Torre de Vilar: uma Residência Senhorial do Vale do Sousa

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141 OPPIDUM número 1 - 2006 1. A residência senhorial fortificada Será no fim do século XII e durante o século XIII que, um pouco por toda a Europa, as residên- cias senhoriais vão adoptando a forma de torres ou Torre de Vilar: uma Residência Senhorial do Vale do Sousa Ana Maria Oliveira ** Resumo A Torre de Vilar é um raro exemplo de residência senhorial que se ergue isolada num extenso vale agrícola. Situa-se no lugar da Torre, na freguesia de Vilar do Torno e Alentém, Concelho de Lousada. Esta domus fortis insere-se no modelo das primeiras torres senhoriais, muito presa à imagem das torres de menagem, podendo ter sido erguida nos finais do século XIII como uma ima- gem de nobreza e de glória que o poder real tentou apagar. Admitimos como Senhores desta Torre a família dos Riba de Vizela que, deixando a congestionada região do coração do Entre-Douro-e-Minho, foram alargando os seus domínios para lugares ainda disponíveis. As novas honras foram ocupando as zonas de vale, onde os solos são férteis e aptos para a agri- cultura. Aqui se implantaram torres que controlavam os novos domínios dos senhores, garantindo ao mesmo tempo a sua segurança e defesa. * O texto que agora se publica faz parte do trabalho de investigação desenvolvida no âmbito da cadeira seminário de projecto do 4.º ano da licenciatura em Arqueologia da FLUP, que foi publicado em livro: Duas Torres Senhorais do Vale do Sousa. Colecção subsídios para a história de Lordelo, 3. Biblioteca da Fundação A Lord. Lordelo 2006. ** Licenciada em Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. domus fortis. Este movimento detecta-se em Itália, na Flandres, na Holanda, na Bélgica, na Inglaterra e na Alemanha. A partir de então este fenómeno vai-se difundindo gradualmente, aparecendo nos documentos com designações como Domus Fortis, *

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OPPIDUM número 1 - 2006

1. A residência senhorial fortificada

Será no fim do século XII e durante o séculoXIII que, um pouco por toda a Europa, as residên-cias senhoriais vão adoptando a forma de torres ou

Torre de Vilar: uma Residência Senhorial do Vale do Sousa

Ana Maria Oliveira**

ResumoA Torre de Vilar é um raro exemplo de residência senhorial que se ergue

isolada num extenso vale agrícola. Situa-se no lugar da Torre, na freguesia deVilar do Torno e Alentém, Concelho de Lousada. Esta domus fortis insere-seno modelo das primeiras torres senhoriais, muito presa à imagem das torres demenagem, podendo ter sido erguida nos finais do século XIII como uma ima-gem de nobreza e de glória que o poder real tentou apagar.

Admitimos como Senhores desta Torre a família dos Riba de Vizela que,deixando a congestionada região do coração do Entre-Douro-e-Minho, foramalargando os seus domínios para lugares ainda disponíveis. As novas honrasforam ocupando as zonas de vale, onde os solos são férteis e aptos para a agri-cultura. Aqui se implantaram torres que controlavam os novos domínios dossenhores, garantindo ao mesmo tempo a sua segurança e defesa.

* O texto que agora se publica faz parte do trabalho de investigação desenvolvida no âmbito da cadeira seminário de projecto do4.º ano da licenciatura em Arqueologia da FLUP, que foi publicado em livro: Duas Torres Senhorais do Vale do Sousa. Colecçãosubsídios para a história de Lordelo, 3. Biblioteca da Fundação A Lord. Lordelo 2006.** Licenciada em Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

domus fortis. Este movimento detecta-se em Itália,na Flandres, na Holanda, na Bélgica, na Inglaterrae na Alemanha. A partir de então este fenómenovai-se difundindo gradualmente, aparecendo nosdocumentos com designações como Domus Fortis,

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Fortalicium, Repayrium, Turrem, Casa Torre ouCasa Forte, estas três últimas aparecem na nossadocumentação (Barroca, 1998).

Entre nós, os primeiros testemunhos de residên-cias senhoriais fortificadas remontam ao últimoquartel do século XII, sendo um dos exemplos maisantigos a torre que D. Lourenço Fernandes da Cu-nha estava a construir em Junho de 1171 em S.Miguel da Cunha, Braga (Barroca, 1989:9-10).

Durante os séculos XII-XIII e à medida que au-menta o número de nobres, as terras imunes tor-nam-se cada vez mais pretendidas e escassas, suge-rindo abusos e apropriações indevidas. Compreen-de-se assim a preocupação de D. Afonso III e D.Dinis em travar os nobres na aquisição de novashonras ou na construção de torres, pois, estas últi-mas, não só possibilitavam o alargamento das hon-ras como, pelas suas características defensivas, de-safiavam publicamente a autoridade régia.

Nesta luta contra o engrandecimento da nobre-za, destacam-se as medidas tomadas por D. Dinisque em documento datado de 6 de Dezembro de1283, revoga todas as doações e privilégios conce-didos, desde que começara a reinar em 1279.1 Comesta posição o monarca não só pretendia demons-trar a sua força e determinação, mas também avisaros meios laicos e eclesiásticos que os poderes e pri-vilégios que detinham não eram definitivos. Masesta lei enquadra-se num conjunto mais vasto deoutras medidas que visavam controlar a expansãosenhorial e aumentar o poder régio. Além das su-cessivas Inquirições Gerais (1284, 1288, 1307-11)ordenou inquirições ao património de certos nobres,como à herança do Conde Dom Gonçalo Garcia deSousa, em 1286 (Kruz, 1994:59-99). De forma ha-bilidosa, ataca o poder senhorial através de con-cordatas com o clero, mas não se coíbe de em 1291proibir as ordens religiosas de herdarem bens de raiz.

