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    UNIVERSIDADE DA BEIRA

    INTERIOR

    PROTECO DE SISTEMAS DE ENERGIA ELICA

    CONTRA DESCARGAS ELCTRICAS ATMOSFRICAS

    RAFAEL BAPTISTA RODRIGUES

    (MESTRE)

    TESE PARA OBTENO DO GRAU DE DOUTOR EM

    ENGENHARIA ELECTROTCNICA

    Orientador: Doutor Joo Paulo da Silva Catalo

    Co-orientador: Doutor Victor Manuel Fernandes Mendes

    FEVEREIRO 2010

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    Tese realizada sob orientao de

    Professor Doutor Eng. Joo Paulo da Silva Catalo

    e sob co-orientao deProfessor Doutor Eng. Victor Manuel Fernandes Mendes

    Respectivamente, Professor Auxiliar do

    Departamento de Engenharia Electromecnica da

    UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIOR

    e Professor Coordenador com Agregao do

    Departamento de Engenharia Electrotcnica e Automao do

    INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA

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    Dedicado Lusa, minha companheira de sempre,

    e aos meus filhos Teresa, Miguel e Margarida

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    Resumo

    Esta tese incide sobre o tema da proteco de sistemas de energia elica contra

    descargas elctricas atmosfricas. Foram disponibilizados, para o propsito

    desta tese, os registos dos primeiros cinco anos de actividade do sistema

    automtico de deteco de trovoadas do Instituto de Meteorologia.

    Novos resultados referentes caracterizao da actividade cerunica sobre o

    territrio continental Portugus so apresentados. elaborada uma modelao

    matemtica adequada ao estudo da propagao das sobretenses transitriascausadas por DEA. Um novo modelo sobre a proteco de sistemas de energia

    elica foi desenvolvido e sujeito a simulao com o programa de computador

    EMTP-RV. Os resultados da simulao com o EMTP-RV so apresentados e

    discutidos. Ainda, foi desenvolvido um novo programa de computador,

    LPS 2008. O LPS 2008 permite efectuar a anlise de risco de danos causados

    por DEA de acordo com a norma internacional IEC 62305-2. O LPS 2008

    simula o modelo da esfera rolante proposto pela IEC 62305, identificando os

    pontos vulnerveis de uma estrutura e permitindo ao projectista conceber um

    sistema de proteco eficaz.

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    Palavras-chave

    Modelao e Simulao

    Parques Elicos

    Proteco contra DEA

    Proteco contra Sobretenses Transitrias

    Anlise do Risco

    Mtodo da Esfera Rolante

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    Abstract

    This thesis focuses on the lightning protection of wind power plants. For the

    purpose of this thesis, the records of the first five years of operation of the

    Lightning Location System were made available by the Portuguese Institute of

    Meteorology. New results concerning the characterization of the lightning

    activity over the continental territory of Portugal are presented. A mathematical

    model suitable for studying the transient overvoltages caused by lightning is

    provided. A new lightning protection wind turbine model was developed for thesimulations carried out with the computer program EMTP-RV. The results of the

    simulation with EMTP-RV are presented and discussed. A new computer

    program, LPS 2008, was developed for the purpose of this thesis. LPS 2008 is

    able to perform risk analysis due to lightning damages in accordance with

    IEC 62305-2. LPS 2008 is also able to simulate the rolling sphere model

    proposed by IEC 62305, identifying the vulnerable points on a given structure

    and enabling the design of a reliable lightning protection system.

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    Keywords

    Modelling and Simulation

    Wind Power Plants

    Lightning Protection

    Transient Overvoltages Protection

    Risk Analysis

    Rolling Sphere Method

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    Agradecimentos

    Ao Professor Doutor Joo Paulo da Silva Catalo, Professor Auxiliar do

    Departamento de Engenharia Electromecnica da Universidade da Beira

    Interior, principal responsvel como orientador cientfico, desejo expressar o

    meu profundo agradecimento por tantos motivos que tornariam este texto

    demasiado extenso. De facto, o Professor Doutor Joo Paulo da Silva Catalo

    no se poupou a esforos desde que nos conhecemos em Agosto de 2007.

    Incansvel na procura de bibliografia de apoio, excelente na reviso de textos,na escolha de conferncias ou revistas para divulgao dos trabalhos,

    e inexcedvel no apoio e motivao constantes. Foi um enorme privilgio para

    mim poder trabalhar ao seu lado e contar com a sua amizade e ser certamente

    um privilgio para qualquer aluno t-lo como Professor. Bem-haja Prof.

    Catalo.

    Ao Professor Doutor Victor Manuel Fernandes Mendes, Professor Coordenadorcom Agregao do Departamento de Engenharia Electrotcnica e Automao do

    Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, responsvel como co-orientador

    cientfico, desejo expressar o meu agradecimento por ter acreditado neste

    projecto desde o seu inicio, por me ter ajudado a encontrar o caminho para o

    concretizar e por todos os momentos de discusso, aconselhamento, partilha de

    conhecimento e amizade.

    Ao Professor Doutor Carlos Manuel Pereira Cabrita, Professor Catedrtico do

    Departamento de Engenharia Electromecnica da Universidade da Beira

    Interior, desejo expressar o meu agradecimento pelo caloroso acolhimento na

    Universidade da Beira Interior e pelo interesse continuado que manteve sobre os

    resultados do trabalho de investigao.

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    Ao Professor Doutor Jos Carlos Loureno Quadrado, Professor Coordenador

    com Agregao do Departamento de Engenharia Electrotcnica e Automao do

    Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, desejo expressar o meu

    agradecimento pela ajuda e estmulo constante na prossecuo dos meus

    objectivos quer acadmicos quer profissionais.

    Ao Doutor Victor Manuel Martins Soares Prior, Coordenador do Processamento

    e Previso Numrica do Estado do Tempo do Instituto de Meteorologia, desejo

    expressar o meu agradecimento pela oportunidade de poder trabalhar em

    primeira mo informao do sistema automtico de deteco de trovoadas.

    Parque Expo 98, S.A. e Parque Expo Gesto Urbana do Parque das

    Naes, S.A., desejo expressar o meu agradecimento pela compreenso, estmulo

    e apoio financeiro com que me agraciaram.

    Ainda, Professora Doutora M. T. Correia de Barros, do Instituto Superior

    Tcnico, Professora Doutora Mnica Aguado, da Universidade Pblica de

    Navarra, Dr. Sandra Correia, do Instituto de Meteorologia e a todos aqueles

    que contriburam directa ou indirectamente para a elaborao deste trabalho de

    doutoramento, desejo expressar o meu agradecimento.

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    ndice

    Captulo 1 Introduo 1

    1.1 Enquadramento 2

    1.2 Motivao 10

    1.3 Estado da Arte 14

    1.4 Organizao do Texto 24

    1.5 Notao 26

    Captulo 2 Descarga Elctrica Atmosfrica 27

    2.1 Introduo 28

    2.2 Formao das Nuvens de Trovoada 29

    2.3 Desenvolvimento da DEA 32

    2.4 Processo de Impacto 37

    2.5 Parmetros da DEA 40

    Captulo 3 Caracterizao da Actividade Cerunica em

    Portugal Continental 49

    3.1 Introduo 50

    3.2 Sistemas de Localizao de DEA 50

    3.3 Sistema de Localizao de DEA em Portugal 593.4 Mtodo de Anlise 63

    3.5 Resultados e Discusso

    66

    3.6 Concluses 78

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    Captulo 4 Proteco dos Parques Elicos contra Efeitos

    Indirectos das DEA 82

    4.1 Introduo 83

    4.2 Modelao Matemtica 84

    4.3 Ferramenta Computacional EMTP-RV 91

    4.4 Resultados e Discusso 93

    4.5 Concluses 115

    Captulo 5 Proteco dos Parques Elicos contra Efeitos

    Directos das DEA 116

    5.1 Introduo 117

    5.2 Anlise do Risco de Danos 121

    5.3 Modelo Electrogeomtrico e RSM 126

    5.4 Ferramenta Computacional LPS 2008 130

    5.5 Resultados e Discusso 137

    5.6 Concluses 148

    Captulo 6 Concluso 150

    6.1 Contribuies 151

    6.2 Publicaes 153

    6.3 Direces de Investigao 157

    Referncias Bibliogrficas 158

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    Apndice A 172

    A.1 Caracterizao da Actividade Cerunica em

    Portugal Continental 173

    Apndice B 186

    B.1 Introduo ao Programa LPS 2008 187

    B.2 Desenhar Objectos em 3D 188

    B.3 Obteno das reas de Influncia 197

    B.4 Executar o Programa LPS 2008 200

    B.5 Simulao do Modelo RSM com o LPS 2008 212

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    Lista de Figuras

    Fig. 1.1 Saldo importador de produtos energticos entre 2000 e

    2008 (Fonte: DGEG) ............................................................... 2

    Fig. 1.2 Repartio da produo de energia elctrica em 2008 e

    2009 (Fonte: REN) .................................................................. 4

    Fig. 1.3 Atlas elico mundial (Fonte: www.climate-

    charts.com/images/NasaWindSpeed) ..................................... 5

    Fig. 1.4 Atlas elico de Portugal (Fonte: INETI) ................................. 6

    Fig. 1.5 DEA atinge aerogerador no parque elico de Torres

    Vedras em 09/09/2009 ............................................................ 12

    Fig. 1.6 Danos causados pela DEA na nacelle do aerogerador

    atingido no parque elico de Torres Vedras em

    09/09/2009 .............................................................................. 13

    Fig. 2.1 DEA sobre o Parque das Naes em 09/09/2009 .................... 29

    Fig. 2.2 Mecanismos de elevao do ar quente e hmido naatmosfera (Fonte: IM) ............................................................. 30

    Fig. 2.3 Classificao das nuvens (Fonte: IM) ..................................... 31

    Fig. 2.4 Relao entre a frequncia e o mtodo de localizao das

    DEA [19] ................................................................................ 35

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    Fig. 2.5 a) DEA fotografada com uma cmara em repouso.

    b) DEA fotografada com uma cmara em movimento [24] .... 37

    Fig. 2.6 Processos envolvidos numa DEA nuvem-solo negativa[24] ......................................................................................... 38

    Fig. 2.7 Definio dos parmetros do arco-de-retorno curto

    (T2< 2 ms) [5] ......................................................................... 40

