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UFRJ Rio de Janeiro 2010 Thiago Gonçalves Carelli CARACTERIZAÇÃO DE MICROFÁCIES SEDIMENTARES EM FOLHELHOS DA FORMAÇÃO PONTA GROSSA (DEVONIANO), NA BORDA LESTE DA BACIA DO PARANÁ Dissertação de Mestrado (Geologia)

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UFRJ Rio de Janeiro

2010

Thiago Gonçalves Carelli

CARACTERIZAÇÃO DE MICROFÁCIES SEDIMENTARES EM

FOLHELHOS DA FORMAÇÃO PONTA GROSSA (DEVONIANO), NA

BORDA LESTE DA BACIA DO PARANÁ

Dissertação de Mestrado (Geologia)

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UFRJ

Rio de Janeiro Dezembro 2010

Thiago Gonçalves Carelli

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como requisito necessário à obtenção do grau de Mestre em Ciências (Geologia).

Área de concentração:

Paleontologia e Estratigrafia

Orientador:

Leonardo Borghi

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CARELLI, Thiago Gonçalves

Caracterização de microfácies sedimentares em

folhelhos da Formação Ponta Grossa (Devoniano), na

borda Leste da bacia do Paraná / Thiago Gonçalves Carelli- - Rio de Janeiro: UFRJ / IGeo, 2010.

ix, 18 f., anexos: A, B, C, D, E e F.; 30cm

Dissertação (Mestrado em Geologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Programa de Pós-graduação em Geologia, 2010.

Orientador: Leonardo Borghi

1. Geologia. 2. Paleontologia e Estratigrafia – Dissertação de Mestrado. I. Leonardo, Borghi. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências, Programa de Pós-graduação em Geologia. III. Caracterização de microfácies sedimentares em folhelhos da Formação Ponta Grossa (Devoniano), na borda Leste da bacia do Paraná.

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UFRJ Rio de Janeiro

2010

Thiago Gonçalves Carelli

CARACTERIZAÇÃO DE MICROFÁCIES SEDIMENTARES EM FOLHELHOS DA

FORMAÇÃO PONTA GROSSA (DEVONIANO), NA BORDA LESTE DA BACIA DO

PARANÁ

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como requisito necessário à obtenção do grau de Mestre em Ciências (Geologia).

Área de concentração:

Paleontologia e Estratigrafia

Orientador:

Leonardo Borghi

Aprovada em: 22/12/2010

Por:

_____________________________________ Presidente: Dr. Renato Cabral Ramos, MN-UFRJ

_____________________________________ Ph.D. Adriano Rössler Viana, Petrobras

_____________________________________ Dr. Wilson Luiz Lanzarini, Petrobras

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Dedicado a minha mãe, Nilza Gonçalves da Silva; exemplo constante de força, sabedoria e perseverança.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Leonardo Borghi pela orientação e ajuda na elaboração desta

dissertação.

Aos colegas de trabalho do laboratório de Geologia Sedimentar (LAGESED-

UFRJ) pelas discussões e apoio.

Ao Professor Sérgio Bergamaschi por ter cedido os dados de campo e de

afloramentos da formação estudada.

Ao Professor João Graciano Mendonça Filho pela realização da análise de

carbono orgânico total no laboratório de palinofácies e fácies orgânica (LAFO-

UFRJ).

Ao Dr. Reiner Neumann pela realização das análises de DRX e fotomicografias

no microscópio eletrônico de varredura (MEV) realizadas no laboratório do setor de

caracterização tecnológica (SCT) do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM).

Ao técnico Tarcísio, pela confecção das lâminas petrográficas utilizadas neste

estudo.

A Petrobras pela bolsa concedida durante o início do projeto, através do

convênio CENPES-UFRJ.

À Agência Nacional de Petróleo pela bolsa concedida durante o fim do projeto,

através do Programa de Capacitação de Recursos Humanos e Geologia do

Petróleo. (FRT/ PRH-ANP/ MCT no 18).

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Resumo

CARELLI, Thiago Gonçalves. Caracterização de microfácies sedimentares em

folhelhos da Formação Ponta Grossa (Devoniano), na borda Leste da bacia do

Paraná. Rio de Janeiro, 2010. ix, 18 f. Dissertação (Mestrado em Geologia) – Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010. Os Folhelhos da Formação Ponta Grossa (Devoniano) são conhecidos por seu potencial de geração de hidrocarbonetos na bacia do Paraná (Brasil), no entanto sua efetividade como rochas selantes (considerando os arenitos da Formação Furnas como reservatório em um sistema especulativo) ou mesmo, como reservatórios (shale gas) é ainda desconhecido. Esses folhelhos são também pouco conhecidos de uma perspectiva sedimentológica, particularmente quando posicionados num contexto de estratigrafia sequencial. Este estudo objetiva a caracterização de microfácies em afloramentos da borda Leste da bacia do Paraná (34 amostras) representando um trato de sistema transgressivo (20 amostras da Parte inferior do Membro Jaguariaíva) e um trato de sistema de mar alto (14 amostras da parte superior do Membro São Domingos) da Formação Ponta Grossa, inseridos em uma sequência deposicional de 3

a ordem e sua interpretação em

termos de processos sedimentares e paleoambientes. Este estudo é baseado em dados obtidos através de petrografia, apoiado por análises de DRX (para a caracterização mineralógica das argilas) e carbono orgânico total. A caracterização das microfácies levou em consideração a mineralogia, microtextura, microtrama, microestruturas (físicas e biogênicas), microfóssies, conteúdo orgânico particulado, cor e variação estratal em amostras de mão e lâminas delgadas. Como resultado, foi possível identificar 9 microfácies, 2 típicas do TST (M1 e M2) e 7 típicas do TSMA (M3 a M9). As microfácies do TST mostram em geral microtrama caótica (em parte pela reelaboração biogênica), e composição rica em silte e areia muito fina (exceto pela microfácies M2, rica em argila e microtrama orientada associada a uma suprefície de inundação de 3

a ordem); já as típicas do TSMA, são ricas em silte e

argila, apresentam uma microtrama relativamente orientada e melhor preservação de microestruturas físicas. A ação de ondas seguida da reelaboração biogênica em paleoambientes proximais é responsável pela melhor característica sedimentológica em termos de reservatório da microfácies M1, quando comparada a outras microfácies. Fluxos hiperpicnais distais associados a processos decantativos, atividade microbiana e baixo índice de atividade biogênica em paleoambientes de prodelta/costa-afora são responsáveis pelas características selantes das microfácies M3 a M9 (associadas ao TSMA). Palavras-chave: Microfácies, Microestruturas, Folhelho, Formação Ponta Grossa

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Abstract

CARELLI, Thiago Gonçalves. Caracterização de microfácies sedimentares em

folhelhos da Formação Ponta Grossa (Devoniano), na borda leste da bacia do

Paraná. (Sedimentary microfacies characterization in the ponta Grossa Formation shales (Devonian) at the Eastern border of the Paraná basin). Rio de Janeiro, 2010. ix,18 f. Dissertação (Mestrado em Geologia) – Programa de Pós-graduação em Geologia, Instituto de Geociências, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,2010. The Ponta Grossa Formation shales (Devonian) are considered the best potential source rocks for hydrocarbons in the Paraná Basin (Brazil); but their effectiveness as sealing rocks (considering the Lower Devonian Furnas Formation sandstone reservoirs in a petroleum system) or even as reservoirs (shale gas) is still unknown. Also, these shales are poorly known from the sedimentological perspective, particularly when positioned in a sequence stratigraphical framework. This study aims at microfacies characterization of outcrop shales in the Eastern border of the basin (34 samples) representing a transgressive system tract (lower Jaguariaíva Member, 20 samples) and a highstand system tract (upper São Domingos Member, 14 samples) of the Ponta Grossa Formation, inserted in a 3

rd order depositional

sequence cycle (megasequence), and their interpretation in terms of sedimentary processes and paleoenvironments. The study is based on petrographic microscopy, aided by XRD (clay mineralogy) and geochemical (TOC) data. The microfacies analysis took into consideration the mineralogy, microtexture, microfabric, microstructure (physical and biogenic), microfossils, particulate organic content, stratal variation, and colour in polished sections and thin sections. Results allow the recognition of 9 microfacies, 2 of them typical of the TST (M1 and M2) and 7 of the HST (M3 to M9). The microfacies from the TST show in general a chaotic microfabric (in part resulting from a higher bioturbation index), and a fine sand and silt rich composition (except one, associated to the 3

rd order MFS); whereas the

HSTsamples are silt and clay rich, and show a fairly oriented microfabric, and better preserved physical structures. Bottom wave reworking followed by biogenic activity (bioturbation) in proximal offshore paleoenvironmets are responsible for the best reservoir sedimentological characteristics of the microfacies M1 (associated to the TST) among all of them. Distal hyperpycnal flows, decantation from bottom wave ressuspension plumes, microbial mats development, and low biogenic activity in prodelta/offshore paleoenvironments are responsible for best sedimentological sealing characteristics of the facies M3-M9 (associated to the HST). Key-Words: Microfacies, Microstructure, Shale, Ponta Grossa Formation

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Lista de Figuras

Figura 1 – Diagrama estratigráfico da bacia do Paraná. (Milani et al., 2007)........5

Figura 2 – Afloramento do Membro Jaguariaíva localizado no corte do ramal

ferroviário Jaguariaíva-Arapoti próximo ao km 5 nos arredores da cidade de

Jaguariaíva (foto sem escala)..............................................................................6

Figura 3 – Afloramento do Membro São Domingos localizado na rodovia BR-376,

km 426, no trecho entre as cidades de Ponta Grossa e Apucarana (foto sem

escala) Observe os pacotes arenosos que marcam ciclos de raseamento (cf.

Bergamaschi, 1999)............................................................................................8

Figura 4 – Mapa de localização geográfica da borda Leste da bacia do Paraná

(PR) e dos pontos de amostragem. Ponto 1, afloramento de Membro Jaguariaíva

(trato transgressivo) exposto no ramal ferroviário Jaguariaíva-Arapoti, entre o km

2,2 e km 6,0. Ponto 2, afloramento do Membro São Domingos (trato de mar alto)

exposto na rodovia BR-376, km 426 próximo as cidades de Apucarana e Ponta

Grossa...............................................................................................................9

Figura 5 – Curva de raio gama e perfil litológico dos testemunhos dos poços 2-

RI-1-PR (Rio Ivaí) e 2-CS-1-PR (Chapéu do Sol) perfurados na bacia do Paraná.

Os retângulos em vermelho marcam aproximadamente a posição dos

afloramentos (Bergamaschi, 1999; Bergamaschi & Pereira, 2001)...................10

Figura 5 – Diagrama ternário para classificação de rochas microclásticas (Picard,

1971)...............................................................................................................12

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Sumário

Agradecimento v

Resumo vi

Abstract vii

Lista de figuras viii

1 INTRODUÇÃO 1

2 MOTIVAÇÃO 2

3 OBJETIVO E FINALIDADE 3

2 CONTEXTO GEOLÓGICO 4

2.1 Formação Ponta Grossa 5

2.2 Membro Jaguariaíva 5

2.3 Membro São Domingos 7

3 MATERIAL 9

4 MÉTODO 11

5 RESULTADOS 12

6 CONCLUSÕES 15

Referências bibliográficas 16

Anexo A – Artigo Geociências: Microestruturas em “folhelhos” da Formação Ponta Grossa, Devoniano da bacia do Paraná. Anexo B – Artigo Geociências: O conceito de microfácies sedimentares e sua aplicação ao estudo de rochas sedimentares microclásticas. Anexo C – Artigo RBG: Caracterização de microfácies sedimentares em folhelhos da Formação Ponta Grossa (Devoniano), na borda Leste da bacia do Paraná.

Anexo D – Análises de DRX (difratometria das amostras referentes aos membros

Jaguariaíva e São Domingos).

Anexo E – Resumo IAS: Devonian shale microfacies in the Paraná Basin (Brazil). Anexo F – Planilha para descrição petrográfica de rochas microclásticas.

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1 INTRODUÇÃO

O estudo de rochas sedimentares microclásticas (< 0,062 mm), mais

conhecidas como “folhelhos” tem constituído um tema de fronteira dentro da

Geologia sedimentar. Estas rochas, que englobam uma ampla gama de litologias e

nomenclaturas (q.v. Picard, 1971; Macquaker & Adams, 2003), representando

aproximadamente dois terços do volume de rochas sedimentares do registro

geológico (cf. Potter et al., 2005), são usualmente conhecidas como geradoras e

selantes, embora possam constituír-se em reservatórios de baixa permeabilidade

(shale gas).

A falta de um consenso por parte dos pesquisadores fez com que o termo

folhelho, uma rocha físsil, seja hoje aplicado a qualquer rocha de granulometria fina

que tenha fissilidade (ex: arenito muito fino argiloso, siltito argiloso etc.). Estas

rochas podem ainda equivaler aos termos: “microclásticos”, “lamitos”, “pelitos” e

“lutitos”. Desta forma, o termo “folhelho” tornou-se um “guarda-chuva” de litologias,

as quais contêm inúmeras microestruturas, que passam despercebidas ao exame

macroscópico. Assim faz-se necessária a utilização de técnicas não rotineiras para a

observação dessas microestruturas e outros atributos, tais como mineralogia,

microtextura, microtrama, microfósseis, conteúdo orgânico e litologia, que muitas

vezes são negligenciadas por dificuldades inerentes à sua própria observação, mas

essenciais à caracterização de microfácies sedimentares.

Neste contexto, insere-se as rochas microclásticas da Formação Ponta

Grossa, na borda Leste da bacia do Paraná, uma ampla bacia de interior cratônico,

que revelou na quase virada do século passado a sua primeira acumulação

comercial de gás, associado ao sistema petrolífero Ponta Grossa-Itararé(!). Todavia,

a qualidade de tais rochas ainda é pouco conhecida do ponto-de-vista

sedimentológico.

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2 MOTIVAÇÃO

Rochas microcláticas (folhelhos) constituem aproximadamente 70% do registro

sedimentar geológico, no entanto estas rochas são ainda pouco estudadas devido a

dificuldade de observação de suas pequenas partículas, que na maioria dos casos

necessitam de técnicas não rotineiras de análise. Não obstante, estas rochas

podem atuar em sistemas petrolíferos como geradoras, selantes ou reservatórios de

baixa permeabilidade.

Tanto na Europa, quanto na América do Norte, a produção de gás em

folhelhos vem ganhando espaço, principalmente devido aos seus altos índices de

produção (q.v. Barnett Shale, Texas, EUA). Neste contexto, a descoberta de gás no

campo de Barra Bonita, na bacia do Paraná, associado ao sistema petrolífero Ponta

Grossa-Itararé(!) e tendo como rocha geradora, as rochas microclásticas da

Formação Ponta Grossa, nos permite aventar possíveis sistemas petrolíferos

especulativos na bacia.

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2 OBJETIVO E FINALIDADE

Este estudo objetiva a caracterização de microfácies sedimentares nas rochas

microclásticas da Formação Ponta Grossa, Devoniano da bacia do Paraná, discutir

processos sedimentares e paleoambientes, além de analisar o potencial reservatório

ou selante dessas rochas, dentro de um arcabouço estratigráfico sequêncial de 3ª

ordem baseados em dados sedimentológicos. Cuja finalidade é levantar discussões

sobre processos sedimentares e paleoambientes na Formação Ponta Grossa, além

de seu potencial como selante ou reservatório em sistemas petrolíferos

especulativos.

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2 CONTEXTO GEOLÓGICO

2.1 Formação Ponta Grossa

A Formação Ponta Grossa, junto com a Formação Furnas, compõe o Grupo

Paraná, que se insere na supersequência Paraná, uma das seis unidades

aloestratigráficas que constituem o arcabouço estratigráfico da bacia do Paraná,

uma ampla bacia de interior cratônico localizada no centro sul da América do Sul

(Milani, 1997).

A Formação Ponta Grossa constitui-se de folhelhos, lamitos e arenitos muito

finos a finos, de cores variadas. Suas rochas são frequentemente bioturbadas e

contêm abundantes micro- e macrofósseis, dentre os quais os que compõem a

Fauna Malvinocáfrica. Sua idade é ainda controversa. Loboziak et al. (1995)

advogam uma idade Praguiano-Fameniano, determinada através do estudo de

esporos fósseis para a Formação Ponta Grossa; no entanto, estudos recentes de

Grahn et al. (2010) têm posicionado a base da Formação Ponta Grossa entre o fim

do Praguiano ou Emsiano inicial, e para a parte superior, Oliveira (1997) atribui uma

idade Givetiano final a Frasniano, a partir de análises realizadas no afloramento do

membro são Domingosm exposto no km 426 da BR- 376.

A Formação Ponta Grossa foi descrita inicialmente no Estado do Paraná, onde

é representada por três membros: Jaguariaíva (microclástico), na base; Tibagi

(arenoso), mediano; e São Domingos (microclástico), superior. Na parte central da

bacia (região de maior subsidência) predomina apenas uma sucessão microclástica,

sem intercalações de areia (q.v. Petri, 1948; Lange & Petri, 1967), onde a formação

é considerada indivisível. No entanto, tais membros foram expandidos em

correlação por toda a bacia por Assine (1996). A espessura da Formação Ponta

Grossa é bastante variável, delineando duas sub-bacias ou baixos estruturais;

enquanto que em superfície não ultrapassa os 300 m, em subsuperfície a maior

espessura, 654 m, foi constatada no poço 2-AP-1-PR (Apucarana, PR) (Assine,

1996).

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Figura 1 – Diagrama estratigráfico da bacia do Paraná. (Milani et al., 2007).

2.2 Membro Jaguariaíva

A seção-tipo da unidade é o afloramento exposto na rodovia Jaguariaíva-

Arapoti, do km 2,2 ao 6,6 nas proximidades da cidade de Jaguariaíva (q.v. Lange &

Petri, 1967), próximo de onde também encontra-se o local dos afloramentos

estudados (figuras 2 e 4).

Segundo Bergamaschi (1999), o Membro jaguariaíva representa um trato de

sistema transgressivo de 3a ordem, caracterizado a partir da curva de raios gama

nos poços 2-RI-1-PR e 2-CS-1-PR, e litologicamente, na seção tipo da unidade onde

ocorrem fácies de siltito cinza claro a cinza médio, entremeado com arenito muito

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fino amarelado, fossílífero de aspecto mosqueado; siltito cinza médio a escuro,

laminado, fossilífero, por vezes contendo delgadas laminações de arenito muito fino

e estratificação cruzada hummocky (HCS), folhelhos cinza escuro a negro,

finamente laminado, fossilífero e folhelho argiloso negro, papiráceo rico em pirita

(Bergamaschi, 1999, p. 87-98), representando o afogamento dos sistemas

transicionais a costeiros da porção superior da Formação Furnas.

Seu paleoambiente é marinho raso plataformal (antepraia inferior a costa-

afora) e sua idade é Praguiano/Frasniano estabelecida a partir do conteúdo de

quitinozoários coletados no afloramento do Membro Jaguariaíva (cf. Grahn, 1992,

2000). Segundo Bergamaschi (1999) e Bergamaschi & Pereira (2001) o Membro

Jaguariaíva equivale às suas sequências B e C de 3a ordem, propostas a partir da

análise de raios gama e litologia nos testemunhos dos poços 2-RI-1-PR e 2-CS-1-

PR.

Figura 2 – Afloramento do Membro Jaguariaíva localizado no corte do ramal ferroviário Jaguariaíva-Arapoti próximo ao km 5, nos arredores da cidade de Jaguariaíva (foto sem escala).

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2.3 Membro São Domingos

Lange e Petri (1967) não apontam uma seção-tipo para o seu Membro São

Domingos, sendo considerada apenas uma área-tipo na região oeste de Tibagi,

onde ocorrem afloramentos de folhelhos intercalados a siltitos e arenitos. Nesta

região ocorre cerca de 90 metros de folhelhos predominantemente mais argilosos

que os do Membro Jaguariaíva.

Segundo Bergamaschi (1999), o Membro São Domingos representa um trato de

sistema de mar alto em um ciclo de 3a ordem nos afloramentos referentes à seção

estratigráfica Tibagi-Telêmaco Borba e no afloramento do km 426, localizado na

rodovia BR-376 (cf. Bergamaschi, 1999 p. 98-107). Caracteriza-se litologicamente

por uma sucessão de fácies de folhelhos, siltitos com laminação cruzada por onda,

siltitos com interlaminações centimétricas de arenito e arenitos finos a médios com

laminação cruzada por onda e estratificação cruzada hummocky, formando ciclos de

engrossamento granulométrico (Bergamaschi & Pereira, 2001).

Seu paleoambiente é marinho raso e sua idade é Givetiano final a Frasniano

(Oliveira, 1997). Segundo Bergamaschi (1999) e Bergamaschi & Pereira (2001) o

Membro São Domingos equivale à suas sequências D e E de 3a ordem, propostas a

partir de estudos nos poços 2-RI-1-PR e 2-CS-1-PR.

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Figura 3 – Afloramento do Membro São Domingos localizado na rodovia BR-376, km 426, no trecho entre as cidades de Ponta Grossa e Apucarana (foto sem escala). Observe os pacotes arenosos que marcam ciclos de raseamento (cf. Bergamaschi, 1999).

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3 MATERIAL

O material de estudo conta de um total de 35 amostras de rochas

microclásticas coletadas através de plugagem (utilizando uma plugadeira modelo

BOSCH GDB 1600 WE, com diâmetro aproximado de 1’’ polegada), na borda Leste

da bacia do Paraná (ver figura 4). Destas, 20 amostras foram coletadas nos

afloramentos expostos nos cortes do ramal ferroviário Jaguariaíva-Arapoti, entre o

km 2,2 e km 6,0, nos arredores da cidade de Jaguariaíva, correspondendo à parte

inferior (trato transgressivo) da sequência B de Bergamaschi (1999) e Bergamaschi

& Pereira (2001). Outras 15 amostras foram coletadas no afloramento do Membro

São Domingos localizado na rodovia BR-376, km 426 no trecho entre as cidades de

Ponta Grossa e Apucarana. Este afloramento corresponde à parte superior (trato de

mar alto) da sequência E de Bergamaschi (1999) e Bergamaschi & Pereira (2001).

