Tese Mestrado: gestão diferenciada do currículo no ensino básico

download Tese Mestrado: gestão diferenciada do currículo no ensino básico

of 251

Transcript of Tese Mestrado: gestão diferenciada do currículo no ensino básico

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    1/251

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS DA EDUCAO

    PRTICAS DE GESTO DIFERENCIADA DO CURRCULO NO 1 CEB

    CONTRIBUTOS PARA O ATENDIMENTO DIVERSIDADE NO INTERIOR

    DA TURMA

    Dissertao apresentada Universidade da Madeira para obteno do grau deMestre em Cincias da EducaoSuperviso Pedaggica

    Por

    Ilda Maria Ferreira Marques Neves

    Sob a orientao de

    Prof. Doutor Ramiro Marques

    Santarm 2010/2011

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    2/251

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    3/251

    Praticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves II

    Dissertao elaborada no mbito do Mestrado em Cincias

    da Educao - Superviso Pedaggica, a apresentar ao

    Departamento de Cincias da Educao da Universidade da

    Madeira em parceria com a Escola Superior de Educao do

    Instituto Politcnico de Santarm para obteno do grau de

    Mestre em Cincias da Educao Superviso Pedaggica.

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    4/251

    Praticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves III

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    5/251

    Praticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves IV

    Agradecimentos

    Dirijo, primeiramente, o meu agradecimento ao Professor Doutor RamiroMarques pela disponibilidade que sempre evidenciou na orientao deste trabalho, pela

    amizade e apoio ao longo deste percurso.

    Um segundo agradecimento vai para todos os professores que leccionaram a

    parte curricular do mestrado, a quem manifesto a minha estima pelo seu saber, empenho

    e acompanhamento.

    Aos elementos da Direco Executiva do Agrupamento Vertical de Escolas

    agradeo a colaborao prestada na facilitao dos meios para a investigao e pela sua

    disponibilidade e amizade.

    Aos professores do 1 ciclo da Escola Bsica n1 de Coruche e Escola Bsica de

    Vale Mansos, sem os quais no seria possvel realizar este estudo, pela sua

    disponibilidade, colaborao na recolha de dados e aceitao da observao na

    interioridade das suas prticas lectivas.

    minha famlia sempre presente nas minhas causas e que pacientemente me

    apoiou.

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    6/251

    Praticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves V

    RESUMO

    O enfoque da pesquisa centrou-se nas questes legitimadas num quadro de

    desenvolvimento curricular, contextualizado nas decises de planeamento e de ensino,

    protagonizado por professores do 1 ciclo do Ensino Bsico. Teve como propsito

    analisar as opes tomadas pelos professores ao nvel da diferenciao curricular para a

    turma incluindo alunos com Necessidades Educativas Especiais, bem como

    percepcionar as funes desempenhadas pelos Professores Titulares de Turma e

    Professores de Apoio Educativo no atendimento diversidade dos alunos.

    A realizao deste trabalho inspirou-se numa abordagem qualitativa, de natureza

    etnogrfica. No mbito da pesquisa, destaca-se a anlise de documentos de planeamento

    e desenvolvimento do currculo, observao de aulas e entrevistas aos 12 professores

    envolvidos no estudo.

    Com base na anlise dos resultados, concluiu-se que os professores ao planear

    atendem s diversidades da turma, diferenciando os contedos, as estratgias e

    actividades de ensino para os alunos com NEE. O Professor Titular de Turma e o

    Professor de Apoio Educativo desenvolvem as actividades planeadas, assumindo o seu

    papel especfico, de acordo com a natureza das suas funes. Por ltimo, so efectuadas

    recomendaes dirigidas formao geral e especfica dos docentes na perspectiva da

    gesto curricular e aponta possveis caminhos para a investigao nestes temas.

    Palavras chave: Gesto curricular; Desenvolvimento curricular; Diferenciao

    Curricular; Diversidade; Alunos com NEE; Papel dos professores

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    7/251

    Praticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves VI

    ABSTRACT

    The center of research has focused on issues legitimized within the framework of

    curriculum development, contextualized in planning decisions and education, played by

    teachers in the 1st cycle of basic education. The aim was analyzing the choices made by

    teachers in terms of curriculum differentiation for the class including students with

    special educational needs, as well as perceiving the roles played by classroom teachers

    and special education teachers in meeting the diversity of students.

    This work was inspired by a qualitative approach of ethnographic nature. As part

    of the research, there is the analysis of planning documents and curriculum

    development, classroom observations and interviews with 12 teachers involved in the

    study

    Based on the analysis of the results, it was concluded that teachers plan to meet

    the diversity of class, differentiated content, strategies and activities for teaching

    students with SEN.

    The classroom teachers and special education teachers develop the planned

    activities, taking their specific role, according to the nature of their duties. Finally,

    recommendations are made to general and specific training of teachers in curriculum

    management perspective and suggests possible avenues for research in these subjects.

    Keywords: curriculum management, curriculum development, curriculum

    differentiation, diversity, students with SEN, role of teachers.

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    8/251

    Praticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves VII

    RSUM

    L'objectif de la recherche s'est concentr sur les questions de lgitimit dans le

    cadre du dveloppement du curriculum, contextualise dans les dcisions de

    planification et de l'ducation, jou par les enseignants dans le 1er cycle de l'ducation

    de base. L'objectif d'analyser les choix faits par les enseignants en termes de

    diffrenciation des programmes pour la classe, y compris les lves ayant des besoins

    ducatifs spciaux, ainsi que peroivent les rles jous par les enseignants et les

    ducateurs spcialiss pour rpondre la diversit des lves.

    Ce travail a t inspir par une aproche qualitative de nature ethnographique.

    Dans le cadre de la recherche, il est l'analyse des documents de planification et

    l'laboration des programmes, des observations en classe et des entretiens avec 12

    enseignants impliqus dans l'tude.

    Sur la base de l'analyse des rsultats, il a t conclu que les enseignants plan

    pour rpondre la diversit de la classe, de diffrencier le contenu, les stratgies et les

    activits pour enseigner aux lves besoins ducatifs particuliers. Les enseignants et

    les ducateurs spcialiss de dvelopper les activits prvues, en tenant leur rle

    spcifique, en fonction de la nature de leurs fonctions. Enfin, des recommandations sont

    faites la formation gnrale et spcifique des enseignants dans une perspective de

    gestion des programmes et propose des pistes possibles pour la recherche dans ces

    disciplines.

    Mots-cls: gestion des programmes, l'laboration des programmes, la diffrenciation des

    programmes; la diversit, les lves ayant des besoins particuliers; rle des enseignants

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    9/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves VIII

    RESUMEN

    El foco de la investigacin se ha centrado en cuestiones legitimarse en el marco

    del desarrollo curricular, contextualizada en la planificacin de decisiones y la

    educacin, interpretada por los maestros en el 1 ciclo de educacin bsica. El objetivo

    de analizar las decisiones tomadas por los maestros en trminos de diferenciacin

    curricular para la clase, incluidos los alumnos con necesidades educativas especiales, as

    como percibir las funciones desempeadas por los maestros y profesores de educacin

    especial en el cumplimiento de la diversidad de los estudiantes.

    Este trabajo se inspir en un abordaje cualitativo de carcter etnogrfico. Como

    parte de la investigacin, no es el anlisis de documentos de planificacin y desarrollo

    curricular, observaciones de aula y entrevistas con 12 profesores que participan en el

    estudio.

    A partir del anlisis de los resultados, se concluy que los profesores plan para

    satisfacer la diversidad de la clase, el contenido diferenciado, estrategias y actividades

    para ensear a los alumnos con necesidades educativas especiales. Los maestros y

    profesores de educacin especial desarrollar las actividades previstas, teniendo su

    funcin especfica, de acuerdo a la naturaleza de sus funciones. Por ltimo, se hacen

    recomendaciones a la formacin general y especfica de los docentes en la perspectiva

    de la gestin curricular y sugiere posibles vas para la investigacin en estos temas.

