Tese de Mestrado - Ana Machado

121
  Implementação de um Método para a Determinação de Hidrocarbonetos Alifáticos Saturados em Óleo de Girassol por Cromatografia Gasosa Ana Catarina do Carmo Correia Rodrigues Machado Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Alimentar Orientador: Professor Doutor Miguel Mourato Co-orientador: Engenheira Paula Vasconcelo s Júri: Presidente:  Doutora Maria Suzana Leitão Ferreira Dias Vicente, Professora Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa. Vogais:  Doutora Maria Luísa Louro Martins, Professora Auxiliar do Institut o Superior de  Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa;  Doutor M iguel P edro de Freitas Barbosa Mourato, Professor Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa;  Licenciada Paula Maria M achado George de Vasconcelos de Azevedo e Castro, Técnica Superior do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa, na qualidade de especialista. Lisboa, 2011

description

g

Transcript of Tese de Mestrado - Ana Machado

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de

    Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol

    por Cromatografia Gasosa

    Ana Catarina do Carmo Correia Rodrigues Machado

    Dissertao para a obteno do Grau de Mestre em

    Engenharia Alimentar

    Orientador: Professor Doutor Miguel Mourato

    Co-orientador: Engenheira Paula Vasconcelos

    Jri:

    Presidente: Doutora Maria Suzana Leito Ferreira Dias Vicente, Professora Auxiliar do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa.

    Vogais: Doutora Maria Lusa Louro Martins, Professora Auxiliar do Instituto Superior de

    Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa;

    Doutor Miguel Pedro de Freitas Barbosa Mourato, Professor Auxiliar do Instituto

    Superior de Agronomia da Universidade Tcnica de Lisboa;

    Licenciada Paula Maria Machado George de Vasconcelos de Azevedo e Castro,

    Tcnica Superior do Instituto Superior de Agronomia da Universidade Tcnica

    de Lisboa, na qualidade de especialista.

    Lisboa, 2011

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    i

    Agradecimentos

    Gostaria de agradecer a todos aqueles que directa ou indirectamente contriburam para a

    realizao deste trabalho.

    Ao meu orientador, Professor Doutor Miguel Mourato e Professora Doutora Lusa Louro

    Martins pela oportunidade que me deram de realizar este trabalho, pela disponibilidade e

    apoio constantes ao longo do desenvolvimento do mesmo, pelas sugestes e tambm pela

    forma muito simptica como sempre me acolheram.

    Engenheira Paula Vasconcelos, co-orientadora deste trabalho, pela maneira como me

    acolheu no Laboratrio de Estudos Tcnicos e pela disponibilidade e abertura com que me

    cedeu todas as informaes necessrias para o desenvolvimento deste trabalho,

    contribuindo com valorosas crticas.

    A todas as pessoas que trabalham no Laboratrio de Estudos Tcnicos, mais conhecido

    como Laboratrio de Azeites do Instituto Superior de Agronomia, nomeadamente

    Engenheira Helena Alegre pelo auxlio prestado durante a execuo do trabalho prtico e

    pela disponibilidade para me ajudar nas mais variadas situaes.

    A todos aqueles, famlia, amigos e colegas, que directa ou indirectamente, deram o seu

    contributo, encorajando-me para que este trabalho tivesse sido possvel. Agradeo

    especialmente e carinhosamente Mainha e NN, que muito me apoiaram, dando-me

    nimo nos momentos mais difceis da realizao deste trabalho.

    Aos meus pais e NN um agradecimento muito especial, pois a eles devo tudo o que sou

    e tudo o que tenho, incluindo este curso.

    A todos, o meu muito obrigada.

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    ii

    Resumo

    O leo mineral um subproduto derivado da destilao do petrleo, aplicvel a nvel

    cosmtico, farmacutico e alimentar, usado como aditivo alimentar, quando de grau prprio

    para tal. No entanto, pode tambm ser considerado uma contaminao, especialmente

    importante no leo de girassol devido ao episdio das 100.000 toneladas de leo de girassol

    Ucraniano altamente contaminado. Este trabalho tem como objectivo a implementao de

    um mtodo para a determinao de hidrocarbonetos alifticos saturados em leo de girassol

    por cromatografia gasosa em coluna capilar, com injeco on column e detector FID. Para

    tal foram avaliados parmetros como linearidade, gama de trabalho, limiares analticos,

    preciso, exactido e robustez do mtodo. Os resultados mostram que o mtodo linear

    para uma gama de trabalho entre 15 e 60 mg.kg-1, com um limite de repetibilidade de 6,11

    mg.kg-1 e uma variabilidade de resultados associados ao mtodo de 0,48 mg.kg-1. O mtodo

    permite detectar e quantificar o analito a partir de 21 mg.kg-1 e 24 mg.kg-1, respectivamente.

    Face aos resultados obtidos em ensaios de recuperao e aos Z-score de 0,5 e 0,04 obtidos

    em ensaios interlaboratoriais, o mtodo exacto. Verifica-se tambm a robustez do mesmo,

    sendo um mtodo sensvel ao modo de integrao dos resultados.

    Palavras-chave: hidrocarbonetos alifticos saturados, leo mineral, leo de girassol,

    cromatografia gasosa.

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    iii

    Abstract

    Mineral oil is a by-product derived from petroleum distillation, applicable in the areas of

    cosmetics, pharmaceuticals and food, used as food additive when in the proper grade of

    purity for this propose. However, it can also be considered a contaminant, especially

    important in sunflower oil, due to the episode of the 100.000 tons of highly contaminated

    Ukrainian sunflower oil. This experimental work aims at implementing a method for the

    determination of saturated aliphatic hydrocarbons in sunflower oil by capillary gas

    chromatography with on column injection and FID detector. For such purpose parameters

    like linearity, working range, thresholds, precision, accuracy and robustness of the method

    were evaluated. The results show that the method is linear in the range between 15 and 60

    mg.kg-1, with a repeatability limit of 6,11 mg.kg-1 and a variability of results obtained by this

    method of 0,48 mg.kg-1. The method allows to detect and quantify the analyte from 21 mg.kg-

    1 and 24 mg.kg-1, respectively. Considering the results obtained in recovery tests and Z-score

    of 0,5 and 0,04 obtained in inter-laboratory tests, the method is accurate. The robustness of

    this method is also verified, although it is sensible to the way the integration is performed.

    Key - words: saturated aliphatic hydrocarbons, mineral oil, sunflower oil, gas

    chromatography.

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    iv

    Extended Abstract

    Mineral oil is a by-product derived from the distillation of petroleum, chemically inert and

    composed essentially by alkanes with between 15 and 40 carbons and cyclic paraffins, that

    can be found in a great variety of food, like nuts, grains of coffee, rice, bread and bakery

    products. The origin of this contamination is extremely diversified, highlighting the fact that

    mineral oil can be used as lubricant of fibers that make up food packaging, in pesticide

    formulation and as release agent in the area of bakery and pastry. This mixture of

    compounds can also be used as food additives as long as it is a white mineral oil, that is, a

    highly refined mineral oil from which aromatic hydrocarbons, harmful to human health, have

    been removed. Even so, the contact of mineral oil with human body can be accomplished not

    only by food products, but also through cosmetics, pharmaceuticals and due to pollution.

    However, the interaction of this set of compounds with human body has never been

    considered a health hazard, until the incident of the 100,000 tons of Ukrainian sunflower oil,

    crude and refined, contaminated with high concentrations of mineral oil. From this moment, it

    was established in the European Union that there was a need to control the quality of

    vegetable oils, especially sunflower oil imported from Ukraine, instituting that a control of the

    amount of saturated aliphatic hydrocarbons especially of mineral origin would have to be

    made, which may not exceed a maximum level of 50 mg.kg-1, both for refined and crude

    sunflower oil.

    This experimental work aims at implementing an internal method for the determination of

    saturated aliphatic hydrocarbons in sunflower oil by capillary gas chromatography with on

    column injection and FID detector. In this method, a pre-treatment of the sample in column

    chromatography is performed, using silica gel treated with silver nitrate and as eluent

    chromatography-grade n-hexane. For validation purposes some parameters were evaluated,

    including working range and linearity, analytical thresholds limits of detection and

    quantification precision through repeatability and intermediate precision, accuracy through

    recovery experiments and inter-laboratory tests as there are no certified reference materials

    for the analysis of mineral oil and the robustness of the method. The results obtained in

    these experiments show that the method is linear in the range between 15 and 60 mg.kg-1

    and has a sensitivity of 0,0309 kg.mg-1. The repeatability limit, calculated on the basis of an

    assay in repeatability conditions is 6,11 mg.kg-1 and the variability of results associated to the

    method, calculated in the basis of an assay in condition of intermediate precision with

    variation of the day of analysis, is 0,48 mg.kg-1. The method allows detection of the analyte

    from 21 mg.kg-1, but quantification can only be accomplished from 24 mg.kg-1. Given the

    results obtained in recovery experiments with recovery rates from 90 % to 110 % in an

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    v

    assessment carried out with samples of sunflower and soybean oils, both crude and refined,

    and the Z-score of 0.5 for a sample of sunflower oil and 0.04 for a soybean oil, obtained in

    inter-laboratory assays, the method is considered accurate. The robustness of the method is

    also verified, however being sensible to the way the integration is performed, it is important

    to define objective criteria to successfully complete this stage of the process. To minimize the

    possibility of introducing errors in the results, originating from the integration mode, there is a

    need for standardization of methods used to perform this determination, which can be

    achieved with the implementation of ISO guidelines that are still awaiting approval. In

    addition, it was confirmed the need to use chromatography-grade n-hexane instead just

    analytical purity, as it introduces a contamination with mineral oil in the sample that distorts

    the results upwards. In comparing the method used in this experimental work with ISO

    guidelines, which will be the basis for this determination in the future, it was found that there

    are no significant differences in the results obtained. It was verified, thus, through validation

    that this method allows the attainment of trustworthy results for the determination of

    saturated aliphatic hydrocarbons of mineral origin in sunflower oil, taking into account the

    results of the assessment of objective criteria that include the validation of a test method.

    That is, it was verified that this method allows determining whether a specific sample is within

    the legal limits in terms of food quality, thus allowing its commercialization. Although the

    method is specific to sunflower oil, there is also the possibility of applying it to other

    vegetable oils such as soybean oil, which was tested in this work in inter-laboratory trials and

    recovery tests, or even applicable to another types of food.

