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THAIZA DE CARVALHO CORRÊA AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E ENCAMINHAMENTO DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO DE LONDRINA - PR LONDRINA 2013

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THAIZA DE CARVALHO CORRÊA

AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E ENCAMINHAMENTO DE

CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS

ESPECIAIS NO SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO DE

LONDRINA - PR

LONDRINA

2013

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LONDRINA

2013

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THAIZA DE CARVALHO CORRÊA

AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E ENCAMINHAMENTO DE

CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS

ESPECIAIS NO SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO DE

LONDRINA - PR

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Professora Doutora Sílvia Márcia Ferreira Meletti.

Londrina

2013

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Catalogação elaborada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da

Universidade Estadual de Londrina.

Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)

C824a Corrêa, Thaiza de Carvalho.

Avaliação, diagnóstico e encaminhamento de crianças com necessidades

educacionais especiais no sistema municipal de ensino de Londrina - PR /

Thaiza de Carvalho Corrêa. – Londrina, 2013.

126 f. : il.

Orientador: Sílvia Márcia Ferreira Meletti.

Dissertação (Mestrado em Educação). Universidade Estadual de

Londrina, Centro de Educação, Comunicação e Artes, Programa de Pós-

Graduação em Educação, 2013.

Inclui bibliografia.

1. Psicologia educacional – Teses. 2. Educação especial – Londrina (PR) –

Teses. 3. Distúrbios da aprendizagem – Diagnóstico – Teses. I. Meletti, Sílvia

Márcia Ferreira. II. Universidade Estadual de Londrina. Centro de Educação,

Comunicação e Artes. Programa de Pós-Graduação em Educação. III. Título.

CDU 37.015.3

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THAIZA DE CARVALHO CORRÊA

AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E ENCAMINHAMENTO DE CRIANÇAS

COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NO SISTEMA

MUNICIPAL DE ENSINO DE LONDRINA - PR

Dissertação apresentada ao Programa de

Mestrado em Educação da Universidade

Estadual de Londrina, como requisito

parcial para a obtenção do título de

Mestre.

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

Prof ª. Drª. Orientadora: Sílvia Márcia

Ferreira Meletti

Universidade Estadual de Londrina

__________________________________

Prof. Dr. Odair Sass

Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo (PUC - SP)

_________________________________

Prof ª. Drª. Francismara Neves de Oliveira

Universidade Estadual de Londrina

Londrina, _____ de ______________ de 2013.

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Dedico este trabalho às minhas duas

mães... Verdadeira Fortaleza Divina...

Vera Lúcia de Carvalho e

Clemência Maria de Carvalho.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente e especialmente a minha orientadora, professora Dra. Sílvia

Márcia Ferreira Meletti, pela sua competência, dedicação e carinho à sua profissão, as pessoas

e a esses 8 anos que compartilhou comigo de saberes e amizade. Obrigado por ter acreditado e

me incentivado desde o início e ser parte grandiosa dessa conquista. Uma vez corujinha

sempre corujinha!

Aos professores do programa de Mestrado em Educação, em especial à

Profª Dra. Fracismara Neves de Oliveira, por todo o apoio e carinho durante o meu percurso

acadêmico, por aceitar o convite de fazer parte da banca examinadora e pelas oportunidades

de troca de saberes. Uma vez filha de aluguel, sempre de aluguel também!

Ao Prof. Dr. Odair Sass (PUC-SP), pela honrosa presença nesta banca

examinadora, pelas ricas contribuições que trouxe ao trabalho e pela inspiração acadêmica

que me traz desde que eu o ouvi pela primeira vez.

A todos os integrantes do grupo de Estudos e Pesquisas em Educação

Especial – UEL, pelas contribuições nos estudos, pelos momentos de apoio e amizade.

Ao Observatório de Educação da CAPES pelo incentivo a pesquisa.

À Secretaria Municipal de Educação de Londrina, em especial a equipe

psicopedagógica e as professoras das salas de recurso que contribuíram grandiosamente para a

realização da pesquisa.

Aos meus amigos, cada qual em seu momento, pelo apoio e incentivo que

me deram em toda minha trajetória acadêmica.

À minha mãe e a minha avó por tudo...

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“Quando a vida me chamou a experimentar seus

horizontes... Lá fui eu menina brincante...”

E daqueles mesmos anjos... Igual ao de Carlos...

Disse: - “Vai!”

Aos sabores e dissabores,

Caminhos tortos e entretortos,

Respostas e não respostas,

“Vai!”

Entre medos e revoltas,

Vozes ao vento e dúvidas postas,

Arrependimentos e apostas,

“Vai!”

Com o medo da exposição, amigos, sozinha,

E com muita produção,

Artigos, escrita, conhecimentos...

...

Vai... Porque ser gauche é a coisa mais gostosa...

Thaiza de Carvalho Corrêa

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CORRÊA, C. T. Avaliação, Diagnóstico e Encaminhamento de crianças com necessidades

educacionais especiais no sistema municipal de ensino de Londrina. 2012. Dissertação

(Mestrado em Educação) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2013.

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar a avaliação, o diagnóstico e o encaminhamento

de crianças com necessidades educacionais especiais, na Rede Municipal de Ensino de

Londrina, a partir da nova estrutura da educação especial do município, após o fechamento

das classes especiais e da reestruturação da equipe psicopedagógica. A equipe

psicopedagógica é constituída por 12 profissionais, sendo: uma coordenadora, quatro

psicólogas e sete psicopedagogas. Embasados numa abordagem qualitativa, realizamos

entrevistas recorrentes com: a coordenadora responsável, três psicólogas, quatro

psicopedagogas e três professoras da sala de recurso, bem como, a análise de laudos de

encaminhamentos de crianças com necessidades educacionais especiais e seus critérios para

tais avaliações e diagnósticos. Para essas análises, tivemos por base os pressupostos da

Análise de Discurso. Diante da metodologia proposta, os resultados mostraram que o papel da

avaliação e do encaminhamento ficou a cargo da professora da sala de recurso, que tem a

função de fazer todo o processo avaliativo com o aluno, enquanto a equipe psicopedagógica

ficou com a função de realizar todo o acompanhamento das salas de recursos multifuncionais

e das classes especiais de transtorno global do desenvolvimento, no que diz respeito ao

acompanhamento do professor, à parte burocrática, aos relatórios semestrais, capacitações,

aplicação de testes formais (psicólogos) e avaliação quando necessário. Em relação ao

diagnóstico, a ênfase é dada as questões do indivíduo em detrimento do pedagógico, sendo o

processo mais voltado ao funcionamento subjetivo do aluno do que suas relações

estabelecidas com o meio de aprendizagem. Para os encaminhamentos, os procedimentos

adotados são predominantemente os tradicionais instrumentos de avaliação psicológica – os

testes psicométricos – que avaliam a queixa escolar, diagnosticando as prováveis deficiências.

Embora, tenham ocorrido mudanças, a Educação Especial permanece como um sistema

paralelo de ensino e não como uma modalidade da educação básica que perpassa todas as

modalidades.

Palavras - chave: Avaliação. Diagnóstico. Encaminhamento. Educação Especial.

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CORRÊA, C. T. Evaluation, Diagnosis and Referral of children with special educational

needs in the municipal school system of Londrina. 2012. Dissertation (Master in

Education). State University of Londrina, Londrina, 2013.

ABSTRACT

This study aims to examine how are going the review, the diagnosis and referral of children

with special educational needs in the municipal schools of Londrina, from the new structure

of special education in the city, after the closure of special classes and the restructuring of the

psychopedagogic team. The psychopedagogic team consists of 12 professionals, being: a

coordinator, four psychologists and seven psychopedagogues. Grounded in a qualitative

approach, we conducted recurrent interviews with: a coordinator responsible, three

psychologists, four psychopedagogues and three teachers from resource room, as well as

analysis of reports of referrals of children with special educational needs and their criteria for

such assessments and diagnoses. For these analyzes, we were based on the assumptions of

Discourse Analysis. Faced with the proposed methodology, the results showed that the role of

evaluation and referral was responsibility of the resource room teacher, who serves to make

the whole evaluation process with the student, while the psychopedagogic team got the

function to perform all monitoring features of the multifunctional rooms and special classes of

global development disorder, with regard to the monitoring of the teacher, the paperwork, the

semi-annual reports, capabilities, implementation of formal tests (psychologists) and

evaluation when necessary. In relation to the diagnosis, the emphasis is on the individual

issues in detriment of teaching and the process is more focused to the internal functioning

than the external one of the student. For the forwarding, the procedures adopted are

predominantly the traditional psychological assessment instruments - the psychometric tests -

that assess learning difficulties, diagnosing the probable deficiencies. Although there have

been changes, the Special Education remains as a parallel system of education and not as a

form of basic education that permeates all modalities.

Keywords: Evaluation. Diagnosis. Routing. Special Education.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Matrícula de alunos da Educação Básica e da Educação Especial no Brasil, no

Estado do Paraná e no município de Londrina (2007 – 2010)..................................................68

Tabela 2 – Matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais, segundo

modalidade de ensino, no estado do Paraná e no município de Londrina (2007-

2010).........................................................................................................................................70

Tabela 3 – Matrícula de alunos com Necessidades Educacionais Especiais, por modalidade de

ensino e tipo de deficiência no Município de Londrina............................................................73

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Trabalhos da 23ª à 33ª reuniões da ANPED dos GTs 15 (Educação Especial) e

GT 20 (Psicologia da Educação)...............................................................................................16

Quadro 2 - Artigos do Scielo...................................................................................................19

Quadro 3 – Dissertações e Teses da CAPES...........................................................................21

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SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO..................................................................................................12

2 AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E ENCAMINHAMENTO: O QUE AS PESQUISAS

REVELAM?................................................................................................................14

2.1 OS BANCOS DE DADOS.............................................................................................15

2.1.2 ANPED.................................................................................................................15

2.1.3 SCIELO (REVISTAS DE EDUCAÇÃO E PSICOLOGIA)....................................................17

2.1.4 CAPES (TESES E DISSERTAÇÕES)...........................................................................20

3 MÉTODO.................................................................................................................24

3.1 ENTREVISTAS..........................................................................................................26

3.1.1 Aspectos éticos.................................................................................................27

3.1.2 Local da realização............................................................................................28

3.1.3 Participantes......................................................................................................28

3.1.4 Coleta de dados................................................................................................28

3.1.5 Organização e Análise dos dados.....................................................................29

3. 2 ANÁLISE DOCUMENTAL (LAUDOS).............................................................................31

3. 2.1 Local da realização...........................................................................................32

3. 2.2 Coleta de dados...............................................................................................32

3. 2.3 Organização dos dados....................................................................................33

3. 2.4 Análise dos dados............................................................................................34

4 CONSTITUIÇÃO SOCIAL DA NECESSIDADE EDUCACIONAL ESPECIAL:

MODOS DE IDENTIFICAR E FORMAS DE LIDAR..................................................36

4.1 PRECONCEITO, ESTIGMA E DISCRIMINAÇÃO DA CRIANÇA COM NECESSIDADE

EDUCACIONAL ESPECIAL................................................................................................36

4.2 CLASSES ESPECIAIS NO BRASIL: CONSTITUIÇÃO, CONSERVAÇÃO E IMPACTOS.............40

4.3 PROCESSOS AVALIATIVOS: O “SER ESPECIAL” ESTÁ NO PAPEL.....................................48

4.3.1 A psicologia diferencial e os testes de inteligência...........................................52

4.3.2 A resposta dos laudos.......................................................................................58

4.4 A PSICOPEDAGOGIA NO CONTEXTO ESCOLAR.............................................................61

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5 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE LONDRINA NO ÂMBITO DA

EDUCAÇÃO ESPECIAL............................................................................................66

5.1 DADOS DE MATRÍCULAS............................................................................................66

5.2 ESTRUTURA DA EDUCAÇÃO ESPECIAL........................................................................75

6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS......................................83

6.1 ENTREVISTAS..........................................................................................................83

6.2 LAUDOS..................................................................................................................92

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................100

REFERÊNCIAS........................................................................................................102

ANEXOS..................................................................................................................111

ANEXO A – Aprovação no Comitê de Ética.............................................................112

ANEXO B – Termo de consentimento livre e esclarecido........................................113

ANEXO C – Modelo dos Protocolos de registro das sessões..................................115

ANEXO D – Ficha Síntese – Modelo de Relatório...................................................116

ANEXO E – Áreas do Desenvolvimento...................................................................117

ANEXO F –. Observação do Material Escolar..........................................................119

ANEXO G – Entrevista com os pais ou responsáveis.............................................122

ANEXO H – Informação Social................................................................................126

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1 APRESENTAÇÃO

A presente pesquisa tem por objetivo analisar os processos de avaliação,

diagnóstico e encaminhamento de crianças com necessidades educacionais especiais na Rede

Municipal de Ensino de Londrina – PR.

O interesse para o desenvolvimento da pesquisa foi construído a partir de

minha graduação em Psicologia e de minhas indagações sobre as relações estabelecidas entre

esta área do conhecimento e a Educação, especificamente, no que se referia às pessoas com

deficiência. Desde o início do curso fui percebendo que a relação entre Psicologia e Educação

era lastreada por modelos clínicos e pela psicometria e isso me remeteu à necessidade de

buscar outras bases que me possibilitassem análises distintas, mais críticas.

Para essa busca, no ano de 2006, me inseri no Grupo de Pesquisa – “Estudos

e Pesquisas em Educação Especial”, coordenado pela Professora Sílvia Meletti, do

departamento de Educação, da Universidade Estadual de Londrina, que tem como foco

investigativo, o modo como os processos de escolarização de pessoas com necessidades

educacionais especiais estão se constituindo no sistema regular de ensino. Especificamente

quando me inseri no Grupo a pesquisa em desenvolvimento tinha como objetivo analisar a

implementação da educação especial na rede municipal de ensino.

Minha participação no Grupo se deu por meio de pesquisas de Iniciação

Científica. Investiguei, inicialmente, o trabalho docente desenvolvido nas classes especiais

para alunos com deficiência mental e com condutas típicas (nomenclatura adotada na época

pelo município) do sistema regular de ensino. Pude constatar que as políticas de educação

inclusiva não alavancaram o processo de reestruturação da classe especial, prevalecendo,

desse modo, o modelo clínico de trabalho em detrimento do pedagógico, prejudicando o

acesso dos alunos a processos efetivos de escolarização. Outro aspecto que se destacou, foi o

fato das classes especiais reiterarem a educação especial como um sistema paralelo de ensino,

ainda que no interior da escola regular, e não como uma modalidade da educação básica

(CORRÊA, MELETTI, 2008).

Diante desses resultados, mais questionamentos surgiam e a necessidade de

entender todo esse processo me direcionou a indagações mais específicas: à realidade da

criança com necessidade educacional especial. O que essa criança tem? Por que está ali?

Como ocorreu esse processo de identificação (rotulação) de sua possível necessidade

educacional especial? A partir de que meios é possível dizer se uma criança está apta ou não

para determinado encaminhamento?

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Perante esses questionamentos e com o término da minha graduação iniciei

o mestrado em Educação, o que me possibilitou permanecer no Grupo de Pesquisa e me

inserir em sua nova pesquisa, realizada no âmbito do Observatório da Educação (CAPES).

Nessa nova etapa, minhas reflexões foram direcionadas para a análise dos

processos de avaliação, diagnóstico e encaminhamento de crianças com necessidades

educacionais especiais da Rede Municipal de Ensino de Londrina, haja vista, a reformulação

da educação especial municipal, a partir do ano de 2009, com o fechamento das classes

especiais (transformadas em salas de recursos) e da reestruturação da equipe psicopedagógica.

Isso desencadeou processos de avaliação e de encaminhamentos dos alunos com necessidades

educacionais especiais que eram atendidos nas classes especiais. Diante desta nova

configuração da rede e da possibilidade de remanejamento dos alunos de classes especiais,

seja para salas regulares seja para instituições especiais ou outros espaços educacionais,

busquei no presente estudo conhecer e analisar os processos de avaliação, diagnóstico e

encaminhamentos de alunos com necessidades educacionais especiais realizados pelos

profissionais da equipe psicopedagógica e pelos professores das salas de recurso

multifuncionais da referida rede.

Para tanto, a pesquisa foi estruturada da seguinte maneira:

No primeiro capítulo apresentamos um levantamento e a análise de

pesquisas nas áreas da educação e da psicologia, dos bancos de dados da ANPED, CAPES e

SCIELO, com o objetivo de apresentar, discutir e comparar os principais estudos realizados a

respeito da Avaliação, Diagnóstico e Encaminhamento de crianças com necessidades

educacionais especiais no Brasil.

No segundo capítulo apresentamos os pressupostos teóricos metodológicos

do estudo.

No terceiro apresentamos um recorte da educação especial, no qual se trata

especificamente da constituição das classes especiais, com ênfase nos encaminhamentos,

avaliações e o diagnóstico psicométrico. Além, das alterações legais e normativas que, a partir

do ano 2000, desencadearam mudanças nesse processo de um modo geral e também no

município de Londrina.

No quarto capítulo, apresentamos e analisamos os resultados obtidos.

Por fim, apresentamos algumas considerações finais do estudo.

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2 AVALIAÇÃO, DIAGNÓSTICO E ENCAMINHAMENTO: O QUE AS PESQUISAS

REVELAM?

O campo do conhecimento, principalmente no que concerne à

pesquisa, não está deveras limitado, posto que, quando se julga que se

está no final de uma pesquisa, ainda assim há muito para ser

descoberto, estudado, discutido, analisado (SANTOS, 2008, p. 4).

Para evidenciar, discutir e comparar os principais estudos realizados a

respeito da Avaliação, Diagnóstico e Encaminhamento de crianças com necessidades

educacionais especiais, selecionou-se três bases de dados: ANPED (Associação Nacional de

Pós–Graduação e Pesquisa em Educação), SCIELO (Scientific Electronic Library Online) e

CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Tais bases se

configuram como importantes meios de produção e publicação de pesquisas acadêmicas, daí a

escolha das mesmas.

As pesquisas foram selecionadas a partir dos descritores: Avaliação

(psicológica, escolar e educacional), Diagnóstico e Encaminhamento, sendo que, no SCIELO,

ainda foram utilizados os descritores: Laudo Psicológico, Testes Psicométricos e Educação

Especial. Diferentemente, na CAPES, não foram utilizados os descritores Diagnóstico e

Encaminhamento. Além destes, os meios de seleção também foram os títulos e os resumos

das pesquisas.

Tal decisão, por estes meios de seleção, justifica-se pelo desenvolvimento

da pesquisa, que, em um primeiro momento a partir dos resumos publicados realizara um

mapeamento da produção acadêmica na área, para em seguida analisar o texto na íntegra.

Almeida Ferreira (2002) aponta esse momento:

Um, primeiro, que é aquele em que ele interage com a produção acadêmica

através da quantificação e de identificação de dados bibliográficos, com o

objetivo de mapear essa produção num período delimitado, em anos, locais,

áreas de produção. Nesse caso, há um certo conforto para o pesquisador, pois

ele lidará com os dados objetivos e concretos localizados nas indicações

bibliográficas que remetem à pesquisa. Ele pode visualizar, nesse momento,

uma narrativa da produção acadêmica que muitas vezes revela a história da

implantação e amadurecimento da pós-graduação, de determinadas entidades

e de alguns órgãos de fomentos de pesquisa em nosso país. Nesse esforço de

ordenação de uma certa produção de conhecimento também é possível

perceber que as pesquisas crescem e se espessam; ampliam-se em saltos ou

em movimentos contínuos; diversificam-se os locais de produção; em algum

tempo ou lugar ao longo de um período (p. 13).

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15

Assim, embora os resumos apresentem aspectos das pesquisas a que se

referem, informando ao leitor de maneira sucinta e objetiva o que se pretendeu investigar, o

percurso metodológico realizado e os resultados adquiridos, apresentam limitações, uma vez

que, nem todo resumo, ainda de acordo com Almeida Ferreira (2002), traz em si e de idêntica

maneira todas as convenções previstas para ele. Daí a necessidade da leitura do texto na

íntegra.

Desse modo, para uma maior facilidade de análise e comparação dos

artigos, teses e dissertações encontrados na área, cada pesquisa encontrada, foi categorizada,

por meio de um roteiro de pesquisa baseado em NUNES (1998), o qual indica: periódico, ano,

caráter do artigo, autor, objetivo, metodologia, sujeito, público alvo, resultado e referência

bibliográfica.

As pesquisas encontradas que mais se aproximam do tema listado -

Avaliação, Diagnóstico e Encaminhamento de Crianças com Necessidades Educacionais

Especiais – somam um total de 22 pesquisas. Sendo quatro encontradas na ANPED, nove no

SCIELO e nove na CAPES. Todas estas concentradas nas áreas de educação, educação

especial e psicologia, prioritariamente.

2.1 Os Bancos de Dados

2.1.1 ANPED

A ANPED foi a primeira base de dados utilizada para a pesquisa e sua

verificação deu-se da 23ª até a 33ª reunião, especificamente nos GTs1 15 de Educação

Especial e no GT 20 de Psicologia da Educação, os quais se relacionam diretamente com a

temática proposta para o estudo. Além destes, também foram analisadas as sessões especiais

de maneira geral.

Embora a relação destes GTs com a pesquisa proposta seja direta, apenas

quatro artigos se aproximaram do tema, evidenciando uma pequena quantidade de pesquisas

nessa base de dados, a respeito de avaliação, diagnóstico e encaminhamento de crianças com

necessidades educacionais especiais na área. Ressalta-se, contudo, neste ponto, que dentre as

quatro pesquisas encontradas, duas foram publicadas no GT 15 (Educação Especial) da 24ª

reunião e as outras duas nas sessões especiais da 31ª reunião.

1 Grupos de Trabalho.

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16

Esse dado também confere o fato, das pesquisas relacionadas não estarem

localizadas no GT de Psicologia da Educação, embora, todas apresentem ligação direta com a

psicologia e discutam-na em suas referentes pesquisas, usando termos e referências

psicológicas.

Quadro 1 - Trabalhos da ANPED referentes à 23ª à 33ª reunião dos GTs 15 (Educação

Especial) e GT 20 (Psicologia da Educação)

Ano GT/Reunião Título do Trabalho Autores

1997

15/24º

Encaminhamento de crianças

à classe especial: o registro

oficial dos profissionais

responsáveis

Tatiana Platzer do Amaral

2001

15/24º

Reflexões sobre o diagnóstico

psicológico da deficiência

mental utilizado em educação

especial

Alexandra Ayach Anache

2008

Sessões Especiais/

31ª

A medicalização na educação

infantil e no ensino

fundamental e as políticas de

formação docente. A

medicalização do não-

aprender-na-escola e a

invenção da infância anormal

Maria Aparecida Affonso

Moysés

2008

Sessões Especiais/

31ª

A medicalização na educação

infantil e no ensino

fundamental e as políticas de

formação docente.

Retornando à patologia para

justificar a não aprendizagem

escolar: a medicalização e o

diagnóstico de transtornos de

aprendizagem em tempos de

neoliberalismo

Marilene Proença Rebello de

Souza

Fonte: Elaboração Própria com base nas informações extraídas do site da ANPED. Disponível em:

htpp://www.anped.org.br. Acesso em: 31 de maio de 2011.

Dentre as pesquisas relacionadas apenas uma é relato de pesquisa, sendo as

outras três, ensaios teóricos voltado para os pesquisadores. Tais ensaios, por sua vez, têm o

foco no diagnóstico e na medicalização escolar, os quais “tornaram-se” prioridade e

necessidade na escola atual, para uma melhor “indicação e posicionamento” de crianças,

diante de seus professores.

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17

Souza (2008) em sua pesquisa discutiu aspectos tanto da Política

Educacional como da Psicologia Escolar, trazendo à tona contribuições para a compreensão

do retorno das explicações organicistas, centradas nos distúrbios de aprendizagem, para

justificar o não aprender na escola pública. A partir desse fato, evidencia-se nessa pesquisa, a

patologização do sistema escolar, que devido a um sistema de décadas não consegue dar conta

de suas finalidades, transferindo-as para outros âmbitos.

Ainda com esse objetivo de discutir a medicalização e o não aprender na

escola, Moysés (2008), também traz essa discussão como desmembramento dessa pesquisa, a

qual foi feita em conjunto com Souza (2008).

Outro artigo analisado estuda os processos de diagnóstico da deficiência

mental e suas implicações para o processo educativo do aluno. Anache (2001), conclui a

necessidade de outros procedimentos de avaliação dinâmica, os quais possam evidenciar as

diferenças individuais, através de dados qualitativos e quantitativos, subsidiando assim, uma

intervenção pedagógica adequada às necessidades da pessoa em situação de diagnóstico.

Por fim, Amaral (1997), com seu relato, é a pesquisa que mais difere das

outras citadas acima, embora seu enfoque também seja o aluno. Contudo, os

encaminhamentos e a prática dos profissionais responsáveis por estes, se sobressai nessa

pesquisa.

Desse modo, pode-se concluir, que mesmo apresentando poucas pesquisas

nessa base de dados, para os descritores: avaliação, diagnóstico e encaminhamento, as quatro

pesquisas apresentadas, apontam críticas essenciais às formas, com as quais a escola procede

acerca da patologização do aluno.

Contudo, essa produção ainda apresenta lacunas em relação à produção

bibliográfica referente a esses descritores, principalmente relacionados a avaliação, a qual

apenas uma pesquisa (Anache, 2001) faz referência direta.

2.1.2 SCIELO (Revistas de Educação e Psicologia)

O segundo banco de dados utilizado foi o Scielo Brasil, no qual foram

analisados 29 periódicos da área de Ciências Humanas, que tinham a temática de Educação e

Psicologia em seus títulos e em seus resumos. Dentre os periódicos analisados, os

procedimentos utilizados para essa busca, se assemelham ao banco de dados da ANPED,

sendo os descritores chaves, os mesmos: Avaliação, Diagnóstico e Encaminhamento. É

importante notar aqui, que, no quadro das pesquisas encontradas, dois artigos são de duas

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revistas diferentes de linguística, as quais não foram analisadas por completo devido a sua

temática.

Nesse banco de dados, também foram utilizados os descritores: Educação

Especial, Testes Psicométricos e Laudos Psicológicos, devido à amplitude do mesmo e da

grande quantidade de periódicos analisados, assim como, o grande volume de números em

cada periódico.

Com a pesquisa feita em “assuntos”, “artigos” e com autores específicos da

área (PATTO, MOYSÉS, SOUZA E SASS), foram encontrados nove artigos, que se

aproximaram do tema em questão, “Avaliação, Diagnóstico e Encaminhamento de Crianças

com Necessidades Educacionais Especiais”. É importante frisar, que a especificidade dos

artigos encontrados foi de extrema relevância para a definição dessa pesquisa, uma vez que,

ao colocar os descritores chaves, inúmeros artigos relacionados diretamente ou indiretamente

com a questão foram indicados pelo buscador.

A escolha de não utilizar os demais artigos, provém da não abrangência

excessiva da pesquisa, pois estes remetiam muitas vezes a deficiências e procedimentos

específicos, os quais não abarcavam a amplitude da temática. Neste ponto, outra questão de

necessária relevância é o fato da utilização de mais descritores, uma vez que, os artigos

encontrados não abarcavam a temática sugerida, necessitando a pesquisa em todos os volumes

e números das respectivas revistas: Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica; Trabalho,

Educação e Saúde; Revista Brasileira de Educação; Revista Brasileira de Educação Médica;

Revista Brasileira de Educação Especial; Psicologia: Teoria e Pesquisa; Psicologia: Reflexão

e Crítica; Psicologia Ciência e Profissão; Psicologia em Estudo; Psicologia USP; Psicologia

Escolar e Educacional; Psicologia Clínica; Psicologia & Sociedade; Psico-USF; Psicology e

Neuroscience; Educação em Revista; Educação e Pesquisa; Cadernos de Pesquisa; Ensaio:

Avaliação e Políticas em Educação; Educação & Sociedade; Educar em Revista; Ciência e

Educação (Bauru); Estudos de Psicologia (Natal); Estudos de Psicologia (Campinas); Fracyal:

Revista de Psicologia; Interface: Educação, Comunicação e Saúde; Cadernos Cedes; Paidéia e

Pro-Posições.

Contudo, embora a pesquisa tenha sido realizada em várias revistas, apenas

nove artigos no total relacionados ao tema proposto foram encontrados, sendo estes, seis em

revistas com a temática de Psicologia, dois em revistas de Linguística e o outro em uma

revista de Educação, mais especificamente na Revista Brasileira de Educação Especial.

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19

Quadro 2 - Artigos do Scielo

Ano Revista Título do Trabalho Autores

1996 Psicologia Ciência e

Profissão

O laudo psicológico e a classe especial

Roberto Moraes Salazar

1997

Psicologia USP

Para uma Crítica da Razão Psicométrica

Maria Helena

SouzaPatto

1997

Psicologia USP

Inteligência Abstraída, Crianças

Silenciadas: as Avaliações de

Inteligência

Maria Aparecida

Affonso Moysés e

Cecília Azevedo

LimaCollares

2004

Psicologia e Sociedade

(online)

Atuando em contexto: o processo de

avaliação numa perspectiva inclusiva.

Denise Meyrelles de

Jesus

2005

Delta (online)

As relações entre saber e poder em testes

psicodiagnósticos a partir de M. Foucault

Monica Filomena Caron

2005

Estilos da Clínica

Prontuários revelando os bastidores do

atendimento psicológico à queixa escolar

Marilene Proença

Rebello de Souza

2007

Psicologia Escolar e

Educacional

Psicologia histórico-cultural e avaliação

psicológica: o processo ensino

aprendizagem em questão.

Marilda Gonçalves

Dias et Facci

2009 Trabalhos em Linguística

Aplicada

O discurso médico e a patologização da

educação.

Simone Tiemi Hashiguti

2010 Revista Brasileira de

Educação Especial

Discurso médico e discurso pedagógico:

interfaces e suas implicações para a

prática pedagógica.

