Teste C1 - 8 Cópias

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Exame de nível C1 Ano Letivo de 2015-16 Aluno (nome completo): ___________________________________________ nºepe:_______________________ Encarregado de Educação:_______________________Data: ____ / ____ / ____ Classificação: ______________ A casa demolida Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta) Seriam ao todo umas trinta fotografias. Já nem me lembrava mais delas, e talvez que ficassem para sempre ali, perdidas entre papéis inúteis que sabe lá Deus por que guardamos. Encontrá-las foi, sem dúvida, pior e, se algum dia imaginasse que havia de passar pelo momento que passei, não teria batido fotografia nenhuma. Na hora, porém, achara uma boa idéia tirar os retratos, única maneira — pensei — de conservar na lembrança os cantos queridos daquela casa onde nasci e vivi os primeiros vinte e quatro felizes anos de minha vida. Como se precisássemos de máquina fotográfica para guardar na memória as coisas que nos são caras! Foi nas vésperas de sair, antes de retirarem os móveis, que me entregara à tarefa de fotografar tudo aquilo, tal como era até então. Gastei alguns filmes, que, mais tarde revelados, ficaram esquecidos, durante anos, na gaveta cheia de papéis, cartas, recibos e outras inutilidades. Esta era a escada, que rangia no quinto degrau, e que era preciso pular para não acordar Mamãe. Precaução, aliás, de pouca valia, porque ela não dormia mesmo, enquanto o último dos filhos a chegar não pulasse o quinto degrau e não se recolhesse, convencido que chegava sem fazer barulho. A ideia de fotografar este canto do jardim deveu-se — é claro — ao banco de madeira, cúmplice de tantos colóquios amorosos, geralmente inocentes, que eram inocentes as meninas daquele tempo. Ao fundo, quase encostado ao muro do vizinho, a acácia que floria todos os anos e que a moça pedante que estudava botânica um dia chamou de "linda árvore leguminosa ornamental". As flores, quando vinham, eram tantas, que não havia motivo de ciúmes, quando alguns galhos amarelos pendiam para o outro lado do muro. Mesmo assim, ao ler pela primeira vez o soneto de Raul de Leoni, lembrei-me da acácia e lamentei o fato de ela também ser ingrata e ir florir na vizinhança. Isto aqui era a sala de jantar. A mesa grande, antiga, ficava bem ao centro, rodeada por seis cadeiras, havendo ainda mais duas sobressalentes, ao lado de cada janela, para o caso de aparecerem visitas. Quando vinham os primos recorria-se à cozinha, suas cadeiras toscas, seus bancos... tantos eram os primos! Nas paredes, além dos pratos chineses — orgulho do velho — a indefectível "Ceia do Senhor", em reprodução pequena e discreta, e um quadro de autor desconhecido. Tão desconhecido que sua obra desde o dia da mudança está enrolada num lençol velho, guardada num armário, túmulo do pintor desconhecido. Além das três fotografias — da escada, do jardim e da sala de jantar — existem ainda uma de cada quarto, duas da cozinha, outra do escritório de Papai. O resto é tudo do quintal. São quinze ao todo e, embora pareçam muitas, não chegam a cumprir sua missão, que, afinal, era retratar os lugares gratos à recordação. O quintal era grande, muito grande, e maior que ele os momentos vividos ali pelo menino que hoje olha estas fotos emocionado. Cada recanto lembrava um brinquedo, um episódio. Ah Poeta, perdoe o plágio, mas resistir quem há de? Gemia em cada canto uma tristeza, chorava em cada canto uma saudade. Agora, se ainda morasse na casa, talvez que tudo estivesse modificado na aparência, não mais que na aparência, porque, na lembrança do menino, ficou o quintal daquele tempo.

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Exame de nível C1Ano Letivo de 2015-16

Aluno (nome completo): ___________________________________________ nºepe:_______________________ Encarregado de Educação:_______________________Data: ____ / ____ / ____ Classificação: ______________

A casa demolida

Sérgio Porto(Stanislaw Ponte Preta)

Seriam ao todo umas trinta fotografias. Já nem me lembrava mais delas, e talvez que ficassem para sempre ali, perdidas entre papéis inúteis que sabe lá Deus por que guardamos.

Encontrá-las foi, sem dúvida, pior e, se algum dia imaginasse que havia de passar pelo momento que passei, não teria batido fotografia nenhuma. Na hora, porém, achara uma boa idéia tirar os retratos, única maneira — pensei — de conservar na lembrança os cantos queridos daquela casa onde nasci e vivi os primeiros vinte e quatro felizes anos de minha vida.

Como se precisássemos de máquina fotográfica para guardar na memória as coisas que nos são caras!Foi nas vésperas de sair, antes de retirarem os móveis, que me entregara à tarefa de fotografar tudo aquilo, tal como era até

então. Gastei alguns filmes, que, mais tarde revelados, ficaram esquecidos, durante anos, na gaveta cheia de papéis, cartas, recibos e outras inutilidades.