    As mineral oil, besides being a major contamination of human body accounting for the

    accumulation of approximately 1 g of this mixture of compounds in human body fat and in

    extreme cases of 10 g is also one of the most common contaminants found in food and

    usually with unknown origin, its control is essential, especially in food, in order to control the

    quality of ingested food. The inspection of this type of contamination becomes especially

    important since this can happen with white mineral oil, also called food grade mineral oil or

    technical grade oil, which is a mineral oil containing high amounts of aromatic hydrocarbons,

    used for technical work as lubrication and equipment maintenance and therefore not fitted for

    human consumption, what could adversely affect health of consumers, depending on the

    degree of contamination.

    Key - words: saturated aliphatic hydrocarbons, mineral oil, sunflower oil, gas

    chromatography.

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    vi

    ndice

    ndice de Figuras viii

    ndice de Quadros ix

    Lista de Abreviaturas x

    I. Enquadramento do tema 1

    II. Introduo 2

    II.1. leos e gorduras na indstria alimentar 2

    II.2. Importncia nutricional dos leos vegetais 3

    II.3. reas de aplicao dos leos vegetais 6

    II.4. O girassol 8

    II.4.1. A cultura do girassol 8

    II.4.2. leo de girassol 9

    II.5. A soja 12

    II.5.1. A cultura da soja 12

    II.5.2. leo de soja 14

    II.6. Modo de produo de um leo vegetal 17

    II.7. leo mineral 19

    II.7.1. Aplicaes do leo mineral 20

    II.7.2. leo mineral em alimentos 20

    II.7.3. Toxicidade do leo mineral 22

    II.8. Cromatografia gasosa 25

    II.9. Validao de um mtodo analtico 29

    III. Parte experimental 39

    III.1. Materiais e reagentes 39

    III.1.1. Materiais 39

    III.1.2. Reagentes 39

    III.2. Procedimento experimental 40

    III.2.1. Preparao de gel de slica prateado 40

    III.2.2. Preparao da coluna cromatogrfica de pr-tratamento 40

    III.2.3. Fraccionamento do leo 41

    III.2.4. Separao cromatogrfica 41

    III.2.5. Determinaes quantitativas 42

    III.3. Anlises efectuadas 43

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    vii

    III.3.1. Limiares analticos 43

    III.3.2. Curva de calibrao 44

    III.3.3. Repetibilidade 44

    III.3.4. Exactido 44

    III.3.5. Robustez 44

    IV. Resultados e discusso 46

    IV.1. Curva de calibrao e sensibilidade 47

    IV.2. Limiares analticos 51

    IV.3. Preciso 56

    IV.3.1. Repetibilidade 57

    IV.3.2. Reprodutibilidade 60

    IV.3.3. Preciso Intermdia 61

    IV.4. Exactido 63

    IV.4.1. Materiais de Referncia Certificados (MRC) 63

    IV.4.2. Comparaes interlaboratoriais 63

    IV.4.3. Ensaios de recuperao 67

    IV.5. Robustez 68

    V. Propostas para trabalho futuro 77

    VI. Concluses 78

    VII. Referncias bibliogrficas 81

    VIII. Anexos 87

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    viii

    ndice de Figuras

    Figura 1: Variao da produo mundial de leos vegetais (em milhes de toneladas)

    ao longo de seis anos. 3

    Figura 2: Esquema representativo da estrutura de um triglicrido. 4

    Figura 3: Evoluo da produo mundial dos principais leos vegetais, ao longo de

    35 anos. 7

    Figura 4: Produo mundial de girassol em kg/ha. 8

    Figura 5: Produo nacional de girassol. 9

    Figura 6: Principais pases de produo e consumo de leo de girassol. 10

    Figura 7: Principais pases produtores de soja (dados de 2009/2010). 13

    Figura 8: Principais produtores e consumidores de leo de soja (dados de 2009/2010). 15

    Figura 9: Esquematizao da estrutura de um cromatgrafo gasoso. 26

    Figura 10: Esquematizao da estrutura de um detector de ionizao por chama. 28

    Figura 11: Rampa de temperatura do forno, na anlise cromatogrfica de leo

    mineral. 42

    Figura 12: Correlao entre concentrao de padres de parafina e sinal obtido em

    termos de rea correspondente a leo mineral. 48

    Figura 13: Correlao entre concentrao de padres de parafina e rea

    normalizada correspondente a leo mineral. 48

    Figura 14:Exemplificao da integrao da banda larga correspondente a leo mineral

    num cromatograma referente a leo de girassol refinado. 73

    Figura 15: Exemplificao da integrao pico a pico dos hidrocarbonetos alifticos

    normais num leo para o mesmo leo de girassol refinado apresentado na Figura 13. 74

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    ix

    ndice de Quadros

    Quadro I: Composio genrica de leos alimentares. 4

    Quadro II: Teor de cidos gordos de diversos leos vegetais. 5

    Quadro III: Composio nutricional mdia do leo de girassol (valores por 100 g). 11

    Quadro IV: Comparao da composio em cidos gordos de leo de girassol

    tradicional e leo de girassol com elevado teor em cido oleico. 12

    Quadro V: Composio nutricional mdia do leo de soja (valores por 100 g). 16

    Quadro VI: Composio tpica em cidos gordos do leo de soja. 16

    Quadro VII: Parmetros de validao a avaliar conforme o tipo de ensaio. 30

    Quadro VIII: Compilao dos resultados de avaliao de qualidade do mtodo usado. 51

    Quadro IX: Resultados obtidos (em mg.kg-1) nos dez replicados para determinao

    dos limiares analticos. 52

    Quadro X: Smula dos valores obtidos para os limites de deteco e de quantificao

    pelos dois mtodos de clculo. 54

    Quadro XI: Resultados obtidos (mg.kg-1) na determinao da repetibilidade. 57

    Quadro XII: Resultados obtidos nos dez ensaios para a avaliao da preciso

    intermdia. 61

    Quadro XIII: Resultados obtidos (mg.kg-1) nos ensaios interlaboratoriais, para as

    amostras de leo de girassol refinado e leo de soja bruto. 64

    Quadro XIV: Resultados obtidos (mg.kg-1) pelo LET, na anlise de amostras de leo

    de girassol refinado e leo de soja bruto, englobadas no ensaio interlaboratorial. 66

    Quadro XV: Resultados obtidos nos ensaios de recuperao, para o estudo da

    exactido do mtodo. 68

    Quadro XVI: Resultados dos ensaios para testar a necessidade de filtrao de

    amostras com impurezas. 70

    Quadro XVII: Comparao de sistemas de integrao atravs da inspeco de

    resultados obtidos para a anlise dos limiares analticos. 72

    Quadro XVIII: Resultados da comparao entre mtodos. 75

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    x

    Lista de Abreviaturas

    ADI Admissible Dialy Intake Dose Diria de Ingesto Aceitvel

    AVC Acidente Vascular Cerebral

    EFSA European Food Safety Authority

    FDA Food and Drug Administration

    FID - Flame Ionization Detector - Detector de Ionizao por Chama

    GC - Gas Chromatography - Cromatografia Gasosa

    HPLC High Performance Liquid Chromatography Cromatografia Lquida de Alta

    Eficincia

    IRMM Institute for Reference Materials and Measurements

    JECFA Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives

    LC Liquid Chromatography Cromatografia Lquida

    LD Limite de Deteco

    LDL Low Density Lipoprotein

    LET Laboratrio de Estudos Tcnicos

    LQ Limite de Quantificao

    MRC Materiais de Referncia Certificados

    NIST National Institute of Standards and Technology

    NOAEL No Observed Adverse Effect Level

    SE Solvente Evaporation Evaporao de solvente

    VLDL Very Low Density Lipoprotein

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    1

    I. Enquadramento do tema

    Os hidrocarbonetos de origem mineral - comummente designados por leo mineral - podem

    ser encontrados numa grande variedade de alimentos, desde nozes, gros de caf, arroz,

    po e produtos de padaria e ainda nos vegetais, sendo a provenincia desta contaminao

    extremamente diversificada, destacando-se o facto de o leo mineral ser usado como

    lubrificante de fibras que compem embalagens para alimentos, em formulaes de

    pesticidas e ainda como agente antiaderente no ramo da padaria e pastelaria. Ainda assim,

    o contacto do leo mineral com o organismo humano pode ser feito no s por via de

    produtos alimentares, mas tambm atravs da cosmtica ou produtos farmacuticos ou

    ainda devido poluio. No entanto este tipo de contaminao nunca havia sido

    considerado perigoso para a sade, at ao incidente das toneladas de leo de girassol,

    proveniente da Ucrnia, contaminado com elevadas concentraes de leo mineral (em

    2008), existindo mesmo, leo de girassol bruto contaminado com 7000 mg.kg-1 e leo de

    girassol refinado com 2000 mg.kg-1 de contaminao com esta mistura de compostos. A

    partir deste momento, estabeleceu-se na Unio Europeia que havia necessidade de controlo

    da qualidade dos leos vegetais, especialmente do leo de girassol importando da Ucrnia,

    instituindo-se que deveria ser feito um controlo quantidade de hidrocarbonetos alifticos

    saturados no leo de girassol, no devendo estes exceder um nvel mximo de 50 mg.kg-1,

    tanto para leo de girassol refinado como bruto.

    Assim se justifica o aparecimento de mtodos de ensaio para a determinao de

    hidrocarbonetos alifticos saturados em leos vegetais, com o intuito de controlar a

    qualidade dos leos que a Europa importa, visto que o consumo de leos vegetais tem

    aumentado entre a populao, que procura uma alimentao mais saudvel.

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    2

    II. Introduo

    II.1. leos e gorduras na indstria alimentar

    Os leos e gorduras so parte significativa dum vasto grupo de compostos designados

    genericamente lpidos - cuja caracterstica comum o facto de serem geralmente solveis

    em solventes orgnicos e insolveis, ou fracamente solveis, em gua - podendo ser

    encontrados em clulas de origem animal, vegetal e microbiana. A distino entre leos ou

    gorduras lquidas e gorduras faz-se pelo facto de serem lquidos ou slidos temperatura

    ambiente, respectivamente. Estes compostos so conjuntamente com as protenas e

    glcidos, os principais componentes estruturais de todas as clulas vivas, sendo a mais

    concentrada fonte de energia (da sua oxidao resultam 9 kcal/g, enquanto da oxidao das

    protenas e dos glcidos resultam apenas 4 kcal/g), fonte de cidos gordos essenciais (cido

    linoleico - mega 6 - e cido linolnico - mega 3) e vitaminas lipossolveis (vitamina A, D,

    E, K), o que lhes confere grande importncia nutricional (Lopes, 2000). So ingeridas como

    gorduras visveis - manteiga, banha, leos de tempero, entre outros - ou como constituintes

    dos alimentos, por exemplo, no leite, queijo ou carne. Contribuem para o sabor e

    palatabilidade, flavour (como precursores de aroma) e textura dos alimentos e aumentam a

    sensao de saciedade, aps a sua ingesto (Lopes, 2000).