Marco Antonio Melo

Franco; Alysson Massote

Carvalho e Leonor

Bezerra Guerra

Fonte: Elaboração Própria com base nas informações extraídas do site do Scielo. Disponível em:

htpp://www.scielo.br. Acesso em: 31 de maio de 2011.

Diferentemente da ANPED, a prevalência de artigos relacionados ao tema,

foram na área da Psicologia e prioritariamente na questão da avaliação, a qual não foi

contemplada no banco de dados da ANPED. Jesus (2004) e Moysés e Collares (1997),

discutiram a necessidade de repensar nos processos de avaliação educacional, assim como,

Facci (2007) que discutiu a forma como tem sido desenvolvida a avaliação psicológica de

crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem.

Ainda na área da Psicologia, Patto (1997), em uma Crítica da Razão

Psicométrica analisa aspectos do psicodiagnóstico, a partir de testes e laudos, assim como,

Salazar (1996) que discute o laudo psicológico em referência ao encaminhamento de crianças

Page 23: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

20

com deficiência e Souza (2005) que faz uma análise de crianças e adolescentes encaminhados

aos serviços psicológicos por apresentarem dificuldades no processo de escolarização.

Já na área da educação, Franco, Carvalho e Guerra (2010), investigaram o

efeito do discurso médico no processo de ensino-aprendizagem escolar, bem como, Hashiguti

(2009), que também analisa o discurso médico e a patologização da educação, só que esta

última na área de Linguística, como Caron (2005), que diferentemente, investiga as relações

entre saber e poder em testes psicodiagnósticos.

Dentre as pesquisas relacionadas, pode-se perceber a distribuição do ano da

publicação das mesmas, havendo certo equilíbrio entre as publicações, porém, sobressaindo

em maior quantidade por volta do ano de 2006. Outro ponto, é o fato de cinco destas serem

relatos de pesquisas e as outras quatro ensaios teóricos.

Assim, devido ao número de revistas analisadas, bem como, de artigos

pertencentes a estas, pode-se perceber um número não muito significativo de pesquisas

encontradas nessa área, mesmo, com um aumento de pesquisas em relação à base de dados da

ANPED.

2.1.3 CAPES (Dissertações e Teses)

O último banco de dados analisado foi o banco de Dissertações e Teses da

Capes, no qual foi colocada a expressão exata para a descrição: Avaliação Psicológica,

Avaliação Educacional e Laudo Psicológico, para os últimos onze anos de produção (2000 a

2011). Devido à enorme produção de pesquisas que se mostraram com os termos, Educação

Especial, Diagnóstico e Encaminhamento (mesmo que grande parte dela, não estava

relacionada à temática da educação especial e da psicologia) a busca destes, não foi realizada,

uma vez que, necessitava-se de uma maior delimitação, para o alcance do resultado esperado.

Dessa maneira, foram encontradas nove teses/dissertações no total, com os

descritores citados, sendo, uma tese de doutorado e oito dissertações de mestrado,

prevalecendo os primeiros anos analisados (apenas uma dissertação com as palavras chaves

descritas foi publicada após 2005), a área temática da psicologia.

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21

Quadro 3 – Dissertações e Teses da CAPES

Ano Tese (D)/ Dissertação

(M)

Título do Trabalho Autores

2000 Dissertação

Reconstituindo a trajetória de um aluno

encaminhado para a classe especial para

deficiente mental

Célia Marcondes

Marques

2001 Dissertação

Avaliação cognitiva assistida em

crianças com dificuldades escolares

Dalva Alice Rocha Mol

Rangel

2002 Dissertação

O relatório psicopedagógico e sua

importância para o trabalho do professor

Carolina Provvidenti de

Paula Gurgel

2002 Dissertação

Descrição da análise do psicodiagnótico

de crianças com queixas escolares

Sílvia Maria Bonassi

2003 Dissertação

Caminhos e descaminhos da avaliação

do deficiente mental.

Ana Marta Bianchi de

Aguiar

2003 Dissertação

Dimensões do sucesso e fracasso escolar:

estudo dirigido à infância

Ana Consuelo Alves da

Silva

2004

Tese

Os Selos da Exclusão: Efeitos de Poder

do Psicodiaginóstico

Monica Filomena Caron

2005

Dissertação

Encaminhamentos de alunos do ensino

comum para o ensino especial em uma

cidade do interior paulista de 1996 a

2001

Daniela Palma

2008 Dissertação

Conflitos, anomalias e disparidades: a

psicologia como recurso à gestão do

cotidiano escolar Jarbas Dametto

Fonte: Elaboração Própria com base nas informações extraídas do site da CAPES. Disponível em:

htpp://www.capes.gov.br. Acesso em: 31 de maio de 2011.

A partir do quadro 3, pode-se perceber, uma abrangência aos descritores de

avaliação, encaminhamento e diagnóstico (psicodiagnóstico), que as dissertações/tese

abarcaram. Caron (2004) analisa os efeitos do poder da prática do psicodiagnóstico, através de

Page 25: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

22

algumas formações discursivas. Nessa mesma área dos diagnósticos, Bonassi (2002), analisa

as características do processo de psicodiagnóstico de crianças com queixas escolares, assim

como, Gurgel (2002) que descreve a estrutura e o conteúdo dos relatórios de avaliação

psicológica, no intuito de examinar a sua importância para o professor que atende alunos com

diagnóstico de deficiência mental.

Já no campo da avaliação Rangel (2001) avalia a eficácia da avaliação

cognitiva assistida em crianças com dificuldades escolares e Aguiar (2003) delineia os

processos de avaliação a que são submetidos os alunos posteriormente considerados

deficientes mentais. Marques (2000) também entra no campo da avaliação, no entanto, seu

trabalho é um estudo de caso, dirigido para a análise das implicações que os

encaminhamentos psicológicos produziram no seu analisado em questão, do mesmo modo

que Palma (2005), também investigou o processo de encaminhamento de crianças do ensino

regular para uma instituição especial, visando conhecer esses encaminhamentos e saber se

refletiam a política de inclusão.

Por fim, Silva (2003) investigou o percurso pelo qual uma criança é

submetida ao se deparar com o insucesso escolar, analisando nesse caso também, as práticas

de encaminhamentos e as avaliações psicológicas as quais fora submetida, e nessa mesma

relação existente entre a escola e o “saber psicológico” Dametto (2008) analisa essa simbiose

entre escola e o “saber pedagógico”

Assim, diante do exposto pode-se perceber algumas produções na área

pesquisada, no entanto, cada qual com suas especificidades, evidenciando que, embora haja

produções a respeito dos descritores informados, estas, não representam um número alto,

diante da produção encontrada com esses mesmos descritores, nas bases de dados

pesquisadas.

Dessa maneira, percebe-se a necessidade de estudos que tornem os

processos de avaliação e classificação de alunos com necessidades educacionais especiais

como definidores dos espaços escolares a serem (ou não) ocupados por eles. Espaços estes

constituídos em um sistema escolar excludente que, por força da lei, deve se transformar em

inclusivo e para todos.

Nesse sentido, a problemática do presente estudo se delimita pela

necessidade de analisar como os processos de avaliação, diagnóstico e encaminhamento de

alunos com necessidades educacionais especiais estão sendo conduzidos no contexto de uma

rede de ensino no momento de consolidação da chamada escola inclusiva.

Page 26: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

23

Tem como objetivo geral: Analisar os processos de avaliação, diagnóstico e

encaminhamento de crianças com necessidades educacionais especiais, da Rede Municipal de

Ensino de Londrina após o fechamento das classes especiais e da reestruturação da equipe

psicopedagógica. E como objetivos específicos:

Identificar os processos avaliativos instaurados após a reestruturação da

educação especial no município;

conhecer como esse processo está sendo implementado nas escolas da

rede municipal de educação;

analisar os processos de diagnóstico e de encaminhamentos educacionais

desencadeados com a reestruturação da educação especial;

identificar quais os profissionais responsáveis pelo processo de

avaliação, diagnóstico e encaminhamento dos alunos com necessidades

educacionais especiais;

conhecer e analisar os procedimentos utilizados pelos profissionais

responsáveis pelo processo de avaliação, diagnóstico e encaminhamento

dos alunos com necessidades educacionais especiais.

Page 27: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

24

3 MÉTODO

Para analisar os processos de avaliação, diagnóstico e encaminhamento de

crianças com necessidades educacionais especiais, da Rede Municipal de Ensino de Londrina,

após o fechamento das classes especiais e da reestruturação da equipe psicopedagógica, fez-se

necessário traçar um panorama da nova estrutura da educação especial do Município.

Tal panorama é uma forma de identificar, comparar e consequentemente

analisar, a estrutura da educação especial, pensando-a como um microssistema (Município de

Londrina), que pode sinalizar uma visão mais ampla do macrossistema (Brasil) da educação

especial no Brasil por meio da significação desses dados.

Essa significação, por sua vez, remete à análise qualitativa dos dados que

permite ir além de seu “caráter bruto”, compreendendo relações e estabelecendo

interpretações que possuam dessa maneira, um contato direto com a realidade. Isso, de acordo

com Rebelo (2012), não implica na superestimação das técnicas de pesquisa, mas sim na

tentativa de afastamento do modelo acrítico de apropriação do conhecimento e de seu

respectivo entendimento sobre a sociedade.

De acordo com Gamboa (2007; 2009) e Rebelo (2012), as técnicas de uma

pesquisa científica, quantitativa ou qualitativa, possuem sua compreensão no método e não

podem ser entendidas em si mesmas, uma vez que, é todo o processo de pesquisa que

qualifica as técnicas e os instrumentos necessários para a elaboração do conhecimento, sendo

que, técnicas e métodos não estão separados.

Não havendo essa separação, por sua vez, as técnicas só têm sentido dentro

do enfoque epistemológico no qual são utilizadas ou elaboradas, ou seja, dentro de “um todo

maior” que lhe dê sentido, tomando-a como parte do processo de pesquisa, uma vez que, são

constituintes da opção teórico-metodológica e por si só não se torna alternativa para a

pesquisa.

As técnicas não se explicam por si mesmas. Tanto as técnicas quantitativas

como as qualitativas adquirem significação e dimensão diferentes

dependendo da abordagem na qual se inserem ou do paradigma que as

prioriza ou não em relação aos outros elementos da pesquisa. [...] A técnica é

a expressão prático instrumental do método, e esse é, por sua vez, uma teoria

em ação, e as teorias são maneiras diversas de ordenar o real ou de explicitar

uma visão de mundo (GAMBOA, 1994).

Page 28: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

25

Desse modo, com o intuito de “ordenar o real” e relacioná-lo com as

referências teóricas que fundamentam este trabalho, o relato oral, é uma técnica utilizada, e

que de acordo com Schmidt e Mahfoud (1993, p. 294), nos mostram que:

(...) uma via de acesso, privilegiada, à experiência do indivíduo é o relato

oral. Isto porque no relato oral os elementos diversos e heterogêneos que dão

corpo à experiência encontram uma forma única, singular e integrada de

expressão e comunicação.

Ainda segundo os mesmos autores:

(...) as contradições, as ambiguidades, as omissões, não são tomadas,

exclusivamente, como dissintonias do desejo do indivíduo, mas como

expressões que atualizam os conflitos, as tensões, a pluralidade de

perspectivas, do grupo social, dos quais o indivíduo se apropria para

elaboração de sua experiência (1993, p. 294).

Assim, entendemos que para conhecer e analisar as modificações e

reestruturações ocasionadas na estrutura da Educação Especial do Município, devemos

também considerar os pontos de vista, as ações e práticas, das pessoas diretamente envolvidas

na mesma, assim como, os significados atribuídos às suas práticas cotidianas, dando-lhe,

portanto, a palavra.

(...) o caráter plural da narrativa abre a possibilidade de escutar um

depoimento pessoal como a orquestração de vozes coletivas, posta em cena

pelo narrador. Isto é importante não tanto porque se apreendem as relações

sociais através da fala do indivíduo, mas, principalmente, porque se apreende

o modo como a experiência do indivíduo é modulada, matizada, dentro

daquele quadro social (SCHMIDT; MAHFOUD, 1993, p. 295).

Tal palavra, por sua vez, também pode ser percebida na escrita, uma vez que

esta, “direciona” toda a trajetória educacional e também pessoal da criança em questão,

rotulando-a por meio de laudos emitidos e cristalizando a necessidade da escola de

justificação do fracasso escolar, o que acaba por culpabilizar, o “sujeito” por todo esse

processo.

Essa culpabilização por sua vez, de acordo com Salazar (1996), estabelece

um processo de “patologização” das questões educacionais e sociais (que isenta o sistema

social e a escola de suas responsabilidades na produção do fracasso dessas crianças), e

também a “banalização” da utilização de métodos, que muitas vezes ocasionam

consequências drásticas, devido sua má utilização.

Page 29: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

26

Laudos invariavelmente ausentes de substrato teórico, mergulhados no senso

comum, lacônicos, arbitrários, carentes de crítica, feitos com uma

displicência reveladora de desrespeito pelo cliente e de certeza de que as

pessoas vítimas dessas práticas não têm nenhum poder a opor ao poder

técnico, servem, na verdade, para estancar a carreira escolar de tantos

pequenos brasileiros (PATTO, 1995, p. 16).

Desse modo, a literatura especializada, a análise dos laudos e a análise do

relato oral (entrevistas), possibilitaram a compreensão dos processos de avaliação, diagnóstico

e encaminhamento de alunos com necessidades educacionais especiais no Município de

Londrina. Todavia, essas “técnicas”, conforme Rebelo (2012), “não são um fim, mas

instrumentos de apreensão do conhecimento” (p. 52), para uma melhor compreensão da

realidade educacional do Município, “mas que também pode ser identificada em outras

localidades do país” (p. 53).

Dessa maneira, é necessário frisar, neste ponto, que os procedimentos

metodológicos utilizados, foram selecionados buscando uma coerência entre os objetivos da

pesquisa, a partir da delimitação de seu problema. Tal coerência abrange uma busca de

diversidade de dados na análise do problema pesquisado, possibilitando assim, uma

interpretação significativa amparada pelo referencial teórico. Para isto, a pesquisa foi

estruturada em dois momentos: Análise das entrevistas e Análise dos laudos.

3.1 Entrevistas

O recurso metodológico adotado para análise de tais entrevistas foi o de

Análise de Discurso2, de acordo com Meletti (1997, 2003).

Utilizou-se como instrumento a entrevista recorrente, conforme proposto

por Meletti (2003), por meio da qual buscou-se conhecer, compreender e analisar todo o

processo de reestruturação, por meio do relato oral de profissionais da equipe

psicopedagógica (psicóloga e psicopedagoga) e de professores da sala de recurso.

O uso da entrevista recorrente se justifica pelo fato da mesma ser um

procedimento de coleta, sistematização e análise de dados. O fato de “recorrer”, isto é, de

realizar uma nova entrevista propicia ao pesquisador uma organização dos relatos das

entrevistas anteriores e a formação de subtemas a partir da temática geral proposta, o que

suscita novas perguntas que até então não haviam sido previstas. Além disso, também

propicia ao entrevistado conforme Meletti (2003, p. 2) a “oportunidade de completar, incluir

2 A explicitação desse recurso está no item 3.1.5

Page 30: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

27

novas informações ou alterar as iniciais, explicar ou corrigir o que havia dito, dando

continuidade ao tema inicialmente proposto”.

Desse modo, a elaboração das entrevistas posteriores (que no caso dessa

pesquisa só foi realizada mais uma, além da primeira) é estabelecida a cada entrevista, por

meio da análise contínua do que foi relatado pelos participantes diante da reapresentação do

material produzido por eles, propiciando assim, um diálogo entre o entrevistador e cada

entrevistado direcionado pelo próprio conteúdo dos relatos.

As entrevistas ocorreram nos meses de junho de 2011 à abril de 2012 e

foram utilizadas para a análise todas as 22 entrevistas realizadas.

Descreve-se a seguir as etapas do procedimento:

3.1.1 Aspectos éticos

A pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo

Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina, sendo aprovado em junho de 2011 (o

documento de aprovação da pesquisa encontra-se no Anexo A).

Após a aprovação foram feitos os primeiros contatos com a Secretaria

Municipal da Educação, mediante apresentação da pesquisa e do termo de aprovação do

Comitê de Ética. Depois desses contatos, foram marcadas as entrevistas, nas quais, de acordo

com Delval (2002), foram prestados esclarecimentos éticos, a fim de evitar possíveis danos

físicos ou psíquicos, tendo como premissas básicas: o informe sobre a pesquisa, a

confidencialidade das informações obtidas, a garantia do anonimato e da participação

voluntária dos sujeitos.

Esclarecidos os aspectos éticos da pesquisa, foi apresentado aos

participantes o termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo B) e o termo de

Confidencialidade e Sigilo (Anexo C), para firmarem a sua participação e também para a

compreensão de todos, quanto aos objetivos e às salvaguardas frente à garantia do sigilo, a

voluntariedade da participação e da promoção de um ambiente de respeito e de aprendizado.

É importante frisar, que respeitando o sigilo proposto no termo de

consentimento, as gravações, foram utilizadas única e exclusivamente para efeito das análises

propostas pelo estudo, não havendo nenhuma possibilidade de exposição externa, assim

como, de divulgação dos nomes dos participantes.

Por fim, ficou acordado que ao término da pesquisa os participantes teriam

acesso aos resultados, por meio de uma devolutiva sobre a finalização da pesquisa.

Page 31: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

28

3.1.2 Local da realização da Pesquisa

As entrevistas foram realizadas de acordo com as disponibilidades e

preferência dos entrevistados: na Secretaria Municipal de Educação de Londrina (na sala da

equipe psicopedagógica do Município), nas salas de recurso de três escolas municipais e em

outras salas indicadas tanto pelas professoras ou pelos profissionais da equipe.

3.1.3 Participantes

A equipe psicopedagógica do Município de Londrina é constituída por 12

profissionais (uma coordenadora, quatro psicólogas e sete psicopedagogas), sendo que destas,

participaram da pesquisa: a coordenadora, três psicólogas e quatro psicopedagogas. Além

destas, participaram também, três professoras da sala de recurso do Município.

3.1.4 Coleta de dados

De um modo geral foram realizadas duas entrevistas com cada participante,

totalizando 22 entrevistas, todas, gravadas em aparelho áudio-gravador, mediante autorização

dos entrevistados, possibilitando desse modo, a sua transcrição integral, que de acordo com

Queiroz (1988, p. 17) conserva “(...) com maior precisão a linguagem do narrador, suas

pausas (que podiam ser simbolicamente transformadas em sinais convencionais) e a ordem

que dava às idéias”.

A coleta de dados por meio das entrevistas foi dividida em dois momentos:

No primeiro quando da realização da primeira entrevista, os profissionais da

equipe e as professoras da sala de recurso, falaram livremente, sem questões pré-

estabelecidas, a partir da seguinte solicitação de MELETTI (1997, 2003) “Gostaria que você

me falasse um pouco sobre o seu trabalho...”. No caso específico desta pesquisa foi

acrescentado “em relação à avaliação, diagnóstico e encaminhamento de crianças com

necessidades educacionais especiais”.

Nesse primeiro momento, ocorreram poucas interferências do entrevistador,

apenas demonstrações de atenção, interesse ou não entendimento do assunto apresentado.

A duração das entrevistas foi em média de 20 a 30 minutos, sendo encerrada

quando o participante disse não ter mais o que falar.

No segundo momento quando da realização da segunda entrevista, utilizou-

se de um roteiro específico para cada participante, formulado a partir do desenvolvimento da

entrevista anterior dos mesmos. Este roteiro não seguiu um modelo padrão, uma vez que, cada

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29

entrevista teve suas peculiaridades e seguiu uma linha de raciocínio própria de cada

entrevistado.

Os dados obtidos a partir das entrevistas foram organizados e narrados,

permitindo aos profissionais, retirar, acrescentar e complementar seu relato. Nessa entrevista

foi requisitado aos entrevistados, que aprofundassem mais sobre determinados assuntos

quando necessário e foram feitas algumas perguntas específicas sobre determinados temas,

visando investigar, conforme Meletti (2003, p. 2), “um assunto mais profundamente,

esclarecer alguma dúvida, retomar algum assunto e enfatizar a importância do que estava

sendo dito”.

Com esse maior aprofundamento nos temas dispostos e com a apresentação

da entrevista ao participante, o qual já se mostra um pouco mais a vontade diante do

pesquisador, a duração das entrevistas recorrentes tendem a ser maior, tendo uma média de 60

a 90 minutos cada. O aumento do tempo das falas vai ao encontro também do objetivo que

Bordieu (1997, p. 695) aponta diante dos procedimentos das entrevistas que é de instaurar

“uma relação de escuta ativa e metódica, tão afastada da pura não-intervenção da entrevista

não dirigida, quanto do dirigismo do questionário”.

Além das entrevistas, também foi redigido um diário de campo para cada

entrevistado, com descrições pertinentes para a complementação da entrevista.

3.1.5 Organização e Análise dos dados

Os procedimentos de investigação do discurso são essenciais para que não

haja apenas a reprodução do discurso oficial recorrente acerca da Educação Especial. O relato

verbal, por sua vez, possibilita abranger aspectos interessantes que não seriam possíveis

somente através da análise documental. As falas dos participantes foram analisadas seguindo

procedimentos de Análise de Discurso, conforme proposto por Meletti (2003).

Partindo do pressuposto que toda produção de linguagem pode ser

considerada discurso, e que a “linguagem enquanto discurso não constitui um sistema de

signos utilizados apenas para a comunicação ou pensamentos” (MARTINS, 1997, p. 5), mas

sim de interação, de produção social enquanto lugar apropriado para a manifestação da

ideologia, Orlandi (2007, p. 15) define a função da Análise de Discurso como uma busca para

“compreender a língua fazendo sentido, enquanto trabalho simbólico, parte do trabalho social

geral, constitutivo do homem e da sua história”.

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30

Assim, a Análise de Discurso considera os processos e as condições de

produção de linguagem, analisando a relação estabelecida entre a língua com os sujeitos que a

falam e as situações em que se produz o dizer. Estas situações conforme Orlandi (1996) dão

acesso ao discurso “sendo o lugar da relação com a representação física da linguagem, visto

como objeto simbólico, e, por conseguinte, objeto de interpretação” (p. 23).

É importante frisar neste ponto que na Análise de Discurso não há discurso

sem sujeito, e que diante a qualquer discurso, o sujeito é obrigado a interpretar. Logo, o texto

é uma “peça de linguagem” (ORLANDI, 1996, p. 52), na qual a sua interpretação necessita de

sua historicidade, haja vista, a sua materialidade histórica na compreensão de como o objeto

textual produz sentidos. Assim:

(...) por trás de cada texto está o sistema da linguagem. A esse sistema

corresponde no texto tudo o que é repetido e reproduzido e tudo o que pode

ser repetido e reproduzido, tudo o que pode ser dado fora de tal texto (o

dado). Concomitantemente, porém cada texto (como enunciado) é algo

individual, único e singular, e nisso reside todo o seu sentido [...]

(BAKHTIN, 2010, p. 309 - 310).

Desse modo, diante de qualquer objeto simbólico, o sujeito tem a

necessidade de dar sentido, construindo significações e tornando possíveis os gestos de

interpretação (ORLANDI, 1996), uma vez que, de acordo com Bakthin (2011), “a língua em

sua integridade concreta e viva, só pode ser estudada através do discurso” (p. 207).

Para essa análise então, as entrevistas foram transcritas integralmente. Após

a transcrição, os relatos foram divididos em falas, descartando primeiramente as falas que não

apresentavam conteúdos de interesse como: “Entendeu?”; “O que mais eu falo?”, “Tá claro

pra você?”. Descartando estas falas, as que compuseram o relato foram divididas

numericamente (distinguindo as falas da primeira e da segunda entrevista) e agrupadas em

grandes temas, os quais foram escolhidos, de acordo com o direcionamento da fala do

participante na primeira entrevista.

Após essa divisão, o relato foi contextualizado para um melhor

entendimento, a fim de suprimir as redundâncias e dar-lhe uma sequência, assim como, expõe

Bordieu (1997):

(...) aliviar o texto de certos desdobramentos parasitas, de certas frases

confusas, de redundâncias verbais ou de tiques de linguagem (os “bom” e os

“né”) que, mesmo sem eles dão seu colorido particular ao discurso oral e

preenchem uma função eminente na comunicação, permitindo sustentar uma

conversa esbaforida ou tomar o interlocutor como testemunha, baralhando e

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31

confundindo a transcrição ao ponto, em certos casos, de torná-la

completamente ilegível para quem não ouviu o discurso original (p. 10).

Com o texto mais “limpo” dos vícios de linguagem e depois do

agrupamento das falas, os temas foram analisados. É preciso destacar que, embora, tenham

surgido temas comuns em várias entrevistas, estes foram abordados sob óticas diferentes pelos

participantes, mantendo uma base parecida, porém, com desmembramentos e práticas de

trabalho diferentes. É justamente essa semelhança e esse “afastamento” que promoveram a

riqueza do estudo.

Este procedimento de organização e análise das entrevistas foi utilizado para

cada participante separadamente, sendo que após a análise de cada entrevista, juntou-se os

temas em comum a partir das categorias dos participantes (Temas comuns Psicólogas/ Temas

Comuns Psicopedagogas/ Temas comuns Professoras da sala de recurso). Essa junção

objetivou um olhar mais ampliado para o discurso dos participantes e consequentemente de

sua análise.

É importante frisar, também, que mesmo organizando os relatos para uma

melhor compreensão, não há como negar, o quanto se perde na passagem do relato oral para o

escrito, em relação a gestos, tom de voz, postura corporal, entonação (MELETTI, 2003),

impondo assim, conforme Bordieu (1997, p. 710) “(...) a mudança de base, infidelidades que

são sem dúvida a condição de uma verdadeira fidelidade”.

3.2 Análise Documental (Laudos)

Partindo do pressuposto que os laudos são documentos redigidos por

profissionais responsáveis e capacitados para emiti-los, a produção de documentos

psicológicos está no rol de atribuições dos psicólogos, sendo o laudo um desses documentos.

Segundo Alchieri (2003), o laudo tem a função de apresentar um resultado

conclusivo de acordo com os objetivos propostos, uma vez que, é um instrumento

frequentemente utilizado como forma sistemática de comunicar os resultados de um processo

avaliativo e pode ser útil aos profissionais de diversas áreas para ajudar na tomada de decisões

e/ou encaminhamentos (CRUZ, 2002; GUZZO & PASQUALI, 2001).

Por ser um instrumento de natureza e valor científico que descreve

situações, condições psicológicas e suas determinações investigadas no decorrer do processo

de avaliação psicológica, a elaboração do laudo está associada à função diagnóstica das

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32

técnicas de exames, por representar formalmente o resultado de um procedimento de

avaliação.

Desse modo, sua finalidade é apresentar os procedimentos e conclusões

gerados pelo processo de avaliação, apontando encaminhamentos, intervenções, sugestões e o

diagnóstico. No entanto, no âmbito educacional, a atuação de um profissional da saúde3,

muitas vezes acarreta a patologização do sujeito, que “adoece” no sistema educativo a partir

do que lhe é apontado possuir, isto é, a partir de um diagnóstico laudatório.

Assim, pode-se dizer:

(...) que o laudo, produto derivado de ações que se constituem das relações

formalizadas entre o psicólogo e a escola, têm se caracterizado como um

documento perverso e poderoso ao ser utilizado para encaminhar à classe

especial crianças que são discriminadas e segregadas sob pretexto de

problemas ou dificuldades que apresentam na escola (SALAZAR, 1996, p.

17).

Desse modo, descreve-se a seguir as etapas do procedimento de análise dos

laudos fornecidos pelas professoras das salas de recurso para complementar a metodologia

dessa pesquisa.

3.2.1 Local de Realização

A cópia dos laudos, inserida no Anexo D – Ficha Síntese – Modelo de

Relatório, foi realizada nas salas de recurso, de três escolas municipais do Município de

Londrina, haja vista, que nos dias marcados para ir à escola, não havia atividades nas salas de

recurso e as professoras permaneceram à disposição da pesquisa, relatando e pontuando

situações específicas dos laudos redigidos, quando achavam necessário.

3.2.2 Coleta de dados

Buscou-se junto às professoras da sala de recurso, os laudos psicológicos, a

fim de fundamentar, os pressupostos teóricos e metodológicos, de avaliação, diagnóstico e

encaminhamento de crianças ditas “deficientes”.

Foi estabelecido a priori um total de 10 laudos para cada professora,

totalizando assim, 30 laudos para análise. Estes foram copiados em um caderno e depois

3Embora a psicologia esteja situada em diversas áreas (saúde, educação, social...), esta referência se limita aos

profissionais psicólogos que possuem uma formação, calcada no modelo clínico, individual e biológico.

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33

digitados e dispostos de acordo com a mesma estrutura em que se encontravam – I.

Identificação4; II. Motivo do encaminhamento

5 (copiado na íntegra); III. Análise do Caso

6;

IV. Conclusão e Encaminhamento7 (copiado na íntegra) e V. Medidas de Intervenção

8.

Os tópicos (I. Identificação; III. Análise do Caso; V. Medidas de

Intervenção) foram resumidos, sendo apenas dois deles copiados na íntegra (II. Motivo do

encaminhamento e IV. Conclusão e Encaminhamento). O resumo justifica-se pelo extenso

tamanho dos laudos e pela alta demanda de atividades que as professoras da sala de recurso

deveriam realizar, não dispondo, desse modo, muito tempo para acompanhar as cópias.

É importante frisar que a identificação (nome, endereço, escola) dos laudos

foram mantidas em sigilo, não havendo necessidade de cópia, uma vez que, os dados são

sigilosos e não seriam utilizados.

No momento da cópia dos laudos, todas as professoras, cada uma em sua

escola e sala específica, permaneceram em sala fazendo outras atividades.

