TEXTO - Avaliação Formativa

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Revista E-Curriculum,São Paulo, v. 1, n. 1, dez. - jul. 2005-2006. http://www.pucsp.br/ecurriculum A AVALIAÇÃO FORMATIVA COMO PROCEDIMENTO DE QUALIFICAÇÃO DOCENTE THE FORMATIVE EVALUATION AS A PROCEDURE OF TEACHING QUALIFICATION RIOS, Mônica Piccione Gomes [email protected] RESUMO O presente ensaio refere-se à avaliação formativa como procedimento de qualificação docente, visando o exercício da práxis pedagógica na direção da melhoria do ensino e mudanças curriculares, considerando as políticas públicas de avaliação. Palavras chaves: avaliação formativa, currículo, políticas públicas. ABSTRACT The following assignment concerns to the formative evaluation as a base to the qualification of the academically teaching, having as goal the pedagogical practical oh the direction of teaching improving and curricular changes, considering the public politics of evaluation. Key words: Formative evaluation, curriculum, public politics Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Programa de Pós-graduação Educação: Currículo Revista E-Curriculum http://www.pucsp.br/ecurriculum

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  • Revista E-Curriculum,So Paulo, v. 1, n. 1, dez. - jul. 2005-2006.

    http://www.pucsp.br/ecurriculum

    A AVALIAO FORMATIVA COMO PROCEDIMENTO DE

    QUALIFICAO DOCENTE

    THE FORMATIVE EVALUATION AS A PROCEDURE OF TEACHING

    QUALIFICATION

    RIOS, Mnica Piccione Gomes

    [email protected]

    RESUMO

    O presente ensaio refere-se avaliao formativa como procedimento de qualificao docente, visando o exerccio da prxis pedaggica na direo da melhoria do ensino e mudanas curriculares, considerando as polticas pblicas de avaliao.

    Palavras chaves: avaliao formativa, currculo, polticas pblicas.

    ABSTRACT

    The following assignment concerns to the formative evaluation as a base to the qualification of the academically teaching, having as goal the pedagogical practical oh the direction of teaching improving and curricular changes, considering the public politics of evaluation.

    Key words: Formative evaluation, curriculum, public politics

    Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo

    Programa de Ps-graduao Educao: Currculo

    Revista E-Curriculum

    http://www.pucsp.br/ecurriculum

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    A funo formativa da avaliao, numa perspectiva ampla, supe uma ao do

    avaliador em direo ao desenvolvimento e crescimento do avaliado. Diversos autores tm

    enfocado a avaliao formativa como possibilidade de melhoria do desempenho. O

    conceito de avaliao formativa se ope avaliao somativa enfatizando a importncia do

    processo e no do produto. A noo de avaliao formativa foi proposta por Scriven em

    1967 quando ao classificar na dcada de sessenta, as funes de avaliao definiu a funo

    formativa como processo de fornecimento de informaes a serem utilizadas na melhoria

    do desempenho, ainda que esta melhoria estivesse sob o poder do avaliador.

    A regulao das aprendizagens, uma das lgicas da avaliao, de acordo com

    Perrenoud (1999), conta com a participao do avaliado tendo como primado auto-

    avaliao, o que desencadear a auto-regulao.

    A auto-avaliao privilegia o autocontrole e a metacognio. O primeiro

    corresponde a uma avaliao contnua, despertando o olhar crtico sobre o que se faz,

    durante o processo. A segunda desencadeia um processo mental atravs do qual o sujeito

    toma conscincia das atividades cognitivas em desenvolvimento. Assim, a metacognio

    sinnimo de atividade de autocontrole refletido das aes e condutas do sujeito que

    aprende (HADJI, 2001, p. 103). O exerccio da metacognio pode ser empregado no

    desenvolvimento dos professores, pois, implica um processo de aprendizagem dos

    professores, que pode ser vista como uma orientao intencional que desencadeia

    questionamento ou investigao sobre um aspecto que o prprio professor considera que

    necessita ser mudado.

