TEXTOS IMAGÉTICOS E ACONTECIMENTO … funde estrutura e acontecimento e o corpo como uma...

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TEXTOS IMAGÉTICOS E ACONTECIMENTO DISCURSIVO: A HISTÓRIA ACONTECENDO DIANTE DOS NOSSOS OLHOS? 1 Por Alessandro Alves da Silva (PLE-UEM) 2 & Rosiane Moreira da Silva Swiderski (PG-UNIOESTE) 3 INTRODUÇÃO O discurso midiático é uma prática discursiva identitária (NAVARRO, 2009) na qual se retomam ou se ressignificam mitos do passado, constroem-se memórias e identidades do presente e do futuro, etc. Nestas práticas discursivas midiáticas, as identidades não estão prontas e acabadas (HALL, 2009; WOODWARD, 2003), mas em constante processo de (des)construção. Constituído de uma esfera “tecnológica”, o discurso da mídia televisiva desenvolve-se pela arte de saber fazer, de fazer e de articular, ao mesmo tempo, aparatos de natureza instrumental e processual, nas dimensões verbais, visuais e sonoras, cujos efeitos podem, a curto, longo e médio prazo, apagar, transformar, promover e consolidar ideais modelares de sujeitos (TASSO, 2006, p. 129, grifos nossos). A citação acima é bastante produtiva para pensarmos a esfera “tecnológica” do discurso da mídia, pois sintetiza as inquietações do pesquisador da mídia que se defronta com textos imagéticos (imagens fixas e em movimento), textos verbais e sons. Numa mesma produção videográfica tem-se, por exemplo, textos verbais e imagéticos que, por assim dizer, “conversam entre si”. Mas antes de prosseguirmos com este texto, é importante explicitarmos qual é a concepção de discurso por nós trabalhada. Alguns analistas de discursos adeptos às 1 Este artigo é um ensaio inicial que objetiva, dentre outras coisas, mostrar sem, no entanto, gerar dados conclusivos - o fato de que o campo teórico da Análise do Discurso necessita ainda de estudos que considerem a imagem e o corpo, em conjunção com o linguístico, como elementos da materialidade discursiva. Este gesto de leitura leva o pesquisador da mídia a considerar a imagem como um enunciado que funde estrutura e acontecimento e o corpo como uma construção discursiva produzida pela mídia, conforme as relações de saber e de poder articuladas no momento histórico de constituição dos sentidos. 2 Mestrando em Letras (Estudos Linguísticos: Estudos do Texto e do Discurso), pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), sob a orientação do Prof. Dr. Pedro Navarro. Integrante do Grupo de Estudos Foucaultianos (GEF/UEM/CNPq) e do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Discurso e Ensino (UNIOESTE/CNPq). E-mail: [email protected] 3 Mestranda em Letras (Estudos Linguísticos: Gêneros Discursivos e Ensino), pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), sob a orientação da Profª. Drª. Terezinha da Conceição Costa-Hübes. Integrante do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Cultura e Ensino (UNIOESTE/CNPq). E-mail: [email protected]

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TEXTOS IMAGÉTICOS E ACONTECIMENTO DISCURSIVO: A HISTÓRIA

ACONTECENDO DIANTE DOS NOSSOS OLHOS?1

Por Alessandro Alves da Silva (PLE-UEM)2

&

Rosiane Moreira da Silva Swiderski (PG-UNIOESTE)3

INTRODUÇÃO

O discurso midiático é uma prática discursiva identitária (NAVARRO, 2009) na

qual se retomam ou se ressignificam mitos do passado, constroem-se memórias e

identidades do presente e do futuro, etc. Nestas práticas discursivas midiáticas, as

identidades não estão prontas e acabadas (HALL, 2009; WOODWARD, 2003), mas em

constante processo de (des)construção.

Constituído de uma esfera “tecnológica”, o discurso da mídia

televisiva desenvolve-se pela arte de saber fazer, de fazer e

de articular, ao mesmo tempo, aparatos de natureza

instrumental e processual, nas dimensões verbais, visuais e

sonoras, cujos efeitos podem, a curto, longo e médio prazo,

apagar, transformar, promover e consolidar ideais modelares

de sujeitos (TASSO, 2006, p. 129, grifos nossos).