    Os pases ocidentais utilizaram durante muitos sculos essencialmente gorduras animais

    para suprir as suas necessidades em termos de gordura, existindo, no entanto, algumas

    excepes, em que eram utilizados leos produzidos localmente, podendo citar-se o

    exemplo do azeite nos pases mediterrnicos e da colza em Frana e na Polnia, sendo

    que, a manteiga e o sebo se mantiveram como as gorduras mais importantes na Europa at

    meados do sculo XIX. Com a introduo, no final desse sculo, da prensagem hidrulica e

    a extraco por solventes, os leos vegetais comearam a ganhar vantagem. Para alm

    disto, aquando das conquistas coloniais, as oleaginosas tropicais, nomeadamente, o

    amendoim, comearam a chegar Europa a preos muito baixos, fazendo concorrncias

    aos produtos nacionais. No entanto, no final da Segunda Guerra Mundial, como

    consequncia do aumento do preo do amendoim no mercado internacional, o Ocidente

    comeou a desenvolver algumas culturas oleaginosas: o girassol em Frana e no leste da

    Europa; a colza no Canad, Frana, Polnia, Alemanha e Sucia; e paralelamente, nos EUA

    comeou a desenvolver-se a cultura da soja (Lopes, 2000).

    Actualmente existe no mercado uma grande variedade de leos vegetais, tendo-se

    verificado um aumento da produo dos mesmos ao longo dos ltimos anos - de

    aproximadamente 119 milhes de toneladas em 2005/06 para aproximadamente 147

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    3

    milhes de toneladas em 2010/11 (Carvalho, 2010). Ao nvel dos leos vegetais destacam-

    se os de Palma, Soja, Colza e Girassol, como os de maior produo mundial (Figura 1).

    Figura 1: Variao da produo mundial de leos vegetais (em milhes de toneladas) ao longo de seis anos.

    Adaptado de Carvalho (2010).

    II.2. Importncia nutricional dos leos vegetais

    Quimicamente um leo composto por duas fraces (Quadro I):

    Fraco saponificvel (representa cerca de 99 % de um leo): insolvel em gua,

    constituda essencialmente por triglicridos, mas tambm por mono e diglicridos

    resultantes da hidrlise dos primeiros. Contm ainda cidos gordos livres, fosfatdeos,

    glucsidos e pigmentos verdes que contm clorofila e produtos resultantes da sua

    decomposio. Muitas das caractersticas fsicas, qumicas e metablicas de um leo

    dependem da composio desta fraco (Lopes, 2000; Silva, 2001);

    Fraco insaponificvel (representa entre 0,5 e 1,5 % de um leo): solvel em gua,

    constituda por componentes menores, os quais compreendem hidrocarbonetos,

    esteris, ceras, lcoois, substncias corantes e aromticas, vitaminas, tocoferis e

    polifenis. Esta a fraco responsvel pelo valor biolgico, nutricional e pela

    resistncia oxidao de um leo. A sua concentrao depende do tipo de leo, no

    entanto, esta fraco sempre maior no leo bruto do que no refinado,

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35

    40

    45

    50

    2005/06 2006/07 2007/08 2008/09 2009/10 2010/11

    Pro

    du

    o

    Mu

    nd

    ial d

    e

    leo

    s V

    ege

    tais

    (

    em

    milh

    e

    s d

    e t

    on

    ela

    das

    )

    Ano

    Coco

    Algodo

    Azeite

    Palma

    Palmiste

    Amendoim

    Colza

    Soja

    Girassol

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    4

    independentemente do tipo de leo e, portanto, diminui com o processamento (Lopes,

    2000; Silva, 2001).

    Quadro I: Composio genrica de leos alimentares.

    Componente % Componente ppm

    Tocoferis 150 2000

    Triglicridos 90 99 Tocotrienis 0,0 1500

    Diglicridos 0,0 0,2 Fenis 0,0 50

    Monoglicridos 0,0 0,2 Clorofilas e derivados 0,0 20

    cidos Gordos Livres 0,2 9,5 Carotenides 0,0 500

    Fosfolpidos 0,01 0,1 Metais 0,01 2,5

    Esteris 0,4 2,0 Materiais oxidados 0,01 2,5

    Humidade 0,0 0,1 Protenas 0,0 0,01

    Gomas 0,0 2,0

    Fonte: Lopes, 2000.

    Os triglicridos compostos em que cada grupo hidroxilo do glicerol esterificado com uma

    molcula de um cido gordo (Figura 2), num processo que controlado pelo metabolismo

    da planta - so compostos especialmente importantes no que respeita s propriedades

    fsicas, qumicas e biolgicas dos leos, no s porque so os componentes maioritrios

    dos mesmos, mas tambm porque a posio e o tipo de cidos gordos num triglicrido vo

    influenciar essas mesmas propriedades.

    Figura 2: Esquema representativo da estrutura de um triglicrido.

    Fonte: http://www.medicinapreventiva.com.ve/laboratorio/trigliceridos.htm

    cido Gordo Livre

    Triglicrido

    Glicerol

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    5

    Os cidos gordos que constituem os triglicridos dos leos so predominantemente cidos

    alifticos monocarboxlicos de cadeia linear e nmero par de tomos de carbono, de C4 a

    C24, podendo estes ser saturados quando possuem apenas ligaes simples entre os

    tomos de carbono da cadeia carbonada - monoinsaturados ou polinsaturados quando

    possuem uma ou mais ligaes duplas na cadeia carbonada, respectivamente. Dentre os

    cidos gordos presentes em leos vegetais destacam-se o cido oleico (C18:1) como cido

    gordo monoinsaturado, o cido linoleico (C18:2) como polinsaturado e o cido palmtico

    (C16:0), na categoria dos cidos gordos saturados. O Quadro II apresenta a composio

    mdia em cidos gordos de alguns leos vegetais.

    Quadro II: Teor de cidos gordos de diversos leos vegetais.

    leos cidos gordos

    saturados

    cidos Gordos

    Monoinsaturados

    cidos Gordos Polinsaturados

    cido Linoleico cido Linolnico

    Colza 6 % 58 % 26 % 10 %

    Girassol 11 % 2 % 69 % -

    Palma 48 % 40 % 10 % -

    Azeite 14 % 77 % 8 % < 1 %

    Soja 15 % 24 % 54 % 7 %

    Adaptado de Reda & Carneiro (2007).

    Os cidos gordos desempenham diversas funes ao nvel da nutrio humana, podendo

    ocasionar, consoante o tipo de cido gordo em questo, efeitos benficos ou prejudiciais

    para a sade. O aumento de cidos gordos saturados na dieta induz a hipercolesterolemia,

    ou seja, um aumento do colesterol total e da fraco aterognica (colesterol LDL),

    enquanto os cidos gordos polinsaturados possuem o efeito contrrio reduo da

    hipercolesterolemia. H vrias explicaes sobre os mecanismos pelos quais os cidos

    gordos afectam as concentraes de colesterol plasmtico, podendo referir-se a mudana

    na composio das lipoprotenas, alteraes na produo de LDL (Low Density Lipoprotein)

    e VLDL (Very Low Density Lipoprotein) pelo fgado e ainda alterao da actividade dos

    receptores da LDL (Moraes & Colla, 2006).

    De entre os cidos gordos convm salientar o papel de dois cidos gordos essenciais - o

    cido linoleico e o cido linolnico. Relativamente ao cido linoleico, o principal cido gordo

    mega 6, possui um papel importante no organismo humano, visto que, num ser humano

    saudvel ser convertido em cido gama-linolnico, sendo este posteriormente convertido

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    6

    em cido araquidnico, que atravs da via metablica da cascata do mesmo cido, produz

    eicosanides, importantes compostos hormonais que desempenham um papel de extrema

    importncia em muitas funes corporais, tais como reaco anti-inflamatria e participao

    na estrutura das membranas celulares - influenciando a viscosidade sangunea,

    permeabilidade dos vasos, aco antiagregadora e presso arterial (Guin & Henriques,

    2011). Convm ainda salientar o papel do cido linolnico, a partir do qual so sintetizados,

    no organismo humano, os cidos gordos de cadeia longa da famlia mega 3, sendo este

    cido um precursor primordial das prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos, substncias

    que possuem actividade anti-inflamatria, anti-coagulante, vasodilatadora e anti-agregante

    (Moraes & Colla, 2006). Alm do papel nutricional na dieta, os cidos gordos mega 3

    podem ajudar a prevenir uma variedade de doenas, incluindo doenas do corao, cancro,

    artrite, depresso e Alzheimer. As deficincias de mega 3 esto relacionadas com a

    diminuio da memria e capacidades mentais, baixa viso, maior tendncia para a

    formao de cogulos sanguneos, diminuio da imunidade, entre outros (Guin &

    Henriques, 2011). importante salientar que necessrio um equilbrio apropriado entre os

    dois tipos de cidos gordos essenciais mega 3 e mega 6 visto que estes trabalham

    em conjunto com o objectivo da promoo da sade. A deficincia ou o desequilbrio no

    fornecimento destes dois cidos gordos ao organismo est relacionado com graves

    condies de sade, de que so exemplo, ataque cardaco, cancro, asma, lpus, depresso,

    envelhecimento acelerado, acidente vascular cerebral (AVC), hiperactividade e sndrome de

    dfice de ateno (Guin & Henriques, 2011).

    Relativamente aos cidos gordos monoinsaturados, para alm de serem eficazes redutores

    de colesterol, estes possuem tambm outros efeitos benficos, tais como a diminuio da

    oxidao do colesterol LDL e melhoria da palatabilidade dos alimentos (Moraes & Colla,

    2006).