Depois, nos finais do século, vão desaparecen-do uma série de membros da alta nobreza e da no-breza de corte, chegando algumas famílias a extin-guir-se, como foi o caso dos Riba de Vizela. D. Di-nis demorou a nomear substitutos para cargos polí-

ticos e militares importantes, que foram ficandovagos com a morte ou exílio de alguns nobres, be-neficiando, sempre que possível, os seus filhos bas-tardos. Ao mesmo tempo, empreendeu umassinalável esforço para dotar a administração cen-tral de meios capazes de controlar a justiça e a fisca-lidade.

Da parte dos nobres, as usurpações aos direitosrégios, aos bens eclesiásticos e concelhios vão con-tinuar. Novas terras serão honradas, pois o grupodestes privilegiados continua a aumentar. A “cres-cente crise de rendimentos, provocada pela inada-ptação a uma economia cada vez mais monetari-zada” e o “cerco continuado dos ataques régios quelhes chegavam nas pessoas dos inquiridores e dosmeirinhos” (Pizarro, 1993:97), vão agravar a situa-ção, levando à revolta aberta contra o Rei e chegan-do à Guerra Civil de 1319-1324.

Para além de alargar os seus domínios através doamádigo, a nobreza tentava a sua sorte na ascensãosocial através do serviço ao monarca, esperando osseus favores, ou através de alianças matrimoniais.

As novas linhagens, ao contrário das antigas fa-mílias nobres, adoptam, muitas vezes, como ape-lido ou nome de família o topónimo da sua honraprincipal, onde construíram a sua casa de morada –é o caso de Cunha, Dornelas, Vasconcelos, entreoutros. Esta realidade demonstra bem o valor que ahonra tinha para estas famílias, possuidoras de pro-priedades concentradas que identificavam osnovos senhores.

As torres senhoriais têm uma implantação essen-cialmente rural, relativamente próximas de peque-nos núcleos de povoamento e de pequenos cursos deágua, escolhendo pequenas elevações que garantis-sem as condições mínimas de defesa. Ocupando zo-nas de vale, onde os solos são férteis e aptos para aagricultura, estas torres procuram controlar os do-mínios dos senhores, garantindo ao mesmo tempoa sua segurança e defesa. Contudo, e ao contráriodas torres de menagem dos castelos, a função pri-meira das domus fortis é a da habitação. Poderiamnão ser local de morada permanente, pois a família

1 Sobre este assunto ver: (Pizarro, 1993:90-101).

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podia nem sempre aí residir, mas permitiam ao no-bre controlar os seus direitos senhoriais, garantindoa posse da honra.

Mas a casa forte era, sobretudo, um símbolo.Através dela os seus possuidores pretendiam afir-mar o seu prestígio e o seu poder. A nova nobreza,em ascensão, tomou a torre como um símbolo dasua fidalguia e socorreu-se da sua construção parase apropriar, de forma nem sempre lícita, de direi-tos senhoriais, obrigando os monarcas a legislarpara travar a sua proliferação, receosos da sua cres-cente importância e influência.

Estas residências senhoriais adoptaram um tipode arquitectura que se pode padronizar, elegendo ele-mentos que são comuns em quase todas as estruturasconhecidas. Geralmente têm planta quadrangular,com um perfil turriforme, importado das torres demenagem românicas. As paredes são espessas e compoucas aberturas. Podem ter dois ou três pisossobradados, sendo o seu acesso interior feito por meiode escadas de madeira. O piso térreo é muitas vezesmaciço, não apresentando aberturas, podendo desti-nar-se a celeiro ou arrecadação. Os pisos superioreseram iluminados por estreitas frestas ou, em algunscasos, podiam ter janelas nobres, com uma decora-ção mais cuidada e com bancos afrontados. Sinal deinovação é a adopção de janelas simples, muitas ve-zes, protegidas por batentes de madeira.

Os pisos sobrepunham-se sem divisões internas,correspondendo, cada um, a uma única divisão.Dada a exiguidade dos compartimentos os espaçosdetinham uma certa polivalência, não obedecendoa uma utilização específica, muito comum na IdadeMédia. A privacidade era pouca, pois para aceder aum compartimento tinha-se que atravessar todos osoutros. Para diminuir os inconvenientes organiza-ram-se os espaços segundo uma ordem crescentede privacidade, ficando os espaços mais públicosem baixo e a câmara do senhor, que requeria maisprivacidade, no último andar.

Numa maioria dos casos o acesso à torre era fei-to pelo 1º andar, por meio de escada móvel que po-

deria ser retirada em caso de ameaça. Contudo, háexemplos em que o acesso é realizado a partir dorés-do-chão. Algumas torres apresentam balcõescom matacães e a maioria é coroada por ameias.

Se algumas residências senhoriais se resumiamà própria torre, outras poderiam possuir anexos quemuito raramente sobreviveram até aos nossos dias.Estes anexos poderiam ser construídos com mate-riais perecíveis, como a madeira, acabando por de-saparecer, ou foram sofrendo alterações, sobretudoem época manuelina, acabando por se adaptar àsnovas exigências de habitabilidade.

2. A Torre

A Torre de Vilar, ou Torre dos Mouros como épopularmente conhecida, fica situada no lugar daTorre, na actual freguesia de Vilar de Torno eAlentém, Concelho de Lousada, Distrito do Porto. Asua localização segundo a Carta Militar de Portugalé: Latitude 41º 17´ 22" N; Longitude 08º 12´ 22" W;Altitude 294m. (Fig. 1) O monumento está classificadocomo “imóvel de interesse público”, segundo o Dec.Lei nº 95/78, DR 210 de 12 de Setembro de 1978.

Apesar de ser património classificado, são rarosos estudos sobre esta Torre. Sobre ela escreveramalguns autores, deixando apontamentos soltos, porvezes contraditórios, que não permitem uma análi-se objectiva e metódica.2 Noutros trabalhos, a Tor-re de Vilar é apontada como exemplo ou paralelo aoutros estudos de residências senhoriais fortificadas,mas não é objecto de uma análise detalhada (Barro-ca, 1998). De facto, a própria DGEMN, aquando danossa visita em Fevereiro de 2003, não tinha dispo-nível um dossier sobre este monumento.

