Textos do Jessé Andarilho
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Melhor Amigo
Para muitos, apenas um
aparelho capaz aproximar as
pessoas atravs da fala, mas
para mim em especial, o
Telefone, muito mais do que
isso.
Sempre quis ter um desses
aparelhos que fazem de tudo e
s faltam falar, na verdade, ele
no fala, apenas transmite o
que dizemos e o que ouvimos.
Porm, como se falasse, mais
do que apenas uma simples fala,
e sim, uma conexo
intergalaxial.
Todos os dias pela manh, ele me acorda para o trabalho, e
enquanto minha me prepara o caf da manh, me noticia o que
est acontecendo l fora, navego na internet, entro em sites de
relacionamentos, vejo as atualizaes da minha linha do tempo no
Facebook e depois do caf, vou pra garagem, pego meu carro e
falo pra onde estou indo, e antes que eu coloque o cinto de
segurana, ele j fez toda a trajetria do meu destino, me
avisando o melhor caminho por aonde ir.
No caminho, me diz onde esto os radares, que pegam
motoristas apressadinhos, como eu. Informa-me velocidade
correta de passar para no levar multas, entre vrias outras
coisas.
-
Quando tenho algum compromisso, falo o dia e a hora, sem me
preocupar com mais nada, e o danado nunca se esquece de me
lembrar dos meus compromissos, surpreendente.
Outro dia ele descarregou, peguei o telefone de um amigo
emprestado pra falar com minha esposa, j que o meu, estava
sem bateria. Ela no atendeu a ligao, por isso mandei uma
mensagem que dizia:
-Amor, vou chegar tarde pq vou trabalhar hj no Engenho . Bjs t amo.
S depois de Duas semanas, ela viu a mensagem e no sabia quem
havia enviado, ento, ligou pra saber quem a tinha mandado.
-Al, quem est falando?
-Voc que est me ligando, deveria saber quem fala! Respondeu o
amigo que tinha me emprestado o celular.
-S liguei, porque recebi uma mensagem sua me chamando de
amor e dizendo que ia chegar tarde, liguei pra te dizer que voc
deve ter confundido os nmeros.
-Ah no!!! Me desculpe, quem te mandou a mensagem, foi meu
amigo Juninho, ele pediu meu telefone emprestado pra te ligar, e
como voc no atendeu, ele mandou um SMS.
Ela desligou o telefone e tudo ficou em paz. At que trs dias
depois, esse meu amigo ligou pra ela. Na hora reconheceu o
nmero e atendeu.
-Al, boa tarde.
-
-Oi, te liguei porque estava com saudades, queria saber se nesse
final de semana voc vai aparecer com suas amigas no pagode do
trem?
-Pagode do trem, amigas? Com quem voc pensa que est
falando?
-U, Voc no a Natalia de engenheiro Pedreira?
-Engenheiro Pedreira o caralho, seu filho da puta, vou matar
vocs dois!
Na mesma hora, ele desligou o telefone e viu a merda que tinha
feito. Mas ela no parava de ligar tentando retornar a ligao, e
ele no atendia. At que um tempo depois, atendeu tentando
consertar a merda que tinha feito.
-Al, foi mal, que ele ia colocar a Natalia na minha fita, ela
uma amiga dele. Disse isso com a maior cara lavada achando que
ia passar batido.
Ela puta da vida, desligou e ligou pro meu irmo pra saber se eu
estava l, e como no estava, descarregou a raiva com palavras
ofensivas e agressivas em cima do meu irmo.
-Olha s, seu irmo um safado, fala que vai trabalhar, e fica de
putaria no trem, voc sabia disso?
-E garota, para de bobeira, ele tem amigas sim e o que isso tem
demais, essas meninas so as minas do Mac Donalds que ele
trabalhou.
-Que parada essa de minas do Mac Donalds, quem so essas
vagabundas?
-
Meu irmo desligou e todo mundo que tentava me ajudar, de
alguma forma acabava piorando a situao.
Agora veja s, um dia sem telefone quase acabou com minha vida,
e depois ainda dizem que o melhor amigo do homem o cachorro.