    Assim, as recomendaes dietticas avanam no sentido de diminuir as gorduras saturadas

    numa dieta, em favor das mono e polinsaturadas, sem que estas ltimas ultrapassem 10 %

    das calorias totais (Moraes & Colla, 2006).

    II.3. reas de aplicao dos leos vegetais

    Um leo possui diversas aplicaes ao nvel alimentar, das quais se podem destacar o uso

    para fins culinrios, fritura - quer domstica, quer industrial - panificao, produo de

    margarinas, leo de tempero, entre outros. Os critrios de escolha de um leo alimentar

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    7

    para determinada aplicao esto intimamente relacionados com a mesma: aroma e textura

    do produto onde o leo seleccionado vai ser utilizado, gosto residual que deixa aps a sua

    ingesto, estabilidade aromtica, disponibilidade no mercado, custo, necessidades

    nutricionais especficas e ainda requisitos explcitos do consumidor alvo. De entre os

    factores mencionados tem-se verificado uma predominncia da preocupao em termos

    nutricionais - optando-se sempre que possvel, em termos das caractersticas desejadas

    para o produto final, por leos com baixo teor em gordura saturada - e ainda em termos de

    custos e disponibilidade no mercado (Lopes, 2000).

    Convm ainda salientar que as especificaes para leos alimentares tm sofrido alteraes

    ao longo do tempo, especialmente devido ao desenvolvimento de tcnicas analticas que

    permitem conhecimentos mais detalhados ao nvel da qualidade nutricional e funcional dos

    mesmos. Verifica-se que os factores que actualmente mais importncia possuem ao nvel

    das caractersticas de um leo alimentar so o facto de ser totalmente de origem vegetal,

    rico em cidos gordos polinsaturados e pobre em saturados, virtualmente livre de cidos

    gordos trans, sem adio de leos hidrogenados e de corantes (Lopes, 2000).

    Neste trabalho pretende-se implementar um mtodo para avaliar um dos parmetros de

    qualidade associados ao leo de girassol determinao de hidrocarbonetos alifticos

    saturados, mais comummente designada por contaminao com leo mineral - e ainda

    extrapolar algumas concluses para o leo vegetal que se manteve durante muitos anos

    como o de maior produo e consumo a nvel mundial leo de soja (Figura 3).

    Figura 3: Evoluo da produo mundial dos principais leos vegetais, ao longo de 35 anos.

    Fonte: Rosillo-Calle et al, 2009.

    leo de Soja

    leo de Colza

    leo de Palma

    leo de Girassol Pro

    du

    o

    Mu

    nd

    ial d

    e

    leo

    s V

    ege

    tais

    (m

    ilh

    es

    de

    to

    ne

    lad

    as p

    or

    ano

    )

    Ano

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    8

    II.4. O girassol

    II.4.1. A cultura do girassol

    O girassol (Helianthus annuus L.) uma planta anual, da famlia das Asteraceae, originria

    da Amrica do Norte. As flores desta planta so caracterizadas por possurem grandes

    inflorescncias do tipo captulo (flores inseridas num receptculo discide ou arredondado

    protegido por brcteas), que podem variar dos 7 aos 30,5 cm na diagonal, com disco floral

    escuro e lgulas radiais de cor amarela, nos casos mais comuns, mas que tambm podem

    ter cor vermelho mogno, laranja ou branco e um caule, que pode atingir at trs metros de

    altura. Uma caracterstica peculiar do girassol o heliotropismo - movimento da planta em

    direco ao sol - da qual deriva o seu nome comum. A flor do girassol contm no seu interior

    vrias centenas de sementes, com um comprimento entre 0,8 e 1,7 centmetros e largura

    entre 0,4 e 0,9 centmetros, sendo que a cor das mesmas varia de acordo com a variedade

    de girassol, podendo ir do preto, ao branco, passando por preto com listas verticais brancas

    (Grompone, 2005; RaB et al, 2008).

    Os girassis tiveram a sua origem em 3000 a.C. nos povos indgenas da Amrica do Norte

    que os cultivavam para alimentao, no entanto, apenas no sculo XVI as sementes desta

    planta foram levadas para a Europa (Grompone, 2005). Actualmente cultivada em todo o

    mundo (Figura 4), sendo uma oleaginosa que apresenta caractersticas agronmicas muito

    importantes, como o rpido crescimento, elevada resistncia seca, s temperaturas baixas

    e ao calor, o que lhe confere grande adaptabilidade a diferentes condies climatricas. Em

    Portugal, devido capacidade de adaptao da cultura do girassol ao clima seco e quente,

    a quase totalidade da produo nacional ocorre no Alentejo (Figura 5).

    Figura 4: Produo mundial de girassol em kg/ha.

    Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Sunflower.

    Produo de girassol em kg/ha

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    9

    Esta grande versatilidade ainda reforada pelas vrias aplicaes relativas ao girassol,

    das quais se podem destacar:

    dos frutos, mais comummente chamados de sementes, extrado o leo de girassol,

    utilizado na alimentao humana - para cozinhar, em cru ou em margarinas - na rea

    dos cosmticos e na produo de biodisel;

    tambm as sementes desta planta podem ser utilizadas na alimentao humana;

    das flores do girassol pode ser produzido

    mel;

    em substituio de outros gros, a

    semente de girassol muitas vezes

    utilizada na alimentao animal, assim

    como as suas folhas;

    a flor comercializada como ornamento,

    sendo algumas variedades especialmente

    produzidas para este fim;

    o girassol pode ser usado em adubao

    verde, devido ao seu desenvolvimento inicial rpido, eficincia desta planta na

    reciclagem de nutrientes e como agente protector dos solos contra a eroso e infestao

    de invasoras, atravs do fenmeno da alelopatia - capacidade que as plantas possuem

    de produzirem substncias qumicas que, libertadas no ambiente de outras, influenciam

    de forma favorvel ou desfavorvel o seu desenvolvimento;

    os caules desta planta possuem uma fibra que pode ser utilizada na produo de papel.

    II.4.2. leo de girassol

    A grande importncia econmica do cultivo de girassol a nvel mundial deve-se excelente

    qualidade do leo comestvel que se extrai da semente desta planta, que considerado

    dentro dos leos vegetais, um dos que possui melhor qualidade a nvel nutricional e

    organolptico (aroma e sabor). Alm disso, a massa resultante da extraco do leo -

    altamente proteca - pode ser utilizada para produo de alimentao animal (Grompone,

    2005).

    Os maiores produtores de leo de girassol a nvel mundial so a Ucrnia, Rssia, Europa e

    Argentina, no entanto, os maiores consumidores so a Europa, a Rssia e a Turquia

    (Carvalho, 2010). A importncia de um leo em termos de consumo reflecte, em parte, a

    Figura 5: Produo nacional de girassol.

    Fonte: INE, 2011.

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    10

    distribuio geogrfica da produo de sementes ou frutos associados a esse leo, bem

    como dos usos e costumes do povo em questo. Assim, se justifica a elevada produo de

    leo de girassol em regies de grande abundncia de sementes, onde o seu consumo

    muito reduzido e pases com baixa produo de leo face s necessidades de consumo.

    Figura 6: Principais pases de produo e consumo de leo de girassol.

    Adaptado de Carvalho, 2010.

    O leo de girassol essencialmente constitudo por triacilgliceris (98 - 99 %) e uma

    pequena fraco de fosfolpidos, tocoferis, esteris e ceras (fraco insaponificvel).

    Possui um elevado teor em cidos gordos insaturados (cerca de 83 %), mas um teor

    reduzido em cido linolnico ( 0,2 %), sendo rico essencialmente em cido linoleico, um

    dos cidos gordos essenciais. As variaes no teor deste cido gordo so consequncia

    no s da variedade, como de diferenas climticas durante o seu cultivo. Dois factores que

    favorecem este leo em termos de qualidade nutricional so o facto de proporcionar um

    cido gordo essencial (cido linoleico) e possuir, simultaneamente, baixa quantidade de

    cido palmtico que se pensa aumentar o colesterol LDL no sangue (Grompone, 2005).

    Para alm disto, o cido linoleico presente no leo de girassol, pertencente ao grupo dos

    cidos gordos mega 6, transformado pelo organismo humano em cido araquidnico e

    em outros cidos gordos polinsaturados. Os mega 6 derivados do cido linoleico exercem

    um importante papel fisiolgico ao participarem na estrutura das membranas celulares,

    influenciando a viscosidade sangunea, permeabilidade dos vasos, aco anti-agregadora,

    presso arterial, reaco inflamatria e funes plaquetrias (Moraes & Colla, 2006).

    0

    1000

    2000

    3000

    4000

    5000

    Pro

    du

    o

    e C

    on

    sum

    o

    (em

    milh

    are

    s d

    e t

    on

    ela

    das

    )

    Pas

    Consumo

    Produo

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    11

    Este leo possui como constituinte maioritrio da sua fraco tocoferlica a forma -

    tocoferol, ao contrrio da maioria dos leos vegetais que tm a forma - tocoferol. O -

    tocoferol presente no leo de girassol apresenta, a temperaturas elevadas, menor actividade

    antioxidante do que o - tocoferol dos leos em que mais abundante, mas, por outro lado,

    o leo de girassol apresenta maior actividade em vitamina E do que os leos onde

    predomina a forma tocoferol (Grompone, 2005).

    Quadro III: Composio nutricional mdia do leo de girassol (valores por 100 g).

    Valores nutricionais por 100 g

    Energia 884 kcal

    Hidratos de carbono 0 g

    Gordura 100 g

    Saturada 10,3 g

    Monoinsaturada 19,5 g

    Polinsaturada 65,7 g

    Protena 0 g

    Vitamina E 41,08 mg

    Vitamina K 5,4 g

    Adaptado de Grosvenor & Smolin, 2002; Karleskind, 1996.

    Para alm do leo de girassol rico em cido linoleico, existem hoje disponveis no mercado

    outros tipos de leo de girassol (Karleskind, 1996):

    leo de girassol com alto teor de cido linoleico (leo de girassol tradicional);

    leo de girassol com elevado teor de cido oleico (aproximadamente 82 % de cido

    oleico);

    leo de girassol com teor mdio de cido oleico (aproximadamente 69 % de cido

    linoleico).