3.2.3 Organização dos dados

Os laudos foram digitados e agrupados de acordo com o sexo/gênero e o

tipo de deficiência, para que desse modo, proporcionassem uma melhor visualização das

necessidades educacionais das crianças diagnosticadas.

Após esse agrupamento, os laudos foram reagrupados a partir das categorias

que encabeçam a sua estrutura, para que assim, pudessem ser analisadas separadamente e

consequentemente comparadas entre si. Tal comparação foi realizada para uma maior

amplitude dos dados registrados, bem como, de um maior conhecimento dos métodos,

técnicas e abordagens utilizadas para a confecção dos laudos e para a sua ação de

encaminhamento.

Assim, o meio de organização dos laudos possibilitou uma análise mais

precisa dos mesmos.

4 Informações referentes aos dados pessoais da criança, tais como, nome, idade, escolaridade, período que

estuda, reprovações, nome dos pais e endereço. 5 Refere-se à queixa relacionada a criança.

6 São detalhados os históricos pessoal, familiar e escolar da criança, assim como, relatados os procedimentos

utilizados no processo de psicodiagnóstico da criança (entrevistas, testes, anamnese). 7 Apresenta um diagnóstico do que a criança tem e os atendimentos nos quais ela foi encaminhada.

8 Relata possíveis atividades para um melhor desenvolvimento da criança.

Page 37: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

34

3.2.4 Análise dos dados

Para efetuar a análise dos dados coletados, visando atingir o objetivo da

pesquisa é importante frisar que o discurso é o objeto de análise, no qual segundo Orlandi,

(1996), é necessário interpretá-lo, uma vez que, “a interpretação é um gesto, um ato, que se dá

porque o espaço simbólico é marcado pela incompletude, pelo silêncio” (p. 27).

De acordo com Orlandi (2005), o discurso possui um caráter fluido, pois

“etimologicamente, tem a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento” (p. 15). É

caracterizado como aquilo que segue um projeto, aquilo que retorna. Sua linguagem não é

transparente, por isso mesmo se faz necessário compreender os textos em sua materialidade

simbólica, uma vez que, serve tanto para comunicar quanto para não comunicar, pois “as

relações de linguagem são relações de sujeitos e de sentidos e seus efeitos são múltiplos e

variados” (ORLANDI, 2005, p. 21). Além disso, o silêncio ou o “não-dito” também tem o

poder de significar:

Se a linguagem implica em silêncio, este, por sua vez, é o não-dito visto do

interior da linguagem. Não é o nada, não é o vazio sem história. É o silêncio

significante. [...] a relação silêncio/linguagem é complexa, sem deixar de

sublinhar ainda uma vez que, no entanto, em nossa reflexão, o silêncio não é

mero complemento de linguagem. Ele tem significância própria (ORLANDI,

1995, p. 23).

As palavras acompanham e também antecipam as mudanças mais sensíveis

no percurso da história. Assim, os laudos devem ser lidos considerando o que já foi dito, o

interdiscurso, que é aquilo que se fala antes independentemente e que determina o dizer

presentificado, pois um dizer tem relação com outros dizeres já realizados em outro lugar

(ORLANDI, 2005). Bakhtin (1992, p. 316) já afirmara que “o enunciado está repleto de ecos

e lembranças de outros enunciados, aos quais está vinculado no interior de uma esfera comum

da comunicação verbal”.

Dessa maneira, embora os laudos sejam escritos, a sua estrutura é composta

por discursos relatados pelos responsáveis da criança diagnosticada, pelos professores (sala

regular e sala de recurso), equipe pedagógica da escola e equipe psicopedagógica do

Município e requer uma atenção especial devido a sua grande responsabilidade dimensional

na vida das crianças.

A análise dos laudos teve foco primordialmente nos discursos relatados na

III. Análise do Caso e na IV. Conclusão e Encaminhamento. O foco nestes dois itens justifica-

se pelo fato da composição dos mesmos estar relacionadas às formas de avaliação realizadas

Page 38: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

35

com a criança, assim como, com o diagnóstico emitido e seus possíveis encaminhamentos,

isto é, aos objetivos da pesquisa.

Assim, com respaldo no referencial teórico pode-se tecer comparações sobre

estas categorias e os discursos nelas vigentes, como uma forma de complementação da

metodologia da pesquisa para o alcance de seus objetivos, o que está mais exemplificado nos

resultados desta pesquisa.

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36

4 CONSTITUIÇÃO SOCIAL DA NECESSIDADE EDUCACIONAL ESPECIAL:

MODOS DE IDENTIFICAR E FORMAS DE LIDAR

O que há de distintivo em todos os indivíduos deficientes e comum a

todos eles, não são as suas próprias características, mas a resposta

característica dos outros face a eles (FERREIRA, 1995, p.14).

4.1 Preconceito, Estigma e Discriminação da Criança com Necessidade Educacional

Especial

O preconceito como construção social está sob uma égide potencializadora

de domínio, exclusão e segregação de grupos minoritários. A minoria, aqui, não é considerada

necessariamente a quantidade numérica de um grupo, mas sim, sua representatividade sócio-

histórico-cultural, construída a partir de valores estabelecidos pelo outro, isto é, pelo grupo

em destaque na sociedade, que os coloca em desvantagem social.

Desse modo, quando uma maioria dita e impõe o que é normal ou não, tudo

que foge a essa regra é marginalizado, ou seja, é incapaz de estar e participar do meio social

plenamente, bem como, de usufruir livremente dos mesmos meios que a maioria, sem

carregar o peso da discriminação, do preconceito e do estigma.

O grupo dominante estabelece os meios de categorizar as pessoas e os seus

atributos, bem como, os ambientes e as relações sociais que estas “deveriam” frequentar e

manter respectivamente.

Esse controle, no entanto, é uma forma de anular os direitos das minorias e

dar-lhes novas características as quais ditam o que é importante, como deve ser feito e qual

postura adotar diante da sociedade, mantendo assim, de acordo com Goffman (1980) uma

“pseudoidentidade social”.

Ainda segundo o mesmo autor:

(...) o caráter que imputamos ao indivíduo poderia ser encarado mais como

uma imputação feita por um retrospecto em potencial – uma caracterização

“efetiva”, uma identidade social virtual. A categoria e os atributos que ele,

na realidade, prova possuir, serão chamados de sua identidade social real

(1980, p. 12).

O distanciamento entre a identidade social virtual (expectativas sociais

depositadas no sujeito) e a identidade social real faz com que a condição de desvio seja

imputada ao indivíduo, colocando-o em condição de desvantagem social e potencializando

Page 40: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

37

sua estigmatização. A condição de desvio se configura como consequência da leitura social

feita da característica julgada como desviante.

(...) tal característica é um estigma, especialmente quando o seu efeito de

descrédito é muito grande – algumas vezes ele também é considerado um

defeito, uma fraqueza, uma desvantagem – e constitui uma discrepância

específica entre a identidade social virtual e a identidade social real

(GOFFMAN, 1980, p. 12).

Desse modo, a pessoa transforma-se em seu próprio desvio e é reduzida à

sua diferença a partir de critérios que definem a normalidade de outros. De acordo com

Goffman (1980), “um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade de

outrem” (p. 13).

Assim, os sujeitos estigmatizados são vistos apenas sob os olhares de seu

atributo mais destacado (o estigma), perdendo dessa maneira, todas as suas outras funções

diante da sociedade, que por sua vez, julga e discrimina reduzindo as probabilidades dessas

pessoas ao interesse social que julgam mais correto encaixá-las.

Esse deslocamento social, no entanto, pode ser notado mais

especificamente, diante das “manobras sociais” que a sociedade fomenta, excluindo e

incluindo ao mesmo tempo, de acordo com os seus interesses sociais, culturais, políticos e

econômicos, bem como, de acordo, com suas próprias regras e segundo sua própria lógica.

Nessa linha, de acordo com Ferreira (1995, p. 15), antes de apontarmos as

deficiências ou as necessidades especiais “como condições pré-dadas, instaladas „a priori‟,

intrínsecas à individualidade e sem uma história social”, é necessário compreender que a

disposição de apontar e distinguir os desvios em uma dada organização social é uma

construção social dela própria, para a manutenção da sua constituição.

O modo de conceber e definir a condição de deficiência ou de necessidade

educacional especial sustenta as formas de lidar com a pessoa que apresenta tal condição em

todos os espaços sociais nos quais está inserida.

Além das consequências individuais, as relações sustentadas por

preconceitos e estigmas marcam outras esferas da sociedade que legitimam a discriminação e

a segregação de muitos em detrimento da manutenção do poder de poucos, sedimentando

padrões que estabelecem características capazes de distinguir e classificar “os outros”, isto é,

os reconhecidos como desviantes dos padrões sociais vigentes – os excluídos.

Contudo, de acordo com Martins (1997), a exclusão não é um estado

permanente, e sim:

Page 41: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

38

(...) um momento da percepção que cada um e todos podem ter daquilo que

concretamente se traduz em privação: privação do emprego, privação dos

meios para participar do mercado de consumo, privação de bem-estar,

privação de direitos, privação de liberdade, privação de esperança (p. 18).

Assim, essa “inclusão excludente”, como denomina Cury (2008), é fruto da

desigualdade social que se mantém diante das grandes transformações econômicas que

permeiam a sociedade, na qual, apenas lugares residuais são a saída para essa população

excluída.

No entanto, essa população também é “incluída” de outras formas na

sociedade, para que de certo modo, sua marginalização não seja mais o foco principal, mais

sim a sua “des” marginalização. Cury (2008) aponta que:

A face manifesta dessa inclusão excludente é a privação de determinados

direitos e bens sociais para ser, ao mesmo tempo, precariamente incluído em

outras dimensões da produção da existência social (p. 215).

Martins (2002) também afirma que:

A sociedade que exclui é a mesma sociedade que inclui e integra, que cria

formas também desumanas de participação, na medida em que delas faz

condição de privilégios e não de direitos (p. 11).

Logo, o discurso da inclusão é mantido, como um modo de solucionar

problemas sociais, embora, de acordo com Martins (2003), inclusão e exclusão são partes

constitutivas de um mesmo processo, em que a primeira justifica as práticas da outra,

sustentando a sua interdependência. Ainda conforme o mesmo autor: “O discurso de exclusão

nos fala de um projeto histórico de afirmação do capitalismo, através da justa e necessária

inclusão social dos descartados do sistema econômico” (p. 19).

A educação brasileira, por sua vez, é um exemplo, entre outros, de inserção

em um espaço social já existente e essencialmente excludente, uma vez que, durante todo o

seu percurso, perpassando o Império e adentrando o plano republicano, se constituiu sob

pilares elitistas e preconceituosos. Tais pilares foram a base para o seu desenvolvimento

através de mecanismos que focalizaram (e ainda focalizam) atender demandas populacionais

de acordo com os estereótipos que as classificam, reduzindo suas necessidades e limitando

seu direito à cidadania.

Cidadania esta, negada também, diante de nossa história, pela falta de

escolas e de atribuição de responsabilidades ao próprio sistema educacional, uma vez que,

Page 42: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

39

constituído sob um estereótipo selecionado de seu alunado, não seria surpresa a dificuldade e

os enfrentamentos à inclusão de grupos desviantes, o que caracterizaria a diversidade

existente “extraescola”.

Segundo Vasques (2008), a escola justifica seu objetivo na transmissão do

conhecimento de acordo com o ideal da racionalidade, da consciência e da moral, capaz de

formar indivíduos que se enquadrem no padrão de normalidade requerido para o bom

funcionamento da sociedade como uma unidade, isto é, como uma massa educacional

homogênea, que pensa, age e atua a partir de um mesmo comando e sob os mesmos princípios

de “normalidade”.

Nesse sentido, o processo educativo brasileiro foi submetido a um intenso

processo de homogeneização, que consequentemente ocasionou várias marcas ao longo de sua

constituição. Tais marcas, no entanto, no interior destas práticas sociais referendadas pelo

contexto ideológico foram responsáveis por direcionar o destino de muitos que possuíam

algum tipo de necessidade educacional especial9, por exemplo, a partir de um sistema de

dominação - marginalização, restringindo sua interação e participação social enquanto sujeitos

de direitos.

Nessa mesma linha SCHNEIDER (1974, p. 52) afirma o fato de que a

“segregação ideológica da criança se traduz agora em termos concretos; a turma as isola tanto

física quanto geograficamente... Pertencem a uma outra estrutura, relegada a uma posição

inferior na hierarquia da escola”. Nesse processo, portanto, a escola regular tende a fechar seu

espaço à pessoa com deficiência e cria-se um sistema especial de educação paralelo ao

sistema regular de ensino.

Contudo, nesse sistema incluir não significa superação ou ruptura com uma

condição de exclusão, mas sim, parte constitutiva de sua criação e, sobretudo, de sua

conservação, o que se pode observar claramente em todo o processo de constituição das

classes especiais na educação brasileira.

9 É importante esclarecer que a especificação “necessidade educacional especial”, foi utilizada como

direcionamento da pesquisa, uma vez que, outros “grupos” também foram passíveis do sistema dominação –

marginalização, mas que não cabem a sua especificação no texto.

Page 43: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

40

4.2 Classes Especiais no Brasil: Constituição, Conservação e Impactos

Independente dos critérios ou dos sistemas classificatórios, contudo,

não há como mascarar o fato de que a definição da „anormalidade‟,

está „profundamente condicionada pelas conveniências da

„normalidade‟ (FERREIRA, 1995, p. 16).

A Educação Especial de acordo com Ferreira (1995) abrange um conjunto

de serviços educacionais dirigidos a indivíduos que não se beneficiam significativamente de

situações tradicionais de educação, por limitações ou peculiaridades de diferentes naturezas.

Esse mesmo autor, no livro a Exclusão da Diferença (1995), destaca o marco da evolução da

Educação Especial com a presença das instituições residenciais no século XIX e as classes

especiais do ensino público no século XX.

Tais instituições, por sua vez, trazem em suas bagagens as marcas do

modelo médico, que segundo Ferreira (1995, p. 17), são visões de “patologias individuais

com a indicação de estratégias compensatórias ou de arranjos ambientais que permitem,

teoricamente, adaptar as limitações do indivíduo às demandas do ambiente social”.

Esse modelo médico segue o mesmo movimento dos países europeus,

especialmente da França, a qual era responsável por grande parte da formação dos médicos

brasileiros, que voltavam de lá e aplicavam as mesmas técnicas e discursos (elitistas

burgueses) numa organização social totalmente diferente como o Brasil. Esse modelo trouxe

consigo o caráter fundante da higiene escolar e os discursos médicos sobre a “doença do não-

aprender”, como aponta Moysés (2008).

Nessa movimentação, de acordo com Amaral (2004), mais no sentido de

acompanhar as tendências mundiais e fortalecer o sentimento nacional de grande centro, do

que realmente a preocupação com o atendimento especializado à criança com deficiência,

ainda no Império, são criados os Institutos para Cegos e Surdos10

, na forma de asilos para

inválidos. Ainda que tenham sido criados nessa época, em outros grandes centros esse modelo

já estava ultrapassado (BUENO, 1993).

Nesse ponto faz-se necessário fazer alguns apontamentos históricos a

respeito da construção da identidade do deficiente mental, notadamente marcada desde a pré-

história com a morte, na Idade Antiga com o total abandono, no século XVII com o

surgimento dos hospícios, para enfim chegar às instituições citadas acima (Institutos para

10

Em 1854 foi fundado o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, atual Instituto Benjamin Constant – IBC e em

1857, o Instituto dos Surdos Mudos, hoje denominado Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES,

ambos no Rio de Janeiro.

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41

cegos e surdos), que também possuíam a mesma condição de internato como os hospícios

(BUENO, 1997b).

Nesse contexto, as instituições na primeira metade do século XIX tinham

como pilares, conforme aponta Ferreira (1995) a “medicina moral”, a qual exercia a sua

função sob a linha do treino psicomotor, com imposição de hábitos regulares e frequentes

como oposição à anomalia fisiológica (p. 19).

Ferreira (1995) explica:

Experiências concretas, atividades sensoriais, rotina, consistências, menos

punição estão no modelo de Seguin (1812-1880), aliados à crença na

capacidade para aprender. Edouard Seguin, Jean M. G. Itard (1775-1838), e,

mais tarde, Maria Montessori (1870-1952) deixaram idéias que ainda hoje

são básicas em Educação Especial: instrução individualizada, sequenciação

cuidadosa de tarefas na estimulação, preparação meticulosa do ambiente e

treino em habilidades funcionais (p. 19-20).

Em meados do século XIX o Brasil apresentava um percentual de 85% de

analfabetismo, a partir do qual a deficiência mental era um móbil para essa “desescolarização

geral”, com poucos atendimentos institucionalizados especialmente para deficientes visuais e

auditivos (deficiências mais visíveis) e, eventualmente, algum tipo de treinamento para

deficientes mentais mais severos11

(FERREIRA, 1995).

Em 1889, conforme aponta Moysés (2008) “é promulgado um decreto, pelo

Barão do Lavradio, que regulamentava com detalhe, a inspetoria das escolas”, trazendo-lhe

um papel diferenciado e importante como instituição, e normatizando-as sobre a sua estrutura

(construção de prédios, distribuição espacial, disposição de degraus e corredores, móveis

escolares, currículos, horas de trabalho e recreio), além da normatização do comportamento

adequado para o padrão estabelecido do alunado.

A educação brasileira manteve (e ainda mantém) um padrão estabelecido de

aluno, como uma prática recorrente em sua constituição, de modo que quem não tivesse esse

perfil tornava-se aquém, e sujeito a um modelo de escolarização, focado na reparação dos

motivos que os desviavam da escola comum.

Estas tentativas de modelar os indivíduos para colocá-lo em um grupo, eram

práticas constantes, de acordo com o discurso higienista12

do final do século XIX e início do

11

As pessoas com deficiência mental severa apresentam pouco desenvolvimento motor e mínimo

desenvolvimento de linguagem. Poderão contribuir apenas parcialmente para sua autonomia. 12

Em meados do século XIX e início do século XX, chegava ao Brasil, mediante reapropriações e

reinterpretações, um novo ideal, a exemplo da cultura grega, com a preocupação central na saúde. Suas propostas

residiam na defesa da Saúde Pública, na Educação, e no ensino de novos hábitos. Chamou-se de “movimento

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42

século XX, que o propunha como uma das funções primordiais da escola, direcionando-a

como um “veículo de formação harmônica dos corpos e espíritos” (MARQUES, 1994, p. 17).

Bueno (1993b) também expõe essa crítica:

[...] a história nos mostra que a Educação Especial não nasceu para dar

oportunidade a criança que, por anormalidades específicas, apresentavam

dificuldades na escola regular. A Educação Especial nasceu voltada para a

oferta de escolarização a crianças cujas anormalidades foram

aprioristicamente determinadas como prejudiciais ou impeditivas para sua

inserção em processos regulares de ensino (BUENO, 1993b, p. 27).

Para o movimento higienista do século XX a escola deveria corrigir e

formar novos indivíduos, agindo como instrumento para a transformação de sua índole,

mediante a ação educacional, não havendo espaço, desse modo, para qualquer possibilidade

de anormalidade. Além disso, caberia a mesma, a função de detectar o desvio, segundo

(MARQUES, 1994), para:

[...] manipular os corpos modelando-os, treinando para a obediência e para a

utilidade por meio de inúmeros regulamentos e inspeções: uma operação

cuja noção de docilidade unia o „corpo manipulável ao corpo analisável‟,

num claro processo de disciplinamento (p. 17).

Esse discurso higienista (século XX) mostrava-se impregnado pelas idéias

do eugenismo13

e do racismo, sobre as quais a medicina atuava, de acordo com suas

concepções (homogeneizadoras e puritanas), normatizando preceitos para a “aprendizagem

adequada” e medicalizando a educação.

Essa patologização educacional transformava os problemas pedagógicos em

questões biológicas e médicas, criando-se assim, as entidades nosológicas das “doenças do

não-aprender” na escola, para as quais, propunham e teciam as soluções (MOYSÉS, 2008).

Desse modo, os primeiros atendimentos aos deficientes eram ligados ao

campo médico pelo Serviço de Higiene e Saúde Púbica, relacionando as deficiências

principalmente a mental, como problemas básicos de saúde. Tal serviço, de acordo com o site

higienista” (Soares, 1990) ou “movimento sanitarista” (Hochman, 1998). Este movimento tinha como objetivo

cuidar da população, educando-a e ensinando-a novos hábitos de saúde e higiene. 13

Segundo Kehl (1935) eugenia é sinônimo de eugenesia. Tem por fim a melhoria progressiva da espécie pelo

fomento da „boa geração‟, pela „procriação hígida‟ consistindo, em suma, no enobrecimento físico e mental do

homem. (...) como ciência tem por objetivo a investigação da herança biológica; como arte, tem por escopo a boa

procriação (p. 15). Renato Kehl foi o principal organizador e disseminador do movimento eugênico no Brasil

entre o fim dos anos de 1910 e a década de 1930.

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43

do MEC14

, foi criado em 1911 no Estado de São Paulo, havendo uma inspeção médico-

hospitalar, que trabalharia juntamente com o Serviço de Educação, na defesa da saúde pública

(MOYSÉS, 2008, p. 6).

Grandes alterações, no entanto, marcaram as instituições no final do século

XIX e início do século XX, quando “a descrença na recuperação, a ênfase no trabalho mais

para ajudar as instituições do que os indivíduos e a ampliação física das instalações” Ferreira

(1995, p. 20), caracterizaram um momento de transição da Educação Especial, no qual,

também foi refletido com a mudança de público alvo, quando as minorias (pobres, deficientes

mais severos, negros...) adentraram as instituições.

Ferreira (1995) explicita:

Trata-se de um processo ativo, mais ou menos consciente, de segregação de

uma parcela da população, portadora de comportamentos dissonantes das

expectativas dominantes da sociedade (...) saem os grupos economicamente

favorecidos, que esperavam a cura, e entram os pobres, os delinqüentes, os

culturalmente diferentes e os deficientes mais graves, da cura para a

custódia, da assistência para a violência (p. 16-20).

Naquele momento a sociedade abarcava os desviantes através de suas

instituições segregadoras, e as deficiências leves, até então ausentes passam “a ser

escolarizadas”, como parte dos processos de industrialização, urbanização e de escolarização

massiva, aumentando, assim, os serviços disponíveis na área da Educação Especial. Com esse

aumento criaram-se programas escolares para deficientes mentais leves e moderados e

ocorreu uma relativa abertura das instituições, que se apoiaram nos modelos educacionais

médico e psicopedagógico.

Nesse período que se estendeu até 1935, estes dois modelos educacionais

eram a base para a educação dessa época – o modelo médico-pedagógico (no qual, a

medicina, a patologização do indivíduo e os atos médicos sobrepunham a educação) e o

modelo psicopedagógico (com grande ênfase nos princípios da psicologia e nos testes

psicométricos). Tais modelos exerceram papéis extremamente importantes em todo o percurso

de constituição e desenvolvimento da Educação Especial como um todo (FERREIRA, 1995).

Segundo Jannuzzi (2004), essa correlação saúde/educação, só ocorreu,

mesmo que parcialmente, devido a ideologia de que os deficientes pudessem se incorporar ao

mercado de trabalho, desse modo, os cofres públicos e os bolsos particulares poderiam

14

http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/visaohistorica.pdf. Acesso em: 11 de novembro de 2011.

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44

investir em escolas e não em penitenciárias, manicômios e asilos. Nessa perspectiva, surgem

as classes especiais públicas,

(...) pautadas na necessidade científica da separação dos alunos normais e

anormais, na pretensão da organização de salas de aula homogêneas, sob a

supervisão de organismos de inspeção sanitária que incorporam o discurso

da ortopedia, a partir dos preceitos da racionalidade e da modernidade

(KASSAR, 1999, p. 23).

As classes especiais passam a funcionar a partir da “anormalidade na

escola”, quando elas são detectadas com a pretensão de serem “corrigidas”. Apoiadas no

modelo psicopedagógico, com base na classificação de inteligência, possibilitam a formação

de grupos estereotipados, evidenciando a avaliação psicométrica, o diagnóstico e as condições

socioeconômicas (aumenta o crescimento de alunos “deficientes na escola” a partir do

aumento do número de vagas para as camadas populares) (JANNUZZI, 1992a).

Esse processo de segregação das classes especiais, enaltecendo um padrão

de aluno, de acordo com Ferreira (1995), começa com a divisão dos alunos em classes

“maturas” e “imaturas”:

Os “imaturos” serão, provavelmente, os “alunos especiais”, quando a

imaturidade intuída pela professora se transformar em deficiência

oficializada por testes de nível mental. Os imaturos terão suas atividades

acadêmicas rebaixadas ao nível de exercícios de pintura, desenho, sem

ênfase em conteúdos acadêmicos (p. 59-60).

Com essa divisão, as classes especiais estruturaram um processo de

escolarização, no qual os conteúdos e as formas precisavam ser diferenciados, uma vez que, o

aluno deficiente “deveria ser curado ou reabilitado, ou seja, ter sua deficiência extinta”

(AMARAL, 2004, p. 28). Essa estrutura de normalização neutralizou a deficiência, que

segundo a mesma autora, ao invés de construir condições de vida “tão semelhantes quanto” o

que se observou foi o esforço em tornar o indivíduo com deficiência “tão normal quanto”.

Essa busca pela eugenia, tão fortemente propagada, na sociedade e nas

instituições de ensino/saúde, não alcançavam uma discussão mais crítica, uma vez que, a

escola representava uma das poucas possibilidades de ascensão social das camadas mais

populares (a grande maioria da população das classes especiais), ao mesmo tempo em que

legitimava a segregação do diferente e a diferença social. Segregação esta, que passou a se

constituir dentro das escolas comuns através das classes especiais.

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45

A ampliação da Educação Especial, conforme Amaral (2004) seguiu o

mesmo ritmo da educação regular brasileira, e a diferenciação entre elas ocorreu de forma

vagarosa e paralela, sendo a Educação Especial constituída como um sistema paralelo de

ensino, mesmo dentro da escola regular. No entanto, esse paralelismo é desmascarado com o

crescente fluxo de matrículas na Educação Especial e com o aumento das classes especiais,

principalmente, nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo.

A evolução das classes especiais junto às escolas públicas do Estado15

é

significativa; em 1933, vieram as duas primeiras, em 1954, eram apenas 21;

em 1974, eram 490 salas especiais, quase que só para deficientes mentais;

em 1981, era já 640. Já em 1991, são 1.515 classes especiais para deficientes

mentais, correspondendo a 75% dos serviços da rede estadual (FERREIRA,

1995, p. 35).

A ampliação das classes especiais, juntamente com o grande fluxo das

camadas mais populares para elas, não significou uma maior responsabilização da parte do

Estado para assumir satisfatoriamente o atendimento educacional às pessoas com deficiência.

Desse modo, as instituições não governamentais, assistenciais, principalmente as religiosas,

passaram a assumir cada vez mais a educação no Brasil, atuando de modo mais intenso a

Sociedade Pestalozzi16

, a partir da década de 1930, por Helena Antipoff17

, a Associação de

Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), a partir da década de 1950 e os centros de

reabilitação no início dos anos de 1960 (FERREIRA, 1995).

De acordo com Ferreira (1995, p. 32), “a evolução da Educação Especial

brasileira é bastante dependente dessas organizações e outras entidades filantrópicas da

sociedade civil”, que, de certo modo, “retiram” do Estado, ou, apenas aceitam o que de

alguma maneira ele negou, a responsabilidade da educação especial. Nesse ponto, Bueno

(1993) tece sérias críticas ao assistencialismo demandado a essa área, caracterizando a

Educação Especial como caridade e não como direito do cidadão, impedindo assim, que suas

necessidades se incorporassem aos direitos básicos de educação.

Outro ponto que Bueno (1993) comenta, é o fato de o aumento das

instituições privadas demandarem um critério de diferenciação na qualidade da Educação

15

O Estado que se faz referência é o Estado de São Paulo. 16

Em 1926 é fundado o Instituto Pestalozzi – instituição especializada no atendimento às pessoas com

deficiência mental e em 1945 é criado o primeiro atendimento educacional especializado às pessoas com

superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Antipoff. 17

Helena Antipoff fundou a Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais em 1932, a qual foi rapidamente,

transformada em Sociedade Pestalozzi do Brasil, sob o lema “Proteger a Infância Anormal é preservar a

sociedade e a raça das influências nocivas da anormalidade mental”. Em 1935, cria o Instituto Pestalozzi de

Belo Horizonte, que abrigaria, como externato, crianças que não aprendiam nas escolas regulares (MOYSÉS,

2008, p. 20).

Page 49: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

46

Especial, ou seja, uma distinção nos atendimentos para a população de baixa renda,

predominando um caráter assistencialista e caridoso, contrapondo, com o atendimento da

população com um poder aquisitivo maior, para a qual é tratado como garantia de direitos,

caracterizando assim, a privatização da saúde e da educação.

Na década de 1970, conforme Amaral (2004, p. 39), há um empenho na

“criação dos Serviços de Educação Especial, nas Secretarias Estaduais de Educação, de

maneira a refletir o reconhecimento oficial da necessidade de um atendimento diferenciado às

crianças deficientes”. Com isso, inicia-se um movimento para a inserção de alunos com

deficiência nas classes regulares, com o princípio de preparação desses alunos para que

atingissem o “nível compatível com as exigências do ensino regular” (SANTOS, 2006, p. 12).

Essa inserção pauta-se mais nas condições específicas do aluno, do que nas

condições escolares propriamente, uma vez que, os processos de ensino continuavam

segregando, deixando de lado o princípio de promover uma escolarização compatível com o

que se exigia nas classes regulares. Dessa forma, houve uma pequena inserção de alunos

deficientes nas classes regulares, sendo a maioria provinda de uma classe média alta, “que

puderam receber atendimento de reabilitação e apoio pedagógico, em geral, oferecidos pela

rede de saúde e de educação privadas” (SANTOS, 2006, p. 12-13).