A citação acima é bastante produtiva para pensarmos a esfera “tecnológica” do

discurso da mídia, pois sintetiza as inquietações do pesquisador da mídia que se

defronta com textos imagéticos (imagens fixas e em movimento), textos verbais e

sons. Numa mesma produção videográfica tem-se, por exemplo, textos verbais e

imagéticos que, por assim dizer, “conversam entre si”.

Mas antes de prosseguirmos com este texto, é importante explicitarmos qual é

a concepção de discurso por nós trabalhada. Alguns analistas de discursos adeptos às

1 Este artigo é um ensaio inicial que objetiva, dentre outras coisas, mostrar – sem, no entanto, gerar dados

conclusivos - o fato de que o campo teórico da Análise do Discurso necessita ainda de estudos que

considerem a imagem e o corpo, em conjunção com o linguístico, como elementos da materialidade

discursiva. Este gesto de leitura leva o pesquisador da mídia a considerar a imagem como um enunciado

que funde estrutura e acontecimento e o corpo como uma construção discursiva produzida pela mídia,

conforme as relações de saber e de poder articuladas no momento histórico de constituição dos sentidos. 2 Mestrando em Letras (Estudos Linguísticos: Estudos do Texto e do Discurso), pela Universidade

Estadual de Maringá (UEM), sob a orientação do Prof. Dr. Pedro Navarro. Integrante do Grupo de

Estudos Foucaultianos (GEF/UEM/CNPq) e do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Discurso e Ensino

(UNIOESTE/CNPq). E-mail: [email protected] 3 Mestranda em Letras (Estudos Linguísticos: Gêneros Discursivos e Ensino), pela Universidade Estadual

do Oeste do Paraná (UNIOESTE), sob a orientação da Profª. Drª. Terezinha da Conceição Costa-Hübes.

Integrante do Grupo de Pesquisa em Linguagem, Cultura e Ensino (UNIOESTE/CNPq). E-mail:

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teses pêcheutianas4

consideram o discurso como um objeto sócio-histórico que precisa

de uma materialidade linguística para se materializar. Tal concepção de discurso

considera como discurso apenas a materialidade linguística, deixando a materialidade

imagética de lado.

Navarro (2009, p. 125) pondera que “o discurso é o resultado de algo que é da

ordem de materialidade linguística e/ou imagética com algo que é da ordem da

história”. Em outras palavras, esta concepção de discurso considera as materialidades

linguística e imagética. Esta é a concepção de discurso a qual se filia este trabalho.

O trabalho de investigação desta pesquisa foi desenvolvido por meio de

recortes de uma produção videográfica (gênero discursivo notícia) relacionada à morte

do ex-vice-presidente José de Alencar, veiculada pela Rede Globo de Televisão em

29/03/2011. Para trabalhar com o corpus de estudo foram utilizados alguns conceitos

do campo de pesquisa denominado Análise do Discurso francesa (AD), via teoria e

método arqueogenealógico de análise de discursos proposto pelo filósofo francês

Michel Foucault, mantendo um diálogo com os estudos culturais, bem como com

outros campos do saber.

Este método arqueogenealógico de estudo dos discursos “busca compreender o

sentido a partir da análise da rede interdiscursiva em que a série se encontra, da

relação, portanto, que um enunciado mantém com os outros” (NAVARRO, 2009).

O ACONTECIMENTO DISCURSIVO: DISCURSO, HISTÓRIA E MEMÓRIA

Sobre a noção de acontecimento discursivo, Foucault (2008) pondera que:

“[...] supõe-se que entre todos os acontecimentos de uma

área espaço-temporal bem definida, entre todos os

fenômenos cujo rastro foi encontrado, será possível

estabelecer um sistema de relações homogêneas: rede de

causalidade permitindo derivar cada um deles relações de

analogia mostrando como eles se simbolizam uns aos outros,

ou como todos exprimem um único e mesmo núcleo

central; supõe-se, por outro lado, que uma única e mesma

forma de historicidade compreenda as estruturas

econômicas, as estabilidades sociais, a inércia das

mentalidades, os hábitos técnicos, os comportamentos

políticos, e os submeta ao mesmo tipo de transformação;

supõe-se, enfim, que a própria história possa ser articulada

em grandes unidades - estágios ou fases - que detêm em si

mesmas seu princípio de coesão” (FOUCAULT, 2008, p. 16)”.

4 Note-se, entretanto, que estão ocorrendo mudanças neste campo científico. Alguns analistas de discursos

adeptos às ideias de Michel Pêcheux começaram, há alguns anos, a empreender pesquisas considerando a

materialidade imagética, além da materialidade verbal.

