Texto_Filosofias e Teorias Da Historia
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Filosofias da historia teorias da história
Como atividade de conhecimento humano, a história existe desde o tempo em
que os primeiros homens se organizaram em grupos sociais estruturados
(sociedades). Como disciplina e processo de conhecimento do passado, a
história tem uma tradição rica que desde cedo estabeleceu raízes profundas
em várias civilizações.
Contudo, foi durante os últimos seis séculos que a história se emancipou como
disciplina, mais propriamente desde o Renascimento Europeu, pois até aí, a
história era tida como uma parte da literatura ou da mitologia. Como ciência, a
história é uma disciplina ainda mais jovem, pois só nos finais do Séc. XIX, é
que a história se organizou como campo independente de pesquisa e
conhecimento. Foi nas universidades européias que a história se desenvolveu
mais e se identificou como ramo de conhecimento próprio, e se formaram as
primeiras correntes gerais de pensamento histórico. Desde então muitos
pensadores e historiadores ampliaram e aprofundaram o campo de
conhecimento da história.
A solução teológica (divina) de Santo Agostinho da filosofia da história
perdurou até aos finais do Séc. XVIII, quando o filósofo alemão Immanuel Kant abriu de novo o debate e avançou a ideia em 1784 de que havia uma
lógica na história, e que para encontrar essa lógica teríamos de abarcar toda
a humanidade (passada e presente) através da história universal.
A questão levantada por Immanuel Kant foi retomada em 1830 pelo filósofo
alemão G.F. Hegel, publicada na sua obra póstuma História Filosófica da
Humanidade publicada em 1837, que concluiu que a razão (ideia, pensamento) era o motor da história. Hegel acreditava que havia um
progresso geral da humanidade desde os tempos da barbárie, passando pela
Idade Média, Renascimento e Iluminismo, e que a razão (ideia, pensamento)
era o agente motor dessa evolução secular da humanidade.
Para Hegel apenas podemos conhecer a atividade humana somente através da sua história; assim a filosofia não é senão a história da filosofia.
Hegel adiantou ainda que para um indivíduo ser o que é e podermos conhecê-
lo propriamente, temos de integrar esse indivíduo numa sociedade, e para
compreendermos essa sociedade, temos que estudar a sua história e as forças
que a moldaram; e concluiu ainda que o "Espírito da Idade (Época)" (Zeitgeist)
é a incorporação concreta dos fatores mais importantes que atuam na história
humana a qualquer ponto do seu continuum histórico. De acordo com a
interpretação historicista da história, cada época tem o seu sistema de
conhecimento específico. A este enfoque histórico da atividade humana dá-se
o nome de historicismo.
A concepção idealista da história de Hegel foi rebatida por Karl Marx e Frederic Engels, que embora baseados na dialética idealista de Hegel, a
inverteram e adaptaram ao conceito materialista da história, em que a luta de
classes era o motor da história, pois defenderam que as ideias eram o resultado das relações de produção, e não estas o resultado das ideias.
Teorias da História
Quando pensamos em história, como experiência humana do passado, é
natural indagar se com o que aprendemos sobre o passado nos permite
encontrar e reconhecer certos padrões na estrutura do desenvolvimento das
sociedades do passado, e se munidos desse conhecimento do processo
histórico das sociedades passadas, podemos enunciar certas leis mais gerais que não se aplicam somente à história de outras sociedades mas também à evolução geral da espécie humana; e para além disso, como nos podem
ajudar também a discernir se o futuro da humanidade é fruto do acaso ou se é predeterminado.
A estas perguntas os estudiosos de história avançaram um número de
explicações que refinaram em "teorias da história" em que procuraram
explicar o desenvolvimento histórico da espécie humana. Essas teorias
procuram não só explicar o que aconteceu, mas também porque é que
aconteceu, e, mais ainda, dizer o que vai acontecer no fim da história.
Com base nas suas teorias da história certos pensadores preconizam que
existe um determinismo no percurso da história da humanidade, independente da vontade dos homens, e que com base daquilo que
conhecemos do passado nos permite compreender o futuro. Contudo, outros
pensadores concluíram que tal determinismo é impossível de realizar, pois a
liberdade do homem nega qualquer possibilidade de certeza para além do
momento presente.
As teorias da história são achegas para explicar a história, isto é, a evolução da
espécie humana. Elas estabelecem relações entre certos fatos de acordo com
certas leis (princípios de cada teoria da história), de modo a resultar numa
explicação racional e coerente do passado e da previsão do futuro. Neste
processo o historiador escolhe os fatos históricos relevantes e omite aqueles
que não contribuem para a explicação de acordo com a teoria da história que
professa. De um modo geral, as teorias da história podem resumir-se nas
seguintes correntes de pensamento histórico:
1 - A Teoria dos Ciclos Históricos - De acordo com as teorias cíclicas da
história o progresso das sociedades humanas desenvolve-se de acordo com
grandes ciclos que se repetem ao longo dos tempos, independentemente da
vontade dos homens. A explicação cíclica da história teve origem nos
pensadores da Grécia Antiga, dos quais Heródoto (o Pai da História, 484-424
AC) e Tucídedes (460-404 AC) são os expoentes mais conhecidos.
Mais tarde, já na Idade Média, Petrarca (1304-1374), retomou a teoria dos
ciclos e acrescentou que a história não era o resultado da vontade de Deus,
mas sim o resultado da ação humana. Pouco mais tarde, Maquiavel (1469-
1527) confirmou que a história evoluía de acordo com ciclos, mas acrescentou
que esses ciclos eram o resultado da estratégia política dos governantes.