    A auto-avaliao do docente constitui-se em elemento fundamental para as

    inovaes pedaggicas e realizao de mudanas no currculo. Implica uma reflexo meta-

    cognitiva devido tomada de conscincia que se opera em um dilogo interno, alimentado

    pela linguagem do outro que implicar oportunidade para exercer a auto-regulao. Dessa

    forma potencializa a capacidade do docente gerir seus progressos e transpor obstculos,

    rompendo com os limites que impedem o aperfeioamento da prtica pedaggica.

    O dilogo estabelecido entre avaliador e avaliado favorece o desenvolvimento da

    cultura da avaliao formativa posto que formativa est relacionada a movimento, uma

    forma ativa, favorecendo o acompanhamento do avaliador sobre as dificuldades

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    apresentadas pelo professor, contribuindo para o processo de reflexo. A interatividade

    constitui um dos pontos mais importantes da avaliao formativa que permeada pelo

    dilogo antes um processo de humanizao e contribui para que o sujeito avaliado torne-

    se consciente do seu prprio desenvolvimento desencadeando a motivao intrnseca,

    isento de possveis recompensas ou punies. A avaliao formativa implica um processo

    no punitivo e excludente, mas orientado por princpios ticos que compreende a situao

    do professor e assiste o seu desenvolvimento.

    Numa concepo progressista de avaliao formativa a interveno para que seja

    eficiente e eficaz deve ser diferenciada, considerando as vises de homem, mundo,

    sociedade, representaes, que implicam mltiplos olhares sobre a educao e que,

    portanto, desencadeiam o desafio de contribuir para que o conjunto da prtica pedaggica

    do corpo docente esteja engajado num mesmo paradigma.

    A funo da avaliao num contexto de formao est relacionada aos objetivos da

    Instituio, sendo assim, faz-se necessrio que o processo avaliativo favorea a construo

    de uma postura pedaggica sem, contudo, desconsiderar as diferenas individuais. Nessa

    perspectiva a avaliao formativa assume funo de regulao integrando o propsito de

    formao individualizada, na tentativa de articular as caractersticas dos professores com as

    finalidades da Instituio. No se trata de moldar e controlar o comportamento dos

    professores visando sua adaptao ou o seu desligamento da Instituio. Mas, trata-se de

    garantir a sua insero, considerando o projeto poltico pedaggico da Instituio.

    No contexto de formao a avaliao formativa segue algumas etapas. A coleta de

    dados por meio de fontes e procedimentos diversificados para posteriormente analisar e

    diagnosticar aspectos desenvolvidos e aspectos que necessitam ser desenvolvidos tanto em

    nvel individual quanto em nvel coletivo. Esse diagnstico deve gerar aes interventoras

    para superao das dificuldades. Vale ressaltar que a formao individualizada no

    privilegia a ao individual mais gera intervenes que consideram as necessidades

    individuais, visando ao trabalho coletivo.

    A avaliao formativa ao contribuir para que o sujeito avaliado reflita sobre si a

    partir da compreenso sobre o prprio desempenho, possibilita o aperfeioamento de suas

    intenes/aes, o que certamente ter reflexos na melhoria da qualidade do ensino.

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    Enfatizados por Cappelletti (1997), os mltiplos objetos da avaliao mostram a

    amplitude e complexidade da avaliao, tornando-a poderosa e mtica, quando seu caminho

    deveria abrir um espao para prticas mais simples e mais eficazes.

    A evoluo da concepo de avaliao identifica no paradigma construtivista a

    negociao que abrange aspectos humanos, polticos, sociais, culturais e ticos. O avaliador

    guiado pela imparcialidade procura ouvir as partes envolvidas no processo.

    O novo milnio caracterizado pela potenciao que permite ao avaliado a

    descoberta e o uso das suas potencialidades sendo, portanto, autoformativa.