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O acontecimento discursivo pode ser entendido em AD como algo que foge à

estrutura devido ao fato do discurso ser “nó numa rede”, ou seja, entrecruzamento

entre diferentes materialidades discursivas com a história. Um enunciado verbal

presente na estrutura linguística de uma determinada língua pode, por exemplo,

tornar-se um acontecimento discursivo - confira-se como exemplo o enunciado on a

gagné – ganhamos - presente no livro “O discurso: estrutura ou acontecimento?”, de

Michel Pêcheux. No exemplo de Pêcheux este enunciado (ganhamos) presente na

estrutura da língua francesa, e comum em disputas esportivas, é ressignificado pelo

acontecimento discursivo das disputas políticas. O mesmo pode ocorrer com os textos

imagéticos. Além disso, o acontecimento discursivo faz com que vários textos

heterogêneos sejam produzidos e circulem em sociedade: ele mexe com o arquivo.

Quanto ao enunciado, Foucault o concebe (seja ele verbal ou imagético) como a

menor unidade do discurso que o analista de discursos recorta do arquivo. Este

filósofo toma o enunciado como uma função que abarca: 1) um princípio de

diferenciação que engloba o objeto do qual o discurso fala (a morte de José de

Alencar, etc); 2) uma posição de sujeito, considerado em termos de modalidades

enunciativas (apresentadora, repórter, etc); 3) um domínio associado, que diz respeito

às relações entre os enunciados e os demais grupos de enunciados, de modo que este

elemento da função enunciativa aponte para as noções de memória discursiva e

interdiscurso.

Ao relermos Foucault (2008; 2005), ele nos mostra que o enunciado é sempre

acontecimento em diferentes materialidades discursivas. Além disso, ele nos mostra

que o acontecimento é o que o discurso produz ou conjura à sua volta. Muitos

analistas de discursos, calcados neste pensador, consideram que a noção de

acontecimento é crucial para a AD por sua relação com a enunciação – a enunciação é

concebida foucaulteanamente como um evento que não se repete: que é único. As

noções de acontecimento e história serial são constantes nos trabalhos de Michel

Foucault, pois problematizam as relações entre os saberes e os poderes.

A história praticada por Michel Foucault é a “história serial”. Seu objetivo é

estudar as relações entre saberes e poderes em várias práticas discursivas, “a partir de

um conjunto de documentos dos quais ela dispõe”. Transforma-se o documento em

monumento (objeto passível de interpretação) em seus feixes de relações com outros

documentos e com a história, entendida foucaulteanamente como ruptura e

descontinuidade:

Assim, a história serial faz emergir diferentes estratos de

acontecimentos, dos quais são visíveis, imediatamente

conhecidos até pelos contemporâneos, e em seguida, debaixo

desses acontecimentos que são de qualquer forma a espuma da

história, há outros acontecimentos invisíveis, imperceptíveis

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para os contemporâneos, e que são de um tipo completamente

diferente (FOUCAULT, 2005, p. 291).

A História Global (ou tradicional) vai considerar as categorias de cronologia,

continuidade, sujeito fundante, unidade e documento. Já a História Geral (ou serial) de

Michel Foucault vai trabalhar com a noção de descontinuidade em vez de continuidade,

de sujeito descentrado (sujeito das práticas discursivas) em vez de sujeito fundante

(origem da enunciação e dono do sentido), de diferentes temporalidades (por exemplo,

um sujeito que vive em nossa época, mas está numa temporalidade de não se usar e-

mail) em vez de cronologia, de séries (séries de séries em seus feixes de relações) em

vez de unidade e de monumento (o documento sendo interpretado em suas relações

com outros documentos e com a história) em vez de documento.

Os “estratos de acontecimentos” dizem respeito aos acontecimentos visíveis e

invisíveis ou a diferentes níveis de acontecimentos. Tomando como exemplo a morte

do ex-vice-presidente José de Alencar, existem acontecimentos visíveis: as coberturas

jornalísticas, as homenagens, os conjuntos de textos que são produzidos em função

deste acontecimento discursivo, os vários enunciadores autorizados pela ordem do

discurso que são convocados para falar sobre este fato, enfim, vários enunciados -

Foucault não se prende apenas ao linguístico: ele também considera as materialidades

imagéticas como enunciados (Confira-se o texto: “Isto não é um cachimbo”, em que

este filósofo faz descrição linguística e leitura e análise de textos imagéticos, bem

como análise discursiva de ambas as materialidades. São materialidades que, de certo

modo, conversam entre si) - que começam a circular socialmente a partir de sua morte.