    Fig. 2.8 Definio dos parmetros do arco-de-retorno longo

    (2 ms < Tlong< 1 s) [5] ............................................................ 41

    Fig. 2.9 Possveis combinaes de arcos-de-retorno em DEA

    descendentes (tpicas em terrenos planos e estruturas

    baixas) [5] ............................................................................... 41

    Fig. 2.10 Densidade de probabilidade de i, segundo a IEC 61663-1,

    CIGRE e Eriksson [27] ........................................................... 43

    Fig. 2.11 Distribuio da frequncia acumulada dos parmetros da

    DEA [5] ................................................................................ 45

    Fig. 3.1 Situao ptima para o mtodo DF [33] ................................. 51

    Fig. 3.2 a) Mtodo TOA da direco hiperblica. b) Exemplo de

    ambiguidade [34] .................................................................... 53

    Fig. 3.3 Exemplo de localizao do algoritmo IMPACT [34] ............. 54

    Fig. 3.4 Em cima: representao altitude/tempo de DEA nuvem-

    solo; em baixo: representao altitude/distncia horizontal

    em direco a norte de DEA [18] ........................................... 57

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    Fig. 3.5 Em cima: representao altitude/distncia horizontal em

    direco a norte de DEA nuvem-nuvem; em baixo:

    representao XY de DEA [18] ............................................. 58

    Fig. 3.6 Mapa de nvel isoceraunico de Portugal continental, desde

    1961 a 1990 (Fonte: IM) ........................................................ 60

    Fig. 3.7 Detector instalado em Braga e aspecto das antenas

    electromagnticas (Fonte: IM) ........................................... 62

    Fig. 3.8 Localizao actual dos detectores IMPACT e expanso

    prevista ao territrio insular (Fonte: IM) ................................ 62

    Fig. 3.9 Preciso de localizao e eficincia de deteco para DEA

    maiores que 5 kA (Fonte: IM) ................................................ 62

    Fig. 3.10 Aspecto da visualizao obtida em 29/10/2002 (Fonte:

    IM) .......................................................................................... 63

    Fig. 3.11 Agrupamento dos registos segundo critrios de validao ..... 64

    Fig. 3.12 reas de trabalho consideradas .............................................. 65

    Fig. 3.13 Aspecto de um ficheiro de dados ASCII do IM ..................... 66

    Fig. 3.14 DEA em funo da latitude em 2007 ...................................... 69

    Fig. 3.15 DEA em funo da longitude em 2007 .................................. 70

    Fig. 3.16 DEA em funo do ms na regio B em 2007 ........................ 71

    Fig. 3.17 Probabilidade acumulada do pico de corrente sobre a

    regio B ................................................................................... 72

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    Fig. 3.18 Mapa GFD global de Portugal de 2003 a 2006 (Fonte:

    IM) ...................... 74

    Fig. 3.19 Mapas GFD de Portugal com DEA positivas de 2003 a2006 (Fonte: IM) .... 75

    Fig. 3.20 Mapas GFD de Portugal com DEA negativas de 2003 a

    2006 (Fonte: IM) ... 76

    Fig. 3.21 Mapa orogrfico de Portugal (Fonte: IGP) ............................ 78

    Fig. 4.1 Circuito equivalente de uma linha de transmisso

    considerada com parmetros distribudos ............................... 87

    Fig. 4.2 Ps do rotor do aerogerador (Fonte: Enercon) ........ 94

    Fig. 4.3 Sistema de accionamento do aerogerador (Fonte:Enercon) .................................................................................. 94

    Fig. 4.4 Ligao do aerogerador ao transformador (Fonte:

    Enercon) .................................................................................. 95

    Fig. 4.5 Esquema elctrico da torre elica (Fonte: Siemens) ............... 96

    Fig. 4.6 Esquema elctrico equivalente em EMTP-RV da Fig.4.5em funcionamento normal ...................................................... 98

    Fig. 4.7 Modelo da linha de parmetros distribudos CP ..................... 100

    Fig. 4.8 Formas de onda da tenso: a) sada do gerador (m2);

    b) sada do transformador elevador (m6, 7, 9); c) sada

    do transformador auxiliar (m4) ............................................... 104

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    Fig. 4.9 Esquema elctrico equivalente em EMTP-RV da Fig.4.5

    com DEA indirecta .................................................................. 105

    Fig. 4.10 Formas de onda da sobretenso resultantes da simulaoem EMTP-RV do esquema da Fig.4.9: a) sada do

    gerador (m2); b) sada do transformador elevador (m6,

    7, 9); c) sada do transformador elevador (m1); d)

    sada do transformador auxiliar (m4) ...................................... 106

    Fig. 4.11 Esquema elctrico equivalente em EMTP-RV da Fig.4.5

    com DEA indirecta e DPST quase idealmente ligado ............. 107

    Fig. 4.12 Formas de onda da sobretenso resultantes da simulao

    em EMTP-RV do esquema da Fig.4.11: a) sada do

    gerador (m2); b) sada do transformador elevador (m1);

    c) sada do transformador auxiliar (m4) ............................... 108

    Fig. 4.13 Esquema elctrico equivalente em EMTP-RV da Fig.4.5

    com DEA indirecta e DPST idealmente ligado ....................... 109

    Fig. 4.14 Formas de onda da sobretenso resultantes da simulao

    em EMTP-RV do esquema da Fig.4.13: a) sada do

    gerador (m2); b) sada do transformador elevador (m1);

    c) sada do transformador auxiliar (m4) ............................... 110

    Fig. 4.15 Esquema elctrico com dois aerogeradores ............................. 111

    Fig. 4.16 Esquema elctrico equivalente em EMTP-RV da Fig.4.15

    com ocorrncia de uma DEA indirecta junto a uma das

    torres ................................ 112

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    Fig. 4.17 Formas de onda da sobretenso resultantes da simulao

    em EMTP-RV do esquema da Fig.4.16: a) sada do

    transformador elevador (m1); b) sada do transformador

    auxiliar (m4); c) sada do transformador elevador (m16);

    d) sada do transformador auxiliar (m12) ............................ 113

    Fig. 4.18 Formas de onda da sobretenso obtidas para esquema da

    Fig.4.16 com I =200 kA: a) sada do transformador

    elevador (m1); b) sada do transformador auxiliar (m4);

    c) sada do transformador elevador (m16) ........................ 114

    Fig. 5.1 Capacidade instalada na Europa em Finais de 2008 [73] ....... 117

    Fig. 5.2 Capacidade instalada e acumulada em Portugal (Junho de

    2009 [73]) ............................................................................... 118

    Fig. 5.3 Localizao dos parques elicos em Portugal (Junho de

    2009 [73]) ............................................................................... 118

    Fig. 5.4 Modelo E-126 da Enercon (Fonte: Enercon) .......................... 119

    Fig. 5.5 Aplicao do modelo electrogeomtrico proteco de

    um condutor de fase de uma linha area [83] ...................... 128

    Fig. 5.6 Ecr de boas-vindas do LPS 2008 ....... 131

    Fig. 5.7 LPS 2008 a ser executado com o AutoCAD .......................... 132

    Fig. 5.8 Um dos ecrs de entrada de dados no LPS 2008 .................... 134

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    Fig. 5.9 Fluxograma para deciso de instalao de medidas de

    proteco adicionais no LPS 2008 .......................................... 135

    Fig. 5.10 Ecr para simulao do RSM no LPS 2008 ............................ 136

    Fig. 5.11 Aerogerador modelado em 3D no AutoCAD .......................... 138

    Fig. 5.12 Resultado da simulao do RSM com o LPS 2008 ao

    aerogerador .............................................................................. 139

    Fig. 5.13 Esquema elctrico equivalente em EMTP-RV da Fig.4.5

    com DEA directa ..................................................................... 139

    Fig. 5.14 Formas de onda da sobretenso resultantes da simulao

    em EMTP-RV do esquema da Fig.5.13: a) sada do

    gerador (m2); b) sada do transformador elevador (m6,

    7, 9); c) sada do transformador elevador (m1); d)

    sada do transformador auxiliar (m4) ..................................... 140

    Fig. 5.15 Esquema elctrico equivalente em EMTP-RV da Fig.4.5

    com DEA directa e com DPST quase idealmente ligado ........ 141

    Fig. 5.16 Formas de onda da sobretenso resultantes da simulao

    em EMTP-RV do esquema da Fig.5.15: a) sada do

    gerador (m2); b) sada do transformador elevador (m1);

    c) sada do transformador auxiliar (m4) ............................... 142

    Fig. 5.17 Esquema elctrico equivalente em EMTP-RV da Fig.4.5

    com DEA directa e com DPST idealmente ligado ................. 143

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    Fig. 5.18 Formas de onda da sobretenso resultantes da simulao

    em EMTP-RV do esquema da Fig.14: a) sada do

    gerador (m2); b) sada do transformador elevador (m1);

    c) sada do transformador auxiliar (m4) ............................... 144

    Fig. 5.19 Esquema elctrico equivalente em EMTP-RV da Fig.4.15

    com ocorrncia de uma DEA directa numa das torres ............ 145

    Fig. 5.20 Formas de onda da sobretenso obtidas para esquema da

    Fig.5.19 com I =10 kA: a) sada do transformador

    elevador (m1); b) sada do transformador auxiliar (m4);c) sada do transformador elevador (m16); d) sada do

    transformador auxiliar (m12) .................................................. 146

    Fig. 5.21 Formas de onda da sobretenso obtidas para esquema da

    Fig.5.19 com I =200 kA: a) sada do transformador

    elevador (m1); b) sada do transformador auxiliar (m4);

    c) sada do transformador elevador (m16); d) sada dotransformador auxiliar (m12) .................................................. 147

    Fig. A.1 DEA em funo da latitude em 2003 ...................................... 173

    Fig. A.2 DEA em funo da latitude em 2004 ...................................... 174

    Fig. A.3 DEA em funo da latitude em 2005 ...................................... 174

    Fig. A.4 DEA em funo da latitude em 2006 ...................................... 175

    Fig. A.5 DEA em funo da longitude em 2003 ................................... 175

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    Fig. B.1 a) Vista em planta do edifcio b) Vista em perspectiva

    isomtrica ............................................................................... 192

    Fig. B.2 Edifcio complexo pretendido ................................................. 193

    Fig. B.3 Resultado aps construo das duas caixas ........................... 193

    Fig. B.4 Resultado aps executar Union ........................................... 194