Jannuzzi (2004) comenta essa situação:

De um lado a continuação da separação e, mais que isso, a patenteação

pungente da diferença. De outro lado, essa própria escola especial tornou-se

uma alternativa que de alguma maneira viabilizou, na época, uma

participação mais efetiva dos deficientes na vida cotidiana, já que dispensava

um ensino mais particularizado e uma atenção mais constante sobre o

desenvolvimento dessas crianças (p. 66).

Com a ampliação de oportunidades educacionais aos deficientes, que até

então não seriam absorvidos pela rede de ensino, embora, fosse uma absorção precária e

segregacionista, outra população se incorpora à essa rede denotando mais um elemento no

processo de exclusão e seletividade social nas escolas públicas brasileiras – os portadores de

déficits de aprendizagem (CARNEIRO, 2007).

Essa incorporação, por sua vez, apenas sustenta o parâmetro de

produtividade e homogeneidade dos indivíduos, visto que, de acordo com Carneiro (2007, p.

15) “aqueles alunos que fracassavam na escola eram vistos como portadores de algum tipo de

problema que não competia mais à escola comum resolver”, ou seja, o fracasso escolar

justificou-se também como medida de deficiência, reiterando a segregação de alunos

Page 50: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

47

classificados na escola. Assim, não aprende, logo, possui deficiência e precisa ser integrado

em atendimentos diferenciados.

As classes especiais, as salas de recurso, e as instituições especiais são

espaços consolidados de responsabilização pela escolarização dos deficientes, tornando-se

assim, hegemônicos ao princípio de adaptar o comportamento dos alunos aos padrões de

normalidade, visando a produção e a homogeneidade dos mesmos.

Tais perspectivas como aponta, Amaral (2004) podem ser observadas em

“práticas institucionais classificatórias de alunos e professores, na seriação, na aprovação ou

reprovação do aluno, entre outras, revelando-se superficial pela pouca preocupação em

garantir o sucesso de seus alunos” (p. 30), priorizando, apenas, a manutenção das noções de

ajustamento, da visão reducionista e psicologizante da deficiência..

Existe um padrão que classifica os indivíduos ao aproximá-los a este ideal na

sociedade, sendo que na escola o referencial classificatório é o do bom

aluno. Dessa maneira, a criança deficiente não é capaz de produzir da mesma

forma que a não deficiente, porque não possui as mesmas características que

a habilitariam para tanto, ou seja, é qualitativamente diferente (AMARAL,

2004, p. 41).

Todavia, o entendimento para a constituição da Educação Especial, assim

como, de seus locais de práxis, como aponta Pereira et. al (1980) era que esta deveria

proporcionar à pessoa com deficiência “condições de vida tão semelhantes quanto a de

pessoas não deficientes, seja na escola, no trabalho ou no contexto social geral” (p. 16). Para

tal feito, defendia-se a normalização das condições de vida e não do deficiente, uma vez que,

o fracasso em integrar o deficiente em qualquer instância social é atribuído à própria

deficiência e não ao processo educacional, que ao invés de favorecer a integração dos

mesmos, segrega-os.

Essa segregação, contudo, marca fortemente a história da Educação Especial

Brasileira como um sistema paralelo e discriminatório de ensino organizado em classes

especiais, dentro dos grandes centros de formação social do indivíduo – a escola.

Para tal constituição e melhor entendimento de um panorama que mostre

essa relação “indivíduo – deficiência”, logo, designação para locais específicos (classes

especiais, salas de recurso, instituições especiais), faz-se necessário analisar como se

legitimaram as práticas de avaliação e encaminhamento de pessoas com deficiência para estes

locais.

Page 51: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

48

4.3 Processos Avaliativos: O “Ser Especial” está no papel

Para discorrer sobre processos avaliativos educacionais e, assim, sobre

diferenças individuais que os movem para uma massificação coletiva, faz-se necessário

entendermos, quais formas e meios que nos permitem separar os alunos em normais e não

normais, inteligentes e não inteligentes e, aptos e não aptos. Segundo Apple (1982), essa

classificação atribui ao outro, valores e categorias “históricas e ideologicamente

condicionadas”, ou seja, moldadas para que se aceite uma determinada classificação.

Essa classificação, de acordo com SZASZ (1980, p. 57), é antes de tudo um

ato político e social, e, para ser aceita, é necessária a presença de “uma medida de poder sobre

os outros, seja ele intelectual (científico) ou político (coercitivo)”. Essa medida de poder, no

entanto, dita, impõe e classifica as pessoas, através de procedimentos homogeneizadores que

desprezam as individualidades e as tipificam a partir de características rotuladoras.

Estas características, por sua vez, criam no sujeito expectativas, ajudam a

realizá-las e tem grande poder de generalização e de absorção, uma vez que, “a própria

estrutura e a ideologia mesma do sistema são geradas por uma confirmação da categoria

básica e na realidade devem fazê-la, porque a própria existência da categoria básica oferece ao

sistema a sua „raison d‟être‟” (SCHNEIDER, 1974, p. 90).

Essa categoria básica, por sua vez, no âmbito educacional, se embasa em

procedimentos avaliativos de classificação e rotulação, aos quais designa uma importância

particular, pois “definem ou justificam o que as escolas e outras instituições farão com os

indivíduos” (FERREIRA, 1995, p. 41). Todavia, essa justificativa não diminui o peso do

rótulo que a criança carregará, e segundo Apple (1982 p. 41) “a linguagem classificatória

aplicada pela burocracia escolar „não cumpre uma função psicológica ou científica tanto

quanto gostariam de supor‟. Acontece, pois, um „ato moral e político e não um neutro ato de

ajuda”.

Em alguns casos, inclusive, ainda de acordo com Ferreira (1995), as tais

características esperadas, que seriam o protótipo da padronização do aluno ideal, atingem o

“status de sintomas, ainda que na ausência do rótulo formal” (p. 43), desenvolvendo assim, a

tendência de se:

Generalizar a partir da percepção de um traço: falta de atenção é igual a

deficiência mental;

Page 52: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

49

Buscar os “sintomas” que ajudam a contemplar o quadro: aluno

desatento, desmotivado, deve ter problemas de memória, percepção visual,

raciocínio abstrato.

Desse modo, o diagnóstico de “deficiente”, torna-se cada vez mais funcional

em uma sociedade e, principalmente, em um sistema educacional que privilegia a

homogeneização, excluindo aqueles que não se adaptam às normas sociais impostas e

enquadrando aqueles que julgam “ainda ter alguma possibilidade de restauração”.

O enquadramento dentro dos parâmetros de inteligência prediz os limites e

as possibilidades de atuação da criança dita deficiente, buscando, conforme Caron (2000) o

normal (que tem a ver com o sujeito virtual, psicológico e construído na base da estatística18

),

deixando de lado as singularidades (que tem a ver com sujeitos históricos19

), taxando-as como

esquisitices, que é um dos empecilhos para as “possibilidades de transformação e de

individuação da pessoa diagnosticada com deficiência intelectual” (CABRAL, 2011, p. 4).

É clara a falta de sensibilidade do diagnóstico que se faz diante da realidade

social dos diagnosticados; é clara também a reduzida relevância dos dados

obtidos para a programação educacional. Não há um conjunto determinado

de aptidões que constitua “modelo ou requisito prévio de sobrevivência e

adaptabilidade em todos os meios sociais (RÖPKE, 1981, p. 11).

Para Cabral (2011), o diagnóstico de deficiência intelectual ocorre em duas

situações: quando aparece como sintoma de uma síndrome específica e por isso estereotipa

todas as pessoas que a possui, como se tivessem o mesmo padrão de intelectualidade e

comportamento ou quando aparece como diagnóstico sem a associação a síndromes, ficando a

mercê do meio social no qual o indivíduo está inserido, definindo assim, a deficiência

intelectual “em comparação ao padrão intelectual médio das outras crianças do mesmo meio

social” (p. 4).

Esse processo no âmbito da Educação Especial surge com o ingresso na

escola e o diagnóstico se demarca pela dificuldade de adaptação da criança “deficiente” ao

padrão de inteligência vigente na mesma, uma vez que, como coloca Cabral (2011), a

escolarização já é tida anteriormente como dificultosa para a criança com a marca fenotípica

18

Sujeitos construídos na base da estatística são sujeitos que se tornam apenas mais um número na sociedade.

Transitam do individual para o coletivo desprovidos de suas singularidades. 19

A perspectiva de sujeitos históricos está relacionada aos sujeitos biopsicossocial. Essa perspectiva proporciona

uma visão integral do ser que compreende as dimensões físicas, psicológica e social.

Page 53: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

50

de uma síndrome, daí, a não adaptação aos conteúdos escolares rigidamente transmitidos,

somente reforça o seu diagnóstico excludente.

Diagnósticos estes que para Nunes e Ferreira (1994) são constituídos (e

mais utilizados) a partir de três perspectivas com formas, concepções e práticas totalmente

diferenciadas: o modelo médico, o modelo psicopedagógico e o modelo social.

a) Modelo Médico

No modelo médico, o médico ocupa o papel central e os outros profissionais

apenas confirmam o diagnóstico já formulado pelo primeiro, que procura prescrever

intervenções que “cure” a deficiência, uma vez que, examinam a sintomatologia da mesma,

relacionando a causa física com os comportamentos do indivíduo. Contudo, conforme

indicam os estudos sobre deficiência mental descobriu-se que seus fatores “não se baseavam

apenas nos critérios orgânicos, mas sim numa multiplicidade de fatores” (ANACHE, 2005, p.

3). A partir do momento em que foi sendo introduzido o conceito “científico” de deficiência

mental, que se baseava nessa multiplicidade os diagnósticos começaram a ser realizados

através da psicometria.

b) Modelo Psicopedagógico

O modelo psicopedagógico abarcou uma influência tanto no processo de

diagnóstico quanto de intervenções educacionais, sendo estas direcionadas a partir de

enfoques diferentes da psicologia.

Em relação ao diagnóstico, os autores sustentam que:

(...) pode ser direcionado para detectar o quociente de inteligência, nível de

maturidade psicomotora, estágio do desenvolvimento cognitivo, nível do

pensamento conceitual, repertório comportamental, ou ainda, investigar as

funções psicológicas superiores; memória, inteligência, atenção,

discriminação auditiva e visual etc., ou ainda descrever os comportamentos

observáveis, de acordo com os aportes teóricos adotados (NUNES e

FERREIRA, 1994, p. 56).

Nas questões educacionais, o diagnóstico psicopedagógico é visto para Pain

(1971) e Fernándes (1990) como um exame clínico, realizado a partir de uma queixa que

esteja afetando a aprendizagem do aluno. Para isso, o profissional em questão, deve

identificar e enquadrar o sintoma em determinada categoria psicológica. Em contrapartida,

Souza (1995) de uma concepção psicanalítica, estabelece um diagnóstico a partir de

investigações aos fatores orgânicos, maturativos – evolutivos emocionais e socioculturais.

Page 54: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

51

Para Bassedas et. al. (1996) o processo de análise da situação do aluno com

dificuldades no ambiente da escola é o embasamento para o diagnóstico psicológico, que tem

como função orientar e instrumentalizar os professores para trabalhar os conflitos que estão

ocorrendo.

Já para Tzuriel (1992) o processo de envolvimento ativo e de interação com

o outro mais experiente, através da exploração do potencial do sujeito, é o objetivo principal

da avaliação. Esse processo denomina-se aprendizagem mediada. Para Fonseca (1995) que,

assim como Tzuriel (1992), também é um estudioso da abordagem de Feuerstein estabelece

um diagnóstico com a finalidade de apreender as características do potencial de aprendizagem

das crianças, permitindo assim, “refletir sobre o inventário das aquisições e capacidades

adaptativas, flexibilidade e a plasticidade das competências das crianças” (p. 11)

Assim, nesse modelo, de acordo com Anache (2005) o foco está em

proporcionar um ambiente interativo para que o processo de ensino-aprendizagem aconteça

(Princípio de Modificabilidade), uma vez que, o papel do psicólogo é praticamente o mesmo

do professor.

c) Modelo Social

No modelo social questiona-se o diagnóstico para a finalidade

classificatória, devido à legitimação de condutas desviantes. Seu uso se justifica apenas, para

fins educacionais, os quais contribuem para o planejamento e implementação de programas

eficazes.

Desse modo, a partir de toda essa estrutura diagnóstica, pode-se dizer que a

Psicologia (psicométrica) exerce uma participação efetiva na avaliação, diagnóstico e

definição de alunos encaminhados para o ensino especial. Contudo, da forma que a Educação

Especial está configurada, esta apoia muito mais os mecanismos de exclusão do que os

processos de inclusão, uma vez que, a inclusão é amplamente sustentada pelos processos de

avaliação e encaminhamentos classificatórios, que visam a homogeneização do sistema

escolar.

Esta homogeneização dá ênfase aos resultados obtidos nos testes de

inteligência, que buscam uma causa de natureza endógena para constatar ou justificar a

deficiência do aluno. Constatando essa deficiência, os questionamentos pertinentes à estrutura

social a qual está inserido são desviados, ignorando sua cultura e individualidade através de

respostas padronizadas. Por outro lado, Cabral (2011) aponta que:

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52

Apesar das dificuldades em definir o diagnóstico de deficiência intelectual,

este se torna necessário para compreender as diferenças na adaptação social

que as pessoas com deficiência intelectual possuem e para melhor atender as

necessidades de cada indivíduo. Diagnosticar a pessoa com deficiência

intelectual não é o que promove o surgimento do preconceito, desde que o

diagnóstico seja elaborado de forma a minimizar a massificação e a valorizar

o sujeito. Por outro lado, a ausência de diagnósticos, concordando com o

excerto acima, não conduziria a uma identificação com o sujeito, mas sim a

interpretações arbitrárias pautadas em atitudes preconceituosas, já que os

agrupamentos dos sujeitos por características similares é inerente aos seres

humanos (p. 4-5).

Dessa maneira, o diagnóstico é parte constitutiva de todo um percurso

educacional fortemente marcado pela Psicologia, que por sua vez, associada à área médica

utiliza-o para “fazer ligações sobre a etiologia, o prognóstico e a escolha do tratamento”

(FERREIRA, 1995, p. 50), descaracterizando um papel que não cabe ao ensino. O processo de

“procurar causas, fazer previsões e curar” (p. 50) não é da escola, mas a Psicologia diferencial

ainda insiste em contribuir fortemente para a sistematização do Ensino Especial.

4.3.1 A psicologia diferencial e os testes de inteligência

A Psicologia diferencial e os testes de inteligência exerceram um papel

central nas práticas escolares, calcadas nas noções de aptidão, esforço e êxito pessoal,

embuídas de uma ideologia de práticas sociais, que operam dentro de uma sociedade,

caracterizada por relações de dominação, que, também são reproduzidas nos processos

educativos.

Sendo a escola a maior representante desses processos, ela também está

incluída nesse rol de políticas dominantes, as quais afirmam a ideologia burguesa da maioria

dominante,“sendo todos livres e iguais no direito, o destino do ser humano não depende mais

da ordem estabelecida, mas das capacidades individuais” (FERREIRA, 1995, p. 24).

Este discurso concebe a avaliação como prática social que, segundo

Zanardini (2010), está ligada a um projeto social que caracteriza a essência do seu processo

avaliativo, produzindo e reproduzindo a existência social a partir da classificação das pessoas

para um desempenho ótimo, frente às atribuições sociais a elas requeridas.

Esta produção e reprodução, por sua vez, suscita um ponto médio, o qual

passa a ser a medida para caracterizar as pessoas “para mais” ou “para menos”, detectando de

acordo com Ferreira (1995, p. 16), os “normais”, os “subnormais” (retardo) e os “acima da

normalidade” (superdotados). Essa caracterização contudo, acaba despertando o interesse e a

exigência pelos estudos das desigualdades naturais e consequentemente sobre as diferenças

Page 56: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

53

inatas.

Nesse ponto, segundo Ferreira (1995), é que aparece a Psicologia diferencial

e seus testes de inteligência, com o objetivo de “prover conceitos e instrumentos „científicos‟

de medida, que garantam a adaptação dos indivíduos à nova ordem social” (p. 24), visando a

seleção, a orientação e a adequação dos mesmos a partir do que fora instituído.

A psicologia diferencial surge no final do século XIX, nos países industriais

capitalistas, principalmente europeus. Com ela, o campo da psicologia muda

a ênfase, passando do estudo de problemas mentais extremos e de leis gerais

do comportamento humano para leis sobre as diferenças individuais. Da

mensuração das sensações muda-se para a das faculdades mentais através

dos testes de inteligência, de aptidão e de personalidade (FERREIRA, 1995,

p. 24).

Embora, o discurso psicológico já estivesse nas escolas na formulação de

seu planejamento e nas orientações do ambiente escolar, a sua entrada no processo educativo

no Brasil acompanhou todo o processo de ampliação da escola pública e as exigências do

modelo econômico em questão.

Ferreira (1995), explana muito bem esse processo, começando pela Primeira

República, quando predominava o analfabetismo e a mão-de-obra não-qualificada, e a

psicologia até então, não possuia um espaço tão forte no ensino. De 1930 a 1960, com o

fortalecimento urbano-industrial e a consequente necessidade de qualificação para o trabalho,

as práticas de diagnóstico e a seleção por meio de testes começaram a se intensificar, e de lá

para cá, a psicologia se centrou fortemente nas escolas, “reorientando” o sistema educacional,

a partir da expansão da rede pública de ensino primário, a qual passou a conviver com os

testes de medida de inteligência e de interesses.

A preocupação expressa nos testes de inteligência é encontrar um

instrumento de predição, ou seja, quanto mais os prognósticos contidos nos

testes são confirmados mais comprovam a realidade substancial que

“medem”, pois somente aptidões desiguais permitem explicar a

diferenciação e a hierarquização dos indivíduos e das classes sociais. A

recorrência à noção de aptidão permite justificar as desigualdades de acesso

ao ensino e, conseqüentemente, as desigualdades sociais, pois na escola é

oferecida a todos a oportunidade de desenvolver e provar suas aptidões. Eis

aí a ontologia dos testes de medição das habilidades intelectuais

(ZANARDINI, 2010, p. 3).

A criação e a implantação dos testes de medida de inteligência, não

inauguraram a avaliação psicológica, pois sua história mostra um percurso de muito tempo.

Contudo, foi a partir do século XIX que se desenvolveram os principais processos para a

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54

concretização dos testes atuais, uma vez que, até esse período, os índices de desenvolvimento

mental incluiam “medidas da cabeça, capacidade vital, o „sexto sentido‟ do observador e

medidas de diferenças individuais, como tempo de reação, movimento dos olhos e

discriminação sensorial” (FERREIRA, 1995, p. 26).

Foi no campo da Psicologia da Educação (psicometria), conforme Zanardini

(2010), que foram organizadas de maneira mais sistemática as primeiras avaliações através de

testes, os quais eram realizados em laboratórios de Psicologia Experimental e tiveram Wundt

(1832-1920 – o pai da Psicologia Experimental) como o primeiro a trabalhar com as

diferenças individuais.

Neste aspecto há um destaque também para Francis Galton (1822-1911),

que é o idealizador dos testes de inteligência que objetivava a seleção dos mais capazes para o

aprimoramento da espécie humana (MOYSÉS; COLLARES, 1997). Considerado um dos

criadores do darwinismo social20

e de postura explicitamente eugenista, criou um método para

relacionar variáveis “índice de correlação21

” e foi considerado um dos marcos da psicometria,

por ter realizado “tantos testes reveladores das diferenças dos indivíduos como métodos

estatísticos para analisar dados que os testes lhe proporcionavam” (Baquero, apud

ZANARDINI, 2010, p.10).

No ínicio do século XX, são criadas as primeiras escalas padronizadas de

desempenho intelectual infantil e a primeira escala de avaliação individual de inteligência é

criada em Paris, em 1905, por Binet e Simon que introduziram o conceito de “idade mental”

(que correspondia ao nível mais alto que a criança podia alcançar no teste, em comparação

com crianças junto às quais se padronizou o instrumento) (FERREIRA, 1995) em

contrapartida à idade cronológica, determinando assim, o “quociente intelectual” (QI).

Este quociente (QI), por sua vez, caso haja correspondência entre as idades

mental e cronológica é igual a 100 em sua fórmula de cálculo, não havendo, contudo, um

consenso, em relação ao ponto exato onde se indica a não normalidade (Ferreira, 1995).

Segundo ” Baquero (1979, p. 78 apud ZANARDINI, 2010), Alfred Binet

(1857-1911):

Foi ele quem introduziu nos testes já usados, elementos que avaliassem as

funções psicológicas complexas e superiores. Por sua vez, relacionou os

20

Segundo Moysés e Collares, (1997, p. 6) o social darwinismo “representa uma das primeiras contribuições da

ciência moderna para a racionalização da desigualdade – e mesmo da crueldade – oferecendo-lhe uma aparência

racional, justa, decente”. 21

Este índice permite estudar as relações ou associações, mostrando o grau de relacionamentos entre as

variáveis, fornecendo um número e indicando como as variáveis oscilam conjuntamente.

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55

resultados dos testes com a idade, surgindo assim a primeira escala de

inteligência. [...] A escala de Binet foi revisada pelo norte-americano

Terman na Universidade Stanford, em 1916. Generalizou-se assim o uso do

Quociente Intelectual, que não é outra coisa senão o quociente entre a Idade

Mental (I.M.) e a Idade Cronológica (I.C.). Sua fórmula será QI = I.M./I.C.

De 1910 a 1920, Ferreira (1995) aponta que há um grande aumento no uso

dos testes, principalmente nos Estados Unidos, onde “Goddard utiliza e adapta as escalas de

Binet-Simon e Terman oficializa o QI”, ambos, com uma “visão de inteligência imutável e

herdada com a redução dos problemas sociais à reduzida dotação intelectual” (p. 27).

Em 1917, ainda nos Estados Unidos, as “provas coletivas de inteligência”

(um novo teste), começam a ser realizadas, com o objetivo de classificar de maneira mais

rápida os soldados para o combate. Antes mesmo da Primeira Guerra Mundial, alguns

psicólogos, como Spearman (1904-1924) vêem a necessidade de testes de “aptidões

especiais” para complementar os testes de inteligência global (ZANARDINI, 2010).

No Brasil, os testes e as suas classificações chegaram como subsídio, na

busca de explicações para o atraso do país, no qual, as crianças (no sentido etário e assim,

com uma maior probabilidade de regeneração) e o homem miscigenado (que poderia causar

danos à sociedade, devido a sua miscelânea) tornaram-se foco dos testes psicométricos, para

uma possível melhora da educação no país. Melhora esta, que através dos testes deveria

explicar “racionalmente” as defasagens escolares e determinar níveis de anormalidade.

Freitas (2002) discorre sobre isso:

A psicometria e a pedagogia experimental, no Brasil desdobravam-se das

ações laboratoriais produzidas sob a cura da antropologia que, de certa

forma, era também interpretada como uma ciência capaz de organizar a ação

da medicina enquanto “ciência da sociedade”. O encontro dessas ciências

com a psicologia experimental tornou a criança e o homem miscigenado

objetos de práticas laboratoriais destinadas a aferir possibilidades e,

principalmente, impossibilidades das pessoas diante dos imprevistos da

civilização (p. 349).

Na década de 20 a obra de Lourenço Filho, é considerada um dos primeiros

estudos e aplicação da teoria dos testes, no Brasil. Após 1925 este reativa o laboratório de

Psicologia Experimental da Escola normal de São Paulo, com o objetivo de explicar os fatos

sociais e individuais pela via da psicologia, bem como, cria o testes ABC, para verificar a

maturidade da criança no processo de leitura e escrita, no início do curso primário (atualmente

ensino fundamental).

Já entre 1920 e 1930 o movimento de institucionalização da Psicologia

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56

Objetiva, ganhou maior densidade teórica e pública, impulsionando a psicologia aplicada à

educação, a uma inserção bem expressiva na escola, devido também ao fortalecimento do

“movimento dos testes” (ZANARDINI, 2010).

Desse modo, ainda segundo Zanardini (2010) a escola transformou-se no

campo principal de aplicação dos testes, “onde se dava a mensura e a organização das classes

escolares baseando-se na „maturidade‟ e capacidade obtidas e diagnosticadas pelo rendimento

dos escolares” (p. 8). Tal campo, no entanto, assim como os outros, tinha em vista a

otimização e a organização racional do trabalho para a modernização e industrialização da

sociedade brasileira, que padecia de acordo com Zanardini (2010), da “reversão das

disfunções” da estrutura social de classes.

Assim, dada a urgência dos problemas a serem “resolvidos”, os testes foram

“a prática” ainda em fase de experimentação, que conforme Ferreira (1995), deixararm de

lado as suas questões teóricas fundamentais, subordinando-se às necessidades práticas e por

sua vez, constantando-se aos poucos as suas limitações, em relação ao alcance da

generalidade do nível intelectual geral do indivíduo.

Ainda sobre os testes:

Nem todas as funções importantes estavam representadas neles. Na

realidade, quase todos os testes de inteligência eram, fundamentalmente,

medidas de habilidade verbal e, em menor grau, de habilidade para lidar com

relações numéricas, assim como com outras relações abstratas e simbólicas.

Aos poucos, os psicólogos chegaram a reconhecer que o termo “teste de

inteligência” era inadequado, pois tais testes mediam apenas alguns aspectos

da inteligência (ANASTASI, 1977 apud ZANARDINI, 2010, p.14).

Além desta limitação, outras relacionadas à validade, a fidedignidade, a

ideologia em questão, à formulação e uso dos testes, o fator da imutabilidade do QI, do

determinismo hereditário e do poder preditivo dos mesmos são postos em “cheque”. Bem

como, é comprovada a influência de variáveis ambientais nos resultados; que o rendimento

acadêmico está associado a uma série de fatores pessoais e situacionais, extra QI e a

existência de um viés étnico-social na construção, padronização e aplicação dos testes

(FERREIRA, 1995).

Neste ponto, ressaltam-se exemplos de discriminação, ocorridos

principalmente nos Estados Unidos, em relação ao diagnóstico das minorias latino-

americanas, negras e das populações pobres, para as quais era utilizado “um rótulo médico

para descrever diferenças culturais”.

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57

Para os diagnósticos sobre essas diferenças, Ferreira (1995) aponta a

utilização dos testes psicométricos como “instrumentos que, em suma, não mediriam o que

dizem medir, rotulariam de forma discriminatória e justificariam decisões quase irreversíveis”

(p. 28).

Patto (1997) também tece críticas em relação ao uso dos testes:

[...] Diante da crítica da coisificação do sujeito operada pelos testes, alega-se

que o problema não está neles, mas na imperícia dos que os aplicam e

redigem laudos; diante da proposta de substituí-los por outras formas de os

psicólogos estarem com pessoas de modo a conhecê-las não como objetos,

mas como sujeitos sociais e individuais, defende-se a sua

imprescindibilidade com justificativas como a necessidade de atender a

solicitações de diagnósticos rápidos; diante da crítica que os desvela como

instrumentos que justificam cientificamente a desigualdade e a exclusão

social, menciona-se o uso dos testes para incluir, como nos raros casos em

que, a partir de resultados de QI, crianças foram retiradas dos guetos das

classes especiais e reinseridas nas classes comuns. (Note-se que, neste

argumento, a superação do papel excludente dos testes é só aparente: na

verdade, continua-se a afirmar que, em função dos resultados neles obtidos é

legítimo classificar crianças para fins de inclusão ou de exclusão em espaços

escolares). Movendo-se nos limites do senso comum ou do pensamento

cotidiano, esses raciocínios tomam por verdadeiro o que é útil e não saem do

lugar (p. 74).

Antes de Patto (1997), vários outros autores, reconheciam e apontavam

críticas aos testes psicométricos, principalmente no processo de diagnóstico da deficiência

mental, no âmbito educacional. Nesse âmbito era assinalado o fato do resultado dos testes

pouco informarem sobre o aluno, além de, não procederem nenhuma função para o professor.

Os mesmos autores também apontavam a desconsideração dos aspectos culturais desses

grupos e o fator do processo diagnóstico estar mais pautado nos valores sociais do que nos

científicos resultando assim, em encaminhamentos inadequados.

Os piagetianos, também desenvolveram críticas sobre o conceito de

inteligência contido nos testes de QI, segundo os quais apenas “medem produtos de processos

mentais, ignorando o processo de produção da resposta, mais importante na determinação do

estágio de desenvolvimento intelectual” (PATTO, 1997, p. 69). Ou seja, valorizam o resultado

alcançado independente do processo percorrido.

Assim, muitas evidências se acumulam em relação aos mecanismos de

oficialização da “normalidade ou anormalidade” nas escolas, por avaliações, diagnósticos

(testes psicométricos) e encaminhamentos, todos estes, “engessados” no padrão homogêneo

ainda predominante. Tal padrão, no entanto, é conjecturado com outra assessoria dos

Page 61: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

58

psicólogos – os laudos – os quais prescrevem e legitimam a patologização educacional,

segundo Patto (1997, p. 71), através de “forte acento moralista, além de reducionista”, para

corrigir ou estereotipar, aquele que não age conforme o esperado.

4.3.2 A resposta dos laudos

O laudo psicológico, de acordo com Salazar (1996), é um “produto derivado

de ações que se constituem das relações formalizadas entre o psicólogo e a escola” (p. 12), no

qual, registra-se a suposta queixa da criança, para que este “a dirija” para o lugar mais

adequado. Essa direção, no entanto, é na maioria das vezes conduzida pelo psicólogo que na

maioria dos casos não está inserido no ambiente escolar, ou seja, traz consigo uma visão de

fora e fortemente (em grande parte) patologizante, o que não foge muito da sua formação

essencialmente clínica.

A atuação de um profissional da saúde no espaço escolar inevitavelmente

acarreta a patologização desse espaço. Sua formação é calcada

exclusivamente no modelo clínico, preferencialmente individual, biológico...