Já há outros acontecimentos que são invisíveis: possíveis mudanças internas na

estrutura do governo, etc.

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO CORPUS

Nesta seção deste artigo apresentaremos frames recortados de uma produção

videográfica (material audiovisual) sobre a morte do ex-vice-presidente José de

Alencar, bem como uma tabela, na qual há a transcrição das falas presentes nesta

produção. Trata-se de uma notícia veiculada, em 29/03/2011, pelo Plantão da Rede

Globo de Televisão em que o conteúdo temático é a morte de um representante da

política nacional brasileira. Os enunciadores são a apresentadora Fátima Bernardes e o

repórter José Roberto Burnier e os enunciatários são os espectadores.

Antes de prosseguirmos com esta etapa, gostaríamos de enfatizar que serão

brevemente descritos e analisados neste artigo os textos verbais - são textos verbais

orais que foram transcritos para a linguagem escrita, os quais, de certa forma,

dialogam com os textos imagéticos: imagens fixas e em movimento - e imagéticos. Os

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demais sons (músicas, jingles, etc), embora entrem na descrição, não serão analisados.

Devido às limitações impostas não desenvolveremos, neste trabalho, questões de

ordem linguística, embora as mesmas entrem na descrição dos enunciados, pois o

nosso foco é a materialidade imagética.

Segue abaixo um quadro com a descrição dos textos verbais (textos escritos e

orais), imagéticos (imagens fixas e em movimento) e verbo-visuais (texto-imagem).

Logo após este quadro, seguem as discussões e frames recortados desta produção

videográfica.

TEMPO TEXTO VERBAL

TRANSCRIÇÃO DAS FALAS

TEXTO IMAGÉTICO

(0:00-0:06) /.../ ((fala dos personagens)) Cenas de novela

(0:06-0:16) /.../ ((jingle)) Vinheta

(0:16-0:27) Int 1 - Morreu agora pouco em São

Paulo o ex-vice-presidente da

república José Alencar ’ ele

lutava contra um câncer no

abdômen e tinha sido

internado as pressas ontem ’

o repórter

Imagens de uma câmera

Cena 1 produzida a partir do

estúdio de gravação

1º Plano – apresentadora

(plano médio)

2º plano – logomarca em tela

de projeção

3º Plano – sala de redação

Cena com enquadramento fixo

Lide (início)

(0:27-0:35) Int 1 - José Roberto Burnier está no

hospital Sírio Libanês e tem as

informações ’ ((Fátima vira de

costa para a câmara em

sentido a tela na qual aparece

a imagem do repórter em

frente ao hospital)) Burnier

Int 2 - Fátima: ((olha para o

relógio)) agora

Imagem de duas câmeras

Cena 1 - estúdio

Cena 2 - local do fato

noticiado (ambiente externo)

1º Plano - apresentadora;

2º Plano - repórter

3º Plano - coletiva organizada

no local do fato

4º sala de redação;

Cenas com enquadramento

fixo

Lide (encerramento)

Notícia (início)

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(0:35-1:30) Int 2 - são quatorze ((catorze))

horas e cinquenta minutos há

(aparece a legenda – JOSÉ

ROBERTO BURNIER SÃO

PAULO)) exatamente cinco

minutos o coração do ex-vice-

presidente José de Alencar

parou de bater ’’ zé alencar

termina assim uma agunia ’

de mais de treze anos de

(lutra) contra tumores e de

quase cinco anos de luta

contra este tumor ’ no

abdomên ’ a frequência

cardiaca de zé alencar

((zélencar)) já vinha caindo

durante a madrugada durante

a noite ’ ele foi sedado para

que ele não sentisse dor ’

afinal de contas ele chegou

aqui com muitas dores ’ mas

((mais)) ’ acabou não

resistindo ’ houve uma

falência multipla ’ o

organismo foi ’ se:

deteriorando ’ os parâmetros

todos médicos ’ que são

usados para se avaliar o

estado de saúde de um

paciente ’ foram caindo

aBRUPtamente e a pressão

dele caiu e o coração acabou ’

parando ’ ah: nesse momento

na uti estão os familiares ’ a

mulher ’ os filhos ’ os netos ’

ainda não há

Imagem de uma câmera

Cena 1 - off

Cena 2 - local do fato

noticiado

1º Plano - repórter;