    Palabras claves: gestin curricular, el desarrollo curricular, la diferenciacin curricular;

    la diversidad; los alumnos con necesidades educativas especiales; papel de los docentes

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    10/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves IX

    NDICE GERAL

    RESUMO ................................................................................................................................................... V

    ABSTRAT ................................................................................................................................................ VI

    RSUM ....................................................... ................................................................. ......................... VII

    RESUMEN ............................................................... .............................................................. ............... VIII

    NDICE GERAL ..................................................................................................................................... IX

    NDICE DE QUADROS .............................................................. .......................................................... XII

    I - INTRODUO ............................................................. .............................................................. .......... 1

    IIREVISO DA LITERATURA ............................................ .............................................................. 6

    2.1 - O CURRCULO ......................................................... .............................................................. .......... 6

    2.2 O CONCEITO DE CURRCULO .................................................................................................. . 7

    2.3 CARACTERSTICAS DO CURRCULO ......................................................... ............................. 92.4 OUTROS TIPOS DE CURRCULO ....................................................... ...................................... 11

    IIITEORIA E DESENVOLVIMENTO CURRICULAR.................................... .............................. 12

    3.1 - TEORIA CURRICULAR ............................................................... ................................................. 13

    3.1.1TEORIA TCNICA .............................................................................................................. ........ 13

    3.1.2- TEORIA PRTICA ........................................................... ............................................................ 14

    3.1.3 - TEORIA CRTICA ........................................................... ............................................................ 15

    3.2 DESENVOLVIMENTO CURRICULAR .......................................................... ........................... 16

    3.2.1DIFERENCIAO CURRICULAR ............................................................... ........................... 19

    3.3 -NVEIS DE DECISO CURRICULAR ...................................................................... ................... 21

    3.3.1 - MBITO POLTICO-ADMINISTRATIVO ........................................................... ................... 24

    3.3.2 - MBITO REGIONAL E LOCAL ......................................................... ...................................... 29

    3.3.3 - MBITO DE REALIZAO ................................................................ ...................................... 32

    IVOS PROJECTOS COMO MEIO DE CONTEXTUALIZAO DO CURRCULO ................ 33

    4.1 - CONTRIBUTOS PARA A DEFINIO DE PROJECTO ................................................. ........ 34

    4.2 - PROJECTO EDUCATIVO DE ESCOLA ..................................................................................... 37

    4.3 PROJECTO CURRICULAR DE ESCOLA .......... ............................................................... ........ 39

    4.4 - PROJECTO CURRICULAR DE TURMA ................................................................ ................... 40VDECISES CURRICULARES AO NVEL DE SALA DE AULA ............................................... 41

    5.1- A PLANIFICAO: PENSAMENTO E ACO DO PROFESSOR......................................... 41

    5.2 A ORGANIZAO CURRICULAR EM FUNO DAS CARACTERSTICAS DOSALUNOS .................................................................................................. ................................................. 43

    5.3- DIVERSIDADE E INSUCESSO ESCOLAR .............................................................. ................... 49

    5.4 - O PAPEL DO(S) PROFESSOR(ES) ....................................................... ...................................... 52

    VIMETODOLOGIA DE INVESTIGAO ............................................... ...................................... 55

    6.1 OBJECTIVOS DO ESTUDO ........................................................ ................................................. 55

    6.2 METODOLOGIA................................................................................................ ............................ 56

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    11/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves X

    6.3 LCUS DE PESQUISA ................................................................. ................................................. 59

    6.3.1 - CONTEXTO ESCOLAR ............................................................. ................................................. 60

    6.4 - CONDIES DE REALIZAO DO ESTUDO ...................................................... ................... 61

    6.5 CARACTERIZAO DA AMOSTRA ....................................... ................................................. 62

    6.6 - PROCEDIMENTOS ADOPTADOS ........................................................ ...................................... 636.7 -TCNICAS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA DE DADOS .......................................... ........ 64

    6.7.1PRODUTOS CURRICULARES ................................................................................................. 64

    6.7.2PRTICAS OBSERVVEIS EM SALA DE AULA ............................................. ................... 69

    6.7.3DISCURSO DOS INTERVENIENTES ........................................................... ........................... 72

    VIIAPRESENTAO E DISCUSSO DOS RESULTADOS ......................................................... 81

    7.1 PROJECTOS CURRICULARES DE TURMA................................... ......................................... 82

    7.1.1 - CARACTERIZAO DO GRUPO/TURMA ......................................................... ................... 82

    7.1.2 - CARACTERIZAO DA EQUIPA EDUCATIVA .......................................................... ........ 84

    7.1.3FINALIDADES EDUCATIVAS DO PCT ................................ ................................................. 85

    7.1.4 - ORGANIZAO CURRICULAR ........................................................ ...................................... 86

    7.1.3 - ACO EDUCATIVA ................................................................ ................................................. 87

    7.2 - OPERACIONALIZAO DO PLANEAMENTO PARA O GRUPO/TURMA ....................... 89

    7.2.1 - INTEGRAO DOS CONTEDOS .............................................................. ........................... 91

    7.2.2REAS .............................................................................. ............................................................ 91

    7.2.3ESTRATGIAS/ ACTIVIDADES .............................................................................................. 92

    7.2.4 - RECURSOS ............................................................. .............................................................. ........ 93

    7.2.5CALENDARIZAO/AVALIAO DO PCT ........................................................................ 937.3 - PLANEAMENTO PARA OS ALUNOS COM NEE.................................................. ................... 93

    7.3.1 - ADEQUAO DE MEDIDAS EDUCATIVAS ......................................................................... 94

    7.3.2PLANEAMENTO DAS ADEQUAES CURRICULARES.................................................. 95

    7.3.3 - PLANEAMENTO DO CURRCULO ESPECFICO INDIVIDUAL ...................................... 99

    7.4 - PLANEAMENTO DA INTERVENO DO PROFESSOR DE APOIO ................................ 100

    7.4.1COLABORAO COM O RGO DE GESTO E COORDENAO DOAGRUPAMENTO DE ESCOLAS ......................................................... ............................................... 100

    7.4.2 - APOIO AOS DOCENTES DAS TURMAS COM ALUNOS COM NEE ........................ ...... 102

    7.4.3 - APOIO DIRECTO A ALUNOS ............................................................. .................................... 1037.5 PRTICAS OBSERVVEIS EM SALA DE AULA ........................................................... ...... 105

    7.5.1 - REAS CURRICULARES ......................................................... ............................................... 106

    7.5.2 - ACTIVIDADES PLANEADAS: TURMAS/ALUNOS COM NEE ....................... ................. 107

    7.5.3PRTICAS OBSERVVEIS: INTERVENO DOS PROFESSORES TITULARES E DEAPOIO EDUCATIVO............................................................................. ............................................... 110

    7.5.4RECURSOS DISPONIBILIZADOS ................................................................ ......................... 113

    7.5.5 - COMPORTAMENTOS OBSERVADOS MAIS SIGNIFICATIVOS .................................... 114

    7.6 DISCURSO DOS INTERVENIENTES: PROFESSORES TITULARES E DE APOIO

    EDUCATIVO........................................................................................... ............................................... 1167.6.1 - PLANEAMENTO DO CURRCULO PARA O GRUPO/TURMA ....................................... 117

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    12/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves XI

    7.6.2 - PROJECTO CURRICULAR DE TURMA ............................................................. ................. 117

    7.6.3 - FACTORES INFLUENCIADORES DO PLANEAMENTO .................................................. 118

    7.6.4 - ELEMENTOS DA PLANIFICAO ............................................................. ......................... 120

    7.6.5 - ACTIVIDADE DE PLANEAMENTO ...................................................................................... 122

    7.6.6 - OPES METODOLGICAS METODOLOGIAS E ESTRATGIAS .......................... 1257.6.7ACO DO PROFESSOR TITULAR ..................................... ............................................... 130

    7.6.8 - ACO DO PROFESSOR DE APOIO EDUCATIVO ................................ .......................... 132

    7.6.9 - FACTORES INFLUENCIADORES DA ACO DO PROFESSOR ................................... 135

    CONCLUSES ............................................................................ .......................................................... 138

    RECOMENDAES ............................................................................. ............................................... 143

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS................................................................................. ................. 145

    ANEXOS .................................................................................................. ............................................... 156

    ANEXO 1- GUIO DA ENTREVISTA ............................................................................................... 157

    ANEXO 2TRANSCRIO DAS ENTREVISTAS ........................................................ ................. 159

    ANEXO 3ANLISE DO CONTEDO DAS ENTREVISTASMATRIZ INICIAL ................. 206

    ANEXO 4ANLISE DE CONTEDOS DAS ENTREVISTASMATRIZ INTERMDIA ..... 207

    ANEXO 5ANLISE DO CONTEDO DAS ENTREVISTASMATRIZ FINAL .................... 210

    ANEXO 6RECORTE DAS UNIDADES EXEMPLO ............................................................ ...... 212

    ANEXO 7QUADRO DOS INDICADORES DA ANLISE DAS ENTREVISTAS ..................... 215

    ANEXO 8 A)- PROJECTO CURRICULAR DE TURMA ANLISE DOS ASPECTOSPRINCIPAISEXEMPLO (TURMA DO P. 11) ................................................................ ................ 219

    ANEXO 8 B) PROJECTO CURRICULAR DE TURMA SISTEMA DE ANLISE (SEISTURMAS) ................................................................................................ ............................................... 223

    ANEXO 9 A) - PLANOS DE ACTIVIDADES DOS PROFESSORES DE APOIO EDUCATIVO IDEIAS EMERGENTEEXEMPLO ................................................................................ ................. 229

    ANEXO 9 B) PLANOS DE ACTIVIDADES DOS PROFESSORES DE APOIO EDUCATIVO SISTEMA DE ANLISE ............................................................. .......................................................... 231

    ANEXO10A) OBSERVAODEAULAS : CONTEXTOSORGANIZACIONAIS EPRTICOSSISTEMASDEANLISE ............................................................................................ 233

    ANEXO 10B) OBSERVAO DE AULAS - SISTEMA DE ANLISEINDICADORES ...... 235

    ANEXO N 11 OFICINA DE FORMAO ............................................................ ......................... 239

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    13/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves XII

    ndice de quadrosQUADRO I1 QUESTO DE INVESTIGAO ...... ............................................................... ........ 58

    QUADRO II2 QUESTO DE INVESTIGAO ......................................................... ................... 59

    QUADRO III- CARACTERIZAO DOS PROFESSORES ............................................................. 62QUADRO IVCARACTERIZAO DAS ESCOLAS A E B ........................................................... 63