De modo geral, esses profissionais, assim como o médico, tendem a utilizar

o modelo clinico indiscriminadamente, frente a qualquer problema, inclusive

frente às questões sociais. Tornam-se, assim, eficientes (porque

inconscientes) agentes de um processo de ocultação dos determinantes

sociais dos conflitos; tendem a biologizar, a patologizar qualquer problema

que devam enfrentar. Tentam encontrar a doença, o distúrbio, o desvio que

explique e justifique o problema. 'Doença' preferencialmente biológica, mas

sempre localizada no indivíduo, isentando de responsabilidades o sistema

educacional (COLLARES; MOYSÉS, 1992, p. 27).

O processo de diagnóstico tem os testes como os principais instrumentos de

avaliação nos laudos, o que significa que os seus resultados sãos os focos propulsores para o

encaminhamento e atestação àqueles que não se enquadram aos padrões esperados

socialmente impostos e educativamente cobrados. Sass (1994) aponta esse movimento de

diagnosticar e/ou oferecer tratamento, como raiz de nossa “sociedade laudatória”, a qual

busca um ideal homogêneo, através da legitimação dos diagnósticos, aparatos técnicos e dos

laudos.

Os laudos, por sua vez, prescrevem teoricamente uma resposta para “saciar”

o que já é ideologicamente construído, e, portanto, afirmar a anormalidade de outrem em

detrimento da normalidade posta, na qual provavelmente se inclua o avaliador (psicólogo) e

toda a sua construção academicista.

Page 62: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

59

Ainda segundo Sass (1994), em relação à importância dos psicólogos

responderem criticamente a “essa sociedade”, o autor, impõe o fato de “evitar a redução da

complexa dinâmica social a fenômenos psicológicos implica superar a organização atual da

própria sociedade” (p. 16). Em outras palavras, o “diagnosticar, encaminhar e avaliar” no

processo de ensino vai muito além de uma simples preocupação com o indivíduo, mas abarca

uma reflexão muito maior de um ideal social, que busca um entendimento por meio da

elaboração de laudos e, deste modo, uma prática que evite a estereotipia daqueles que não

agem conforme o esperado (DIAS, 2008).

Assim, há uma sociedade que, através dos laudos, busca um enquadre para

explicar o indivíduo e o que se passa com ele. Todavia, esse enquadre é buscado no sentido

contrário, ou seja, pelo “erro”, pela “deficiência”, e não pelo que o indivíduo realmente sabe

fazer. Nesse sentido, como aponta Collares e Moysés (1997) é considerado aquilo que falta (e

que é imaginariamente “melhor”), desconsiderando o que de efetivo se tem, e, portanto,

corroborando com a discriminação e com o estigma.

Ainda conforme as mesmas autoras:

As críticas feitas referem-se a que o psicólogo, ao realizar suas avaliações e

produzir um laudo psicológico em que deverá atestar se a criança "está apta

ou não" para ser encaminhada para a classe especial, acaba por comprometer

esse trabalho ao aceitar, reforçar e endossar de forma acrítica, a posição da

escola que localiza no aluno o problema ou a dificuldade que ele apresenta

para aprender. Ao fazer isso, o psicólogo muitas vezes não conhece os

problemas intra e extra-escolares que se tem na vida do aluno e nos

bastidores das classes especiais. Outras críticas apontadas se referem ao fato

de o psicólogo utilizar instrumentos e técnicas tradicionais da psicologia

pouco adequados à realidade da criança. Assim, esses psicólogos muitas

vezes se preocupam apenas em avaliar, classificar, rotular e por fim

apresentar o veredicto sob a forma de um laudo. Desse modo, o profissional

objetiva a crença da "criança doente" - já cristalizada antes na escola - em

detrimento das suas reais potencialidades, cronificando a patologização

numa pseudodeficiência mental (COLLARES; MOYSÉS, 1997, p. 24).

Desse modo, o psicólogo acaba contribuindo para a segregação e a

discriminação de crianças - a pretexto de problemas ou dificuldades de aprendizagem -

através da realização de laudos e o seu consequente encaminhamento. Collares e Moysés

(1997) também apontam outro fator que contribui para esse processo de patologização do

aluno, que é o fato da transformação dos professores “responsáveis por analisar e resolver os

problemas educacionais” em “triadores de alunos” para encaminhá-los aos especialistas da

saúde.

Page 63: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

60

Essa transformação transfere os deveres desses professores para um

profissional extraescola, o qual diagnostica o aluno a partir dele mesmo, isto é, sem levar em

conta toda a sua construção sociocultural e educacional, legitimando os problemas escolares

sobre a base de aspectos psicológicos e não pedagógicos.

Esse ponto expõe o fato do deslocamento do eixo de preocupações, do

coletivo para o particular, culpabilizando o aluno pelo insucesso escolar e isentando a escola

de suas responsabilidades.

Dessa maneira, a escola se exime de suas reais funções e se encarrega de

“produzir” meios para transferir o fracasso institucional para o “fracasso da própria criança”

os quais denominam como “‟distúrbios‟, „disfunção‟, „problemas‟, „dificuldades‟, „carência‟,

„desnutrição‟, „família desestruturada‟, entre outras, que se situam num âmbito bem mais

próximo da doença e de razões sociais do que de situações escolares reais” (SALAZAR,

1996, p. 18) as quais se afirmam e se concretizam por meio dos laudos.

Em relação aos laudos Salazar (1996) expõe:

Entendemos que o modo como vêm sendo elaborados esses documentos

hoje, é decorrente em grande parte da própria matriz teórica em que os

laudos elaborados pelos psicólogos estão assentados. Tal forma de proceder

traz em si condições limitadas e limitadoras próprias de um determinado

momento do pensamento psicológico, em que se acreditava que o

desenvolvimento do ser humano decorria mais da influência das

características biológicas que ele apresentava do que das interações sociais

que ele mantinha. Esta concepção, fortalecida pelos "sistemas teóricos de

inspiração biológica e fisicalista que, de uma forma ou de outra, imprimiram

à psicologia o rumo da ciência positivista" (PATTO, 1984, p. 90), ainda se

mantém forte e viva em nosso meio, associada a uma postura liberal na qual

se fundou o sistema educacional do nosso país e que ainda persiste na escola.

Tal concepção não permite que esses laudos ofereçam alternativas e

aberturas suficientes sobre a forma de coletar os seus dados e de emitir as

suas informações, de modo que possam ser mais condizentes com a

realidade e com as condições de vida nas quais a criança está inserida

(SALAZAR, 1996, p. 20).

Tais concepções dão sustentação aos laudos psicológicos, contribuindo

assim na influência da forma e no modo como são compostos, bem como, na justificativa da

“produção do fracasso escolar” e consequentemente na exclusão dessas crianças da escola.

Exclusão que Machado (1994) demonstra em sua pesquisa com classes especiais para

deficiente mental, a nocividade e as repercussões gravíssimas que os resultados de uma

avaliação, contida em um laudo provocam na vida escolar de uma criança encaminhada para a

classe especial.

Page 64: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

61

Esse marco educacional que o laudo faz na vida de um aluno, também tem

resquícios da sua constituição desvinculada de uma análise crítica e profunda das condições

de vida e do cotidiano escolar da criança (SALAZAR, 1996), além de não oferecer

informações ou orientações efetivas aos professores, “a estereotipia da linguagem utilizada, a

mesmice das frases, conclusões e recomendações trazem-nos à mente a imagem de um

carimbo – os laudos falam de uma criança abstrata, sempre a mesma” (PATTO, 1997, p. 22).

Sass (1994) fomenta essa discussão sobre os laudos:

(...) é curioso refletir sobre os entendimentos paradoxais suscitados pelo

laudo psicológico, tanto entre os próprios psicólogos quanto em outros

segmentos sociais. A par da cega aceitação do laudo psicológico, há uma

rejeição igualmente cega à elaboração de documento técnico sobre a

intimidade do sujeito. Psicólogos recusam os instrumentos historicamente

construídos, sob variados pretextos, enquanto leigos reivindicam a utilização

de tais instrumentos para justificar a condição subjetiva da pessoa (p. 16).

Assim, o laudo psicológico apodera-se do processo da estabilização e da

cronificação, enquanto instrumento “educativo” investido de poder e, sobretudo, de

transformação, uma vez que, naturaliza o discurso médico na escola deslocando os sentidos

para aquilo que Salazar (1996, p. 11), chama de “uma leitura patologizada e autorizada da

educação”. Esta leitura, por sua vez, constrói e fortalece o erro, a deficiência e a dificuldade

como parâmetros “anormais” no ambiente escolar, sujeitos a discussões, reflexões e políticas

que os justifiquem e os respaldem legalmente.

4.4 A Psicopedagogia no Contexto Escolar

A presença da Psicologia na área educacional é bastante questionada há

tempos, uma vez que, suas propostas mediante esse campo eram e ainda são muito

questionáveis, em relação à suas práticas, conceitos e desenvolvimento de uma práxis

psicopedagógica.

Ao longo de sua história, a Psicologia Escolar e Educacional contribuiu, no

contexto escolar, para a formação de uma visão “biologizante e medicalizante da construção e

do desenvolvimento do psiquismo humano e, em consequência, dos motivos que levam à não-

aprendizagem” (SOUZA, 2008, p. 8). Desse modo, instalou-se no contexto educacional um

psicologismo que, segundo SASS (2003), é “a redução da explicação de fenômenos sociais e

políticos complexos e objetivos à esfera da subjetividade, das vontades, dos interesses e das

limitações individuais” (p. 1.368).

Page 65: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

62

Esse enfoque nos fatores subjetivos da educação atribui ao indivíduo seus

fracassos e desempenhos, em detrimento dos fatores objetivos e sociais que são parte

constituinte de todo o processo educacional, direcionando assim, uma prática clínica em

detrimento da pedagógica. Essa prática também mescla funções, contextos e reais objetivos.

Sass (2003) discorre sobre esse fato:

Tal modo de agir é um dos traços mais marcantes da intervenção da

psicologia no campo educacional e em sua relação com a pedagogia. A

contraface disso pode ser assim sintetizada: se o psicólogo é um “quase-

médico”, como vaticinou um psicólogo norte-americano, no final da década

de 1960, então muitos pedagogos são, guardadas as proporções, “quase-

psicólogos”. Em outras palavras, uma das oscilações da pedagogia para o

enfrentamento dos problemas pedagógicos, nos termos aqui apresentados,

corresponde à modalidade clinicalista do psicologismo (p. 1.368).

Essa modalidade “clinicalista” por sua vez, assume um lugar de extrema

importância no contexto educacional, pois, influencia e direciona as ações dos profissionais

diretamente envolvidos com a escola, e consequentemente, o direcionamento do aluno.

Contudo, os questionamentos dessas práticas clinicalistas já estão na trajetória da Psicologia

Escolar desde os anos de 1980 quando alguns pontos foram levantados sobre: o papel social

da Psicologia como Ciência e Profissão e da Psicologia Escolar como campo de atuação; dos

pressupostos que norteavam a construção do conhecimento no campo da Psicologia Escolar,

bem como, suas finalidades em relação à escola que dela participam (SOUZA, 2008).

Dessas discussões, o tema – fracasso escolar - se sobressaiu, passando a

centralizar as questões que envolvem os estudos sobre a escola, tanto no campo da Educação

quanto no campo da Psicologia, atuando entre esses dois meios, com análises ora sobre

aspectos referentes ao psiquismo e ao desenvolvimento cognitivo do indivíduo, ora sobre os

aspectos meramente pedagógicos (SOUZA, 2008).

Essas análises, sobretudo quando influenciadas por esses dois aspectos –

Pedagógico e Psicológico – ao tratar de processos de escolarização, geralmente, deslocam o

eixo de análise do indivíduo para a escola, juntamente com o conjunto de relações (sociais,

políticas, históricas, psicológicas, pedagógicas) que constituem o cotidiano escolar. No

entanto, esse deslocamento analisa as dificuldades no processo de escolarização como

problemas de aprendizagem, e estes, por sua vez, como sintoma psicológico do indivíduo.

Ao considerar o processo de escolarização, a Psicologia Escolar passa a

enfatizar a necessidade de que a escola é o espaço em que relações sociais e

individuais se articulam numa rede de relações complexas e que precisam ser

Page 66: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

63

analisadas como tal. Ou seja, quando o psicólogo recebe uma queixa escolar,

esta se constitui em um fragmento de uma complexa rede de relações sociais

com as quais ele terá que trabalhar a partir do seu campo de conhecimento.

O psiquismo é um dos aspectos constitutivos do processo de escolarização e

ao elegê-lo como o aspecto central de sua análise, o psicólogo ou qualquer

outro profissional incorrerá no erro de desprezar inúmeras outras situações

que, segundo várias pesquisas na área educacional apresentam, são

constitutivas de ações realizadas pelas crianças e de reações a determinados

contextos extremamente hostis. E mais do que isso, explicitará o fato de que

o profissional desconhece o que se passa na escola, não tendo a dimensão de

que o fracasso ou o sucesso no processo de aprendizagem escolar é muito

menos determinado por questões individuais do que por mecanismos

institucionais e políticos (SOUZA, 2008, p. 6).

Desse modo, essa “dificuldade” de separar as práticas profissionais cabíveis

a cada contexto fez com que muitas redes de ensino, por volta dos anos de 1980, de acordo

com Souza (2008), retirassem os psicólogos da área da educação para o campo da saúde, com

a justificativa de que estes profissionais atuavam em uma prática clínica e diagnóstica e não

educacional.

Esse “ajuste” da área para o trabalho do psicólogo identificou-o como

profissional pertencente à área da saúde, vinculado sob uma perspectiva médico assistencial

que não comportava a área educacional. Contudo, a partir de meados de 1990, novas formas

de aproximação da Psicologia com a Educação Escolar em uma perspectiva crítica foram

pensadas para rechaçar as explicações de cunho adaptacionista, advindas da Psicopedagogia e

da Psicomotricidade, que até então respondiam às demandas dos professores e demais

gestores escolares.

Souza (2008) discorre sobre esses dois campos:

Esses dois campos de interface de conhecimentos da Psicologia com a

Educação primam por realizar diagnósticos de caráter cognitivo, afetivo,

pedagógico ou psicomotor, propondo uma série de atendimentos e de

acompanhamentos individuais da criança ou do adolescente, reforçando a

idéia de que o problema do não aprender está na criança e que o tratamento

ou acompanhamento ou ainda a reeducação permitirão que esta criança volte

a aprender. De perspectiva eminentemente clínica, realizam o atendimento

fora dos muros da escola, por profissionais que acabam por complementar as

habilidades educacionais que não são obtidas pela criança na escola (p. 9).

A cristalização desses dois modelos (Psicopedagogia e Psicometria)

fortaleceu ainda mais com o advento da genética e da neuropsicologia, uma vez que, os

aspectos biológicos voltaram a ser considerados a base dos problemas pedagógicos,

retomando conceitos que eram discutidos há tempos atrás.

Page 67: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

64

Tais conceitos retornam com explicações organicistas centradas em

distúrbios e transtornos no campo da educação, bem como, com diagnósticos neurológicos e a

possibilidade de medicalização das crianças e adolescentes que recebem tais laudos. Para

Souza (2008) o avanço das explicações organicistas para a compreensão do não aprender

retoma os velhos verbetes tão questionados na Psicologia, Medicina e Educação, a saber,

“dislexia, disortografia, disgrafia, dislalia, transtornos de déficit de atenção com

hiperatividade, sem hiperatividade e hiperatividade” (p. 10).

Em relação a esses “verbetes” Souza (2008) expõe:

(...) ter dificuldade de leitura e escrita não mais questiona a escola, o método,

as condições de aprendizagem e de escolarização. Mas sim, busca na

criança, em áreas de seu cérebro, em seu comportamento manifesto as causas

das dificuldades de leitura, escrita, cálculo e acompanhamento dos conteúdos

escolares. A criança com dificuldades em leitura e escrita é diagnosticada,

procuram-se as causas, apresenta-se o diagnóstico e em seguida a medicação

ou o acompanhamento terapêutico. E o que é mais perverso nesse processo,

sob o nosso ponto de vista, é que os defensores das explicações organicistas

apresentam a patologização da criança que não aprende ou não se comporta

na escola, como um direito. Utilizam a mesma lógica que se faz presente

para as modalidades de doenças para o processo de aprendizagem (p. 10).

Desse modo, o fenômeno educativo e o processo de avaliação são

transformados em ciência médica e avaliados de maneira individual. A patologia é buscada

para justificar a não aprendizagem escolar, assim como, para “camuflar” as dificuldades

existentes no sistema escolar que não dá conta de suas responsabilidades.

Diante desse quadro pode-se concluir que em todo o seu processo de

vigência no sistema escolar, a Psicopedagogia privilegia os problemas de conduta e de

aprendizagem, assim como, uma perspectiva clínica da psicologia. Segundo Saas (2003) esta

pretende ser inserida como “„solução nova‟ dos velhos problemas escolares os quais tanto a

pedagogia quanto a psicologia (e suas variantes psicologia da educação, psicologia escolar e

psicologia clínica) fracassaram, por fatores objetivos, solenemente em resolver” (p. 1.370).

Assim, pode-se traçar esse mesmo paralelo com a real conjuntura da

Educação Especial no Município, que está imbuída desse “psicologismo” que se faz notar nas

suas práticas avaliativas, laudatórias, bem como, nas falas das responsáveis por esse processo

(professoras, psicólogas e psicopedagogas). Processo este, que se torna ainda mais agravante,

devido à questão dos alunos com necessidades educacionais especiais, que são submetidos a

uma prática diagnóstica impregnada de rótulos, medicalizada e pouco ou quase nada

pedagógica.

Page 68: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

65

Contudo, não cabe apontar e culpabilizar apenas os responsáveis por essas

práticas, uma vez que, o processo institucionalizado dessa “psicopedagogia médica” já está

cristalizado por um modelo educacional, que também não fornece subsídios para realmente

adotar-se uma “solução nova”.

No entanto, pode-se concluir diante desse panorama que envolve a

psicopedagogia que esta aflui até os dias de hoje, com as mesmas características de tempos

atrás e com os mesmos responsáveis pela sua reprodução, sejam os condutores do sistema de

ensino, bem como, o próprio sistema de ensino.

Page 69: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

66

5 CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE LONDRINA NO ÂMBITO DA

EDUCAÇÃO ESPECIAL

5.1 Dados de Matrículas

O município de Londrina constituído por 8 distritos (Espírito Santo,

Guaravera, Irerê, Lerroville, Maravilha, Paiquerê, São Luiz e Warta) é localizado no norte do

Paraná e segundo o censo demográfico do IBGE, em 2010 possuía 506.701 habitantes, com

uma estimativa de 511.279 habitantes para 2011. Esse número lhe dá o lugar da segunda

cidade mais populosa do Paraná e a quarta da região sul, com um IDH – M22

de 0,824,

classificada assim, na posição 10 na unidade da federação e 194 na posição nacional (ATLAS

DO DESENVOLVIMENTO HUMANO NO BRASIL – PNUD, IPEA, FJP, 2010).

Em relação à educação23

, mais especificamente a educação especial no

Município, podemos dividi-la em dois momentos, sendo o primeiro até 2009, quando foram

fechadas as classes especiais para deficiência mental, permanecendo abertas apenas as classes

especiais de condutas típicas24

, e o segundo momento, após 2009, que se constituiu com toda

a reestruturação da educação especial, com o fechamento das classes especiais, a abertura das

salas de recurso multifuncionais e com a reestruturação da equipe psicopedagógica, logo, do

trabalho de avaliação, diagnóstico e encaminhamento de crianças com necessidades

educacionais especiais.

Antes de retratarmos esses dois momentos da educação especial em

Londrina, faz-se necessário para um melhor entendimento da mesma, traçar um panorama de

anos anteriores (2007 a 2011), tomando por base os dados disponíveis no banco de

microdados do Censo da Educação Básica, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Anísio Teixeira (INEP), analisando os dados de matrículas por tipo de

necessidade especial e por modalidade de ensino.

Conforme o site do INEP25

:

(...) os dados coletados são utilizados para traçar um panorama nacional da

educação básica e servem de referência para a formulação de políticas

públicas e execução de programas na área da educação, incluindo os de

transferência de recursos públicos como merenda e transporte escolar,

distribuição de livros e uniformes, implantação de bibliotecas, instalação de

energia elétrica, Dinheiro Direto na Escola e Fundo de Manutenção e

22

Índice de Desenvolvimento Humano Municipal. 23

IDHM-E 0, 910 24

Termo este, alterado para Transtornos Globais do Desenvolvimento. 25

<http://www.inep.gov.br/basica/levantamentos/microdados.asp.>

Page 70: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

67

Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da

Educação (FUNDEB. Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da

Educação Básica).

Além disso, os dados de matrícula compõem o Índice de Desenvolvimento

da Educação Básica (IDEB), principal indicador social sobre a educação básica brasileira.

Segundo Jannuzzi (2006) o indicador social:

(...) é uma medida em geral quantitativa dotada de significado social

substantivo (...). É um recurso metodológico, empiricamente referido, que

informa algo sobre um aspecto da realidade social ou sobre mudanças que

estão se processando na mesma (p. 15).

Vale destacar que os Indicadores Sociais são construídos a partir de

estatísticas públicas, tais como, dados censitários, estimativas amostrais e registros

administrativos, diferenciando-se da própria estatística, pelo seu conteúdo informacional

presente, isto é, pelo valor contextual que apresenta na informação (JANNUZZI, 2006, p. 16).

Esse conteúdo informacional, por sua vez, se diferencia do dado numérico,

por estar imbuído de valores contextuais, os quais remetem à análise qualitativa dos dados que

nos permite ir além de seu tratamento técnico, compreendendo relações e estabelecendo

interpretações.

Por isso, segundo Sass (2010):

Por isso, tão importante quanto a crítica da insuficiência dos números e das

técnicas disponíveis para descrevê-los e interpretá-los é prestar atenção ao

que é codificado, ao que é e como é coligido, como a informação ou dado

são tratados a fim de dar sustentação aos argumentos do governante, do

usuário comum, do especialista. A crítica, para ser esgotada, precisa,

portanto, incluir aquilo que foi codificado, a aplicação das técnicas de

manipulação das informações ou dados, as pretensões e motivações daquele

que as utiliza, pois somente assim é possível constatar sua dimensão

ideológica; a de esclarecer por meio do conhecimento que produz à medida

que oculta aquilo mesmo que a determina; dimensão que de resto se faz

presente em todas as ciências sejam elas naturais ou sociais (p. 6).

Assim, os dados mostrados a seguir vão além de “apenas números”, são

dados oficiais acerca da realidade educacional de Londrina. Significa que a análise sobre as

alterações ocorridas nos processos de avaliação, encaminhamento e de escolarização de

alunos com necessidades educacionais especiais desencadeadas pela reestruturação da

educação especial no município, devem considerar seu impacto nos dados oficiais deste.

Page 71: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

68

Assim, optamos por analisar os dados gerais de matrícula na educação

básica e na educação especial, no período de 2007 a 2011, segundo modalidade de ensino

(regular, especial e EJA) e tipo de necessidade educacional especial.

A tabela I apresenta os dados gerais de matrícula e de alunos com

necessidade educacional especial na Educação Básica no Brasil, no estado do Paraná e no

município de Londrina.

Tabela 1 – Matrícula de alunos da Educação Básica e da Educação Especial no Brasil, no

Estado do Paraná e no município de Londrina (2007 – 2011).

Ano

2007 2008 2009 2010 2011

Brasil Geral 52.179.530 52.321.667 52.580.452 51.549.889 50.972.619

Índice 100 10,2 10,7 99 98

Brasil Especial 654.606 657.272 604.884 702.603 752.30

Índice 100 10,4 92 107 115

Paraná Geral 2.737.218 2.278.126 2.706.018 2.687.406 2.624.940

Índice 100 99,66 99 98 96

Paraná Especial 77.885 54.478 47.095 54.029 58.381

Índice 100 70 60 69 75

Londrina Geral 123.417 120.227 119.047 117.935 117.083

Índice 100 97 96 96 95

Londrina Especial 1.915 1.494 1.352 1.531 1.533

Índice 10 78 71 80 80

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados do Censo da Educação Básica (MEC/INEP.

2007, 2008, 2009, 2010 e 2011)

Na análise dos dados da tabela 1, pode-se perceber no Brasil um aumento do

número de matrículas na Educação Básica em 2008 e 2009 (0,2% e 0,7% respectivamente),

decaindo em 2010 e 2011 (redução de 1,2% e 2,31% respectivamente). Já as matrículas de

alunos com NEE, apesar de uma queda de 9,2% em 2009, tiveram um aumento de mais de

10% nos anos de 2010 e 2011, não acompanhando a tendência das matrículas gerais.

Page 72: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

69

Por outro lado, embora tenha ocorrido um aumento expressivo de matrículas

de alunos com NEE, Bueno e Meletti (2011) indicam:

Esse aumento, no entanto, deve ser analisado com reserva, pois em 2002, as

matrículas em educação especial (38,2 mil) correspondiam a 0,82% das

matrículas totais (44, 8 milhões) e, em 2006, as matrículas em educação

especial (700, 6 mil) representaram 1,25% das matrículas totais (55,9

milhões). Ou seja, o índice de 1,25% em relação às matrículas de alunos não

deficientes é extremamente baixo se consideradas as estimativas da OMS

sobre a incidência de pessoas com deficiência (cerca de 10% da população

geral)

No Paraná, percebe-se uma queda constante no número de matrículas da

Educação Básica no período de 2007 a 2010 (aproximadamente 1% a cada ano em relação ao

ano base) e uma redução de 4% em 2011 em relação a 2007. Já em relação às matrículas de

alunos com necessidades educacionais especiais a queda mais expressiva apresenta-se no ano

de 2009 (39,5% em relação ao ano base de 2007). Tal ocorrência aponta que no período de

dois anos 30.790 pessoas com necessidades educacionais especiais deixaram de receber

atendimento educacional especializado no estado. Os dados analisados no presente trabalho

não nos permitem explicar o motivo de tal redução e remetem à necessidade de investigações

futuras.

No Município de Londrina, as matrículas na Educação Básica decaíram

todos os anos. Embora não tenha sido um decréscimo considerável de ano para ano, em 2011

sua queda foi de 5% em relação ao ano base de 2007. Já às matrículas de alunos com NEE

também declinaram: no ano de 2009 com redução de 29% e em 2010 e 2011 de 20%, em

relação a 2007. Do mesmo modo que no estado do Paraná, observamos que centenas de

alunos com necessidades educacionais especiais deixam de ter acesso à educação no

município.

A tabela 2 traz os dados de matrículas de alunos com necessidade

educacional especial agrupados por modalidades de ensino (Educação Regular, Educação

Especial e EJA – Ensino de Jovens e Adultos).

Page 73: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

70

Tabela 2 – Matrícula de alunos com necessidades educacionais especiais, segundo

modalidade de ensino, no estado do Paraná e no município de Londrina (2007-

2011).

Modalidade

Ano e

Localidade Regular Índice Especial Índice EJA Índice TOTAL Índice

2007

Paraná 27.695 100 48.414 100 1.776 100 77.885 100

Londrina 515 100 1.319 100 81 100 1.915 100

2008

Paraná 18.247 66 34.926 72 1.305 73 54.478 70

Londrina 631 122 771 58 92 113 1.494 78

2009

Paraná 16.801 61 29.300 60 994 56 47.095 60

Londrina 558 108 734 55 60 74 1.352 71

2010

Paraná 25.901 93 26.540 55 1.588 89 54.029 69

Londrina 809 157 644 48 78 96 1.531 80

2011

Paraná 24.570 89 24.340 50 1.942 109 50852 65

Londrina 903 175 555 42 75 93 1.533 80

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados do Censo da Educação Básica (MEC/INEP.

2007, 2008, 2009, 2010 e 2011)

O agrupamento dos dados de matrículas por modalidade de ensino,

apresentado na Tabela 2, permite analisar detalhadamente a configuração da educação

especial nas esferas estadual e municipal, podendo completar assim, as análises da Tabela 1.

No estado do Paraná, os dados de matrículas do ensino regular, reduziram

Page 74: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

71

ao longo do período com oscilação ano a ano. Merece destaque a redução de 39% no ano de

2009, ou seja, 10.894 alunos com necessidade educacional especial deixaram de freqüentar

esta modalidade de ensino. Por outro lado, observamos a tendência de redução nas

modalidades especial em todo o período analisado e na EJA até o ano de 2010.

No que se refere às matrículas na modalidade especial, destaca-se a redução

de 50% destas em espaços segregados de ensino (instituições e classes especiais) no período

analisado. Ainda assim, apenas no ano de 2011 o estado do Paraná registra menor número de

alunos na modalidade especial se comparada à regular (230 a menos).

Na modalidade EJA, encontramos a mesma tendência de redução até o ano

de 2010, destacando-se o ano de 2009 com diminuição de 44% se comparado ao ano base. No

ano de 2011 houve aumento de 9% em relação a 2007. De acordo com Meletti e Bueno (2010)

as matrículas deste alunado na:

Educação de Jovens e Adultos parece ser a expressão localizada do problema

que envolve toda a educação básica no Brasil, qual seja a de que, apesar do

incremento das matrículas em geral, os níveis de aprendizagem são muito

baixos o que implica retorno à escola por essa modalidade (p. 11).

Os dados estaduais apresentam uma tendência de queda do número de

matrículas de alunos com necessidades educacionais especiais nas três modalidades de ensino

apresentadas. Isso permite reiterar a análise de que não está havendo, necessariamente,

migração deste alunado de uma modalidade para outra: o que reforça a possibilidade de

ocorrência de evasão escolar.

Em Londrina, observamos uma situação distinta dos dados estaduais. Na

modalidade regular houve constante aumento no período analisado, chegando a 75% a mais

no ano de 2011. Já na modalidade especial observamos uma constante redução do número de

matrículas no período, sendo 68% em 2011 se comparado a 2007. Por outro lado, é necessário

destacar que, mesmo com essa queda no número de matrículas, nos quatro primeiros anos,

eles superam o número de matrículas do ensino regular, diminuindo apenas em 2010, com

uma nova estrutura posta na cidade e permanecendo em 2011.