2.1. Implantação

Como acontece com a maioria das torres senho-riais conhecidas, a Torre de Vilar fica situada numvale fértil, erguendo-se sobre o afloramento gran-

2 Veja-se por exemplo o texto de João Belmiro Pinto da Silva (1996), Dez torres senhoriais no Baixo Douro, Marco de Canaveses;ou a publicação de Abílio Miranda (1943) - Terras de Lousada (a Torre dos Mouros). Separata do Jornal de Lousada, Lousada.

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ítico a uma altitude de quase 300m. (Fig. 3) À sua vol-ta distribuem-se terrenos de culturas que actualmen-te produzem milho e vinha. (Fig. 4)

A Torre de Vilar implanta-se “na transição doager para o saltus, optando por terrenos de arrotea-mento mais recente e fugindo, assim, às zonas maiscongestionadas do ponto de vista senhorial” (Bar-roca, 1998: 67). E se a paisagem é hoje diferente,pois as manchas de pinhal foram-se devastando e onúmero de habitações aumentou, podemos procu-rar na toponímia uma imagem do que era este valedurante a Idade Média.

São frequentes os lugares que adoptam nomescomo Sobreira, Carvalho, Tapada, Matouce,Soutelo, Pinheiro ou Nogueira identificando as es-pécies que abundavam na região formando man-chas de bosques ou salpicando os campos de cere-ais, hortas, cortinhas e pomares. Os topónimos re-lacionados com a exploração da terra, campos mui-tas vezes roubados ao bosque, são os mais abun-dantes, evidenciando uma região intensamenteagricultada e fértil. Assim podemos desenhar osespaços de cultivo através das Bouças, Lamosa,Lameirinha, Vagens, Regadas, Seara, Prado,Leirós, Vinha, etc. A produção ligada à agricultu-ra, o aproveitamento dos recursos naturais e apastorícia deveriam ser as actividades mais fre-quentes, justificando o domínio senho-rial que vi-via das rendas dos homens da terra. Também aquipodemos colher vestígios na toponímia: Moinhos,Barreiros, Eira, Eirado, Barroca, Lagarelha, Eido,entre outros.

As comunicações entre as comunidades fazia--se por uma rede de caminhos que eram calcorreadosa pé ou a cavalo, acompanhando os cursos de água.Ainda aqui, a existência de vários topónimos, teste-munha a importância destes caminhos que organi-zam o espaço e permitem a circulação interna depessoas e bens. Assim, registam-se topónimos comoCalçada, Portela, Carreira e várias pontes comoimportantes locais de passagem de homens e mer-cadorias.

2.2. Os Senhores

A freguesia de Vilar do Torno e Alentém é oresultado da união de duas antiquíssimas paróquiassituadas no extremo Leste do Concelho. Eram elasVilar e Alentém (na documentação vem escritocomo Arentei ou Arantey). Já estavam instituídasem meados do século XIII.

Segundo o Pe. Domingos Moreira, a paróquia deS. Mamede de Alentém encontra-se documentada em1220, mas já surge como simples topónimo (Arantehi)em 1163. Foi extinta com o Liberalismo e anexada àvizinha paróquia de Vilar do Torno em 1834.3 Quan-to a Vilar do Torno aparece documentada, segundo omesmo autor, nas Inquirições de 1258 como paró-quia de Santa Maria de Vilar, adquirindo, em 1320, adesignação de Santa Maria de Vilar de Torno. Em1577, é referida como freguesia de Vilar, pertencen-te ao Concelho de Santa Cruz.4

Segundo as Inquirições de 1258, pela “inquisitioEcclesie Sancte Marie de Vilar”, havia nesta fre-guesia dez casais, supondo-se uma população pe-quena. Todos os casais pertenciam a nobres, nãohavendo propriedade régia. Assim, um casal era dosfilhos de “Martini Subgerii d Agares” - MartimSoares de Agares – cinco de “Johannis Martini deCainde” – talvez João Martins de Ataíde – e os res-tantes quatro pertenciam a “Domni Egidii Martini”– D. Gil Martins de Riba de Vizela. Ainda segundoas mesmas Inquirições, a igreja desta paróquia se-ria de D. Gil Martins de Riba de Vizela e seus des-cendentes, “est ipsa Ecclesia, dixit quod est DomniEgidii Martini et ejus progeniei”. 5 (Anexo 1)

Será esta família, a dos Riba de Vizela, que nosinteressa analisar para o estudo da Torre de Vilar.De facto, ela é apontada por José Augusto Pizarrocomo uma das cinco linhagens mais prestigiadas doreino, com uma “história de sucesso” (Pizarro,1999). Esta importância não se deverá às origensda linhagem, mas antes ao processo de ascensão queteve o seu início em finais do século XII, acabandopor os conduzir ao topo nobiliárquico.

3 Cf. Domingos, 1974:41.4 Cf. Domingos, 1989/90:113.5 Portugaliae Monumenta Histórica. Inquisitiones. Vol. I. Lisboa. 1897, p. 611.

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Ainda no século XII, os Riba de Vizela, tinhamuma expressão social modesta. José Mattoso põe ahipótese de Martim Fernandes ser filho de umFernão Pires que aparece entre 1160 e 1178, a subs-crever documentos régios, e fazendo parte de umgrupo de cavaleiros de Coimbra, de segunda cate-goria, muito ligados à corte. Os linhagistas dizemser este cavaleiro de Guimarães, possuindo a suafortuna perto da fronteira (Mattoso, 1985:165).