Esta era a escada, que rangia no quinto degrau, e que era preciso pular para não acordar Mamãe. Precaução, aliás, de pouca valia, porque ela não dormia mesmo, enquanto o último dos filhos a chegar não pulasse o quinto degrau e não se recolhesse, convencido que chegava sem fazer barulho.

A ideia de fotografar este canto do jardim deveu-se — é claro — ao banco de madeira, cúmplice de tantos colóquios amorosos, geralmente inocentes, que eram inocentes as meninas daquele tempo. Ao fundo, quase encostado ao muro do vizinho, a acácia que floria todos os anos e que a moça pedante que estudava botânica um dia chamou de "linda árvore leguminosa ornamental". As flores, quando vinham, eram tantas, que não havia motivo de ciúmes, quando alguns galhos amarelos pendiam para o outro lado do muro. Mesmo assim, ao ler pela primeira vez o soneto de Raul de Leoni, lembrei-me da acácia e lamentei o fato de ela também ser ingrata e ir florir na vizinhança.

Isto aqui era a sala de jantar. A mesa grande, antiga, ficava bem ao centro, rodeada por seis cadeiras, havendo ainda mais duas sobressalentes, ao lado de cada janela, para o caso de aparecerem visitas. Quando vinham os primos recorria-se à cozinha, suas cadeiras toscas, seus bancos... tantos eram os primos!

Nas paredes, além dos pratos chineses — orgulho do velho — a indefectível "Ceia do Senhor", em reprodução pequena e discreta, e um quadro de autor desconhecido. Tão desconhecido que sua obra desde o dia da mudança está enrolada num lençol velho, guardada num armário, túmulo do pintor desconhecido.

Além das três fotografias — da escada, do jardim e da sala de jantar — existem ainda uma de cada quarto, duas da cozinha, outra do escritório de Papai. O resto é tudo do quintal. São quinze ao todo e, embora pareçam muitas, não chegam a cumprir sua missão, que, afinal, era retratar os lugares gratos à recordação.

O quintal era grande, muito grande, e maior que ele os momentos vividos ali pelo menino que hoje olha estas fotos emocionado. Cada recanto lembrava um brinquedo, um episódio. Ah Poeta, perdoe o plágio, mas resistir quem há de? Gemia em cada canto uma tristeza, chorava em cada canto uma saudade. Agora, se ainda morasse na casa, talvez que tudo estivesse modificado na aparência, não mais que na aparência, porque, na lembrança do menino, ficou o quintal daquele tempo.

Rasgo as fotografias. De que vale sofrer por um passado que demoliram com a casa? Pedra por pedra, tijolo por tijolo, telha por telha, tudo se desmanchou. A saudade é inquebrantável, mas as fotografias eu também posso desmanchar. Vou atirando os pedacinhos pela janela, como se lá na rua houvesse uma parada, mas onde apenas há o desfile da minha saudade. E os papeizinhos vão saindo a voejar pela janela deste apartamento de quinto andar, num prédio construído onde um dia foi a casa.

Olha, Manuel Bandeira: a casa demoliram, mas o menino ainda existe.

(Texto extraído do livro "A casa demolida", Editora do Autor — Rio de Janeiro, 1963, pág. 09)

I Visão geralAntes de interpretar o texto, é necessário primeiro ter uma visão geral sobre ele. Responda então algumas perguntas:1) Gostaste do texto que acabaste de ler? Dá a tua opinião. ___________________________________________________________________________________________________________2) Qual o assunto do texto?___________________________________________________________________________________________________________3) Do ponto de vista do autor, dirias que ele fala com o leitor, com uma outra pessoa ou consigo mesmo?

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___________________________________________________________________________________________________________4) O texto transmite que tipo de sentimento do autor?___________________________________________________________________________________________________________5) O texto lhe inspirou algum sentimento? Qual? ___________________________________________________________________________________________________________6) Identificaste-te com o autor? Porquê?___________________________________________________________________________________________________________

II Detalhes do texto1) O autor fala do presente, passado e presente novamente, nessa ordem. Podes explicar em que partes do texto isso acontece?___________________________________________________________________________________________________________2) Na primeira parte do texto, quando narra fatos do presente, o que aconteceu para fazer com que o autor mergulhasse em lembranças do passado?___________________________________________________________________________________________________________3) O que cada fotografia fazia com que o autor lembrasse?___________________________________________________________________________________________________________4) Da forma como foi colocado no texto, dirias que cada fotografia representava uma parte do passado do autor? Por quê?___________________________________________________________________________________________________________5) Qual atitude tomou o autor quando novamente narra o presente?___________________________________________________________________________________________________________6) Por que achas que ele tomou tal atitude?___________________________________________________________________________________________________________