    Fig. B.5 a) Aspecto das duas cunhas b) Resultado aps o comando

    Union ................................................................................... 195

    Fig. B.6 Aspecto de todas as cunhas ..................................................... 195

    Fig. B.7 a) O efeito do comando Slice b) Aspecto de todas as

    cunhas aps o comando Slice ............................................... 195

    Fig. B.8 Aspecto final do telhado ......................................................... 196

    Fig. B.9 Aspecto final da portaria ......................................................... 196

    Fig. B.10 Desenho 3D respeitante ao edifcio da Fig. B.1,

    mostrando as reas de influncia ............................................. 197

    Fig. B.11 Resultado do comando Arc Start Center End ....................... 198

    Fig. B.12 Resultado do comando Trim ............................................... 199

    Fig. B.13 Ecr de Boas-Vindas do LPS 2008 ..................................... 201

    Fig. B.14 Ecr inicial do LPS 2008 ........................................................ 201

    Fig. B.15 Anlise do risco de danos a um aerogerador com 116 m

    de altura segundo a BS 6651 ................................................... 202

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    Fig. B.16 Entrada de dados para anlise do risco de danos a um

    aerogerador com 116 m de altura segundo a IEC 61662,

    ecr D1 ..................................................................................... 203

    Fig. B.17 Entrada de dados para anlise do risco de danos a um

    aerogerador com 116 m de altura segundo a IEC 61662,

    ecr D2 .................................................................................... 204

    Fig. B.18 Entrada de dados para anlise do risco de danos a um

    aerogerador com 116 m de altura segundo a IEC 61662,

    ecr D3 .................................................................................... 204

    Fig. B.19 Entrada de dados para anlise do risco de danos a um

    aerogerador com 116 m de altura segundo a IEC 61662,

    ecr D4 ..................................................................................... 205

    Fig. B.20 Entrada de dados para anlise do risco de danos a um

    aerogerador com 116 m de altura segundo a IEC 61662,

    ecr D5 .................................................................................... 205

    Fig. B.21 Resultados da anlise do risco de danos a um aerogerador

    com 116 m de altura segundo a IEC 61662, ecr R1 ............... 206

    Fig. B.22 Resultados da anlise do risco de danos a um aerogerador

    com 116 m de altura segundo a IEC 61662, ecr R2 .............. 206

    Fig. B.23 Concluses da anlise do risco de danos a um aerogerador

    com 116 m de altura segundo a IEC 61662, ecr C ................ 207

    Fig. B.24 Concluses da anlise do risco de danos a um aerogerador

    com 116 m de altura segundo a IEC 61662 com IPR de

    nvel III, ecr C ....................................................................... 208

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    xxi

    Fig. B.25 Entrada de dados para anlise do risco de danos a um

    aerogerador com 116 m de altura segundo a IEC 62305-2,

    ecr D1 .................................................................................... 209

    Fig. B.26 Entrada de dados para anlise do risco de danos a um

    aerogerador com 116 m de altura segundo a IEC 62305-2,

    ecr D2 .................................................................................... 209

    Fig. B.27 Entrada de dados para anlise do risco de danos a um

    aerogerador com 116 m de altura segundo a IEC 62305-2,

    ecr D3 ..................................................................................... 210

    Fig. B.28 Entrada de dados para anlise do risco de danos a um

    aerogerador com 116 m de altura segundo a IEC 62305-2,

    ecr D4 .................................................................................... 210

    Fig. B.29 Resultados da anlise do risco de danos a um aerogerador

    com 116 m de altura segundo a IEC 62305-2, ecr R1 ........... 211

    Fig. B.30 Concluses da anlise do risco de danos a um aerogerador

    com 116 m de altura segundo a IEC 62305-2 com IPR de

    nvel IV, ecr C1 ..................................................................... 211

    Fig. B.31 Concluses da anlise do risco de danos a um aerogerador

    com 116 m de altura segundo a IEC 62305-2 com IPR e

    DPST de nvel IV, ecr C1 ..................................................... 212

    Fig. B.32 Simulao do RSM a um aerogerador com 116 m de

    altura segundo a IEC 62661 com IPR de nvel III, ecr

    RSM ........................................................................................ 213

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    xxii

    Fig. B.33 Resultado da simulao do RSM a um aerogerador com

    116 m de altura segundo a IEC 62661 com IPR de nvel I

    e IV .......................................................................................... 214

    Fig. B.34 Igreja dos Pastorinhos modelada em 3D com o AutoCAD ..... 215

    Fig. B.35 Resultado da simulao do RSM Igreja dos Pastorinhos ..... 216

    Fig. B.36 IPR na igreja dos Pastorinhos .................................................. 217

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    xxiii

    Lista de Tabelas

    Tabela 2.1 Classificao oficial das sobretenses at 1993, segundo a

    IEC ........................................................................................... 44

    Tabela 2.2 Valores dos parmetros da DEA de CIGRE (Electra N. 41

    ou N. 69) e [5] ........................................................................ 46

    Tabela 2.3 Valores de e log de CIGRE (Electra N. 41 ou N. 69)[5] ... 47

    Tabela 3.1 Agrupamento dos registos segundo critrios de validao ...... 64

    Tabela 3.2 Valor absoluto e relativo de DEA por ano e por polaridade .... 67

    Tabela 3.3 Valores de GFD e Td .............................................................. 68

    Tabela 5.1 Valores tpicos para RT ...........................................................125

    Tabela 5.2 Dados tpicos para caracterizar uma estrutura .........................133

    Tabela 5.3 Dados tpicos para caracterizar a instalao elctrica daestrutura, o seu equipamento electrnico e a linha de

    abastecimento de energia .........................................................133

    Tabela 5.4 Dados tpicos para caracterizar as zonas de uma estrutura ......134

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    xxiv

    Lista de Siglas

    2D Duas Dimenses

    3D Trs Dimenses

    AT Alta Tenso

    BOD Breakover Diode

    BT Baixa Tenso

    CIGRE Conseil International des Grands Rseaux lectriques

    CP Constant Parameter

    CRDF Cathode Ray Direction Finder

    DEA Descarga Elctrica Atmosfrica

    DF Direction Finders

    DGEG Direco Geral de Energia e Geologia

    DPST Dispositivos de Proteco contra Sobretenses Transitrias

    EMTP Electro-Magnetic Transient Program

    GAI Global Atmospherics Inc.

    GDT Gas Discharge Tube

    GFD Ground Flash Density

    IE Instalao Elctrica

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    xxv

    IEC International Electrotechnical Commission

    IGP Instituto Geogrfico Portugus

    IM Instituto de Meteorologia

    IMPACT Improved Accuracy Using Combined Technology

    INEGI Instituto de Engenharia Mecnica e Gesto Industrial

    INERIS Institut National de lEnvironnement Industriel et des Risques

    INETI Instituto Nacional de Engenharia, Tecnologia e Inovao

    IPR Instalao de Pra-Raios

    ktep Quilo Toneladas Equivalentes de Petrleo

    LF Low Frequency

    LLS Lightning Location System

    LPATS Lightning Position and Tracking System

    MAT Muito Alta Tenso

    MOV Metal Oxide Varistor

    MT Mdia Tenso

    M Milhes de Euros

    NS Norte-Sul

    PT Posto de transformao

    QE Quadro de Entrada

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    xxvi

    REN Rede Elctrica Nacional

    RSM Modelo da Esfera Rolante

    TOA Time of Arrival

    TSS Tyristhor Surge Supressor

    UE Unio Europeia

    VLF Very Low Frequency

    VHF Very High Frequency

    WE West-East

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    xxvii

    Lista de Smbolos

    A rea

    Constante de atenuao

    B Densidade de fluxo magntico

    Desvio padro logaritmico ou constante de fase

    C Capacidade

    Cd Factor de localizao

    Ce Factor ambiental

    Ct Factor de correco transformador MT/BT

    c Velocidade da luz no vcuo

    D Densidade de fluxo elctrico

    d Distncia ou profundidade de enterramento

    Profundidade de penetrao

    E Intensidade do campo elctrico

    Permitividade dielctrica do meio

    0 Permitividade dielctrica do vcuo

    r Permitividade dielctrica relativa do meio

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    xxviii

    f Frequncia

    Fluxo magntico

    G Condutncia

    H Intensidade do campo magntico

    H Altura a que se encontra o condutor do solo

    i Intensidade da corrente elctrica

    I Valor de pico da intensidade da corrente elctrica

    Jc Densidade da corrente

    K Escarpamento

    KS1 Coeficiente da presena de blindagem

    KS2 Coeficiente de equipotencializao

    KS3 Coeficiente da instalao dos cabos

    KS4 Coeficiente da tenso suportada Uw

    L Coeficiente de auto-induo ou perda mdia em consequncia de

    uma DEA capaz de influenciar a estrutura ou o servio

    l Comprimento

    M Valor mdio

    Permeabilidade magntica do meio

    0 Permeabilidade magntica do vcuo

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    xxix

    r Permeabilidade magntica relativa do meio

    N Nmero anual de DEA capaz de influenciar a estrutura ou o

    servio

    P Probabilidade de uma DEA com influncia na estrutura ou

    servio causar danos

    Q Carga elctrica

    R Resistncia ou risco global de danos causados por DEA

    rcd Raio do condutor

    Resistividade do solo

    v Densidade volumtrica de carga elctrica

    Sm Incremento mximo

    s Seco do condutor

    Condutividade

    log Disperso

    t Tempo

    tf Tempo de frente de onda

    th Tempo de meia onda

    u Tenso elctrica

    V Potencial elctrico

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    xxx

    v Velocidade de propagao de uma onda mvel numa linha de

    transmisso

    W Energia

    Frequncia angular

    x Espao

    Z Impedncia

    Z0 Impedncia impulsiva

  • 7/26/2019 Tese Rodrigues

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    1

    CAPTULO

    1

    Introduo

    Neste captulo abordado e enquadrado o tema da energia elica nos contextos

    ambiental, energtico e potencial de desenvolvimento. O recente e enormecrescimento de potncia instalada em parques elicos, no mundo em geral e na

    Europa e Portugal em particular, as descargas elctricas atmosfricas, enquanto

    causa principal de danos destes sistemas, e a possibilidade de utilizar os registos

    dos primeiros anos de funcionamento do sistema de deteco de trovoadas do

    Instituto de Meteorologia, so alguns dos factores de motivao para abordar

    este tema. Apresenta-se uma reviso do estado da arte e descrita a forma como

    o texto est organizado. Finalmente, apresenta-se a notao utilizada nesta tese.