No entanto, ressalta-se que dentre as 15 amostras coletadas no afloramento do

Membro São Domingos, somente 14 foram analisadas para a caracterização de

microfácies (A amostra 6 constitui-se essencialmente macroclástica).

Figura 4 – Mapa de localização geográfica da borda Leste da bacia do Paraná (PR) e dos pontos de amostragem. Ponto 1, afloramento de Membro Jaguariaíva (trato transgressivo) exposto no ramal ferroviário Jaguariaíva-Arapoti, entre o km 2,2 e km 6,0. Ponto 2, afloramento do Membro São Domingos (trato de mar alto) exposto na rodovia BR-376, km 426 próximo as cidades de Apucarana e Ponta Grossa.

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Figura 5 – Sequências deposicionais de 3ª ordem e tratos de sistemas no Siluro-devoniano da sub-bacia de Apucarana nos poços 2-RI-1-PR (Rio Ivaí) e 2-CS-1-PR (Chapéu do Sol). Os retângulos em vermelho marcam aproximadamente a posição dos afloramentos do Mb. Jaguariaíva, na base da sequência B e Mb. São Domingos, na parte superior da sequência E. (Bergamaschi, 1999; Bergamaschi & Pereira, 2001).

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4 MÉTODO

A caracterização de microestruturas foi desenvolvida a partir de observações

iniciais com auxílio de um estereomicroscópio (Zeiss Stemi 2000-C, com luz

refletida) em meso- e microescala de seções dos plugues, sem fazer uso de lâminas

delgadas, que requer uso do microscópio de luz transmitida/polarizada, com o intuito

de tornar rotineira sua identificação. Posteriormente, para a análise de microfácies,

algumas dessas microestruturas mostraram-se melhor visualizadas quando

observadas através de lâminas petrográficas em microscópio petrográfico (ZEISS

Imager A2m) de luz transmitida/polarizada.

Uma vez caracterizadas, as microestruturas foram classificadas em físicas e

biogênicas, e suas dimensões foram classificadas em: submilimétricas (< 0,3mm),

milimétricas (0,3mm a 3mm), centimétricas (3mm a 3cm) e decimétricas (> 3cm). A

identificação taxonômica das microestruras biogênicas foi baseada em Fernandes et

al. (2002) que seguem a classificação etológica de Seilacher (1964).

A caracterização das microfácies foi baseada na descrição petrográfica de

lâminas delgadas em microscópio petrográfico (ZEISS Imager A2m) em luz

transmitida/refletida/fluorescente, seguindo o conceito de microfácies proposto por

Carelli & Borghi (Anexo B). Observou-se principalmente a microtextura e a

microtrama das rochas, mais particularmente, a proporção argila:silte:areia, a

variação estratal, microestruturas e a mineralogia. Em seguida, efetuou-se

contagem de 300 pontos em cada lâmina, para determinação textural

(granulometria) e composicional. Os argilominerais foram determinados a partir de

análises de DRX.

Para a classificação litológica das amostras e microfácies (textural), utilizou-se

o diagrama ternário de Picard (1971), dentre os demais difundidos na literatura (e.g.

Dunbar & Rogers, 1965; Shepard, 1973), uma vez que se detêm no discernimento

textural da proporção areia:silte:argila (ver figura 6).

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12

Figura 6 – Diagrama ternário para classificação de rochas microclásticas (Picard, 1971).

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13

5 RESULTADOS

O estudo proposto foi dividido em três etapas, cada uma gerando um artigo

como resultado, além de um resumo apresentado no 18° International

Sedimentological Congress, realizado na cidade de Mendoza, Argentina (Anexo D) e

uma planilha para ajudar no processo de descrição petrográfica de rochas

microclásticas (Anexo E).

A primeira etapa, que resultou no desenvolvimento do artigo intitulado

Microestruturas em “folhelhos” da Formação Ponta Grossa, Devoniano da

bacia do Paraná (Anexo A), teve como objetivo identificar estruturas em

microescala que ocorrem nas rochas microclásticas da Formação Ponta Grossa

com a finalidade de discutir processos sedimentares e paleoambientes. Foram

reconhecidos dois grupos distintos de microestruturas, uma de origem física

(hidrodinâmica), e outra biogênica.

As microestruturas físicas representadas por feições erosivas associadas a

fluxos trativos ocorrem preferencialmente no Membro São Domingos (trato de mar

alto) e refletem a alternância de processos decantativos e trativos. A quase ausência

de microestruturas físicas no Membro Jaguariaíva está associada a ação de

organismos biogênicos que obliteraram estruturas primárias (deposicionais)

produzidas pela ação de ondas que reelaboravam do substrato. A icnocenose

estabelecida a partir do conjunto de microestruturas biogênicas que aparecem sob

formas horizontalizadas e inclinadas descritas anteriormente permitiu a

caracterização da icnofácies cruziana distal para o contexto geral do paleoambiente.

A partir do perfil litológico do Membro São Domingos (trato de mar alto), foi

possível identificar duas parassequências, onde a primeira parassequência revela a

ocorrência de uma icnofácies cruziana distal empobrecida, provavelmente gerada

pelo aporte de água doce fluvial e aumento local na taxa sedimentar, mostrando

assim a influência de um possível sistema deltaico em condições de mar alto ou

intensa sedimentação durante episódios de inundações.

Este fato é apoiado pela abundância de microestruturas físicas (erosionais),

intercalação de camadas milimétricas e sub-milimétricas de silte, areia muito fina e

abundantes detritos vegetais. Já para a segunda parassequência observa-se uma

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sensível diminuição dos detritos vegetais, além do incremento de icnogêneros e

aumento na intensidade da bioturbação. Estes fatos indicam uma menor influência

fluvial, favorecendo assim o desenvolvimento da icnofácies cruziana distal para a

segunda parassequência.

O segundo artigo, intitulado O conceito de microfácies sedimentares e sua

aplicação ao estudo de rochas microclásticas (Anexo B), fundamentou-se em

uma extensa revisão bibliográfica sobre o termo “microfácies”, mais precisamente

nos atributos diagnósticos das microfácies e sua aplicação as rochas microclásticas.

A finalidade deste artigo é apresentar uma definição precisa do termo microfácies,

do ponto-de-vista operacional, mais particularmente quanto aos seus atributos

diagnósticos. Neste trabalho foi apresentada uma nova definição para o termo

microfácies, uma descrição de seus principais atributos diagnósticos, além de um

modelo formal para sua descrição.

O terceiro artigo, intitulado Caracterização de microfácies sedimentares em

folhelhos da formação Ponta Grossa (Devoniano), na borda leste da bacia do

Paraná, teve como objetivo uma abordagem sedimentológica inicial, do ponto-de-

vista das microfácies, dos folhelhos que ocorrem na Formação Ponta Grossa

tomando-se como estudo de caso um afloramento do Membro Jaguariaíva e outro

do Membro São Domingos. Estes representam, respectivamente, um trato

transgressivo e outro de mar alto, num ciclo de 3a

ordem.

A finalidade do estudo é a discussão de processos e paleoambientes, além do

significado estratigráfico das microfácies como subsídio à futura avaliação dessas

rochas como selantes e reservatório. Neste trabalho foram identificadas 9

microfácies, dentre as quais 2 (M1 e M2) típicas do trato transgressivo (Mb.

Jaguariaíva) e 7 (M3 a M9) típicas do trato de mar alto (Mb. São Domingos).

De um modo geral as microfácies do Trato transgressivo mostram-se

essencialmente sílticas com percentagens em torno de 10% ou mais de areia muito

fina, microtrama caótica, e quase destituídas de microestruturas físicas (M1), devido

à ação de ondas que acaba por resuspender os sedimentos de fundo e

reelaboração biogênica ou argilosas-sílticas com microtrama orientada e laminações

submilimétricas de silte (M2). Já as do trato de mar alto mostram-se essencialmente

sílticas-argilosas com intecalações camadas milimétricas de siltito e areia muito fina,

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microtrama relativamente orientada e abundantes microestruturas atribuídas a fluxos

trativos e atividade microbiana (M3 a M9).

A persistência da microfácies M1 em grande parte do trato transgressivo indica

que o processo deposicional dominante foi a remobilização do substrato por ação de

ondas, seguido da reelaboração biogênica. A presença da microfácies M2 indica um

incremento da profundidade e predominância de processos decantativos. As

microfácies M3 a M9 típicas do Trato de mar alto indicam que o ambiente era

constantemente sujeito à influência de sedimentação episódica por fluxos

hiperpicnais, além de processos de ressedimentação por tempestades, alternando

níveis de baixa e alta energia.

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6 CONCLUSÕES

A análise de microfácies mostra-se eficiente para a caracterização de

processos e paleoambientes. Quando em sucessão, o mapeamento das

microestruturas, bem como a mudança na microtrama das microfácies, reflete

mudanças nas condições ambientais e de sedimentação, fornece pistas para a

caracterização de uma condição deposicional específica, e uma vez definidas, as

microfácies podem subsidiar futuras discussões e avaliações das rochas

microclásticas como selantes ou reservatórios em sequências de 3a ordem.

Como resultado, foi possível verificar que microestruturas de origem física

(primárias) ocorrem preferencialmente no Membro São Domingos (trato de mar

alto), pois a ação da transgressão acaba por reelaborar os sedimentos do fundo e

incorporar sedimentos de maior granulometria (areia muito fina e silte) em meio a

sedimentos argilosos, que são na maioria das vezes reelaborados por organismos

biogênicos.

Além do mais, foi possível reconhecer 9 microfácies sedimentares, sendo 2

típicas do trato transgressivo e 7 típicas do trato de mar alto. As microfácies do trato

transgressivo apresentam alta probabilidade de atuar como reservatório de baixa

permeabilidade, devido a microtrama caótica e alta percentagem de silte e areia

muito fina dispersa pelas amostras; enquanto que, as microfácies do trato de mar

alto apresentam alta probabilidade de atuar como selante, devido a maior

perecentagem de argila e microtrama orientada em relação as do trato

transgressivo.

Ressalta-se, que dentre as microfácies descritas, as típicas do trato

transgressivo (M1 e M2) são as que apresentam melhor qualidade para atuar como

selante e reservatório. A microfácies M1 é caracterizada pela alta percentagem de

areia muito fina e silte disperso em sua microtrama caótica, sendo sua gênese

associada a processos de resuspensão e ação de ondas, seguido de reelaboração

biogênica. Já a microfácies M2 é caracterizada pela alta percentagem de argila,

microtrama orientada e ausência de bioturbações, sendo sua gênese associada a

processos decantativos.

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Anexo A – Artigo a ser enviado à revista Geociências da UNESP

Microestruturas em “folhelhos” da Formação Ponta Grossa, devoniano da bacia do Paraná.

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MICROESTRUTURAS EM “FOLHELHOS” DA FORMAÇÃO PONTA GROSSA,

DEVONIANO DA BACIA DO PARANÁ.

Thiago Gonçalves CARELLI 1, 2

Leonardo BORGHI 2

(1) Programa de Pós-graduação em Geologia, UFRJ.

(2) Laboratório de Geologia Sedimentar, Departamento de Geologia, IGEO, CCMN,

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Av. Athos da Silveira Ramos, 274, Sl/ J1-11,

CEP 21941-916, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected]

Introdução

Material e Método

Contexto Geológico

Formação Ponta Grossa

Membro Jaguariaíva

Membro São Domingos

Microestruturas

Resultados

Microestruturas Físicas

Micromarca de Sobrecarga

Microestrutura em Chama

Micromarca de Calha

Micromarca Lenticular

Microacamamento Gradacional

Micromarca de Corrugação

Microlaminação Plano-paralela

Micromarca de Ondulação Assimétrica

Microestruturas Biogênicas

Planolites isp.

Gyrolithes isp.

Helminthopsis isp.

Zoophycos isp.

Terebellina isp.

Teichchnus isp.

Asterossoma isp.

Discussão

Membro Jaguariaíva – Trato Transgressivo

Membro São Domingos – Trato de Mar Alto

Conclusão

Referência Bibliográfica

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RESUMO - O termo microestrutura sedimentar reflete uma feição resultante de

processos físicos, químicos ou biológicos que ocorrem na escala de partículas

sedimentares (microescala). Quando preservadas, estas microestruturas trazem consigo

informações importantes sobre os processos sedimentares atuantes na deposição das

mesmas; e uma vez reconhecidos os processos que as geraram, estas servem como uma

“assinatura” do ambiente. A Formação Ponta Grossa (Devoniano da bacia do Paraná)

contém inúmeras microrestruturas, que passam despercebidas ao exame macroscópico.

Assim faz-se necessária a utilização de técnicas microscópicas de observação, que

muitas vezes são negligenciadas por dificuldades inerentes à sua própria observação e

principalmente quando aplicadas a rochas microclásticas. Este estudo permitiu o

reconhecimento de dois grupos distintos de microestruturas, uma de origem física e

outra biogênica que ocorrem nos membros Jaguariaíva (trato transgressivo) e São

Domingos (trato de mar alto). As microestruturas físicas, marcadas pela abundância de

feições erosivas e intercalação de areia muito fina e silte em meio a argilas ocorrem

preferencialmente no trato de mar alto e sugerem ação de correntes atuando no

substrato, enquanto que o trato transgressivo é caracterizado pelo alto índice de

reelaboração do substrato, abundância de microestruturas biogênicas e baixa diversidade

de icnogêneros.

Palavras-chave: Microestruturas, Folhelho, Formação Ponta Grossa, Bacia do Paraná.

ABSTRACT – CARELLI, T.G. & BORGHI, L. – Shale microstructure of Ponta Grossa

Formation, Devonian of Paraná basin. The term microstructure encompasses all

sedimentary features resulting from physical, chemical or biological processes occurring

at sedimentary particle scale (microscale). When preserved, these microstrucures inform

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us about sedimentary processes, and are clues for the paleoenvironmental

understanding. The Ponta Grossa Formation shales (Devonian, Paraná Basin) present a

sort of microstructures that are imperceptible to an unaided eye. Microscopic

observation techniques are frequently neglected due to difficulties inherent not only to

the description procedures in thin sections but also to their own preparation. This study

allowed to recognize two distinct groups of microstructures: one physical and another

biogenical; both occurring in the lower Jaguariaíva Member (in a 3rd

order trangressive

system tract context) and in the upper São Domingos Member (highstand system tract).

Physical structures are marked by abundant erosive features and very fine sand/silt and

clay interbedding, resulting from currents acting on the bottom, and occurring typically

in the HST, besides microbiolaminations (microbial mats), associated to

prodelta/offshore paleoenvironments; whereas the TST is characterized by biogenical

structures that strongly rework (bioturbation) previously deposited very fine sands and

muds under probable wave action, in proximal offshore paleoenvironments.

Key-words: Microstructure, Shale, Ponta Grossa Formation, Paraná basin.

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INTRODUÇÃO

O estudo de rochas sedimentares microclásticas, mais conhecidas como “folhelhos”

tem constituído um tema de fronteira dentro da Geologia sedimentar. Estas rochas, que

englobam uma ampla gama de litologias e nomenclaturas (q.v. Macquaker & Adams,

2003) representando aproximadamente dois terços do volume de rochas sedimentares

do registro geológico (cf. Potter et al., 2005) ainda tem recebido pouca atenção; exceto

aquelas denominadas “black shales”, uma vez que, devido ao seu elevado teor

orgânico, são geradoras de hidrocarbonetos por excelência.

A falta de um consenso por parte dos pesquisadores fez com que o termo folhelho,

uma rocha físsil, seja hoje aplicado a qualquer rocha de granulometria fina que tenha

fissilidade (ex: arenito muito fino argiloso, siltito argiloso etc.). Estas rochas podem

ainda equivaler aos termos: “microclásticos”, “lamitos”, “pelitos” e “lutitos”. Desta

forma, o termo “folhelho” tornou-se um “guarda-chuva” de litologias que contêm

inúmeras microestruturas, que passam despercebidas ao exame macroscópico. Assim,

faz-se necessária a utilização de técnicas microscópicas de observação dessas

microestruturas, que muitas vezes são negligenciadas por dificuldades inerentes à

própria observação.

O consenso tradicional afirma que a deposição de argilas ocorre principalmente sob

forma decantativa em ambientes de baixa energia e anóxicos, que favorecem a

preservação da matéria orgânica. No entanto, estudos revelam a possibilidade de

acumulação de argilas em ambientes de energia mais elevada (Aigner & Reineck, 1982;

Schieber, 1998; Bass & Best, 2002; Schieber & Yawar, 2007), melhor discutido pelo

estudo, ainda em progresso, das microestruturas e outros atributos presentes nestas

rochas (q.v. Esteban, 2003; Schieber, 2007a; O’ Brien, 1990; Lobza & Schieber, 1999).

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Discussões paleoambientais e estratigráficas também são muito comuns, sobretudo

em rochas microclásticas de origem marinha depositadas em bacias de interior

cratônico, particularmente durante o período Devoniano, quando transgressões marinhas

foram muito comuns, permitindo assim, o desenvolvimento de extensos mares

epicontinentais. Nesse contexto, a Formação Ponta Grossa da bacia do Paraná é um

importante caso de estudo, no qual o Membro Jaguariaíva representa o início da

transgressão num ciclo de 3° ordem e o Membro São Domingos o máximo eustático (cf.

Diniz, 1985; Bergamaschi, 1999).

Nosso estudo tem o objetivo de identificar estruturas em microescala que ocorrem

nas rochas microclásticas (folhelhos) da Formação Ponta Grossa, inseridos em um

esquema de estratigrafia sequencial de 3°ordem (cf. Diniz, 1985; Bergamaschi, 1999) e

ainda apoiadas por dados geoquímicos (carbono orgânico total) com a finalidade de

discutir processos sedimentares e o contexto paleoambiental.

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MATERIAL E MÉTODO

O material de estudo consta de um total de 35 amostras de rochas microclásticas

coletadas através de plugagem (utilizando uma plugadeira modelo BOSCH GDB 1600

WE, com diâmetro aproximado de 1” polegada), na borda Leste da bacia do Paraná.

Destas, 20 amostras foram coletadas nos afloramentos expostos nos cortes do ramal

ferroviário Jaguariaíva-Arapoti, entre o km 2,2 e km 6,0, nos arredores da cidade de

Jaguariaíva, correspondendo à parte inferior (trato transgressivo) da sequência B de

Bergamaschi (1999) e Bergamaschi & Pereira (2001). As outras 15 amostras foram

coletadas no afloramento do Membro São Domingos, localizado na rodovia BR-376,

km 426 no trecho entre as cidades de Ponta Grossa e Apucarana, correspondendo à

parte superior (trato de mar alto) da sequência B de Bergamschi (1999) e Bergamaschi

& Pereira (2001).

Uma vez que o termo folhelho refere-se apenas a uma rocha argilosa físsil,

utilizaremos neste trabalho apenas a terminologia “microclástica” para referir-se aos

folhelhos e rochas conatas de granulometria fina, menores que 0,062 mm dispensando

outros termos correlatos.

A caracterização de microestruturas foi desenvolvida a partir de observações iniciais

com auxílio de um estereomicroscópio (Zeiss Stemi 2000-C, com luz refletida) em

meso- e microescala de seções dos plugues, sem fazer uso de lâminas delgadas, que

requer uso do microscópio de luz transmitida/polarizada. Uma vez caracterizadas, as

microestruturas foram classificadas em físicas e biogênicas e suas dimensões foram

classificadas em: submilimétricas (< 0,3mm), milimétricas (0,3mm a 3mm),

centimétricas (3mm a 3cm) e decimétricas (> 3cm). A identificação taxonômica das

microestruras biogênicas foi baseada em Fernandes et al. (2002) que seguem a

classificação etológica de Seilacher (1964 ).

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Com o intuito de quantificar o grau de bioturbação nas amostras, optamos aqui pela

utilização de um código simplificado de Droser & Bottjer (1989) (0) = bioturbação

ausente, (1) = bioturbação incipiente, (2) = bioturbação Moderada, (3) = bioturbação

intensa e (4) = total retrabalhamento por bioturbação.

Análises geoquímicas de carbono orgânico total (COT) complementam o estudo

com o intuito de comparar e correlacionar àquelas obtidas numa sucessão estratigráfica

no mesmo afloramento do Membro Jaguariaíva realizadas por Bergamaschi (1999).

FIGURA 1. Mapa de localização geográfica da borda Leste da bacia do Paraná (PR) e dos pontos de

amostragem. Ponto 1, afloramento de Membro Jaguariaíva (trato transgressivo) exposto no ramal

ferroviário Jaguariaíva-Arapoti, entre o km 2,2 e km 6,0. Ponto 2, afloramento do Membro São Domingos

(trato de mar alto) exposto na rodovia BR-376, km 426 próximo as cidades de Tibagi e Ponta Grossa.

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CONTEXTO GEOLÓGICO

FORMAÇÃO PONTA GROSSA

O Membro Jaguariaíva, juntamente com os membros Tibagi e São Domingos,

compoem a Formação Ponta Grossa, tida como uma megassequência transgressiva

depositada do Praguiano ao final do Frasniano, inserida no Grupo Paraná, bacia do

Paraná; uma ampla bacia intracratônica situada no centro sul da América do sul (q.v.