Na EJA, apesar da tendência de redução no período, é preciso destacar que

em 2010 e 2011 ocorre aumento se comparado nos anos de 2008 e 2009, mas que não supera

o número de matrículas encontrado em 2007, ano base de nossas análises.

Comparando as tabelas 1 e 2 observamos que, mesmos havendo redução no

número de matrículas de alunos com necessidade educacional especial, sua distribuição pelas

Page 75: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

72

modalidades de ensino aponta para uma concentração no ensino regular. Isso pode significar a

migração de espaços segregados de ensino (instituições e classes especiais) para aqueles

considerados mais inclusivos (classe regular com apoio da sala de recurso). Por outro lado,

não podemos ignorar que em 2011 haviam 382 alunos com necessidade educacional especial

a menos no município que em 2007. Isso sustenta a análise que pode estar ocorrendo tanto a

evasão escolar deste alunado quanto a ampliação do número de alunos identificados como

população alvo da educação especial no ensino regular.

A tabela 3 apresenta as matrículas segundo o tipo de necessidade

educacional especial no município de Londrina.

Page 76: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

73

Tabela 3 – Matrícula de alunos com Necessidades Educacionais Especiais, por tipo de

necessidade especial no Município de Londrina

Ano Deficiência

Auditiva Visual Física Mental TGD Surdo Múltipla Altas

Cego Habilidades

2007 142 123 138 1350 129 1 163 35

2008 150 83 123 939 151 - 76 52

2009 167 102 120 887 23 2 47 71

2010 163 126 169 1056 38 3 100 80

2011 148 145 132 1015 76 3 56 95

Fonte: Elaboração própria com base nos microdados do Censo da Educação Básica (MEC/INEP.

2007, 2008, 2009, 2010 e 2011)

Nota: - indica zero

Legenda:

Deficiência Auditiva = Surdez + Deficiência Auditiva

Deficiência Visual = Cegueira + Baixa visão

Deficiência Mental = Síndrome de Down + Deficiência Mental (2007,

2008)

TGD = Autismo, Asperger, TDI

Os dados mostram que o Município de Londrina tem alunos com todos os

tipos de necessidade educacional especial que compõem a população alvo da educação

especial. Antes de proceder a análise da tabela é necessário esclarecer que a soma dos totais

de cada condição não equivale ao total de alunos com necessidades educacionais especiais

apresentado na Tabela 1. Isso acontece porque quando ao aluno possui mais de um tipo de

deficiência é possível o registro de cada uma delas na coleta do Censo da Educação Básica do

INEP; assim, o número de alunos com necessidade educacional especial é menor que a soma

de quantos alunos possuem uma condição específica.

Page 77: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

74

Dentre as necessidades educacionais especiais apresentadas pelos alunos do

município, a maior incidência em todo o período analisado é de deficiência mental,

representando mais de 60% do alunado em todos os anos. A menor incidência é de

surdocegueira com menos de 1% total em todo o período.

Os alunos com deficiência mental representam o maior grupo entre todas as

necessidades educacionais especiais. Por outro lado, esta maior incidência indica que a

identificação desta condição pode ser conseqüência da classificação do fracasso escolar,

reiterando uma prática já analisada por Patto (1981), Moysés e Collares (1997), Moysés

(2008) e Souza (2008).

Podemos observar que a incidência de matrículas de alunos com deficiência

auditiva fica entre 7 e 10% do total e apresenta maior diferença no ano de 2010, se comparado

ao ano base de 2007. As matrículas de alunos com deficiência visual reduzem de 2007 para

2008, aumentam em 2009, 2010 e 2011, sendo este o único ano do período cujo número de

alunos com esta condição ultrapassa o ano base. As matrículas de alunos com deficiência

física representam entre 7 e 11% do total ao longo do período, sendo 2010 o ano com maior

incidência (11,03%). Os números relacionados aos alunos com deficiência múltipla que, em

2007, representavam 8,5% das matrículas, reduzem ao longo do período, oscilando ano a ano,

com destaque para 2009 que apresenta 47 matrículas (redução de 71% se comparado ao ano

base). As matrículas de alunos com altas habilidades/superdotação aumentam durante todo o

período (chegando a 171% a mais em 2011).

O número de matrículas de alunos com transtornos globais do

desenvolvimento (TGD) apresenta uma particularidade em relação às demais condições que

merece destaque. No ano de 2008 houve uma redução de 82% em relação ao ano base que

pode ser explicada pela alteração do questionário de coleta do Censo de Educação Básica e

delimita que o TGD representaria a partir daquele ano as condições: Autismo, Asperger,

transtorno desintegrativo da infância (TDI) e Síndrome de Rett. Até o ano de 2006, os dados

se referiam aos chamados alunos com condutas típicas. A alteração na forma de coletar os

dados impactou os índices de matrícula e também mostra que a identificação e classificação

de um aluno como pertencente à população alvo da educação especial é influenciada pelos

Censos.

Page 78: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

75

5.2 Estrutura da Educação Especial

Para discorrer sobre a estrutura da educação especial no Município de

Londrina, iremos dividi-la em dois momentos. O primeiro até o ano de 2009, quando foram

fechadas as classes especiais e a Educação Especial passou por uma reestruturação e o

segundo após 2009, já com o fechamento das classes especiais e a abertura das salas de

recurso multifuncionais na rede de ensino.

Para esse primeiro momento toma-se como subsídio os dados de uma

pesquisa realizada por Meletti (2009), nos anos de 2006 até 2010, no Município de Londrina,

com o objetivo de analisar a estrutura e o funcionamento da Educação Especial nas escolas

regulares da rede Municipal.

O Município de Londrina, no ano de 2008, possuía em sua rede municipal

de ensino 214 alunos matriculados com deficiências: mental, física, auditiva, visual e outros

problemas de aprendizagem que também requeriam apoio específico. Destes, 138 (ou 64,4%

das matrículas) estavam matriculados em classes especiais - classes não seriadas, destinadas a

crianças com necessidades educacionais especiais, que não frequentavam as classes regulares.

Tais classes estavam distribuídas em 68 unidades escolares urbanas, das

quais 30 ofertavam atendimentos especializados. Estes atendimentos estavam dispostos em 14

classes especiais para deficiência mental (distribuídas em 14 escolas diferentes), uma classe

denominada “EJA Especial26

” (alocada numa escola que também possuía classe especial para

deficiência mental), 5 classes especiais de condutas típicas27

(situadas em 4 escolas diferentes,

com um público específico de condutas típicas, de síndromes e quadros psicológicos,

neurológicos ou psiquiátricos) e 31 salas de recurso28

. Além de professores de apoio

permanentes em sala de aula.

Esses serviços especializados se concentravam majoritariamente nas regiões

mais pobres do município e eram ofertados nos dois períodos, exclusivamente nas unidades

escolares.

Para a assessoria dos professores, as escolas municipais obtinham apoio de

26

Essa modalidade atendia alunos de 14 a 19 anos, os quais depois dessa idade eram encaminhados para a EJA

do município, por não poderem mais freqüentar uma escola regular devido a idade elevada. 27

O termo condutas típicas se refere a uma variedade muito grande de comportamentos, que na sua maioria

podem ser representados por um contínuo. Em um extremo, comportamentos voltados para o próprio sujeito, e

no outro extremo, comportamentos voltados para o ambiente externo. No Município de Londrina estas salas

eram compostas por duas professoras e com no máximo 5 alunos, totalizando 25 alunos na rede. 28

A sala de recurso atendia no turno oposto, alunos matriculados em uma das séries iniciais do ensino

fundamental. Esse atendimento poderia ser feito tanto na própria escola do aluno se esta possuísse sala de

recurso ou na escola que apresentasse a sala mais próxima de sua casa.

Page 79: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

76

uma equipe multiprofissional – Equipe Psicopedagógica - que era composta por 21

profissionais especializados em Educação Especial, Psicopedagogia e Psicologia. Além de,

uma médica conveniada que também compunha essa equipe.

Esses profissionais por sua vez eram responsáveis, além da assessoria aos

professores, pela realização das avaliações e encaminhamentos dos alunos matriculados na

rede para as classes especiais, salas de recurso, instituições especiais e demais serviços.

Além destes serviços, o Município de Londrina, também possuía convênio

com sete escolas especiais privadas de caráter filantrópico, conveniadas com a Secretaria de

Educação - APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Londrina/Escola de

Educação Especial Santa Rita), APS DOWN (Associação de Pais e Amigos de Portadores da

Síndrome de Down/Escola de Educação Especial Crescer), ILECE (Instituto Londrinense de

Educação para crianças excepcionais/Escola de Educação Especial), ILITIC (Instituto

Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos), Associação Flávia Cristina, COL (Centro

Ocupacional de Londrina/Escola de Educação Especial Manaim) e ILES (Instituto

Londrinense de Educação de surdos).

Basicamente este era o panorama do primeiro momento da Educação

Especial no Município de Londrina, até o ano de 2009. Segue-se, agora, a descrição do

segundo momento até os dias atuais.

Para este segundo momento toma-se por base as entrevistas realizadas com

a coordenadora da equipe psicopedagógica, os profissionais da equipe (psicopedagogos e

psicólogos), as professoras da sala de recurso, assim como, os dados retirados do site da

Prefeitura de Londrina (SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. LONDRINA. 2011).

Com o fechamento das classes especiais no Município de Londrina no ano

de 2009, a Educação Especial do mesmo passou por grandes transformações, uma vez que,

este acontecimento foi um dos propulsores para a reestruturação e organização da educação

especial em Londrina.

Este fato propulsionou necessariamente um aumento das salas de recurso no

Município que passaram a ser 31 salas - todas multifuncionais - atendendo os alunos da escola

na qual está localizada, além dos alunos das escolas do entorno.

O funcionamento das salas de recurso é necessariamente no contraturno do

período no qual a criança estuda, com uma média de uma hora à uma hora e meia,

dependendo da quantidade de crianças e das dificuldades das mesmas. A professora da sala de

recurso tem total autonomia para montar seus grupos e geralmente os montam de três a quatro

crianças, com o mesmo nível de deficiência, ou que estão na mesma série, ou até mesmo pela

Page 80: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

77

questão da faixa etária, que segundo as professora fica mais fácil para desenvolver um

trabalho.

Estas salas foram equipadas e padronizadas pelo Ministério da Educação

(MEC) com equipamentos29

, mobiliários30

e materiais didáticos e pedagógicos31

, específicos

para salas de Tipo I (que são as salas que predominam no Município de Londrina), além de

outros materiais específicos para as salas de Tipo II32

, que são salas específicas para crianças

com deficiência visual. Londrina possui duas salas Tipo II.

Art. 1º Para a implementação do Decreto nº 6.571/2008, os sistemas de

ensino devem matricular os alunos com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do

ensino regular e no Atendimento Educacional Especializado (AEE), ofertado

em salas de recursos multifuncionais ou em centros de Atendimento

Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias,

confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos (RESOLUÇÃO CNE/CEB

4/2009).

É importante frisar nesse ponto, que as salas de recurso além de se tornarem

referência na Educação Especial, passaram a atender prioritariamente alunos com deficiência,

transtorno global do desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação, diferenciando-se

da estrutura antiga que também atendia crianças com déficits de aprendizagem e problemas de

comportamento.

Art. 4º Para fins destas Diretrizes considera-se público-alvo do AEE:

I – Alunos com deficiência: aqueles que têm impedimentos de longo prazo

de natureza física, intelectual, mental ou sensorial.

II – Alunos com transtornos globais do desenvolvimento: aqueles que

apresentam um quadro de alterações no desenvolvimento neuropsicomotor,

comprometimento nas relações sociais, na comunicação ou estereotipias

motoras. Incluem-se nessa definição alunos com autismo clássico, síndrome

de Asperger, síndrome de Rett, transtorno desintegrativo da infância

(psicoses) e transtornos invasivos sem outra especificação.

III – Alunos com altas habilidades/superdotação: aqueles que apresentam um

potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento

humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e

criatividade (RESOLUÇÃO CNE/CEB 4/2009).

29

Microcomputadores, laptop, estabilizador, scanner, impressora laser, teclado com colméia, acionador de

pressão, mouse com entrada para acionador, lupa eletrônica. 30

Mesa redonda, quatro cadeiras, mesa para impressora, armário, quadro branco, duas mesa para computador e

duas cadeiras. 31

Material dourado, esquema corporal, bandinha rítmica, memória de numerais I, tapete alfabético encaixado,

software comunicação alternativa, sacolão criativo monta tudo, quebra cabeças – sequência lógica, dominó de

associação de idéias, dominó de frases, dominó de animais em libras, dominó de frutas em libras, dominó tátil,

alfabeto braile, kit de lupas manuais, plano inclinado – suporte para leitura, memória tátil. 32

As salas de tipo II contêm todos os recursos da sala tipo I, adicionados os recursos de acessibilidade para

alunos com deficiência visual: impressora braile – pequeno porte, máquina de datilografia braile, reglete de

mesa, punção, soroban, guia de assinatura, kit de desenho geométrico e calculadora sonora.

Page 81: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

78

Contudo, embora o público alvo, não seja mais os alunos com déficits de

aprendizagem, as salas de recurso do Município continuam atendendo as crianças que já eram

da sala de recurso anteriormente (2008 e 2009) e que devido à mudança efetuada passaram a

não ser mais público alvo da sala. Estes atendimentos são chamados de Apoio Pedagógico, no

qual as crianças são atendidas sempre em grupo de quatro a cinco crianças, em horários

alternativos na sala de recurso, utilizando os mesmos materiais da sala em um período de mais

ou menos uma hora à uma hora e meia.

O apoio pedagógico, segundo as professoras da sala de recurso, é um meio

de complementação das dificuldades dos alunos, uma vez que, os alunos que frequentam o

apoio pedagógico não são público para a sala de recurso em função de suas dificuldades não

configurarem uma condição de deficiência.

Além das 31 salas de recurso, distribuídas em 31 escolas diferentes, a rede

municipal também conta com 30 professores de apoio permanente em sala de aula,

professores itinerantes (profissional da equipe psicopedagógica da Secretaria Municipal de

Educação ou profissionais de Escolas Especiais, que fazem visitas de orientação pedagógica

aos alunos e professores), atendimento pedagógico domiciliar (para alunos impossibilitados

de frequentarem a escola), atendimento de escolarização hospitalar (para crianças,

adolescentes, jovens e adultos que se encontram impossibilitados de frequentarem a escola) e

a manutenção das cinco classes especiais do transtorno global do desenvolvimento (com a

mesma estrutura antiga).

Estes serviços educacionais especializados estão distribuídos em 90

unidades escolares (sendo as salas de recurso, restritas apenas à zona urbana), que atendiam

um total de 756 alunos com necessidades educacionais especiais na rede municipal de ensino,

no ano de 2011 (dado ofertado pela coordenação da Equipe Psicopedagógica do Município).

Dentre esses alunos 535 frequentavam a sala de recurso, com várias deficiências, sendo estas,

neuromotora (35), visual (19), auditiva (7), múltipla (60), super dotação/altas Habilidades (4),

surdo-cego (1) e 463 com deficiência intelectual/limítrofe/ TDAH (este último a Secretaria da

Educação não possuía os dados separados). Além destes, 19 alunos frequentavam a classe

especial de transtorno global do desenvolvimento e 128 alunos frequentavam a sala regular

sem nenhum tipo de apoio, sendo que os outros 37, eram crianças com síndrome de Down,

incluídas na sala regular, mas que obtinham atendimentos em outros locais (APS DOWN, por

exemplo).

Outro ponto importante desse segundo momento foi a reestruturação pela

qual a equipe psicopedagógica passou em relação a sua quantidade, objetivos e práticas de

Page 82: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

79

trabalho, sendo atualmente formada por 12 profissionais, sendo quatro psicólogas, sete

psicopedagogas e uma coordenadora. Estas se dividem em três trios e uma dupla, para atender

as 90 unidades escolares, compreendidas entre escola urbana, rural e CEMEI33

.

Para esses atendimentos a metodologia da equipe também foi alterada, uma

vez que, anteriormente (2009) o objetivo da mesma era apenas avaliar para incluir na sala de

recurso, e agora não é mais somente a avaliação, mas todo o acompanhamento das salas de

recurso multifuncionais e das classes especiais de transtorno global do desenvolvimento, no

que diz respeito ao acompanhamento do professor (quando necessário), à parte burocrática,

aos relatórios semestrais, planos de atendimento, capacitações para os professores, aplicação

de testes formais (psicólogo) e avaliação quando necessário.

O papel da avaliação e do encaminhamento (quando não necessário à

aplicação de um teste psicológico) ficou a cargo da professora da sala de recurso, que recebe

dos profissionais da escola (geralmente o professor da classe regular do aluno) uma ficha com

o pedido de avaliação de determinado aluno. Esta ficha é preenchida pelo professor da classe

regular, juntamente com a equipe pedagógica da escola.

Com a ficha em mãos a professora da sala de recurso, começa a fazer as

observações (observa o aluno sem se identificar, na sala de aula, no recreio, na hora do conto,

na educação física, como ele se relaciona com as outras crianças, professores e na escola

como um todo) (Anexo E – Áreas do desenvolvimento). É importante frisar nesse ponto, que

a professora da sala de recurso tem apenas um dia da semana para fazer essas observações ou

qualquer outro tipo de avaliação, pois nos outros dias ela tem os atendimentos. Porém, caso

não fique satisfeita ela pode prorrogar as observações para as próximas semanas.

Feita as observações sociais, a professora faz uma observação no material

escolar do aluno (Anexo F – Observação do material escolar), fazendo algumas pontuações

sobre seu caderno, letra, conteúdos anotados etc. Após essas observações, caso a professora

entenda que o aluno possa freqüentar a sala de recurso, ela entra em contato com os pais da

criança e chama-os para uma anamnese (Anexo G – Entrevista com os pais ou responsáveis).

Realizada a anamnese é dado aos pais um termo de autorização para a

realização da avaliação com a criança. Se os pais aceitarem, a criança é chamada para a sala

de recurso onde a professora conversa com ela, a fim de conhecê-la um pouco mais, além de,

observar a maneira como responde às perguntas, seu raciocínio e construção de linha de

pensamento (Anexo H – Informação Social).

33

Centro Municipal de Educação Infantil.

Page 83: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

80

Realizadas todas as observações, começa a avaliação propriamente dita,

quando a professora aplica alguns testes psicopedagógicos (Teste de Consciência Fonológica -

CONFIAS34

, Teste de Desempenho Escolar - TDE35

, Provas Projetivas - Teste Par

Educativo36

e Teste da Família37

são os mais utilizados) na criança, a fim de saber como está

o desenvolvimento da sua aprendizagem.

Outras atividades (geralmente jogos) também são aplicadas, com o objetivo

de avaliar a matemática, a leitura e a escrita, situações problemas, a memória, os desenhos

(através de testes projetivos), o estado emocional, comportamental, entre outros pontos que

possam contribuir na formulação da criança ser ou não um deficiente mental.

Passando esses pontos se a professora constatar que essa criança não

necessita de atendimento especializado na sala de recurso, ela mesma encerra o diagnóstico e

o encaminha (caso ache necessário) para o contraturno da própria escola. Agora, caso

verifique necessidade, é pedido à equipe uma avaliação psicológica, a qual é realizada pelo

psicólogo da equipe.

O psicólogo da equipe (cada professor já tem definido qual profissional da

escola é seu assessor no início do ano letivo) vai até a escola e aplica os testes psicométricos

para confirmar se o aluno realmente possui ou não algum tipo de deficiência. Os testes sempre

são aplicados na escola, geralmente em outra sala que não seja a sala de recurso, devido a

quantidade de estímulos ali presentes. Os principais testes aplicados são o WISC II38

, Teste de

Matrizes Progressivas Coloridas – Escala Especial Raven39

, Teste Gestáltico Visomotor de

Bender40

e a Escala de Maturidade Mental Columbia41

.

34

É um instrumento de avaliação sequencial das habilidades metafonológicas, com o objetivo de avaliar a

consciência fonológica de forma abrangente e sequencial. Sua utilização possibilita a investigação das

capacidades fonológicas, considerando a relação com a hipótese da escrita, contribuindo para a prática na

alfabetização. 35

Esse teste busca oferecer uma avaliação das capacidades fundamentais para o desempenho escolar, mais

especificamente da escrita, aritmética e leitura. Indica quais as áreas da aprendizagem escolar que estão

preservadas ou prejudicadas no examinando. É indicado para alunos na faixa escolar de 1ª a 6ª séries do Ensino

Fundamental, ainda que possa ser utilizado com algumas reservas, para a 7ª e 8ª séries. 36

Esse teste tem o objetivo de obter informações a respeito do vínculo estabelecido em relação à aprendizagem,

como foi internalizado pela criança o seu processo de aprender e como ele percebe aquele que ensina e como que

aprende. Quanto aos aspectos pedagógicos avalia-se o nível de redação, ortografia, criatividade literária, etc., por

meio do desenho de duas pessoas: “uma que ensina e outra que aprende”, além de contar ou escrever uma

história relacionada ao desenho. 37

Essa prova tem o objetivo de avaliar como se dá o relacionamento da família como um todo e também em suas

diferentes partes. É solicitado ao aluno que desenhe uma família que não seja a sua, para depois ser solicitado

que dê nomes a cada um dos indivíduos representados no desenho e que conte uma história sobre essa família. 38

Wisc III – Escala de Inteligência de Wechsler para crianças. Esta escala é destinada para crianças e

adolescentes entre os 6 e 16 anos com um tempo de aplicação de aproximadamente 90 minutos (aplicação

individual). 39

É um teste não verbal para avaliação da inteligência. Destina-se a crianças de 5 a 11 anos e meio, deficientes

mentais e pessoas idosas. Também é para sujeitos portadores de deficiências físicas, afasias, paralisia cerebral ou

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81

De acordo com o resultado das avaliações realizadas pela professora da sala

de recurso e do resultado dos testes aplicados pela psicóloga, é elaborado um laudo do aluno

contendo sua identificação, motivo do encaminhamento, análise do caso, conclusão,

encaminhamento e medidas de intervenção. Esta ficha é preenchida pela professora que a

encaminha para a equipe psicopedagógica, que só a complementa se houver a realização dos

testes psicológicos.

Todas as crianças matriculadas na sala de recurso possuem um laudo de

deficiência, que fica na própria sala de recurso, na Secretaria da escola e na Secretaria de

Educação do Município.

Detectada a deficiência da criança e com um laudo que sustente esse

posicionamento, aquela é encaminhada para a sala de recurso ou para outras instituições

especiais que também prestam serviços às crianças com necessidades educacionais especiais.

Estas instituições são as mesmas sete escolas especiais privadas de caráter filantrópico,

conveniadas à Secretaria de Educação, que foram citadas no primeiro momento dessa divisão.

Além destas escolas existem outros locais de serviço público, não cadastrados por essa

Secretaria, mas que são parceiros (CAPS - Centro de Atendimento Psicossocial, posto de

saúde etc.).

Desse modo, a caracterização desses dois momentos da Educação Especial

no Município de Londrina nos ajuda a pontuar transformações específicas que desencadearam

a sua estrutura atual, e que não foge muito da base da Educação Especial apresentada no

referencial teórico desse trabalho, resgatando dessa maneira, a dificuldade explícita em lidar

com a heterogeneidade do grupo de alunos que compõem a sala de recurso.

As salas de recurso por sua vez apenas trocaram o nome, uma vez que,

continuam alocadas no mesmo local que as classes especiais nas escolas públicas (as escolas

municipais de educação básica do município de Londrina, seguem o mesmo padrão de

estrutura – em forma de U – onde o meio é o pátio e ao redor ficam as salas de aula. No

entanto, as salas de recurso não fazem parte desse espaço, ficando localizadas sempre perto da

surdez, bem como, sujeitos que não dominam a língua nacional. Permite avaliar a inteligência geral se for usado

em conjunto com um teste de vocabulário. Indicado para avaliação do desenvolvimento intelectual na escola, em

diagnósticos clínicos, em estudos interculturais e antropológicos. 40

É um teste que avalia a maturação perceptomotora por meio da análise da distorção da forma. É destinado a

crianças de 6 a 10 anos e sua aplicação pode ser individual ou coletiva, sem limite de tempo, sendo que a maioria

das aplicações leva em média de 15 minutos. Caso a aplicação seja coletiva sugere-se o máximo de 30 crianças. 41

Esta escala tem o objetivo de avaliar a capacidade intelectual das crianças em geral, através de respostas não

verbais. Por este motivo é recomendável a sujeitos com dificuldades verbais e/ou motoras, sendo indicado para

crianças com paralisia cerebral, lesão cerebral, retardo mental, deficiência visual, dificuldade na fala, perda de

audição e crianças estrangeiras. A aplicação do teste é individual e sem limite de tempo, tendo uma duração

média de 15 a 20 minutos.

Page 85: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

82

diretoria, salas dos professores, bibliotecas ou outras salas que não sejam uma sala de aula

regular), trabalhando com a mesma população e seguindo o mesmo perfil clínico e de

reabilitação do trabalho educacional em detrimento de uma atuação essencialmente

pedagógica dentro da escola regular.

Este, portanto, é o percurso do aluno especial dentro da instituição escolar,

que começa por uma suposta identificação ainda na classe regular, devido ao insucesso que

carrega muitas vezes, a partir de práticas subjetivas do professor. Estas práticas “buscam” um

“padrão ideal de aluno”, direcionando desse modo, encaminhamentos para a avaliação

psicológica. Que segundo Amaral (2001):

Os motivos de encaminhamento não são pautados apenas em critérios

oficiais, mas em decisões de cunho individual, o que abre uma gama

significativa de possibilidades de diferentes motivos. Esses motivos de

encaminhamento, geralmente, se referem a questões de ordem individual,

isto é, ao aluno é imputada a responsabilidade pelo fracasso, justificada

através da sua história de vida pessoal e familiar, de mitos como desnutrição,

além das dificuldades de aprendizagem decorrentes do processo de

alfabetização (p. 7).

O processo de avaliação é mais voltado ao funcionamento interno do que

externo do aluno, uma vez que, julga-se mais importante entender o porquê o aluno não

aprende (deficiências, genética, família...) e não o processo inverso, de como ele aprende

(metodologia, professor, aulas...). Além de recorrer a um mesmo procedimento padrão de

diagnóstico para todas as queixas, sejam elas quais forem: observações, anamnese, conversas,

sessões lúdicas e testes psicológicos e projetivos.

Encerrado o processo de avaliação e determinado o escore identitário da

criança, caso esta seja identificada por algum “conceito deficitário”, o próximo passo é outro

encaminhamento, no qual ela é inserida no lugar mais adequado para as suas necessidades, as

quais foram em grande parte (senão todas) reconhecidas pela Psicologia.

Tal perfil segregacionista nos remete a Educação Especial como um sistema

paralelo de ensino e não como uma modalidade da Educação Básica que perpassa todas as

modalidades. Pontuaremos melhor esse segundo momento da Educação Especial em

Londrina, juntamente com a apresentação dos resultados desse trabalho.

Page 86: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

83

6 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

De acordo com o objetivo proposto pela pesquisa de análise dos processos

de avaliação, diagnóstico e encaminhamento de crianças com necessidades educacionais

especiais da Rede Municipal de Ensino de Londrina, bem como, os objetivos específicos

relatados na página 24 desse trabalho, os resultados obtidos serão apresentados, seguidos de

suas análises e divididos em dois grandes grupos: entrevistas e laudos.

Inicialmente apresenta-se a discussão e a análise das entrevistas e em

seguida será apresentado a análise dos laudos como outro instrumento de análise, para melhor

entendimento desse processo de avaliação, diagnóstico e encaminhamento realizado no

Município.

6.1 Entrevistas

Como já descrito na metodologia foram realizadas 22 entrevistas (duas com

cada participante – Psicólogo, Psicopedagogo, Professor da sala de recurso), as quais foram

agrupadas em grandes temas, de acordo com o direcionamento das falas dos participantes.

Diante da ampla gama de temas, cinco grandes pontos - Avaliação,

Diagnóstico, Encaminhamento, Laudo e Caracterização do aluno - presentes em todas as

entrevistas, direcionaram essa pesquisa, uma vez que, são descritores de: Quem é o público

alvo da educação especial, que a escola indica para passar pelo processo de avaliação do

Município? Como é o processo de formação e quais os critérios para fazer parte desse público

que encabeça as salas de recurso?

Das entrevistas, pôde-se traçar um perfil dos processos avaliativos e de

encaminhamentos do Município de Londrina e do aluno atuante na Educação Especial, assim

como a caracterização de metodologias, que, mesmo atualmente, muito se assemelham aos

métodos já utilizadas no decorrer da história da Educação Especial. Tais metodologias, por

sua vez, pregam teoricamente a heterogeneidade do aluno, porém, a homogeneidade é o

discurso incrustado e o mais corrente em suas ações.

Isso pôde ser percebido em algumas falas retiradas das entrevistas, como,

por exemplo, na fala das professoras da sala de recurso, ao discorrer sobre os seus alunos,

demonstrando a cristalização do discurso homogêneo de uma maneira sutil, empregada na

forma em que exerce o seu trabalho. Contudo, tal sutileza, não deixa de ser a reprodução da

ideologia vigente.

Page 87: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

84

Prof. II – 1.4042

Antes não né, antes atendia qualquer criança com

dificuldades, depois é é eram só crianças com deficiência, tinha limítrofe,

tinha TDAH, ai o ano passado já tirou, agora é só inclusão mesmo.

Prof. I – 2.78 São crianças diferentes né, tem que respeitar a

individualidade, mas assim, por exemplo, eu procuro por, eu tenho dois

alunos de terceiro, não de quarto ano, então eu coloco os dois juntos. Certo.