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    Introduo

    2

    1.1 Enquadramento

    A assinatura do Protocolo de Quioto em 1997 aumentou significativamente a

    reflexo sobre as questes ambientais no que concerne s decises polticas quer

    a nvel mundial quer a nvel de cada nao, sobre a mitigao das emisses

    antropognicas dos gases responsveis pelo efeito de estufa. O protocolo entrou

    em vigor em 16 de Fevereiro de 2005 e fixou metas para os diversos pases

    signatrios at 2012. Assim, para os pases da Unio Europeia (UE), no global

    foi fixada uma reduo de 8% face aos nveis de emisso verificados em 1990.

    A evoluo nacional do saldo importador de produtos energticos entre 2000 e

    2008, de acordo com a factura energtica de 2008 da responsabilidade da

    Direco Geral de Energia e Geologia (DGEG), apresentado na Fig. 1.1.

    Fig. 1.1 Saldo importador de produtos energticos entre 2000 e 2008 (Fonte: DGEG)

    Na Fig. 1.1 as colunas representam o saldo importador em quilo toneladas

    equivalentes de petrleo (ktep) e as reas representam o saldo importador em

    milhes de euros (M).

  • 7/26/2019 Tese Rodrigues

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    Introduo

    3

    O petrleo bruto e os seus refinados representaram em 2008 cerca de 77 % do

    saldo importador em M (Fonte: DGEG), o que representa uma forte

    dependncia exterior de produtos energticos no renovveis com

    responsabilidade no efeito de estufa.

    O Governo Portugus aprovou uma estratgia nacional para a energia expressa na

    resoluo do Conselho de Ministros de Outubro de 2005. O Governo Portugus

    empenhado na reduo das emisses de CO2, no aumento da qualidade dos

    servios energticos e em promover a concorrncia, definiu nesta estratgia as

    grandes linhas a implementar no sector da energia elctrica. Esta estratgia

    estabeleceu vrios objectivos para o sector, nomeadamente a expanso do

    investimento em energias renovveis e a promoo da eficincia energtica.

    Assim, o Governo estabeleceu na Resoluo do Conselho de Ministros n. 1/2008

    novas metas para a energia elica:

    Aumentar em 1950 MW a capacidade instalada, at 2012, perfazendo

    um total de 5100 MW em que 600 MW sero por renovao do

    equipamento;

    Criar um cluster industrial e tecnolgico para acelerar a taxa de

    instalao de capacidade em energia elica.

    Em 2009, o consumo de energia elctrica foi de 49,9 TWh, segundo informao

    da Rede Elctrica Nacional (REN), registando a primeira evoluo anual

    negativa, de 1,8 %, desde 1981. A produo em regime especial cresceu 25 % e

    abasteceu 29 % do consumo, dos quais 15 % se deveram s elicas que

    reforaram a potncia em 700 MW. Em particular, no dia 8 de Novembro de

    2009 os aproveitamentos em energia elica abasteceram cerca de 50 % do

    consumo, tendo o valor mdio do abastecimento desse ms sido de 24 %. O saldo

    importador foi o mais baixo desde 2003 e abasteceu 10 % do consumo, como

    apresentado na Fig. 1.2.

  • 7/26/2019 Tese Rodrigues

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    Introduo

    4

    Fig. 1.2 Repartio da produo de energia elctrica em 2008 e 2009 (Fonte: REN)

    Ainda pela Fig. 1.2, comparando o ano de 2008 com 2009 observada uma

    diminuio do saldo importador em cerca de 9 %, o qual se deveu principalmente

    ao aumento da produo elica.

    A energia elica uma forma de energia que deriva da converso da energia

    solar devido ao desequilbrio no aquecimento da atmosfera provocado pelo sol.

    Este desequilbrio est associado s irregularidades da superfcie terrestre e ao

    movimento de rotao da Terra. O regime dos ventos influenciado pela forma

    do solo, pelos planos de gua e pelo coberto vegetal.

    Desde h alguns milhares de anos que a energia elica utilizada. H 5000 anos

    que utilizada na navegao no rio Nilo, ou em bombagem de gua na China,

    muitos sculos antes da Era Crist. Em Portugal frequente encontrar no cume

    dos montes as runas de moinhos de vento que deixaram de funcionar h dcadas

    devido ao progresso tecnolgico. Contudo, em muitas quintas ainda se podem

    encontrar moinhos de vento para bombagem de gua.

    O que apelidamos de aproveitamento de energia elica est associado com o

    processo pelo qual a energia cintica do vento utilizada na converso para a

    forma de energia mecnica.

  • 7/26/2019 Tese Rodrigues

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    Introduo

    5

    Esta energia mecnica pode ser utilizada para muitas actividades tais como: moer

    gro, bombear gua ou accionar um gerador que a converte em energia elctrica.

    A energia elctrica assim obtida pode ser injectada na rede elctrica para ser

    distribuda ao consumidor, constituindo os aproveitamentos ditos de ligados

    rede.

    O aproveitamento da energia elica tambm pode ter uma aplicao localizada,

    ou seja, utilizada apenas para fornecer electricidade num determinado local

    situado longe da rede elctrica de distribuio aos consumidores, constituindo os

    aproveitamentos ditos de autnomos.

    O conhecimento do potencial elico um factor determinante na escolha do local

    de instalao dos aproveitamentos da energia elica. O atlas elico mundial

    apresentado na Fig. 1.3.

    Fig. 1.3 Atlas elico mundial (Fonte: www.climate-charts.com/images/NasaWindSpeed)

    O atlas da Fig. 1.3 representa a velocidade mdia anual do vento medida

    cinquenta metros acima do solo ou da superfcie do mar.

    ms-1

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    39/250

    Introduo

    6

    O departamento de energias renovveis do Instituto Nacional de Engenharia,

    Tecnologia e Inovao (INETI) produziu uma base de dados do potencial elico

    do vento em Portugal, que apresenta as caractersticas fsicas e energticas do

    escoamento atmosfrico num conjunto de 57 locais em Portugal continental e

    uma folha de clculo simplificada, que permite, em funo do investimento,

    avaliar a viabilidade econmica. A Fig. 1.4 apresenta um atlas elico de Portugal

    sessenta metros acima do solo ou da superfcie do mar.

    Fig. 1.4 Atlas elico de Portugal (Fonte: INETI)

    Em Portugal, devido sua situao geogrfica e geomorfologia, apenas nas zonas

    montanhosas a velocidade e a regularidade do vento susceptvel de

    aproveitamento energtico.

  • 7/26/2019 Tese Rodrigues

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    Introduo

    7

    A maior parte dos locais com essas caractersticas favorveis situam-se a norte

    do rio Tejo, e a sul junto Costa Vicentina e Ponta de Sagres, sendo raros os

    locais favorveis na extensa plancie alentejana.

    Ainda, a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto em colaborao

    com o Instituto de Engenharia Mecnica e Gesto Industrial (INEGI), o Instituto

    de Engenharia de Sistemas e Computadores do Porto e o Research Centre for

    Wind Energy and Atmospheric Flowsdesenvolveram o programa VENTOS, que

    utilizado para simulao computacional do comportamento do escoamento do

    vento sobre solos complexos com ou sem arborizao. A base de dados do

    potencial elico, a folha de clculo simplificada e o programa Ventos so

    ferramentas importantes para o conhecimento do potencial elico, mas outras so

    ainda necessrias, como o caso do programa de computador desenvolvido nesta

    tese no mbito da proteco dos aerogeradores.

    Os aerogeradores podem ser classificados em dois tipos: de eixo horizontal,

    como os antigos moinhos; e de eixo vertical, como o aerogerador Darrieus.

    A tecnologia dos aerogeradores tem evoludo muito devido aos avanos

    tecnolgicos dos materiais, da engenharia, da electrnica e da aerodinmica.

    Em geral, os aerogeradores esto agrupados num determinado local, onde as

    condies do vento so favorveis. Estes agrupamentos so designados por

    Parques Elicos. A energia elctrica por eles obtida incorporada na rede

    elctrica e distribuda aos consumidores da mesma forma que a obtida nas

    centrais trmicas convencionais.

    A energia produzida por qualquer aerogerador directamente proporcional ao

    cubo da velocidade do vento. Por isso, existe vantagem em instalar os

    aerogeradores nas zonas em que a velocidade do vento elevada, ditos de

    ventosos. Como a velocidade do vento afectada pelo relevo do solo, e aumenta

    com a altura acima do solo, de acordo com a lei de Prandel, as turbinas so

    montadas em torres muito altas.

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    Introduo

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    Os produtores de energia elctrica em regime especial, anteriormente designados

    por produtores independentes, entregam REN toda a energia produzida. O valor

    da tarifa praticada depende da tecnologia utilizada, sendo o mesmo estabelecido

    pelo Decreto-Lei n. 225/2007 de 31 de Maio. Os aerogeradores instalados numa

    zona com maior velocidade de vento, originando uma significativa

    disponibilidade de energia cintica das massas de ar, permitem um retorno

    econmico do investimento mais favorvel em comparao com os situados em

    zonas mais desfavorveis. Mas, no s importante fazer uma avaliao da

    disponibilidade em energia cintica das massas de ar, visto que, a actividade

    cerunica do local tambm um factor importante do sucesso do investimento.Esta tese constitui um contributo no mbito da caracterizao da actividade

    cerunica em Portugal continental.

    Os custos da energia elctrica produzida pelos aerogeradores so

    fundamentalmente determinados por:

    Custo do investimento, como por exemplo no aerogerador, nas

    fundaes e na ligao rede;Tempo de vida til do equipamento;

    Taxa de juro associado com o emprstimo requerido para cobrir o

    investimento total ou parcialmente;

    Custos de manuteno, que normalmente so directamente

    proporcionais s avarias;

    Custos devidos ao pagamento de impostos e seguros;

    O custo unitrio da energia elctrica produzida pelos aerogeradores,

    decrescendo com o aumento das horas de indisponibilidade.

    Segundo informao disponibilizada na pgina da DGEG, os custos dos

    aerogeradores tm vindo a decrescer nos ltimos anos, mas esta tecnologia ainda

    requer um investimento inicial mais elevado por kW de potncia instalada do que

    a produo de electricidade baseada em derivados de petrleo.