Milani, 1997; Milani et al., 2007). Trata-se essencialmente de rochas microclásticas de

coloração escura com laminação plano-paralela, por vezes maciça e extremamente ricas

em micro- e macrofósseis. É comum encontrar intercalações decimétricas de arenito

fino com estratificação cruzada de pequeno porte e marcas onduladas com grande

continuidade lateral no topo da unidade, além de abundantes detritos vegetais (Lange &

Petri, 1967).

A Formação Ponta Grossa aflora nas bordas Leste (no Estado do Paraná), Noroeste

(no Estado do Mato Grosso), Oeste (nos Estados do Mato Grosso e Mato Grosso do

Sul) e Nordeste (nos Estados de Mato Grosso e Goiás); e, em subsuperfície, além dos

estados onde aflora, ocorre no sudoeste de São Paulo e extremo norte de Santa Catarina.

Segundo Melo (1988), em termos paleontológicos, a Formação Ponta Grossa é

conhecida por sua abundante, porém não tão diversificada, fauna de invertebrados

marinhos (Fauna Malvinocáfrica). Essa fauna compõe-se de braquiópodes, trilobitas,

biválvios, gastrópodes, equinóides e outros invertebrados fósseis mais raros.

Bergamaschi (1999) estabelece para a Formação Ponta Grossa um paleoambiente de

antepraia superior dominado por ondas normais e de tempestades a partir de

observações faciológicas.

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Dino et al. (1995, segundo Milani, 1997) tem atribuído uma idade de deposição

pré-Emsiano/Frasniano para a Formação Ponta Grossa, baseado na ausência do

esporomorfo Emphanisporites annulatus (esporomorfo com aparecimento no limite

inferior do Emsiano). Grahn (1992, 2000) entretanto, advoga uma idade

Praguiana/Frasniano estabelecida a partir do conteúdo de quitinozoários coletados na

seção colunar Jaguariaíva e, mais recentemente, Grahn et al. (2010) tem posicionado a

base da Formação Ponta Grossa entre o fim do Praguiano ou Emsiano inicial. Para a

parte superior, Oliveira (1997) atribui uma idade Givetiano final a Frasniano, a partir de

análises realizadas no afloramento exposto no km 426 da BR- 376. Já Loboziak (1995)

advoga uma idade Praguiano-Fameniano, a partir da análise de esporos fósseis.

FIGURA 2. Diagrama estratigráfico do Grupo Paraná, bacia do Paraná (simplificado de Milani et al.,

2007).

MEMBRO JAGUARIAÍVA

O nome “Membro Jaguariaíva” foi proposto por Lange & Petri (1967) para designar

os folhelhos que ocorrem abaixo do Membro Tibagi, em afloramentos na zona urbana

do município de Jaguariaíva, Estado do Paraná.

A seção-tipo da unidade é o afloramento exposto na rodovia Jaguariaíva-Arapoti, do

Km 2,2 ao 6,6 nas proximidades da cidade de Jaguariaíva (PR), marcando os estágios

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iniciais da transgressão sob os sistemas transicionais a costeiros da porção superior da

Formação Furnas. Sua idade é Praguiano/Emsiano segundo Loboziak

(1995).estabelecida a partir do conteúdo de quitinozoários coletados no afloramento do

Membro Jaguariaíva (cf. Grahn, 1992, 2000). Estudos recentes realizados por Grahn et

al. (2010) revelam um hiato deposicional de aproximadamente 4 Ma entre a Formação

Furnas e a base da Formação Ponta Grossa (Mb. Jaguariaíva) na sub-bacia de

Apucarana, atribuindo uma idade de deposição entre o final do Praguiano ou Eo-

Emsiano para a base do Membro Jaguariaíva.

O Membro Jaguariaíva constitui-se genericamente de rochas microclásticas de cores

acinzentadas, com cerca de 100 m de espessura, contendo lentes de arenito muito fino e

siltitos (Petri, 1948; Lange & Petri, 1967), além de apresentar estruturas como

laminação plano-paralela, laminação cruzada por onda e feições heterolíticas e climbing

ripples (Bergamaschi, 1999).

Seu paleoambiente é reconhecido como marinho franco, baseado na expressiva

Fauna Malvinocáfrica (Melo, 1988). Bergamaschi (1999), baseado em observações

litológicas e icnofaciológicas, estabelece um paleoambiente marinho raso no domínio de

antepraia inferior, sob ação de ondas de tempestades para a base do Membro

Jaguariaíva, o qual é sucedido por um paleoambiente plataformal abaixo do nível base

de ação de ondas, no domínio de costa-afora.

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FIGURA 3. Integração do perfil litológico da seção estudada do Membro Jaguariaíva com análises de

COT obtidas neste estudo e por Bergamaschi (1999) para o mesmo afloramento. A posição das setas na

coluna “amostragem/litologia” indica o ponto de coleta no perfil litológico.

MEMBRO SÃO DOMINGOS

O Membro São Domingos teve seu nome introduzido na literatura geológica por

Maack (1947), como folhelhos de São Domingos, situados no topo do “Grupo Santa

Rosa”. O nome é derivado do riacho São Domingos, afluente do rio Santa Rosa, um

distributário da margem esquerda do rio Tibagi. Sua ocorrência é restrita a algumas

regiões do Estado do Paraná, pois em direção a parte central da bacia, predomina apenas

uma sequência argilosa, considerada indivisível por Lange & Petri (1967).

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O Membro São Domingos constitui-se genericamente de rochas microclásticas de

cores escuras, com laminação plano-paralela, por vezes maciços, extremamente ricos

em fósseis, microfósseis e detritos vegetais (Lange & Petri, 1967). Segundo Oliveira

(1997) sua idade de deposição abrange o intervalo inicial do Givetiano até o Frasniano.

Em termos faciológicos o afloramento deste membro (localizado na BR-376, km

426) apresenta-se sob a forma de ciclos de raseamento ou engrossamento

granulométrico em direção ao topo, iniciando na base por argilitos, siltitos com

interlaminações arenito muito fino e laminação cruzada por onda, sendo substituídos em

direção ao topo por finas camadas de arenito muito fino com estratificação cruzada

hummocky (HCS) de comprimento decimétricos (q.v. Bergamaschi, 1999).

Segundo Bergamaschi (1999), em termos paleoambientais as características

faciológicas do Membro São Domingos apontam para a implantação de uma plataforma

marinha rasa dominada, dominada pela ação de ondas, onde ficaram registrados ciclos

de coarsening upward.

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FIGURA 4. Integração do perfil litológico representando a seção estudada do Membro São Domingos,

grau de bioturbação e análise de COT. A posição dos números na coluna “Amostras” indica o ponto de

coleta no perfil litológico. A intensidade da bioturbação é baseada no índice de icnotrama simplificado de

Droser & Bottjer (1989). Observe que a intensidade bioturbação tende a acompanhar a curva de COT, no

entanto, quando observamos o aumento do COT na amostra 13, ocorre uma estagnação na reelaboração

biogênica, apontando para condições estressantes (provavelmente uma zona anóxica). Já o pico de COT

da amostra 5 está relacionado a abundância de detritos vegetais. Desta forma, vemos que o índice de

bioturbação nem sempre mantém estreita relação com o teor de COT.

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MICROESTRUTURAS

Microestruturas preservadas em rochas microclásticas trazem consigo informações

importantes sobre os processos sedimentares que atuaram na deposição das mesmas.

Uma vez reconhecidos os processos que geraram as microestruturas, estas servem como

uma “assinatura” do ambiente em questão (cf. Faas & O’Brien, 1991).

O termo estrutura sedimentar reflete uma feição em meso- ou macroescala resultante

de processos físicos, químicos e biológicos que retratam a forma e compasso da

acumulação dos sedimentos. Quando resulta do fenômeno da estratificação, retratam

variações texturais, composicionais e da petrotrama, refletindo-se na organização

interna das camadas (mesoescalas) ou mesmo entre elas (macroescala). Em se tratando

dessas feições na escala de partículas (microescala), utiliza-se o termo microestrutura.

Autores tendem a aplicar o termo “microestrutura” a rochas microclásticas, para

referir-se à trama do sedimento, propriedade que reflete a orientação, o empacotamento

(contatos), a distribuição das partículas sedimentares e a porosidade (Faas & O’Brien,

1991; Bennett et al., 1991; Potter et al., 2005), o que é melhor expresso pelo termo

“microtrama”. Para efeito descritivo em rochas microclásticas, sugerimos também o uso

do termo “microtextura” para referir-se a aspectos como granulometria, seleção,

esfericidade (circularidade) e arredondamento (angulosidade), quando sua observação

for possível.

Outro ponto de discussão descritiva trata do emprego do termo “camada” e

“lâmina”, aplicado a rochas microclásticas como aqui sugerido. Segundo Campbell

(1967), uma camada representa o registro de um evento deposicional qualitativamente

discreto em uma sucessão estratigráfica limitada por superfícies de não deposição ou

erosão, enquanto que o termo “lâmina” é a menor unidade de sedimentação, sendo

individualizada por superfícies de estratificação (laminações) representando breves

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pausas na sedimentação ou variação da energia do mecanismo deposicional, dentro de

um evento deposicional discreto sem fazer alusão à espessura de ocorrência.

Não obstante, lâminas muitas vezes são entendidas como camadas delgadas menores

que 1cm associadas a eventos deposicionais discretos. Este conceito é preterido em

relação ao de camada apresentado, pois a observação desses eventos em rochas

microclásticas requer uma migração de escala de observação para a escala microscópica

(q.v. Ingram, 1953; Friedman et al., 1992) como ilustrado na figura 5 (A, B e C).

A figura 5 mostra uma migração de escala de observação: o que, a primeiro

momento, nos parece uma incipiente “laminação” é na verdade uma camada (evento)

completa, mostrando uma base erosiva, seguida da deposição de sedimentos em

microgradação inversa pelo aumento de energia do fluxo, o qual deposita um pavimento

de grãos de silte de maior granulometria, seguido de uma diminuição granulométrica em

direção ao topo (microgradação normal). Este evento pode ser interpretado como

registro de um fluxo hiperpicnal em microescala.

FIGURA 5. (A) Observação de microestruturas em escala mesoscópica (amostra de mão). Notar “camada

delgada ou laminação” (sensu Campbell, 1967) no topo da amostra, indicada pelas setas brancas. Escala

3,5 cm. (B) e (C) Observação da microestrutura em escala microscópica. Notar laminação de grãos de

silte indicada pelas setas brancas. Escala: 1 mm e 0,5 mm respectivamente.

A observação de microestruturas em rochas microclásticas nem sempre é fácil e

requer observações pacientes e minunciosas, além de técnicas não convencionais tais

como radiografias e tratamento de imagens, entre outras (Schieber, 2003).

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Assim, com o intuito de operacionalizar os resultados e buscar uma técnica de

aplicação mais rotineira em trabalhos de campo, ou até mesmo em laboratório (quando

possível), é que iremos tratar aqui somente das microestruturas que podem ser

observadas em meso- e microescalas em aumento máximo de 5x no estéreomicroscópio

em luz refletida, sem a utilização de lâminas delgadas, como forma de aproximar

descrições mesoscópicas. Sendo assim, este método nos permitiu a identificação de dois

grupos de microestruturas: um de origem física e outro de origem biogênica, descritos a

seguir.

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RESULTADOS

MICROESTRUTURAS FÍSICAS

Micromarca de Sobrecarga (Figura 6-A) – Corpos arredondados de tamanho

milimétrico que ocorrem como protuberâncias na base da camada superior de silte sobre

camadas argilosas abaixo. Formados pela diferença de densidade entre as duas

litologias, gerando assim um deslocamento vertical de massas. A presença desta

microestrutura indica que as camadas argilosas abaixo constituíam um substrato lamoso

(soupy) e não compactado de baixa densidade, devido ao conteúdo abundante de água

(Schieber, 2007a). Este tipo de microestrutura geralmente é preservado onde ocorre

rápida deposição de lamas, interrompida pela deposição ocasional de sedimentos de

maior granulometria. Estas microestruturas, por vezes, podem apresentar incrível

semelhança com micromarcas de corrugação produzidas por tapetes microbianos

(Schieber, 1991). Ocorre na amostra 3, perfil da figura 4 no nível 1,65 m

aproximadamente.

Microestrutura em Chama (Figura 6-A) – Estruturas em hiporrelevo negativo de

tamanho milimétrico a submilimétrico. ocorrem sob a forma de línguas de material

argiloso que invadem a base de uma camada de silte sobreposta. Formada a partir de

fluxos fluidizados que induzem a deformação que ocorre na interface entre camadas.

Ocorrem associadas à micromarcas de carga. Este tipo de microestrutura geralmente é

preservado onde ocorre rápida deposição de lamas, interrompida pela deposição

ocasional de sedimentos de maior granulometria (Schieber, 1991). Ocorre na amostra 3,

perfil da figura 4 no nível 1,65 m aproximadamente.

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Micromarca de Calha (Figura 6-B, 6-C) - Calha erosiva de tamanho milimétrico a

centimétrico em formato de “U” ou concavidade rasa, preenchida por sedimentos de

maior granulometria (siltes). Por vezes, é possível observar internamente laminações

submilimétricas em onlap, restritas na maioria dos casos às de tamanho centimétrico, ou

mais comumente, seu preenchimento ocorre sob a forma de micrograções normais

(diminuição granulométrica em direção ao topo), caracterizando assim uma diminuição

na energia do fluxo. É formada por um fluxo hidrodinâmico trativo/turbulento,

auxiliado pelo efeito erosivo dos sedimentos de maior granulometria (silte). Segundo

Schieber (1998), o reconhecimento destas superfícies erosivas é comparativamente fácil

para aquelas que são côncavo-onduladas ou mostram diferença angular entre camadas

acima e abaixo. Esse tipo de microestrutura, denominada “lag” por Schieber (1998),

aparece constantemente preenchido por material retrabalhado (Figura 6-C). Ocorre nas

amostras 2, 7, 10 e 11 no perfil da figura 4.

Micromarca Lenticular (Figura 6-B) – Lentes de silte ou areia muito fina de tamanho

milimétrico a centimétrico, aleitadas entre camadas argilosas. Formada por um pulso

trativo em meio a processos decantativos. Durante a breve ação dos fluxos trativos,

enquanto os siltes são transportados, as argilas permanecem em suspensão até a

quiescência do fluxo, quando então são depositadas abundantemente. Schieber (1991)

sugere que este tipo de microestrutura pode representar a migração de microondulações

assimétricas sob a superfície lamosa, sedimentação episódica por fluxos hiperpicnais e

turbidíticos de baixa densidade, ou ainda processos de ressedimentação por

tempestades. O’Brien et al. (1998) advoga que intercalações de camadas milimétricas

ou centimétricas de silte e argila oferece evidência de sedimentação episódica. Ocorre

nas amostras 10 e 12 no perfil da figura 4.

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Microacamamento Gradacional (Figura 6-C) – Variação gradual de granulometria da

base para o topo. Seu tamanho pode variar de submilimétrico a centimétrico. Pode ser

normal, quando se inicia com contato nítido (geralmente erosivo) e sedimentos de maior

granulometria na base, que são substituídos em direção ao topo por sedimentos de

menor granulometria, caracterizando uma diminuição na energia do fluxo, ou Inversa,

quando exibe um contato basal não nítido, sendo substituído em direção ao topo por um

aumento na granulometria. Este tipo de microestrutura pode ser gerada por processos de

ressedimentação por ação de ondas ou desaceleração de fluxos trativos, tais como

correntes de turbidez, correntes de fundo ou ainda atribuídas a fases iniciais e finais de

fluxos hiperpicnais de baixa densidade (Schieber, 1991; Mulder et al., 2003). Ocorre

nas amostras 1, 2, 4, 7, 8, 9, 10 e 11 no perfil da figura 4.

Micromarca de Corrugação (Figura 6-C) – Cristas convexas bem marcadas ou não,

separadas por calhas milimétricas em formato de “U” ou “V”, ocorrendo no topo das

camadas argilosas. Podem ainda apresentar-se sob aspecto ondulado sem padrão bem

definido, onde se observam estruturas semelhantes a filamentos, que saem das camadas

argilosas em direção às camadas sílticas ou arenosas na parte superior. Formada pelo

crescimento irregular do tapete microbiano ou biofilmes, o qual, além de armadilhar

sedimentos finos, também deforma a superfície deposicional. Essas cristas podem ser

confundidas com micromarcas de sobrecarga. No entanto, sua diferenciação deve-se ao

fato de poderem incorporar micas e pelotas de argila, armadilhadas pela trama

microbiana. Kumar & Pandey (2007) chamam atenção para o fato de que a gênese deste

tipo de microestrutura em rochas microclásticas pode ser puramente inorgânica em

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função de sua natureza coesiva das argilas. Ocorre nas amostras 1, 2 e 7 no perfil da

figura 4.

Microlaminação Plano-paralela (Figura 6-D) – Conjunto de lâminas que variam de

espessuras submilimétricas a centimétricas, paralelas a superfície de acamamento. Estas

laminações individualizam-se por variações composicionais (mineralógicas e orgânicas)

texturais e de cor. São compostas predominantemente de material síltico e reconhecidas

como contínuas em função da persistência lateral. Formada por decantação ou tração de

finos em suspensão turbulenta em meio subaquoso, pela flutuação cíclica de energia, de

condições de oxi-redução e da produtividade orgânica ou até pelo desenvolvimento de

tapetes microbianos. Este tipo de microestrutura é comumente observada em regiões de

altas taxas de acumulação ou onde o retrabalhamento físico é intenso (Kuehl et al.

1991). Ainda segundo os autores, os contatos basais bruscos sugerem correntes de

energia elevada, capazes de erosionar argilas semi-consolidadas. Ocorre nas amostras 1,

3, 6, 8, 10, 11, 12 e 14 no perfil da figura 4.

Micromarca de Ondulação Assimétrica (Figura 6-E e 6-F) – Ondulações milimétricas

ou centimétricas em silte. Apresentam-se como cristas retilínias ou sinuosas, separadas

por depressões. É possível observar laminações (submilimétricas ou milimétricas)

internas que mostram acreção frontal. Outro aspecto interessante é o fato de que muitas

destas microestruturas vistas em corte frontal são confundidas com “microlaminações

plano-paralelas”. A figura 6-F.1 mostra um corte lateral onde pode ser observada a

sigmóide da microestrutura (Laminações submilimétricas em down lap). É formada por

fluxo unidirecional trativo (corrente). Schieber & Yawar (2007) relata a ocorrência de

feições similares em intervalos microclásticos da Formação Eau Claire do Cambriano

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superior, localizada no Estado de Indiana (EUA), e interpretada como o registro de uma

plataforma epicontinental dominada por tempestades. Aigner & Reineck (1982)

sugerem que correntes amplificadas por tempestades podem transportar sedimentos de

granulometria mais grossa (silte ou areia muito fina) ou argila floculada da plataforma

para costa-afora, região onde predomina deposição de finos e processos decantativos e

gerar este tipo de microestrutura. Este tipo de microestrutura também pode ser gerada

por processos hiperpicanais, os quais atuam como eficientes mecanismos de transporte

de material síltico para costa-afora (Imran & Syvitsky, 2000; Mulder et al., 2003).

Ocorre nas amostras 1, 7, 14 e 15 no perfil da figura 4.

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FIGURA 6. Estampa representando as principais microestruturas físicas que o correm na Formação

Ponta Grossa. Fotomicrografia (A): Micromarca de sobrecarga; Fotomicrografia (B): Micromarca de

calha e Micromarca lenticular vista na parte superior; Fotomicrografia (C): Micromarca de corrugação

vista na base da microcamada de silte grosso. Observar a presença do icnogênero Asterosoma isp.

Fotomicrografia (D): Microlaminação plano-paralela; Fotomicrografia (E): Micromarca de ondulação

assimétrica; Fotomicrografia (F): Esta figura mostra uma micromarca de ondulação assimétrica que

poderia ser confundida com uma microlaminação plano-paralela quando vista de frente em perfil, a figura

(F.1) mostra um corte lateral onde pode se observar o formato sigmoidal da microestrutura e suas

microlaminações internas. As escalas utilizadas correspondem a 3mm.

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MICROESTRUTURAS BIOGÊNICAS

Planolites isp. (figura 7-A) – Tubo em que se observa seção transversal circular a

elíptica de dimensão milimétrica, com preenchimento síltico em meio a matriz argilosa.

É reconhecido como um icnito de alimentação (Fodinichnia), sendo produzida por

animais vermiformes sedimentívoros. Algumas destas microestruturas apresentam

argilosidade ou piritização nas bordas. As partículas de argila nas bordas são

aprisionadas pelo muco segregado pelo organismo com o intuíto de facilitar sua

locomoção no substrato ou estabilizar as paredes do tubo. A presença deste muco,

favorece o desenvolvimento de colônias de bactérias que induzem a precipitação de

pirita (Buatois et al. 2002; Gibert & Ekdale, 2002). Ocorre nas amostras: 1, 3, 4, 7, 8, 9,

10, 11, 12, 14 e 15 no perfil da figura 4 e 1, 3, 4, 5, 6, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17

e 18 no perfil da figura 3.

Gyrolithes isp. (figura 7-B) – Escavação sinuosa a helicoidal de dimensão centimétrica,

orientadas verticalmente em relação à estratificação. Assume-se que tenha sido gerada

num substrato semiconsolidado ou brando (softground) adquirindo esta forma mais

horizontalizada (padrão meandrante), devido à posterior compactação. É reconhecido

como icnito de habitação (Domichnia), produzido por artrópodes crustáceos decápodes.

Ocorre na amostra 3 no perfil da figura 4.

Helminthopsis isp. (figura 7-C) – Pistas milimétricas de preenchimento maciço, não

ramificadas. Em planta, podem apresentar-se irregularmente sinuosas e sem

intercruzamentos entre si. Ocorre em grande parte das amostras. É reconhecido como

icnito de pastagem (Pascichnia), produzido por anelídeos poliquetos e possivelmente

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priapulídeos. Ocorre nas amostras: 1, 2, 3, 4, 5, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15 no perfil

da figura 4 e 1, 3, 4, 5, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 17, 18 e 19 no perfil da figura 3.

