie.
Para alm disso, a importncia das alteraes histopatolgicas, verificadas nessa espcie
isoladamente, so questionveis, dada a ausncia de toxicidade clnica ou impacto
mensurvel no bem-estar ou esperana mdia de vida do animal (EFSA, 2009; Nash et al,
1996).
Em estudos de toxicidade a curto prazo do leo mineral toxicidade aguda (EFSA, 2009),
foram efectuados testes em ratos utilizando uma grande diversidade de tipos de leos
minerais, desde leos de baixa viscosidade, at elevada viscosidade. Verificou-se que os
leos de maior viscosidade no induziram qualquer efeito histopatolgico; os leos de mdia
viscosidade no produziram efeitos adversos, apesar de existirem evidncias da presena
de hidrocarbonetos minerais no fgado; relativamente ao leo de mais baixa viscosidade
verificaram-se efeitos ao nvel do fgado e dos nodos linfticos, consistindo as alteraes
num aumento do peso dos rgos, presena de hidrocarbonetos minerais no fgado e
alteraes granulomtricas no mesmo, assim como aparecimento de histiocitose. Assim, o
grau de toxicidade aguda do leo mineral est inversamente relacionado com viscosidade
do mesmo. Estes estudos permitiram calcular um NOAEL (No Observed Adverse Effect
Level) de 2000 mg/kg de peso vivo/dia para leos de alta e mdia viscosidade.
Algumas consideraes farmacodinmicas importantes aps exposio oral ou tpica a leo
mineral possuem impacto na deposio e potencial de alteraes patolgicas atribudas a
essa administrao de leo. razovel assumir que, aps administrao oral, os
hidrocarbonetos minerais absorvidos pelo tracto gastrointestinal so transportados para o
fgado pela circulao normal, sendo assim o fgado exposto a concentraes relativamente
elevadas de hidrocarbonetos minerais, podendo resultar em alguma acumulao, como uma
resposta fisiolgica natural. Similarmente, os linfonodos mesentricos estaro expostos
inicialmente a quantidades relativamente elevadas de hidrocarbonetos minerais aps uma
dose de ingesto oral, comparativamente com outros tecidos mais distantes. Tambm, dada
a absoro limitada de leos minerais por parte da pele, torna-se pouco provvel, mesmo
que sob condies extremas, que uma quantidade significativa de material esteja disponvel
para distribuio por outros tecidos, como por exemplo, os linfonodos mesentricos.
Ao nvel do leo de girassol ficou estabelecido, pelo Standing Committee on The Food Chain
and Animal Health e pela Comisso Europeia, em 2008, aquando do episdio de leo de
girassol Ucraniano contaminado, um limite mximo de 50 mg/kg de leo de mineral, tanto
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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em leo de girassol bruto, como em leo de girassol refinado (Fiselier & Grob, 2009;
Karasek et al, 2010).
II.8. Cromatografia gasosa
Para a determinao de hidrocarbonetos alifticos saturados com origem em leo mineral, o
mtodo especificado neste trabalho, assim como a norma ISO relativa a esta determinao,
utilizam cromatografia gasosa em coluna capilar com injeco on column e detector FID.
A cromatografia a designao dada a uma tcnica de separao, que permite separar e
detectar analitos especficos em misturas complexas e diversificadas. Esta tcnica baseia-se
na interaco diferenciada dos analitos a separar entre uma fase mvel e uma fase
estacionria, podendo definir-se diferentes tipos de cromatografia consoante o tipo destas
duas fases. Quando a fase mvel um gs, esta chama-se cromatografia gasosa, podendo
ainda ser classificada de cromatografia gs-slido, quando a fase estacionria um slido e
cromatografia gs-lquido quando a fase estacionria um lquido.
Na cromatografia gs-lquido a separao tem lugar numa coluna empacotada com um
material poroso, inerte sobre o qual o lquido, constituindo a fase estacionria se encontra
depositado sob a forma de um fino filme lquido. A amostra injectada no bloco de injeco
aquecido onde se evapora ou mais especificamente, neste caso, directamente na coluna
cromatogrfica (injeco on column) arrastada ao longo da coluna pelo gs, que
constitui a fase mvel. Durante este perodo, as molculas dos componentes, passam parte
do tempo na fase estacionria e outra parte na fase mvel, sendo assim, arrastadas atravs
do percurso cromatogrfico. O atraso relativo sofrido no percurso por cada componente,
leva a que surjam no final da coluna, a tempos diferentes. O tempo total de reteno vai ser
a soma do tempo que as molculas passam exclusivamente na fase mvel, com o tempo de
interaco com a fase estacionria (Dias, 2009).
A estrutura tpica de um cromatgrafo gasoso encontra-se esquematizada na Figura 9.
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Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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Figura 9: Esquematizao da estrutura de um cromatgrafo gasoso.
Adaptado de Kvasnicov & Balinov, 2006.
Os componentes de um cromatgrafo gasoso (Dias, 2009; Skoog et al, 1998)
compreendem:
Reservatrio de Gs
O gs de arraste deve ser inerte de modo que no interaja nem com a amostra, nem com a
fase estacionria. Os gases mais comummente usados so hlio, azoto e hidrognio, tendo
este ltimo o inconveniente de ser explosivo. Os caudais so regulados atravs de vlvulas
redutoras de alta presso.
Injector
As amostras a analisar podem ser gasosas, lquidas ou slidas, sendo o mtodo de injeco
diferente para cada caso. Neste trabalho especificamente as amostras a analisar encontrar-
se-o no estado lquido e a injeco efectuada on column. Numa injeco on column os
compostos a analisar so introduzidos directamente dentro da coluna. A injeco
efectuada a frio e a seringa, apropriada para o efeito, entra dentro da coluna. Este modo de
injeco utilizado para compostos de peso molecular elevado, termicamente instveis.