    QUADRO VCARACTERIZAO DOS ALUNOS COM NEE ............... ...................................... 63

    QUADRO VISISTEMA DE ANLISE DOS PROJECTOS CURRICULARES DE TURMA .... 66

    QUADRO VIISISTEMA DE ANLISE DA OPERACIONALIZAO DO(S) PROJECTOSCURRICULAR(ES) DE TURMA(S) ................................................................ ...................................... 66

    QUADRO VIIINOTAS DE CAMPO OBSERVAO DE AULA ............................................... 71

    QUADRO IXSISTEMA DE ANLISE DAS OBSERVAES DAS AULAS ........... ................... 72

    QUADRO XLEGITIMAO DA ENTREVISTA ............................................. .............................. 73

    QUADRO XIMATRIZ PARA O GUIO DA ENTREVISTA ........................................................ 74QUADRO XIIPROJECTOS CURRICULARES DE TURMACARACTERIZAO DOGRUPO/TURMA .................................................................................... ................................................. 83

    QUADRO XIII - PROJECTOS CURRICULARES DE TURMA CARACTERIZAO DAEQUIPA EDUCATIVA ..................................................................................... ...................................... 84

    QUADRO XIVPROJECTOS CURRICULARES DE TURMA FINALIDADES ....................... 85

    QUADRO XVPROJECTOS CURRICULARES DE TURMA ORGANIZAOCURRICULAR ........................................................ .............................................................. ................... 87

    QUADRO XVIPROJECTOS CURRICULARES DE TURMAACO EDUCATIVA ........... 88

    QUADRO XVIIPROJECTOS CURRICULARES DE TURMA - OPERACIONALIZAO DE

    COMPETNCIAS ............................................................................................. ...................................... 90

    QUADRO XVIIIPROJECTOS CURRICULARES DE TURMAINTEGRAO DOSCONTEDOS .......................................................... .............................................................. ................... 91

    QUADRO XXPROJECTOS CURRICULARES DE TURMA RECURSOS ............................... 93

    QUADRO XXIPROGRAMAS EDUCATIVOS INDIVIDUAISMEDIDAS DA EDUCATIVASADOPTADAS ............................................................................................................. .............................. 94

    QUADRO XXIIADEQUAES CURRICULARESPOROBJECTIVOS ................................ 96

    QUADRO XXIIIADEQUAES CURRICULARESPOR COMPETNCIAS ........................ 97

    QUADRO XXIVOPERACIONALIZAO DO CURRCULO ESPECFICO INDIVIDUAL .. 99

    QUADRO XXVCOLABORAO E ARTICULAO COM OS RGOS DE GESTO ECOORDENAO .............................................................. .............................................................. ...... 101

    QUADRO XXVIAPOIO AOS DOCENTES DAS TURMAS COM ALUNOS COM NEE ......... 102

    QUADRO XXVIIAPOIO DIRECTO A ALUNOS COM NEE ...................................................... 104

    QUADRO XXVIIITEMPOS LECTIVOS OBSERVADOS /REA CURRICULAR ................... 106

    QUADRO XXIXPRTICAS OBSERVADAS EM SALA DE AULA: O MESMO TIPO DEACTIVIDADE ............................................................................................................ ............................ 108

    QUADRO XXXO MESMO TIPO DE ACTIVIDADE COM MATERIAIS E ESTRATGIASDIFERENCIADAS ............................................................. .............................................................. ...... 109

    QUADRO XXXIACTIVIDADES ESPECFICAS .................................................................... ...... 110

    QUADRO XXXIIPRTICAS OBSERVVEIS EM SALA DE AULA - ENSINO DIRECTO TURMA ......................................................... ................................................................. ......................... 110

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    14/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves XIII

    QUADRO XXXIIIPRTICAS OBSERVVEIS EM SALA DE AULA - ESTRATGIAS DEDIFERENCIAO PEDAGGICA ............................................................... .................................... 111

    QUADRO XXXIVPRTICAS OBSERVVEIS EM SALA DE AULA - APOIO DIRECTO AOSALUNOS .................................................................................................. ............................................... 113

    QUADRO XXXVTIPOLOGIA DOS RECURSOS ......................................................................... 114

    QUADRO XXXVICOMPORTAMENTOS OBSERVADOS SIGNIFICATIVOS ....................... 114

    QUADRO XXXVIITEMAS E NMERO DE INDICADORES .................................................... 117

    QUADRO XXXVIIIPLANEAMENTO DO CURRCULO PARA O GRUPO/TURMAFACTORES INFLUENCIADORES DO PLANEAMENTO ....................................................... ...... 119

    QUADRO XXXIXPLANEAMENTO DO CURRCULO PARA O GRUPO/TURMA ELEMENTOSDAPLANIFICAO .................................................................................................. 121

    QUADRO XLPLANEAMENTO DO CURRCULO PARA O GRUPO/TURMA ...................... 122

    QUADRO XLIOPES METODOLGICASMETODOLOGIAS E ESTRATGIAS ....... 126

    QUADRO XLIIPROFESSORE TITULAR E DE APOIO EDUCATIVOACODO

    PROFESSORTITULAR ............................................................. .......................................................... 130

    QUADRO XLIIIPROFESSOR TITULAR E DE APOIO EDUCATIVO ACODOPROFESSORDEAPOIOEDUCATIVO ...................................................................................... ...... 132

    QUADRO XLIVFACTORES INFLUENCIADORES DA ACO DO PROFESSOR DESENVOLVIMENTO DA PROFISSO DOCENTE. ..................... ............................................... 135

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    15/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 1

    I - INTRODUO

    () cada criana tem o direito fundamental educao e deve ter a oportunidade de conseguir e manter umnvel aceitvel de aprendizagem,

    () cada criana tem caractersticas, interesses,

    capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe soprprias,

    () os sistemas de educao devem ser planeados eos programas educativos implementados tendo em vista avasta diversidade destas caractersticas e necessidades ()

    (UNESCO, 1994, p.1)

    As orientaes de polticas educativas em Portugal, consagradas nos documentoslegislativos em vigor, vm introduzir novos desafios de organizao, gesto e

    superviso em contexto escolar. Est em causa que as escolas consigam gerir de forma

    mais flexvel o seu currculo, adequando-o s caractersticas e diversidades prprias de

    crianas e jovens que as frequentam.

    Na actualidade, a diversidade dos alunos com identidades culturais, lingusticas,

    sociais e de aprendizagem e participao, muito prprias em meio escolar, reclama uma

    abordagem curricular diferenciada, conceptualizada na aco promotora da escola.

    A crescente autonomia da escola ou agrupamento de escolas propicia a

    construo e desenvolvimento de medidas perspectivadas de forma consistente que

    devem convergir com a construo de escolas mais inclusivas. Cabe escola decidir

    sobre o modo de organizao e funcionamento com visa promoo de respostas

    pedaggicas adequadas s necessidades das aprendizagens dos seus alunos.

    A ideia de que a diversidade discente exige respostas curriculares diferenciadas

    hoje bastante consensual, mas a sua traduo prtica est longe de ser amplamente

    concretizada, pelo que a crtica uniformidade curricular continua a fazer sentido. A

    populao portuguesa tornou-se altamente heterognea, em virtude da massificao do

    acesso escola (Roldo, 2000).

    Sendo o currculo um corpo de aprendizagens socialmente reconhecidas como

    necessrias (Roldo, 1999), e considerando que um vasto leque de actores, desde os

    decisores polticos situados no topo da hierarquia do sistema educativo, aos professores,

    influencia a configurao desse corpo de aprendizagens, a diferenciao curricular pode

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    16/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 2

    ser activada atravs de prticas de gesto diferenciada de um currculo comum na sala

    de aula.

    Sendo a gesto curricular inerente prtica docente, os contedos da

    aprendizagem escolar so articulados e organizados de modo a concretizar uma aco

    educativa contextualizada nas realidades locais. A escola assume, assim, a

    responsabilidade de adequar curricularmente as propostas de ensino e tomar as opes

    que considerar mais eficazes de modo a garantir o sucesso de todos os seus alunos.

    Trata-se de equacionar itinerrios diferenciados cuja finalidade a de conseguir que os

    alunos adquiram as aprendizagens curriculares com uma eficcia que lhes permita

    assegurar a sua sobrevivncia social e pessoal e um nvel de desempenho sociocultural

    (Roldo, 1999, p. 29).

    Na contextualizao das necessidades dos alunos e, particularmente, no mbito

    da turma a diferenciao sugere que possvel criar salas de aula nas quais a realidade

    da diversidade entre alunos pode ser tratada a par das realidades curriculares

    (Tomlinson, 2008, p.7).

    A diferenciao curricular que procuramos h-de situar-se no plano da aco

    curricular inteligente da escola e dos professores, intencional e informada por

    conhecimento cientfico adequado, para partindo donde o aluno est () poder

    orientar adequadamente e com sucesso a construo diferenciada da aprendizagem de

    cada um, relativamente ao currculo comum, visando na medida do possvel, o melhor

    acesso de todos integrao plena na sociedade a que pertencem e de que so

    desejavelmente actores activos (Roldo, 2003b, p. 58).

    As prticas de diferenciao curricular permitem que o professor faa uma

    abordagem ao currculo em funo das caractersticas que identifica em cada grupo de

    alunos. Estas ltimas tendem a ser enquadradas em sistemas de categorias atravs das

    quais se organiza o pensamento sobre dimenses da diferena cuja manifestao na salade aula se considera justificadora de diferenciao.