Zoophycos isp. (figura 7-D) – Escavações horizontais centimétricas com spreite

internos. Podem apresentar-se com contornos ou limites bem definidos ou não. É

reconhecido como um icnito de alimentação (Fodinichnia), produzido por anelídeos

poliquetos, sipunculídeos, foronídeos e equiúros; mostrando o deslocamento do animal

vermiforme explorando a matéria orgânica no sedimento. Ocorre nas amostras: 1 e 8 no

perfil da figura 4 e 3, 8, 12, e 18 no perfil das figura 3.

Terebellina isp. (figura 4-E) - Escavações horizontais, leve a fortemente encurvadas,

apresentando seção elíptica de diâmetro milimétrico com paredes preenchidas por

material síltico. O efeito horizontalizado da elipse deve-se a posterior compactação do

substrato. É considerado um icnito de habitação (Domichnia), produzido por

organismos suspensíveros semelhante aos anelídeos poliquetas sabeliaiídeos. Ocorre na

amostra 12.

Teichichnus isp. (figura 4-F) – Estruturas septadas horizontais a oblíquas e irregulares,

de dimensão centimétrica assemelhando-se a spreite. O processo de

locomoção/alimentação do animal gera segregação de silte e argila. É reconhecido como

icnito de alimentação (Fodinichnia), provavelmente produzido por anelídeos e

artrópodes. Ocorre na amostras: 15 no perfil da figura 4 e 16 da figura 3.

Asterosoma isp. (figura 3-C) – Tubos elípticos ou semicirculares de dimensão

centimétrica constituídas de lâminas delgadas concêntricas de silte fino e argila em

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torno de um tubo central. É reconhecido como icnito de alimentação (Fodinichnia),

provavelmente produzido por artrópodes crustáceos e organismos vermiformes. Ocorre

na amostras: 2 no perfil da figura 4 e 2, 5, 7, 10 e 16 no perfil da figura 3.

FIGURA 7. Estampa representando as principais microestruturas biogênicas que ocorrem na Formação

Ponta Grossa. Fotomicrografia (A): Planolites isp.; Fotomicrografia (B): Gyrolithes isp.; Fotomicrografia

(C): Helminthopsis isp.; Fotomicrografia (D): Zoophycos isp., cortado pelo icnogênero Helminthopsis

isp.; Fotomicrografia (E): Terebellina isp.; Fotomicrografia (F): Teichichnus isp. As escalas utilizadas

correspondem a 3mm.

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DISCUSSÃO

MEMBRO JAGUARIAÍVA – TRATO TRANSGRESSIVO

As amostras referentes ao Membro Jaguariaíva são caracterizadas por serem

essencialmente sílticas (areia muito fina ocorre dispersa pela amostra ou concentrada

em bioturbações), de coloração acinzentada, fossilíferas, abundantes em microestruturas

biogênicas e quase ausentes de microestruturas físicas. Pirita ocorre preenchendo

bioturbações ou no interior de cistos tasmanites.

Grande parte das amostras revela uma microtrama caótica e ausência de

microestruturas físicas primárias (ou deposicionais), ficando estes atributos restritos as

amostras que caracterizam as superfícies de inundação observadas no perfil litológico

da figura 3. Estes intervalos são materializados por rochas microclásticas de cores cinza

escuro a preto, finamente laminadas e ricas em matéria orgânica (Figura 2).

Segundo O’Brien & Slatt (1990) o comportamento faciológico das amostras

analisadas é típico de fácies marinhas transgressiva. Durante a fase inicial da

transgressão prevalece a deposição em condições óxicas/disóxicas

À medida que a transgressão avança e encontra águas relativamente rasas, a ação de

ondas pode resuspender os sedimentos previamente depositados e oxigenar o fundo

marinho, gerando assim, condições favoráveis a colonização do substrato por

organismos. Em condições favoráveis esses organismos podem remobilizar todo o

sedimento na busca por alimento, gerando assim uma microtrama caótica e o aspecto

mosqueado do sedimento. No entanto, com a subida relativa do nível do mar, estas

zonas passam a ter menor oxigenação e o incremento da lâmina d’água favorece a

deposição por processos decantativos em condições anóxicas.

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MEMBRO SÃO DOMINGOS – TRATO DE MAR ALTO

As amostras do Membro São Domingos são caracterizadas por laminações e

camadas delgadas de silte e areia muito fina intercaladas a camadas argilosas de cores

que variam de cinza escuro a negro, abundância de microestruturas físicas e biogênicas.

Pirita ocorre dispersa pelas amostras. Este padrão faciológico associado a abundância de

material fitoclástico permite a interpretação de um ambiente de baixa energia sujeito a

aporte periódico de material continental por fluxos hiperpicnais e ação de tempestades

(O’Brien, 1998; Plink-Björklund & Steel, 2003).

Grande parte das amostras mostram microtrama orientada, exceto as amostras 13,14

e 15 observadas no perfil litológico da figura 4, que são caracterizadas por um aspecto

mosqueado onde o retrabalhamento por organismos é mais intenso.

Dentre as microestruturas físicas, ocorrem frequentemente uma série de feições

associadas a fluxos de corrente (laminações, ondulação assimétrica, microgradação e

outras), mostrando que o ambiente era sujeito a esporádicos fluxos trativos.

A primeira parassequência revela uma baixa variedade de icnogêneros e intensidade

de bioturbação, sendo estas observadas localmente. A parte basal da segunda

parassequência também apresenta um comportamento faciológico similar a primeira, no

entanto, a partir da amostra 8 observa-se um aumento no índice de retrabalhamento do

substrato (bioturbações) e sensível diminuição de material fitoclástico. A observação

destes atributos fica evidente nas amostras 12, 13, 14 e 15; onde é possível identificar

também um incremento na variedade de icnogêneros (Terebellina isp. e Teichicnus

isp.).

A observação dos contatos basais das laminações delgadas são pontos chaves para

interpretação dos processos atuantes. Kuehl et al. (1991) descreve camadas delgadas de

silte com contatos bruscos na base, intercalados a uma matriz argilosa, indicando que a

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28

formação das mesmas é geralmente precedida pelo aumento da força de cisalhamento de

fundo e consequente erosão do substrato. Estes contatos também podem ser irregulares

e conter microclastos de argila, indicando correntes de magnitude suficientemente altas

para erodir argilas semi-consolidadas.

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29

CONCLUSÃO

Este estudo permitiu o reconhecimento de dois grupos distintos de microestruturas,

uma de origem física (ou hidrodinâmicas) e outra biogênica que ocorrem nos membros

microclásticos Jaguariaíva (trato transgressivo) e São Domingos (trato de mar alto) da

Formação Ponta Grossa.

A icnocenose estabelecida a partir do conjunto de microestruturas biogênicas que

aparecem sob formas horizontalizadas e inclinadas descritas anteriormente, permitiu a

caracterização da icnofácies cruziana distal para o contexto geral do paleoambiente.

Esta icnofácies é representada por baixa diversificação de categorias etológicas (sejam

horizontais ou inclinadas) e icnogêneros, variando em termos de ocorrência abaixo do

nível base de ondas normais até níveis de baixa energia em águas profundas e calmas de

costa-afora (Pemberton et al., 2001; Buatois et al., 2002).

As amostras do Membro Jaguariaíva apresentam-se totalmente bioturbadas, quase

ausentes de microestruturas físicas, e uma microtrama caótica, exceto por aquelas que

ocorrem representando a superfície de inundação máxima (amostra 20).

As microestruturas físicas representadas por feições erosivas associadas a fluxos

trativos ocorrem preferencialmente no Membro São Domingos (trato de mar alto) e

sugere a ação de correntes de fundo atuando no substrato. A quase ausência de

microestruturas físicas no trato transgressivo é decorrente da reelaboração do substrato

por organismos, que acabam por obliterar a microtrama deposicional.

Diferentemente do trato transgressivo, onde as amostras apresentam uma microtrama

caótica atribuída à reelaboração biogênica, o trato de mar alto apresenta num contexto

geral, amostras com microtrama relativamente orientadas, refletindo assim a alternância

de fluxos trativos e processos decantativos.

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30

As microestruturas biogênicas que ocorrem no Membro são Domingos (TSMA)

apresentam maior diversidade em relação ao Membro Jaguariaíva (TST), porém menor

índice de bioturbação provavelmente relacionado a condições paleoambientais

estressantes.

Pereira et al., (2007) relaciona que o aparecimento do icnogênero Terebellina isp.,

representa a porção mais distal da área abrangida pela da icnofácies cruziana. No

entanto a presença ou ausência de um icnogênero não é suficiente para atestar o caráter

distal ou proximal da icnofácies (Pemberton et al., 2001). Sendo assim, sugere-se uma

icnofácies cruziana empobrecida num contexto de costa-afora distal (lower offshore)

para a primeira parassequência da figura 4.

Este caráter empobrecido da icnofácies pode ser gerado pelo aporte de água doce

fluvial e aumento local na taxa sedimentar, mostrando assim a influência de um possível

sistema deltaico em condições de mar alto ou intensa sedimentação durante episódios de

inundações, fato este, apoiado pela abundância de microestruturas físicas (erosionais),

intercalação de camadas milimétricas e sub-milimétricas de silte, areia muito fina e

detritos vegetais.

A diminuição de detritos vegetais, o incremento de icnogêneros e aumento na

intensidade da bioturbação na parte superior da segunda parassequência sugere uma

menor influência fluvial, que acaba por favorecer o desenvolvimento normal da

icnofácies cruziana distal.

Estes fluxos poderiam explicar a abundância de material detrítico vegetal, a

faciologia descrita em grande parte do perfil litológico da figura 4 e a constituição da

matéria orgânica tipo II predominante por toda Formação Ponta Grossa.

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Anexo B – Artigo a ser enviado à revista Geociências da UNESP

O conceito de microfácies sedimentares e sua aplicação ao estudo de rochas sedimentares microclásticas.

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1

O CONCEITO DE MICROFÁCIES SEDIMENTARES E SUA APLICAÇÃO AO ESTUDO

DE ROCHAS MICROCLÁSTICAS (FOLHELHOS).

Thiago Gonçalves Carelli 1, 2

Leonardo Borghi 2

(1) Programa de Pós-graduação em Geologia, UFRJ.

(2) Laboratório de Geologia Sedimentar, Departamento de Geologia, IGEO, CCMN,

Universidade Federal do Rio de Janeiro. Av. Athos da Silveira Ramos, 274, Sl/ J1-11, CEP

21941-916, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected]

Introdução

Microfácies

Microfácies - Abordagem inicial

Microfácies - Outras abordagens

Microfácies - Aplicação

Microfácies - Abordagem proposta

Atributos Diagnósticos

O Processo de Caracterização

Discussão

Conclusão

Referências Bibliográficas

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2

RESUMO - O termo “microfácies” está condicionado a um conjunto de atributos observados

preferencialmente por técnicas de microscopia, embora existam diferentes conceitos e

aplicações. No entanto, ainda hoje é comum encontrar divergências de conceitos e diferentes

aplicações. A caracterização de uma microfácies não deve ser encarada como uma simples

descrição petrográfica, mas sim como uma análise peculiar que envolve diferentes técnicas

descritivas e escalas (variação estratal), cujo objetivo é a interpretação de processos

sedimentares, proveniência e paleoambientes. Quando aplicados a rochas microclásticas (<

0,062mm) mais conhecidas como “folhelhos”, a caracterização de microfácies contribui

efetivamente na caracterização de propriedades que poderão favorecer sua atuação como

geradoras, selantes ou reservatórios em sistemas petrolíferos.

Palavras-chave: Microfácies, Rochas Microclásticas, Folhelho, Formação Ponta Grossa,

ABSTRACT – CARELLI, T. G. & BORGHI, L. The microfacies concept and its application to

study of microclastic rocks (shales). Microfacies is a term constrained to a sort of sedimentary

attributes observed preferably by microscopic techniques, although the existing diversity of

concepts and applications of it. The microfacies characterization should not be taken as a simple

petrographic description, but a peculiar analysis that involves many distinct descriptive

techniques and scales (stratal variation), aiming sedimentary processes, provenance and

paleoenvironmental/ paleotecnonic/ paleoclimatic interpretations. When applied to microclastic

rocks (< 0.062mm), usually refered to as “shales”, this characterization also helps in the

understanding reservoir versus sealing efficiency, besides their own source rock characteristics in

petroleum systems.

Keywords: Microfacies, microclastic rocks, Shale, Ponta Grossa Formation.

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3

INTRODUÇÃO

Rochas sedimentares microclásticas (terrígenas) são aquelas compostas

predominantemente por partículas de granulometria fina, menores que 0,062 mm. Estas rochas,

coloquialmente referidas como “folhelhos”, “lamitos”, “pelitos” e “lutitos” hoje constituem um

tema de fronteira dentro da Geologia Sedimentar, sobretudo quando aplicada à Geologia do

Petróleo, na qual são reconhecidas não só como geradoras e selantes, mas também como

reservatórios de baixa permeabilidade (shale gas) em função de sua natureza. As maiores

dificuldades em seu estudo encontram-se relacionadas à classificação litológica; à observação e

classificação de microestruturas, microtramas e microtexturas; assim como sua classificação

segundo o conceito de microfácies, utilizado diferentemente por cada autor.

O termo de campo “folhelho” deve ser aplicado a qualquer rocha predominantemente

microclástica físsil, porém ao contrário dos seus cognatos (lamito, pelitos e lutitos), sem

fissilidade; enquanto que os termos petrográficos siltito e argilito a rochas microclásticas entre

0,062 mm e 0,004 mm e abaixo de 0,004mm respectivamente.

A análise sedimentológica de rochas microclásticas requer estudos petrográficos

microscópicos de rotina (em luz fotônica transmitida, polarizada) ainda pouco aplicados, até

mesmo pela dificuldade de confecção de lâminas delgadas. Quando aplicados a rochas

microclásticas, tais estudos baseavam-se em observações de poucos de seus atributos, que

inicialmente envolviam frequentemente apenas a identificação de minerais autigênicos e opacos

(óxidos) e o arranjo espacial das partículas sedimentares, além da granulometria (observados no

campo da fração silte) devido à dificuldade de observações em função do tamanho pequeno de

seus componentes individuais (cf. Mabesoone, 1974); o que hoje não se mostra mais adequado,

uma vez que existem outros atributos que podem ser observados através de recursos de

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4

microscopia por luz trasmitida/refletida e, posteriormente, utilizados para a caracterização de

microfácies. Além disso, técnicas de MEV/EDS e DRX tornaram-se mais acessíveis, facilitando

a análise rotineira da fração argila e até da microtrama.

O presente trabalho objetiva uma revisão do conceito de microfácies, bem como dos

parâmetros descritivos aplicados ao estudo faciológico de rochas microclásticas, pois o

reconhecimento da qualidade sedimentológica destas rochas em estudos de exploração de

hidrocarbonetos permite determinar heterogeneidades que influenciam no seu papel em sistemas

petrolíferos, além de permitir a inferência de processos sedimentares que atuaram no momento

de sua deposição e após na discussão de paleoambientes, história de soterramento e diagênese.

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5

MICROFÁCIES

MICROFÁCIES – ABORDAGEM INICIAL

Remete-se a Brown (1942) o primeiro emprego do termo “microfácies” para referir-se a

observações de rochas sedimentares em microescala realizadas a partir de lâminas petrográficas,

utilizando técnicas de microscopia de luz fotônica transmitida/polarizada, sem fazer alusão ao

tipo litológico. Em seguida, Cuvillier (1952) emprega-o em uma série de observações

petrográficas e paleontológicas efetuadas igualmente por meio de microscopia.

O avanço na pesquisa de rochas carbonáticas durante as décadas de 1960 e 1970,

impulsionado por estudos de reservatórios de hidrocarbonetos principalmente sob o enfoque

microscópico, ofereceu um substancial progresso na aplicação do termo microfácies. Os estudos

resultantes constituíam uma parte essencial na análise de fácies sedimentares e interpretações

paleoambientais, propiciando uma utilização mais rotineira desse termo. Dentre os trabalhos que

mais contribuíram ao estudo inicial de microfácies carbonáticas destacam-se os de Carozzi et al.

(1973) e Wilson (1975).

Carozzi et al. (1973), ao estudarem a Formação Bonfim, Cretáceo Superior da bacia de

Barreirinhas (margem Equatorial brasileira), descreveu 22 microfácies carbonáticas utilizando-se

unicamente de observações texturais, quando não seguidas de observações ecológicas,

agrupando-as posteriormente em 8 “microfácies compostas”, para estabelecer correlações ou

uma diagnose paleoambiental.

Wilson (1975) sumarizou 24 microfácies carbonáticas (Standard Microfacies Types -

SMF) como guia para a interpretação de paleoambientes deposicionais ao longo do Fanerozóico,

as quais consagraram o uso do termo.

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6

Desta forma, o termo “microfácies” consagrou-se no estudo de rochas carbonáticas,

sendo pouco aplicado, desde então, a rochas terrígenas (siliciclásticos).

MICROFÁCIES – OUTRAS ABORDAGENS

Mendes (1984) define genericamente o termo microfácies como “variações horizontais

e/ou verticais de características litológicas e/ou paleontológicas de um pacote de sedimentos,

perceptíveis unicamente com o uso do microscópio e feitas por meio de lâminas delgadas”, o que

garante sua aplicação tanto em rochas carbonáticas quanto terrígenas.

Por outro lado Dickinson (1985) introduziu o conceito de “petrofácies” no estudo

faciológicos de arenitos por meio petrográfico. Seu trabalho tem como base a classificação e

quantificação de cristaloclastos de quartzo e feldspatos, além de fragmentos líticos, observados

através de lâminas delagadas; e sua associação com um tipo específico de área-fonte (ou

proveniência). Cada rocha fonte, dentro dessa perspectiva, responde por um contexto

geotectônico particular e, assim, por uma petrofácies distinta.

Dessa forma, apesar de o termo microfácies ser aberto à utilização para qualquer tipo de

rocha sedimentar, em rochas terrígenas (siliciclásticas) apenas o termo petrofácies consagrou-se

no estudo de arenitos.

A principal razão para a falta de estudos de microfácies em rochas microclásticas reside

na dificuldade de observação de seus atributos, além da necessidade de métodos não rotineiros

para identificá-los, tais como textura e trama, além de estruturas, que são normalmente

observados a olho nu ou lupa de mão em rochas macroclásticas (> 0,062mm).

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MICROFÁCIES – APLICAÇÃO

Apesar dessas dificuldades, estudos petrográficos em rochas microclásticas vêm se

difundindo com diversas aplicações, principalmente quando relacionados a atividades de

exploração de hidrocarbonetos (e.g. Dawson & Almon, 2002), uma vez que estas rochas

participam ora como geradoras, ora como selantes e quiçá reservatórios de baixa permeabilidade

(shale gas).

Schieber (1999), estudando a distribuição de fácies sedimentares microclásticas no Grupo

Sonyea, Devoniano do Estado de Nova York (EUA), depositadas em paleoambientes de planície

de inundação continental (Walton Formation), plataforma marinha (Triangle Formation) e talude

(Johns Creek Shale), identificou seis associações de fácies microclásticas. No entanto, uma vez

que suas “fácies” foram definidas utilizando atributos observados através de lâminas delgadas

sob o microscópio petrográfico, estas podem ser entendidas como “microfácies”.

Dawson (2000) estudando o Grupo Eagle Ford, Cenomaniano/Turoniano do Estado do

Texas (EUA), cujas rochas foram depositadas num paleoambiente plataformal marinho, definiu 6

microfácies a partir de aspectos petrográficos (textura, mineralogia, conteúdo orgânico e

microfósseis), associando-as posteriormente a uma posição distinta dentro da estratigrafia

sequencial do grupo (i.e. sequencia transgressiva, sequencia de trato alto e seção condensada).

Dawson & Almon (2002), estudando amostras de rochas microclásticas miocênicas,

provenientes de poços perfurados em águas profundas na província do Golfo do México e

associadas a diferentes posições na estratigrafia sequencial (trato transgressivo, trato de mar alto

e seção condensada), utilizaram parâmetros baseados na composição, variação textural,

constituintes acessórios e saturação por injeção de mercúrio a alta pressão para caracterização de

10 microfácies baseadas no seu potencial selante.

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Na literatura brasileira grande parte dos trabalhos relacionados a rochas microclásticas

tem foco na análise do conteúdo orgânico, sendo poucos os relacionados a petrografia,

identificação de microestruturas ou mesmo a caracterização microfácies. Dentre os mais

significativos podemos destacar os de Araújo et al., 2004; Torres-Ribeiro & Borghi, 2007 e

Huguenin et al., (2009).

Araújo et al. (2004) estudando a Formação Irati (Permiano, bacia do Paraná)

caracterizada por um paleoambiente de plataforma marinha, abordaram a interrelação entre a

microtrama sedimentar, o conteúdo orgânico e o potencial de redução do ambiente deposicional

a partir de litofácies microclásticas.

Torres-Ribeiro & Borghi (2007) utilizando os conceitos de Brown (1942) e Mendes

(1984) definiram 6 microfácies na Formação Tremembé (Oligoceno, bacia de Taubaté)

caracterizada por um paleoambiente lacustre hipersalino, associando-as a eventos (ou processos)

deposicionais distintos, com o intuito de subsidiar discussões do seu potencial como selantes e

geradoras.