2º Plano - coletiva

Cena com enquadramento fixo

Notícia (continuidade)

Passagem

(1:30-1:52) Int 2 - en/qualquer informação

sobre onde será o velório e

onde ((ondi)) o corpo de/do

((di/du)) ex-presidente será

enterrado ’ é uma luta ’ zé

alencar eh: foi um guerreiro ’

todo mundo sabe ele sempre

disse que ia continuar lutando

’ mas ((mais)) ’ infelizmente

essa doença ’ o sarcoma

acabou vencendo ’ fátima nos

voltaremos a qualquer

instante com outras

Imagem de uma câmera que

dá zoom in

Cena 1 - off

Cena 2

1º Plano - repórter;

2º Plano - imagem da coletiva

Enquadramento fixo da cena

Notícia

Passagem

(1:52-1:54) Int 2 - informações

Int 1 - ok ((Fátima se vira para as

câmeras)) burnier josé de

alencar

Imagem de duas câmeras

Cena 1 – On

Cena 2

1º Plano - apresentadora;

2º Plano - repórter

3º coletiva

4º sala de redação;

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Cenas com enquadramento

fixo

Notícia (encerramento)

Comentário da apresentadora

(1:54-2:02) Int 1 - como você disse ’ foi um

exemplo de gueRREiro

((gueRREro)) foi/deu também

um exemplo de simplicidade

e perseverança , como vai

contar o repórter josé roberto

burnier

Imagem de uma câmera

Cena 1

Cena 2 - Off

1º Plano – apresentadora

2º plano – logomarca (tela de

projeção)

3º Plano – sala de redação

Cena com enquadramento fixo

Comentário da apresentadora

(2:02-2:53) /.../ Cenas com imagens de

arquivo que trazem o

personagem da notícia

Biografia produzida por

repórter

(2:53-3:00) Int 1 - então morreu agora à tarde

no início da tarde o ex-vice-

presidente da república josé

de alencar ’ outras

informações você vai ter a

qualquer

Imagem de uma câmera

Cena 1

1º Plano – apresentadora

(plano médio)

2º plano – logomarca

(hyperlink)

3º Plano – sala de redação

Cena com enquadramento fixo

Comentário da apresentadora

(3:00-3:05) Int 1 - momento e a cobertura

completa logo mais no jornal

nacional ((apresentadora

dirige o olhar para a pauta))

Imagem de uma câmera que

dá zoom out

Cena 1

1º Plano – apresentadora

2º plano – logomarca

(hyperlink)

3º Plano – sala de redação

Cena com enquadramento fixo

Comentário da apresentadora

(3:05-3:15) ((jingle)) ((vinheta))

(3:15-3:19) ((áudio da fala dos personagens)) ((cenas de uma novela))

NOTAS E

LEGENDAS

SOBRE A

DESCRIÇÃO

LINGUÍSTICA

DOS

TEXTOS

VERBAIS

ORAIS

NOTA: /.../ - trecho suprimido

(( )) comentário

( ) suposição

/ truncamento

MAIÚSCULA – ênfase

’ aspa simples – subida

leve (algo assim como uma

vírgula);

, aspa simples abaixo da

linha – descida leve ou

brusca

: prolongamento

No quadro acima, temos uma descrição de um material audiovisual

caracterizado como notícia jornalística em que temos, principalmente, textos verbais e

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imagéticos na singularidade de seu acontecimento discursivo. No que diz respeito à

estrutura linguística (ILARI & NEVES, 2008) dos textos verbais há um predomínio de

sequências narrativas argumentativas, descritivas e expositivas (pelo viés foucaultiano,

chamar-se-ão de séries enunciativas: E1, E2, etc). Os enunciadores Fátima e Burnier

narram, descrevem e expõem fatos correlatos à morte de José Alencar, constituindo

séries enunciativas. Há, ainda, o uso de substantivos próprios para a troca de falas

entre os enunciadores (Fátima-Burnier). Fátima passa o turno de fala para Burnier por

meio deste substantivo próprio, ou seja, o nome Burnier (ILARI & NEVES, 2008).