    A evoluo da concepo de avaliao, porm, no tem sido identificada nas

    prticas avaliativas. A avaliao classificatria, a servio da seleo tem sido marcante e

    est presente no cotidiano pedaggico.

    Apesar dos estudos demonstrarem que h um discurso em prol de mudanas no

    processo de avaliao, inclusive de paradigmas, tais mudanas no tm sido testemunhadas

    na prtica. H que se minimizar a eloqncia dos discursos e maximiz-las nas aes

    avaliativas. H, pois, que se romper com a dicotomia entre o discurso e a prtica. Das

    intenes s aes, da utopia realidade, constitui-se trajetria a ser percorrida pelo

    professor que, em construo, deve buscar o exerccio de prticas avaliativas que

    contribuam para mudanas.

    Romper com as tendenciosidades das prticas avaliativas exige criatividade e

    criticidade que incidem na produo de prticas inovadoras. De acordo com Abramowicz

    (1996), o rompimento com prticas avaliativas cristalizadas ameaa o equilbrio estvel

    consagrado tradicionalmente.

    A avaliao vista sob esse prisma, acaba tornando-se uma realidade mtica acima e

    a parte de todo o processo pedaggico, que s pode ser realizada por tcnicos altamente

    especializados em parafernlias tecnolgicas, desviando-a de suas razes sociais,

    emprestando-lhe um carter tcnico-instrumental (CAPPELLETTI, 1997, p. 95). Sua

    natureza passa a ser invasiva, beirando a arrogncia, e refletindo as relaes de poder na

    avaliao, medida que os avaliadores atuam como mensuradores numa postura autoritria.

    Vivenciar a coexistncia de paradigmas avaliativos diferentes no uma

    experincia confortvel e pode confundir o professor, no s na sua condio de avaliado

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    como tambm na sua condio de avaliador. Essa condio real, se no puder ser mudada

    em curto prazo, no pode ser ignorada.

    tambm no confronto crtico entre modalidades de avaliao (mais) formativas versus modalidades de avaliao (mais) seletivas ou socialmente discriminatrias que se podem discutir e perceber, nomeadamente ao nvel das prticas e polticas da educao, algumas das lgicas e estratgias de regulao social e emancipao (AFONSO, 1998, p. 60).

    Desenvolver um processo de avaliao que edifique o professor no sentido de fazer

    sentir-se responsvel pelos processos de ensino e aprendizagem, com possibilidades de

    contribuir para a transformao social pode ser um atenuante, ainda que paradoxal, para as

    distores muitas vezes ocasionadas pelas polticas pblicas de avaliao.

    Uma avaliao mais justa do ponto de vista tico deve contribuir para o avaliado

    assumir o poder sobre si mesmo, numa relao de transparncia estabelecida com o

    avaliador, segundo o princpio da avaliao formativa, que deve estar a servio daqueles a

    quem diz respeito.

    O processo de avaliao exige seriedade, respeito, compromisso e competncia

    tcnica, humana, poltica, social e tica. Conduzir um processo de avaliao requer um

    profissional sensvel, criativo, solidrio e comprometido com a libertao.

    No processo de avaliao do docente no h sobrepujana de papis, mas um

    encontro para refletir sobre o cotidiano. Assim, o avaliador est - com o avaliado. Estar -

    com supe uma situao de solicitude na qual o avaliador e avaliado, no dilogo, podero

    entender mutuamente suas perspectivas, isentos de julgamento de valor.

    Trilhar o caminho de uma educao compartilhada, construda em processo de mo dupla, na solicitude, exige compromisso poltico, trabalho, perseverana, pacincia histrica e [...] no um processo indolor, mas ao mesmo tempo extremamente prazeroso (CAPPELLETTI, 1999, p. 34).

    De acordo com Nunes (2002), o fundamento antropolgico da emancipao

    considera que a condio humana essencialmente uma condio isonmica. Assim, a

    emancipao s pode existir entre homens livres e iguais e consiste na representao tica e

    poltica da necessidade humana de contar com a ao do outro.