Na moral o meu melhor amigo meu Iphone.
Jess AndarIlho - C.R.I.A
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Meu Mundo
Minha me brigava comigo por que eu
trocava o dia pela noite, dizia que eu s
chegava tarde, enquanto ela acordava
cedo pra trabalhar. Como pode ser
cedo pra ela que acabou de acordar e
tarde pra eu que acabei de chegar?
Tomvamos caf juntos, em meio a
gritos e carinhos, esse era meu mundo,
gostava de conversar com ela pela manh, a cena se repetia
quando mame chegava do trabalho, jantvamos, conversvamos e
depois nos despedamos.
Ela dizia que eu vivia um sonho, demorei a entender o que queria
dizer, mas na verdade, eu vivia o sonho dela, pois minha vida
acontecia enquanto ela dormia.
Minha me trabalhava como empregada domstica, eu s
trabalhava aos finais de semana como garom em uma casa de
show na Barra da Tijuca. Depois do trabalho, saa com uns amigos
pra beber e gastava todo meu dinheiro suado me refrescando na
beira da praia tomando uma cerveja gelada.
Nunca gostei das campanhas publicitrias que minha me via na
televiso e na internet que mandavam agente escovar os dentes
com a torneira fechada e mijar no banho, pois assim economizaria gua, assim no ajudaria a destruir o planeta.
-Na moral me, que se foda o planeta, eu mijo aonde eu quiser, vagabundo arranca rvore pra caralho, enche as porra das piscinas que nem tomam banho nelas e vem falar da merda da
minha escovao de dente, quer que eu mije nos meus ps pra
eles desperdiarem a gua na merda das piscinas.
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-Que isso filho, da onde vem essa revolta toda? -Voc nunca
falou assim comigo! -O que voc anda aprontando? - Com quem
voc est andando pra falar assim desse jeito?
-Na moral me uma coisa que eu no fao jogar lixo no cho,
isso eu acho uma vacilao do caralho. Ontem l no meu trabalho,
o cara jogou lixo no cho em frente lixeira eu tive que falar
com ele.
- Senhor, boa noite, o senhor est ruim de mira hein!
Ele virou pra mim com aquela cara de desprezo e me perguntou
ironicamente por que.
-Porque o senhor errou a lixeira de pertinho, um pouquinho mais
pra direita o senhor acertaria o lixo no devido lugar.
-Meu rapaz, eu no quis acertar a lixeira, eu quis jogar no cho
mesmo, eu fazendo isso, estou contribuindo para garantir o seu
emprego, ainda estou te ajudando voc deveria me agradecer.
Respirei fundo contei at trs, pensei, falo ou no falo, fudeu, falei.
-Meu senhor, eu tenho um primo que trabalha no cemitrio como
coveiro, por que o senhor no se mata pra garantir o emprego
dele.
E foi assim me que ontem perdi meu emprego.
Jess Andarilho - C.R.I.A
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Olho na Passagem
Com a vista cansada, entrei
num consultrio, uma
senhora estranha me
entregou um embrulho,
dentro tinha olhos de vidro
que se escorava em minhas
orelhas.
Coloquei por cima dos j
existentes em meu rosto e
como num passe de mgica a
bruxa virou princesa, e as paredes tiveram um aspecto melhor,
tudo era to limpo, liso e luminoso.
Desci as escadas paquerando os degraus, olhei para os prdios e
eles pareciam olhar para mim de to belos que eram.
Fui para o Metr, caminhando, como naqueles dias de embriaguez.
Sorria para tudo e para todos, os meus olhos transbordavam
sentimentos molhados, misturados ao suor e minha emoo.
-Caramba, cad minha carteira? Perguntei a mim mesmo.
-Ih deixei no carro da minha me quando desci no consultrio!
Respondi a mim mesmo.
Agora alm de chapado, estou ficando maluco, falando sozinho,
no posso me atrasar, j estou em cima da hora, minha me foi
trabalhar, o jogo vai comear, e esqueci meu RioCard na carteira
fazendo companhia aos meus trocados.
