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Tiragem: 16000 País: Portugal Period.: Diária Âmbito: Informação Geral Pág: 20 Cores: Cor Área: 22,60 x 30,26 cm² Corte: 1 de 5 ID: 61798773 11-11-2015 OM SISMOS. UM DIA A CASA VAI ABAIXO A Protecção Civil está a testar em articulação com Espanha e Marrocos a nossa capacidade de responder a um sismo idêntico ao que aconteceu há 260 anos. O terramoto de 1755 foi um dos maiores de sempre na Europa, mas hoje seria bem pior, avisam os especialistas. E a culpa é do excesso de construção no litoral e nas zonas ribeirinhas erros Catarina Correia Rocha e Melissa Lopes

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OM SISMOS. UM DIA A CASA VAI ABAIXO A Protecção Civil está a testar em articulação com Espanha e Marrocos a nossa capacidade de responder a um sismo idêntico ao que aconteceu há 260 anos. O terramoto de 1755 foi um dos maiores de sempre na Europa, mas hoje seria bem pior, avisam os especialistas. E a culpa é do excesso de construção no litoral e nas zonas ribeirinhas

erros Catarina Correia Rocha e Melissa Lopes

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O Zoom // Segurança e prevenção

Números

500 000 Presume-se que um sismo de grande magnitude deixaria 500 mil pessoas sem casa

Sismos. Vivemos em cima de um barril de pólvora, avisa especialista

Se o terramoto de 1755 acontecesse hoje, o nível de destruição seria bem superior. E que as zonas ribeirinhas estão agora muito mais povoadas

MELISSA LOPES melissa.lopesgionline.pt

Não sendo possível prever quando Por-tugal enfrentará um sismo de magnitu-de semelhante ao de 1755, resta-nos fazer estimativas sobre os danos que um ter-ramoto com aquelas dimensões provo-caria hoje. E o cenário não podia ser mais preocupante, alerta Mário Lopes, inves-tigador do Instituo Superior Técnico. Um tremor igual ao que aconteceu há 260 anos e arrasou sobretudo a região de Lis-boa e do Algarve causaria ainda mais estragos porque o litoral está sobrecar-regado de construção.

Um sismo de grandes proporções pro-vocaria entre 17 e 27 mil mortes, mais de 50 mil feridos e um número de desaloja-dos que facilmente chegaria ao meio milhar. As contas estão feitas em diversos estu-dos, inclusivamente nos cálculos do Labo-ratório Nacional de Engenharia Civil.

É com o objectivo de testar o nível de res-posta à eventualidade da ocorrência de um maremoto associado a um sismo que a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) está a desenvolver esta semana um simulacro à escala internacional no território continental. O exercício enqua-dra-se no projecto europeu EU WESTSU-NAMI, coordenado pela Dirección Gene-ral de Protección Civil y Emergencias de Espanha, e conta com a participação da Protecção Civil de Marrocos, além da de Portugal. Tudo "países ribeirinhos suscep-tíveis à ocorrência de sismos de grande magnitude".

A ANPC justifica a escolha do terramo-to de 1 de Novembro de 1755 - "um dos maiores de sempre" - para testar o socor-ro nos vários países envolvidos, por ser o exemplo do cenário mais gravoso alguma vez vivido na Europa. No âmbito nacional, a simulação, que contou também com a participação do Instituto Português do Mar e da Atmosfera e da Direcção-Geral da Autoridade Marítima, visou testar o

plano especial de emergência para o ris-co sísmico e de maremotos da região do Algarve, a zona continental mais próxima do epicentro do sismo de há 260 anos.

A ANPC explica ainda que o simulacro, que termina hoje às 11 horas, foi feito numa modalidade de "postos de comando", ou seja, tratou-se de um exercício que não envolveu "movimentação real de meios no terreno".

Um dos comandos envolvidos é o de Car-naxide (Lisboa), onde é feita a gestão dos meios e a resposta aos pedidos de socor-ro que vão surgindo (conforme o tipo de ocorrências: desabamento de terras, de rasas, destruição de hospitais, de estradas e pontes) e onde é feito um acompanha-mento da situação através de imagens de satélite. Ao mesmo tempo, é a partir des-ta sala que, num cenário hipotético de ter-ramoto, são feitos os comunicados à popu-lação, com a colaboração da comunicação social. No Algarve, o posto de operações está localizado na cidade de Faro, que é auxiliado por Lisboa quando esgotados os meios de resposta da região.

Os postos de comando de Madrid e de Rabat também fizeram parte do exercí-cio, que, embora seja apenas isso, tem como objectivo preparar o país para o cená-rio mais gravoso. "Não nos podemos esque-cer que é uma ficção com aderência à rea-lidade", ressalva a APNC, assegurando que a ideia é estar preparado para o pior, mes-mo que tal não venha a acontecer.

Mas mais que actuar no socorro é neces-sário prevenir, defende Mário Lopes. É preciso diminuir o grau catastrófico de um terramoto através de reabilitação urba-na. O especialista do Instituto Superior Técnico não tem dúvidas ao afirmar que "vivemos em cima de um barril de pólvo-ra, prestes a explodir". Só não sabemos quando. Para se ter uma noção da gran-deza de um episódio desta dimensão, Mário Lopes explica que o "prejuízo material de um sismo igual ao de 1755 seria suficien-te para fa7Pr duplicar a nossa dívida públi-

ca, em apenas dois minutos". O problema é a diversidade de construções no país, boa parte anterior a 1958, ano em que se regulamentou o sector da construção ten-do em conta a segurança sísmica. Se por um lado existem edifícios preparados para um terramoto, por outro também há mui-tas casas que são "verdadeiros baralhos de cartas". Pior que Portugal, na Europa, só mesmo a Turquia, onde um sismo de grande magnitude provocaria cerca de 100 mil mortes.