Quanto ao léxico (escolha das palavras: “infelizmente essa doença, o

sarcoma”), temos um caso de coesão referencial pelo uso de um sintagma (ILARI &

NEVES, 2008) que funciona como uma expressão nominal definida (o sarcoma) e de

marcação de sujeito no discurso pelo uso do advérbio infelizmente. Os truncamentos

destacados na tabela acima indicam reformulação textual por parte do sujeito

enunciador: por ser um texto oral do gênero discursivo notícia “ao vivo”, é comum a

presença de reformulações textuais (ILARI & NEVES, 2008) na fala do repórter. A

prosódia (emissão de palavras de acordo com a norma padrão – aBRUPtamente) revela

um cuidado com a linguagem jornalística concebida socialmente como um saber culto

produtor de outros saberes e de cultura. Esse cuidado por parte do jornalista também

revela as relações de saber e poder em relação ao que se diz: não se pode falar de

qualquer coisa, de qualquer forma e em qualquer época (FOUCAULT, 1996). E ele

também não diz como quer, mas do modo que os poderes lhe permitem dizer: no caso

do sujeito jornalista, de acordo com a norma padrão da língua. Esta norma padrão não

ocorre o tempo todo na fala, conforme conseguimos perceber nas transcrições das

falas acima (zé alencar, guerrero, etc). Conforme vimos acima, os sujeitos que falam

no interior destes textos, em função deste acontecimento discursivo, ocupam

diferentes posições de sujeito: jornalista que apenas narra, jornalista que comenta e

atribui valoração, repórter que apenas narra, repórter que comenta e atribui valoração,

etc.

No que se refere às estruturas das materialidades imagéticas na singularidade

de seu acontecimento discursivo, na tabela acima foi feita a descrição dessas. Por isso,

vamos nos deter a apenas alguns pontos na análise destas materialidades. Estas

perguntas de pesquisa se impõem em relação a estas materialidades discursivas

imagéticas e, ao mesmo tempo, ajudam a guiar esta breve pesquisa: 1) a partir das

construções das imagens em movimento presentes nesta produção videográfica em

questão, considerando seu caráter de representatividade do real, quais ferramentas da

análise fílmica podem ser identificadas? 2) quais processos de leitura dos discursos

são possíveis considerando suas condições de possibilidade? Tentaremos responder a

estas perguntas no decorrer deste artigo.

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No nível do plano, podemos perceber que a apresentadora está em primeiro

plano, em plano médio e em ambiente interno (LAURERT & MARIE, 2009): uma

personagem enquadrada da cintura para cima. Isso dá, discursivamente falando, um

certo tom de sobriedade, equilíbrio e elegância, de modo a dar credibilidade ao

enunciador midiático (jornalista) que enuncia a notícia.

O ponto de vista é apresentado antes de tudo pela localização

da câmera. É o ponto de observação da cena, aquele de onde

parte o olhar. Nenhum ponto de vista é neutro. Todas as

posições de câmera conduzem a uma série de conotações [...].

O ponto de vista talvez seja o parâmetro mais importante no

nível do plano (LAURERT & MARIE, 2009, p. 22).

Figura 1: apresentadora e repórter em primeiro plano e em plano médio.

A apresentadora está em ambiente interno e o repórter em ambiente externo,

mas ambos se encontram enquadrados pela objetiva no mesmo plano. Temos aí as

logomarcas da Rede Globo de Televisão que aparecem rapidamente nesta produção. A

expressão facial séria dos dois, bem como olhar diretamente para o eixo da objetiva,

passa-nos a ideia de que eles de fato estão conversando conosco. Em segundo plano

temos a logomarca em tela de projeção e em terceiro plano a sala de redação. As

cenas têm enquadramento fixo. As imagens são de duas câmeras: uma é a do estúdio

em que se encontra a apresentadora; a outra é a da coletiva de imprensa em que se

encontra o repórter.

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Figura 2: repórter Burnier na coletiva de imprensa em ambiente externo.

A repórter também comenta a luta do ex-presidente em relação à sua doença,

adjetivando-o como guerreiro, e dizendo que ele foi um exemplo de simplicidade e

esperança (substantivos abstratos que funcionam discursivamente de modo

semelhante aos adjetivos).

Figura 3: repórter Fátima comentando sobre a vida de José de Alencar.