Huguenin et al. (2009), estudando os “folhelhos” da Formação Ponta Grossa na borda

noroeste da bacia do Paraná, identificou 5 microfácies, caracterizando-as através de uma

diagnose e interpretação, além de atribuir-lhes um potencial selante ou reservatório baseado em

propriedades sedimentológicas. Seu estudo tinha como base a observação de parâmetros como

microtextura e microtrama (mais particularmente, proporção argila:silte:areia, organização

sedimentar da lâmina, microestruturas e orientação das micas, associado à composição

mineralógica) para a caracterização das microfácies.

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MICROFÁCIES – ABORDAGEM PROPOSTA

Apesar de o termo “microfácies” hoje encontrar-se amplamente difundido na literatura,

nenhum autor apresenta uma definição precisa do ponto de vista operacional, particularmente

quanto aos seus atributos diagnósticos. Não obstante, Flügel (1982, 2010) descreve métodos de

análises, interpretações e aplicações de microfácies carbonáticas, definindo-as como a soma de

todos os dados paleontológicos e sedimentológicos que podem ser descritos e classificados por

meio de lâminas delgadas, seções polidas e amostras de mão. Todavia, o autor não precisa os

atributos que devem ser observados.

O termo “microfácies” é aqui então definido como uma “massa de sedimento ou rocha

sedimentar caracterizada e distinguida das demais por atributos como mineralogia, microtextura,

microtrama, microestruturas físicas e/ou biogênicas, microfósseis e conteúdo orgânico

particulado observado através de técnicas de microscopia, somados a atributos como cor,

fissilidade e variação estratal observados em escala megascópica”.

Esta definição é sugerida em relação às demais apresentadas, por englobar um conjunto

de atributos que podem ser reconhecidos em qualquer rocha, além das microclásticas em

diferentes escalas (micro- e megascópica) de observação.

A cor, um atributo frequentemente observado em litofácies (cf. Selley, 1970) deve ser

adicionada a descrição de uma microfácies, advindo de observações megascópicas em amostras

secas, uma vez que a humidade e outros fatores podem influenciar na caracterização da mesma.

Desta forma, o sucesso do estudo em rochas microclásticas depende fundamentalmente

da integração de observações de atributos em escala microscópica (litologia, microtrama,

microtextura, microestruturas, microfósseis e conteúdo orgânico particulado) e megascópica

(cor, fissilidade, fósseis e estruturas sedimentares e variação estratal), além de técnicas

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disponíveis (microscopia de luz refletida/transmitida/fluorescente, MEV/EDS, DRX, anisotropia

de susceptibilidade magnética e EBSD entre outros).

Na figura abaixo (Figura1) observa-se um afloramento de rochas microclásticas

relativamente homogêneo, seja em função da escala de observação, ou mesmo pela ação de

processos intempéricos (capas lateríticas), no qual não é possível distinguir heterogeneidades ou

mesmo estruturas sedimentares. No entanto, ao migrar a escala de observação, utilizando uma

amostra com seção polida (escala megascópica), é possível observar a presença de microfósseis,

além de laminações milimétricas de siltitos, e quando observadas em laminas delgadas (escala

microscópica), somos capazes de observar atributos como o preenchimento de microestruturas

biogênicas, o arranjo das partículas sedimentares, e feições erosivas em microescala.

FIGURA 1. A integração de observações microscópicas (lâminas delgadas) e megascópicas (amostras de mão) faz-

se necessária para a caracterização de uma microfácies e sua inserção numa escala de afloramento, para a

caracterização de sucessões de microfácies.

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ATRIBUTOS DIAGNÓSTICOS

Uma vez que o estudo de microfácies em rochas carbonáticas encontra-se amplamente

difundido na literatura (e.g. Carozzi et al., 1973 e Wilson, 1975), bem como metodologias de

análise, interpretações e exemplos de aplicação (Flügel, 1982; 2010), apresentaremos aqui os

principais atributos observados em rochas microclásticas.

Mineralogia – Suíte mineralógica que compõe a rocha. Dentre os minerais mais comuns

em rochas microclásticas na fração silte e areia destacam-se os quartzos, feldspatos, muscovitas,

biotitas, zircões e turmalinas que são observados através do microscópio petrográfico por luz

fotônica transmitida/polarizada (devido a sua natureza translúcida); além de pirita, marcassita,

hematita e ilmenita, entre outros, melhor observados em luz fotônica refletida (devido a sua

natureza opaca). Já na fração argila destacam-se os argilomeinerais, cuja observação está

condicionada ao uso de técnicas como DRX (difração de raios – X), MEV- EDS (microscópio

eletrônico de varredura - Energy Dispersive x-ray Spectrometer) e EBSD (Electron

backscattering Diffraction) devido ao tamanho muito pequeno das partículas.

Microtextura - Refere-se a aspectos como granulometria, seleção, esfericidade

(circularidade) e arredondamento (angulosidade) cuja observação está condicionada aos

sedimentos de tamanho silte e areia (e suas subclasses), que podem ocorrer concentradas em

lâminas, bioturbações ou disseminadas pela rocha. Outro aspecto importante a ser observado é a

razão areia:silte:argila e sua forma de ocorrência (disseminadas ou concentradas), pois reponde

pela classificação litológica da rocha.

Microtrama – Reflete a orientação, o empacotamento (contatos), a distribuição das

partículas sedimentares e a porosidade (Faas & O’Brien, 1991; Potter et al., 2005). Para rochas

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microclásticas, a microtrama é usualmente classificada como orientada (partículas

horizontalizadas em relação ao acamamento) ou caótica (sem orientação preferencial) e pode ser

determinada através do microscópio petrográfico em luz transmitida/polarizada ou pela técnica

de anisotropia por susceptibilidade magnética (ASM).

Microestrutura – Reflete uma feição em microescala (escala de partículas) resultante de

processos físicos, químicos ou biológicos que retratam a forma e o compaço da acumulação dos

sedimentos (q.v. Carelli & Borghi, em “prep”, Anexo A). Dentre as microestruturas mais comuns

em rochas microclásticas, destacam-se as de origem física ou hidrodinâmicas (e.g. micromarcas

de calha, microondulações assimétricas, microlaminações plano-paralelas, micromarcas de carga

e chama e microacamamento gradacional, entre outras), as de origem biogênica (bioturbações) e

as de origem microbianas (micromarcas de corrugação). As microestruturas de tamanho

centimétrico são melhor observadas através do estereomicroscópio, enquanto que as de tamanho

milimétrico e submilimétricos devem ser observadas no microscópio petrográfico.

Microfósseis – Dentre os microfósseis comumente encontrados em rochas microclásticas

destacam-se os de carapaça carbonática (foraminíferos, ostracodes e nanofósseis), os de carapaça

silicosa (radiolários, diatomáceas e silicoflagelados) e os de parede orgânica (pólens, esporos,

quitinozoários, dinoflagelados, acritarcos e palinoforaminíferos). Estes podem ainda ser

estudados paralelamente por técnicas de micropaleontologia (q.v. Carvalho, 2004 p. 267-408).

Conteúdo orgânico – Reflete a presença, abundância e tipo (ou origem) da matéria

orgânica particulada (fitoclastos e palinomorfos) associada ao sedimento. A caracterização dessa

matéria orgânica pode ser realizada através de lâminas delgadas utilizando o microscópio

petrográfico de luz fluorescente. Não obstante, melhores resultados são obtidos através do estudo

paralelo de palinofácies (Tyson, 1993; Menezes et al., 2008).

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Litologia – A litologia é dada pela composição e textura. No entanto, em rochas

microclásticas as classificações texturais são preteridas em relação às composicionais, uma vez

que estas requerem métodos não rotineiros de análise (q.v. Macquaker & Adams, 2003). Para a

classificação litológica sugerimos a contagem de 300 pontos por lâmina a fim de obter maior

confiabilidade e representatividade da amostra, além da utilização do diagrama ternário de Picard

(1971) dentre os demais difundidos na literatura (e.g. Dunbar & Rogers, 1957; Folk, 1974;

Shepard, 1973), uma vez que se detêm no discernimento textural da proporção areia:silte:argila.

Cor – A cor em rochas microclásticas tem relação direta com as condições físico-

químicas do pleoambiente deposicional (se oxidante ou redutor). A cor do sedimento ou rocha

deve ser determinada em amostras secas (amostras húmidas tendem a mostrar cores mais

escuras) através da escala de cores de Munsell.

Variação estratal – Reflete a representatividade da microfácies dentro de uma sucessão

em função da escala de observação.

Porosidade – Reflete o volume total de vazios da rocha. Tanto a porosidade quanto a

permeabilidade depende fundamentalmente da microtrama e microtextura (Soeder, 1988), sendo

estes atributos essenciais para a caracterização de microfácies selantes ou reservatório. Em

relação à morfologia, a porosidade em rochas microclásticas apresenta-se normalmente sob a

forma intergranular e de fratura. Sua observação pode ser realizada no microscópio petrográfico

em luz transmitida/polarizada, estando condicionada aos sedimentos silte/areia que ocorrem em

microestruturas físicas e biogênicas. Já para a granulometria argila, sua identificação está

condicionada ao uso do microscópio eletrônico por varredura (MEV), além do microscópio

eletrônico de transmissão (TEM) em seções ultrafinas (~700 Å) (Davies et al., 1991). Uma vez

que a observação microscópica do sistema poroso está restrita apenas àqueles orientados

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paralelamente ao plano basal das argilas e micas, o meio mais eficiente de se obter a porosidade

é através do porosímetro de mercúrio.

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O PROCESSO DE CARACTERIZAÇÃO

Schieber & Zimmerle (1998) sumarizam a partir de diversos autores, técnicas e

procedimentos relacionados à caracterização mineralógica e estudo petrográfico de “folhelhos”.

Rochas microclásticas são comumente classificadas pelo aspecto textural uma vez que

sua análise composicional envolve dificuldades rotineiras na identificação mineralógica,

sobretudo na fração argila.

Em termos composicionais, Macquaker & Adams (2003) propõem um sistema

nomenclatural para rochas sedimentares de granulometria fina baseado na origem (alóctones,

autóctones e diagenéticos) e proporção (dominado, rico e portador) dos principais constituíntes.

Em termos texturais, as designações lamito, pelito, lutito e folhelho são termos gerais

utilizados em campo por não envolverem maior discernimento granulométrico ou observações

megascópicas do comportamento mecânico (fissilidade). Outras classificações envolvem

aspectos de consolidação (e.g. Dunbar & Rodgers, 1957; Folk, 1974) ou tipo de fissilidade

(Potter et al., 1980), que não retratam aspectos deposicionais. Assim, as classificações de Picard

(1971) e Shepard (1973) mostram-se bem adequadas, uma vez que se detêm no discernimento

textural da proporção areia:silte:argila.

O tipo de microtrama pode ser identificada através do microscópio petrográfico por luz

transmitida, ou ainda pelo microscópio de varredura eletrônica (MEV), sendo esta última, uma

técnica mais onerosa. A utilização da técnica de anisotropia de susceptibilidade magnética

também tem ganhado atenção por parte dos pesquisadores. Esta técnica foi empregada por

Schieber & Ellwood (1993) para a determinação de paleocorrentes a partir da microtrama

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magnética em folhelhos de idade mesoproterozóicos da Formação Newland no Estado de

Montana (EUA).

A caracterização de microestruturas responde por condições paleoambientais e

parâmetros de energia e transporte (Schieber, 1991; Buatois et al., 2002; Potter et al., 2005).

Além de ser um elemento de extrema importância para a caracterização de microfácies. Sua

observação pode ser realizada em lupas de mão e no estéreomicroscópio, além do microscópio

petrográfico (luz transmitida/polarizada) dependendo de sua escala de ocorrência.

Uma vez conhecidos todos os atributos mencionados, o passo seguinte é a diagnose da

microfácies. Sugerimos que ao ser descrita, a microfácies tenha claros atributos diagnósticos, que

devem ser acompanhados de uma interpretação, com o intuito de caracterizar o processo que a

originou, seguido de uma breve discussão (q.v. Figura 2). Ao descrever um conjunto de

microfácies, é preterível que o autor mantenha um paralelismo de idéias (padronização),

facilitando desta forma o processo interpretativo por parte do leitor.

Relacionamos abaixo os principais atributos para a descrição de uma microfácies.

Designação – Tem por objetivo a denominação da microfácies. Pode ser um nome, letra

ou número (sistema alfanumérico).

Diagnose – Tem por objetivo a seleção dos atributos que identificam a microfácies

distinguindo-a das demais.

Interpretação – Tem por objetivo explicar o processo que originou a microfácies.

Descrição – Tem por objetivo a representação pormenorizada da microfácies. Faz alusão

a mineralogia, icnofósseis, peculiaridades e etc.

Discussão – Tem por objetivo contextualizar a microfácies.

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FIGURA 2. Modelo sugerido para a descrição de microfácies.

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DISCUSSÃO

A caracterização de uma microfácies trata de um recurso classificatório de sedimentos ou

rochas sedimentares sem parâmetros pré-estabelecidos na ponderação de atributos; e sua

aplicação se dá em função de fatores limitantes (principalmente sobre os atributos faciológicos

presentes) e condicionada a uma escala de observação (micro- e mesoescala). No entanto, é

comum encontrar na literatura pesquisadores utilizando atributos de classificação que somente

podem ser observados em escala microscópica para definir “fácies sedimentares” em rochas

microclásticas, já que na maioria das vezes, observações em macro ou mesoescalas não trazem

consigo suficientes elementos dignósticos (e.g. Schieber, 1999).

Quando utilizados somentes atributos observados em escala microscópica, sugerimos a

nomenclatura “microfácies”, no entanto, uma vez que estes atributos sejam somados a outros

dados vindos de diferentes escalas de observação, tais como macroscópicas (escala de

afloramento), estes devem ser entendidos preterivelmente como “fácies”.

Outro ponto discussão aqui abordado, trata-se das microestruturas comumente

encontradas em rochas microclásticas marinhas e sua relação com o paleoambiente ou uma

condição ambiental em particular. Estas microestruturas, além de ser fundamentalmente

importantes para a caracterização de uma microfácies, contam uma história deposicional bem

diferente da predominância de processos decantativos que se têm assumido para rochas

microclásticas (Kuehl et al., 1991).

Schieber & Yawar (2007) mostraram através de experimentos a formação de mud ripples

geradas por argilas floculadas, sugerindo assim que grande parte das argilas plataformais foram

depositadas por processos trativos. Segundo os autores, essas mud ripples são caracterizadas em

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rochas microclásticas por laminações submilimétricas de baixo ângulo truncando uma camada

superior ligeiramente ondulada, no entanto sua observação é dificultada pelo fato de que

inicialmente as partículas floculadas consitem de aproximadamente 80% de seu volume de água,

então devido à compactação, as laminações originalmente inclinadas tendem a se reorientar

paralelamente ao acamamento depois da compactação.

Microestruturas atribuídas à atividade microbial também são comuns neste tipo de rocha.

São caracterizadas por cristas convexas bem marcadas ou não, corrugações, estrias e pináculos

que ocorrem no topo de camadas argilosas, formadas pelo crescimento irregular do tapete

microbiano ou biofilmes, os quais além de armadilhar sedimentos, também acabam por deformar

a superfície deposicional. É possível observar microestruturas semelhantes a filamentos que

cortam as camadas depositadas acima de sua ocorrência (q.v. Schieber, 2007).

A caracterização de microstruturas biogênicas (bioturbações) nos permite reconhecer

uma condição paleoambiental distinta e seu mapeamento numa sucessão sedimentar nos permite

estabelecer uma icnofácies que se associa diretamente a um paleoambiente.

Estudos sugerem que microestruturas de origem física são bem atuantes e preservadas

quando ocorrem no trato de sistema de mar alto. Já no trato transgressivo, podemos notar um

maior retrabalhamento do sedimento por ação de ondas e organismos, que acabam por obliterar

as microestruturas primárias e a microtrama deposicional (O’Brien & Slatt, 1990).

Tratando-se de rochas microclásticas, dentre todos os atributos a microtrama exerce em

particular controle sobre a permeabilidade e porosidade (Soeder, 1988). Rochas com microtrama

caótica (desorganizada ou aleatória) tendem a apresentar elevados valores de permeabilidades e

porosidade em relação às de microtrama orientada (laminada) (Davies et al., 1991; Dawson &

Almon, 2002).

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FIGURA 3. Folhelhos da Formação Ponta Grossa, bacia do Paraná. (A) Fotomicrografia: argilito síltico com

microtrama orientada paralelamente ao acamamento (aumento 50x, nicol paralelo). (B) Fotomicrografia: siltito

argiloso com microtrama caótica (aumento 50x, nicol cruzado). As setas vermelhas mostram a posição espacial das

micas em relação aos demais constituintes.

Segundo Davies et al. (1991) a microtrama pode fornecer informações importantes sobre

ambientes deposicionais. Rochas com microtrama caótica são reconhecidas como depositadas

em águas relativamente rasas (plataforma) sob ação de ondas normais, ou promovidas pelo

fenômeno da floculação de argilas, enquanto que rochas com microtrama orientada são

associadas à deposição abaixo da ação de ondas de tempestades ou águas profundas.

O’Brien & Slatt (1990) sumarizam um conjunto de microfácies baseados na variação da

microtrama (refletem variações de processos sedimentares e condições físico-químicas) para

rochas microclásticas que ocorrem em diferentes paleoambientes de sedimentação, além de

inferir um contexto transgressivo ou regressivo com base na variação vertical de uma sucessão

de microfácies.

Entretanto a associação da microtrama com o paleoambiente deposicional deve ser

ponderada, pois estudos recentes têm contestado a visão tradicional para a deposição de argilas.

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Potter et al. (2005) sugerem a possibilidade de acumulação local de “folhelhos negros”

ricos em matéria orgânica em áreas plataformais durante a fase inicial de transgressões. Estes

“folhelhos” apresentariam uma microtrama orientada relacionada a processos decantativos.

Schieber & Yawar (2007) mostram a atuação de processos trativos em argilas floculadas

depositadas em áreas plataformais próximas a deltas que produziriam uma microtrama caótica.

No entanto, estas argilas podem reorientar-se paralelamente ao acamamento devido à

compactação e produzir uma microtrama orientada (Bennett et al., 1991)

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CONCLUSÃO

Uma vez que a caracterização de uma microfácies é controlada pelos atributos

faciológicos presentes e não existe uma regra a ser seguida, cada pesquisador deve fazê-lo da

melhor maneira possível, de forma que sua microfácies seja representativa do objeto de estudo e

facilmente reconhecida por demais pesquisadores, garantindo sua aplicabilidade e correlação.

Uma microfácies não deve ser encarada apenas como uma mera descrição petrográfica,

mas sim, indicativa de um processo sedimentar particular, definido por analogia com casos de

estudo em ambiente de sedimentação atuais e que em conjunto com outras microfácies permita

uma interpretação paleoambiental, bem como um mecanismo de refinamento para correlações

estratigráficas. Ao descrever um conjunto de microfácies, é preterível que o autor mantenha um

paralelismo de idéias, facilitando desta forma o processo interpretativo por parte do leitor.

Uma vez caracterizada, a microfácies pode fornecer informações de caráter

paleoambiental (cor, microfósseis, tipo de matéria orgânica e bioturbações), de processos

atuantes (microestruturas físicas ou hidrodinâmicas), de fonte e clima (composição das argilas),

além de subsídio para exploração de hidrocarbonetos atribuindo-lhes um potencial selante,

gerador ou reservatório (microtrama, microtextura, bioturbações, matéria orgânica) no caso de

rochas microclásticas.

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Anexo C – Artigo a ser enviado à Revista Brasileira de Geociências (RBG)

Caracterização de microfácies sedimentares em folhelhos da Formação Ponta Grossa, borda

Leste (devoniano) da bacia do Paraná.

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1

CARACTERIZAÇÃO DE MICROFÁCIES SEDIMENTARES EM FOLHELHOS DA

FORMAÇÃO PONTA GROSSA, BORDA LESTE (DEVONIANO) DA BACIA DO

PARANÁ.

Thiago Gonçalves Carelli 1, 2

Leonardo Borghi 2

(1) Programa de Pós-graduação em Geologia da UFRJ.

(2) Laboratótrio de Geologia Sedimentar (LAGESED), Departamento de Geologia, IGEO,

CCMN, Universidade Federal do Rio de Janeiro. Av. Athos da Silveira Ramos, 274, sl/J1-11.

CEP 21941-916, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: [email protected]; [email protected]

Resumo - Este estudo objetiva a caracterização de microfácies em afloramentos da borda Leste da bacia

do Paraná (34 amostras) representando um trato de sistema transgressivo (20 amostras da parte inferior do

Membro jaguariaíva) e um trato de sistema de mar alto (14 amostras da parte superior do Membro São

Domingos) da Formação Ponta Grossa, inseridos em uma sequência deposicional de 3a

ordem e sua

interpretação em termos de processos sedimentares e paleoambientes. Este estudo é baseado em dados de

petrografia, análises de DRX (para a caracterização mineralógica das argilas) e Carbono orgânico total. A

caracterização das microfácies levou em consideração a mineralogia, microtextura, microtrama,

microestruturas (físicas e biogênicas), microfóssies, conteúdo orgânico particulado, cor e variação estratal

em amostras de mão e lâminas delgadas. Como resultado, foi possível identificar 9 microfácies, 2 típicas

do TST (M1 e M2) e 7 típicas do TSMA (M3 a M9). As microfácies do TST mostram em geral

microtrama caótica (em parte pela reelaboração biogênica), e composição rica em silte e areia muito fina

(exceto pela microfácies M2, rica em argila e microtrama orientada associada a uma suprefície de

inundação de 3a

ordem); já as típicas do TSMA, são ricas em silte e argila, apresentam uma microtrama

relativamente orientada e melhor preservação de microestruturas físicas. A ação de ondas seguida da

reelaboração biogênica em paleoambientes proximais é responsável pela melhor característica

sedimentológica em termos de reservatório da microfácies M1, quando comparada a outras microfácies.