Será então Martim Fernandes de Riba de Vizelaa encetar uma descendência de sucesso. Este rico--homem ganhou a confiança régia, acabando porobter muitos cargos e doações do monarca. Surgeem 1190 à frente da tenência de Lanhoso, foi go-vernador das Terras de Faria e Vermoim e entre1211 e 1212 foi mordomo-mor de D. Afonso II.Graças a doações e compras deteve terras emEsposende, Barcelos, Vila Nova de Famalicão,Guimarães, Fafe, Paredes, Santo Tirso, Paços deFerreira, Gondomar, Tarouca, Vila Nova de Paiva,Feira, etc. (Anexo 2)

João Fernandes de Riba de Vizela, irmão deMartim Fernandes de Riba de Vizela, foi rico-ho-mem na corte de D. Sancho I e morreu antes de1208. Tinha vastas propriedades quer a Norte, quera Sul do Douro. Foi casado duas vezes, sendo o se-gundo casamento com Maria Soares de Sousa. Foideste casamento que descendeu aquele que viria aser o herdeiro dos bens e tradições dos senhores daMaia. Com efeito, o seu filho primogénito, MartimAnes, teve um filho chamado Gil Martins, que é orico-homem referido nas Inquirições de 1258, comquatro casais na colação de Santa Maria de Vilar.Foi este Gil Martins de Riba de Vizela que casoucom uma das principais herdeiras dos Senhores daMaia, Maria Anes da Maia.

De facto, terá sido com Martim Fernandes e JoãoFernandes de Riba de Vizela que o património dafamília foi aumentado. Eles não adquiriram apenasnovas terras na região de Guimarães, local de ondeprocediam, mas foram-se expandindo para muitomais longe, ocupando, por vezes, zonas marginaise periféricas nas montanhas da Beira ou junto aomar. As suas posses cobriam quase todas as regiõesdo país, com excepção do Algarve. Contudo, o nú-cleo da família mantém-se no Entre-Douro-e--Minho, é lá onde está representado o seu poder sim-

bólico, onde procuram bons casamentos com asmelhores herdeiras das velhas linhagens. Fazemalianças e adquirem património das famílias daMaia, de Baião, de Lumiares, de Soverosa, Castros,Teles, das Astúrias, chegando à Família Real.

Acrescentando aos bens que recebeu de seu ca-samento com uma herdeira da família da Maia aherança de seu pai, Gil Martins de Riba de Vizelaviu o seu património alargar-se a todo o reino. Maso seu poder também aumentou à custa de usurpaçõese de doações de terras, pois também ele era um ho-mem com fortes ligações à corte: foi rico-homemde D. Afonso III, tenente de Penela e esteve à fren-te do governo de Sintra (Pizarro, 1999).

O filho de Gil Martins de Riba de Vizela, MartimGil de Riba de Vizela I, nascido em 1235, tambémvai ser rico-homem de D. Afonso III e de D. Dinis.Continuando muito ligado à corte, será destacadopara tenente da Beira, de Seia e de Sousa (1261-1264). Este nobre terá um filho homónimo, MartimGil de Riba de Vizela II (ou de Sousa), que surge aconfirmar documentos régios a partir de 13 de Agos-to de 1288. Será rico-homem de D. Dinis e obterá otítulo de Conde de Barcelos (1304-1312). O seuvasto património surge registado nas Inquirições de1307-1311, havendo a referência que possuía emLousada trinta casais (Pizarro, 1999).

Depois do exposto parece obvia a importânciaque os Riba de Vizela adquiriam a partir do séculoXII. Não só aumentaram extraordinariamente o seupatrimónio como foram entrando na corte, muitasvezes resultado de estratégias matrimoniais, ganhan-do a confiança dos monarcas, obtendo os seus fa-vores e benefícios. De família relativamente mo-desta, passaram a ser uma das famílias mais impor-tantes do reino, mantendo fortes ligações à sua re-gião de origem – o Entre-Douro-e-Minho.

Será nesta região, berço da mais antiga nobrezaportuguesa, que a nobreza se vai apertando em do-mínios mais ou menos extensos, tentando, sempreque possível, estender-se para domínios régios ouda igreja. Torna-se um imperativo a afirmação depoder, marcando domínios e posses.

Vários motivos nos levam a associar esta famí-lia à Torre de Vilar. Em primeiro lugar, registe-seque a afirmação de poder através da construção deuma torre teria que ser ignorada, tolerada ou permi-

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tida pelo rei. Ora, a família dos Riba de Vizela ti-nha não só posses significativas em Lousada, e con-cretamente na freguesia de Vilar, mas também erauma poderosa família da nobreza de corte, em situ-ação capaz de poder influenciar o monarca. Em se-gundo lugar, sublinhemos que aquando das Inquiri-ções de 1258, a igreja de Santa Maria de Vilar erapertença de Gil Martins de Riba de Vizela. Por fim,não podemos deixar de realçar que vários autoresreferem a existência, no cartório do Mosteiro deBustelo (Penafiel), de uma cópia duma carta deMartim Gil de Sousa, conde de Barcelos e alferesde El-Rei, onde assegura ao dito Mosteiro não exi-gir foro pelos serviços prestados de protecção, fa-zendo-o na qualidade de vizinhos e amigos e nãocomo herdeiro natural de Bustelo. Esta carta, data-da de 24 de Fevereiro de 1306, teria sido assinadanesta Torre. Todos estes elementos, como referi-mos, parecem justificar a associação da Torre deVilar a esta família. 6

É um facto que não tivemos acesso a nenhumdocumento ou referência que atribuísse a constru-ção da Torre de Vilar aos Riba de Vizela. Contudo,parece provável que assim fosse, dadas as poses e aimportância desta família, que claramente domina-va uma parte das honras do actual Concelho deLousada. A marcação e protecção das suas terras,salvaguardando-as tanto dos interesses da igrejacomo das ambições de outros nobres, parecem ne-cessárias num território congestionado e muito re-partido entre as famílias em crescimento. Nadamelhor que uma torre senhorial fortificada, cons-trução pétrea e duradoura, para impor um domínio,marcar um território, representar um património quepor ser vasto e disperso, pode ser usurpado.