50 000 Se o terramoto de Lisboa fosse hoje, 50 mil pessoas ficariam fendas

27 000 Estima-se que um terramoto igual ao de 1755 provocaria entre 17 e 27 mil mortos

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"Como não há grande consciência dos riscos, os governos acabam por ser

negligentes, não-se preocupando com a construção e a reabilitação urbana"

"Somos um país de primeiro mundo na investigação e no

conhecimento técnico, mas depois, na aplicação desse conhecimento,

somos do terceiro ou quarto mundo"

"Um sismo da dimensão do de 1755 pode'duplicar a dívida pública em apenas

dois minutos" Mário Lopes

ENGENHEIRO SÍSMICO

Qual é o risco sísmico em Portugal? É maior ou menor em relação a outras regiões do globo?

Onde estão as falhas tectónicas em Portugal e quais as zonas mais vulneráveis?

As falhas que origina.m os principais sismos que podem causar danos em Portugal não são no país, mas sim no mar, principalmente a sudoeste do cabo de S. Vicente. O que não quer dizer que não haja falhas dentro do Continente com a capacidade de gerar sismos: no vale do Tejo existem e no Algarve também. Mas não são aquelas que geram os maiores sismos que nos afectam. As zonas mais vulneráveis serão então todo o Algarve, o litoral do Alentejo e o vale do Tejo, incluindo, obviamente, Lisboa.

Quais os riscos de umtsunami?

Os tsunamis mais importantes, com equivalência ao que ocorreu em 1755, têm

praticamente a mesma probabilidade de

ocorrência

que tem um sismo desses. A probabilidade é baixa, mas sabemos que os danos vão ser muito elevados. Da mesma forma que digo que a probabilidade é baixa, também digo que é relativamente seguro que um tsunami com as características do de 1755 vai voltar a acontecer.

Lisboa poderá ficar muito maltratada, mas não vai desaparecer. Vamos com calma... Os tsunamis não fazem as cidades desaparecer, arrasam construção de má qualidade, inundam as cidades e as pessoas morrem afogadas, mas Lisboa continuará. Não desapareceu em 1755 e era muito mais pequena. Mas por cada dia que passa e que não temos um sismo grande, é um dia que estamos mais próximos de vir a acontecer.

Quais os últimos grandes sismos em Portugal?

Um em Benavente, em 1909, onde se registaram dezenas de vítimas mortais. Depois houve outro em 1969, documentado pelos sismógrafos, que foi grande mas distante e, por isso, não provocou grandes danos. As pessoas sentiram-no e eu lembro-me do alvoroço que criou, mas os danos não , foram significativos. Estes foram os dois grandes sismos do século XX. Houve outros mais pequenos, não tão relevantes.

Que medidas tomar em caso de sismo?

A principal é tentar não morrer enquanto o sismo decorre, não fazer nenhum disparate. Isto significa proteger-se e não pensar em mais ninguém. E partir do princípio de que a nossa família, que é sempre em quem vamos pensar, tem

a mesma indicação e vai proteger a sua vida. A melhor maneira de o fazer é meter-se debaixo de uma mesa. Baixar--se, proteger a cabeça com as mãos e ficar assim enquanto durar o sismo. Quando terminar, deve sair de casa e procurar um sítio seguro.

Quantos sismos há, em média, por ano em Portugal?

Há muitos, milhares de sismos por dia à escala global. No site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera há uma boa indicação de todas as ocorrências em território nacional. No último mês estão registados 170 sismos. Mas é o normal, não é uma actividade muito significativa. Destes, três foram sentidos pela população. É normal que haja sismos, e bom que os haja. Significa que vai havendo uma libertação de energia. À medida que vão ocorrendo pequenos sismos, quer dizer que a energia vai sendo libertada e menos fica guardada para um sismo maior.

Devemos temer um sismo de grande magnitude para breve?

A questão não deve ser colocada desta forma. O importante é termos muito rigor na fiscalização da construção anti-sísmica que existe em Portugal e devemos todos preparar-nos para ter as atitudes correctas quando ocorrer um sismo. A probabilidade é, por definição, a quantificação da incerteza. Ninguém sabe quando vai acontecer o próximo sismo, temos é de estar preparados. É seguro que vão ocorrer sismos e, mais tarde ou mais cedo, deverá ocorrer um maior. Temos de nos preparar para que as perdas, tanto a nível de pessoas como em termos económicos, sejam reduzidas. Catarina Correia Rocha

"É relativamente seguro que um tsunami como o de 1755 vai voltar a acontecer"

José Luís Zêzere, vice-presidente do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, diz que Lisboa poderá ficar muito maltratada

O risco de sismo em Portugal é moderado, tendo em conta o resto do mundo. Há sítios onde é mais baixo, tal como no interior da Europa, em

íses como a França, a Alemanha ou a Polónia, por exemplo. Pelo contrário, a E Lisboa, vai Turquia é um país bem pior do desaparecer? que o nosso em termos de actividade sísmica. Mas este risco moderado traz uma má notícia: como o período de retorno é elevado, ou seja, como não há sismos grandes com muita frequência, as pessoas têm falta de memória acerca dessas ocorrências. O último sismo que matou pessoas foi em 1909 e não há ninguém vivo que se lembre. No Japão não há esse problema: todos têm consciência do que é sentir um sismo.

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Especialista avisa

"Um maremoto como o de 1755 vai voltar a acontecer" // PÁGS. 2625