Sobre a noção de comentário, Foucault (1996) pondera que:

Por ora, gostaria de me limitar a indicar que, no que se chama

globalmente um comentário, o desnível entre o texto

primeiro e o texto segundo desempenha dois papéis que são

solidários. [...] Deve, conforme um paradoxo que ele desloca

sempre, mas ao qual não escapa nunca, dizer pela primeira

vez aquilo que, entretanto, já havia sido dito e repetir

incansavelmente aquilo que, no entanto, não havia jamais sido

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dito[...]. O comentário conjura o acaso do discurso fazendo-

lhe sua parte : permite -lhe dizer algo além do texto mesmo,

mas com a condição de que o texto mesmo seja dito e de

certo modo realizado. A multiplicidade aberta, e o acaso são

transferidos, pelo princípio do comentário, daquilo que

arriscaria de ser dito, para o número, a forma, a máscara, a

circunstância da repetição. O novo não está no que é dito,

mas no acontecimento de sua volta (FOUCAULT, 1996, 24 -

26, itálicos do autor, grifos nossos).

O comentário, enquanto enunciação singular, faz emergir o que estava

articulado silenciosamente no texto primeiro e é, ao mesmo tempo, acontecimento

discursivo. Ele reafirma parte dos enunciados que já foram ditos no arquivo. Ao tecer

comentários a apresentadora sai da posição de sujeito de jornalista - que apenas narra

os fatos - e passa a fazer considerações sobre o objeto do qual ela fala: José de

Alencar.

É importante pontuarmos a questão do “ao vivo” deste gênero discursivo

notícia. Nesta produção videográfica, provavelmente foram selecionadas, dentre horas

de gravações, alguns trechos para construir este vídeo: imagens do passado de José de

Alencar, depoimentos, etc. O acontecimento discursivo é ressignificado por meio disso

(por meio destas representações em relação a José Alencar), produzindo sentidos

diferentes ou outros efeitos de realidade destes textos imagéticos em relação ao

sujeito-leitor/sujeito-telespectador que assiste a isso por meio do seu regime do olhar.

Esta representação do real é construída no e pelo discurso da mídia televisiva. Outro

aspecto extremamente importante – considerando ainda a questão do “ao vivo” deste

gênero discursivo notícia - que chama a nossa atenção nesta produção videográfica é

que somos, de certa forma, convidados pelo enunciador midiático (NAVARRO, 2009) a

interpretarmos a história como se ela estivesse acontecendo diante dos nossos olhos.

Em outras palavras, a imagem é utilizada como uma forma de narrativa (MANGUEL,

2001) por meio da qual o enunciador midiático nos narra a história, como algo que

estivesse acontecendo simultaneamente diante de nossos olhos. É possível perceber

que o enunciador midiático assume a posição de sujeito de historiador ao utilizar,

principalmente, as imagens (textos imagéticos) como narrativas (MANGUEL, 2001),

pois, para o senso comum “uma imagem vale mais do que mil palavras”.

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Figura 4: José Alencar, em seu início de carreira, como um pequeno

comerciante.

Figura 5: Aliança de José Alencar com Lula.

É essencial destacarmos que a concepção de história veiculada pelo

enunciador midiático, conforme se pode ver nas figuras acima, é a de uma História

Global (ou tradicional), que vai considerar as categorias de cronologia, continuidade,

sujeito fundante, unidade e documento. Além disso, nas imagens acima, bem como

nas demais imagens não mostradas aqui, José Alencar é mostrado como um homem

humilde, batalhador, vencedor, empreendedor de si mesmo, etc. É representado como

um brasileiro que muitos outros brasileiros queriam ser. Como dito anteriormente, há

um consenso, no senso comum, de que “uma imagem vale mais do que mil palavras”.

Daí o uso de imagens como narrativas pelo enunciador midiático.

Recortam-se (do arquivo) e reconfiguram-se (em função de uma memória

discursiva e do interdiscurso) enunciados relativos ao passado de José de Alencar em

Page 13: TEXTOS IMAGÉTICOS E ACONTECIMENTO … funde estrutura e acontecimento e o corpo como uma construção discursiva produzida pela mídia,

função de outros enunciados que estavam circulando e que circularam no momento da

notícia de sua morte em função do acontecimento discursivo de sua morte. Esse

discurso como “nó numa rede” (rede de entrecruzamento entre as diferentes

materialidades discursivas e a história) sedimenta determinados sentidos e não outros

em relação a José Alencar. Estes sentidos não foram sendo sedimentados do nada, mas

em função de determinadas práticas discursivas midiáticas em suas relações com os

saberes e poderes. Estes sentidos em relação a José Alencar constituem saberes e

poderes em relação a este sujeito. “O” sentido, por assim dizer, está inextricavelmente

ligado às relações de saber e poder. Por meio da análise desta produção videográfica -

considerando a dinâmica entre discurso, representação e identidade – percebe-se que

determinados efeitos de sentido (guerreiro, simplicidade, esperança, lutador, humilde,

etc) e não outros vão sendo sedimentados em relação ao objeto dos discursos (José

Alencar) por meio de processos discursivos.