Daí dá pra trabalhar com as mesmas atividades.

O fato de “ser diferente”, mas, existir algo que os aproxima é uma forma

sutil de generalização de características, pois, quanto mais “alunos parecidos” para

desenvolver determinada atividade, mais “fácil” e mais homogêneo ficarão inclusive a sala de

recursos, que deveria ser uma sala para se trabalhar com crianças deficientes, independente do

tipo, grau e escolarização das mesmas.

Além disso, o fato de ser atendido “é só inclusão mesmo”, conforme a fala

da Prof. II, esbarra no questionamento de: o que é um aluno de inclusão, uma vez que, a

professora retira da possibilidade de ser incluso crianças com dificuldade, deficiência,

limítrofe e TDAH?

Essa perspectiva de questionar a possível deficiência do aluno e esse

processo de “torná-lo deficiente”, Kassar (1999) discorre sobre o fato da transformação de

crianças “atrasadas” em relação à idade regular de matrículas em “deficientes mentais

educáveis”, isto é, um déficit torna-se deficiência, e o sucesso ou o fracasso dessas crianças, é

respaldado pelo discurso das “potencialidades inatas” e pela implementação e utilização das

técnicas especializadas.

Esse discurso das potencialidades, bem como o uso das técnicas, nada mais

é que a afirmação da ideologia vigente, por meio da qual os setores públicos e privados, se

caracterizam numa “parcial simbiose” conforme Jannuzzi (1996).

Essa “simbiose”, por sua vez, de acordo com a organização da Educação

Especial no Brasil, de um modo geral, promove uma caracterização específica do atendimento

especial, de modo que, sob a administração particular têm sido atendidos os deficientes mais

graves e sob a administração pública os denominados “educáveis” (Kassar, 1999).

Esta organização, também pode ser percebida no município, quando a

professora se refere aos tipos de deficiência dos seus alunos e as suas potencialidades.

42

Prof. II – 1.40 – Significa Professora dois e entrevista 1. Para uma melhor organização das entrevistas, estas

foram categorizadas de acordo com os entrevistados – Professora da sala de recurso (Prof.), Psicóloga (Psico) e

Psicopedagoga (Psicoped) – conforme a ordem da entrevista – Primeira entrevista (I), entrevista recorrente (II) e

conforme a separação das falas, a partir da ordem das entrevistas – Entrevista 1, fala 40 (1.40), Entrevista

Recorrente, fala 78 (2.78).

Page 88: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

85

Prof. III – 1.3 Porque geralmente, hoje as crianças nossas da sala de

recursos, são os cadeirantes, são os sindrômicos, então eu tenho muitos

individuais43

, que eu não posso por com outra criança. Eu tenho uns 3

auditivos. Daí eu me preocupo muito, e com o visual, porque eu uso óculos.

Prof. I – 2.79 Ta, no momento eu to atendendo (pausa para contar) 10

crianças. Com deficiência intelectual.

Prof. I - 2.87 Mas os outros são uma deficiência intelectual leve. Que

aprendem, que conversam, que respeita regras, que que sabe conviver né

com outras crianças, comigo, não dá trabalho, nem de comportamento,

Desse modo, é possível perceber nas falas das professoras uma

padronização das deficiências dos alunos – deficiência intelectual – a partir da qual é restrita

ao seu próprio conceito, não havendo maiores descrições sobre a deficiência nem sobre os

alunos, exceto, o fato de ser considerada leve.

Já a professora III, embora, tenha relatado outras deficiências em sua sala,

ela também pontua sua heterogeneidade de alunos, homogeneizando-os a partir de suas

diferenças - “então eu tenho muitos individuais” – passando a abarcar, assim, várias

peculiaridades em um mesmo grupo diferenciado.

Diante dessas falas podemos verificar a ausência de uma população

deficiente mais comprometida nos bancos escolares públicos, remetendo o seu atendimento a

instituições especializadas particulares (Kassar, 1999). Além desse fator, não só a ausência de

comprometimento da deficiência é questionada, mas também a ausência da própria

deficiência. Algumas falas dão respaldo a essa condição:

Psico. II – 1.38 Então é assim, se aquela criança foi diagnosticada, na

avaliação como deficiente intelectual, ela vai ser deficiente intelectual

sempre. Tchau, não dá pra tirar né, o ano que vem já não é mais...

Psico. II – 1.39 Criança na sala de recurso, a gente tinha criança de tudo

quanto é tipo, maioria sem deficiência nenhuma,

Psicoped I - 2.43 Mais nem toda criança que chega pra gente é deficiente, é

do nosso público alvo. De sala de recurso né. Até um tempo atrás é a gente

mantinha as crianças. É é elas podiam ficar, se não tivesse nenhum, nada

que contra indicasse isso.

Jannuzzi (1997) também discorre sobre essa situação:

[...] na verdade, muitos [dos atendidos pela educação especial] não são

alunos portadores de deficiências e condutas típicas e, consequentemente,

43

Quando a professora se refere a “muitos individuais” ela está se referindo a crianças com síndromes

específicas.

Page 89: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

86

nunca deveriam ter sido assim, rotulados nem entrado em estatísticas de

Educação Especial (p. 190).

Assim, pode-se compreender uma grande lacuna em relação ao público da

Educação Especial, uma vez que, nem sempre são deficientes de acordo com a Psicóloga II e

com a Psicopedagoga I. Dessa maneira, a Educação Especial de acordo com Bueno (1997),

contribuiu para a disseminação da idéia de irreversibilidade da anormalidade, ou seja, uma

vez deficiente na sala de recurso, será sempre deficiente.

Esse deficiente, contudo, são os chamados “deficientes intelectuais

educáveis”, que não têm suas capacidades totalmente prejudicadas e formam desse modo o

público da sala de recurso, que nada mais é do que os alunos oriundos das classes especiais:

Psicoped. I – 2.113 Elas foram automaticamente, porque as crianças que

estavam nas classes especiais, elas já tinham avaliação, e elas já tinham

diagnóstico de deficiência intelectual.

Psicoped. I – 2.114 Então, quando a classe especial fechou, elas já foram

direto para o atendimento.

Este deslocamento também pode ser visto como uma “continuação” um

“apêndice” das classes especiais, que na verdade, apenas mudaram de nome, para se

adequarem às leis vigentes, mas, no entanto, continuam como classes segregadoras mesmo

dentro do ensino regular sob a denominação agora de sala de recursos.

Estas salas, por sua vez, se diferenciam das classes especiais em relação ao

seu funcionamento: não são seriadas e funcionam no contraturno do ensino regular (os alunos

precisam estar matriculados no ensino regular para poder frequentar a sala de recursos) e em

relação a sua metodologia, que agora passou a ser multifuncional, abarcando apenas as

deficiências.

Psico. II – 1.47 porque, porque as salas de recurso vão esvaziar, porque na

verdade, crianças com deficiência, são poucas, mais para o MEC se tiver

um deficiente na sala de recurso, a sala de recurso continua aberta...

Psico. II – 1.48 Exatamente, a maioria são TDAH e a gente fez um

levantamento a maioria são TDAH e limítrofes, e a gente não pode fechar as

salas de recurso.

Essa nova configuração da sala de recursos não a abstém de manter

comportamentos “historicamente marcados” em relação a seus alunos. Esse ponto é

importante, pois a crítica não se dirige a professora específica da sala, mas a toda constituição

Page 90: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

87

e institucionalização que foi cristalizada ao longo de anos, na qual se atribui a causa do

insucesso escolar à própria criança, isentando a escola de suas responsabilidades.

Essa transferência de responsabilidades para “causas variáveis” que não são

pedagógicas, também foram suscitadas nos relatos da professora e da psicóloga:

Prof. I – 2.94, 95, 96 é, apesar, que eu tenho crianças, que precisariam

fazer fono, mas o município não tem, fono, (...) daí eles acabam ficando sem

atendimento de fono (...) É difícil porque eles precisam, é porque eles têm

dificuldade na fase de alfabetização, eles falam errado, trocam letras nas

pronúncias, acaba trocando letras na escrita. Então, fica bem complicado o

processo de alfabetização deles.

Prof. I – 2.118 Então, eles, eles porque alguns não têm almoço, comem na

escola, o que eles comem o dia inteiro é o que tem na escola, e isso afeta

muito a aprendizagem... Não aprendem com fome.

Prof. I – 2.119 Sabe, são muito carentes... É difícil, mais é a vida...

Prof. I – 2.123 Porque muitas vezes a criança não consegue fazer a

atividade, não consegue compreender né, o conteúdo, qual a maneira que

ele tem pra chamar a atenção? Ele vai agredir o amigo,

Prof. I – 2.124 Ele vai ficar levantando do lugar, vai ficar provocando a

professora sabe? Pedindo toda hora pra sair pra fora da sala, então, são

comportamentos que se percebe, que isso ta relacionado com a

aprendizagem. Porque não consegue fazer isso, ele, ele, procura outras

coisas pra fazer sabe,

Prof. I – 2.145 Um menino além de, ele tinha deficiência física e é portador

do HIV. Do vírus HIV, e ele assim, ele tinha bastante dificuldade, ele não

tinha deficiência intelectual, não era, era preservado, não tinha nenhum

comprometimento nessa área, mas ele já tava apresentando dificuldade na

sala de aula,

Psico.I – 2.44 Porque tem criança que ta, que ainda não ta, não percebeu

ainda que a escola é pra aprender,

Psico. I – 2.45 Ela aponta pra mãe, ela fala que a mãe ensina, que é em

casa que ela aprende,

Psico. I – 2.82 Porque daí a criança normalmente come a merenda na

escola né, ela recebe essa verba. E isso impulsiona a sua aprendizagem.

Tais relatos apontam várias justificativas para o fracasso escolar da criança,

reafirmando conceitos que se centram apenas na questão do indivíduo e na subjetividade do

problema, por meio de um “psicologismo” que extrapolou os muros escolares e se sobrepôs

ao pedagógico.

Page 91: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

88

Observam-se nas falas da professora e da psicóloga, questões referentes à

ordem individual, imputando ao aluno a responsabilidade pelo fracasso, justificada por meio

de sua história de vida, de mitos como desnutrição, além das dificuldades de aprendizagem

decorrentes do processo de alfabetização (Amaral, 2001).

A teoria da carência cultural se faz presente nas falas de ambas

entrevistadas, embasando a explicação do mau desempenho da criança, por influência de uma

visão elitista e racista, na qual, define-a em situação de déficit cultural, e assim,

“diagnosticada” como incapaz de apreender algo.

Patto (1993) destaca:

(...) a perspectiva da carência cultural se encontrava encoberta por

pressupostos ideológicos, uma vez que, ao estabelecer um perfil de ambiente

e hábitos inadequados e favorecedores do fracasso escolar, ao mesmo tempo,

valorizava-se um perfil de aluno e de família ideais, próximos do perfil da

classe dominante. Essa perspectiva estava impregnada de ideais que

definiam quais seriam os alunos fadados ao fracasso e quais seriam

propensos ao sucesso, da mesma forma, preconizava que fatores

psicológicos e mentais seriam responsáveis pelo baixo rendimento dos

alunos. Essa visão sobre a causa do fracasso escolar das crianças acabava

por, indiretamente, responsabilizá-las pelo seu próprio malogro (p. 89).

Esse processo de responsabilização da criança, a partir do seu diagnóstico,

que subsidia a classificação e o encaminhamento da mesma, passa por procedimentos de

avaliação diante da queixa escolar. Tais procedimentos são: observação, anamnese, sessões

lúdicas, testes de inteligência e testes projetivos.

Todas essas etapas são realizadas na própria escola com o intuito de achar

uma resposta para todas essas incapacidades do aluno. E essas respostas são buscadas por

meios psicométricos:

Prof. I – 1.9 - eu chamo a criança aqui na minha sala e faço com ela,

alguns testes. E também algumas atividades que possam me trazer

uma resposta de como ela está né, de como ta a aprendizagem dela

em sala de aula.

Psico. I – 2.25 Ai, com o intuito de detectar a deficiência intelectual

né, e na maioria das vezes na verdade a gente encontra um limítrofe

né, Ou mesmo um médio inferior,

Psico. I – 2.60, 61 Se a gente precisa aplica alguma complementação de

avaliação na escola, nós vamos até a escola sem a professora da sala de

recursos, ela não precisa ir, ela vai em outro dia. Nós vamos até lá,

aplicamos o teste, pra poder discutir depois.

Page 92: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

89

Psico. I – 2.62 A partir da avaliação dela já têm vários indícios de que a

criança possa ser uma deficiente intelectual, ai o teste formal vai

simplesmente comprovar isso né,

Psico. I – 2.64, 65 Primeiro tem que ter a confirmação do teste formal,

porque só se tiver um teste formal, que ela vai ser encaminhada, a menos

que seja deficiente físico né. Porque dai já ta comprovada a deficiência

mesmo, ele já vem com laudo médico né, ou então é aparente a deficiência.

Tanto as falas da psicóloga como da professora vão ao encontro do que

Anache (2005) expõe em relação à prática do diagnóstico baseado na psicometria (estrutura

de diagnóstico) para fins classificatórios (objetivo), buscando uma causa para justificar, ou

apenas constatar, a deficiência do aluno. Causa esta, geralmente, de natureza endógena e sob

um olhar medicalizado.

Outro ponto também decorrente das falas, especificamente da psicóloga,

evidencia o papel do psicólogo na avaliação diagnóstica desses alunos, restrita a uma não

convivência no ambiente acadêmico, mas com influência suficiente para encaminhá-lo para

um atendimento especializado.

Anache (2005) discorre sobre tal fato:

(...) o psicólogo vai para a escola realizar o diagnóstico psicológico através

da aplicação de uma bateria de testes em alunos que estão apresentando

dificuldades no processo ensino-aprendizagem com o objetivo de classificá-

lo como deficiente ou não, de acordo com os resultados obtidos nessas

provas. Essa postura é semelhante à do médico que olha o "doente" e, em

alguns minutos, emite um diagnóstico e um remédio (p. 5).

Com a influência da psicologia psicométrica essa necessidade de

diagnosticar e classificar, no ambiente escolar, é muito forte, contudo, outro ponto que

também é comum e pode ser percebido nas falas seguintes, é a necessidade da avaliação e do

diagnóstico “fora da escola”. Essa necessidade prioriza a busca por soluções para resolver as

dificuldades do aluno em outras áreas, principalmente, nas áreas médica e psicológica para

que se possa desse modo atestar a doença da criança.

Essa busca pelas outras áreas de avaliação, também permitem um maior

alcance das instituições privadas, as quais continuam bem presentes na educação das crianças

com deficiência.

Page 93: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

90

Psicoped. I - 2.49 o aluno com deficiência tem atendimento em outras

instituições, é ele pode fazer fono, T.O44

, fisio, psicólogo em outras

instituições e ai ele já tem uma agenda lotada, você não tem como colocar

ele muitos dias no atendimento educacional especializado, porque ele já ta

na instituição particular.

Prof. I – 2.81,86 criança que eu tenho, ela tem um laudo que indica

deficiência intelectual, (?), foi uma criança que foi avaliada, achamos que

ela poderia ter um atraso no desenvolvimento, poderia até ter um TGD, um

transtorno global do desenvolvimento. Mas eu encaminhei pro COL, e lá ele

foi reavaliado né, e um neurologista enviou de volta um laudo de deficiência

intelectual, mas mesmo assim, o COL ta dando atendimento é de

fisioterapia, de terapia ocupacional, fono, psicólogo e ainda com o

neurologista. É não tão dando o atendimento pedagógico porque eles não

têm vaga na sala pra atendimento pedagógico. É, então, por enquanto esse é

o caso que eu tenho que é um caso um pouco mais sério, que ele não tem

linguagem, ele não fala, sabe, agora ele começou a falar mais assim

palavras soltas. Do nada assim ele fala uma palavra ta, e então ele é uma

criança um pouco mais difícil pra trabalhar com ele, sabe,

Prof. III - 2.85 E então, as crianças estão tendo muitas atividades...

Geralmente a criança de sala de recurso hoje, ela tem TO, ela tem fono, ela

tem psicóloga, ela tem é o que mais, ecoterapia, se você ver as fichas das

minhas crianças, quase todas tem, então a gente ta atendendo uma vez só,

Psico. I – 2.84 Porque quando são, por exemplo, DF eles têm muito

atendimentos também, tem TO, fisio, então assim, tem uma agenda bem

cheia,

Psico. I - 1.61 E acaba o tempo, e a criança ficando muito cheia, e a gente

ta, não, tudo bem né, deixa, passa pra uma vez na semana só, e ai há o

desligamento.

Desse modo, as falas reproduzem a priorização da Educação Especial no

sistema privado e filantrópico de ensino, uma vez que, à medida que as crianças vão

aumentando seus afazeres (psicólogo, T.O, fisioterapia, fonoaudiologia, ecoterapia...) sua

frequência na sala de recurso vai diminuindo, para não sobrecarregá-las, deixando em

segundo plano o pedagógico.

Assim, as instituições privadas, bem como as filantrópicas, de acordo com

Corrêa e Meletti (2008) ainda mantêm-se fortes enquanto possibilidade de ação educativa,

muitas vezes, em detrimento do ensino especial nas escolas regulares, quando se trata de

deficiências mais severas, ou que fogem do conhecimento do professor, não proporcionando

assim, uma inclusão total de alunos com necessidades educacionais especiais.

44

Terapia Ocupacional.

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91

O professor da sala de recurso é o responsável pela triagem e pela avaliação

dentro da escola, encaixando-se assim, ao que Collares e Moysés (1992) já afirmaram:

(...) essa forma de atuar leva a um processo de patologização que altera as

relações profissionais na escola, quando transforma os professores -

"responsáveis por analisar e resolver os problemas educacionais" - em

triadores de alunos para encaminhá-los aos especialistas da saúde (p. 32).

Essa afirmação pode ser confirmada, a partir de algumas falas da psicóloga

e da professora da sala de recurso:

Psico. I – 1.22 Partindo desse momento, as avaliações, essa porta de

entrada que nós fazíamos na escola, que era a conversa com a supervisora,

aquela avaliação pedagógica inicial, passou a ser função das professoras de

sala de recurso.

Prof. I – 2.22, 23 (...), nem todos tem essa mesma agenda né, mais seria

assim, de segunda a quinta ele faz o atendimento em sala de recurso, que é a

intervenção mesmo, e ai eles têm, por exemplo, a sexta feira livre para fazer

as avaliações.

Prof. I – 2.43 porque nem toda criança que a gente avalia, mesmo fazendo a

triagem antes. Mais nem toda criança que chega pra gente é deficiente, é do

nosso público alvo. De sala de recurso né.

Assim, a partir das citações apresentadas pelos profissionais, podemos

observar alguns dados importantes dos seus relatos que englobam a sala de recursos como um

local para atendimento de crianças com algum tipo de deficiência “leve”, as quais, em sua

maioria também frequentam atendimentos (fonoaudiólogo, psicólogo, terapeuta ocupacional,

fisioterapia, entre outros) especializados em outras instituições.

Outro ponto, em relação à quantidade de atendimentos em outras

instituições, é a priorização deles, uma vez que, se a criança possui muitos atendimentos em

outras instituições, sua quantidade e horário na sala de recursos diminuem. Dessa maneira, o

trabalho na sala de recursos vai se construindo a partir da necessidade e do perfil do seu

alunado, ou seja, este é o móbil para as ações educativas, sejam elas benéficas (aprendizagem)

ou maléficas (culpabilização).

Tais pontos descritos nas entrevistas podem ser facilmente relacionados com

o referencial desta pesquisa, que traz uma breve trajetória da constituição das classes especiais

e do processo avaliativo das mesmas correlacionando décadas passadas com as novas

reestruturações de hoje.

Page 95: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

92

Diante dessa relação, percebe-se uma “evolução estagnada”, ou seja, uma

tentativa de melhorias, ao mesmo tempo em que se mantém uma “mentalidade cristalizada”

de preceitos, conceitos e ações que são reproduzidas a todo o momento no ambiente escolar.

Assim, a partir dos resultados apresentados e discutidos, puderam-se inferir

alguns pontos, em relação aos processos de avaliação, diagnóstico e encaminhamento de

alunos que frequentam em especial a sala de recursos do Município, e começar a traçar um

panorama de como se estabelece a Educação Especial no mesmo.

Do mesmo modo será feito esse traçado com a análise dos laudos.

6.2 Laudos

Os laudos são instrumentos psicológicos com o objetivo de conseguir uma

descrição e compreensão mais completa e profunda possível do indivíduo (OCAMPO,

ARZENO, PICCOLO, 1987) a partir da queixa indicada para sua análise, proporcionando

assim, a obtenção de dados que servem de base para encaminhamentos e possíveis

intervenções (pedagógicas, médica, psicológica).

Assim sendo, optou-se por analisar 30 laudos como fonte de informação

(todos resumidos, com dois itens na íntegra: “Motivo do Encaminhamento” e “Conclusão e

Encaminhamento”) sendo 10 de cada professora entrevistada da sala de recurso.

Ao final das solicitações de avaliação pedidas pela escola a professora da

sala de recurso juntamente com a psicóloga requisitada, caso haja a necessidade de aplicação

de testes psicológicos, e a psicopedagoga redigem um laudo (relatório) com todas as

informações obtidas no período de avaliação, seguindo um padrão proposto, que inclui os

itens: “Identificação”; “Motivo do encaminhamento” (copiado na íntegra); “Análise do Caso”;

“Conclusão e Encaminhamento” (copiado na íntegra) e “Medidas de Intervenção”.

Todos os laudos seguem o mesmo padrão, assim como, as respostas

elaboradas na análise do caso e na conclusão do encaminhamento que contém as concepções

teórico-metodológicas utilizadas pelos profissionais avaliadores. Esse padrão é dividido em

cinco sessões para a apresentação de informações e discorrem sobre especificidades em cada

uma delas.

Na sessão “Identificação” encontram-se as informações referentes aos dados

pessoais da criança, tais como nome, endereço, nome da escola que estuda e nome da escola

que pediu a avaliação (caso não estude na mesma escola), nome dos pais, série que está

cursando, número de repetências, data da avaliação e a data da entrada na sala de recursos. No

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93

campo destinado ao “Motivo do encaminhamento” informa a queixa atribuída à criança. A

“Análise do Caso” informa de maneira resumida o desenvolvimento da criança, as relações

com sua família e na escola, a anamnese, os instrumentos utilizados para a avaliação, os testes

aplicados e os seus resultados. A seção “Conclusão e Encaminhamento” contêm os resultados

concluídos e o tipo de atendimento direcionado à criança. E por fim, as “Medidas de

Intervenção” apresentam possíveis meios para contribuir no trabalho do professor.

Para a análise dos laudos, o critério de seleção utilizado foi apenas a escolha

de prontuários mais recentes, a partir de 2009 (ano em que ocorreu o fechamento das classes

especiais no Município). Desse modo, foram analisados os laudos referentes aos anos de

2010, 2011 e 2012, que foram disponibilizados pelas professoras das salas de recurso.

Todos os laudos possuíam a identificação da criança, contudo, nos

restringimos em copiar apenas a idade, a série que está cursando, a data da avaliação e o

número de repetências caso houvesse.

Após esses dados de identificação, seguem-se os Motivos de

Encaminhamento, relatados pelo professor da criança encaminhada, com base em observações

no ambiente escolar e em preenchimento de prontuários. Tais motivos compõem a queixa

escolar, que também é uma das condições de permanência da criança no atendimento

especializado.

Um aspecto importante e recorrente nesse ponto é a grande utilização de

jargões e de conceitos amplos nas queixas, que muitas vezes não explicam o problema e ainda

trazem diferentes significados para quem os interpreta. Além disso, estão imbuídos de falta de

significado pedagógico para uma análise mais profunda da possível necessidade especial da

criança.

Nos laudos analisados, as queixas, entre outras, compreendiam: “Não se

concentra, é arredio, não aceita regras sócio-educativas”, “Impaciente, não consegue

realizar as atividade propostas, faz da maneira que acha correto”, Tímido, fala muito pouco

com a professoras e com os amigos”, “mau comportamento no ambiente escolar dificuldade

na linguagem expressiva”, “Apresenta sonolência e às vezes dorme em sala de aula, quando

acordado por amigos ou pela professora fica muito agitada, chora e quer sair da sala”, “É

tímido, não se expõe, raramente participa de atividades orais”, “É esforçada mas se distraí

com facilidade”, “Na maioria das vezes torna-se agressivo e quando é contrariado tenta

resolver agredindo os amigos”.

É possível perceber em tais relatos, o não esclarecimento da queixa escolar,

denotando aspectos subjetivos e “soltos”, que não incluem aspectos pedagógicos e nem

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94

possuem uma base sólida para alcançar tais aspectos. Essa ausência pedagógica na construção

das queixas é muitas vezes sobreposta pelos fatores comportamentais e emocionais, que

segundo, Caldas (2005) “são tidos como causas das dificuldades escolares, quando deveriam

ser pensados como consequências” (p. 28).

A apresentação das queixas escolares nos laudos analisados, afirmam a

atribuição da causa da “não aprendizagem” da criança a questões intelectuais,

comportamentais ou emocionais individuais. De acordo com Caldas (2005), o “„problema

emocional‟ passa a ser a explicação para a dificuldade de aprender, não sendo levado em

conta o que a escola produz, em termos emocionais, na criança que tem constantes insucessos

acadêmicos” (p. 28).

Patto (1981) também tece críticas a essa transição de responsabilidades:

Não se trata de negar a existência de problemas emocionais, conflitos,

dificuldades familiares ou outras questões individuais das crianças. A

questão é não estabelecer relação causal linear entre estes fenômenos e a

capacidade para aprender. É preciso pensar na rede de agentes produtores da

incapacidade. Além disto, mesmo quando há fenômenos psicodinâmicos que

possam trazer impedimentos ao desenvolvimento saudável da subjetividade

da criança, é preciso avaliar como é que a escola se relaciona com estes

fenômenos (p.52).

Assim, a escola muitas vezes investe na avaliação do aluno embasada nos

problemas comportamentais e emocionais dispostos na sua queixa, os quais são a base para a

avaliação e consequentemente para o diagnóstico e o encaminhamento, possuindo, dessa

maneira, um papel bem importante na superação ou na confirmação/agravação das

dificuldades dos alunos.

Seguindo os Motivos de Encaminhamento, o próximo item é a Análise do

Caso, que tem como marca forte o fato de ser centrada na história da vida da criança (parto,

nascimento, desenvolvimento, acontecimentos traumáticos – “Parto normal”, “Possui o sono

bom”, “Demorou a andar”, “É dependente quanto aos cuidados de higiene”...), em

antecedentes de problemas mentais na família (“O pai é esquizofrênico”, “O mãe freqüenta o

CAPS”...), em aspectos referentes aos comportamentos da criança na sua vida pessoal e na

escola (“Tem poucos amigos, é chorão e nervoso”. “É assíduo e gosta da escola”, “É tímido

e não interage com os seus colegas”...) e aos resultados de seus testes e avaliações

(“Reconhece as vogais a, o, u”, “Nas Provas Projetivas apresentou vínculo com a

aprendizagem e com os objetos escolares, mas não se coloca como aprendiz”, “Apresentou

desempenho intelectual global abaixo da média esperada para crianças da sua idade no

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95

WISC III”.

Esses dados deveriam fornecer elementos suficientes para proporcionar uma

imagem da criança encaminhada. No entanto, a soma dessas informações “a gestação foi sem

intercorrências, parto normal, a marcha se iniciou com um ano e meio, provoca os alunos do

grupo que ta e acaba brigando, o caderno é descuidado e rabiscado, o pai freqüenta o

CAPS”, apenas dá fragmentos da história de vida da criança, sem uma articulação que leve

aos motivos de seu encaminhamento, isto é, uma imagem centrada nos aspectos individuais

ou familiares de natureza física ou emocional.

Essa imagem, por sua vez, centra as hipóteses da queixa escolar em um

“padrão de entrevista”, que nivela as perguntas, rechaçando as particularidades e, desse modo,

a diversidade que existe entre as crianças e suas diversas queixas escolares e histórias de vida.

A esse propósito Souza (2005) expõe “há um percurso seguido pelo entrevistador que, na

maioria das entrevistas analisadas, é padronizado, pré-determinado, repetitivo, previsível. Ao

ler uma entrevista tem se, em muitos momentos, a impressão de já ter lido todas” (p. 3).

Essa mesmice está muito aquém do esperado dos objetivos do laudo, visto

que, deveria permitir um maior esclarecimento da queixa escolar da criança, assim como,

deveria ter um direcionamento mais instrutivo pelo entrevistador. Segundo Souza, (2005):

Observa-se que os prontuários referentes às entrevistas de triagem são os que

apresentam as maiores lacunas no entendimento da queixa escolar. A

maneira como muitas entrevistas são conduzidas mostram ausências quanto:

a) às informações mais precisas a respeito dos atendimentos prévios pelos

quais a criança tenha passado; b) à clareza do que de fato se passa com essa

criança, utilizando-se muitas vezes uma linguagem cifrada, com frases

curtas, pouco descritivas, como um receituário médico; c) à percepção do

psicólogo em relação à relevância desse momento de avaliação (p. 9).

Outra questão importante nesse mesmo item são as questões relatadas em

situações vividas pela criança e o avaliador no contexto de atendimento. Estas questões não

estabelecem um “diálogo” com as situações vividas pela criança e com o que foi produzido

nas avaliações. Esse desencaixe impede o esclarecimento de muitas respostas relacionadas ao

que se passa na escola (“Precisa que explica a atividade mais de uma vez para entender”,

“tem dificuldade de copiar as atividades da lousa e o nome no crachá”, “tem dificuldade

com coordenação motora”, “diálogo espontâneo com tom de voz baixo”), deixando desse

modo, “frases soltas” sem um significado mais veemente e sem possibilidade de

questionamento das mesmas.

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96

Ainda nesse item, o assunto “escola” torna-se mais presente, juntamente

com o principal instrumento de avaliação dos problemas escolares – os testes.