Coluna
A coluna chamada o corao do cromatgrafo, visto que aqui que se d a separao
dos compostos de interesse. As colunas podem ser classificadas em colunas de enchimento
e colunas capilares, tendo no entanto, as primeiras, entrado em desuso. As colunas
capilares so tubos capilares normalmente com dimetros internos de 0,05 a 0,50 mm e
Azo
to
Ar
com
pri
mid
o
Hid
rog
nio
Seri
nga
Forno
Coluna
De
tect
or
FID
Electrnica do
detector,
amplificador e
interface
Injector
-
Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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com comprimentos que podem ir de 10 a 100 metros, revestidas interiormente por uma
camada muito fina de fase lquida. Estas colunas so mais eficientes que as colunas
empacotadas, obtendo-se melhores separaes a baixa temperatura e para menores
intervalos de tempo.
Detector
Existem vrios tipos de detectores, como detectores de ionizao por chama (FID), de
condutividade trmica, captura electrnica ou fotmetro de chama, no entanto, porque este
mtodo usa um detector FID, ser o detector de ionizao por chama o abordado nesta
anlise.
O design de um detector varia de fabricante para fabricante, no entanto, os princpios em
que se baseia a construo de um detector deste tipo so sempre os mesmos (Figura 10). O
eluente que sai da coluna cromatogrfica entra no forno do detector, sendo este forno
necessrio para assegurar que logo que o eluente deixa a coluna no abandona a fase
gasosa, o que levaria deposio do mesmo na interface entre a coluna e o detector,
resultando em perda de eluente e erros ao nvel da deteco. medida que o eluente viaja
ao longo do detector, primeiramente misturado com hidrognio e depois com o oxidante. A
mistura eluente/combustvel/oxidante continua a viajar ao longo do detector at fonte da
chama onde existe uma tenso positiva, que serve para afastar os ies de carbono
reduzidos, criados na chama num processo de pirlise. Os ies criados so ento repelidos
em direco aos pratos colectores, que esto conectados a um ampermetro extremamente
sensvel que vai detectar o choque dos ies com esses pratos, passando esse sinal depois
para o amplificador, em seguida para o integrador e depois ainda para o sistema de exibio
de resultados. Os produtos da chama so no final do processo expelidos para fora do
detector pela porta de escape (Skoog et al, 1998).
-
Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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Figura 10: Esquematizao da estrutura de um detector de ionizao por chama.
Adaptado de http://www.chromatography-online.org/Chrial-GC/The-Flame-Ionization-Detector-FID.html.
Assim, o funcionamento de um sistema de cromatografia gasosa com injeco on column e
detector FID pode resumir-se da seguinte forma: as amostras so introduzidas no incio da
coluna cromatogrfica por intermdio de uma seringa apropriada para injeco directa na
coluna. A amostra arrastada pela fase mvel (gs de arraste) ao longo da coluna
cromatogrfica. Pela aplicao de um programa de rampas de temperaturas, os diferentes
compostos da mistura so separados. Estes compostos saem da coluna dissolvidos no gs
de arraste e passam pelo detector FID, onde iro sofrer pirlise temperatura da chama de
ar, pela aco de hidrognio, produzindo ies e electres que conduzem electricidade e
podem ser detectados (Dias, 2009).
Um aspecto a salientar o facto de nesta determinao de hidrocarbonetos alifticos
saturados em leo de girassol ser necessrio um pr tratamento da amostra por
cromatografia em coluna, com gel de slica prateada, antes da anlise por cromatografia
gasosa. Tal etapa importante, visto que, a maioria dos leos vegetais contm uma elevada
quantidade de alcanos lineares, que dificultam a quantificao de parafinas minerais - que
se apresentam numa bossa por baixo dos picos correspondentes aos n-alcanos -
especialmente quando a concentrao de leo mineral presente na amostra pequena. A
Ar ou Oxignio para suportar a combusto
Isolamento
Isolamento
Conexo com o pulverizador
Hidrognio
Pulverizador electricamente isolado
Elctrodos Cilndricos Isolados
Chama
Conexo com o elctrodo
Gases de Combusto
Fase mvel da coluna capilar
-
Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa
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utilizao de gel de slica prateado permite ultrapassar esta limitao, uma vez que, retm n-
alcanos de cadeia longa (Fiorini et al, 2010; Fiselier & Grob, 2009).
A tcnica de cromatografia gasosa com deteco por FID foi a tcnica eleita para este tipo
de determinao, visto assumir-se que a resposta do detector FID constante para todos os
hidrocarbonetos alifticos e este um equipamento disponvel na maioria dos laboratrios
de anlise de alimentos. Existem, no entanto, outros tipos de tcnicas que podem ser
usadas para efectuar esta determinao permitindo diminuir o tempo de anlise,
minimizando o consumo de solvente e a manipulao da amostra, mas que, no entanto,
exigem equipamentos que no esto acessveis maioria dos laboratrios de anlises
alimentares e so extremamente caros. Exemplos de tcnicas alternativas cromatografia
gasosa com deteco por FID so sistemas que acoplam cromatografia lquida a
cromatografia gasosa (LC-GC) (Fiorini et al, 2010) ou sistemas que executam cromatografia
gasosa a duas dimenses (GC GC) (Ventura et al, 2008) ou a utilizao de cromatografia
gasosa a duas dimenses aps pr separao em cromatografia lquida de alta eficincia
(HPLC - GC GC) (Biedermann & Grob, 2009) ou ainda um sistema que acopla HPLC
evaporao de solvente HPLC GC FID (Moret et al, 1996). Claro que, sistemas mais
complexos permitem uma melhor caracterizao da mistura de compostos que se denomina
leo m