2.3. A arquitectura

Da posse dos Riba de Vizela, a Torre terá pas-sado para a coroa, talvez por falta de descendentes.Abílio Miranda diz que aqui terá funcionado uma

sirgaria. Ainda segundo o mesmo autor, da coroa, aTorre terá sido oferecida em dote de casamento,passando para a Casa de Bragança, acabando porentrar em ruínas no século XV. A Grande Enciclo-pédia Portuguesa e Brasileira transcreve, por seuturno, a descrição que o Abade de Miragaia faz daTorre em 1886, dizendo que pertenceu à quinta daFonte de Baixo, que foi propriedade dada em dote aD. Maria de Jesus de Castro Caldas Pereira, emOutubro de 1851.7 Em 1881, o visconde de Alentémterá comprado a Torre com o terreno adjacente,mandando-a restaurar. Hoje, a Torre e as terras queela ocupa encontram-se arrendados ao Prof. Dou-tor Rui Feijó, onde faz plantação de vinha.

Erguendo-se isolada num afloramento granítico,que coroa o outeiro da Torre dos Mouros, a Torrede Vilar sobressai pela sua altura significativa, pou-co normal para este tipo de estrutura, tem cerca de14 metros de altura, faltando silhares no topo. Nãonos parece que a Torre tenha atingido os 18 metrosque a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasilei-ra refere, nem os 17 metros que João Belmiro Pintoda Silva aponta (Silva, 1996:30). (Fig. 5)

A Torre de Vilar tem uma planta rectangular de6,90x9,30m (Fig. 2) assentando directamente noafloramento que, observado pelo lado interno, apre-senta uma cota irregular. Dos lados Nordeste e No-roeste, o afloramento eleva-se ultrapassando a cotada soleira da porta, descendo abruptamente para sul.O desnível, que hoje se observa, não existiria nopassado, sendo o rés-do-chão nivelado pela soleirada porta, deixando à vista apenas parte do aflo-ramento do lado Norte. As paredes com cerca de1,25m de espessura são erguidas em aparelhopseudo-isódomo sem argamassa, com silhares degranito trabalhados a pico fino, apresentando fia-das de grande regularidade e qualidade.

A entrada é feita pelo rés-do-chão, na fachadavoltada a Nordeste, por porta rectangular com 1,60mde largo, encimada por um arco de volta perfeita desete aduelas apresentando um tímpano liso. (Fig. 6) Na

6 A referência a este documento, que estava no cartório do Mosteiro de Bustelo, e ao qual não tivemos acesso, é registada porAbílio Miranda num artigo sobre a Torre dos Mouros, publicado no Jornal de Lousada, em 1943. Também o livro Lousada –Terra Prendada (ver bibliografia) faz referência a este documento, possivelmente baseado no primeiro autor.7 Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, s.v. Vilar do Torno e Alentem. Vol. XV. Lisboa/Rio de Janeiro, p.839.

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secção dos muros é visível um único sistema de tran-ca (Fig. 7 e 8), sendo a porta de dois volantes com ba-tente central. No alto do vão sobrevivem os doisencaixes para rodar o eixo das bandeiras da porta.(Fig. 9)

A porta desta Torre não se enquadra no modelode torres senhoriais fortificadas, que por norma ti-nham a porta ao nível do primeiro andar e, geral-mente, com duplo sistema de tranca, garantindo umadefesa mais eficaz do edifício. Parece-nos que emVilar do Torno se optou por uma entrada mais có-moda e fácil colocando a porta no rés-do-chão. Estaescolha e a existência de apenas um sistema de tran-ca afasta as questões de defesa para um plano se-cundário. Por outro lado, existiu uma certa preocu-pação estética quanto à entrada, colocando um tím-pano liso por baixo do arco de volta perfeita. Em-bora pareça ser uma solução arcaizante, não deixade ser original, pela forma muito pouco comum dasduas primeiras aduelas do arco serem talhadas naprópria pedra do tímpano, caso que parece ser úni-co entre nós e que revela uma grande qualidade dopedreiro, conferindo à simplicidade do edifício umanota de graça, realçando a sua função de habitação.

Como já foi referido anteriormente neste traba-lho, o rés-do-chão seria reservado para o arma-zenamento de bens e produtos agrícolas. Contudo,a abertura no rés-do-chão pode ter convertido esteespaço, dando-lhe uma outra função que não a dearmazém. O pé direito deste andar é de 3,35m, umpouco mais alto do que os restantes andares.

Para além do rés-do-chão, a Torre de Vilar pos-suía mais três pisos, marcados pelos cachorros quesustentavam os sobrados de cada andar. (Fig. 10) Des-de já referimos que a leitura dos andares levantaalgumas dúvidas, pois a sua altura é bastante irre-gular, não correspondendo aos modelos de casasfortes conhecidas. No entanto, a estrutura actual daTorre não permite detectar os cinco pisos que mui-tos autores referem, parecendo-nos pouco provável

que algum dia tenha tido tantos andares.8 Nas Me-mórias Paroquiais de 1758, faz-se a descrição daTorre sita na freguesia de Santa Maria de Vilar doTorno, referindo-se apenas os três pisos: “(…) des-cansos dos bigamentos que pella parte de den-tro tem e se devizam no projecto de algumaspedras indicam ter sido habitaçam de duas ordensde subrados, além de hum interssto por sima dalogia(…)”.9 (Anexo 3)

Consideramos assim, o “interssto por sima dalogia” como o primeiro andar marcado pela primeiralinha de cachorros. Tem apenas 1,47m de altura nãopossuindo qualquer abertura. Desconhecemos a fun-ção de tal compartimento, pois não encontramosparalelos em outras torres já estudadas. Parecendo-nos, contudo, que não seria ocupado por nenhumadivisão de habitação, dada a sua altura reduzida.Poderia funcionar como um espaço de arma-zenamento corroborando a ideia de que o rés-do--chão se destinava a outras funções.