A questão da utilização das medidas de inteligência como o principal

instrumento de avaliação psicodiagnóstica, coloca-nos diante de situações

dramáticas em relação aos encaminhamentos escolares, principalmente de

crianças multi-repetentes ou que vivem um processo de escolarização em

que não se acredita em sua capacidade. As medidas de inteligência são

usadas no caso de crianças que, na maioria das vezes, apresentam uma

história escolar conturbada, repleta de maus entendidos, ou até produtora de

uma cronificação na relação de aprendizagem em que a criança acaba sendo

convencida de sua própria incapacidade para aprender (SOUZA, 2005, p.

13).

Os testes se apresentam como um modelo padrão de análise da queixa

escolar, cristalizado, de acordo com Souza (2005, p. 10), como “um modelo diagnóstico

considerado como „clássico‟ e que acaba não sendo questionado pelo profissional, pois é „algo

que todos os psicólogos fazem‟, demonstrando que as possíveis críticas são engolidas por uma

prática clínica cotidiana”. Assim, sua utilização conforme a mesma autora se efetua para dar o

“aval „científico‟ a explicações (relações causais) que preexistem ao exame psicológico” (p.

12), dando um caráter assim, mais “diagnóstico” à situação proposta.

Esse caráter por sua vez, é demarcado essencialmente pela aplicação do

WISC, do Teste de Matrizes Progressivas Coloridas – Escala Especial Raven, do Teste

GestálticoVisomotor de Bender, das Provas de Diagnóstico Operatório e das Provas

Projetivas (desenho), os quais padronizam a avaliação psicológica educacional, a partir do

desempenho realizado pela criança, ou melhor, a partir do seu mau desempenho.

Essa padronização de desempenhos demarca características nas quais o

aluno é envolvido devido à dificuldade de aprender como as outras crianças, surgindo nesse

sentido, comparações perigosas, de acordo com Moysés e Collares (1997). Essas

comparações, por sua vez, são rótulos que muitas vezes se disseminam na escola, sob a

dimensão do “melhor” e “pior” aluno, assim como, do “fraco”, como comumente são

chamadas as crianças que não conseguem aprender como as outras na escola (CALDAS,

2005).

Ainda no sentido prejudicial da comparação, Santa Rosa (2008) relata que

ao adotar um modelo de comparação ao invés de se compreender os determinantes sociais, no

caso específico dessa pesquisa - da aprendizagem - a Psicologia rende-se ao tecnicismo e

atende as necessidades do sistema social, produzindo os tipos humanos próprios de cada

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97

época. Ou seja, ditando o padrão que os testes classificarão como o ideal para o sistema de

ensino.

Patto (1997) discorre sobre essa situação:

(…) o que aparece como natural é social; o que aparece como a-histórico é

histórico; o que aparece como relação justa, é exploração; o que aparece

como resultado de deficiências individuais de capacidade é produto de

dominação e desigualdade de direitos determinada historicamente (p. 57).

Assim, a Psicologia e a Educação distinguem as crianças em capazes e

incapazes de aprender, a partir de seus recursos enquanto autoridade científica, atestando as

dificuldades como pertencentes aos estudantes (CALDAS, 2005). Tal atestação, ainda

segundo Caldas (2005) “tira o foco do que é historicamente determinado, e volta o olhar para

a criança com todas as suas faltas e deficiências” (p. 25).

É interessante buscar nesse assunto, pontos importantes relacionados aos

laudos analisados, uma vez que, os resultados dos testes não demonstraram “grandes

dificuldades” das crianças analisadas, a ponto de inferirem uma deficiência (Escala Raven –

Potencial na medida esperada para as crianças de sua idade; WISC – Desempenho

Intelectual Global no limite esperado para crianças da sua idade...), no entanto, suas

conclusões apontam para a necessidade do serviço especializado (sala de recurso),

contrariando, assim, o resultado obtido sem nenhuma justificativa aparente para tal

designação.

Outro ponto importante pode ser percebido mais claramente na justificativa

para o bom desempenho nas Provas de Diagnóstico Operatório de um dos laudos, no qual

aponta – “O melhor desempenho nesta prova é devido a sua experiência com reciclagem de

lixo” - responsabilizando, desse modo, a condição de vida da criança em detrimento do seu

bom desempenho pedagógico.

Esse foco pode indicar uma inadequação no tratamento conferido para essa

criança, uma vez que, sua condição social torna-se mais uma “condição” para seu

encaminhamento ao Atendimento Educacional Especializado em sala de recurso, como pode

ser concluído no item IV. Conclusão e Encaminhamento, o qual é basicamente redigido em

um mesmo padrão para todos os laudos:

Não adquiriu os pré-requisitos importantes ao processo de alfabetização, por

isso é necessário que na sala de aula faça atividades que contemplem as

defasagens constatadas (...). Tem ritmo diferenciado de aprendizagem, é

mais lento, precisa de tempo maior e precisa de um acompanhamento

pedagógico pela Educação Inclusiva, com metodologia de ensino e estratégia

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98

diferenciada. Encaminhado para o Atendimento Educacional Especializado

em sala de recurso (IV. CONCLUSÃO E ENCAMINHAMENTO –

LAUDO ANALISADO).

Tal afirmação, conforme Sampaio (2004) traz a condição dos pré-requisitos,

os quais vêm mostrar que “aquilo que não pôde ser adquirido, não o será mais,

transformando-se num problema” (p. 50). Tal problema, por sua vez, não diz respeito à série

atual, nem a escolaridade do aluno, mas sim a ele que não se preparou pessoalmente, “e agora

é incapaz de aprender, pois não adquiriu os pré-requisitos no momento em que foram

transmitidos” (p. 50). Os pré-requisitos se articulam aos conteúdos curriculares e objetivos,

estabelecendo uma sequência contínua no tratamento dos conteúdos, evidenciando um padrão

a ser seguido. Essa padronização, por sua vez, acaba não oferecendo uma atenção necessária à

queixa escolar, afirmando o que Souza (2005, p. 12) expõe: “Mais uma vez as diferenças

presentes no início do atendimento dos casos encaminhados por queixa escolar se

transformam, no final do processo de atendimento, em semelhanças”. Assim, o processo

pedagógico se dilui, dando lugar apenas ao resultado e às experiências recentes, como se todo

o percurso acadêmico não tivesse tanta importância.

Além desse ponto, outro que se destaca são as V. Medidas de Intervenção,

as quais são relatadas no final do laudo, de uma maneira bem ampla, que não possui um

alcance tão pontual para um respaldo ao professor – “Organizar atividades estimulantes com

dificuldades progressivas, para que a criança acerte com freqüência e vá se sentindo mais

seguro, confiante e capaz”, “Fortalecer o vínculo com a aprendizagem mostrando-lhe sua

capacidade, colocando-se ao seu lado, dando-lhe segurança e autonomia”, “Elevar a

autoestima, colaborando para que o aluno vivencie situações de sucesso e sinta-se capaz de

aprender” – e nem pontua uma intervenção específica para o aluno, apenas relata uma ação

necessária, que não seria importante apenas para a criança com necessidade educacional

especial, mas sim para todas.

Assim, este item, bem como toda a estrutura do laudo deveria apontar a

situação da criança, suas limitações educacionais e possibilidades de trabalho que garantissem

as mesmas condições de direitos educacionais a todas as crianças, sem um foco generalizado

na doença e no indivíduo. Maia (1997) discorre:

Enfim, um documento que, sem buscar nomes ou rótulos para

comportamentos, pudesse ser claro, ético e esclarecedor de novos caminhos

a serem trabalhados com esta criança à luz de uma “avaliação” ampla da

criança em um contexto histórico e social. Muitas vezes, o laudo é limitado

pela própria natureza da avaliação e seus resultados pouco ou nada ajudam o

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99

professor a lidar com a criança, pelo contrário, fazem-no olhar para ela como

“x” ou “y” que o laudo, soberano em seu julgamento, pôde revelar (p.121-

122).

Dessa maneira, podemos perceber que a construção do laudo do aluno nada

mais é que sua identidade escolar, que embora padronizada e com vários aspectos reticentes, é

a sua “apresentação”, bem como a da escola, que através do laudo constrói e apresenta sua

percepção de estrutura de Ensino Especial.

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100

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das análises propostas, pode-se perceber uma estrutura de Educação

Especial no Município de Londrina não muito diferente do que é apresentado no referencial

teórico, nos levando a concluir que mesmo nos dias atuais há um predomínio de práticas

recorrentes no Ensino Especial de tempos atrás. Tais práticas, no entanto, ainda se centram

nas questões do indivíduo, privilegiando conforme Dias (2008, p. 26) “uma concepção

subjetivista dos problemas”, além de muitas questões “reduzidas ao psicologismo, acentuando

a cisão indivíduo e sociedade”.

A Psicologia ainda continua sendo um modelo bem forte dentro do ambiente

escolar, no qual encaminha as supostas crianças com necessidades educacionais especiais – de

acordo, com a sua concepção sócio-histórica burguesa – para o local “mais adequado” a elas.

Para esse encaminhamento, os procedimentos adotados são predominantemente os

tradicionais instrumentos de avaliação da psicologia – os testes psicométricos – que avaliam a

queixa escolar, diagnosticando as prováveis deficiências.

Maia (1997) discorre sobre os testes:

O uso de testes de diferentes naturezas é hoje um foco importante de

reflexão. Os testes por si mesmos acabam tendo o poder de definir,

classificar, “diagnosticar” e padronizar comportamentos diversos das

crianças. Os testes, em geral, são instrumentos padronizados de medidas de

habilidades diversas, amplamente utilizados por psicólogos. São

instrumentos válidos de investigação de como o indivíduo se comporta no

mundo, embora possam trazer complicações em sua tradução e adaptação, e

quase nunca considerarem a diferença entre o nível sócio-econômico cultural

da população para a qual foi padronizado em sua origem e a população na

qual é aplicado (p. 122).

Desse modo, os testes de Inteligência utilizados para a avaliação de crianças

no Ensino Municipal, são centrados no desempenho escolar, predizendo o sucesso ou o

fracasso dos alunos avaliados, por meio de seu diagnóstico rotulador de “portadores de

problemas de aprendizagem”. Assim, de acordo com Moysés e Collares (1997) configura-se o

cotidiano escolar patologizado, no qual as questões político-pedagógicas são deslocadas para

causas e soluções medicalizadas.

Essas causas e soluções podem ser percebidas no decorrer da avaliação

psicopedagógica do aluno, na qual, este deveria ser pensado em termos sociais, mas passa a

ser discutido individual.

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101

Essa avaliação, por sua vez, é realizada pela professora da sala de recursos

que é a responsável direta pelos alunos com necessidades educacionais especiais, abarcando

uma grande gama de funções que dificulta muito, um período maior de avaliação dos

mesmos. Juntamente com a avaliação pedagógica, a aplicação dos testes formais cabe à

psicóloga da equipe psicopedagógica, que vai à escola para fazer a aplicação dos testes, o que

não evita a aplicação dos mesmos de maneira instrumental, ou seja, com um fim em si

mesmo, deixando em segundo plano todo o percurso acadêmico da criança, sem maiores

questionamentos e entendimentos.

Para essa confirmação avaliativa toda criança “carrega” um laudo, que

expõe as suas dificuldades, bem como, a sua deficiência, além de todo “conhecimento que

ainda não se tem ou que é diferente do institucionalizado” (SALAZAR, 1996, p. 23). Tais

relatos também acompanham possíveis medidas interventivas para as dificuldades da criança

em questão, porém, não as dirigem para um auxílio mais efetivo das mesmas.

Assim, o potencial crítico dos psicodiagnósticos, conforme Santa-Rosa

(2008) está no aprofundamento dos seus resultados (o que não acontece nem minimamente),

sem rotulações ou conceituações preconceituosas, que possam realmente direcionar

pedagogicamente o aluno e o professor. Contudo, o progresso alcançado em toda a história da

Educação Especial, ainda de acordo com Santa-Rosa (2008) não atende as necessidades

humanas e sim a manutenção do próprio sistema social.

Essa manutenção ainda persiste e é bem evidente em todo o processo de

avaliação diagnóstico e encaminhamento de alunos do sistema municipal de ensino de

Londrina, no qual, utiliza-se da Psicologia como instrumento de ajustamento dos indivíduos a

papéis determinados ou a comportamentos considerados adequados, por meio de uma

avaliação, que indica o melhor local de atendimento para essa criança.

Desse modo, esta pesquisa não esgota o tema em questão, contudo,

direciona uma reflexão para esses processos avaliativos que ainda se mostram cristalizados,

com ênfase no psicológico em detrimento do pedagógico, mesmo dentro de um sistema de

Ensino.

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111

ANEXOS

Page 115: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

112

ANEXO A

Page 116: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

113

ANEXO B

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Titulo da pesquisa:

“Avaliação, diagnóstico, e encaminhamento de alunos com necessidades educacionais

especiais no sistema municipal de ensino de Londrina-PR”

Prezado (a) Senhor (a):

Gostaríamos de convidá-lo a participar da pesquisa “Avaliação,

diagnóstico, e encaminhamento de alunos com necessidades educacionais especiais no

sistema municipal de ensino de Londrina-PR”, realizada na Secretaria de Educação e nas

unidades escolares do sistema municipal de Londrina. O objetivo da pesquisa é analisar os

processos de avaliação, diagnóstico e encaminhamento de crianças com necessidades

educacionais especiais, da Rede Municipal de Ensino de Londrina após o fechamento das

classes especiais e da dissolução da equipe psicopedagógica que atuou até 2009 na referida

rede de ensino.

A sua participação é muito importante e se dará por meio de entrevistas

semi-estruturadas, com roteiro previamente estabelecido, gravadas em aparelho áudio

gravador. Gostaríamos de esclarecer que sua participação é totalmente voluntária, podendo o

(a) senhor (a): recusar-se a participar, ou mesmo desistir a qualquer momento sem que isto

acarrete qualquer ônus ou prejuízo à sua pessoa.

Ressaltamos que as informações serão utilizadas apenas para fins desta

pesquisa e serão tratadas com o mais absoluto sigilo e confidencialidade, preservando

sua identidade. Destacamos, ainda, que os registros das gravações das entrevistas serão

destruídos pela pesquisadora ao término do estudo.

O benefício esperado com esta pesquisa é a ampliação dos conhecimentos

acerca dos processos de avaliação e de encaminhamentos de alunos com necessidades

educacionais especiais, a partir da realidade escolar e da experiência de profissionais das áreas

de Educação e de Educação Especial.

Londrina, ___ de ___________de 2011.

Pesquisador Responsável

RG:__________________________

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114

_____________________________________ (nome por extenso do sujeito de pesquisa),

tendo sido devidamente esclarecido sobre os procedimentos da pesquisa, concordo em

participar voluntariamente da pesquisa descrita acima.

Assinatura:____________________________

Data:___________________

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115

ANEXO C

TERMO DE CONFIDENCIALIDADE E SIGILO

Eu Thaiza de Carvalho Corrêa, brasileira, solteira, aluna do mestrado em educação da

Universidade Estadual de Londrina, inscrito (a) no CPF sob o nº316.453.318-73 e sob o

número de matrícula 201110180398, abaixo firmado, assumo o compromisso de manter

confidencialidade e sigilo sobre todas as informações técnicas e outras relacionadas ao projeto

de pesquisa intitulado “Avaliação, diagnóstico, e encaminhamento de alunos com

necessidades educacionais especiais no sistema municipal de ensino de Londrina-PR”, a

que tiver acesso nas dependências da Secretaria de Educação do Município de Londrina e das

unidades escolares da rede municipal de ensino do referido município.

Por este termo de confidencialidade e sigilo comprometo-me:

1. A não utilizar as informações confidenciais a que tiver acesso, para gerar benefício próprio

exclusivo e/ou unilateral, presente ou futuro, ou para o uso de terceiros;

2. A não efetuar nenhuma gravação ou cópia da documentação confidencial a que tiver

acesso;

3. A não apropriar-se para si ou para outrem de material confidencial e/ou sigiloso da

tecnologia que venha a ser disponível;

4. A não repassar o conhecimento das informações confidenciais, responsabilizando-se por

todas as pessoas que vierem a ter acesso às informações, por seu intermédio, e obrigando-se,

assim, a ressarcir a ocorrência de qualquer dano e / ou prejuízo oriundo de uma eventual

quebra de sigilo das informações fornecidas.

Neste Termo, as seguintes expressões serão assim definidas:

Informação Confidencial significará toda informação revelada através da apresentação da

tecnologia, a respeito de, ou, associada com a Avaliação, sob a forma escrita, verbal ou por

quaisquer outros meios.

Informação Confidencial inclui, mas não se limita, à informação relativa às operações,

processos, planos ou intenções, informações sobre produção, instalações, equipamentos,

segredos de negócio, segredo de fábrica, dados, habilidades especializadas, projetos, métodos

e metodologia, fluxogramas, especializações, componentes, fórmulas, produtos, amostras,

diagramas, desenhos de esquema industrial, patentes, oportunidades de mercado e questões

relativas a negócios revelados da tecnologia supra mencionada.

Avaliação significará todas e quaisquer discussões, conversações ou negociações entre, ou

com as partes, de alguma forma relacionada ou associada com a apresentação da tecnologia

“xxx”, acima mencionada.

A vigência da obrigação de confidencialidade e sigilo, assumida pela minha pessoa por meio

deste termo, terá a validade enquanto a informação não for tornada de conhecimento público

por qualquer outra pessoa, ou mediante autorização escrita, concedida à minha pessoa pelas

partes interessadas neste termo.

Pelo não cumprimento do presente Termo de Confidencialidade e Sigilo, fica o abaixo

assinado ciente de todas as sanções judiciais que poderão advir.

Londrina, / /2011

Pesquisador (a) Responsável

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116

ANEXO D

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO

FICHA SÍNTESE – MODELO DE RELATÓRIO

I – Identificação do Aluno:

II – Motivo do Encaminhamento:

III – Análise do caso:

l correlacionar os dados significativos das entrevistas, informações fornecidas pelos

professores, análise do material escolar do (a) aluno (a), das observações, comportamentos

apresentados durante o processo de avaliação e o desempenho do mesmo nas áreas avaliadas

(do desenvolvimento e conhecimento).

IV – Conclusão e Encaminhamento:

V – Medidas de Intervenção:

Observações Complementares:

Local e Data:

_______________________,__________________________________________

Equipe Avaliadora:

Nome: Função/Cargo:

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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117

ANEXO E

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO

ÁREAS DO DESENVOLVIMENTO

Identificação do aluno:

Nome ______________________________________________________________

Data de nascimento: ___/___/_____

Área Cognitiva: (Presta atenção nas aulas ou é dispersivo; realiza atividades de sala de aula

de forma independente ou necessita de ajuda do professor ou colegas; persiste na realização

das tarefas ou desiste diante da primeira dificuldade; necessita de explicações complementares

para realização das atividades propostas com vistas a assimilação/compreensão dos

conteúdos; demonstra atitude positiva ou negativa em relação aos conteúdos acadêmicas;

apresenta facilidade na expressão verbal; demostra criatividade de pensamento; sensibilidade

artística; demostra preferência por algumas atividades específicas; resolve problemas do seu

cotidiano; entre outros.)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Área Afetiva: (Demonstra interesse e iniciativa para realização as atividades acadêmicas;

reações diante as frustrações; controla suas emoções; auto-imagem - positiva ou negativa,

cuidados pessoais, aparência, entre outros -; características de humor; ajusta-se as normas

escolares; manifestações afetivas - carinhoso, agressivo -entre outros)

__________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Relacionamento Interpessoal: (Tem facilidade para fazer amigos; respeita os colegas e os

professores; é cooperativo; respeita as regras e normas estabelecidas; entre outros.)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Relacionamento Intrapessoal: (Mantém em ordem seus pertences - cadernos e materiais em

geral -; higiene pessoal, auto-cuidado; executa as tarefas solicitadas; atitudes diante das

diferentes situações vivenciadas; assume responsabilidade delegadas; entre outros.)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

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118

Área Motora: (Coordenação global dinâmica e estática; coordenação motora fina;

postura - sentar, andar, entre outros -; apresenta agitação motora; tiques motores; entre

outros).

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Local e Data:

_______________________,__________________________________________

Equipe Avaliadora:

Nome: Função/Cargo:

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

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119

ANEXO F

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO

OBSERVAÇÃO DO MATERIAL ESCOLAR

Identificação do aluno

Nome ______________________________________________________________

Data de nascimento: ___/___/_____

Caderno

Organização

Separa atividades de forma organizada? (com sinal, pula linha, traço, cores,...)

( ) sim ( ) não

Coloca títulos nos diferentes conteúdos ?

( ) sim ( ) não

Respeita margens?

( ) sim ( ) não

b) Limpeza

Faz uso da borracha?

( ) sim ( ) não

Cancela as atividades rabiscando?

( ) sim ( ) não

Mancha a folha quando apaga?

( ) sim ( ) não

Rasga a folha com a borracha?

( ) sim ( ) não

Dobra as pontas da folha do caderno?

( ) sim ( ) não

Faz riscos indevidos no caderno durante as atividades?

( ) sim ( ) não

c) Letra

A letra é:

( ) angulosa ( ) redonda

Tamanho da letra:

( ) pequena ( ) média ( ) grande

Separa adequadamente as palavras?

( ) sim ( ) não

Os espaços entre as letras na constituição das palavras são proporcionais?

( ) sim ( ) não

Usa letras caixa alta e manuscritas conjuntamente?

( )sim ( ) não

A pressão do lápis é adequada?

( ) sim ( ) não

Português

a) Ortografia

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120

Letras:

( ) inversão ( ) troca de letras ( ) acréscimos ( ) omissão

Sílabas:

( ) inversão ( ) troca de letras ( ) acréscimos ( ) omissão

Palavras:

( ) inversão ( ) troca de letras ( ) acréscimos ( ) omissão

b) Gramática

Emprega adequadamente:

pontuação ( )sim ( ) não

acentuação ( )sim ( ) não

concordância gênero ( )sim ( ) não

concordância número ( )sim ( ) não

concordância grau ( )sim ( ) não

c) Produção escrita

Estrutura logicamente as idéias (introdução, desenvolvimento e conclusão)?

( ) sim ( ) não

Utiliza-se de vocabulário adequado a idade/série ?

( ) sim ( ) não

Apresenta idéias criativas, de acordo com o tema proposto?

( ) sim ( ) não

Matemática

a) Número

Faz inversão na escrita dos numerais?

( ) sim ( ) não

Estabelece relação número e quantidade?

( ) sim ( ) não

b) Operações

Resolve adição sem reagrupamento?

( ) sim ( ) não

Resolve adição com reagrupamento?

( ) sim ( ) não

Resolve subtração sem reagrupamento?

( ) sim ( ) não

Resolve subtração com reagrupamento?

( ) sim ( ) não

Resolve multiplicação?

( ) sim ( ) não

Resolve divisão?

( ) sim ( ) não

c) Resolução de problemas

Compreende a idéia principal do problema?

( ) sim ( ) não

Utiliza-se de estratégias para resolução do problema?

( ) sim ( ) não

Na resolução de problemas constrói o significado das quatro operações?

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121

( ) sim ( ) não

Observações Complementares:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Local e Data:

____________________,___________________________________________________

Equipe Avaliadora:

Nome: Função/Cargo:

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

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122

ANEXO G

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO

ENTREVISTA COM OS PAIS ou RESPONSÁVEIS

I – IDENTIFICAÇÃO DO ALUNO

Nome:__________________________________________________________________

Data de nascimento: ___/___/_____ Idade: ____________________________________

Naturalidade: ____________________________________________________________

Nome do pai: ____________________________________________________________

Profissão: __________________________________________ Idade: _______________

Nome da mãe: ___________________________________________________________

Profissão: __________________________________________ Idade: _______________

Endereço residencial: ______________________________________ Fone: __________

II – COMPOSIÇÃO FAMILIAR

NOME IDADE SEXO ESTADO

CIVIL

GRAU DE

PARENTESCO

INSTRUÇÃO LOCAL DE

TRABALHO

Observações:

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

III – QUEIXA OU MOTIVO DE ENCAMINHAMENTO

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Idade em que foi constatado o problema: _________________________________________

Providência tomada na ocasião: _________________________________________________

___________________________________________________________________________

IV – ANTECEDENTES PESSOAIS

Page 126: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

123

Concepção (Se a criança foi desejada, se concebida para salvar ou consolidar um

relacionamento, posição da criança na ordem das gestações e dos nascimentos, abortos...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Idade dos pais na época da gravidez______________________________________________

MÃE: ____________________

PAI: _____________________

Gestação (Hemorragias, ameaças de abortos: vômitos, enfermidades da mãe – rubéola,

intoxicação – exposição a Raio-X, duração da gestação, medicamentos que fez uso...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Nascimento (parto normal, fórceps, cesariana, muito rápido, demorado, se a criança chorou

logo, se nasceu roxa, se necessitou de oxigênio, de incubadeira, incompatibilidade sangüínea,

peso ao nascer, reflexos de sucção, Teste do Pezinho).

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

V – DESENVOLVIMENTO

Sono (calmo, agitado, fala durante o sono, sonambulismo, terror noturno, tipo respiração

enquanto dorme...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Alimentação (período em que foi amamentado no seio/mamadeira, reações à introdução de

outros tipos de alimentação, falta de apetite, alimenta-se em excesso, normal...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Linguagem (Em que idade se deu o balbucio, as primeiras palavras/frases, defeitos de

linguagem, gagueira...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Desenvolvimento Psicomotor (Idade em que sustentou a cabeça, que sentou sozinho, que

engatinhou, que andou, que controlou os esfíncteres – vesical e anal diurno e noturno,

preferência manual,...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

VI – SOCIABILIDADE (faz amigos (as) com facilidade, brinca – como, quando e com

quem, atividade de lazer, comportamento nos ambientes em geral...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Page 127: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

124

VII – DOENÇAS, ATENDIMENTOS MÉDICOS E COMPLEMENTARES (quais

doenças foram contraídas pela criança, em que idade ocorreu, qual a intensidade –

leve/moderada/severa, acidentes, cirurgias, tratamentos, uso de medicamentos, vacinas,

exames, laudos, pareceres, encontra-se em acompanhamento...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

VIII – MANIPULAÇÃO E HÁBITOS (Fez uso de chupeta, chupa o dedo, algum tique,

quando e por quanto tempo...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

IX – ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA

Hábitos de higiene (toma banho sozinho, se veste, calça meia, sapatos, se penteia, escova os

dentes regularmente sozinho, tem cuidados com sua aparência pessoal e vestuário...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Responsabilidade por tarefas no lar (especificar)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

X – DINÂMICA FAMILIAR

Com quem a criança reside: _______________________________________________

Relacionamento dos pais entre si: __________________________________________

________________________________________________________________________

Relacionamento dos pais com os filhos: ______________________________________

________________________________________________________________________

Relacionamento entre os filhos: ____________________________________________

________________________________________________________________________

Relacionamento geral entre os familiares: ____________________________________

________________________________________________________________________

XI – ANTECEDENTES FAMILIARES (doenças, deficiências, vícios, grau de parentesco,

idade em que ocorreu, situação atual...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

XII – HISTÓRICO ESCOLAR (idade que ingressou na escola, repetência, série que

freqüenta, nome da escola, professora, turno...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

Page 128: thaiza de carvalho corrêa avaliação, diagnóstico e encaminhamento ...

125

Escola que freqüentou Série Ano

_________________________ ______________ ___________

_________________________ ______________ ___________

_________________________ ______________ ___________

_________________________ ______________ ___________

Rendimento escolar (necessita de auxílio na execução de tarefas escolares, na escola e em

casa...)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Freqüência à escola (se gosta, se é assíduo)

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

XIII – RELACIONAMENTO NA ESCOLA

Com os colegas: ________________________________________________________

Com os professores: _____________________________________________________

________________________________________________________________________

Com outros funcionários da escola: _________________________________________

________________________________________________________________________

XIV – PARTICIPA DE OUTRAS ATIVIDADES EXTRA-CLASSE

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

XV – SEXUALIDADE

Em relação a si mesmo: __________________________________________________

________________________________________________________________________

Atitude dos pais: ________________________________________________________

________________________________________________________________________

XVI – OBSERVAÇÕES

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________

Local e Data:

Entrevistador:

Nome: ...........................................................................................

Cargo/ função: .................................

Responsável por fornecer as informações sobre a criança:

Nome: ......................................................................................... ( ) Pai

( ) Mãe

Outros:....................................

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126

ANEXO H

SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO

INFORMAÇÃO SOCIAL

1. Qual é o seu nome?_________________________________________________

2. Quantos anos você tem? ____________________________________________

3. Qual a data do seu aniversário?_______________________________________

4. Como é o nome do seu pai? Idade? Trabalho? ___________________________

5. Como é o nome de sua mãe? Idade? Trabalho?___________________________

6. Quantos irmãos você tem? (irmãs e irmãos)? ____________________________

7. Onde você mora? __________________________________________________

8. O que você faz quando não está na escola?______________________________

9. Qual teu esporte favorito? ____________________________________________

10. Qual é o programa de televisão que você mais gosta? _____________________

11. Você gosta de música? (cantor, música) ________________________________

12.Você costuma passear ?Onde?________________________________________

13. Qual a sua comida preferida? ________________________________________

14.Você ajuda em casa? Que tipo de ajuda? _______________________________

15. Qual o nome de seu colégio e a série que você freqüenta?__________________

16. Você gosta de estudar? Porque? ______________________________________

17. O que você gosta de estudar e o que não gosta? _________________________

18. Qual é o nome do professor (a) de sua preferência_____________________

19. Qual é a matéria dele(a)?____________________________________________

20. Qual a profissão que você pretende seguir?______________________________

21. Qual é seu maior desejo?____________________________________________

22. Na sua opinião, o que o (mundo, país, estado, cidade,) está precisando fazer para se tornar

ainda melhor_____________________________________________________________