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    Introduo

    10

    1.2 Motivao

    A energia elica evita importar petrleo ou gs natural e por isso contribui para

    aliviar a dependncia e a factura energtica dum pas. A energia elica evita as

    emisses de CO2 e os custos associados violao dos nveis de emisso

    acordados entre os pases, custos ambientais e de sade pblica, bem como

    contribui para diminuir o recurso aos combustveis de origem fssil, ditos de

    fonte de energia no renovvel.

    Ainda, segundo a DGEG, a energia elica um recurso nacional, fivel, e que

    gera cinco vezes mais emprego por Euro investido do que as tecnologias

    associadas ao carvo ou ao nuclear. A energia elica representa, pelas razes

    anteriormente referidas, um contributo para se atingirem os compromissos

    internacionais, nomeadamente os fixados no Protocolo de Quioto.

    De acordo com os dados da European Wind Energy Association, em 2008 a

    potncia total instalada na UE em produo de electricidade foi de 19651 MW.

    A potncia instalada de origem elica foi de 8484 MW, o que perfez 43 %.

    A energia elica foi a fonte de energia mais utilizada no aumento da capacidade

    de produo de electricidade da UE, frente do gs com 35 % e do petrleo com

    13 %.

    Por cada MWh de energia elctrica de origem elica so reduzidas entre 0,8 a 0,9

    toneladas de emisses de gases com efeito de estufa que seriam produzidas pelautilizao dos combustveis fsseis na produo de energia elctrica.

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    Introduo

    11

    O sector da energia elica pois um mercado em franco crescimento, com

    11000 M gastos em 2008 na UE, cujo potencial se situa a vrios nveis:

    Explorao comercial de energia;

    Produo de equipamentos;

    Manuteno e servios;

    Investigao e desenvolvimento.

    Em consequncia, os estudos no mbito da energia elica so linhas de

    investigao motivantes pelo carcter utilitrio de no s responderem s

    reflexes sobre questes ambientais mas tambm diversificao de fontes de

    energia primrias.

    A rentabilidade econmica dos parques elicos afectada pelo fenmeno da

    Descarga Elctrica Atmosfrica (DEA), ou raio, que na sua forma extrema d

    origem s trovoadas, sendo sem dvida um dos fenmenos atmosfricos

    devastadores que pode causar a perda de vidas humanas, de bens materiais, e

    condicionar a operacionalidade de numerosas actividades socioeconmicas.

    A previso deste fenmeno apoiada nas observaes meteorolgicas

    tradicionais, nos resultados de modelos de previso numrica e, sobretudo, nas

    imagens de satlite, nos dados de radares meteorolgicos e nos dados de

    Sistemas de Deteco e Localizao de DEA (LLS -Lightning Location System).

    Estes ltimos so de grande utilidade meteorolgica na previso das trajectrias

    dos sistemas nebulosos que originam as DEA e na caracterizao da actividade

    cerunica da regio.

    Em Portugal, o primeiro LLS entrou em funcionamento em meados de 2002.

    O Instituto de Meteorologia (IM) gentilmente acedeu a disponibilizar todos os

    seus registos desde ento at final de 2007.

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    Introduo

    12

    Estes dados so merecedores no s de um tratamento meteorolgico, mas

    tambm de um tratamento na ptica das instalaes elctricas, visto que,

    encerram informao relevante para a mitigao dos efeitos nefastos das DEA.

    As estatsticas mostram que as DEA so de longe a maior causa de danos em

    parques elicos [1]. Na Alemanha, 14 % dos aerogeradores localizados em zonas

    montanhosas foram danificados por DEA [2]. O Japo outro pas que sofre

    intensamente os efeitos das DEA, onde a percentagem de aerogeradores

    danificados de 36 % [3]. Infelizmente, no foi possvel obter percentagens

    concretas de turbinas elicas afectadas por DEA em Portugal. Contudo, pode-se

    referir de acordo com a REN que, em 2009, 36 % das perturbaes nas linhas de

    muito alta tenso em Portugal foram provocadas por DEA, percentagem idntica

    de aerogeradores danificados no Japo por DEA.

    As Fig. 1.5 e 1.6 apresentam os danos infligidos por DEA num aerogerador do

    parque de Torres Vedras durante as trovoadas de 9 de Setembro de 2009.

    Fig. 1.5 DEA atinge aerogerador no parque elico de Torres Vedras em 09/09/2009

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    Fig. 1.6 Danos causados pela DEA na nacelledo aerogerador atingido no parque

    elico de Torres Vedras em 09/09/2009

    De modo a mitigar os efeitos das DEA em parques elicos crucial conhecer a

    actividade cerunica da regio e determinar o risco de danos associado a cada

    parque em concreto, tornando assim possvel conceber medidas de proteco

    mais eficazes [4].

    Em consequncia da rentabilidade econmica dos parques elicos ser afectada

    pelos efeitos nefastos das DEA, e da disponibilidade dos primeiros registos de

    dados de 2002 at ao final de 2007 permitir uma caracterizao da actividade

    cerunica em Portugal continental como at aqui no havia sido possvel,

    resultou noutra linha de investigao que foi motivante para a realizao desta

    tese.

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    Finalmente, com a entrada em vigor em Janeiro de 2006 do conjunto de normas

    internacionais, srie IEC 62305, foram confirmados dois aspectos importantes no

    que respeita proteco de estruturas e seu contedo contra os efeitos nefastos

    das DEA:

    O mtodo de anlise de risco de danos causados por DEA,

    anteriormente parte integrante do relatrio tcnico IEC 61662, como

    mtodo a utilizar na quantificao do risco a que uma estrutura est

    sujeita e em funo desse valor permitir a adopo de medidas de

    proteco adequadas;

    O modelo da esfera rolante, como modelo a utilizar na previso dospontos vulnerveis de uma estrutura e em funo dessa indicao

    permitir a instalao apropriada de captores artificiais das DEA.

    Em consequncia deste novo enquadramento normativo e ainda pelo facto do

    autor desta tese ter j realizado programas de computador baseados na

    IEC 61662 e no modelo da esfera rolante, resultou outra linha de investigao

    que foi motivante para a realizao desta tese na medida em que, no s seconfirmavam em norma internacional as linhas de investigao seguidas no

    passado, como se tornava agora necessrio adaptar nova realidade normativa os

    programas ento desenvolvidos.

    1.3 Estado da Arte

    Proteco contra DEA directas

    Benjamin Franklin (1706-1790), escritor, inventor, cientista e diplomata norte-

    americano, nascido em Boston, foi juntamente com Jefferson e John Adams,

    enquanto desempenhava o cargo de deputado do 1. Congresso (1776), um dos

    criadores do manifesto da Declarao da Independncia dos Estados Unidos da

    Amrica.

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    Em 1752 props uma srie de experincias, realizadas em Frana, que

    demonstraram que os raios eram descargas elctricas. Nesse mesmo ano, em

    Filadlfia, Franklin levou a cabo uma experincia que se tornou famosa. Lanou

    um papagaio de papel durante uma trovoada e atou uma chave metlica na guita

    que o sustinha a cerca de metro e meio do solo. O intenso campo elctrico criou

    condies para uma forte acumulao de carga elctrica na chave de onde

    saltaram pequenos arcos elctricos para os ns dos seus dedos. Franklin teve a

    sorte de no morrer durante esta arriscada experincia. Ficou assim provado que

    os raios tinham uma natureza elctrica e eram na verdade DEA.

    Vrios anos antes, Franklin especulara que uma barra metlica longa e fina,

    cravada no alto de um telhado e ligada por um cabo condutor ao solo no exterior

    do edifcio, conduziria a electricidade das DEA para o solo sem provocar danos

    no edifcio. Esta inveno, apresentada ao pblico em 1753, foi designada por

    pra-raios. Ainda hoje, empresas como a Franklin France fabricam e

    comercializam o pra-raios do tipo Franklin, quase sem alteraes desde a sua

    inveno. O pra-raios do tipo Franklin consiste normalmente num tubo de cobreniquelado cromado ou de ao inoxidvel, com dimetros compreendidos entre

    uma e duas polegadas, com um comprimento standard de 2,4 m e uma ponta

    afilada, de forma cnica numa das extremidades.

    Estes pra-raios podem ser prolongados pela associao de mastros

    prolongadores de ao tratado ou ao inoxidvel.

    Michael Faraday (1791-1867) foi um qumico e fsico britnico, e considerado

    um dos cientistas mais influentes de todos os tempos. Faraday foi principalmente

    um experimentalista, frequentemente descrito como o "melhor experimentalista

    na histria da cincia".

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    Introduo

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    Na Qumica, descobriu o benzeno, produziu os primeiros cloretos de carbono

    conhecidos por C2Cl6 e C2Cl4, ajudou a estender as fundaes da metalurgia,

    alm de ter tido sucesso em liquefazer gases nunca antes liquefeitos, como por

    exemplo, o dixido de carbono e o cloro, tornando possveis os processos de

    refrigerao to usados hoje em dia. Talvez a sua maior contribuio tenha sido a

    de fundar a electroqumica, e introduzir termos como electrlito, nodo, ctodo,

    elctrodo, e io.

    Na Fsica, foi um dos primeiros a estudar as ligaes entre electricidade e

    magnetismo. Em 1821, Faraday publicou um trabalho que denominou de

    "rotao electromagntica", o princpio de funcionamento do motor elctrico.

    Em 1831, Faraday descobriu a induo electromagntica, o princpio de

    funcionamento do gerador elctrico. Faraday demonstrou que uma superfcie

    condutora electrizada possui campo elctrico nulo no seu interior, uma vez que as

    cargas se redistribuem de forma homognea na parte mais externa da superfcie

    condutora.

    Esta experincia de Faraday, conhecida por Gaiola de Faraday ou mtodo da

    malha, aplicado na proteco de edifcios contra as DEA e consiste em dispor

    condutores de cobre ou de ao galvanizado, sobre o telhado e/ou cobertura das

    estruturas a proteger, ligando-se uns aos outros com acessrios de aperto

    mecnico e de modo a se obter uma malha com dimenso adequada.

    Essa malha ligada ao elctrodo de terra atravs de descidas constitudas por

    condutores do mesmo material dos instalados no telhado e/ou cobertura. Trata-se

    de um mtodo de proteco passivo, muito utilizado na Europa e que beneficia

    da vantagem de existirem normas europeias e internacionais que o contemplam.