-
Pensei, vou chamar o Chapolin Colorado, mas ser que ele vai ter
o bilhete do Metr? Ento decidi arrumar uma forma de descolar
a grana da passagem com algum.
Lembrei-me do pessoal de faculdade que se pintam nos trotes
pra conseguir grana para as choppadas.
Fiz o mesmo, fui para fora da estao, tirei minha camisa e pedi
uma caloura que me pintasse, porm escrevi assim:
Lugar de mulher no tanque, apontei uma seta pra meu
abdmen definido por natureza e com a ajuda de alguns
exerccios dirios.
Mais rpido do que imaginei, consegui a grana da passagem, para
o lanche e ainda alguns nmeros de telefone.
Jess AndarIlho - C.R.I.A
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XARPI
JOU-SU. CIALIPO!
RE-C. RE-C. SARANGU!
Escutei essas palavras em meio h
barulhos de ces ferozes, tiros e
telhados quebrando, levantei da
cadeira, corri para cozinha, peguei
minha faca de churrasco e fui ver o
que acontecia.
Abri a porta da sala, um rapaz que
poderia ser meu neto, correu de cabea baixa pra dentro da
minha sala sussurrando em voz baixa.
- Socorro tio, eles to l fora querendo me matar!
Assustado, tentei manter a calma e mostrar quem mandava ali.
- Voc ladro?
- No tio, eu sou trabalhador!
-Trabalhador, essa hora da madruga pulando na minha casa sem falar coisa com coisa? Voc usou crack?
-No tio, os sarangus que to atrs de mim porque eu tava botando uns nomes ali nas marquises da esquina.
- O que SARANGU? - E que coisa essa de colocar nomes?
Antes da resposta, o interfone tocou.
-
-Alo quem ?
- da policia senhor, queremos saber se est tudo bem a na sua
casa?
- Pelo amor de Deus tio, no me entrega pros cana!
Olhei para aquele jovem, que parecia um rato acuado e respondi
aos policiais que estava tudo bem, s tinha escutado uns tiros na
rua nada mais, abri o porto e o policial me disse assim:
- Senhor, no nada de mais, os seguranas da rua viram um
pichador pulando uns muros e chamou agente pra dar apoio aqui
na rea.
-Ok, eu vou entrar, qualquer coisa aviso aos senhores!
Abri a porta, e ele l com as mos sujas de tinta preta mais o
sangue adquirido na fuga.
-Voc um pichador? Perguntei depois de ouvir o policial dizer
que no era nada de mais.
- P tio, foi mal, no queria incomodar o senhor!
-Qual o seu nome rapaz?
-Meu nome Paulo, mas pode me chamar de Paulinho.
-Paulo, v ao banheiro se limpe enquanto pego a maleta de
primeiros socorros pra voc.
- O senhor mdico?
-No, trabalho escrevendo!
-Eu tambm escrevo tio, a diferena que uso muros de pedra,
prdios, esttuas, tudo que possa aparecer no jornal ou em
lugares onde passa nibus.
-
-Percebi que voc trabalha escrevendo, os policias esto l fora
querendo dar seu pagamento!
-P tio, no sabe brincar no brinca.
-Paulo, a vida no um jogo que voc tem vrias chances.
-To ligado tio!
- Sou jornalista, tenho vrios livros publicados, escrevo pra
revistas e jornais que so lidos por muita gente.
-Eu tambm escrevo pra muita gente tio, sou do bonde de pichadores mais conhecido no Rio de Janeiro, tenho vrios fs
que ficam olhando pro alto s pra ver meus nomes pela janela do nibus l em cima dos prdios, sou respeitado no meio do Xarpi.
-O que Xarpi Paulo?
-Xar-pi pixar de trs pra frente tio, tipo: R-co. Cia-li-po como dizer corre policia.
-E sarangu o que?
-Sarangu na verdade sa-ran-gu-se, segurana, mas fica ruim
falar, a cortamos o se e ficou s sarangu.
-E quem gritou pra voc essas palavras?
-Foi meu amigo, ele passou batido como morador, os canas, nem par ele.