    Tais pressupostos, orientadores da aco do professor, conduzem consecuo

    de prticas de inovao curricular estabelecendo adequaes, designadamente, na

    situao de micro ensino. Reporta-nos ao entendimento da eficcia das prticas

    adoptadas para os alunos com Necessidades Educativas Especiais (NEE).

    O entendimento do processo do desenvolvimento curricular contextualizado no

    interior da turma serve de base ao presente estudo que estabelece meios de investigao,no sentido de saber quais as prticas de gesto curricular que os professores do 1 ciclo

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    17/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 3

    organizam, no seu quotidiano. Mais especificamente, percepcionar quais as

    possibilidades de diferenciao pedaggica no nvel do currculo e do ensino em turmas

    com alunos com NEE. Procura analisar as decises curriculares planeadas e as decises

    de ensino no nvel da sala de aula desenvolvidas pelos Professores Titulares de Turma e

    professores de Apoio Educativo.

    O supervisor pedaggico, neste contexto, encarado com um facilitador da

    investigao sistemtica da qualidade dos ambientes de aprendizagem, tambm um

    auxiliador no despertar de uma atitude de reflexo consciente e crtica, para a produo

    de saberes e a utilizao de novos recursos.

    Este trabalho desenvolve-se em torno de especificidades analisadas no contexto

    real de ensino, assumindo-se um estudo de carcter etnogrfico enquadrado numa

    orientao dos modelos de investigao qualitativos/interpretativos, predominando a

    descrio dos factos.

    A organizao do presente trabalho segue uma lgica estrutural prpria,

    fundamentada nos pressupostos epistemolgicos do conhecimento vigente, no mbito

    do tema da pesquisa. Baseia-se na coerncia sequencial da dinmica de investigao,

    apoiada teoricamente, e na interpretao dos resultados obtidos.

    O estudo encontra-se organizado em trs partes. Na Primeira Parte procede-se

    reviso da literatura, comeamos por abordar as questes conceptuais do currculo

    tentando clarificar conceitos e terminologias., assim como fundamentar as teorias

    curriculares e os processos de deciso no nvel do desenvolvimento curricular. Os

    projectos como meio de contextualizao do currculo tambm abordado por ns, por

    ltimo passamos a analisar as decises tomadas ao nvel de sala de aula.

    Na segunda parte, constituda por um nico captulo, sobre a metodologia, so

    apresentadas pormenorizadamente os objectivos, a justificao do estudo, colocadas as

    questes de partida e evocados todos os procedimentos relativos recolha e anlise dedados.

    Na terceira parte procede-se apresentao e discusso dos resultados, onde

    organizada toda a informao recolhida (produtos curriculares, prticas observveis em

    sala de aula, discurso dos intervenientes) recorrendo-se anlise de contedo

    categorizando-se e reduzindo-se os dados em quadros finais de indicadores.

    Nas concluses salientam-se os aspectos gerais de maior relevo apresentados no

    estudo, directamente implicados, no quadro heurstico em que se inscrevem asdimenses do tema problematizado. Apresentam-se tambm algumas recomendaes

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    18/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 4

    que apontam para linhas orientadoras a desenvolver na formao de professores, bem

    como sugestes a ter em conta em futuros estudos.

    Por ltimo, constam do trabalho as referncias bibliogrficas e alguns anexos

    referentes aos instrumentos de sistematizao de dados, designadamente, dos

    documentos recolhidos, das notas de campo de observao de aulas e da explicitao do

    sistema de categorizao referente anlise de contedo

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    19/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 5

    1 PARTE

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    20/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 6

    IIREVISO DA LITERATURA

    Um estudo que tem por objecto a diferenciao do Currculo impe a

    clarificao do conceito currculo que, por ser considerado um dos principais pilares de

    qualquer sistema educativo, determina uma breve passagem pelo conceito de educao.

    Dewey, no princpio do sculo XX, considerou a educao como o mtodo

    fundamental da reforma e do progresso social, declarando que ela se assume como um

    processo e uma funo social.

    Ao longo do sculo XX, registaram-se muitas e variadas definies de educao,

    sendo dois elementos comuns maioria delas, elementos que se traduzem mas palavras

    processo e desenvolvimento.

    Para Gaspar e Roldo (2007), a educao

    um processo contextualizado de desenvolvimento interaccional e contnuo do

    indivduo; tal processo marcado por etapas diferentes, que se distinguem por um grau

    de maior ou menor formalidade, a que se associa uma maior ou menor estruturao e

    que incluem nveis com maior ou menor aprofundamento. Este processo ser

    substanciado por tudo aquilo que objecto de ensino e de aprendizagem. (p. 18)

    notrio que o conceito de educao tem implicaes directas em vrios

    campos que so tomados como seus constituintes, revelando-se aquele aparece com o

    seu fundamento por excelncia: o currculo.

    2.1 - O Currculo

    Na Educao, o currculo no se esgota em si mesmo, deixando antever um

    fenmeno inacabado e sempre dinmico. no sentido da anlise, da relevncia do seu

    mbito, que a seguir se desenvolvem algumas perspectivas.

    As primeiras definies de currculo apontam para um conceito que corresponde

    a um plano de estudos, ou a um programa, muito estruturado e organizado na base de

    objectivos, contedos e actividades e de acordo com a natureza das disciplinas

    (Pacheco, 2001, p.16), o que demonstra uma noo restrita de currculo, mas ainda

    recorrente nas concepes de muitos docentes.

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    21/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 7

    Como salienta Roldo (2000), os professores tm tido uma relao por

    correspondncia (p. 18) com o currculo, isto , encaram-no como um conjunto de

    normativos e contactam com ele atravs da leitura de textos emanados pelo ministrio

    da educao. Ora, no entender da mesma autora, estes textos so apenas instrumentos

    que permitem organizar o currculo, sendo este um conjunto de aprendizagens sociais,

    inter-pessoais, cientficas, funcionais, lingusticas, ticas, entre outras, necessrias para

    todos os cidados, num determinado espao e tempo, e que, por isso, vo sendo

    alteradas medida que a sociedade evolui. Estas aprendizagens devem ser garantidas e

    organizadas pela escola.

    Cada vez mais assistimos publicao de livros, documentos oficiais e

    legislao com referncia ao espao curricular. Trata-se de um campo abrangente com

    uma pluralidade de dimenses e perspectivas adquiridas por uma crescente relevncia

    na educao, originando confuso terminolgica que acentuou as divergncias

    existentes no pensamento curricular (Pacheco, 2001).

    A concepo do currculo converteu-se num espao de controvrsia entre

    acadmicos com fraca projeco no mbito da prtica escolar (Zabalza, 2002). Deste

    modo, Pacheco (2001) posiciona a discusso terica das questes curriculares de modo

    ambguo que contrape pela ausncia de uma interveno prtica vocacionada para a

    resoluo de problemas ou de melhores escolhas alternativas.

    2.2O Conceito de Currculo

    A palavra currculo, de origem latina, regressou nossa lingustica por mediao

    anglo-saxnica, vem do latim curriculum, significa pista de corrida. Podemos dizer

    que no curso dessa corrida, o currculo, acabamos por nos tornar quem somos (Silva,

    2000).Nas discusses quotidianas, quando pensamos em currculo, pensamos apenas

    em conhecimento esquecendo-nos que o conhecimento que constitui o currculo est

    inextricvel central e vitalmente envolvido naquilo que somos, naquilo que nos

    tornamos,: na nossa identidade e na nossa subjectividade.

    O currculo e as vrias acepes que comporta abriram novo espao de debate,

    proporcionando aos professores e investigadores de educao uma nova tomada de

    conscincia, de complexidade e de multiplicidade das situaes de ensino-aprendizagem.

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    22/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 8

    Numa tentativa de compreender o sentido de currculo escolar, Zabalza (2002)

    prope partir de algumas ideias prvias, tais como:

    (1) perceber que direitos esto amplamente reconhecidos nas sociedades

    actuais s crianas e jovens de receber educao que potencie o seu

    desenvolvimento pessoal e cultural e promova a sua integrao social;

    (2) saber se a escola a principal instncia social encarregada, nas

    sociedades modernas, de exercer efectivamente esse direito;

    (3) saber que outras instncias sociais esto implicadas no processo de

    educao sabendo que partida a escola desempenha um papel preponderante

    (institucionalmente mais definido) no que se refere educao formal. Contudo,

    o papel da famlia tem claramente uma funo educativa mais direccionada para

    o seu desenvolvimento pessoal e para a integrao social.

    Numa viso mais restrita do sentido de currculo, Zabalza (2002) refere-se a

    todo o tipo de disposies e processos que cada sociedade pe em marcha para,

    atravs da escola, exercer o direito das crianas e jovens de receberem uma educao

    que facilite o seu desenvolvimento pessoal e social. () Num sentido mais amplo, o

    termo currculo pode incluir debates sociais sobre a funo da escola, leis que regulam o

    sistema educativo e a actividade da escola, decises organizacionais de trabalho dos

    professores, recursos didcticos. (p. 4)

    Entretanto, as definies sobre currculo so numerosas e reflectem diversas

    acepes. Numa acepo mais generalista e tradicional (Pacheco, 2001 e Zabalza, 2002)

    a ideia de currculo incorpora o conjunto de contedos a ensinar (organizados por

    disciplinas, temas e reas de estudo) como um plano de aco pedaggica,

    fundamentado e implementado num sistema, que pode apresentar-se com o formato deum documento oficial prescritivo e como guia orientador do trabalho.