III Forma1) Quando as fotos foram tiradas? Quem as tirou? Com que intenção?___________________________________________________________________________________________________________2) No terceiro parágrafo o autor diz que não precisamos de máquina fotográfica para lembrar das coisas que nos são caras. Concordas com isso? Poderias citar um exemplo?___________________________________________________________________________________________________________3) O fato de encontrar as fotos foi um momento agradável para o autor? Cite um trecho do texto para justificar sua resposta.___________________________________________________________________________________________________________4) Depois de serem reveladas, o que aconteceu com as fotos?___________________________________________________________________________________________________________5) Quando o autor diz “esta era a escada, que rangia no quinto degrau...”, a que está se referindo? ___________________________________________________________________________________________________________6) O que concluis desta passagem do texto: “ela não dormia mesmo, enquanto o último dos filhos a chegar não pulasse o quinto degrau...”?___________________________________________________________________________________________________________7) Neste trecho: que a moça pedante que estudava botânica um dia chamou de "linda árvore leguminosa ornamental ”, o autor cita uma palavra (pedante) e ao mesmo tempo dá um exemplo do que a palavra significa. O que entendes que seja uma pessoa “pedante”, lendo o texto?___________________________________________________________________________________________________________8) Lendo o trecho “ao ler pela primeira vez o soneto de Raul de Leoni, lembrei-me da acácia e lamentei o fato de ela também ser ingrata e ir florir na vizinhança”, sobre o que concluis que fala o soneto? ___________________________________________________________________________________________________________9) O soneto citado na questão anterior fala de traição. Qual a ligação encontrada pelo autor e o pé de acácias de sua casa antiga?___________________________________________________________________________________________________________10) Quando o autor diz, no oitavo parágrafo “orgulho do velho”, a quem está se referindo?___________________________________________________________________________________________________________11) O que é “indefectível”? (Caso não saibas, procure no dicionário.)___________________________________________________________________________________________________________12) Ainda no oitavo parágrafo, o que o autor quer dizer com “túmulo do autor desconhecido”?___________________________________________________________________________________________________________13) O que o autor quer dizer com “na lembrança do menino, ficou o quintal daquele tempo”?___________________________________________________________________________________________________________14) “A saudade é inquebrantável, mas as fotografias eu também posso desmanchar.” Como explicarias essa frase?___________________________________________________________________________________________________________15) Com quem o autor fala no último parágrafo? O que quer dizer com: “a casa demoliram, mas o menino ainda existe.”?___________________________________________________________________________________________________________

IV Conclusão

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1) Já viveste alguma experiência parecida com a do autor, na qual algum objeto guardado trouxe recordações do passado? O que aconteceu? Como te sentiste?___________________________________________________________________________________________________________2) Costumas olhar fotos antigas para te lembrares de momentos felizes do passado? O autor sofreu e emocionou-se ao lembrar-se dos anos vividos na casa retratada. E tu, como te sentes ao olhar fotos antigas?___________________________________________________________________________________________________________3) O autor diz no final de seu texto que está num prédio construído no lugar onde um dia foi a casa. Acreditas que ele realmente mora no mesmo lugar ou está apenas a referir-se à casa como sua vida antiga e ao apartamento como a vida que leva agora, no lugar de sua vida no passado?___________________________________________________________________________________________________________4) O que a casa representa no texto?___________________________________________________________________________________________________________5) Quem é o menino de quem o autor fala na última frase?___________________________________________________________________________________________________________6) Acreditas que sempre guardamos um pouco do que fomos no passado? Como isso se manifesta em nossa vida?___________________________________________________________________________________________________________7) Quando o autor sofre e sente saudade de sua infância e juventude junto de sua família, identificas-te com ele? Porquê? O que tens em comum com o autor?___________________________________________________________________________________________________________8) Colocando-se no lugar do autor, como te sentirias? ___________________________________________________________________________________________________________9) No final, o autor destrói as fotos. O que farias com elas, se estivesses no lugar do autor?___________________________________________________________________________________________________________10) É natural que as pessoas destruam objetos que as façam lembrar de momentos desagradáveis. Porquê o autor destruiu as fotos, se elas o fizeram lembrar de momentos felizes de sua vida?___________________________________________________________________________________________________________

V Impressão geral

1) Qual o trecho que mais lhe agradou? Porquê?___________________________________________________________________________________________________________2) Alguma frase lhe chamou particularmente a atenção? Qual? Porquê?___________________________________________________________________________________________________________3) Em algum momento sentiste o mesmo que o autor devia estar sentindo quando o fato narrado aconteceu? Descreve o que sentiste e o que provocou esse sentimento.___________________________________________________________________________________________________________4) Achaste o texto agradável de ler e fácil de entender? ___________________________________________________________________________________________________________5) O estilo do autor agradou-te? Gostarias de ler outros textos dele?___________________________________________________________________________________________________________

VI Resumo

Resume em poucas frases o texto que acabaste de ler. __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

VII Área lexical/Área gramaticalEscreve:

a – uma frase com o nome do verbo «intrigar»:__________________________________________________________________b – uma frase com uma conjunção:___________________________________________________________________________ c – uma frase no discurso indireto: ____________________________________________________________________________d – uma frase com uma expressão idiomática com o verbo «dar»:___________________________________________________