-Paulo j amanheceu, v pra casa e pensa nos conselhos que te
dei.
No outro dia publiquei a histria do Paulo no jornal, aproveitei
que estava meio sem inspirao e atendi o seu pedido de aparecer
na mdia.
Jess AndarIlho - C.R.I.A
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Ligados pelo MSN
Daniel entrou no MSN para falar com
Cristiane sua amada.
- Cris meu amor!
- No a Cristiane, a me dela. - Ela
no est a com voc? - Ela me disse que
iria para tua casa ontem noite e at
agora no voltou.
Daniel insistiu. - Amor, eu sei que voc
ficou chateada por que eu disse que sua me era uma bruxa, mas
foi brincadeira.
O telefone toca, era dona Carmlia.
- Bruxa a senhora sua me, minha filha sumiu desde ontem,
brigou comigo por sua causa, pois no aceito ficar olhando as
filhas dela, para ela ficar ai no bem bom com voc.
Daniel tomou coragem e foi casa da sogra falando-lhe com um
tom de preocupao.
- Dona Carmlia, procura a agenda dela, vamos ligar para todos os
telefones!
- E o que voc acha que eu fiz at agora? Respondeu dona
Carmlia com ar de superioridade.
Daniel respondeu olhando nos olhos de dela.
- Eu sei que a senhora no aceita o meu namoro com a sua filha.
Mas temos duas opes ou se junta a mim para encontrarmos a
Cris, ou ficarmos aqui brigando sem futuro.
-
Dona Carmlia se esqueceu das diferenas com Daniel e
perguntou se tinha alguma ideia. Ele achou melhor irem
delegacia.
No caminho, conversaram bastante. Daniel mostrou maturidade e
amor por Cristiane, coisa que o ex dela em seis anos, nunca havia
demonstrado.
Depois da delegacia, foram aos hospitais e ao IML. Como sugeriu
o delegado. Dona Carmlia, cansada e desesperada, se derramou
em prantos, Daniel a abraou forte, e enxugando suas lgrimas
disse:
-Carmlia, ningum planeja se apaixonar por uma pessoa com duas
crianas. Amo sua filha, no quero brigar com a senhora, vamos
fazer da Cris a segunda pessoa mais feliz do mundo, pois a
primeira, serei eu.
Comovida, Carmlia enxergou em Daniel o genro que pediu a Deus,
e quando chegaram em casa, encontram Cris abraada as filhas
sorrindo ao ver que seu plano de sumir tinha dado certo e agora
enfim sua famlia est unida e feliz.
Jess AndarIlho - C.R.I.A
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Fato Triste
Quem fala o que quer, escuta
o que no quer, aprendi esse
dito popular da pior maneira
possvel.
- Pai se tivesse eu e minha
irm penduradas em cima de
uma montanha e voc tivesse
a oportunidade de salvar uma
de ns. Qual o senhor
salvaria?
- Ah! Minha filha... Salvaria as duas... Esquivou-se e no
respondeu. Como se no tivesse entendido o sentido da pergunta.
No satisfeita com a resposta do meu pai, direcionei a pergunta
minha me. Pois a lgica seria salvar a minha pessoa, que sou a
filha mais nova, a mais linda e tudo mais...
- Me, e se fosse senhora nessa situao e s pudesse salvar
uma de ns, qual a senhora salvaria?
Minha me respondeu com a maior naturalidade do mundo.
- Ah Daiana, eu salvaria a mais fraquinha... A sua irm, Daniele!
Meu mundo desabou!!!
Para piorar minhas frustraes, a minha casa estava cheia de
gente, a namorada do meu irmo estava l como sempre. Alguns
primos, amigos, at o Ricardo que h anos no ia a nossa casa por
causa de cimes que o ex-marido de Daniele tinha dele.
-
Justamente nesse dia, no sei por que motivo, eu fiz uma
pergunta cuja resposta temia.