Fluxos hiperpicnais distais associados a processos decantativos, atividade microbiana e baixo índice de

atividade biogênica em paleoambientes de prodelta/costa-afora são responsáveis pelas características

selantes das microfácies M3 a M9 (associadas ao TSMA).

Palavras-chave: microfácies, folhelhos, Formação Ponta Grossa, bacia do Paraná.

Abstract - This study aims a microfacies characterization of ouctopping shales in the Eastern border of

Paraná basin (34 samples) representing a transgressive system tract (lower Jaguariaíva Member, 20

samples) and a highstand system tract (upper São Domingos Member, 14 samples) of the Ponta Grossa

Formation, inserted in a 3rd

order depositional sequence cycle (megasequence), and their interpretation in

terms of sedimentary processes and paleoenvironments. The study is based on petrographic microscopy,

aided by XRD (clay mineralogy) and geochemical (TOC) data. The microfacies analysis took into

consideration the mineralogy, microtexture, microfabric, microstructure (physical and biogenic),

microfossils, particulate organic content, stratal variation, and colour in plugues and thin sections. Results

point out 9 microfacies, 2 of them typical of the TST (M1 and M2) and 7 of the HST (M3 to M9). The

microfacies from the TST show in general a chaotic microfabric (in part resulted from a higher

bioturbation index), and a fine sand and silt rich composition (except one, associated to the 3rd

order

MFS); whereas the HST are silt and clay rich, and show a fairly oriented microfabric, and better

preserved physical structures. Bottom wave reworking followed by biogenic activity (bioturbation) in

proximal offshore paleoenvironmets are responsible for the best reservoir sedimentological characteristics

of the microfacies M1 (associated to the TST) among all of them. Distal hyperpycnal flows, decantation

from bottom wave ressuspension plumes, microbial mats development, and low biogenic activity in

prodelta/offshore paleoenvironments are responsible for best sedimentological sealing characteristics of

the microfacies M3-M9 (associated to the HST).

Key-words: microfacies, shale, Ponta Grossa Formation, Paraná basin.

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2

INTRODUÇÃO

Rochas microclásticas mais conhecidas como “folhelhos” tem constituído um tema de fronteira

dentro da Geologia Sedimentar. Estas rochas, que englobam uma ampla gama de litologias e

nomenclaturas (q.v. Macquaker & Adams, 2003) e representam aproximadamente dois terços do

volume de rochas sedimentares do registro geológico (cf. Potter et al., 2005), são usualmente

conhecidas como geradoras e selantes, embora possam constituir-se em reservatórios de baixa

permeabilidade (shale gas). A bacia do Paraná, uma ampla bacia de interior cratônico, revelou

na quase virada do século passado a sua primeira acumulação comercial de gás, gerado nas

rochas microclásticas da Formação Ponta Grossa (campo de gás de Barra Bonita), associado ao

sistema petrolífero Ponta Grossa-Itararé(!) (cf. Milani et al.,1990). Todavia, a qualidade de tais

rochas ainda é pouco conhecida do ponto-de-vista sedimentológico. O objetivo deste estudo

trata de uma abordagem sedimentológica inicial, do ponto de vista das microfácies, dos

folhelhos que ocorrem na Formação Ponta Grossa, tomando-se como estudo de caso um

afloramento do Membro Jaguariaíva e outro do Membro São Domingos, que representam,

respectivamente, um trato de sistema transgressivo e outro, de mar alto, de 3a ordem e

previamente estudados na literatura (Diniz, 1985; Bergamaschi, 1999). O estudo tem por

finalidade a discussão de processos, paleoambientes e o significado estratigráfico de microfácies

de folhelhos; como subsídio à futura avaliação dessas rochas como selante e reservatório.

CONTEXTO GEOLÓGICO

Formação Ponta Grossa

A Formação Ponta Grossa, junto com a Formação Furnas, compõe o Grupo Paraná, que se

insere na supersequência Paraná, uma das seis unidades aloestratigráficas que constituem o

arcabouço estratigráfico da bacia do Paraná, uma ampla bacia de interior cratônico localizada no

centro sul da América do Sul (Milani, 1997). A Formação Ponta Grossa constituí-se de

folhelhos, lamitos e arenitos muito finos a finos, de cores variadas. Suas rochas são

frequentemente bioturbadas e contêm abundantes micro- e macrofósseis, dentre os quais os que

compõem a Fauna Malvinocáfrica. Sua idade é ainda controversa. Loboziak et al. (1995)

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advoga uma idade Praguiano-Fameniano, determinada através do estudo de esporos fósseis para

a Formação Ponta Grossa; no entanto, estudos recentes de Grahn et al. (2010) tem posicionado a

base da Formação Ponta Grossa entre o fim do Praguiano ou Emsiano inicial, e para a parte

superior, Oliveira (1997) atribui uma idade Givetiano final a Frasniano, a partir de análises

realizadas no afloramento exposto no km 426 da BR- 376. Foi descrita inicialmente no Estado

do Paraná, onde é representada por três membros: Jaguariaíva (microclástico), na base; Tibagi

(arenoso), mediano; e São Domingos (microclástico), superior e na parte central da bacia

(região de maior subsidência) predomina apenas uma sucessão microclástica, sem intercalações

de areia (q.v. Petri, 1948; Lange & Petri, 1967), onde a formação é considerada indivisível. No

entanto, tais membros foram expandidos em correlação por toda a bacia por Assine (1996). A

espessura da Formação Ponta Grossa é bastante variável, delineando duas sub-bacias ou baixos

estruturais; enquanto que em superfície não ultrapassa os 300 m, em subsuperfície a maior

espessura, 654 m, foi constatada no poço 2-AP-1-PR (Apucarana, PR) (Assine, 1996).

FIGURA 1 – Diagrama estratigráfico do Grupo Paraná, bacia do Paraná (simplificado de Milani et al.,

2007).

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Membro Jaguariaíva

A seção-tipo da unidade é o afloramento exposto na rodovia Jaguariaíva-Arapoti, do km 2,2 ao

6,6 nas proximidades da cidade de Jaguariaíva (q.v. Lange & Petri, 1967), próximo de onde

também encontra-se o local dos afloramentos estudados. Segundo Bergamaschi (1999), este

membro representa um trato de sistema transgressivo de 3a ordem, caracterizado litologicamente

na seção tipo por fácies de siltito cinza claro a cinza médio, entremeado com arenito muito fino

amarelado, fossílífero de aspecto mosqueado; siltito cinza médio a escuro, laminado, fossilífero,

por vezes contendo delgadas laminações de arenito muito fino e estratificação cruzada

hummocky (HCS), folhelhos cinza escuro a negro, finamente laminado, fossilífero e folhelho

argiloso negro, papiráceo rico em pirita (Bergamaschi, 1999, p. 87-98), representando o

afogamento dos sistemas transicionais a costeiros da porção superior da Formação Furnas. Seu

paleoambiente é marinho raso plataformal (antepraia inferior a costa-afora) e sua idade é

Praguiano/Frasniano estabelecida a partir do conteúdo de quitinozoários coletados no

afloramento do Membro Jaguariaíva (cf. Grahn, 1992, 2000). Segundo Bergamaschi (1999) e

Bergamaschi & Pereira (2001) o Membro Jaguariaíva equivale à suas sequências B e C de 3a

ordem, propostas a partir de estudos nos poços 2-RI-1-PR e 2-CS-1-PR.

Membro São Domingos

Lange e Petri (1967) não apontam uma seção-tipo para o seu Membro São Domingos, sendo

considerada apenas uma área-tipo na região Oeste de Tibagi, onde ocorrem afloramentos de

folhelhos intercalados a siltitos e arenitos. Nesta região ocorre cerca de 90 metros de folhelhos

predominantemente mais argilosos que os do Membro Jaguariaíva. Segundo Bergamaschi

(1999) este membro representa um trato de sistema de mar alto em um ciclo de 3a ordem nos

afloramentos referente a seção estratigráfica Tibagi-Telêmaco Borba e no afloramento do km

426 localizado na rodovia BR-376 (cf. Bergamaschi, 1999 p. 98-107). Caracteriza-se

litologicamente por uma sucessão de fácies de folhelhos, siltitos com laminação cruzada por

onda, siltitos com interlaminações centimétricas de arenito e arenitos finos a médios com

laminação cruzada por onda e estratificação cruzada hummocky formando ciclos de

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engrossamento granulométrico (Bergamaschi & Pereira, 2001). Seu paleoambiente é marinho

raso e sua idade é Givetiano final a Frasniano (Oliveira, 1997). Segundo Bergamaschi (1999) e

Bergamaschi & Pereira (2001) o Membro São Domingos equivale à suas sequências D e E de 3a

ordem, propostas a partir de estudos nos poços 2-RI-1-PR e 2-CS-1-PR.

FIGURA 2. Mapa de localização geográfica da borda Leste da bacia do Paraná (PR) e dos pontos de

amostragem. Ponto 1, afloramento de Membro Jaguariaíva (trato transgressivo) exposto no ramal

ferroviário Jaguariaíva-Arapoti, entre o km 2,2 e km 6,0. Ponto 2, afloramento do Membro São Domingos

(trato de mar alto) exposto na rodovia BR-376, km 426 próximo as cidades de Tibagi e Ponta Grossa.

MATERIAL

O material de estudo conta de um total de 35 amostras de rochas microclásticas coletadas

através de plugagem (utilizando uma plugadeira modelo BOSCH GDB 1600 WE, com diâmetro

aproximado de 1’’ polegada), na borda Leste da bacia do Paraná. Destas, 15 amostras foram

coletadas no afloramento do Membro São Domingos, no entanto somente 14 foram analisadas

(A amostra 6 constitui-se essencialmente macroclástica). Este afloramento está localizado na

rodovia BR-376, km 426 no trecho entre as cidades de Ponta Grossa e Apucarana,

correspondendo a parte superior (trato de mar alto) da sequência E de Bergamschi (1999) e

Bergamaschi & Pereira (2001). 20 amostras foram coletadas nos afloramentos expostos nos

cortes do ramal ferroviário Jaguariaíva-Arapoti, entre o km 2,2 e km 6,0, nos arredores da

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cidade de Jaguariaíva, correspondendo a parte inferior (tratotransgressivo) da sequência B de

Bergamaschi (1999) e Bergamaschi & Pereira (2001).

FIGURA 3. Integração do perfil litológico da seção estudada do Membro Jaguariaíva com análises de

COT obtidas neste estudo e por Bergamaschi (1999) para o mesmo afloramento. A posição das setas na

coluna “amostragem/litologia” indica o ponto de coleta no perfil litológico.

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FIGURA 4. Integração do perfil litológico representando a seção estudada do Membro São Domingos,

grau de bioturbação e análise de COT. A posição dos números na coluna “Amostras” indica o ponto de

coleta no perfil litológico (A amostra 6 não foi analisada por costituir-se essencialmente macroclástica). A

intensidade da bioturbação é baseada no índice de icnotrama simplificado de Droser & Bottjer (1989).

MÉTODO

A caracterização das microfácies foi baseada na descrição petrográfica de lâminas delgadas em

microscópio petrográfico (ZEISS Imager A2m) em luz transmitida/refletida/fluorescente,

seguindo o conceito de microfácies proposto por Carelli & Borghi (em prep. Anexo A).

Observou-se principalmente a microtextura e a microtrama das rochas, mais particularmente, a

proporção argila:silte:areia, a variação estratal, microestruturas e a mineralogia. Em seguida,

efetuou-se contagem de 300 pontos em cada lâmina, para determinação textural (granulometria)

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e composicional. Os argilominerais foram determinados a partir de análises de DRX. Para a

classificação litológica das amostras e microfácies (textural), utilizou-se diagrama ternário de

Picard (1971) dentre os demais difundidos na literatura (e.g. Dunbar & Rogers, 1957; Folk,

1974; Shepard, 1973) uma vez que detêm-se no discernimento textural da proporção

areia:silte:argila (figuras 7, 8 e 9).

Análises geoquímicas foram realizadas para determinar o percentual de carbono orgânico total

(COT) das amostras, para se comparar com os dados obtidos por Bergamaschi (1999) para as

mesmas seções.

Uma vez que o termo “folhelho” refere-se apenas a uma rocha físsil, utilizaremos neste trabalho

apenas a terminologia “microclástica” para referir-se aos folhelhos e rochas conatas de

granulometria fina, menores que 0,062 mm dispensando outros termos correlatos, exceto

quando citado por outros autores. As percentagens em parênteses apresentadas na diagnose das

microfácies representam a proporção de areia muito fina:silte:argila.

RESULTADOS

Fácies

Diversos autores que estudaram a Formação Ponta Grossa estabeleceram fácies ou associações

de fácies sedimentares, de forma a operacionalizar seu estudo. Dentre os mais representativos,

destacamos os de Pereira (1992), Schubert (1995), Assine (1996) e Bergamaschi (1999) e suas

fácies ou associações de fácies encontram-se sumarizadas no quadro abaixo (Quadro 1).

Pereira (1992) cuja área de estudo corresponde à borda nordeste da bacia, mais precisamente a

sub-bacia de Alto Garças (sudoeste de Goiás), na qual o autor descreve três associações de

fácies para a Formação Ponta Grossa, que inicia-se segundo o autor pelo membro Tibagi e

fazem referência aos membros definidos por Andrade & Camarço (1980).

Segundo Schubert (1995), a Formação Ponta Grossa na região de Chapada dos Guimarães

(borda nordeste da bacia), no Estado de Mato Grosso, constitui-se pela associação de pelo

menos 5 fácies e 1 icnofácies. Estas fácies encontram-se em três sucessões de ciclos de

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engrossamento granulométrico, totalizando pouco mais de 70 metros de espessura na sucessão

vertical.

Quadro 1 – Esquema de genérico de fácies da Formação Ponta Grossa, sintetizado a partir dos

principais autores que a estudaram (Pereira, 1992; Schubert, 1995; Assine, 1996 e Bergamaschi,

1999).

Fácies e associações de fácies propostas para a Formação Ponta Grossa

Autor Código Características Interpretação

Pereira, 1992

Mi*

Arenitos finos a muito finos maciços a debilmente laminados com superfície bioturbada ou não. Ocorre laminação cruzada por onda e HCS, e por vezes, intercalações de siltito /argilito escuros e bioturbados.

Produto de correntes unidirecionais sob condições de regime de fluxo superior e retrabalhada por ação de ondas. Indicam uma deposição em condições de plataforma progressivamente mais profunda.

Mm*

Arenitos avermelhados, de granulação média a grossa com intercalações de arenito fino, argiloso e bastante micáceo. Apresenta estratificações cruzadas, e halos de liesengang.

Depósitos de plataforma rasa sob influência de ondas de tempestade.

Ms* Sucessão de arenito fino a muito fino, síltico, com HCS e folhelhos escuros num ciclo de afinamento granulométrico.

Deposição por decantação em ambiente redutor. Indicam uma sequência transgressiva.

Schubert, 1995

Pel Lutitos (argilitos e subordinadamente siltitos), físseis (folhelhos) ou não, de cores cinzas.

Decantação em ambiente redutor.

Het Lutitos e arenitos finos a muito finos em acamamento lenticular, ondulado e fláser (acamamento heterolítico).

Correntes e fluxos oscilatórios (bidirecionais) em regime de fluxo inferior; alternando com decantação.

Mos lutitos arenosos e arenitos pelíticos mosqueados.

Ação de organismos escavadores (bioturbação intensa).

Alo Arenito fino com laminação cruzada por onda. Correntes em regime de fluxo inferior e fluxos oscilatórios, ação de ondas gravitacionais livres (normais).

Aot Arenitos com estratificação ondulada truncante (HCS/SCS).

Correntes e fluxos oscilatórios combinados produzidos por tempestades em regime de fluxo inferior transicional.

Crz Cruziana. Atividade de organismos com comportamento de deslocamento, repouso ou alimentação.

Assine, 1996

Sm Arenito muito fino, bioturbado com topo ondulado.

Produto de fluxos trativos e oscilatórios, além de remobilização do substrato por organismos.

Sh Arenito muito fino com laminação plano-paralela pouco nítida.

Arenito muito fino com laminação plano- paralela pouco nítida.

Aas*/Fld Arenito argiloso, rico em seixos discóides no topo.

Joeiramento por ação de ondas, associado à superfície transgressiva.

Sr Arenito muito fino, síltico, com laminação ondulada e sutis truncamentos.

Deposição em sistemas marinhos plataformais sob ação de ondas.

H Siltito com intercalações de arenito muito fino (amamamento heterolítico).

Ação de fluxos trativos alternados a processos decantativos em plataformas rasas.

Fl* Folhelho cinza escuro laminado, rico em fragmentos de Spongiophyton.

Processos decantativos em ambiente redutor.

Bergamaschi, 1999

Fllh1* Folhelho argiloso preto, papiráceo, piritoso. Ambiente redutor de costa-afora.

Fllh2* Folhelho cinza escuro a preto, laminado, fossilífero.

Ambiente redutor de costa-afora.

Slt1* Siltito cinza claro a médio/ arenito muito fino; fossilífero, bioturbado.

Ambiente de antepraia inferior a costa-afora.

Slt2* Siltito cinza médio a escuro, laminado / arenito muito fino com laminação cruzada ondulada e HCS; fossilífero.

Ambiente de antepraia inferior a costa-afora, sob ação de ondas.

Arn1* Arenito muito fino / siltito; acamamento ondulado e linsen.

Ambiente de antepraia inferior a costa-afora, sob ação de ondas.

Arn2* Arenito muito fino com micro-hummocky.

Ambiente de antepraia inferior a costa-afora, sob ação de ondas.

Arn3* Arenito muito fino, micáceo, com HCS mosqueado.

Ambiente de antepraia inferior a costa-afora, dominada por ondas normais e de tempetade.

Arn4* Arenito muito fino a fino, com HCS / SCS.

Ambiente de antepraia progradante sob ação de ondas.

Arn5* Arenito médio, com estratificação cruzada de pequeno porte / laminação cruzada cavalgante; geometria sigmoidal, fossilífero (restos vegetais).

Ambientes transicional e de antepraia, progradantes.

* Designado neste artigo.

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10

A partir da descrição litológica de Assine (1996, p. 121) para a seção colunar da Formação

Ponta Grossa no bairro de Santa Luzia, em Ponta Grossa-PR que enfatiza o contato entre os

membro Tibagi e São Domingos, é possível reconhecer 6 fácies sedimentares, que são descritas

no Quadro 1. Segundo o autor a existência de siltitos bioturbados e palinológicamente férteis

depositados acima do contato com a Formação Furnas, permitiu estabelecer uma idade Emsiano

superior para a base da Formação Ponta Grossa, que é compatível com o topo do Membro

Jaguariaíva no Estado do Paraná. A partir desta correlação o autor conclui que a Formação

Ponta Grossa inicia-se com o Membro Tibagi no flanco norte da Bacia do Paraná.

Bergamaschi (1999) foi quem melhor detalhou a faciologia das rochas da Formação Ponta

Grossa na borda leste da bacia do Paraná. Nesta região o autor estabelece 9 fácies sedimentares,

fácies estas, que encontram-se sumarizadas em Borghi (2002) e neste trabalho (Quadro 1).

Microfácies

CLASSIFICAÇÃO COMPOSICIONAL

Nossos resultados revelam que quartzo (34%), micas (19%), argilas (28%) e matéria orgânica

(12%) são os constituintes predominantes das amostras (tabelas 1 e 2 ). Entre as micas, as

muscovitas são mais frequentes, seguidas das biotitas. Minerais opacos ocorrem disseminados

em grande parte das amostras, exceto por aquelas referentes ao trato transgressivo (Membro

Jaguariaíva) nas quais ocorrem frequentemente concentrados em bioturbações.

Análises de DRX mostram que o interestratificado de ilita-montmorilonita, ilita, caulinita e

clorita são os argilominerais predominantes na Formação Ponta Grossa corroborando as análises

de Ramos & Formoso (1975). Ao analisar cada trato de sistema separadamente, é possível notar

que ambos os tratos de sistema apresentam um conjunto característico de argilominerais. O trato

transgressivo (Membro Jaguariaíva) apresenta tipicamente caulinita e o interestratificado de

ilita-montmorilonita, além de ilita e clorita magnesiana (ver anexo-D). Já o trato de mar alto

(Membro São Domingos), é caracterizado pela ausência caulinita e o interestratificado de ilita-

montmorilonita, sendo constituido essencialmente por ilita, clorita-serpentinita e filossilicatos

hidratados de alumínio e sódio (ver anexo-D).

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Tabela 1 – Análise composicional das amostras referentes ao trato transgressivo (Mb.

Jaguariaíva) expressos em percentagem (%). (Q = quartzo, F = feldspato, M = muscovita, B =

biotita, A = argila, O = opacos, Z = zircão, L = limonita, H = hematita e M. O. = matéria

orgânica).

(TST - Membro Jaguariaíva)

AMOSTRAS Q F M B A O Z M.O.

Am - 1 44 2 13 9 22 5

5

Am - 2 43 traços 18 8 19 3 traços 8

Am - 3 49 - 16 7 19 2 - 7

Am - 4 44 traços 14 8 24 3 traços 6

Am - 5 42 traços 15 8 22 4 traços 9

Am - 6 43 traços 12 5 21 3 - 15

Am - 7 47 traços 13 4 25 2 traços 8

Am - 8 40 - 22 3 23 4 traços 8

Am - 9 39 - 16 7 28 5 traços 5

Am - 10 46 - 14 8 26 3 - 3

Am - 11 43 - 16 5 27 5 - 4

Am - 12 44 - 15 12 19 4 - 6

Am - 13 40 - 14 9 24 5 - 8

Am - 14 46 - 13 9 23 3 1 5

Am - 15 36 - 7 11 29 9 - 8

Am - 16 38 - 7 10 31 5 - 9

Am - 17 51 - 9 6 19 traços traços 14

Am - 18 33 - 7 5 38 6 - 11

Am - 19 26 - 13 7 32 3 traços 18

Am - 20 6 - 8 4 47 8 traços 26

Tabela 2 – Análise composicional das amostras do trato de mar alto (Mb. São Domingos)

expressos em percentagem (%). A amostra Am-6 não foi analisada por constituir-se

essencialmente arenosa. (Q = quartzo, F = feldspato, M = muscovita, B = biotita, A = argila, O

= opacos, Z = zircão, L = limonita, H = hematita e M. O. = matéria orgânica).