Os restantes andares eram destinados à habita-ção dos senhores. É no 2º andar, com cerca de 2,80mde altura, que existe o maior número de aberturas,todas elas frestas, com excepção de uma porta nafachada voltada a Noroeste. (Fig. 2) As frestas rasgam--se em todas as paredes da Torre, uma em cada facee duas na fachada posterior. (Fig. 14) Neste piso, e dolado interior, as frestas são abocinadas, mantendoas faces superior e inferior paralelas. (Fig. 11)

Como já foi dito, e ainda no 2º piso, rasga-seuma porta na fachada Noroeste onde são visíveis, eapesar da sua altura, os encaixes para os eixos late-rais da porta, um de cada lado, e os orifícios paraum sistema de tranca. (Fig. 12) Esta abertura, de arcorecto, encosta-se à parede posterior levantando al-guns problemas de interpretação. Na bibliografia,apenas Abílio Miranda e João Belmiro Pinto da Silvareferem esta porta, embora com opiniões diferen-tes. O primeiro autor interpreta a porta como sendoo acesso a uns paços que teriam existido encosta-

8 A afirmação de que a Torre de Vilar tem cinco pisos pode ser lida em algumas publicações (na Grande Enciclopédia Portuguesae Brasileira. Vol. XXXV, p.838; no Portugal Antigo e Moderno. Vol. XI, p.1284, em João Belmiro Pinto da Silva. Dez TorresSenhoriais no Baixo Douro e na ficha de inventário do património arquitectónico da DGEMN).9 Texto cedido pela Câmara Municipal de Lousada, ainda não publicado e transcrito pela Dra. Sandra Pinto da referida CâmaraMunicipal.

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dos à torre. O segundo refuta esta opinião, não men-cionando a função da porta, mas considerando-a deépoca contemporânea, lembrando o restauro que estaTorre sofreu no século XIX.

A nós também não nos parece que a porta tenhapermitido o acesso a uns paços (sobre isso falare-mos mais adiante) e inclinamo-nos para a hipóteseda porta ser realmente fruto do restauro que a Torresofreu no século XIX. De facto, a “esquadria”, comorefere João Belmiro Pinto da Silva, o arco recto e aposição da porta parecem não se enquadrar com aleitura arquitectónica da Torre, sugerindo uma in-trodução posterior. 10 Contudo, não encontramosuma função específica para esta abertura. Tanto naface interna, como na face externa da parede, nãose encontram negativos que possam associar estaporta a um balcão, a uma latrina ou até mesmo auns paços. (Fig. 13)

O último piso, o mais afastado da entrada e commais privacidade, correspondendo assim à câmarado senhor, tem um pé-direito com cerca de 3,85mde altura, excessivamente elevado para o normaldestas construções. Para além da altura “anormal”do piso, as frestas, que no interior apresentam umaabertura em arco de volta perfeita com seis aduelas,são coladas ao nível do travejamento, pois ficamapenas um silhar (cerca de 0,35cm) acima dos ca-chorros que sustentam o sobrado. (Fig. 11) Acrescen-te-se ainda que são mais altas e ligeiramente maislargas do que as frestas do 2º piso, tendo a mesmaforma abocinada, menos na face inferior que é di-reita. Do lado exterior, as frestas colocam-se no ali-nhamento das do piso de baixo, apresentando amesma altura e largura (Fig. 14), com excepção da quefica voltada para a fachada principal, ostentando umarco recto, que se alinha sobre a porta de entrada etem uma abertura maior que todas as outras. (Fig. 15)

Acima deste último piso surgem as pedras sa-lientes que sustentariam as asnas do telhado. Estaspedras, de dimensão muito menor do que as quesustentavam os sobrados dos pisos, não parecemadequadas e suficientemente resistentes para aguen-

tar “um eirado com varanda de pedra e esplêndi-das vistas”.11 Das esplêndidas vistas não duvidamos,e pelo que resta dos muros acima das pedras de sus-tentação do telhado, poderá ter tido uma varanda depedra, talvez obra da reconstrução do século XIX.Contudo, alguns autores não deixam de lado a hi-pótese de a Torre ter sido, originalmente, coroadapor ameias. Aliás, pode-se ler nas MemóriasParoquias de 1758 a seguinte informação: “(…)namtem ameias mas indicio de em outros tempos tersido com ellas ornada(…)”. No entanto, quem es-creveu sobre a Torre não encontrou registos mate-riais de ameias, baseando as suas informações noexemplo de outras torres senhoriais que, geralmen-te, apresentam coroamento de ameias.

As pedras salientes, onde se apoiavam os sobra-dos de madeira, estão distribuídas pelo interior daparede da fachada principal e parede oposta, emnúmero de quatro por cada piso e em cada parede.Na parede da frente falta uma pedra no segundoandar, parecendo ter sido picada. Na parede poste-rior (do lado esquerdo) faltam duas pequenas pe-dras de sustentação do telhado havendo sinais deburacos.

O acesso aos diferentes pisos fazia-se por inter-médio de escadas de madeira, como era normal nestetipo de residência, que subiam num único lanço.Aparentemente, na parede da entrada e no 2º piso,existem algumas pedras salientes que poderiam aju-dar a fixar uma escada, o que justificaria o facto dajanela estar descentrada. (Fig. 10) Contudo, as escadaspoderiam não ser fixas nas paredes, como nos mos-tra o exemplo actual da Torre de Lourosa do Cam-po (freguesia de Burgos, concelho de Arouca), emque o acesso ao último piso se faz por uma pequenaescada de dois lanços opostos.

Parece que foi dito o essencial sobre a estruturafísica que nos resta da Torre de Vilar. Contudo, esegundo alguns autores, a este estandarte do podersenhorial, estariam adossados uns paços que o tem-po tratou de apagar. Primeiro são as MemóriasParoquias de 1758 que nos dão notícia de que “(…)

10 Embora o arco recto seja mais comum em períodos cronológicos mais tardios, não será de excluir a hipótese de exemplos emépocas medievais, como parece acontecer no castelo de Arnóia (Celorico de Basto) onde existe uma porta com arco recto.11 Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, s.v. Vilar do Torno e Alentem. Vol. XXXV. Lisboa/Rio de Janeiro, p.838.