Tentei deixar passar batido, almoamos todos com a cara de
suspense, pela primeira vez na vida, no vi o Ricardo fazer uma
das suas piadinhas de duplo sentido para me sacanear em um
momento constrangedor, isso soou como se todos ali, estivesse
querendo rir de mim, ou ento me dizer algo do tipo para de
bobeira Daiana, voc sabe que amada por todos ns, mas para
mim, ser apenas amada por todos eles no era o bastante, eu
queria mais, queria o amor incondicional dos meus pais, pelo
menos naquele momento, na frente dos meus amigos.
No aguentei minhas inquietaes, dei a ltima mordida naquele
bendito frango, detonei o meu copo de Coca-Cola que estava pela
metade e perguntei para minha me.
- Me, seja sincera, me fala responda, preciso saber a verdade,
no fica me enrolando igual meu pai faz, a senhora gosta mais de
mim, ou da Daniele?
- Deixa de ser boba Daiana, comigo no tem diferenas entre
vocs duas, eu as amo de paixo, mas j que voc quer saber
sobre minhas preferncias familiares, ento vou te falar, meu
filho preferido, o Marllon seu irmo.
Jess AndarIlho - C.R.I.A
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Congresso da UNE em Goiania
Fiquei sabendo desse congresso
atravs de um amigo que era
presidente de uma galera
estudantil no sei das quantas,
nessa poca, eu era engajado na
poltica na minha comunidade, ai
eu comentei com um amigo que
esse amigo contou pra me dele,
que contou pra uma amiga,
quando vi, j estava rolando um
comentrio de que eu ia para Braslia reclamar por melhorias pra
nossa comunidade. Eu no podia deixar os sonhos daquelas
pessoas irem por gua abaixo.
Liguei pro meu amigo presidente do grmio na universidade dele,
e falei que estava querendo fazer um documentrio de como a
juventude se comporta em viagens em grupo coisa e tal.
Colou esse amigo me arrumou quatro vagas pra ir a Goinia como
delegado estudantil. Porm a viagem, era justamente um ms
depois do meu casamento e eu estava duro igual um coco.
Nem liguei peguei minha filmadora, minha mochila velha, minha
no, na verdade peguei a mochila da minha esposa. E fui pra essa
viagem com pouqussima grana.
Chegando l, esse amigo (Rodrigo) me apresentou para galera
como o tal documentarista, chamei um amigo que toca uma viola (
Boco ) outro que era o dono da filmadora na verdade ( Derlei ) e
o outro que era dono da farmcia ( Naninho ) que conheceu a sua
atual esposa depois desse encontro.
-
A gangue estava formada, quando o buzo chegou, Derlei queria
ir embora, eu tive que colocar uma pilha pra ele ficar, o buzo foi embora e comecei a filmar a galera, todos queriam aparecer, e eu
s queria descolar um rango e umas bebidas.
Chegando primeira parada, me lembrei de quando era criana
que ia para praia duro e tinha que comer os biscoitos abertos no
supermercado, j tinha no sangue a malandragem na veia.
Entrei na loja da parada, peguei minha comanda fingi ter
esquecido minha carteira no buzo e voltei para busc-la, na
volta, peguei outra comanda ento fiz a festa, falei pra galera
comer a vontade e colocar tudo na minha comanda. Na hora de
sair e pagar a conta, sa e mostrei a comanda em branco, fui para
o buzo com a barriga cheia e com vrios quitutes na bolsa.
Quando o buzo partiu, tirei a comanda marcada meu bolso, e mostrei pra galera. - Aqui gente eu sa da parada com a comanda
errada, vamos voltar pra pagar! - Entrei na loja com duas
comandas e a que estava marcada ficou no meu bolso, sa sem
pagar nada....
Pronto, ca no gosto da galera, geral comeou a rir e assim por
diante fizeram em outros lugares.
Quando chegamos a Goinia, estava rolando um show da banda
Ira, abafamos o som da banda com nossas canes. Imagine,
quatro nibus lotado de cariocas malucos em cima
do buzo batendo no nibus e cantando:
"SEGURE SUA MULHER E ESCONDA SEU DINHEIRO....
CHEGOU O RIO DE JANEIRO".... Nunca tinha visto tanta gente
admirada com algo assim, essa galera capaz de mudar uma
nao se ela quiser, ou melhor, se ela parar de beber seu futuro e
fumar seus aprendizados.
