Texto - Que doçura
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Que doçura
Algumas vezes um cientista tem sorte. Em 1989, uma companhia de açúcar
britânica estava procurando por usos não-tradicionais para seu produto e queria saber se
o açúcar poderia ser quimicamente modificado para produzir outras substâncias úteis.
Como frequentemente acontece na indústria, a companhia buscou a experiência dos
cientistas universitários. Um professor na Universidade de Londres sabia modificar o
açúcar de mesa (sacarose, C12H22O11), por meio da substituição de átomos de hidrogênio
e oxigênio com outros elementos. O professor designou a um estudante de pós-
graduação o trabalho de produzir açúcar com átomos de cloro no lugar de alguns grupos
OH (hidroxila).
A idéia do professor era testar cada nova molécula para o possível uso como
material inicial para outros compostos. Porém, o estudante de pós-graduação Shahikant
Phadnis respondeu ao pedido do docente de testar uma molécula, provando-a. Para sua
surpresa, a nova molécula - C12H19O8 Cl3 – era doce. Na verdade, era muitas vezes mais
doce que o açúcar. Mas, ao contrário do açúcar, ela não poderia ser usada pelo corpo
como alimento energético. Logo, Phadnis descobriu um novo adoçante artificial, hoje
conhecido como sucralose.
A demanda comercial para adoçantes artificiais é enorme. Cerca de um terço de
toda a população na Europa, nas Américas e Austrália consome alimentos e bebidas
com baixas calorias. Algumas pessoas, como os diabéticos, devem restringir a ingestão
de açúcar para evitar sérias consequências para a saúde. Pessoas lutando contra a
obesidade querem reduzir a ingestão de açúcar, a principal fonte de calorias. Ainda,
outros estão sujeitos à cárie dentária por bactérias orais que se alimentam de açúcar.
Com a sucralose, todas essas pessoas podem comer tortas. Usada em centenas de
produtos, é vendida isoladamente como substituto do açúcar empacotada em amarelo
sob a marca “Splenda”.
O açúcar comum tem duas importantes propriedades químicas que afetam aos
que o ingerem. Primeiro, liga-se de forma não-covalente a certas proteínas nas papilas
gustativas da língua. A sucralose se liga às papilas gustativas com ainda mais eficiência,
por isso seu sabor doce é intenso. Segundo, as moléculas de açúcar têm uma estrutura
tridimensional que permite sua ligação a moléculas digestivas no corpo, que o degradam
para a obtenção de energia e o convertem em outras substâncias (incluindo gordura). É
na sua segunda propriedade química que a sucralose difere significativamente do açúcar
comum. A sucralose não se liga a moléculas digestivas e passa inalterada através do
corpo.
A sacarose e o primo artificial sucralose são carboidratos, um dos quatro
principais tipos de grandes moléculas que caracterizam os sistemas vivos. Essas
macromoléculas, que também incluem proteínas, lipídeos e ácidos nucléicos, diferem de
forma significativa das moléculas pequenas e íons descritos no Capítulo 2. Primeiro, o
que não é surpresa, são moléculas grandes com pesos moleculares variando de centenas
(sacarose) a bilhões de Daltons (alguns ácidos nucléicos).
Segundo, essas moléculas contêm átomos de carbono e, então, pertencem a um
grupo conhecido como compostos orgânicos. Terceiro, elas são unidas por ligações
covalentes, que conferem importante estabilidade estrutural e formam a base de algumas
de suas funções. Finalmente, carboidratos, proteínas, lipídeos e ácidos nucléicos são
exclusivos ao mundo vivo. Essas classes moleculares não ocorrem na natureza
inanimada. Você não encontrará proteínas nas pedras – e se encontrar, pode ter certeza
que vieram de algum organismo vivo.
O texto mostra a descoberta de um adoçante artificial, hoje conhecido como
sucralose. Este composto apresenta sabor doce mais intenso que a sacarose (açúcar
comum), pois liga-se covalentemente a proteínas presentes nas papilas gustativas o que
torna a ligação mais eficiente.
A sacarose e a sucralose são carboidratos, um dos quatro grupos de
macromoléculas que caracterizam os seres vivos.