    Nesta acepo formal do termo currculo, Ribeiro (1999) considera-o como um

    conjunto estruturado de matrias e de programas de ensino num determinado nvel de

    escolaridade, ciclo ou domnio de estudos (p. 12).

    Numa segunda perspectiva informal e decorrente da aplicao do plano

    referenciado, o currculo assume um conjunto de experincias educativas de forma

    menos rgida com um carcter dinmico, probabilstico e complexo sem uma estruturapr-determinada (Ribeiro, 1999, Pacheco, 2001 e Zabalza, 2002).

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    23/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 9

    2.3Caractersticas do Currculo

    Na verdade, o currculo no pode entender-se como algo predeterminado, isto ,

    como um produto a ser disponibilizado segundo regras e normas especficas. Uma vez

    que se trata de um processo que resulta das mltiplas relaes que se estabelecem entre

    diferentes actores, em contextos diversos, um processo complexo, no sendo por isso

    possvel predetermin-lo partida. Da a importncia que o conceito de currculo como

    projecto tem vindo a assumir nos tempos mais recentes. neste sentido que Pacheco

    (2001), afirma que o currculo se afigura como:

    um projecto, cujo processo de construo e desenvolvimento interactivo, que

    implica unidade, continuidade e interdependncia entre o que se decide a nvel do plano

    normativo, ou oficial, e ao nvel do plano real, ou do processo de ensino-aprendizagem.

    Mais ainda, o currculo uma prtica pedaggica que resulta na interaco e

    confluncia de vrias estruturas (polticas, administrativas, econmicas, culturais,

    sociais, escolares) na base das quais existem interesses concretos e responsabilidades

    compartilhadas. (p. 20)

    Como se depreende do conceito anterior, embora a noo de currculo no possa

    alhear-se do que se decide ao nvel do plano oficial (onde so definidos os planoscurriculares, elaborados os programas de ensino e decididas as normas que devem

    nortear a sua aplicao), a verdade que o currculo s acontece ao nvel dos processos

    de ensino-aprendizagem, onde aquelas intenes se concretizam. Assim se compreende

    que para Zabalza (2003), o currculo seja entendido como:

    o conjunto de pressupostos de partida, das metas que se deseja alcanar e dos passos

    que se do para os alcanar; o conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes, etc.

    que so considerados importantes para serem trabalhados na escola, ano, aps ano. E,

    supostamente a razo de cada uma dessas opes. (p.12)

    O autor acima referenciado distingue cinco caractersticas que so cruciais na

    definio de currculo:

    (1) centrado na escolaa escola assume-se como eixo vertebrador da programao de

    adequao das prescries do programa s condies sociais e culturais e s

    necessidades mais relevantes da situao;

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    24/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 10

    (2) relacionado com os recursos do meio ambiente a escola constitui-se como uma

    estrutura aberta utilizando os recursos da sua zona e simultaneamente como um recurso

    cultural e formativo da comunidade disposio desse territrio;

    (3) centrado no consenso um currculo baseado na programao a nvel de cada

    escola, fomenta a sua dinmica e descobre caminhos de colaborao no seio dacomunidade educativa;

    (4) com incidncia directa ou indirecta em todo o leque de experincias dos alunosum

    projecto formativo dever dar lugar a oportunidade de formao que una e

    compatibilize o escolar com o pr-escolar e extra-escolar, o cognitivo com o afectivo, a

    dinmica social com a dinmica institucional da prpria escola;

    (5) clarificador para professores, pais e alunoso currculo consensual a nvel de escola

    converte-se numa espcie de maqueta prvia que explicita o projecto didctico ou curso

    e ao mesmo tempo estabelece uma espcie de contrato mtuo onde figuram os

    compromissos. (pp.33-34)

    Tambm, Beane (1998) identifica no fenmeno curricular algumas

    caractersticas, sendo elas:

    (1) centradas em contexto com significado para a informao e para as destrezas

    dos alunos;

    (2) tomadas de deciso a nvel poltico no mbito curricular;

    (3) confronto de uma variedade de perspectivas sobre temas e objectivos quereconheam a diversidade e a ambiguidade.

    Segundo Pacheco (2001), nas primeiras definies de currculo defendidas, entre

    outros, por Tyler, Good, Belth, Phenix, Taba, Johnson, DHainaut e mais tarde, no

    incio da dcada de noventa, por Connelly e Lantz, Jackon, Toobs e Tierney, depreende-

    se a correspondncia a um plano de estudos ou a um programa organizado e estruturado

    por objectivos, contedos e actividades, de acordo com a natureza das disciplinas.

    expressa, aqui, a importncia do currculo representar algo muito planificado que ser

    depois implementado dando cumprimento ao estipulado e previsto anteriormente.

    Ribeiro (1999) refere Phenix e Johnson, clarificando a posio, deste ltimo,

    relativamente ao plano curricular, no interessando o que os alunos fazem da situao

    de ensino mas o que so capazes de fazer como consequncia do que realmente

    fazem no processo efectivo de ensino. Nesta perspectiva de programa, e num sentido

    tradicional de currculo, equivale a plano de estudos.

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    25/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 11

    Numa perspectiva diferente posio apresentada, Ribeiro (1999), cita Foshay e

    Saylor em que descreve em primeiro lugar o currculo como o conjunto de

    experincias educativas adquiridas pelos alunos sob orientao da escola (p.13) e em

    segundo afirma que o currculo engloba todas as experincias de aprendizagem

    proporcionadas pela escola ( p.13), no sentido de colocar a nfase nas experincias

    educativas e de aprendizagem proporcionadas pela escola e sob a orientao da escola

    (no a qualquer experincia vivida pelo aluno).

    Para alm da importncia que decorre da dimenso focada, outros autores como

    Schawab, Smith e al, Rugg, Caswell, Stenhouse, Gimeno, Zabalza, e Kemmis, citados

    por Pacheco (2001), acrescentam ideia anterior um propsito bastante flexvel e

    aberto, depreendendo que o conceito de currculo um todo organizado em funo de

    questes previamente planificadas do contexto em que ocorre e dos saberes, atitudes,

    valores, crenas que os intervenientes trazem consigo com a valorizao de experincias

    e dos processos de aprendizagem (p. 17).

    Segundo Torres (1987), construir e desenvolver o currculo

    Supe levar a cabo todo um processo tecnolgico e artstico que tem por finalidade gerir

    a praxis educativa e regular o processo de ensino-aprendizagem com o intuito de

    alcanar determinados objectivos de ordem intelectual, afectiva, fsica, social e moral,vlido individualmente e socialmente. ( p. 104)

    2.4Outros tipos de currculo

    Autores como Pacheco (2001), Zabalza (2002) e Ribeiro (1999) consideram

    currculo oculto aquilo que os alunos aprendem na escola devido: (i) s diversas

    interpretaes de texto curricular de base, (i) formas de organizao do ensino que se

    reconhecem nas aprendizagens diferentes das explicitamente consignadas pelos objectos

    do currculo estabelecido, (iii) influncia exercida nos alunos, (iv) tipo de relao dos

    professores, (v) cdigos disciplinares, (vi) participao dos pais e encarregados de

    educao.

    Para Silva (2000), o currculo oculto constitudo por todos aqueles aspectos

    do ambiente escolar que sem fazer parte do currculo oficial, explcito, contribuem de

    forma implcita para as aprendizagens sociais relevantes ( p.82).

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    26/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 12

    O currculo oficial o currculo determinado oficialmente pela administrao

    Central do Sistema Educativo decorrente da Lei de Bases, dos Decretos, Despachos e

    dos Prprios Programas, enquanto o currculo real o currculo que seguido na

    prtica.

    Currculo Formal ou oficial o currculo determinado por uma deciso poltico-

    administrativa. neste contexto que defendida a normatividade curricular (Pacheco

    2001).

    O Currculo informal considerado de grande importncia formativa, com base

    nos mecanismos de enriquecimento do currculo escolar. As escolas desenvolvem

    actividades que tm a ver com desportos, actividades artsticas, grupos de msica ou

    teatro, complementos de lnguas estrangeiras, trabalhos prticos, programas de visitas e

    intercmbios (Zabalza, 2002). Contudo, encontrando-se formalizado passa a currculo

    formal, embora de complemento curricular.

    Numa sociedade dinmica e com um futuro incerto, no podemos continuar a

    conceber o currculo nico, universal, uniforme, concebido pelo Ministrio da

    Educao. urgente considerarmos as caractersticas especficas de cada escola, que a

    tornam singular e com uma identidade e uma cultura prprias, percebendo-a como uma

    instituio, que sofre a influncia dos seus recursos humanos. Deixa-se assim de lado a

    ideia de currculo pronto-a-vestir de tamanho nico (Formosinho, 1991) e passa-se a

    conceb-lo como um projecto integrado a construir nas escolas (Alonso e al, 1994, p.

    10)

    Como salienta Freitas (1998), o curriculum no um texto reafirmo-o; um

    curriculum uma concretizao que cada professor cumpre com os seus alunos (p.25).