-
Chegamos com estilo e camos no gosto do congresso, conheci
muitas pessoas de vrios lugares, entrevistei muita gente e falei
da minha realidade, consegui muitos lanches e dei algumas voltas
no restaurante que vendia comida a quilo que s pesava na hora
de colocar o churrasco, tive que abrir mo do churrasco, mas
pelo menos deu pra comer as saladas e as carnes que tinha na
linha de servir.
E foi assim que viajei pra Goinia no meio da juventude que o
futuro de nosso pas.
Jess AndarIlho - C.R.I.A
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-Amo o mar, tudo que fao, em direo ao mar! Dizia o Grande
Willian emocionado ao conhecer alguns pescadores na Ilha
Grande.
A histria do Willian comeou com seu amigo Andarilho e o
parceiro dele Boco vocalista da banda Comida Remosa.
Quando Andarilho e Boco foram para Ilha Grande tinham to
pouco dinheiro que mal dava para as passagens, muito menos para
o barco.
Para conseguirem chegar Ilha inventaram para o dono do barco
que j estavam na praia e s foram a Angra levar um amigo que
passou mal, e que os pertences deles estavam todos na Ilha
Grande incluindo documento e dinheiro.
Levaram um Miojo apenas, e, na hora do rango, batiam na porta
de alguns moradores da ilha e contavam que acamparam na praia
com fogareiro entupido, e se a pessoa da casa se importaria em
preparar o miojo para os dois almoarem.
- Um Miojo para dois?
- Sim senhor, ns estamos acostumados a comer pouco, dizia o
Boco.
- Vocs aceitam almoar aqui em casa?
- Se no for incomodar, aceitamos sim, minha me me ensinou a
nunca recusar uma gentileza! Afirmou Andarilho.
Depois dessa conversinha, os dois se fartaram em vrias casas da
ilha e fizeram muitas amizades, sendo convidados a ficar em
varias casas de moradores diferentes.
Ao chegarem em casa, no Rio, postaram as fotos com um pedao
da histria no Orkut, e foi assim que o Grande Willian tomou
conhecimento do paraso que passou a sonhar viver nele.
-
William foi casa de Andarilho e perguntou se ele poderia ajud-
lo nesse sonho de morar na praia, pois sete de setembro haveria
outro feriado prolongado, teria ainda cinco meses pela frente
para ele se preparar.
-Willian, voc vai virar Hippie?
-Nada, quero trabalhar l, virar pescador, arrumar uma famlia,
morar no paraso. No nasci pra viver em cidade grande sinto isso
bem forte dentro do meu peito.
Andarilho risonho disse que ia dar uma fora ao amigo sonhador,
os dois marcaram para setembro.
Willian juntou grana e perto da data marcada, pediu para ser
mandado embora do trabalho, pois com a resciso de contrato
poderia ter mais tempo para arrumar um trabalho na Ilha.
Quando o barco se aproximou da praia, o olhar dele transbordava
emoo em forma de lgrimas e foi assim que Willian conheceu a
Ilha Grande ao vivo.
Andarilho apresentou algumas famlias para ele e conversaram
bastante com o pessoal falando sobre sua vontade de morar ali
naquele lugar.
Andarilho foi embora e Willian morou no acampamento da praia
por seis meses. Tentou a pescaria, mas seu porte fsico que lhe
dera o apelido de Pinguim, no aguentou a ralao, tentou
trabalhar na obra da prefeitura carregando postes na instalao
da luz eltrica, mas tambm no aguentou, foi a que ele comeou
a ajudar os moradores que vinham do mercado. Ajudava carregar
as compras, assim, garantia alguns trocados e algumas refeies
que lhe ajudaram no perodo em que estudou para fazer a prova
de guarda florestal.
-
Hoje em dia, ele um oficial da Guarda Florestal, comprou uma
casa na Ilha Grande, mora em Angra e conhecido por todos
como Willian Grande o Pinguim da Ilha Grande.
Jess AndarIlho - C.R.I.A