    As variaes nos perfis de cidos gordos so fortemente influenciadas tanto por factores

    genticos da cultura, como pelo clima, sendo que se justifica o aparecimento deste tipo de

    leos de girassol modificados de forma a aumentar a estabilidade oxidativa do mesmo -

    diminuindo o contedo em cidos gordos polinsaturados e aumentando os monoinsaturados

    - mantendo o baixo nvel de gordura saturada (Quadro IV) e a riqueza em vitamina E.

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    12

    Quadro IV: Comparao da composio em cidos gordos de leo de girassol tradicional e leo de

    girassol com elevado teor em cido oleico.

    cido gordo

    Composio (%)

    leo de girassol

    tradicional

    leo de girassol com elevado teor em

    cido oleico

    cido Palmtico (C16:0) 7 3

    cido Esterico (C18:0) 4 5

    cido Linoleico (C18:2) 70 9

    cido Oleico (C18:1) 16 83

    cido Linolnico (C18:3) Pequenas quantidades Pequenas quantidades

    Adaptado de Karleskind, 1996.

    O leo de girassol , assim, uma fonte importante de cidos gordos essenciais e de vitamina

    E, que pode ser utilizado a frio directamente sobre os alimentos, em molhos para saladas,

    maionese, entre outros. Entra ainda na composio de numerosas margarinas e cremes

    vegetais de barrar, em combinao com outros componentes de ponto de fuso mais

    elevado e na produo de produtos de panificao e de conservas, tendo em conta que o

    seu teor de gordura saturada mais baixo do que o de leos de milho ou soja, por exemplo.

    Tambm pode ser utilizado como leo de fritura, em especial as variedades ricas em cido

    oleico, cuja estabilidade s alteraes pelo aquecimento superior das variedades com

    teores elevados de cido linoleico.

    II.5. A soja

    II.5.1. A cultura da soja

    A soja (Glycine max), originria do leste Asitico, pertencente famlia Fabaceae, uma

    leguminosa rica em protena, que cultivada para alimentao humana e animal e ainda

    para a produo de biodiesel. Esta leguminosa foi durante muito tempo um alimento

    desconhecido, excepto para segmentos muito especficos da populao - por exemplo, os

    vegetarianos - no entanto, hoje amplamente usada na alimentao humana, quer na forma

    de bebida (mais conhecida como leite de soja), quer na forma de tofu ou como ingrediente

    de sumos de fruta e iogurtes.

    A soja uma planta anual, cultivada nos meses mais quentes - com temperaturas entre os

    20 e 40 C - sendo uma cultivar muito rentvel, visto que uma planta muito resistente a

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    13

    parasitas. A altura desta leguminosa pode variar entre os 20 centmetros e os 2 metros; as

    vagens, caules e folhas esto cobertos de pequenos plos castanhos ou cinzentos e as

    folhas so trifoliadas, com trs a quatro folhetos por cada folha. As flores frteis nascem na

    axila da folha e podem possuir cor branca, rosa ou roxa, sendo que, antes das sementes

    atingirem a maturidade, caem as folhas. O fruto, que cresce em aglomerados de trs ou

    quatro, uma vagem peluda de 3 a 8 centmetros e contm cerca de duas a quatro

    sementes no seu interior. A semente da soja possui um invlucro duro, resistente gua e

    com funo de proteco da mesma, podendo este possuir vrias cores, incluindo preto,

    castanho, azul, amarelo e verde. A semente constituda por aproximadamente 40 % de

    protena, 21 % de leo, 34 % de hidratos de carbono e 5 % de cinzas (Wolf & Cowan, 1975).

    A cultura da soja teve a sua origem no leste Asitico, onde possuiu um importante papel

    como parte da dieta das populaes durante sculos. No inicio do sculo XVIII esta cultura

    foi introduzida na Europa e em 1765 nas colnias britnicas da Amrica do Norte, onde foi

    inicialmente cultivada para forragem. No entanto, apenas em 1910 a cultura da soja ganhou

    a devida importncia alimentar fora do continente Asitico, sendo que na Amrica foi

    considerada apenas um produto industrial, at 1920, altura em que comeou a ser

    considerada mais importante a nvel alimentar (Wolf & Cowan, 1975). Actualmente os

    maiores produtores de soja a nvel mundial so os Estados Unidos da Amrica, Brasil e

    Argentina (Figura 7), tendo, entre 1970 e 2007, os dois ltimos vindo a aumentar a produo

    desta leguminosa, relativamente aos Estados Unidos da Amrica. A produo mundial desta

    semente em 2009/2010 foi de aproximadamente 260 milhes de toneladas (The AOCS Lipid

    Library, 2011).

    Figura 7: Principais pases produtores de soja (dados de 2009/2010).

    Adaptado de The AOCS Lipid Library, 2011.

    35%

    27%

    21%

    6% 3% 3% 1%

    4% EUA

    Brasil

    Argentina

    China

    ndia

    Paraguai

    Canad

    Outros

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    14

    A soja considerada uma fonte completa de protena, pois contem quantidades

    significativas de todos os aminocidos essenciais, que tm necessariamente de ser

    fornecidos ao organismo humano, visto que este no possui capacidade de os sintetizar.

    Para alm disto, esta leguminosa e os seus derivados, ricos em isoflavonas, desempenham

    um papel importante na atenuao ou tratamento dos sintomas associados menopausa

    (calores, afrontamentos, dores articulares, aumento de peso, etc.). O seu elevado teor de

    fibra de extrema importncia para o trnsito intestinal e para evitar picos de glucose no

    sangue, visto que retarda a absoro de acares, sendo extremamente benfico para

    diabticos. Para indivduos com estmago sensvel, a soja pode no ser tolerada, devendo-

    se, neste caso, optar pelos derivados fermentados, sendo que a fermentao leva a um

    aumento do teor de vitamina B12, que quase exclusiva de alimentos animais, pelo que,

    este tipo de alimento essencial para uma dieta vegetariana (Silva, 2001; Wolf & Cowan,

    1975).

    II.5.2. leo de soja

    As sementes da soja podem ser processadas de variadas maneiras, originando refeies de

    soja, farinha, leite de soja, tofu, protena vegetal texturizada usada na preparao de vrios

    alimentos vegetarianos, lecitina de soja e leo de soja. No entanto, a maioria da cultura

    desta leguminosa destina-se produo do correspondente leo vegetal, resultando da

    extraco do mesmo uma pasta com elevado teor proteico, que utilizada para alimentao

    animal. Apenas uma pequena quantidade do cultivo da soja destinado ao consumo

    humano directo (Silva, 2001).

    A produo de leo de soja altamente dependente do mercado existente para o respectivo

    bagao e/ou produtos base de gro integral, comparativamente com os outros leos

    vegetais. A importncia da protena de soja tem conduzido a elevadas produes de leo de

    soja, apesar deste ter um elevado nvel de cidos gordos polinsaturados, que o tornam

    susceptvel oxidao e consequentemente promove o desenvolvimento de odores e

    sabores estranhos, bem como um elevado contedo em fosfatdeos, que necessitam de ser

    removidos, mas que constituem uma importante fonte comercial de lecitina. Uma

    possibilidade em questo para a resoluo deste obstculo passa pelo melhoramento

    gentico da cultura da soja, com a finalidade de obter sojas do tipo oleico, que representam

    uma gordura mais estvel em termos de oxidao (Silva, 2001).

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    15

    Os maiores produtores e consumidores de leo de soja, a nvel mundial, so os Estados

    Unidos da Amrica, China, Brasil e Argentina, sendo que a Europa consome pouco mais do

    que aquilo que produz (Figura 8). Segundo dados de 2009/2010, tanto a produo como o

    consumo mundial deste leo aproxima-se das 38 milhes de toneladas (The AOCS Lipid

    Library, 2011).

    Figura 8: Principais produtores e consumidores de leo de soja (dados de 2009/2010).

    Adaptado de The AOCS Lipid Library, 2011.

    A semente da soja possui aproximadamente 20 % de leo, que um dos mais consumidos

    a nvel mundial, exceptuando apenas o leo de palma (Carvalho, 2010). O leo de soja

    bruto constitudo tipicamente por 96 % de triglicridos, 2 % de fosfolpidos, 1,6 % de

    matria insaponificvel (maioritariamente esteris e tocoferis), 0,5 % de cidos gordos

    livres, bem como, pequenas quantidades de pigmentos carotenides, sendo que, aps

    refinao do leo, a fraco no triglicerdica fica reduzida a menos de 1 % (Silva, 2001). A

    composio em cidos gordos do leo de soja depende da variedade e das condies de

    cultura, mas uma composio tpica ser de 10 - 18 g de gordura saturada, 17 - 26 g de

    monoinsaturada e 54 - 72 g de polinsaturada, por cada 100 g de leo de soja. Os cidos

    gordos insaturados maioritrios no leo de soja (Quadro VI) compreendem 4 a 10% de cido

    -linolnico (C18:3), 50 a 62 % de cido linoleico (C18:2) e 17 a 26 % de cido oleico

    (C18:1). Contm ainda cidos gordos saturados aproximadamente 2 a 5 % de cido

    esterico (C18:0) e 8 a 13 % de cido palmtico (C16:0) que so cidos gordos saturados

    de cadeia longa (Karleskind, 1996).

    0

    2

    4

    6

    8

    10

    12

    Pro

    du

    o

    e C

    on

    sum

    o d

    e

    leo

    de

    So

    ja

    (milh

    e

    s d

    e t

    on

    ela

    das

    )

    Pas

    Produo

    Consumo

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    16

    Quadro V: Composio nutricional mdia do leo de soja (valores por 100 g).

    Valores nutricionais por 100 g

    Energia 886 kcal

    Hidratos de carbono 0 g

    Gordura 98,5 g

    Saturada 15,5 g

    Monoinsaturada 22,1 g

    Polinsaturada 55,6 g

    Protena 0 g

    Vitamina E 16 mg

    Adaptado de Grosvenor & Smolin, 2002; Karleskind, 1996.

    O leo de soja possui aplicaes alimentcias diversificadas tais como leo de cozinha,

    tempero de saladas, produo de margarinas, gordura vegetal, maionese, entre outras. Uma

    vantagem do leo de soja relativamente aos outros leos vegetais o seu baixo preo

    aliado excelente qualidade. Para alm disto, os bagaos resultantes da extraco do leo

    de soja so ricos em protena e por isso so procurados como suplemento proteico, no s

    para raes animais, mas tambm como suplemento proteico vegetal na alimentao

    humana, que , a nvel mundial, muito pobre em protenas de origem vegetal (Silva, 2001).