    A proteco contra DEA sofreu um grande impulso com a electrificao dos

    pases industrializados no incio do sc. XX.

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    Sabe-se h muito que um condutor ligado terra e colocado ao longo de uma

    linha, a uma altura superior dos condutores activos, reduz a probabilidade

    destes serem directamente atingidos por DEA.

    Nos anos sessenta o modelo electrogeomtrico, desenvolvido por Golde,

    Armstrong e Whitehead, forneceu uma explicao muito mais satisfatria para o

    modo de actuao do cabo-de-guarda. Segundo este modelo, que ser descrito

    mais em pormenor no Captulo 5, a distncia do salto final, isto , a distncia

    mnima de aproximao entre o traador descendente e o ascendente antes da sua

    juno, est directamente relacionada com a corrente de pico da DEA.

    Actualmente existem vrios modelos propostos que se enquadram no conceito do

    modelo electrogeomtrico. O mais utilizado na prtica, e recentemente

    reconhecido em norma internacional [5], [6] e [7] pela International

    Electrotechnical Commission (IEC), provavelmente o Modelo da Esfera

    Rolante (RSM Rolling Sphere Method), tambm conhecido por modelo da

    esfera fictcia ou modelo da bola.

    O RSM permite determinar os pontos vulnerveis de uma estrutura, isto , os

    pontos com maior probabilidade de serem atingidos directamente por uma DEA.

    Este conhecimento possibilita o posicionamento rigoroso dos captores artificiais,

    isto , condutores metlicos de seco apropriada a colocar sobre estruturas

    essencialmente no metlicas, e em particular nos telhados e/ou coberturas.

    Assim, garante-se um nvel de eficincia da Instalao de Pra-Raios (IPR) mais

    elevado e que minimiza o custo de instalao.

    Claro que outros tipos de pra-raios foram tentados. A ideia de se criar um pra-

    raios ionizante com a utilizao da radioactividade foi concebida originalmente

    em 1914 pelo fsico hngaro J. B. Szillard, colaborador do casal Pierre e Marie

    Curie. Szillard comunicou Academia Francesa de Cincias, em 9 de Maro de

    1914, os ensaios realizados com um terminal Franklin contendo um sal de rdio.

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    Szillard achava que, quando esse dispositivo era colocado num campo elctrico,

    a corrente resultante seria consideravelmente maior que a medida utilizando-se

    uma haste de Franklin convencional.

    O acrscimo de corrente foi atribudo ionizao do ar provocada pelas

    partculas alfa e beta e pelos raios gama provenientes do decaimento do Ra-226 e

    de seus descendentes radioactivos. Este aumento da corrente, teria como efeito

    aumentar a distncia do salto final e, em consequncia, alargar a zona

    probabilstica de proteco.

    Em 1931, o fsico belga Gustav P. Capart, tambm colega de Madame Curie,patenteia o primeiro captor ionizante com utilizao de radioactividade.

    Em 1953, Alphonse Capart, filho de Gustav, continuou a pesquisa iniciada pelo

    pai e por Szillard e construiu o primeiro captor radioactivo.

    Em 1956, Capart passou a fabricar em escala industrial os primeiros captores

    radioactivos que foram utilizados no mundo. Estes captores foram ento

    baptizados com o nome de PREVENTOR e passaram a ser produzidos pela

    empresa francesa INDELEC, e pela empresa americana Lightning Preventor of

    America.

    Aps a Segunda Guerra Mundial, o emprego do Ra-226 foi substitudo pelo

    emissor de Amercio 241, radioistopo mais disponvel e econmico naquela

    poca.

    Apesar de em 1962 o cientista alemo Mller Hillebrand ter apresentado um

    estudo sobre o assunto, afirmando que o captor radioactivo e o captor Franklin

    apresentavam comportamentos iguais na presena de um campo elctrico, este

    tipo de pra-raios foi largamente utilizado em quase todo o mundo entre as

    dcadas de setenta e noventa. No entanto, encontram-se hoje proibidos em

    muitos pases incluindo Portugal.

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    Com a proibio dos pra-raios radioactivos outros tipos de pra-raios ionizantes

    tm sido tentados: piezoelctricos, com perfil especial e com dispositivo de

    antecipao. Todos so hastes de Franklin com um dispositivo que promete

    ionizar intensamente o ar em volta da ponta e, desta forma, aumentar a distncia

    do salto final. Este conceito conhecido por Early Streamer Emission.

    O objectivo dos fabricantes de todos os pra-raios que prometem uma rea de

    influncia muito maior que o pra-raios de Franklin oferecer aos seus clientes

    uma soluo tecnologicamente evoluda e com vantagens econmicas na

    instalao.

    Infelizmente a realidade dos factos nem sempre a anunciada nos catlogos dos

    fabricantes. Foi em Frana que o pra-raios com dispositivo electrnico de

    antecipao foi mais impulsionado pela indstria local. Estes so constitudos por

    uma haste metlica qual se junta um dispositivo electrnico capaz de produzir,

    no momento certo, uma forte ionizao do ar na vizinhana da ponta da haste ao

    provocar a disrupo do ar e gerar pequenos arcos elctricos. A ionizao do ar

    aumenta o nmero de electres germe aumentando assim a probabilidade de seiniciar o efeito coroa, se o campo elctrico em redor for suficientemente elevado.

    Este tipo de pra-raios foi inclusivamente objecto da cobertura normativa

    Francesa, a NF C 17-102, mas as dvidas levantadas pela comunidade cientfica

    internacional sobre as reais vantagens destes pra-raios relativamente ao pra-

    raios Franklin levaram o Governo Francs a encomendar ao Institut National de

    lEnvironnement Industriel et des Risques(INERIS) um estudo rigoroso.

    Em Outubro de 2001, o INERIS publicou as suas concluses [8] onde se pode ler

    que, apesar das bases cientficas nas quais se apoiam estes dispositivos estarem

    correctas, o problema reside no momento do disparo do dispositivo electrnico.

    Se o disparo ocorre muito cedo o traador ascendente no se poder propagar

    suficientemente longe devido ao ainda fraco campo elctrico envolvente e, assim,

    no se dar a juno dos dois traadores.

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    Aps o disparo o dispositivo electrnico tem necessidade de se recarregar para

    efectuar novo disparo e o tempo de carga longo face ao tempo de durao da

    DEA. Se o disparo ocorre aps o impacto da DEA no serve para nada e o pra-

    raios com dispositivo de antecipao comporta-se como um simples pra-raios

    Franklin.

    Aps a publicao deste relatrio as vendas dos pra-raios com dispositivo de

    antecipao diminuram drasticamente em todo o mundo. Curiosamente em

    Portugal as vendas aumentaram e at foi publicada, em Dezembro de 2003, uma

    norma, a NP 4466.

    Proteco contra DEA indirectas

    O modo de proteger uma Instalao Elctrica (IE) contra os efeitos indirectos das

    DEA, isto , as sobretenses de origem atmosfrica pode resumir-se em trs

    etapas fundamentais: a intercepo da DEA; a conduo para o solo da corrente

    veiculada pela DEA, com limitao da sobretenso correspondente; e a utilizao

    de dispositivos capazes de limitar as sobretenses a valores inferiores aossuportveis pelo equipamento.

    Uma vez que a DEA interceptada pelos captores da IPR, a corrente elctrica

    veiculada por esta escoa-se para a terra atravs das descidas e do elctrodo de

    terra, originando sobretenses transitrias que podem ser perigosas, quer para a

    segurana das pessoas, quer para a funcionalidade dos equipamentos.

    Evidentemente que se deseja o menor valor possvel para a resistncia do

    elctrodo de terra, de maneira que as sobretenses no atinjam valores

    susceptveis de causar dano, mas as caractersticas do solo desempenham um

    importante papel no valor desta resistncia e como no possvel alcanar o

    valor de zero Ohm, as sobretenses so inevitveis.

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    A corrente que ento flui no dispositivo de comutao em operao, deve ser

    cortada antes de atingir valores de corrente de curto-circuito (ICC) e assim evitar o

    accionamento de outros dispositivos de proteco como fusveis ou disjuntores.

    possvel encontrar dois tipos de dispositivos de comutao em

    comercializao, baseados neste princpio de funcionamento:

    Explosor em tubo de gs, tambm conhecido por Gas Discharge Tube

    (GDT);

    Dodo de disrupo, tambm conhecido por Breakover Diode (BOD).

    O GDT normalmente constitudo por um par de elctrodos no interior de um

    tubo de vidro, ou cermica, cheio com um determinado gs. O GDT ainda no

    um dispositivo de proteco suficientemente eficaz para ser usado per si na

    proteco de equipamento com microelectrnica. O GDT reage lentamente ao

    aumento da tenso; por esta razo, quando em presena de sobretenses

    transitrias, o GDT pode deixar a tenso subir muito acima do valor mximo da

    tenso de alimentao, antes de ser activado. De modo a quantificar o que acabou

    de ser dito, digamos que um GDT com tenso estipulada de 240 V pode operar

    apenas quando a sobretenso transitria excede 1500 V, o que ser inaceitvel

    para muito do equipamento electrnico moderno.

    Uma vez activado, o GDT comporta-se como um curto-circuito e torna-se ento

    difcil deslig-lo. So normalmente utilizados em redes de distribuio ou

    instalaes de potncia.

    No entanto, apresentam como vantagem a capacidade de suportarem correntes de

    elevado valor sem se destrurem e, por essa razo, so frequentemente aplicados

    no Quadro de Entrada (QE).

    O BOD um dispositivo semicondutor da famlia do tristor, cuja caracterstica

    U/I est muito mais prxima da ideal, mas mantm a dificuldade de ser desligado

    e suporta correntes com menor valor de amplitude.

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    O dispositivo limitador de tenso, quando em presena de uma sobretenso

    transitria, ir manter a tenso, aos terminais do equipamento, num valor

    suportvel por este. O aumento da intensidade de corrente atravs do dispositivo

    provoca a diminuio da sua resistncia interna, o que faz com que a tenso no

    aumente. O dispositivo ideal seria aquele que, independentemente do valor

    assumido pela corrente, mantivesse a tenso sempre num valor constante e

    suportvel pelo equipamento.