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pella fase exterior de noroeste se devizam lugaresde vigiamento de alguma caza encostada(…)”.Depois é a vez de Abílio Miranda que, escrevendopor volta de 1935, nos informa: “A verdade, porém,é que, se o rolar dos séculos alterou o terreno e fezruir o solar que lhe ficava colado, não fez desapa-recer os inconfundíveis vestígios da ligação dumacasa.” (Miranda, 1943: 2) E mais à frente o mesmoautor acrescenta: “Os paços que a torre de Apa-recida defendia, eram espaçosos e altos, pois se dolado poente da referida torre se vêem as recravasdo travejamento da construção que lhe ficava cola-da, do lado do nascente, vê-se bastante alta a portaque serviu de comunicação para os mesmos paços.”

Quem observar a implantação da Torre de Vilar,não pode corroborar facilmente estas afirmações, mes-mo admitindo, como sugere o autor, que se tenha pro-cedido a desaterros junto da Torre. Os desníveis a todaa volta do edifício são demasiado significativos paraque tenham existido anexos a ela adossados. Depois,do lado Noroeste não observamos negativos de tra-vejamentos ou telhados que tivessem feito parte dequalquer estrutura adossada. (Fig. 13) Mesmo admitindoque os ditos paços não encostavam à Torre, a irregu-laridade do terreno torna esta hipótese pouco sus-tentável. Depois, a existir um outro edifício, e sen-do a porta da parede Noroeste de acesso a ele, a suaaltura tinha que ser significativa, podendo atingir acota do telhado cerca de 7,00m, e teria que encostarà parede da Torre, deixando marcas.

Não podemos, no entanto, afirmar peremptoria-mente que não existiram paços adossados à Torre deVilar. As Memórias Paroquiais dão notícias deles.Podemos admitir que ao longo dos séculos tenha ha-vido desaterros à volta da Torre. Podemos aindaadmitir que os paços não encostavam à Torre. Pode-ríamos, por último, admitir que a porta do 2º andarseria de acesso aos paços, feito por meio de um pas-sadiço, como na Torre dos Metelos, em Freixeda doTorrão (freguesia do concelho de Figueira de Caste-lo Rodrigo). Contudo, são apenas suposições que umaobservação mais atenta, facilitada pela limpeza doterreno, pode ou não confirmar.

Resta-nos abordar a proposta cronológica para

a Torre de Vilar que, há falta de documentação queajude a esclarecer a origem deste edifício, terá queser sustentada, essencialmente, pelas suas caracte-rísticas arquitectónicas, tomando como paralelosconstruções análogas. Convém ainda salientar que,segundo fontes atrás citadas, a Torre terá sido alvode restauro no século XIX, a mando do visconde deAlentém, que a “transformou em um minaretelindíssimo, sem lhe alterar as feições”.12 Não sabe-mos o que foi restaurado na Torre de Vilar. Contu-do, parece que foram mantidas as característicasessenciais da arquitectura do edifício, como a plan-ta e a tipologia das janelas. Talvez as obras se te-nham resumido aos pisos interiores, à altura e co-bertura da Torre e à já referida porta do 2º piso.

Sendo assim, e admitindo que tenha sido erguidapela família dos Riba de Vizela, a construção daTorre de Vilar terá sido após as Inquirições de 1258,altura em que Gil Martins de Riba de Vizela possuiquatro casais em Santa Maria de Vilar e é padroeiroda igreja paroquial. De resto, é importante subli-nhar que, nas Inquirições régias, não se faz nenhu-ma referência a qualquer Torre ou Paço nestacolação. Por outro lado, se admitirmos a existênciade uma carta de Martim Gil de Riba de Vizela II(ou de Sousa), datada de 24 de Fevereiro de 1306,onde o Conde de Barcelos promete defesa ao Mos-teiro de Bustelo, e que é escrita na Torre (segundonos informa Abílio Miranda) podemos dizer que aTorre de Vilar poderá ter sido erguida em finais doséculo XIII, estando operacional nos primeiros anosda centúria de Trezentos. A sua construção pode-ria, assim, ser balizada entre 1258 e 1306. No en-tanto, não podemos determinar com maior precisãoa data da sua construção.

Se a data da sua construção não pode ser deter-minada com alguma segurança, podemos estabele-cer paralelos, atendendo às suas características ar-quitectónicas, com outras domus fortis. Assim, aqualidade e regularidade do seu aparelho, onde sepode ver algumas siglas alfabéticas, ou não,(Anexo 4)

faz-nos lembrar a Torre de Dornelas, em Amares(Braga), que terá sido construída em meados da se-gunda metade do século XIII. As paredes com pou-

12 Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, s.v. Vilar do Torno e Alentém, vol. XXXV, Lisboa / Rio de Janeiro, p. 838.

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cas aberturas, apenas rasgadas por estreitas frestastambém nos remetem para a Torre de Amares oupara a Torre de Refóios, em Ponte de Lima.

Contudo, e ao contrário destes exemplos e demuitos outros, a Torre de Vilar apresenta a portaprincipal no rés-do-chão, afastando-se da lógicadefensiva das domus fortis. Sabemos que qualquerabertura, sobretudo ao nível do solo, é um pontofrágil em caso de perigo. Contudo, os Senhores deVilar poderiam ter privilegiado o conforto às fun-ções militares. Mas, se assim é, como explicar oaparato militar do resto do conjunto? Todo o edi-fício demonstra soluções muito simples - não tembalcões, as frestas do último piso são melhoradasmas não deixam de ser estreitas, dificultando a ilu-minação dos espaços, não existem lareiras ou ou-tros elementos que possam demonstrar conforto.A Torre impõe-se mais pela sua altura, uma massagranítica que infunde respeito e não cobiça.