    Quadro VI: Composio tpica em cidos gordos do leo de soja.

    cido gordo Composio (%)

    cido Palmtico (C16:0) 8 13

    cido Esterico (C18:0) 2 5

    cido Linoleico (C18:2) 50 62

    cido Oleico (C18:1) 17 26

    cido Linolnico (C18:3) 4 - 10

    Adaptado de Karleskind, 1996.

    O facto do leo de soja ser rico em gorduras polinsaturadas, torna-o importante como fonte

    de cidos godos essenciais cido linoleico e linolnico que possuem como funo a

    proteco das artrias da deposio do colesterol, facilitam ainda o processo digestivo e

    promovem a absoro de vitaminas lipossolveis (A, D, E, K) (Guin & Henriques, 2011).

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    17

    II.6. Modo de produo de um leo vegetal

    Os leos vegetais podem ter origem na polpa dos frutos ou em sementes oleaginosas,

    sendo que, os mtodos de extraco de um leo variam consoante a matria-prima de

    partida, tendo em conta que as sementes podem ser armazenadas, enquanto a polpa de

    frutos necessita de ser imediatamente processada, para evitar decomposio lipdica, que

    se inicia imediatamente aps a colheita.

    No entanto, a maioria dos leos vegetais obtido a partir de sementes oleaginosas por

    processos de extraco, que originam um leo bruto, o qual sofre posteriormente refinao.

    Este processo pode dividir-se em trs blocos com vrias etapas (Freire, 2002):

    Pr-tratamentos: seleco e limpeza das sementes, secagem, descasque, triturao

    e cozedura;

    Obteno do leo: extraco, eliminao de solventes;

    Refinao: desgomagem, neutralizao, branqueamento e desodorizao.

    Relativamente etapa de pr-tratamento h a salientar que antes de se proceder

    extraco do leo necessrio averiguar a qualidade das sementes e a rentabilidade do

    processo. Os aspectos da colheita, armazenamento e manuseamento de oleaginosas so

    factores importantes a ponderar na avaliao do seu valor comercial. Material estranho, tal

    como folhas verdes, sementes imaturas, insectos, pigmentos, humidade e temperatura

    podem provocar oxidao e deteriorao da matria-prima.

    Aps a colheita, as sementes oleaginosas so sujeitas a um processo de secagem, o que

    permitir um armazenamento prolongado, com o mnimo de deteriorao. Procede-se em

    seguida remoo de impurezas recorrendo para tal a aspiradores, peneiras e ims. Este

    um passo de extrema importncia para a obteno de um leo de elevada qualidade e

    tambm para prevenir que ocorram danos nos equipamentos. Aps a eliminao de

    impurezas, muitas sementes necessitam de ser descascadas, de que exemplo, as

    sementes de girassol, sendo que, este passo serve para aumentar a capacidade de

    extraco. Em seguida procede-se cozedura, um passo importante na inactivao de

    enzimas lipolticas ou outras indesejveis e para promover o rompimento da estrutura da

    clula (Freire, 2002).

    O passo seguinte aps o pr-tratamento das sementes a obteno propriamente dita

    do leo, sendo que, a extraco, na maioria dos casos, se realiza mediante presso,

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    18

    seguida de extraco com um solvente orgnico. Nesta segunda extraco tritura-se o

    resduo, seca-se e submete-se a uma extraco por percolao, habitualmente em

    contracorrente. A mistura solvente/leo separa-se por destilao com recuperao de

    solvente. Um dos solventes permitidos e dos mais usados o hexano, que, apesar de ser

    inflamvel, menos txico do que os outros possveis solventes. O bagao resultante do

    processo de remoo de solvente destinado alimentao animal (Freire, 2002).

    O produto obtido por presso e extraco das sementes oleaginosas um leo bruto, que

    contm 10 a 15 % de impurezas, principalmente cidos gordos livres e fosfolpidos, que so

    posteriormente eliminados atravs de um processo de refinao. necessria a eliminao

    destes compostos, pois podem conferir sabor, cheiro e aparncia desagradveis e diminuir a

    estabilidade do produto final. A refinao engloba quatro processos (Freire, 2002):

    a) Desgomagem: uma etapa que visa remover fosfatdios que, devido ao seu poder

    emulsionante, conduziriam a perdas de leo durante o processo de refinao. Na

    desgomagem procede-se hidratao dos fosfatdios usando solues aquosas de

    cido fosfrico ou ctrico a 60 80 C. Os fosfatdios tornam-se insolveis no leo, sendo

    removidos por centrifugao ou filtrao.

    b) Neutralizao: a segunda etapa do processo de refinao, sendo necessria pelo facto

    de os leos brutos possurem teores elevados de cidos gordos livres, que um risco

    acrescido de deteriorao oxidativa do leo em questo. Uma colheita cuidada e um

    armazenamento adequado das sementes so muito importantes para a obteno de um

    leo bruto com um teor em cidos gordos livres reduzido. Estes compostos provocam

    odores desagradveis, irritao na lngua e garganta, pelo que, tm de ser removidos

    para que leo se torne edvel. Para a remoo dos cidos gordos livres, os leos so

    tratados com hidrxido de sdio (NaOH) ou potssio (KOH) a quente. Os cidos gordos

    precipitam na forma de sabo e podem ser eliminados por adio de gua e

    decantao/centrifugao. Na soluo alcalina tambm podem ser eliminadas outras

    impurezas como protenas, fosfolpidos e sais minerais.

    c) Branqueamento: o seu principal objectivo a remoo dos compostos corados

    indesejveis presentes nos leos brutos ou parcialmente refinados. O mtodo baseia-se

    na oxidao/absoro de pigmentos, recorrendo-se para tal a terras ou carbono

    activados, o que origina um produto sem cor. Nesta fase podem ainda ser eliminados

    perxidos, ies de metais pesados, aflotoxinas e alguns pesticidas.

    d) Desodorizao: normalmente o ltimo passo na refinao de leos. Consiste

    basicamente em eliminar algumas substncias, no eliminadas nas fases anteriores e/ou

    resultantes de degradaes ocorridas ao longo do processo de refinao, que produzem

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    19

    odores desagradveis, como aldedos, cetonas ou resduos de cidos gordos livres.

    Recorre-se para tal a destilao a presso reduzida e temperaturas prximas de 200 C,

    devendo evitar-se aquecimentos prolongados que podem originar polimerizao. A

    remoo destas substncias assegura a estabilidade do produto, garantindo-lhe um

    perodo de vida aceitvel.

    Em geral no se quantificam com rigor as caractersticas do leo aps cada etapa de

    refinao, no entanto, imprescindvel um controlo eficaz de todas as operaes unitrias,

    de modo a satisfazer as especificaes impostas por lei, para cada tipo de leo. As

    caractersticas finais do leo refinado so avaliadas com base em anlises fsico-qumicas e

    organolpticas, recorrendo-se, para tal a um painel de provadores.

    A extraco recorrendo a hexano continua a ser uma questo problemtica no

    desenvolvimento da indstria dos leos. O hexano usado comercialmente no n-hexano

    puro, mas uma fraco do petrleo, que consiste numa mistura de hidrocarbonetos

    saturados com seis tomos de carbono, da qual o n-hexano pode estar na percentagem de

    50 a 90 % em volume (iso-hexano e metilciclopentano costumam estar presentes em

    quantidades apreciveis). No controlo de qualidade do solvente deve ter-se em ateno que

    o ponto de ebulio no pode ser inferior a 65 C, no deve conter enxofre (produz odores

    indesejveis e cria problemas na refinao e hidrogenao) e os teores em benzeno e

    outros compostos aromticos devem ser baixos, dada a sua toxicidade. As principais

    desvantagens do hexano relacionam-se com a alta inflamabilidade e dependncia do

    petrleo como matria-prima (Freire, 2002).

    Para o objectivo deste trabalho a implementao de um mtodo para a determinao de

    contaminao por leo mineral, em leo de girassol importante saber o modo de

    produo de um leo, visto que, nesta etapa que, mais provavelmente, o leo de girassol

    pode ser contaminado atravs do contacto com hexano impuro.

    II.7. leo mineral

    O leo mineral, tambm chamado de parafina lquida, vaselina lquida ou leo branco, um

    produto secundrio derivado da destilao do petrleo no processo de produo de

    gasolina, sendo, consequentemente, produzido em grandes quantidades e logo, um produto

    de baixo custo. Caracteriza-se por ser um leo transparente, incolor e quimicamente quase

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    20

    inerte, composto essencialmente por alcanos - tipicamente entre 15 e 40 carbonos - e

    parafinas cclicas (Karasek et al, 2010).

    II.7.1. Aplicaes do leo mineral

    As possibilidades de utilizao deste leo so diversas:

    como leo de refrigerao e isolamento de transformadores elctricos;

    para transporte e armazenamento de metais alcalinos (evitando a reaco destes com a

    humidade atmosfrica);

    na rea medicinal, como laxante;

    como hidratante em cremes e loes;

    como auxiliar tecnolgico (por exemplo, como lubrificante);

    na forma de emulso (numa mistura de gua, sabo e leo mineral) no combate a

    pulges e colchonilhas em plantas, ou seja, como produto fitossanitrio, sendo este

    classificado ao nvel ecotoxicolgico como isento, ou seja, no apresenta problemas ao

    nvel ambiental e para a sade humana, podendo mesmo ser usado em agricultura

    biolgica;

    como aditivo alimentar (por exemplo, como agente de revestimento).

    Devido a esta diversidade de aplicaes, este leo produzido em dois graus de pureza:

    em grau tcnico e em grau medicinal ou grau alimentar, sendo este ltimo uma fraco do

    leo mineral ao qual foram extrados, com recurso a solventes, os hidrocarbonetos

    aromticos e subsequentemente sujeito a hidrogenao para converter o resduo de

    hidrocarbonetos aromticos em hidrocarbonetos saturados.

    II.7.2. leo mineral em alimentos

    A presena de hidrocarbonetos de origem mineral em vrios alimentos conhecida desde o

    incio de 1990. So exemplos disso, as nozes, gros de caf, arroz e outros alimentos que

    so vulgarmente transportados e armazenados em embalagens de sisal e juta, que

    possuem frequentemente contaminao por leo mineral, libertado das fibras lubrificadas.