    Deste modo, e uma vez que os alunos no so iguais e as condies em que o currculo

    posto em prtica tambm variam, no podemos pensar num currculo uniforme, mas,

    ao mesmo tempo, importantssimo que seja garantida uma unidade de princpios, queno ponha em causa a unidade nacional.

    III TEORIA E DESENVOLVIMENTO CURRICULAR

    Este captulo procura alicerar a teoria e desenvolvimento curricular numa

    abordagem contributiva das intenes e prticas num processo que se decide e se

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    27/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 13

    implementa dentro da sua complexidade, dos seus princpios e pressupostos

    epistemolgicos.

    3.1 - Teoria Curricular

    Uma teoria fundamentada em decises baseadas em pressupostos

    epistemolgicos encerrando em si ambiguidades e conotaes. A funo da teoria

    curricular descrever, explicar e compreender os fenmenos curriculares para a

    orientao das actividades resultantes da prtica e sua melhoria. A teoria curricular, tal

    como qualquer teoria, tem origem no pensamento, na curiosidade, na actividade e nos

    problemas humanos refere Pacheco (2001, p. 31) citando Kliebard (1977).

    Ao percorrer as diferentes e diversas teorias do currculo, o essencial , segundo

    Silva (2000), perceber que a questo que serve de pano de fundo a qua lquer teoria do

    currculo a de saber que conhecimento deve ser ensinado () qual o conhecimento ou

    saber que considerado importante, vlido ou essencial para merecer ser considerado

    parte do currculo.(p.13)

    3.1.1Teoria Tcnica

    A teoria tcnica , ainda hoje, a teoria que tem maior influncia e tradio nos

    estudos curriculares. Os modelos tradicionais do currculo restringem-se actividade

    tcnica de como fazer o currculo (Silva, 2000), isto , a desenvolver tcnicas

    estabelecendo-se na relao terica/prtica uma hierarquia.

    Face a este processo organizativo, estamos perante uma lgica burocrtica do

    desenvolvimento curricular com predomnio na mentalidade tcnica ligada a

    especialistas curriculares que salvaguardam a legitimidade normativa da construo do

    currculo (Pacheco, 2001).

    A esta teoria esto associadas trs concepes de currculo propostas por

    Gimeno que Pacheco (2001) descreve: uma como smula das exigncias acadmicas,

    outra como base de experincias e a ltima como tecnologia e eficincia.

    Na primeira concepo, o currculo tem como orientao principal o

    racionalismo acadmico, sendo sinnimo de contedos ou programas das vrias

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    28/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 14

    disciplinas, nas quais a organizao escolar tem privilegiado o conhecimento

    organizado por disciplinas.

    A segunda concepo assenta nas experincias, traduz as oportunidades de

    aprendizagem que a escola proporciona aos alunos. Subsiste, neste caso, a dvida em

    saber se o currculo desempenha uma funo unicamente acadmica ou se integra

    tambm uma funo formativa ou seja extracurricular.

    A terceira concepo apresenta o currculo como tecnologia e eficincia.

    Pacheco (2001) refere Taba (1983) que defende esta viso como um plano para a

    aprendizagem em que a informao sobre o processo de aprendizagem e a natureza dos

    alunos fornecem critrios para a sua elaborao. Tambm, DHainaut (1980) aponta

    para um plano de aco pedaggica, mais vasto do que um programa de ensino, que

    compreende programas para as diferentes matrias e definio das finalidades da

    educao pretendida.

    Acontece que, estas ideias tm o factor comum da orientao tecnolgica que se

    prende com o que deve ser ensinado e como deve ser implementado. Neste sentido,

    Pacheco (2001), considera que o conceito mais corrente de currculo est ligado a um

    plano estruturado de aprendizagem centrado nos contedos ou nos alunos ou ainda nos

    objectivos previamente formulados. (p.37).

    3.1.2- Teoria Prtica

    A viso global desta teoria centra os problemas curriculares no mbito de uma

    soluo prtica dado que o currculo um conjunto de factos que buscam aplicao num

    mtodo deliberativo.

    Autores como Schwab (1985) referido por Pacheco (2001) defende que o

    currculo deve equacionar-se mais pela arte prtica e pela deliberao prtica do

    que propriamente pela teoria. A proposta apresentada sobrevaloriza mais aquilo que se

    faz do que aquilo que se pretende fazer.

    Em conformidade com argumentao apresentada, a teoria prtica refora a

    concepo do currculo como processo e no como produto. Enquanto processo define-

    se como uma proposta que pode ser interpretada pelos professores de diferentes modos

    e aplicada em contextos diferentes. Deste modo, (Pacheco, 2001), afirma que o

    currculo uma prtica constantemente em deliberao e em negociao( p.39).

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    29/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 15

    3.1.3 - Teoria Crtica

    A teoria Crtica afasta-se, em termos conceptuais, das teorias anteriores (tcnica

    e prtica) e aponta os seus pressupostos para um trabalho assente numa conscincia

    crtica por parte dos professores que agrupados ou colectivamente partilham de

    interesses crticos.

    A base fundamental desta teoria reside nas vises crticas do currculo baseadas

    num interesse emancipatrio de todo o colectivo de professores que participam em

    actividades escolares. Esta ideia reforada por Silva (2000) explicitando que para as

    teorias crticas o importante desenvolver conceitos que nos permitam compreender

    como se faz (p.27).

    A natureza do que est includo no currculo ou seja o que est contido ou

    mesmo o seu contedo merece ser analisada de forma crtica, face s circunstncias,

    necessidades e pblicos actuais (Roldo, 1999). Pacheco (2001) refora esta posio e

    acrescenta que existe um distanciamento da acepo tcnica, admitindo uma

    proximidade com a acepo prtica. Deste modo, o que as distingue o conceito de

    praxis inerente ao interesse cognitivo crtico constitudo pela aco e reflexo (p. 41).

    Para Pacheco (2001) existem cinco princpios aplicados natureza do currculo

    estabelecidos por Grundy (1987). Deste modo, e segundo a referida autora, so eles:

    (1)os elementos constituintes da praxis so a aco e a reflexo ocurrculo um processo activo onde o planear, o agir e o avaliar esto

    reciprocamente ligados;

    (2)a praxis tem lugar no real se o currculo for encarado como prticasocial deve ser formado no real com alunos reais seguindo o principio

    de que a sua construo deve estar ligada com a implementao;

    (3)a praxis trabalha no mundo da interaco, do social e do cultural aaprendizagem deve ser encarada como um acto social onde o

    aprender e o ensinar tm de ser vistos como uma relao de

    dialogicidade entre professor/aluno;

    (4)o mundo da praxis um mundo construdo exige que a teoria docurrculo reconhea que o conhecimento uma construo social em

    que os alunos so participantes activos;

    (5)a praxis assume o processo de fazedor de sentido o processo docurrculo tambm poltico porque o fazer sentido envolve

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    30/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 16

    significados em conflito reconhecendo o significado como uma

    construo social. Desta forma, a construo do currculo torna-se um

    acto poltico.

    As trs teorias apresentam perspectivas diferentes mas que no fundo se

    interligam e completam no questionamento da definio de currculo. Contudo, na

    anlise da prtica curricular revelam-se incompatveis, antagnicas e distantes.

    Segundo Pacheco (2001) o problema reside na

    Diversidade de argumentos e na excessiva teorizao para a resoluo de questes que

    so por natureza prticas e que so parte constitutiva de um projecto de formao ()

    Neste sentido, o estudo do currculo ocupa-se de temas relacionados com a justificao,

    realizao e comprovao do projecto educativo, projecto este, que () encerradiversas preocupaes: didcticas, organizativas, sociais, polticas e filosficas. ( p. 43)

    Segundo Gaspar e Roldo (2007), hoje atribui-se ao currculo uma funo

    central e determinante no sistema educativo, pelo que ao clarificar o conceito de

    desenvolvimento curricular se comeou por vincul-lo a um conceito de educao

    traduzido por um processo contextualizado de desenvolvimento interaccional e contnuo

    de cada indivduo.

    3.2Desenvolvimento Curricular

    O desenvolvimento curricular associado ideia de processo dinmico e

    contnuo (Ribeiro, 1990) desenvolvendo-se em diferentes fases sucessivas (Zabalza,

    2002) e a diversos nveis do sistema escolar: Administrao Central, regies, escolas e

    turmas em concreto.

    Para Gaspar e Roldo (2007) o Currculo em aco faz emergir o

    desenvolvimento curricular, de onde ressaltam trs caractersticas consensuais:

    processo, sequncia e continuidade.

    O termo desenvolvimento curricular utilizado para expressar uma prtica,

    dinmica e complexa, processada em diversos momentos de modo a formar um

    conjunto estruturado com quatro componentes fundamentais: justificao terica,

    elaborao/planificao, operacionalizao e avaliao (Pacheco, 2001).

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    31/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 17

    Gaspar e Roldo (2007), referem que a partir das caractersticas identificadas

    nas diferentes definies identificam-se quatro matrizes1 reveladoras das tendncias

    conceptuais do desenvolvimento curricular: (i) matriz narrativa, (ii) matriz

    contextualizante, (iii) matriz interactiva, (iv) matriz conexista.