Giambattista Vico (1668-1744) na sua obra "Ciência Nova", publicada em
1725, foi o primeiro pensador da história a propôr uma teoria cíclica da história
em que as cidades humanas passavam invetavelmente por certas fases
distintas de desenvolvimento ao longo dos tempos. Já mais recentemente,
Oswald Spengler (1880-1936) e Arnold Toynbee (1884-1975) também
sugeriram que a história humana se desenrola em ciclos, pois encontramos
sempre a evidência deste princípio nas inúmeras civilizações cuja ascensão e
queda, evoluindo sempre mais altos que os anteriores, são a confirmação da
evolução cíclica da espécie humana.
2 - As Teorias Lineares de História - A concepção linear da história baseia-se
no princípio de que a espécie humana se desenvolve ao longo de uma linha
secular de evolução até atingir um certo estágio ou ponto final. Santo Agostinho (350-430) foi quem primeiro avançou esta interpretação, quando
afirmou que a evolução das sociedades humanas é a manifestação do plano de
Deus, e que com o processo de evolução, a história culminaria no Juízo Final.
Voltaire (1694-1778) retomou a tese augustina mas despiu-a de influências
divinas, afirmando que a evolução humana se desenrolava em vários estágios
de conhecimento, culminando o último com o conhecimento científico
característico do Iluminismo de Isaac Newton (1642-1727).
A explicação linear da história foi retomada por Karl Marx (1818-1883) que
propôs que a evolução geral da humanidade se desenrolou ao longo de uma
linha geral de luta de classes que havia de culminar inevitavelmente na
ditadura da classe trabalhadora, num estágio histórico de comunismo puro,
concluindo também que a história não é senão a história dessas lutas de
classes, dentro dos parâmetros do determinismo histórico.
Já no limiar do Séc. XX, H.G. Wells (1866-1946) notou também que a
progressão geral da humanidade se realizava ao longo de uma linha geral,
afirmando que a história não era senão que uma corrida entre educação (como
processo crescente de aperfeiçoamento de ideias) e desastre (entre o saber e
a ignorância, entre o conhecimento e o caos), resultando num cataclismo geral
ou num estado mundial.
3 - A Teoria dos Feitos das Grandes Personalidades Históricas - Esta
teoria sugere que o curso geral da humanidade é o resultado da ação de
grandes figuras históricas (chefes militares, grandes estadistas, líderes de
grandes religiões mundiais, ou mesmo grandes pensadores) que moldaram a
história dos povos ao longo dos tempos, e que a história não é senão o registro
dos feitos desses grandes homens. Thomas Carlyle (1795-1881) foi quem
primeiro avançou esta explicação da evolução humana.
4 - As Teorias da Vida Quotidiana - A visão quotidiana ou a visão da vida
material baseia-se na premissa de que a história é o registro coletivo da
experiência do homem no seu viver quotidiano. Sir Walter Scott (1771-1832)
foi quem primeiro avançou esta explicação, que haveria de ser mais tarde
refinada por William E. B. Dubois (1868-1963), quando este pensador rejeitou
a noção de que a história se limitava aos registros dos acontecimentos
históricos da civilização ocidental, e expandiu o mesmo conceito à vida
quotidiana de todos os outros povos e civilizações.
Fernand Braudel e os "Annales Economiques et Sociales"
5 - A Teoria das Ideias - De acordo com a teoria das ideias da história, as
ideias são a fonte principal da evolução dos povos. As condições que criam a
história são sempre criadas ou modificadas pelas ideias. G.W. Hegel (1770-
1831) foi quem primeiro desenvolveu esta explicação da história, quando
afirmou que a história não é senão que o refinar contínuo da compreensão
intelectual humana. A teoria das ideias de Hegel pode também ser considerada
como uma teoria linear da história, já que Hegel descreveu a história como o
desenrolar da vontade divina ao longo dos tempos.
6 - A Teoria do Materialismo Histórico - A Economia Política como
explicação da história - As teorias econômicas da história vêm a economia
política como o fator mais importante na determinação histórica. De acordo
com esta visão, a produção, distribuição e troca de bens e serviços são a base
das estruturas sociais de todas as sociedades. Karl Marx foi quem primeiro
formulou a escola de pensamento do materialismo histórico, tomando o
conceito de dialética hegeliana e, "virando-o ao contrário", o aplicou à situação
concreta da história dos povos, afirmando que não eram as ideias que criavam
as condições materiais, mas que de fato, eram as condições materiais que
geravam as ideias. De acordo com o materialismo histórico, a história não é
mais que o estudo das relações entre as forças produtivas (o homem, a
natureza e as técnicas) e as formas de propriedade das diversas sociedades
humanas ao longo dos tempos.
7 - Outras Teorias da História - Além das teorias da história enunciadas
acima, outras teorias procuram explicar a história com base noutras razões.
Alguns pensadores avançaram a explicação de que a história das sociedades
humanas é condicionada por fatores geográficos, ao passo que outros vêm
as guerras como os grandes determinantes da história; Outros ainda sugerem
que a religião, raça ou ainda o clima determinam o curso da história; Outros
ainda explicam a história como o resultado simples do caos e do acaso, como
Friedrich Nietzche (1844-1900), que sugeriu que a história não tem princípio
nem fim, e que pode apenas ser compreendida através do poder da razão.
De particular importância para a história de África é o historicismo antropológico desenvolvido por Franz Boas, pelo qual houve vários "berços
de civilização" que se expandiram em forma de círculos e se adaptaram ao
conjunto de circunstâncias em que viveram.