    Este lubrificante das fibras no de grau alimentar, pelo que, possui elevadas quantidades

    de hidrocarbonetos aromticos e poliaromticos. Outro exemplo, compreende salame,

    bombons, mel e outros produtos que entram em contacto com materiais de embalagem

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    21

    contendo leo mineral, como o caso de papel encerado, caixas revestidas com papel

    encerado ou latas revestidas de parafina. Tambm o po, biscoitos e outros produtos de

    padaria podem aparecer contaminados com hidrocarbonetos de origem mineral

    provenientes da utilizao de leo mineral como agente antiaderente, ou seja, para facilitar o

    desenformar dos produtos de padaria (Fiorini et al, 2008; Karasek et al, 2010; Moret et al,

    1997). Alimentos secos para bebs e cereais podem apresentar este tipo de contaminao

    resultante da migrao dos componentes mais volteis, da mistura que se designa leo

    mineral, do papel reciclado de que feita a cartonagem ou das impresses feitas na mesma

    - uma vez que, as tintas usadas para ilustrar as cartonagens que embalam os alimentos so

    uma mistura de componentes que compreendem, entre outros, produtos derivados do leo

    mineral de elevado ponto de ebulio (Droz & Grob, 1997; Vollmer et al, 2011). Os vegetais

    tambm podem apresentar este tipo de contaminao proveniente de poluio ambiental ou

    de resduos de formulaes de pesticidas (Fiorini et al, 2008).

    No entanto, a contaminao com hidrocarbonetos de origem mineral nunca havia sido

    considerada perigosa para a sade at ao incidente, em 2008, das 100 000 toneladas de

    leo de girassol proveniente da Ucrnia contaminado com elevadas concentraes de leo

    mineral, tendo em conta que dentre as vrias toneladas contaminadas, existia leo de

    girassol bruto contaminado com at 7000 mg/kg e leo de girassol refinado com 2000

    mg/kg. A provenincia desta contaminao elevadssima nunca chegou a ser confirmada,

    mas as autoridades suspeitam de fraude, com a adio intencional de leo mineral ao leo

    de girassol (Biedermann & Grob, 2009).

    A contaminao de leo de girassol por leo mineral pode ocorrer em trs situaes

    distintas, sendo, na maioria dos casos, difcil rastrear a origem de tal contaminao:

    Contaminao com resduos de produtos fitossanitrios, o que uma situao rara, visto

    que, o pesticida que contm na sua formulao leo mineral (chamado leo de vero)

    considerado isento em termos toxicolgicos, pelo que, no persiste por perodos longos

    nos produtos onde aplicado e, assim, considera-se que no perigoso para a sade;

    Contaminao durante a etapa de extraco do leo, o que pode ocorrer por utilizao de

    n-hexano (solvente de extraco) contaminado ou por fugas de leo dos equipamentos

    ou ainda por contacto do leo vegetal com leo utilizado para efeitos de limpeza e

    manuteno desses mesmos equipamentos, sendo esta a justificao mais comum para

    o aparecimento deste tipo de contaminao;

    Deposio de leo mineral nas sementes de girassol a partir do ar, ou seja, resultante de

    poluio, que pode ter um contributo extremamente elevado e importante para a

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    22

    contaminao de produtos alimentcios com leo mineral, resultante de gases expelidos

    do tubo de exausto de motores a diesel, poeiras de estradas pavimentadas, gases

    libertados de motores a gasolina, fumos da operao de transformar industrialmente

    carnes e fumaa da queima de madeira - listados por ordem de importncia (Neukom et

    al, 2002).

    II.7.3. Toxicidade do leo mineral

    Os hidrocarbonetos de origem mineral podem entrar em contacto com o corpo humano, no

    s pela via alimentar, mas tambm atravs de cosmticos, produtos farmacuticos e pelo

    ambiente.

    A nvel toxicolgico, o leo mineral de grau alimentar ou medicinal geralmente seguro para

    o contacto e consumo por parte do ser humano e foi aprovado pela Food and Drug

    Administration - FDA o seu uso ao nvel de cuidados pessoais e produtos cosmticos, assim

    como aditivo alimentar, possuindo uma dose de ingesto diria aceitvel (ADI) de 10 mg/kg

    de peso vivo (Fiorini, 2010). Assim, o leo mineral de grau alimentar tambm conhecido

    como leo mineral branco no constitui um perigo toxicolgico, podendo mesmo ser usado

    como aditivo alimentar (que declarado no rtulo dos alimentos em que utilizado como

    tal), no entanto, uma presena inesperada de leo mineral num dado alimento deve ser

    sempre considerado um alerta, visto no existir informao acerca da provenincia e

    composio desse leo mineral.

    Ainda relativamente investigao da toxicidade do leo mineral, foi efectuado um estudo

    pela Joint FAO/WHO Expert Committee on Food Additives (JECFA) para avaliao

    toxicolgica do mesmo, sendo, para tal, os derivados do leo mineral agrupados em classes

    (Grundbck et al, 2010):

    O leo mineral considerado de baixa toxicidade desde que seja altamente refinado ou

    um leo branco (leo de grau alimentar), ou seja, constitudo exclusivamente por

    hidrocarbonetos saturados e com massa molecular suficientemente elevada para que a

    absoro por parte do organismo seja o mais baixa possvel (massa relativa de pelo

    menos 480 Da e menos de 5 % de componentes abaixo dos C25), possuindo neste caso,

    um nvel dirio de ingesto aceitvel de 10 mg/kg de peso vivo;

    leos minerais com baixas massas moleculares e mais de 5 % de componentes abaixo

    dos C25, possuem um ADI 1000 vezes mais baixo, ou seja 0,01 mg/kg de peso vivo.

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    23

    Neste estudo (Grundbck et al, 2010) verificou-se que a maior parte das contaminaes

    contabilizadas pertence segunda classe considerada, logo, assumindo um peso de 60 kg e

    o consumo dirio de 1 kg de alimentos contaminados com leo mineral deste tipo, o limite

    legal ser de 0,6 mg por kg de alimento. No entanto, estes clculos no tm em conta que,

    segundo este mesmo estudo, a maior parte dos leos minerais que contaminam os

    alimentos no so de grau alimentar e, portanto, contm compostos aromticos. Assim,

    tendo em conta os dados dos estudos toxicolgicos efectuados pela JECFA neste mbito,

    verifica-se que nem um valor de 0,6 mg/kg para o limite de contaminao por leo mineral

    no prprio para fins alimentares, pode no ser considerado seguro.

    O que se verifica ao nvel de estudos toxicolgicos (Grundbck et al, 2010; EFSA, 2009)

    que se tem negligenciado o facto de o leo mineral ser extremamente importante em termos

    de toxicidade para o organismo humano, visto que um dos contaminantes alimentares

    mais encontrados nos diversos alimentos, normalmente com origem desconhecida, e um

    dos maiores contaminantes no organismo humano, tendo uma pessoa em mdia 1 g de

    parafinas minerais acumulada na gordura, atingindo em casos extremos as 10 g (Concin et

    al, 2008; Fiorini et al, 2008; Grundbck et al, 2010).

    Estimativas conservadoras indicam que o consumo dirio de parafinas minerais, a nvel

    Europeu, oscila entre 0,39 e 0,91 mg por kg de peso vivo, por dia, para um adulto e na

    ordem de 0,75 a 1,77 mg por kg de peso vivo, por dia, para uma criana (Tennant, 2004),

    sendo as fontes de tal exposio o mais variadas possvel, dadas as aplicaes do leo

    mineral a nvel alimentar. Estes valores correspondem a uma concentrao mdia de leo

    mineral nos alimentos de 25 a 60 mg/kg, tendo como referncia o consumo de um

    quilograma de alimento por dia. O organismo humano tem ainda contacto com

    hidrocarbonetos minerais atravs de cosmticos e medicamentos, no entanto, para este tipo

    de produtos no existem estudos sobre exposio.

    Tendo em conta a informao disponvel em termos de estudos toxicolgicos, efectuados

    com animais (EFSA, 2009; Nash et al, 1996) no existem evidncias que sugiram que a

    exposio tpica crnica ou sub-crnica a leo mineral branco, ou seja, altamente refinado,

    produza mudanas significativas ou alteraes histopatolgicas ao nvel dos rgos internos

    ou nos locais de aplicao. Analogamente, no existe evidncia de que exposio tpica

    crnica a leos minerais brancos produza qualquer efeito adverso ou diminua o tempo de

    vida dos animais onde tais estudos foram efectuados. A preocupao relativamente

    exposio a leos minerais est amplamente relacionada com os resultados obtidos num

    estudo com ratos, onde a ingesto durante noventa dias de leo mineral produziu

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    24

    granulomas ao nvel do fgado e histiocitose nos linfonodos mesentricos, sem qualquer

    toxicidade clnica evidente, sendo que se verificou posteriormente, por reproduo do estudo

    com outras espcies, que estes sintomas s acontecem especificamente nesta espcie.

    Para alm disso, a importncia das alteraes histopatolgicas, verificadas nessa espcie

    isoladamente, so questionveis, dada a ausncia de toxicidade clnica ou impacto

    mensurvel no bem-estar ou esperana mdia de vida do animal (EFSA, 2009; Nash et al,

    1996).

    Em estudos de toxicidade a curto prazo do leo mineral toxicidade aguda (EFSA, 2009),

    foram efectuados testes em ratos utilizando uma grande diversidade de tipos de leos

    minerais, desde leos de baixa viscosidade, at elevada viscosidade. Verificou-se que os

    leos de maior viscosidade no induziram qualquer efeito histopatolgico; os leos de mdia

    viscosidade no produziram efeitos adversos, apesar de existirem evidncias da presena

    de hidrocarbonetos minerais no fgado; relativamente ao leo de mais baixa viscosidade

    verificaram-se efeitos ao nvel do fgado e dos nodos linfticos, consistindo as alteraes

    num aumento do peso dos rgos, presena de hidrocarbonetos minerais no fgado e

    alteraes granulomtricas no mesmo, assim como aparecimento de histiocitose. Assim, o

    grau de toxicidade aguda do leo mineral est inversamente relacionado com viscosidade

    do mesmo. Estes estudos permitiram calcular um NOAEL (No Observed Adverse Effect

    Level) de 2000 mg/kg de peso vivo/dia para leos de alta e mdia viscosidade.