    O mercado disponibiliza dois tipos de dispositivos limitadores de tenso que se

    aproximam destas caractersticas, com tecnologias de fabrico diferentes:

    Varistor de xido metlico, tambm conhecido na literatura por Metal

    Oxide Varistor(MOV);

    Dodo supressor de sobretenses transitrias, tambm conhecido por

    Tyristhor Surge Supressor(TSS).

    Os MOVs so resistncias no-lineares constitudas por pequenas esferas de

    material, comprimidas umas contra as outras. A interface existente entre duas

    esferas forma uma juno semicondutora. A quantidade de junes existentes no

    dispositivo determina o valor da tenso qual o dispositivo dever funcionar.

    As suas dimenses condicionam a intensidade de corrente que pode fluir atravs

    deste dispositivo. O dispositivo MOV capaz de suportar uma elevada

    intensidade de corrente e operar muito rapidamente, mas apesar disso, a sua

    caracterstica U/I afasta-se do dispositivo ideal. Ainda assim, os MOV

    representam um grande avano tecnolgico face aos dispositivos baseados no

    carboneto de silcio.

    O TSS uma verso melhorada do dodo zener, possuindo uma juno semi-

    condutora alargada. A sua caracterstica U/I bastante prxima da ideal mas

    suporta uma intensidade de corrente relativamente baixa. O TSS testado e

    utilizado em circunstncias idnticas ao MOV.

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    1.4 Organizao do Texto

    O texto da tese est organizado em seis captulos. O Captulo 2 destinado

    caracterizao da DEA. O Captulo 3 destinado caracterizao da actividade

    cerunica em Portugal continental. O Captulo 4 destinado proteco dos

    parques elicos contra efeitos indirectos das DEA. O Captulo 5 destinado

    proteco dos parques elicos contra efeitos directos das DEA. No Captulo 6 so

    apresentadas as consideraes finais.

    Seguidamente, apresentada uma descrio mais detalhada do contedo de cada

    captulo.

    No Captulo 2 apresentada uma sntese sobre a importncia das DEA nas

    diferentes culturas e religies ao longo da histria da humanidade. O processo da

    formao das nuvens bem como o processo de formao das DEA revisto.

    Particularmente nesta reviso abordada a formao das nuvens de trovoada.

    Apresentam-se os diferentes tipos de DEA e as diferentes fases do processo de

    impacto de uma DEA. Finalmente, so apresentados justificadamente os

    parmetros caractersticos das DEA usados nesta tese.

    No Captulo 3 apresentado o estudo realizado actividade cerunica sobre o

    territrio de Portugal continental. Os dados experimentais foram recolhidos pelo

    Sistema de Localizao Automtica de DEA e cedidos para o propsito desta

    tese pelo IM. Aps uma breve reviso sobre os diversos sistemas de deteco e

    localizao, com especial enfoque para o sistema utilizado em Portugal,

    apresentam-se os resultados obtidos. Os resultados correspondem aos primeiros

    cinco anos de funcionamento deste sistema com quase quatro milhes de registos

    e incluem, entre outros, distribuio geogrfica, sazonal e de polaridade, e

    probabilidade acumulada da corrente de pico das descargas elctricas nuvem-

    solo.

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    No Captulo 4 apresentado o estudo realizado proteco dos parques elicos

    contra os efeitos indirectos das DEA. So obtidas as equaes da linha de

    transmisso. As principais caractersticas do programa de computador EMTP-RV

    so realadas. O programa EMTP-RV utilizado no estudo da propagao das

    sobretenses causadas por DEA indirectas em dois casos de estudo. No primeiro

    caso de estudo considera-se apenas um aerogerador dotado do seu equipamento

    habitual, e no segundo so considerados dois aerogeradores interligados.

    No Captulo 5 apresentado o estudo realizado proteco dos parques elicos

    contra os efeitos directos das DEA. apresentada uma reviso sobre o mtodo de

    anlise de risco de danos causados por DEA proposto pela normalizao

    internacional IEC 62305. apresentado um novo programa de computador

    em Visual Basic, o LPS 2008, desenvolvido para o propsito desta tese.

    O LPS 2008 corre sobre o AutoCAD, efectua a anlise de risco de danos de uma

    qualquer estrutura ou conjunto de estruturas baseado na IEC 62305 e permite

    ainda a simulao em 3D do RSM. O RSM permite identificar os pontos

    vulnerveis de uma estrutura em funo do nvel de proteco escolhido.O programa EMTP-RV utilizado no estudo da propagao das sobretenses

    causadas por DEA directas em dois casos de estudo. No primeiro caso de estudo

    considera-se apenas um aerogerador dotado do seu equipamento habitual, e no

    segundo so considerados dois aerogeradores interligados.

    No Captulo 6 so apresentadas as contribuies originais desta tese sobre o tema

    da proteco de sistemas de energia elica contra descargas elctricasatmosfricas. Ainda, so indicadas as publicaes cientficas que resultaram no

    contexto de divulgao e validao do trabalho de investigao realizado.

    Por fim, so indicadas direces para futuros desenvolvimentos.

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    Introduo

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    1.5 Notao

    Em cada um dos captulos desta tese utilizada a notao mais usual na literatura

    especializada, harmonizando, sempre que possvel, aspectos comuns a todos os

    captulos. Contudo, quando necessrio, em cada um dos captulos utilizada uma

    notao apropriada. As expresses matemticas, figuras e tabelas so

    identificadas com referncia ao captulo em que so apresentadas e so

    numeradas de forma sequencial no captulo respectivo, sendo a numerao

    reiniciada quando se transita para o captulo seguinte. A identificao de

    expresses matemticas efectuada atravs de parnteses curvos ( ) e aidentificao de referncias bibliogrficas efectuada atravs de parnteses

    rectos [ ].

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    CAPTULO

    2

    Descarga Elctrica Atmosfrica

    Neste captulo apresentada uma sntese sobre a importncia das DEA nas

    diferentes culturas e religies ao longo da histria da humanidade. O processo

    da formao das nuvens bem como o processo de formao das DEA revisto.

    Particularmente nesta reviso abordada a formao das nuvens de trovoada.

    Apresentam-se os diferentes tipos de DEA e as diferentes fases do processo de

    impacto de uma DEA. Finalmente, so apresentados justificadamente os

    parmetros caractersticos das DEA usados nesta tese.

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    Descarga Elctrica Atmosfrica

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    2.1 Introduo

    Desde sempre os raios e os troves infundiram medo e respeito ao ser humano e

    so ao mesmo tempo smbolo de poder. Isto torna-se evidente quando se conhece

    o importante papel que os raios desempenharam nas diferentes culturas e

    religies.

    No antigo Egipto, o deus Typhon era o responsvel por lanar os raios do cu.

    Nos antigos livros de vedas da ndia, Indra descrita como a deusa do cu, dos

    raios, da chuva, tempestades e troves, e aparece representada no seu carro no

    qual carrega os raios. Os sumrios representam a deusa Zarpenik, em 2500 a.C.,

    cavalgando pelo ar com um feixe de raios em cada mo. Os gregos acreditavam

    que os raios eram uma arma utilizada pelo deus Zeus e pela sua famlia.

    Na mitologia grega o raio foi criado por Minerva, deusa da sabedoria. Os raios

    eram por isso uma manifestao divina e onde quer que cassem era solo sagrado.

    Por esta razo, muitos templos gregos e romanos foram erguidos nestes pontos de

    impacto de modo a que ficassem mais perto dos seus deuses. Os muulmanostambm atribuem a Al o fenmeno do raio. Pode ler-se no Coro Ele quem te

    mostra a luz e lana o trovo. A mitologia escandinava refere o deus Thor, deus

    do trovo, como o inimigo de todos os demnios e combatia-os com os raios que

    esculpia no seu carro. Para os romanos era Jpiter o dono dos raios e no livro que

    Sneca escreveu, provavelmente o primeiro livro sobre os raios, pode ler-se:

    Jpiter atira os raios contra colunas, rvores e s vezes at contra as suas

    prprias esttuas.

    Efectivamente, as trovoadas continuam a proporcionar imagens to fantsticas

    quanto perigosas (Fig. 2.1). No raro encontrarmos pessoas fascinadas pelo

    espectculo da trovoada. Alguns correm ao encontro das trovoadas s para as

    fotografar ou pelo prazer de as contemplar. Pelo contrrio, outras pessoas sentem

    um medo terrvel durante uma trovoada, mas provavelmente ningum fica

    indiferente.

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    Descarga Elctrica Atmosfrica

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    Fig. 2.1 DEA sobre o Parque das Naes em 09/09/2009

    Contudo, as trovoadas e as suas DEA podem ser extremamente perigosas e todos

    os anos matam centenas de pessoas e ferem muitas mais, j para no falar dos

    avultados prejuzos materiais. Importa, pois, conhecer a sua natureza de modo a

    mitigar os seus efeitos nefastos e podermos apreciar a sua beleza com o mximo

    de segurana.

    2.2 Formao das Nuvens de Trovoada

    Os primeiros a desenvolver teorias sobre as nuvens foram os jnicos da sia

    Menor no sc. VIII a.C., que acreditavam ser as nuvens uma forma mais espessa

    de ar hmido. Esta ideia persistiu at quase metade do sc. XVII, quando Ren

    Descartes afirmou que o ar e o vapor de gua eram dois elementos distintos.

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    Em 1751 o fsico francs Charles Le Roy observou que se aprisionasse ar hmido

    num frasco de vidro e o deixasse arrefecer se produzia orvalho no interior do

    frasco. Mas, quando se aquecia o frasco a uma temperatura especfica, chamada

    ponto de orvalho, a condensao desaparecia. Verificou tambm que o ar quente

    pode conter mais vapor de gua e parecer mais seco que o ar frio, ou seja, a

    humidade relativa e depende da temperatura do ar.

    Em 1802 o qumico ingls John Dalton props a teoria que o vapor de gua era

    um gs que se comportava no ar como qualquer outro gs, mas no se combinava

    quimicamente em soluo. As molculas de gua no ar exercem uma presso de

    vapor de gua que independente dos outros gases. Quando esta alta o ar

    satura-se de vapor de gua e qualquer aumento do mesmo traduz-se em

    precipitao. A humidade relativa a relao entre a presso do vapor de gua

    existente e a mxima presso possvel de vapor de gua e expressa-se em

    percentagem.