    A conscincia crtica que possibilita ao professor superar dificuldades tem

    fundamentos na proposta da avaliao emancipatria (SAUL, 1985), que busca a

    transformao da realidade a partir da sua anlise crtica.

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    Nessa perspectiva, a avaliao emancipatria contribui para a cooperao a partir de

    aes coletivas, permeadas pelo reconhecimento intrnseco da importncia da ao do outro

    o que revela o seu carter eminentemente tico.

    A perspectiva de emancipao se d na construo da avaliao como exerccio de

    metacognio. O professor tem que tomar conscincia dos aspectos que necessita mudar e

    ter subsdios para como mud-los. a conscincia do prprio processo de aperfeioamento

    que vai possibilitar ao professor o crescimento.

    Ao colocar o professor como autor, no exerccio da sua autonomia, evita-se um dos

    maiores riscos da avaliao formativa que impor processos, distorcendo dados da

    avaliao.

    Como nos ensina Paulo Freire, s aprendemos a participar na medida em que

    participamos. Promover a participao dos envolvidos antes um exerccio de democracia

    que contribui para a construo da cidadania. a participao ativa das pessoas envolvidas

    na avaliao que potencia a melhoria do ensino.

    REFERNCIAS

    ABRAMOWICZ, M. Avaliando a Avaliao da Aprendizagem: um novo olhar. So

    Paulo: Lmem, 1996.

    AFONSO, A. J. Polticas Educativas e Avaliao Educacional. Braga: Universidade do

    Minho, 1998.

    CAPPELLETTI, I. F. Avaliao Institucional: processo de autocrtica e transformao.

    Revista da Associao Brasileira de mantenedores do Ensino Superior, Braslia, Ano

    15, n. 21, Outubro de 1997, p. 95-98.

    _________. Um relato de experincia em avaliao enquanto processo. In:

    CAPPELLETTI, I. F. (Org.). Avaliao Educacional: fundamentos e prticas. So Paulo:

    Articulao Universidade/Escola, 1999.

    HADJI, C. Avaliao desmistificada. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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    NUNES, C. Conferncia: educar para emancipao. Memento Consultoria Pedaggica,

    Disponvel em: [email protected]. Campinas: UNICAMP, Acesso em: outubro

    de 2002.

    PERRENOUD, P. Avaliao: da excelncia regulao das aprendizagens entre duas

    lgicas. Porto Alegre: Artes Mdicas, 1999.

    SAUL, A. M. Avaliao Emancipatria: desafio teoria e prtica de avaliao e

    reformulao de currculo. So Paulo: Cortez, 1985.

    SCRIVEN, M. The methodology of evaluation. American Educational Research

    Association Monograph series on curriculum evaluation. Chicago: Rand Mcnally, v. 1, ,

    1967, p. 39-83.

    Recebido em: julho de 2005.

    Aceito em: setembro de 2005.

    Para citar este ensaio:

    RIOS, Mnica Piccione Gomes. A avaliao formativa como procedimento de qualificao docente. Revista E-Curriculum, So Paulo, v. 1, n. 1, dez. - jul. 2005-2006. Disponvel em: http://www.pucsp.br/ecurriculum, acesso em: dd/mm/ano.

    Breve currculo da autora:

    Mnica Piccione Gomes Rios Doutora em Educao (Currculo) pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo. Professora do Centro Universitrio de Santo Andr UNIA na graduao e ps-graduao Lato-Sensu e coordenadora do ncleo de Apoio-Didtico Pedaggico, desse mesmo Centro. Leciona no curso de ps-graduao em Docncia do Ensino Superior em Turismo e Hotelaria do SENAC de So Paulo. Integra o grupo de pesquisa da PUC-SP coordenado pela professora Dra. Isabel Franchi Cappelletti.