    Algumas consideraes farmacodinmicas importantes aps exposio oral ou tpica a leo

    mineral possuem impacto na deposio e potencial de alteraes patolgicas atribudas a

    essa administrao de leo. razovel assumir que, aps administrao oral, os

    hidrocarbonetos minerais absorvidos pelo tracto gastrointestinal so transportados para o

    fgado pela circulao normal, sendo assim o fgado exposto a concentraes relativamente

    elevadas de hidrocarbonetos minerais, podendo resultar em alguma acumulao, como uma

    resposta fisiolgica natural. Similarmente, os linfonodos mesentricos estaro expostos

    inicialmente a quantidades relativamente elevadas de hidrocarbonetos minerais aps uma

    dose de ingesto oral, comparativamente com outros tecidos mais distantes. Tambm, dada

    a absoro limitada de leos minerais por parte da pele, torna-se pouco provvel, mesmo

    que sob condies extremas, que uma quantidade significativa de material esteja disponvel

    para distribuio por outros tecidos, como por exemplo, os linfonodos mesentricos.

    Ao nvel do leo de girassol ficou estabelecido, pelo Standing Committee on The Food Chain

    and Animal Health e pela Comisso Europeia, em 2008, aquando do episdio de leo de

    girassol Ucraniano contaminado, um limite mximo de 50 mg/kg de leo de mineral, tanto

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    25

    em leo de girassol bruto, como em leo de girassol refinado (Fiselier & Grob, 2009;

    Karasek et al, 2010).

    II.8. Cromatografia gasosa

    Para a determinao de hidrocarbonetos alifticos saturados com origem em leo mineral, o

    mtodo especificado neste trabalho, assim como a norma ISO relativa a esta determinao,

    utilizam cromatografia gasosa em coluna capilar com injeco on column e detector FID.

    A cromatografia a designao dada a uma tcnica de separao, que permite separar e

    detectar analitos especficos em misturas complexas e diversificadas. Esta tcnica baseia-se

    na interaco diferenciada dos analitos a separar entre uma fase mvel e uma fase

    estacionria, podendo definir-se diferentes tipos de cromatografia consoante o tipo destas

    duas fases. Quando a fase mvel um gs, esta chama-se cromatografia gasosa, podendo

    ainda ser classificada de cromatografia gs-slido, quando a fase estacionria um slido e

    cromatografia gs-lquido quando a fase estacionria um lquido.

    Na cromatografia gs-lquido a separao tem lugar numa coluna empacotada com um

    material poroso, inerte sobre o qual o lquido, constituindo a fase estacionria se encontra

    depositado sob a forma de um fino filme lquido. A amostra injectada no bloco de injeco

    aquecido onde se evapora ou mais especificamente, neste caso, directamente na coluna

    cromatogrfica (injeco on column) arrastada ao longo da coluna pelo gs, que

    constitui a fase mvel. Durante este perodo, as molculas dos componentes, passam parte

    do tempo na fase estacionria e outra parte na fase mvel, sendo assim, arrastadas atravs

    do percurso cromatogrfico. O atraso relativo sofrido no percurso por cada componente,

    leva a que surjam no final da coluna, a tempos diferentes. O tempo total de reteno vai ser

    a soma do tempo que as molculas passam exclusivamente na fase mvel, com o tempo de

    interaco com a fase estacionria (Dias, 2009).

    A estrutura tpica de um cromatgrafo gasoso encontra-se esquematizada na Figura 9.

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    26

    Figura 9: Esquematizao da estrutura de um cromatgrafo gasoso.

    Adaptado de Kvasnicov & Balinov, 2006.

    Os componentes de um cromatgrafo gasoso (Dias, 2009; Skoog et al, 1998)

    compreendem:

    Reservatrio de Gs

    O gs de arraste deve ser inerte de modo que no interaja nem com a amostra, nem com a

    fase estacionria. Os gases mais comummente usados so hlio, azoto e hidrognio, tendo

    este ltimo o inconveniente de ser explosivo. Os caudais so regulados atravs de vlvulas

    redutoras de alta presso.

    Injector

    As amostras a analisar podem ser gasosas, lquidas ou slidas, sendo o mtodo de injeco

    diferente para cada caso. Neste trabalho especificamente as amostras a analisar encontrar-

    se-o no estado lquido e a injeco efectuada on column. Numa injeco on column os

    compostos a analisar so introduzidos directamente dentro da coluna. A injeco

    efectuada a frio e a seringa, apropriada para o efeito, entra dentro da coluna. Este modo de

    injeco utilizado para compostos de peso molecular elevado, termicamente instveis.

    Coluna

    A coluna chamada o corao do cromatgrafo, visto que aqui que se d a separao

    dos compostos de interesse. As colunas podem ser classificadas em colunas de enchimento

    e colunas capilares, tendo no entanto, as primeiras, entrado em desuso. As colunas

    capilares so tubos capilares normalmente com dimetros internos de 0,05 a 0,50 mm e

    Azo

    to

    Ar

    com

    pri

    mid

    o

    Hid

    rog

    nio

    Seri

    nga

    Forno

    Coluna

    De

    tect

    or

    FID

    Electrnica do

    detector,

    amplificador e

    interface

    Injector

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    27

    com comprimentos que podem ir de 10 a 100 metros, revestidas interiormente por uma

    camada muito fina de fase lquida. Estas colunas so mais eficientes que as colunas

    empacotadas, obtendo-se melhores separaes a baixa temperatura e para menores

    intervalos de tempo.

    Detector

    Existem vrios tipos de detectores, como detectores de ionizao por chama (FID), de

    condutividade trmica, captura electrnica ou fotmetro de chama, no entanto, porque este

    mtodo usa um detector FID, ser o detector de ionizao por chama o abordado nesta

    anlise.

    O design de um detector varia de fabricante para fabricante, no entanto, os princpios em

    que se baseia a construo de um detector deste tipo so sempre os mesmos (Figura 10). O

    eluente que sai da coluna cromatogrfica entra no forno do detector, sendo este forno

    necessrio para assegurar que logo que o eluente deixa a coluna no abandona a fase

    gasosa, o que levaria deposio do mesmo na interface entre a coluna e o detector,

    resultando em perda de eluente e erros ao nvel da deteco. medida que o eluente viaja

    ao longo do detector, primeiramente misturado com hidrognio e depois com o oxidante. A

    mistura eluente/combustvel/oxidante continua a viajar ao longo do detector at fonte da

    chama onde existe uma tenso positiva, que serve para afastar os ies de carbono

    reduzidos, criados na chama num processo de pirlise. Os ies criados so ento repelidos

    em direco aos pratos colectores, que esto conectados a um ampermetro extremamente

    sensvel que vai detectar o choque dos ies com esses pratos, passando esse sinal depois

    para o amplificador, em seguida para o integrador e depois ainda para o sistema de exibio

    de resultados. Os produtos da chama so no final do processo expelidos para fora do

    detector pela porta de escape (Skoog et al, 1998).

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    28

    Figura 10: Esquematizao da estrutura de um detector de ionizao por chama.

    Adaptado de http://www.chromatography-online.org/Chrial-GC/The-Flame-Ionization-Detector-FID.html.

    Assim, o funcionamento de um sistema de cromatografia gasosa com injeco on column e

    detector FID pode resumir-se da seguinte forma: as amostras so introduzidas no incio da

    coluna cromatogrfica por intermdio de uma seringa apropriada para injeco directa na

    coluna. A amostra arrastada pela fase mvel (gs de arraste) ao longo da coluna

    cromatogrfica. Pela aplicao de um programa de rampas de temperaturas, os diferentes

    compostos da mistura so separados. Estes compostos saem da coluna dissolvidos no gs

    de arraste e passam pelo detector FID, onde iro sofrer pirlise temperatura da chama de

    ar, pela aco de hidrognio, produzindo ies e electres que conduzem electricidade e

    podem ser detectados (Dias, 2009).

    Um aspecto a salientar o facto de nesta determinao de hidrocarbonetos alifticos

    saturados em leo de girassol ser necessrio um pr tratamento da amostra por

    cromatografia em coluna, com gel de slica prateada, antes da anlise por cromatografia

    gasosa. Tal etapa importante, visto que, a maioria dos leos vegetais contm uma elevada

    quantidade de alcanos lineares, que dificultam a quantificao de parafinas minerais - que

    se apresentam numa bossa por baixo dos picos correspondentes aos n-alcanos -

    especialmente quando a concentrao de leo mineral presente na amostra pequena. A

    Ar ou Oxignio para suportar a combusto

    Isolamento

    Isolamento

    Conexo com o pulverizador

    Hidrognio

    Pulverizador electricamente isolado

    Elctrodos Cilndricos Isolados

    Chama

    Conexo com o elctrodo

    Gases de Combusto

    Fase mvel da coluna capilar

  • Implementao de um Mtodo para a Determinao de Hidrocarbonetos Alifticos Saturados em leo de Girassol por Cromatografia Gasosa

    29

    utilizao de gel de slica prateado permite ultrapassar esta limitao, uma vez que, retm n-

    alcanos de cadeia longa (Fiorini et al, 2010; Fiselier & Grob, 2009).

    A tcnica de cromatografia gasosa com deteco por FID foi a tcnica eleita para este tipo

    de determinao, visto assumir-se que a resposta do detector FID constante para todos os

    hidrocarbonetos alifticos e este um equipamento disponvel na maioria dos laboratrios

    de anlise de alimentos. Existem, no entanto, outros tipos de tcnicas que podem ser

    usadas para efectuar esta determinao permitindo diminuir o tempo de anlise,

    minimizando o consumo de solvente e a manipulao da amostra, mas que, no entanto,

    exigem equipamentos que no esto acessveis maioria dos laboratrios de anlises

    alimentares e so extremamente caros. Exemplos de tcnicas alternativas cromatografia

    gasosa com deteco por FID so sistemas que acoplam cromatografia lquida a

    cromatografia gasosa (LC-GC) (Fiorini et al, 2010) ou sistemas que executam cromatografia

    gasosa a duas dimenses (GC GC) (Ventura et al, 2008) ou a utilizao de cromatografia

    gasosa a duas dimenses aps pr separao em cromatografia lquida de alta eficincia

    (HPLC - GC GC) (Biedermann & Grob, 2009) ou ainda um sistema que acopla HPLC

    evaporao de solvente HPLC GC FID (Moret et al, 1996). Claro que, sistemas mais

    complexos permitem uma melhor caracterizao da mistura de compostos que se denomina

    leo m