    A formao das nuvens depende da instabilidade atmosfrica e do movimento do

    ar: as nuvens formam-se quando uma massa de ar carregada de humidade

    aquecida e se eleva na atmosfera. O ar quente e hmido pode ser elevado

    segundo diversos mecanismos (Fig. 2.2).

    Fig. 2.2 Mecanismos de elevao do ar quente e hmido na atmosfera (Fonte: IM)

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    Enquanto o ar hmido sobe lentamente, a presso atmosfrica diminui,

    permitindo que a massa de ar hmido se expanda. A energia necessria para esta

    expanso procede do calor prprio da massa de ar em ascenso e a sua expanso

    provoca uma queda da temperatura no seu interior.

    Se a massa de ar hmido continuar a elevar-se, pode arrefecer o suficiente para

    atingir o ponto de orvalho e o vapor de gua condensa em torno de ncleos

    higroscpicos formando as nuvens. Os ncleos higroscpicos podem ser

    partculas de p, fumo, sais ou substncias microscpicas. Quando o vapor de

    gua atinge o ponto de orvalho liberta o calor latente, caracterstico da mudana

    do estado gasoso para o estado liquido e do liquido para o slido. Esta libertao

    de calor torna mais lento o arrefecimento da massa de ar hmido, permitindo-lhe

    manter o seu poder ascensional e consequentemente o crescimento da nuvem.

    Consoante as condies climatricas as nuvens podem crescer segundo uma

    variedade de formas, tamanho e altitude. A Fig. 2.3 apresenta os diversos tipos de

    nuvens.

    Fig. 2.3 Classificao das nuvens (Fonte: IM)

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    As nuvens de trovoada so as Cumulonimbus, com a base entre 700 e 1500 m de

    altitude, e com os topos a atingir 24 a 35 km, sendo a mdia entre 9 e 12 km.

    So formadas por gotas de gua, cristais de gelo, flocos de neve e granizo e o seu

    interior agitado por fortes correntes de ar. Quando o topo alcana a troposfera

    este expande-se horizontalmente devido aos ventos superiores, adquirindo a

    forma de bigorna; so os Cumulonimbus Incus. Uma descrio mais detalhada

    sobre o assunto pode ser encontrada em [9].

    2.3 Desenvolvimento da DEA

    O planeta Terra encontra-se electricamente carregado e comporta-se como um

    condensador esfrico. A Terra possui uma carga elctrica negativa de 1106C

    enquanto a atmosfera possui idntica carga mas positiva [10].

    Observaes realizadas indicam que em cada instante ocorrem na Terra entre

    1000 e 2000 trovoadas [11]. Assume-se que a nuvem de trovoada se comportacomo um gerador elctrico que injecta cargas negativas na terra, de modo a

    compensar as trocas de carga com a ionosfera, mantendo assim o equilbrio

    elctrico.

    DEA nuvem-nuvem

    A DEA nuvem-nuvem actua de modo a equilibrar e neutralizar a carga elctrica

    entre regies da atmosfera ou entre nuvens. A DEA nuvem-nuvem ocorre, na

    maior parte das vezes, entre a principal regio de carga negativa, localizada onde

    a temperatura do ar se situa entre -10 e -20 C, e a regio de carga positiva por

    cima da negativa [12].

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    A fase activa da DEA comea com a formao de uma canal disruptivo

    (breakdown streamer) movendo-se para cima desde a regio negativa com uma

    velocidade aproximada de 100 m/s [13] e [14].

    Quando o canal disruptivo alcana a regio positiva torna-se um canal condutor

    atravs do qual flui a corrente. Frequentemente, so observados impulsos de

    corrente que acompanham o aumento do canal vertical devido ao processo

    disruptivo [15]. As maiores emisses em baixa-frequncia, associadas aos

    processos de transporte de corrente, ocorrem logo aps a fase inicial de uma

    descarga nuvem-nuvem [16] e [17].

    Quando o canal vertical atinge o seu comprimento mximo, cerca de 20 a 50 ms

    aps o incio, descargas horizontais desenvolvem-se no topo do canal vertical.

    Seguidamente, aparecem tambm descargas horizontais em torno do canal na

    regio negativa.

    Durante a fase activa de uma DEA o processo disruptivo reinicia-se no canal

    vertical inicial, intervalado por impulsos de corrente [14]. O fluxo de correnteeventualmente pra aps um intervalo de tempo da ordem das centenas de mili-

    segundos, quando a regio de carga negativa em torno da base do canal vertical

    se encontrar suficientemente empobrecida ou at com carga positiva acumulada.

    Nesta fase, a actividade localiza-se basicamente a baixa altitude, com descargas

    horizontais que transportam carga negativa para a regio empobrecida.

    DEA nuvem-solo

    A maioria das DEA nuvem-solo comeam com uma DEA nuvem-nuvem a qual

    chamada descarga preliminar. Aps cerca de 1/10 do segundo, aparece o canal

    guia descendente e denteado denominado traador (stepped-leader) por baixo da

    nuvem, deslocando-se para baixo em saltos sucessivos. A maioria transporta

    carga negativa ao longo do canal mas alguns so positivos.

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    Aps poucas dezenas de mili-segundos, quando a ponta do canal guia se encontra

    a algumas dezenas de metros acima do solo ou de objectos implantados no solo,

    o campo elctrico por baixo da ponta torna-se suficiente para iniciar um ou mais

    canais disruptivos ascendentes (streamers), habitualmente a partir dos objectos

    mais altos na vizinhana do canal guia descendente.

    Quando um dos canais disruptivos ascendentes contacta o canal guia descendente

    d-se o primeiro arco-de-retorno (return stroke). O arco-de-retorno basicamente

    uma onda de corrente positiva intensa que se propaga para cima, a cerca de

    metade da velocidade da luz, e descarrega o canal. Aps uma pausa de 40 a

    80 ms, outro canal guia (dart-leader) pode restabelecer o canal e propiciar um

    arco-de-retorno subsequente.

    Uma DEA nuvem-solo tpica contem diversos arcos-de-retorno e tem uma

    durao aproximada de meio segundo. Em cerca de 3050 % das DEA nuvem-

    solo o canal ao restabelecer-se no toma o mesmo caminho, e consequentemente

    a DEA atinge dois ou mais pontos [18].

    Caractersticas das DEA nos domnios do tempo e da frequncia

    Da apresentao anterior acerca das DEA nuvem-nuvem e nuvem-solo, claro

    que ambos os tipos de DEA emitem energia num largo espectro de rdio

    frequncias.

    Durante os processos de ionizao e disrupo observam-se fortes emisses em

    muito alta frequncia (VHF Very High Frequency). Mas quando ocorrem

    fluxos de corrente em canais previamente ionizados, como nos casos dos arcos-

    de-retorno e na fase activa das DEA nuvem-nuvem, a maior parte das emisses

    verifica-se em baixa e muito baixa frequncia (LF e VLF Low and Very Low

    Frequency).

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    A Fig. 2.4, apresentada pela primeira vez por Malan [19], mostra a relao entre

    a frequncia emitida e o mtodo de localizao das DEA. Pierce [20] tambm

    contm um excelente resumo acerca da radiao emitida pelas DEA nestas

    bandas de frequncia.

    Fig. 2.4 Relao entre a frequncia e o mtodo de localizao das DEA [19]

    Nas DEA nuvem-solo as emisses VLF e LF esto relacionadas com o

    comprimento do canal condutor e com a elevada intensidade da corrente [18].

    Consequentemente, existem apenas uns poucos impulsos de grande magnitudepor DEA.

    As DEA nuvem-nuvem produzem desde dezenas a centenas de pequenos

    impulsos em LF, mas apenas ocasionalmente produzem impulsos de grande

    magnitude [21] e [22]. Na banda do VHF, pelo contrrio, h aproximadamente

    100 vezes mais impulsos que em LF e VLF, e as amplitudes alcanadas so

    comparveis s registadas nas DEA nuvem-solo.

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    A radiao VHF produzida pelos processos de disrupo com dimenses da

    ordem das dezenas a centenas de metros e pequenas correntes [23].

    Devido s diferentes caractersticas dos impulsos emitidos pelas DEA, emfrequncia e amplitude, diferentes tcnicas so usadas para melhor se adequarem

    deteco das DEA.

    Detectores de sinais em LF e VLF, que se propagam ao longo da superfcie

    terrestre, tm sido usados para detectar os arcos-de-retorno das DEA nuvem-solo

    desde h muitos anos. Os detectores que operam em LF tambm podem ser

    usados para detectar DEA nuvem-nuvem; no entanto a amplitude destes sinais consideravelmente menor e exige maior sensibilidade da parte do detector.

    A mesma tecnologia pode ainda ser usada para deteco de sinais puramente

    VLF, os quais se propagam milhares de quilmetros devido s reflexes entre a

    ionosfera e o solo, emitidos por arcos-de-retorno de DEA nuvem-solo. Isto

    permite localizar DEA nuvem-solo em locais distantes nos quais no possvel

    colocar detectores.

    Os sistemas que operam em VHF so igualmente sensveis maioria dos

    processos das DEA nuvem-nuvem e nuvem-solo mas, uma vez que s operam

    em linha de vista, o seu alcance bastante limitado.

    No entanto, conciliando esta caracterstica com o facto dos sinais VHF serem de

    curta durao, possvel modelar as fontes de sinais VHF como fontes pontuais

    localizveis em 3D. O elevado nmero de impulsos por DEA permite que sejam

    mapeados com maior detalhe.

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    2.4 Processo de Impacto

    Duas imagens de uma DEA negativa podem ser observadas na Fig. 2.5 [24].

    Nesta figura possvel observar-se a imagem de uma DEA negativa obtida com

    uma cmara em repouso e outra imagem da mesma DEA com a cmara em

    movimento horizontal.

    Fig. 2.5 a) DEA fotografada com uma cmara em repouso; b) DEA fotografada com

    uma cmara em movimento [24]

    A imagem com a cmara em movimento revela a existncia de sete canais

    luminosos entre a nuvem e o solo. Cada canal luminoso corresponde a um arco-

    de-retorno. O primeiro arco-de-retorno situa-se direita dos demais uma vez que

    o tempo cresce da direita para a esquerda. Cada canal composto por um

    traador descendente (SteppedLeader) e uma descarga de corrente ascendente

    chamada arco-de-retorno.

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    Julga-se que a forma denteada e errnea do canal ionizado se deve existncia de

    bolsas ionizadas, as quais so arrastadas ao sabor de fortes ventos, no per