(TSMA - Membro São Domingos)

AMOSTRAS Q F M B A O Z L H M.O.

Am - 1 22 traços 20 4 33 3 - 1 traços 16

Am - 2 19 1 19 2 36 1 - - traços 21

Am - 3 27 traços 18 3 35 traços - - - 16

Am - 4 30 2 13 4 33 traços - - - 17

Am - 5 22 1 15 2 28 traços - - - 31

Am - 7 37 - 19 4 25 traços - - - 14

Am - 8 33 1 17 2 32 1 - 1 - 13

Am - 9 21 - 18 traços 38 2 traços - - 20

Am - 10 32 - 27 3 20 2 - - - 16

Am - 11 24 - 23

35 1 - 1 - 16

Am - 12 35 traços 23 2 27 2 traços - - 11

Am - 13 39 traços 18 1 27 1 1 - - 13

Am - 14 33 traços 22 2 25 traços traços - - 17

Am - 15 30 - 21 2 28 2 traços - - 16

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CLASSIFICAÇÃO TEXTURAL

Em termos granulométricos é possível notar a predominância de sedimentos tamanho silte em

grande parte das amostras, excluindo aquelas associadas a superfícies de inundação, que

mostram maiores percentagens de argila e matéria orgânica. A classificação litológica das

amostras indica que ambos os membros são essencialmente sílticos-argilosos (ver figuras 5 e 6;

e as tabelas 3 e 4).

FIGURA 5. Diagrama de classificação litológica referente às amostras do trato transgressivo (Membro

Jaguariaíva), baseado em Picard (1971). Note maior concentração das amostras no campo siltito argiloso.

Este deslocamento é resultante da maior proporção de silte e areia (muito fina, fina ou grossa) na

composição granulométrica das amostras.

FIGURA 6. Diagrama de classificação litológica referente às amostras do trato de mar alto (Membro São

Domingos), baseado em Picard (1971). Note o deslocamento para a parte superior do gráfico,

provavelmente influenciado pela menor proporção de sedimentos tamanho silte e areia.

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Tabela 3 – Análise granulométrica das amostras do trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva)

expressos em percentagem (%). (Veja a localização das amostras no perfil da Figura 3).

(TST - Membro Jaguariaíva)

AMOSTRAS ARGILA SILTE AREIA MUITO FINA AREIA FINA AREIA MÉDIA

Am - 1 22 55 19 3 1

Am - 2 20 62 17 1 -

Am - 3 19 64 15 2 -

Am - 4 24 59 14 3 -

Am - 5 22 68 9 - traços

Am - 6 22 65 12 traços -

Am - 7 25 64 9 2 -

Am - 8 25 61 13 traços -

Am - 9 30 49 15 5 1

Am - 10 28 58 13 1 -

Am - 11 29 52 17 2 -

Am - 12 21 59 14 5 traços

Am - 13 26 57 13 4 -

Am - 14 25 64 10 traços -

Am - 15 35 49 14 2 -

Am - 16 33 50 16 1 -

Am - 17 21 55 19 4 traços

Am - 18 40 38 18 3 traços

Am - 19 36 57 6 - -

Am - 20 57 40 2 traços -

Tabela 4 – Análise granulométrica das amostras do trato de mar alto (Mb. São Domingos)

expressos em percentagem (%). A amostra Am- 6 não foi analisada por constituir-se

essencialmente arenosa (Veja a localização das amostras no perfil da Figura 4).

Tabela de análise granulométrica (TSMA - Membro São Domingos)

AMOSTRAS ARGILA SILTE AREIA MUITO FINA AREIA FINA AREIA MÉDIA

Am - 1 38 58 4 - -

Am - 2 39 57 3 1 -

Am - 3 37 61 traços 1 -

Am - 4 34 54 8 3 1

Am - 5 30 53 13 2 2

Am - 7 26 64 7 3 -

Am - 8 32 60 8 - -

Am - 9 39 56 4 traços -

Am - 10 20 74 5 1 -

Am - 11 37 56 6 traços traços

Am - 12 28 59 12 traços -

Am - 13 29 65 5 traços traços

Am - 14 27 65 7 traços -

Am - 15 28 65 6 traços traços

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Caracterização das Microfácies

O termo microfácies aqui empregado refere-se a uma “massa de sedimento ou rocha sedimentar

caracterizada e distinguida das demais por atributos como mineralogia, microtextura,

microtrama, microestruturas físicas e/ou biogênicas, microfósseis e conteúdo orgânico

particulado observado através de técnicas de microscopia, somados a atributos como cor,

fissilidade e variação estratal observados em escala megascópica”.

A análise dos dados permitiram a identificação 9 microfácies (Quadro 2), dentre as quais, 2

típicas do trato transgressivo (Membro Jaguariaíva) e 7 típicas do trato de mar alto (Membro

São Domingos). Litologicamente as microfácies foram classificadas como argilitos sílticos,

siltitos areno-argilosos e siltitos argilosos (ver figura 8).

Quadro 2 – Quadro síntese das microfácies propostas para a Formação Ponta Grossa.

Microfácies Diagnose Interpretação

M - 1

Siltito areno-argiloso (22:56:22) com bioturbações piritizadas. Ocorre os icnogêneros Planolites isp.; Helminthopsis isp.; Zoophycos isp.; Terebellina isp.; Asterosoma isp e Teicchichnus isp. (característicos da icnofácies Cruziana distal).

Resulta da intensa reorganização biogênica (crustáceos, poliquetas e outros) em ambiente disóxico/óxico.

M - 2

Argilito síltico (3:40:57) finamente laminado. Bioturbação ausente.

Resulta da alternância de processos de decantativos e fluxos turbulentos de baixa densidade em ambiente anóxico/redutor.

M - 3

Siltito argiloso (4:58:38) finamente laminado com microgradação normal, micromarca de calha, marca de corrugação (algal mat) e microondulações assimétricas subordinadamente. Ocorre os icnogêneros Helminthopsis isp.; Gyrolithes isp. e Asterosoma isp. (característicos da icnofácies Cruziana distal).

Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos turbulentos de baixa densidade em ambiente anóxico/redutor. A intermitência do fluxo favorece o desenvolvimento de esteiras microbianas.

M - 4

Siltito argiloso (1:61:38) finamente laminado com micromarca de carga, micromarca de corrugação e microgradação normal. Ocorre somente o icnogênero Helminthopsis isp. (característico da icnofácies Cruziana distal).

Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos turbulentos de baixa densidade em ambiente disóxico/redutor indicando altas taxas de sedimentação.

M - 5

Siltito argiloso (14:54:32) finamente laminado com microgradação inversa e normal, rico em detritos vegetais. Ocorre somente o icnogênero helminthopsis isp. (característico da icnofácies Cruziana distal).

Resulta de fluxos hiperpicnais de baixa densidade em ambiente anóxico/redutor.

M - 6

Siltito argiloso (10:64:26) finamente laminado com microondulações assimétricas. Apresenta tipicamente laminações truncadas e nódulos milimétricos de marcassita. Ocorre somente o icnogênero helminthopsis isp. (característico da icnofácies Cruziana distal).

Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos turbulentos de baixa densidade associados a eventos de tempestade em ambiente anóxico/redutor.

M - 7

Siltito argiloso (8:60:32) finamente laminado com microgradação, marcas de corrugação e localmente bioturbado. Ocorre os icnogêneros Planolites isp.; Helminthopsis isp. e Zoophycos isp.; (característicos da icnofácies Cruziana distal).

Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos hiperpicnais de baixa densidade em ambiente disóxico/anóxico, seguido de reorganização biogênica.

M - 8

Siltito argiloso (7:65:28) finamente laminado com microgradação normal, micromarcas lenticulares, micromarcas de calha e nódulos milimétricos de marcassita subordinadamente. Ocorre somente o icnogênero Helminthopsis isp. (característico da icnofácies Cruziana distal).

Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos turbulentos de baixa densidade em ambiente anóxico/redutor.

M - 9

Siltito argiloso (8:64:28) intensamente bioturbado. Ocorre os icnogêneros Planolites isp.; Helminthopsis isp.; Zoophycos isp.; Terebellina isp. e Teicchichnus isp. (característicos da icnofácies Cruziana distal).

Resulta da intensa reorganização biogênica (crustáceos, poliquetas e outros) em ambiente disóxico/óxico.

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FIGURA 8. Diagrama de classificação litológica das microfácies, baseado em Picard (1971).

Uma vez definido as microfácies, realizou-se uma média do tamanho das partículas das

amostras que as compõe. Note maior concentração das amostras no campo siltito argiloso.

MICROFÁCIES M1

Diagnose – Siltito areno-argiloso de cor cinza a cinza escuro (22:56:22) com bioturbações

piritizadas. Ocorre os icnogêneros Planolites isp.; Helminthopsis isp.; Zoophycos isp.;

Terebellina isp.; Asterosoma isp e Teicchichnus isp. (característicos da icnofácies Cruziana

distal).

Interpretação – Resulta da intensa reorganização biogênica (crustáceos, poliquetas e outros) em

ambiente disóxico/óxico.

Descrição – Trata-se de sedimentos argilosos e sílticos de cor cinza, cujas microestruturas

físicas e a microtrama original foram obliteradas pela ação de organismos bentônicos, gerando

assim, uma microtrama caótica. As microestruturas biogênicas ocorrem na maioria dos casos

piritizadas, onde é possível observar a ocorrência de piritas framboidais.

Discussão – A ocorrência desta microfácies abrange as amostras 1 a 19 no perfil da figura 3. A

presença elevada de areia muito fina e silte nesta microfácies é oriunda da remobilização do

substrato pela ação de ondas durante a fase transgressiva (que muitas vezes são amplificadas

durante eventos de tempestades) que transporta material de maior granulometria para regiões

distais. Este fenômeno também proporciona uma maior oxigenação do fundo, permitindo assim,

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a colonização do substrato por organismos bentônicos (Potter et al., 2005), que acabam por

homogeneizar o substrato, gerando uma microtrama caótica. Um exame mais apurado das

bioturbações (planolites isp.) mostram tubos com paredes piritizadas. Este aspecto revela que as

mesmas foram geradas num substrato firmground com certo nível de oxigenação e compactação

no qual o organismo produz um muco que facilita sua locomoção no substrato. Segundo

Schieber (2002) este muco segregado pelos organismos bentônicos é importante para a

produção inicial de pirita diagenética induzida por bactérias que alimentam-se do muco. Esta

microfácies correlaciona-se com a fácies Slt1 de Bergamaschi (1999) (ver descrição no quadro

1).

FIGURA 9 – Fotomicrografia representando a microfácies M1 (siltito areno-argiloso). Ocorre no perfil

da figura 3 referente ao trato de sistema transgressivo. Esta microfácies apresenta maior razão silte e areia

muito fina em relação à fração argila, padrão caótico de orientação (microtrama caótica) e bioturbações

piritizadas (aumento 2,5x; nicol paralelo e luz transmitida).

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FIGURA 10 – Fotomicrografia representando a microfácies M1 (siltito areno-argiloso). Ocorre no perfil

da figura 3 referente ao trato de sistema transgressivo. Note detalhe da bioturbação piritizada (aumento

2,5x; nicol paralelo e luz transmitida).

MICROFÁCIES M2

Diagnose – Argilito síltico de cor preta (3:40:57) finamente laminado. Bioturbação ausente.

Interpretação – Resulta da alternância de processos de decantativos e fluxos turbulentos de

baixa densidade em ambiente anóxico/redutor.

Descrição – Trata-se de sedimentos argilosos ricos em matéria orgânica, pirita e microtrama

orientada, intercalados a lâminas submilimétricas (0,05 mm) de siltito fino.

Discussão - A ocorrência desta microfácies abrange a amostra 20 no perfil da figura 3. É a

microfácies mais argilosa. Sua microtrama orientada é atribuída a processos decantativos e as

laminações de siltito podem estar associadas a eventos de tempestade ou turbiditos de baixa

densidade que transportariam sedimentos de maior granulometria para regiões distais (Potter et

al., 2005). Schieber (2003) Advoga que estas laminações também podem ser associadas a

eventos erosivos, sugerindo assim, a ação de correntes de fundo atuando no substrato e gerando

possivelmente uma pequena perda do registro estratigráfico. Esta microfácies apresenta-se

extremamente rica em argila e matéria orgânica sendo associada a uma superfície de inundação

máxima (q.v. Bergamaschi, 1999; perfil da figura 3).

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FIGURA 11 – Fotomicrografia representando a microfácies M2 (argilito síltico). Ocorre no perfil da

figura 3 referente ao trato de sistema transgressivo. Esta microfácies apresenta maior razão de sedimentos

na fração argila em relação à fração silte e areia muito fina, laminações compostas por quartzo e micas na

fração silte e microtrama orientada (aumento 5x, nicol cruzado e luz transmitida).

FIGURA 12 – Fotomicrografia representando a microfácies M2 (argilito síltico). Ocorre no perfil da

figura 3 referente ao trato de sistema transgressivo representando uma importante superfície de

inundação. Note a orientação das micas paralelamente à superfície deposicional, gerando uma microtrama

orientada (aumento 20x, nicol paralelo e luz transmitida).

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MICROFÁCIES M3

Diagnose – Siltito argiloso (4:58:38) finamente laminado com microgradação normal,

micromarca de calha, marca de corrugação (algal mat) e microondulações assimétricas

subordinadamente. Ocorre os icnogêneros Helminthopsis isp.; Gyrolithes isp. e Asterosoma isp.

(característicos da icnofácies Cruziana distal).

Interpretação – Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos turbulentos de baixa

densidade em ambiente anóxico/redutor. A intermitência do fluxo favorece o desenvolvimento

de esteiras microbianas.

Descrição – Trata-se de sedimento síltico-argiloso intercalado por lâminas milimétricas (0,5

mm) e submilimétricas (0,08 mm) de siltito, que apresentam micromarcas de calha na base.

Micromarcas de corrugação associadas à atividade microbiana ocorre na base da de algumas

camadas de siltito. As laminações de siltito mostram microestruturas gradacionais, e

microondulações assimétricas (0,8 mm) aparecem subordinadamente com nódulos milimétricos

de marcassita. Esta alternância de processos decantativos e trativos acaba por gerar uma

microtrama relativamente orientadada.

Discussão – A ocorrência desta microfácies abrange as amostras 1 e 2 no perfil da figura 4.

Este conjunto de microestruturas revela um substrato firmground sujeito à ação de fluxos

trativos esporádicos caracterizados por lâminas de silte com microgradação normal, mineriais e

fitoclastos relativamente orientados em relação ao fluxo. Estas características sugerem uma

região mais proximal (prodelta). A intermitência dos fluxos favorece o desenvolvimento de

esteiras microbianas ocorrendo no topo das camadas argilosas. Este tipo de microestrutura pode

ser confundido com micromarcas de carga, no entanto sua diferenciação deve-se ao fato de

poder incorporar micas e pelotas de argila, armadilhadas pela trama microbiana, que também

resiste ao cargueamento provocado pela camada de siltito, produzindo depressões relativamente

rasas em comparação com microestruturas de cargueamento (Schieber, 2007; Kumar & Pandey,

2007).

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FIGURA 13 – Fotomicrografia representando a microfácies M3 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. É possível observar uma microondulação assimétrica na

parte superior e micromarcas de corrugação na base da camada de siltito que ocorre na parte inferior

indicado pelas setas amarelas (aumento 1x, nicol paralelo).

FIGURA 14 – Fotomicrografia representando a microfácies M3 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. As setas amarelas indicam micromarcas de calha que

ocorem na parte superior. Note também a micromarca de corrugação que ocorre na base da camada de

siltito atribuída à atividade microbiana, indicada pela seta branca (aumento 1x, nicol paralelo).

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MICROFÁCIES – M4

Diagnose – Siltito argiloso (1:61:38) finamente laminado com micromarca de carga,

micromarca de corrugação e microgradação normal. Ocorre somente o icnogênero

Helminthopsis isp. (característico da icnofácies Cruziana distal).

Interpretação - Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos turbulentos de baixa

densidade em ambiente anóxico/redutor indicando altas taxas de sedimentação.

Descrição – Trata-se de sedimento síltico argiloso intercalado com laminações submilimétricas

de siltito (0,05 mm – 0,1 mm) que apresentam base erosiva e micromarcas milimétricas de carga

e chama. É possível observar filamentos atribuídos ao desenvolvimento de esteira microbiana

cortando a camada de siltito (schieber, 2007).

Discussão - A ocorrência desta microfácies abrange a amostra 3 no perfil da figura 4. A

presença de microestruturas de carga e chama, indicam que as camadas argilosas constituíam

um substrato lamoso (soupyground) e não compactado de baixa densidade, devido ao conteúdo

abundante de água (Schieber, 2007b). Este tipo de microestrutura geralmente é preservado onde

ocorre rápida deposição de lamas, interrompida pela deposição ocasional de sedimentos de

maior granulometria, além de apresentar incrível semelhança com micromarcas de corrugação

produzidas por esteiras microbianas (Schieber, 1991).

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FIGURA 15 – Fotomicrografia representando a microfácies M4 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Note micromarcas de carga, indicadas pelas setas

amarelas e micromarca de chama, indicada pela seta branca; ambas ocorrendo na parte inferior da base da

camada de siltito, indicado (aumento de 2,5x; nicol paralelo e luz transmitida).

FIGURA 16 – Fotomicrografia representando a microfácies M4 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Note laminações submilimétricas de siltito, indicada

pelas setas amarelas e laminações atribuídas a atividade microbiana, indicada pelas setas brancas

(aumento de 1,5x; nicol paralelo e luztransmitida).

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Microfácies M5

Diagnose – Siltito argiloso (14:54:32) finamente laminado com microgradação inversa e

normal, rico em detritos vegetais. Ocorre somente o icnogênero helminthopsis isp.

(característico da icnofácies Cruziana distal).

Interpretação – Resulta de fluxos hiperpicnais de baixa densidade em ambiente anóxico/redutor.

Descrição – Trata-se de sedimento síltico-argiloso rico em material Fitoclástico (detritos

vegetais) relativamente orientado em relação ao acamamento intercalado por laminações

milimétricas de siltito e micromarca de calha. O preenchimento da micromarca de calha ocorre

sob a forma de um aumento granulométrico em direção ao topo, delimitada por uma lâmina

submilimétrica de siltito que marca o pico de energia do fluxo, seguido de uma diminuição

granulométrica. As lâminas de siltito mostram microgradação normal. Esta é microfácies mais

abundante em material fitoclástico e apresenta elevados valores de carbono orgânico total (1,03

%).

Discussão - A ocorrência desta microfácies abrange as amostras 4, 5 e 9 no perfil da figura

4. A presença elevada de material fitoclástico e grãos de silte orientados com aspecto maciço

intercalado por finas laminações de siltito e micromarcas de calha com microgradação normal e

inversa, sugerem deposição por fluxo hiperpicnal de baixa densidade. As laminações de siltito

podem ter sido depositadas durante o pico da inundação, registrando assim, o ápice de energia

do evento (Mulder et al., 2003; Plink-Björklund & Steel, 2003). Gastaldo (1994) discute

amplamente os fatores inerentes a preservação e tranporte do material fitoclástico até sua

deposição, e afirma ser perfeitamente compreensível que material fitoclástico de maior

densidade tais como fragmentos lenhosos sejam transportados juntamente com siltes em

turbulência por fluxos hiperpicnais de baixa densidade.

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FIGURA 17 – Fotomicrografia representando a microfácies M5 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Note Fragmentos de material fitoclástico indicado pelas

setas amarelas (aumento de 1,5x; nicol paralelo e luz transmitida).

FIGURA 18 – Fotomicrografia representando a microfácies M5 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Note laminação milimétrica de siltito na parte superior

da lâmina, na qual é possível observar um pavimento de grãos de silte de maior granulometria, indicado

pela seta amarela (aumento de 1,5x; nicol paralelo e luz transmitida).

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Microfácies M6

Diagnose – Siltito argiloso (10:64:26) laminado com microondulações assimétricas. Apresenta

tipicamente laminações truncadas e nódulos milimétricos de marcassita. Ocorre somente o

icnogênero helminthopsis isp. (característico da icnofácies Cruziana distal).

Interpretação – Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos turbulentos de baixa

densidade associados a eventos de tempestade em ambiente anóxico/redutor.

Descrição – Trata-se de sedimentos síltico-argilosos frequentemente erodidos por fluxos trativos

de energia elevada, capazes de transportar silte e areia muito fina. Microondulações assimétricas

de espessura milimétrica (0,3 mm) com nódulos de marcassita (0,2 mm) ocorrem alternadas em

meio a sedimentos argilosos e laminações de siltito (0,4 mm – 1 mm) que exibem

microgradação normal.