    A matriz narrativa a que evidencia que o currculo planifica-se seguindo uma

    ordem de sequncia linear (diagnstico da situao, identificao das necessidades,

    enunciado de objectivos, explicitao dos contedos, definio das estratgias de

    ensino, clarificao do modelo ou programa de avaliao).

    Na matriz interactiva, o currculo planifica-se seguindo uma ordem de sequncia

    linear mas ressalva a preocupao interacional dos prprios contedos e destes com a

    aprendizagem (diagnstico da situaoidentificao das necessidadesenunciado de

    objectivos traado das linhas de orientao programticas apresentao de modelos

    de ensino aprendizagemclarificao de propostas de modelos de avaliao).

    A matriz contextualizante sublinha que o desenvolvimento do currculo exige

    muita ateno aos contextos prticos (materiais de aprendizagem, tcnicas e/ou

    tecnologias de aprendizagem, modelo de gesto e organizao escolar, estruturas

    pedaggicas).

    Na matriz conexista est por base o foco intencional do currculo, cruzando-o

    com o mundo perceptivo, dando preferncia interpretao frente explicao. Revela

    a relao entre causa e efeito, como significante das coisas e a base da compreenso.

    A matriz de desenvolvimento curricular fica condicionada definio do

    currculo e ao seu enquadramento como plano ou como projecto e, ainda, conjugao

    dos seus diferentes elementos, numa relao com os factores gerais de enquadramento

    (Gaspar & Roldo, 2007, p. 39).

    A reflexo sobre o processo de planificao do currculo deu origem

    construo de uma teoria curricular que fomentou o debate acerca de critrios cientficoe sociopolticos que deveriam estar presentes em toda a seleco e justificao dos

    objectivos culturais a integrar um currculo.

    A emergncia do currculo como campo especializado de estudo surge nas obras

    de Dewey (publicadas entre 1900 e 1902), de Bobitt (1918) e Tyler (1924). Aps este

    perodo, muitas so as obras e estudos realizados, afirmando-se, esta rea do

    1 MatrizInstrumento que configura a estrutura de um conceito traando as linhas que o sustentam e lhe do visibilidade (Gaspar &Roldo, 2007, p. 34)

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    32/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 18

    conhecimento, como objecto de estudo de variadas disciplinas ou pelas ento chamadas

    Cincias da Educao.

    Ao conceito de desenvolvimento curricular est associado um processo de

    construo do currculo, de elaborao e de reflexo baseada na sua implementao que

    envolve pessoas e procedimentos.

    Para Zabalza (2000), o desenvolvimento da ideia curricular apresenta princpios

    bsicos, designadamente:

    (1)principio da realidadedar lugar programao curricular feita na escola deacordo com a realidade da mesma;

    (2)princpio da racionalidade o currculo desenvolvido de forma empenhadapor parte do docente de forma a promover experincias significativas por

    parte do aluno;

    (3)princpio da sociabilidade o currculo fundamenta-se na medio dadiversidade privilegiando a integrao social dos alunos;

    (4)princpio da publicidade o currculo torna as intenes, as acesconvertendo a educao em algo pblico, comunicvel e controlvel;

    (5)princpio da intencionalidade para que o currculo seja desejadoanalisando-se dados e adoptam-se decises no sentido de corresponder s

    propostas anunciadas;

    (6)princpio da organizao ou sistematicidadebaseado na congruncia entrecomponentes do currculo de modo a que este funcione como um todo

    integrado;

    (7)princpio da selectividadeo currculo um processo de seleco que devecorresponder a critrios de valor, oportunidade, congruncia e funcionalidade

    situacional;

    (8)princpio da decisionalidade o currculo constitui um complexo eencadeado processo de tomada de decises;

    (9)princpio da hipoteticidade est inerente a problematicidade e no aafirmao. Deste modo, caracterizado pela formao de hipteses.

    O papel do desenvolvimento curricular cada vez mais, constituir-se como um

    processo dinmico e claro de modo a respeitar os pblicos a que se destina. Embora as

    decises curriculares oficiais a nvel central permaneam, Roldo (1999) refere que

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    33/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 19

    uma larga maioria viro a entrar cada vez mais no campo especfico da gesto

    curricular de cada escola e dos seus docentes ( p. 26).

    na escola que se constri o currculo, enunciado de acordo com necessidades e

    problemas vividos a nvel do contexto escolar, dos alunos, transformando-o num

    projecto com significado para os seus intervenientes.

    O desenvolvimento do currculo, na prtica, implica um processo de concepo

    da aco pedaggica que surge nos mais diversos mbitos de deciso dependente das

    condies reais, dos recursos e das limitaes existentes.

    Esta concepo, na prtica, pode significar tanto o planeamento curricular como

    a programao e a planificao didctica que num modelo tecnolgico correspondem a

    momentos diferentes com intervenientes que tm competncias bem diversas ( Pacheco,

    2001).

    3.2.1Diferenciao Curricular

    A partir do final do sculo XX tm sido tomadas algumas iniciativas atravs das

    quais se tem procurado ultrapassar a lgica uniformizadora e centralista que

    caracterizou o currculo do ensino bsico em Portugal nas dcadas anteriores. Estamos

    assim a referir-nos ao projecto da Gesto Flexvel do Currculo, lanado em 1997 pelo

    Departamento da Educao bsica do Ministrio da educao, na sequncia do projecto

    Reflexo participada sobre os currculos da educao bsica. Estes projectos, que se

    baseiam em propostas que prevem maior autonomia para escolas e professores em

    termos de deciso curricular, contaram com a participao de um grande nmero de

    escolas. Na sequncia destas experincias surgiu a consolidao da reorganizao

    curricular do ensino bsico consagrada pelo Decreto-Lei n 6/20012, de 18 de Janeiro.

    No primeiro relatrio produzido sobre a Reflexo participada sobre os currculosda educao bsica, Roldo et al (1997), referindo-se aos resultados da discusso da

    respectiva proposta com professores, escreveram:

    Os professores e as escolas no parecem encarar a gesto curricular como coisa sua nem

    a colocam no 1 nvel das suas prioridades e direitos (). No tendo no passado tido

    protagonismo na deciso sobre ensinar, mas apenas na execuo de programas, tendem

    a situar as suas prioridades essencialmente nas condies de trabalho a que tm direito,

    2 Alterado e republicado pelo Decreto_Lei n 18 de 2 de Fevereiro de 2011

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    34/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 20

    e a focar as suas principais expectativas em solues administrativas centrais, em

    factores externos e em mudanas de normativos legais. (p. 90)

    Podemos perceber que a forma como os professores portugueses lidam com o

    currculo tem estado de tal forma influenciada por uma tradio centralista que haver

    muita dificuldade por parte dos docentes, desempenharem um papel mais autnomo na

    gesto do currculo. Embora o currculo nacional e a concepo dos programas seja da

    responsabilidade do Ministrio da Educao, para a adaptao curricular concedida a

    liberdade para o estabelecimento de ensino possa alterar a ordem dos contedos, atribuir

    diferentes graus de importncia e incluir algumas componentes locais, desde que

    estejam assegurados o respeito pelos contedos e pelas competncias nucleares

    essenciais (Marques & Roldo, 1999).Face ao exposto, acreditamos que hoje, muitos docentes j esto mais

    desvinculados da tradio centralista e tm uma noo de gesto curricular com um

    sentido mais deliberativo e que favorece uma aco curricular mais diferenciadora.

    A diferenciao curricular adequada aos alunos pressupe uma dimenso

    deliberativa que tende a veicular um currculo concebido em funo de alunos

    concretos, cujas caractersticas requerem, pela sua diversidade, respostas curriculares

    diferenciadas (Sousa, 2010).A diferenciao curricular tem sido cada vez mais perspectivada como uma

    resposta que urge dar crescente diversidade de alunos que caracteriza a escola

    contempornea. Tal diversidade reflecte tendncias da sociedade em geral e manifesta-

    se em diversos aspectos, tais como as referncias culturais, o estatuto social e o estilo de

    aprendizagem. A propsito desta problemtica, Roldo (1999) afirma que:

    Garantir maior equidade social exige que se diferencie o currculo para aproximar todos

    os resultados de aprendizagem pretendidos, j que o contrrio manter a igualdade de

    tratamentos uniformes para pblicos diversos mais no tem feito que acentuar

    perigosa e injustamente as mais graves assimetrias sociais. (p. 39)

    O conceito de diferenciao curricular , assim, definido como um meio de

    promoo da equidade, o que sustenta a ideia de que o esforo de diferenciao deve

    abranger o currculo nuclear.

    Como refere Roldo (1999)

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    35/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 21

    A diversificao dos pblicos escolares nas sociedades actuais tem de ser concebida, do

    ponto de vista educativo, como base para uma estratgia de diferenciao curricular

    orientada para a subida de nvel de qualidade real da aprendizagem de todos os alunos e

    no como uma espcie de steaming oculto, em que, a pretexto de diferenciar, se reduz o

    nvel de aprendizagem e de exigncia para uns os portadores de diferenas, os maisdifceis, etc.e se acentua a seleco social dos que melhor se adaptam norma. (p. 18)

    Face ao exposto, fica claro que quando se discute que aspectos do currculo

    devem ser diferenciados, que ter em ateno diferenciao dos objectivos, que

    dever ser muito limitada, porque o contrrio pe em risco o nvel dos padres mais

    elevados para todos os alunos. Podemos inferir que a autora admite uma diferenciao

    limitada ao nvel dos contedos e uma diferenciao ampla ao nvel das actividades.