Como vimos neste artigo, diante deste pequeno recorte deste arquivo, o

arqueólogo do saber ou então o analista de discursos iriam escavar estes efeitos de

sentido que foram sendo sedimentados por meio de práticas discursivas em relação ao

seu objeto de análise.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não é novidade afirmar que somos ligados à práticas discursivas em função

de acontecimentos discursivos. Como vimos, o acontecimento discursivo faz circular

uma porção de enunciados (textos verbais e imagéticos). Ele mobiliza enunciados do

arquivo: mexe com o arquivo.

A mídia televisiva, com seus aparatos tecnológicos (TASSO, 2006) e modos de

saber fazer e articular, e ao mesclar diferentes materialidades discursivas, ajuda a

posicionar o regime do olhar dos sujeitos-telespectadores/sujeitos-leitores em função

de determinados gestos de interpretação, de certa forma e em parte, direcionados pelo

enunciador midiático. Tudo isso ajuda a direcionar, em parte, a nossa interpretação, de

modo que pensemos, por exemplo, que José de Alencar só possa ser, discursivamente

falando, pelo menos atualmente, dadas as condições de possibilidade dos discursos,

interpretado como X e não Y. Em outras palavras, temos o enunciador midiático

produzindo história e sedimentando determinados sentidos em relação a outros. Como

dito acima, os sentidos não “caem do céu”, mas vão sendo sedimentados por meio de

práticas discursivas em determinados a priori (a priori pode ser entendido

metaforicamente como uma espécie de aquário que engloba tudo) históricos. No caso

de José de Alencar, por exemplo, os sentidos foram sendo gradualmente sedimentados

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pelo enunciador midiático não só no momento da reportagem sobre sua morte, como

também meses antes em reportagens, documentários, etc.

Por fim, é importante ressaltar que há algumas indagações que não foram

respondidas adequadamente neste breve artigo. Uma delas está ligada às complexas

relações de saber e poder nos processos de objetivação e subjetivação por meio de

práticas discursivas midiáticas televisivas. Michel Foucault, grande arqueólogo do

saber, dedicou a sua vida a isso (relações entre saberes e poderes) e teve a humildade

de não dar a sua pesquisa como acabada. Outra está ligada às ferramentas da análise

fílmica e aos processos de leitura dos discursos considerando suas condições de

possibilidade, pois o pesquisador da mídia irá fazer escolhas em função de seu corpus,

da teoria e das perguntas de pesquisa. No momento, estas perguntas continuam em

aberto, de modo a nos incitarem a continuarmos pesquisando sobre estas complexas

questões.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária,

2008.

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pensamento. 2 ed. Rio de Janeiro: Forense, 2005.

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2009.

ILARI, Rodolfo; NEVES, Maria Helena de Moura. (Orgs.). Gramática do Português Culto

Falado no Brasil. V. II. Classes de Palavras e Processos de Construção. Campinas:

Ed. da Unicamp, 2008.

LAURERT, Jullier; MARIE, Michel. Lendo as imagens do cinema. Tradução de Magda

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Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

NAVARRO, Pedro. (O texto como objeto de análise discursiva: questões de sentido,

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Maringá-PR, 2009, Vol.1, p. 123-136.

TASSO, Ismara Eliane Vidal de Souza. (Mídia televisiva e políticas públicas de inclusão

na pós-modernidade: igualdade, solidariedade e cidadania) In Estudos do texto e do

discurso: mapeando conceitos e métodos. Pedro Navarro (org.), Ed.: Claraluz (ed.).

São Carlos-SP, 2006, Vol.1, p. 129-152.

WOODWARD, Kathryn. (Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual) In

Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Tomaz Tadeu da Silva

(org.). Petrópolis: Editora Vozes, 2003.

Recebido em 09/01/2012.

Aceito em 21/06/2012.