Discussão - A ocorrência desta microfácies abrange a amostra 7 no perfil da figura 4. A

presença elevada de material síltico e laminações truncadas assessoradas por microondulações

assimétricas intercaladas as camadas argilosas, sugerem fortemente a atuação de eventos de

tempestades retrabalhando o substrato (Schieber, 1991; Potter, 2005). Esta informação é

corroborada pelos dados de afloramentos que mostram feições como Ondulações assimétricas

(HCS) e marcas de ondas fechando os ciclos de raseamento do membro São Domingos

(Bergamaschi, 1999). Aigner & Reineck (1982) sugerem que correntes amplificadas por

tempestades podem transportar sedimentos de granulometria mais grossa (silte ou areia muito

fina) ou argila floculada da plataforma para costa-afora, região onde predomina deposição de

finos e processos decantativos. Schieber (2007) relata a ocorrência de feições similares em

intervalos microclásticos da Formação Eau Claire do Cambriano superior, localizada no Estado

de Indiana (EUA), e interpretada como o registro de uma plataforma epicontinental dominada

por tempestades.

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FIGURA 19 – Fotomicrografia representando a microfácies M6 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4, referente ao trato de sistema de mar alto. Na parte superior da lâmina é possível observar uma

microondulação assimétrica parcilamente bioturbada, indicada pela seta amarela (aumento 1x; nicol

paralelo e luz transmitida).

FIGURA 20 – Fotomicrografia representando a microfácies M6 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Note micoondulação assimétrica na parte superior,

indicada pela seta amarela (lee side) e um conjunto de laminações submilimétricas na parte inferior,

indicada pela seta branca (aumento 1x; nicol paralelo e luz transmitida).

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Microfácies M7

Diagnose – Siltito argiloso (8:60:32) finamente laminado com microgradação normal,

marcas de corrugação e localmente bioturbado. Ocorre os icnogêneros Planolites isp.;

Helminthopsis isp. e Zoophycos isp.; (característicos da icnofácies Cruziana distal).

Interpretação – Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos hiperpicnais

de baixa densidade em ambiente disóxico/anóxico, seguido de reorganização biogênica.

Descrição – Trata-se de sedimentos argilo-sílticos com microtrama orientada nas

camadas argilosas e laminações de siltito e caótica nas áreas bioturbadas. As laminações

de siltito submilimétricas (0,01 mm) mostram grãos de quartzo e micas bem orientados.

Ocorrem subordinadamente laminações milimétricas de siltito em microgradação

inversa (0,4 mm).

Discussão - A ocorrência desta microfácies abrange a amostra 8 no perfil da figura 4. A

presença de microgradação inversa e sedimentos orientados nas camadas sílticas,

associados às depressões rasas na base da camada de siltito sugerem altas taxas de

sedimentação por fluxos hiperpicnais que acabam por oxigenar o substrato (Mulder et

al., 2003; Potter et al, 2005), permitindo assim condições favoráveis ao

desenvolvimento de organismos bentônicos (Buatois, 2002). Esta microfácies pode ser

uma variação da microfácies M3, sendo diferenciada basicamente pela maior proporção

silte disperso pela amostra devido à atividade biogênica.

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FIGURA 21 – Fotomicrografia representando a microfácies M7 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Note um conjunto de laminações submilimétricas na

parte superior da lâmina. Na parte inferior é possível observar as microestruturas biogênicas zoophycos

isp.; cujo limite superior é indicada pela seta amarela e helminthopsis isp.; indicada pela seta branca

(aumento de 1x; nicol paralelo e luz transmitida).

FIGURA 22 – Fotomicrografia representando a microfácies M7 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Note fragmento de esteira microbiana (indicada pelas

setas amarelas) incorporada na camada de siltito localizada na parte superior da lâmina e microestruturas

associadas ao crescimento de filamentos microbianos (indicados pelas setas brancas) (aumento 1,5x; nicol

paralelo e luz transmitida).

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Microfácies M8

Diagnose – Siltito argiloso (7:65:28) finamente laminado com microgradação normal,

micromarcas lenticulares, micromarcas de calha e nódulos milimétricos de marcassita

subordinadamente. Ocorre somente o icnogênero Helminthopsis isp. (característico da

icnofácies Cruziana distal).

Interpretação - Resulta da alternância de processos decantativos e fluxos turbulentos de baixa

densidade em ambiente anóxico/redutor.

Descrição – Trata-se de siltito argiloso constituído de laminações milimétricas (0,1 mm – 0,6

mm) de silte grosso a silte fino em microgradação normal. Apresenta base erosiva, micromarcas

de calha (0,3 mm – 1 mm) e nódulos de marcassita (0,3 mm). É a microfácies de maior

percentagem em silte e areia muito fina.

Discussão - A ocorrência desta microfácies abrange a amostra 10 e 11 no perfil da figura 4. Este

padrão casado (couplets) de argilito e siltito indica sedimentação episódica por fluxos trativos

(O’Brien et al., 1998). A Presença de laminações com base erosiva, micromarcas de calha e

gradação normal, associado à abundância de material fitoclástico e grãos orientados, gerando

uma microtrama orientada em relação ao acamamento sugere sedimentação por de fluxos

hiperpicnais ou correntes de turbidez de baixa densidade. Este fato é apoiado pela ausência de

microestruturas biogênicas (bioturbações), caracterizando um ambiente estressante pelo

contínuo imput de água doce (Pemberton et al., 2001; Buatois, 2002; Gibert & Ekdale, 2002).

Segundo Schieber (2007c) a presença de marcassita está associada a processos de oxidação,

dissolução e posterior recristalização do material pirítico e fosfático reformulado. Uma vez

formado o material pirítico de qualquer natureza no sedimento, intermitentes erosões e

reformulação desses sedimentos proporcionam um mecanismo simples para remoção de argilas

e concentração deste material, que são posteriormente oxidados, liberando altas concentrações

de Fe2+

. Neste momento é necessária uma fonte de sulfeto de hidrogênio tais como as vindas de

camadas de sedimentos organicamente ricos acima ou abaixo para causar a rápida precipitação

de marcassita. Este tipo de mineral ocorre em depósitos de retrabalhamento em calcáreos e

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frequentemente como concreções icorporadas a rochas microclásticas (Klein & Hurlbut, Jr.,

1999).

FIGURA 23 – Fotomicrografia representando a microfácies M8 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Observe a ocorrência de micromarca de calha de

tamanho centimétrico, na base (indicado pela seta amarela); uma micromarca lenticular de siltito

(indicada pela seta branca) e uma sucessão de microgradações normais na parte superior da amostra

(aumento 1x, nicol paralelo).

FIGURA 24 – Fotomicrografia representando a microfácies M8 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Observe a ocorrência superfícies erosivas em

microgradação normal e micromarcas de calha na base, indicadas pelas setas amarelas (aumento 1x; nicol

paralelo e luz transmitida).

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Microfácies M9

Diagnose – Siltito argiloso (8:64:28) intensamente bioturbado. Ocorre os icnogêneros

Planolites isp.; Helminthopsis isp.; Zoophycos isp.; Terebellina isp. e Teicchichnus isp.

(característicos da icnofácies Cruziana distal).

Interpretação - Resulta da intensa reorganização biogênica (crustáceos, poliquetas e outros) em

ambiente óxico/disóxico.

Descrição – Trata-se de siltito argiloso bioturbado, no qual ainda é possível observar indícios de

microestruturas físicas (laminações e microndulações assimétricas). É caracterizada pelo

aumento no índice de bioturbação e incremento de icnogêneros em relação às demais amostras.

Pirita framboidal ocorre dispersa pela amostra.

Discussão - A ocorrência desta microfácies abrange as amostras 12, 13, 14 e 15 no perfil da

figura 4. Esta microfácies é oriunda da remobilização do substrato pela ação de organismos

bentônicos na busca por alimento e seu índice de bioturbação é o maior em relação às demais

(exceto a microfácies M1). Nesta microfácies é possível observar uma diminuição da presença

de material fitoclástico, quando comparada as demais microfácies do trato de mar alto

apresentadas anteriormente. Este fato sugere uma menor influência de processos hiperpicnais e

influência de água doce, permitindo desta forma o desenvolvimento normal da icnofácies

Cruziana distal (Pemberton et al., 2001 Buatois, 2002).

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FIGURA 25 – Fotomicrografia representando a microfácies M9 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Esta microfácies é caracterizada pelo alto índice de

reelaboração biogênica e abundancia de microestruturas biogênicas. Microestruturas físicas ocorrem

parcialmente bioturbadas. Note laminações plano paralelas indicadas pelas setas amarelas e spreites do

icnogênero Teicchichnus isp.; indicado pelas setas brancas (aumento 1x; nicol paralelo e luz transmitida).

FIGURA 26 – Fotomicrografia representando a microfácies M9 (siltito argiloso). Ocorre no perfil da

figura 4 referente ao trato de sistema de mar alto. Note conjunto de laminaçõs submilimétricas na parte

superior (indicada pela seta branca) e microondulação assimétrica na parte inferior (indicada pela seta

amarela), ambas encontran-se parcialmente obliteradas (aumento 1x; nicol paralelo e luz tran

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DISCUSSÃO

De um modo geral as microfácies mostram-se essencialmente sílticas-argilosas. O trato de

sistema transgressivo apresenta caracteristicamente uma microfácie sílticas-arenosa com alto

índice de reelaboração biogênica e presença de pirita, e outra extremamente argilosa, rica em

matéria orgânica e pirita framboidal. Já o trato de mar alto, é caracterizado por microfácies

sílticas-argilosas com baixo índice de reformulação biogênica (bioturbações) e apresenta

caracteristicamente inúmeras microestruturas de origem física ou hidrodinâmica (e.g.

Micromarca de calha, microondulações assimétricas, microgradações, microlaminações etc.) e

de origem microbial (micromarca de corrugação).

O perfil da figura 3 referente ao trato transgressivo sugere a presença de 3 parassequências. A

primeira ocorre da cota de 8m a 25m; a segunda, de 25m a 39m; e a terceira, de 39m a 59m

aproximadamente. O processo deposicional dominante foi a remobilização do substrato pela

ação de ondas que trasportavam material de maior granulometria (silte e areias) para regiões

mais distais, seguido de reelaboração biogênica (microfácies M1). Este processo é atestado pela

alta proporção de silte e areia muito fina, além da ausência de microestruturas físicas ou

hidrodinâmicas em grande parte das amostras.

Com o incremento da profundidade promovida pela subida do nível relativo do mar, dá-se a

deposição de finos (argilas) por processos decantativos (atestado pela microfácies M2), que

registra uma importante superfície de inundação de 3a ordem (Figura 14); corroborando assim, a

interpretação paleoambiental proposta por Diniz (1985) e Bergamaschi (1999) de deposição em

mar raso (antepraia inferior a costa-afora), submetidas à ação de ondas e correntes. Quando em

sucessão, as microfácies apresentam-se semelhantes àquelas descritas por O’Brien & Slatt

(1990), mostrando uma mudança vertical na composição (aumentando a proporção de argila) e

na microtrama (passando de aleatória a orientada).

Potter et al. (2005) advoga que a ação de ondas em mares rasos, gera turbulência no fundo e

mantém as partículas em suspensão, permitindo que correntes de maré, retorno/relaxação e

geostróficas entre outras, transportem sedimento em suspensão para regiões distais (offshore).

Ainda segundo os autores, a ação de ondas amplificadas por eventos de tempestade pode

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resuspender o sedimento de regiões mais proximais do mar raso e gerar correntes de turbidez de

baixa densidade que transportam material de maior granulometria para regiões mais distais.

Estas correntes acabam por oxigenar o fundo marinho, favorecendo assim, a reelaboração

biogênica.

Diferentemente do trato transgressivo, as microfácies que caracterizam o Trato de mar alto (M3

a M9) exibem abundantes microestruturas físicas e baixo índice de reelaboração biogênica

(exceto a microfácies M9).

O perfil da figura 4 sugere duas parassequências. A primeira ocorre da cota de 1m a 3,20m

aproximadamente e a segunda da cota de 3,20m a 7,20m aproximadamente. A camada arenosa

situada próxima a cota de 4m é considerado um evento anômalo gerado por tempestades que

transportaram material de maior granulometria e essencialmente arenoso para regiões mais

distais.

A primeira parassequência mostra um conjunto de microfácies (M3 a M5) de tendência mais

regressiva atestada pela maior proporção de silte e areia intercaladas aos folhelhos culminando

em pacotes centimétricos ou métricos de areia no topo da parassequência. Já segunda

parassequência, de caráter também regressivo indica uma tendência mais transgressiva (menor

granulometria e diminuição dos pacotes arenosos) quando analisada num contexto de 4a ordem.

Ambas as parassequências do trato de mar alto mostram intercalação de material síltico/argiloso

gerando um acamamento riscado, abundância de detritos vegetais (material fitoclástico) e

microestruturas físicas. Estas microestruturas revelam uma série de feições associadas a fluxos

de corrente (feições erosivas), mais precisamente mostrando aumento ou diminuição da energia

do fluxo (feições com base erosiva e diminuição granulométrica em direção ao topo). Este

padrão “riscado” ou casado (“couplets”) é indicativo de sedimentação episódica por fluxos

trativos (O’ Brien et al.,1998; Davies et al., 1991; Plink-Björklund & Steel, 2003).

As microfácies que ocorrem da cota de 1m a 4,5m (M3 a M7), revelam a alternância de

processos decantativos e trativos, enquanto que a alta percentagem de detritos vegetais (material

fitoclástico) sugerem sedimentação por fluxos hiperpicanais. Já a microfácies M8 que ocorre

próxima a cota de 5m está associada a fluxos turbulentos de baixa densidade (correntes de

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turbidez diluídas) devido a sensível diminuição de detritos vegetais e por exibir laminações com

microgradação normal, registrando assim a fase de desaceleração do fluxo. A microfácies M9

que ocorre da cota de 6m a 8m é caracterizada pela maior argilosidade em relação as demais e

por apresentar um aumento significativo no grau de bioturbação.

A observação das microestruturas biogênicas (bioturbações) que ocorrem no trato de mar alto

permitiu a identificação da icnofácies Cruziana empobrecida num contexto de contexto de

costa-afora distal (lower offshore) para a primeira parassequência, atestada pela baixa

diversidade de icnogêneros e baixo índice de reelaboração biogênica somados a abundância de

detritos vegetais. Este caráter empobrecido da icnofácies pode ser gerado pelo aumento local na

taxa sedimentar resultante do aporte de água doce fluvial.

Para a segunda parassequência, foi possível estabelecer uma icnofácies Cruziana distal, atestada

pelo aumento no índice de reelaboração biogênica, incremento de icnogêneros e quase ausência

de detritos vegetais, resultante da menor influência fluvial.

CONCLUSÃO

A análise de microfácies mostra-se eficiente para a caracterização de processos e

paleoambientes. Quando em sucessão o mapeamento das microestruturas, bem como a mudança

na microtrama das microfácies, reflete mudanças nas condições ambientais e de sedimentação,

além de fornecer pistas para a caracterização de uma condição deposicional específica.

As microfácies descritas para o trato transgressivo, quando mapeadas em sucessão, mostram

uma microtrama caótica e composição rica em areia muito fina e silte (de cores mais claras) que

são substituídas em direção ao topo por microfácies mais argilosas (cores mais escuras) ainda

com microtrama caótica, podendo em alguns pontos mostrar alguma orientação; e estas são

sucedidas por microfácies argilosas de cores escuras a negras e microtrama orientada, típica de

transgressões marinhas e sua origem resulta do decaimento da atividade biogênica, geralmente

ocasionado por condições estressantes (anoxia), marcando assim, uma superfície de inundação.

Já as microfácies do trato de mar alto revelam que o ambiente era constantemente sujeito a

influência de sedimentação episódica por fluxos hiperpicnais, além de processos de

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ressedimentação por tempestades, alternando níveis de baixa (processos decantativos) e alta

energia (Processos trativos). Embora sujeitas a intercalações de camadas arenosas e sílticas, as

microfácies do trato de mar alto mostram uma microtrama relativamente orientada. Estas

microfácies quando mapeadas em sucessão mostram mudança vertical na microtrama, passando

de orientada a caótica, além de aumento da proporção de sedimentos tamanho silte e areia muito

fina.

A observação do caráter selante ou reservatório das microfácies foi inferido a partir de aspectos

texturais e composicionais. A microfácies de melhor qualidade reservatório (M1) e selante (M2)

são atribuídas ao trato de sistema transgressivo. A microfácies M1 mostra altas percentagens de

silte e areia muito fina (56% e 22%) dispersos pela amostra, microtrama caótica e alto índice de

reelaboração biogênica, que acaba por reduzir a capacidade selante. Creditamos que sua gênese

está ligada a ação de ondas e posterior reelaboração biogênica. Já a microfácies M2 mostra alta

percentagem de argila (57%) e microtrama orientada, sendo gerada por processos decantativos

relacionados ao aumento relativo do nível do mar e marca uma importante superfície de

inundação num ciclo de 3a ordem.

As microfácies que compõem o trato de sistema de mar alto (M3 a M9), por sua vez, mostram

intercalações de camadas submilimétricas e milimétricas de silte ou areia muito fina,

microtrama relativamente orientada, baixo índice de reelaboração biogênica e inúmeras

microestruturas (hidrodinâmicas, biogênicas e microbiais).

Uma análise preliminar, em termos de capacidade selante e reservatório dos tratos de sistema

aqui analisados, nos permitem inferir que o trato transgressivo (Membro jaguariaíva) este

excelente capacidade para atuar como reservatório de baixa permeabilidade, fato indicado pela

ocorrência da ocorrência da microfácies M1 em grande parte do perfil analisado. Embora

sujeitas a intercalações de camadas arenosas e sílticas, as microfácies do trato de mar alto (M3 a

M9) mostram uma microtrama relativamente orientada, favorecendo assim a atuação do trato de

mar alto como possível selante.

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Anexo D – Análises de DRX

Difratogramas referentes às amostras do trato transgressivo (Membro Jaguariaíva) e do trato de mar alto

(Membro São Domingos).

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1

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 1 (DRX).

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2

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 2 (DRX).

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3

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 3 (DRX).

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4

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 4 (DRX).

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5

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 5 (DRX).

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6

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 6 (DRX).

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7

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 7 (DRX).

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8

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 8 (DRX).

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9

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 9 (DRX).

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10

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 10 (DRX).

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11

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 11 (DRX).

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12

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 12 (DRX).

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13

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 13 (DRX).

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14

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 14 (DRX).

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15

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 15 (DRX).

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16

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 16 (DRX).

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17

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 17 (DRX).

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18

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 18 (DRX).

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19

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 19 (DRX).

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20

Trato transgressivo (Mb. Jaguariaíva) – Análise de difratometria da amostra 20 (DRX).

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21

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 1 (DRX).

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22

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 2 (DRX).

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23

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 3 (DRX).

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24

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 4 (DRX).

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25

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 5 (DRX).

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26

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 6 (DRX).

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27

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 7 (DRX).

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28

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 8 (DRX).

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29

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 9 (DRX).

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30

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 10 (DRX).

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31

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 11 (DRX).

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32

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 12 (DRX).

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33

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 13 (DRX).

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34

Trato de mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 14 (DRX).

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35

Trato de

mar alto (Mb. São Domingos) – Análise de difratometria da amostra 15 (DRX).

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Anexo E – Resumo IAS

Devonian shale microfacies in the Paraná Basin (Brazil)

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1

Devonian shale microfacies in the Paraná Basin (Brazil)

LEONARDO BORGHI, Laboratório de Geologia Sedimentar, Universidade Federal do

Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil; THIAGO G. CARELLI, Laboratório de Geologia

Sedimentar, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil.

ISC 2010 - 18th International Sedimentological Congress (Abstract ID: 798)

Expressive shale formations occur in the Devonian strata in the onshore cratonic

Brazilian basins (Solimões, Amazonas, Parnaíba and Paraná basins), where they are

usually recognized as potential source rocks, but not evaluated so far as effective

sealing rocks or gas reservois (shale gas) The present microfacies analysis of Devonian

shales from the Paraná Basin (Ponta Grossa Fm), based on petrographic thin section

descriptions (allied to TOC and XRD analysis), involves challenging procedures

(difficulty in obtaining good thin sections and in making the appropriate microscopic

observations), that are, when overcome, rewarding due to low costs and good results in

characterizing reservoir/seal quality. Moreover they provide adequate process–

paleoenvironment interpretations, particularly relevant if data are tied to a well known

stratigraphic context. Based on a previous detailed sequence stratigraphic study

(Bergamaschi and Pereira, 2001), we chose two outcrop areas in the Eastern border of

the basin (Paraná State), where a HST (São Domingos Mb) and a TST (Jaguariaíva

Mb) were well defined in a 3rd order depositional sequence framework, and where

smaller T-R cycles are identified. Complementary data also come from other outcrop

sites, in the Northwestern border of the basin (Mato Grosso State) and even from the

same Eastern border. The Ponta Grossa Fm microfacies reveal mainly clayey-silty

shales (high silt:clay ratio), illite/kaolinite composition with abundant continental

palynodebris, and varied physical and biogenical microstructures (microscours,

microload-casts, silt/mud ripples, silt laminae, micrograded laminae,

microbiolaminations and bioturbations), deposited from offshore to prodeltaic marine

paleoenvironments (interpretations supported by biogenic/trace-fossils observations).

Unlike HST microfacies, the TST ones reveal smaller TOC (~0.5%), chaotic

microtexture and the absence of physical microstructures, resulting from intense wave

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2

reworking and bioturbation, particularly during the early TST phase. The HST

microfacies suggest strong current reworking of the bottom, revealed by the varied

identified physical microstructures, probably resulting from hyperpycnal flows, which

would be responsible for higher TOC values (~0.8%), associated to continental

palynodebris in silty shales. These shale microfacies altogether show a fair potential as

unconventional reservoirs (gas shale), which may eventually reduce their effectiveness

in sealing the Tibagi Mb sandstones of the Ponta Grossa Fm, or the underlying Furnas

Fm sandstones (Lower Devonian), in eventual speculative petroleum systems.

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ordem para o Siluro-devoniano na sub-bacia de Apucarana, bacia do Paraná, Brasil. In:

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Anexo E – Análise petrográfica

Planilha para descrição de rochas microclásticas

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1

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