    Podemos concluir, referindo que os professores praticaro a diferenciao

    curricular na sala de aula na medida em que tiverem um papel activo na seleco de

    alguns contedos e gerirem o currculo comum, questionando os significados do mesmo

    para os seus alunos em concreto e abordando-o em funo desses mesmos significados.

    3.3 -Nveis de Deciso Curricular

    No captulo anterior partimos do pressuposto de que a diferenciao curricular

    ocorre em todos os nveis de deciso macro, meso e micro-curricular.No entanto o

    discurso curricular constri-se a partir de perspectivas muito diferentes: organizado num

    amplo espectro de contedos e referncias.

    Na temtica curricular centram-se questes diversas e com frequncia participam

    nela pessoas com caractersticas profissionais tambm diferentes (Zabalza, 2000). Como

    tal, esta temtica diferenciada, pelo autor, em pelo menos cinco nveis:

    1 nvel a cultura vigente. Centra-se no debate da relao escola/cultura. Deacordo com a seleco dos contedos formativos que so teis na actualidade assim o

    currculo os deve incluir. Contudo, o problema reside no equilbrio do peso da cultura

    escolar, como algo imposto de fora, e o peso das necessidades internas individuais de

    cada individuo;

    2 nvel preparao da cultura para ser ensinada. A cultura na escola tem um

    sentido diferente da cultura considerada em abstracto. A funo bsica actuar como

    componente formativa que acompanha o desenvolvimento dos alunos do ponto de vistapessoal e social e integrao no mundo dos conhecimentos. Sendo um processo

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    36/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 22

    instrutivo, o tipo de conhecimento e das experincias formativas a integrar no currculo

    devero atender ao mbito cultural e social do aluno cuja formao a escola se

    responsabiliza;

    3 nvel tcnicas de desenho instrutivo das propostas curriculares anteriores.

    Este nvel considera as propostas curriculares anteriores num sentido mais amplo

    atendendo propsitos formativos de acordo com as caractersticas dos indivduos com

    que se vai trabalhar, a teoria da aprendizagem que vai servir de eixo estruturado da

    experincia formativa, as condies prprias da aprendizagem, os recursos disponveis,

    as prioridades designadas no Currculo Oficial.

    4 nvel melhoria e fundamentao das prticas formativas. O desenho

    curricular levado a cabo forma parte substantiva do currculo como aco. Nesse nvel

    curricular devem levar-se em considerao os processos de enriquecimento e inovao

    curricular, isto decidir a forma como so postos em prtica com vista a responder

    melhor aos propsitos formativos. Tambm dever ser tida em conta a investigao

    curricular e educativa em geral pelo que melhorar o nvel de fundamentao cientfica

    das prticas educativas.

    5 nvel componente axiolgica do currculo. Este nvel caracterizado pela

    transversalidade dado que quando se fala de currculo escolar no se exige

    conhecimentos tcnicos para desenhar os processos e capacidade poltica para os

    implementar. A actuao curricular afecta dimenses profundas das pessoas e valores

    sociais.

    A ideia fundamental dos valores a de assumirem cada vez mais uma

    importncia fulcral na educao. O currculo escolar transcende o mundo dos

    conhecimentos a transmitir, as destrezas a desenvolver e os modos de conduta a

    reforar. O contedo dos valores s pode ser parcialmente transmitido de forma

    explcita.Marques (2010) refere que:

    Para respondermos aos novos desafios, temos de focar o ensino nos novos fundamentos

    do currculo: no apenas os chamados "3 Rs" ( reading, writing and reasoning), mas

    tambm os "3 Cs" (concern, care and connection). Para alm da leitura, da escrita e do

    clculo, temos de acentuar a aprendizagem do como pensar, do como resolver

    problemas, do como lidar com a mudana, do como cuidar dos outros, do como

    estabelecer ligaes duradouras e responsveis com os outros e do como nos podemos

    preocupar com os outros. Na trilogia da leitura, da escrita e do clculo, estamos peranteuma verdadeiro regresso ao bsico, aos velhos fundamentos do currculo; na trilogia do

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    37/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 23

    como pensar, como resolver problemas e como lidar com a mudana, estamos perante

    os novos fundamentos do currculo e na trilogia do como cuidar dos outros, como

    estabelecer relaes duradouras e responsveis e do como nos podemos preocupar com

    os outros estamos perante um regresso s preocupaes da educao clssica, numa

    eterna e sempre inacabada procura de mais justia e mais bondade, preocupaes essasque atravessam as obras dos grandes filsofos, de Scrates a Plato, de Aristteles a

    Santo Agostinho e de Kant a Kirkegaard.

    Neste sentido, Paraskeva (2001) refere que a escola surge como um local de

    aprendizagem intencionalmente virado para a manuteno do equilbrio de um

    determinado presente assegurado, assim, uma determinada estabilidade de ordem social

    e, consequentemente, preparando melhor os desafios do futuro (p.169).

    Resultante da organizao educativa do estado, Pacheco (2001) refere, o

    currculo, enquanto processo contnuo de deciso, uma construo que ocorre em

    diversos contextos a que correspondem diferentes etapas e fases de concretizao que se

    situam entre as perspectivas macro e micro curriculares (p. 68).

    Dentro da preocupao de definir a natureza e mbito do currculo, Ribeiro

    (1990) esclarece que a dimenso macro-curricular contempla a construo do currculo

    para o sistema de ensino no superior e dentro do currculo oficial estabelece nveis que

    vo desde a concepo e delineamento de um modelo de organizao curricular globalat organizao de unidades e sequncias de ensino-aprendizagem, sendo estas

    delimitadas e caractersticas da dimenso micro-curricular.

    Do contexto macro-curricular ao contexto micro-curricular Pacheco (2001)

    considera trs nveis de deciso curricular: (i) a nvel poltico-administrativo

    relacionado com a Administrao Central, (ii) o nvel de gesto no mbito da escola e

    administrao regional e por ltimo, (iii) o nvel de realizao focalizado na sala de

    aula.Referindo-se ao primeiro nvel, Pacheco (2001) considera uma proposta de

    cunho poltico definido como plano de intenes ao nvel terico e num contexto macro.

    Neste nvel de deciso curricular, Zabalza (2002) inclui o modelo de elaborao

    curricular denominado modelo centro-periferia que se refere ao processo cujo

    protagonismo corresponde administrao Educativa Central que providenciar meios

    que se estendam a todos os estabelecimentos de ensino. Este modelo usual nos

    sistemas curriculares centralizados. uma proposta formal denominada por currculoprescrito e adoptado por uma estrutura organizacional escolar.

  • 8/4/2019 Tese Mestrado: gesto diferenciada do currculo no ensino bsico

    38/251

    Prticas de Gesto Diferenciada do Currculo no 1 CEBContributos para o atendimento diversidadeno interior da turma

    Nome: Ilda Maria Ferreira Marques Neves 24

    O segundo nvel assume particular importncia a concretizao que cada escola

    faz de core curriculum3concebendo-o como um projecto curricular seu, pensado para o

    contexto e para a aprendizagem dos seus alunos incorporando adequadamente as

    dimenses regionais e locais (Roldo, 1999).

    O terceiro nvel situa-se no contexto de sala de aula em que os professores

    desenvolvem o currculo programado de acordo com o projecto educativo de escola no

    deixando de ser um currculo moldado ou percebido.

    Segundo Kelly (1980) e Perrenoud (1995) a fase do currculo real que

    corresponde ao conjunto de experincias e tarefas pressupondo que gerem

    aprendizagens. Nestes nveis de deciso curricular surgem duas perspectivas

    relativamente ao planeamento do currculo: uma perspectiva institucional, formal e

    outra passvel de orientao mais independente e diferenciada.

    3.3.1 - mbito Poltico-Administrativo

    Segundo Pacheco (2001) o planeamento curricular resultante de uma primeira

    deciso poltico-administrativa, constitui-se como uma tarefa tcnica e cabe a

    especialistas curriculares. So clarificadas as opes polticas, delimita as sequncias

    prvias e so elaborados os currculos para diferentes nveis de ensino globalmente

    assentes no modelo investigao-experimentao-disseminao e avaliao.

    Ao referirem-se a vrios modelos globais de construo curricular, Zabalza

    (2002) e Pacheco (2001) destacam autores como Tyler (1946) e Taba (1982) propondo

    que o planeamento do currculo seja um processo dinmico e organizado para a

    instruo, requerendo uma sistematizao coerente e ordenada: o modelo de Tyler

    compreende quatro etapas (formulao de objectivos, seleco dos contedos,

    organizao de experincias de aprendizagem e avaliao); o modelo de Taba segue amesma linha de orientao, no entanto, apresenta-se com sete etapas.

    O significado de coerncia do currculo atribudo ideia de unidades

    integradas ligadas a um sentido de totalidade. Fundamenta-se com uma viso do

    currculo abrangente com um contedo relevante e pertinente.

    Para Beane (2000), considera que falar de um currculo coerente significa

    confrontar uma variedade de perspectivas sobre temas e objectivos que podem unir o

    3 Core curriculum prende-se com a dimenso do que so as aprendizagens essenciais comuns e reconhecidas comocompetncias indispensveis que os alunos devero adquirir na escola (Roldo, 1999)