Ao contrário da Torre de Penegate, em Vila Ver-de, Braga, que foi erguida a partir de 1322 com auto-rização de D. Dinis para defesa de Mem Rodriguesde Vasconcelos, a Torre de Vilar não obedeceria anecessidades reais de defesa, realçando-se então oseu poder simbólico. Implantando-se numa zona devale, as suas funções seriam mais de marcar fisica-mente os seus possuidores, garantindo a posse dahonra e a sua imunidade.

Por outro lado, se a função primeira da Torre é ahabitação, não se pode entendê-la de forma definitiva.Uma Torre poderia não servir para morada permanente,dadas as suas limitações de espaço. No caso de Vilar,e atendendo ao tipo de funções que os Senhores deRiba de Vizela desempenhavam na corte, seria natu-ral que a sua estadia se repartisse por paços que, semdúvida, ofereciam outras condições de conforto.

Assim, a Torre de Vilar parece enquadrar-sebem nas palavras muito citadas de Georges Duby:“A torre só acessoriamente servia de morada. Vi-ril, erguida como um estandarte, era acima de tudosignificação dum poder” (Duby, 1979:257). Bus-cando soluções com significação simbólicas anti-gas e militares, a Torre de Vilar, ergue-se nos finaisdo século XIII como uma imagem de nobreza e deglória que o poder real vai tentando apagar.

Hoje a Torre de Vilar continua a causar admira-ção pela sua grandeza.

3. Conclusão

A Torre de Vilar está implantada no extenso Valedo rio Sousa. É um exemplo da ocupação senhorialmedieval que, deixando a congestionada região docoração do Entre-Douro-e-Minho, foi alargando osseus domínios para lugares ainda disponíveis. Aqui,as famílias em ascensão criaram novas honras, apro-veitando os novos arroteamentos de terrenos que,ao longo do séc. XIII foram conquistando espaço àfloresta, transformando-o em território agricultável.A par do poder senhorial foram florescendo as ins-tituições monásticas que concorriam com os senho-res pela posse da terra. Depressa o Vale do Sousase tornou numa manta de retalhos, onde se im-punha os limites de cada domínio, e nada melhorque uma estrutura pétrea, com características mili-tares, para marcar uma honra.

A construção de uma torre não só legitimava aisenção de uma terra, como materializava os pode-res senhoriais, que não estavam só ligados à explo-ração rural, mas também ao exercício de poderesfiscais e judiciais. Entende-se, assim, que a cons-trução de tais edifícios necessitasse da concordân-cia do monarca, pois significavam uma clara con-corrência ao poder real. Também se compreendeque alguns monarcas tenham ordenado a destrui-ção de torres, atingindo o poder senhorial, deixan-do os senhores sem defesa e humilhados na sua au-toridade.

Se a Torre de Vilar perdurou até aos nossos diasé porque foi tolerada ou autorizada pelos monarcas.De facto, com o correr dos séculos, e com a centra-lização do poder real, que atingiu o seu auge comD. Manuel, as torres foram deixando de ser umaameaça, tornando-se símbolos de uma nobreza ru-ral cada vez mais ofuscada pelo rei e pela sua no-breza de corte.

Mas voltemos novamente ao Vale do Sousa e àTorre de Vilar. A admitir como seus senhores a fa-mília dos Riba de Vizela, podemos concluir queestes não adoptaram o nome de uma honra, mas deum território mais vasto, fugindo assim aos padrõesdos possuidores de Torres e de pequenas honras.Tinham um património disperso, espalhado por lar-gas zonas de influência, onde foram construindopaços ou torres para marcar os seus domínios. Tam-

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bém possuíam de alguma influência na corte, ocu-pando destacados cargos, justificando, talvez, a per-manência da Torre como sinal de gratidão por ser-viços prestados ao monarca.

Ao lermos os linhagistas parece evidente que osRiba de Vizela eram uma família importante. Estefacto transparece na construção da Torre. A Torrede Vilar demarca-se pelo seu poder simbólico emilitar, apresentando uma construção pensada ecara. As paredes quase cegas reforçam o seu carác-ter defensivo, funcionando como elemento dissuasorde possíveis ataques ao mesmo tempo que mostramtoda a simbologia nobre e senhorial. Por outro lado,a qualidade do seu aparelho e as diferentes siglas,mostram que poderá ter havido vários pedreiros atrabalhar no edifício, obedecendo a um projecto pre-viamente estabelecido. Ora este privilégio não es-taria ao alcance de qualquer nobre.

Devemos notar ainda que esta residência senho-rial se insere no modelo das primeiras torres senho-riais, muito presas à imagem das torres de menagem,deixando em segundo plano o papel mais residen-cial.

A proliferação progressiva das torres acompanhouo desenvolvimento das novas linhagens que, durantea segunda metade do século XIV, viram as suas ca-sas multiplicadas por intervenção do rei D. Pedro,tentando renovar a nobreza ao mesmo tempo que atornava mais dependente da coroa. “Esta preocupa-ção atingirá o seu clímax no início do século XVI,quando D. Manuel procede a nova inventariação efixação dos brasões da nobreza e das respectivas li-nhagens, num conjunto de livros iluminados queconstituem magnífico armorial da nobreza do reino.A página mais resplandecente, porém, é constituídapelo tecto da Sala dos Brasões do Paço de Sintra,

que, se constitui em quase templo da fidalguia dePortugal (…)” (Silva, 1999: 108).

Quanto à evolução arquitectónica das torres se-nhoriais, elas foram conservadas e integradas emnovos paços, por vezes sem outra função que a deserem um símbolo. Outras foram construídas de raizna Época Moderna à maneira antiga para novos so-lares. Um dos melhores exemplos da sobrevivênciadeste modelo medieval em tempos mais tardios é aconstrução da Torre das Águias, em Mora, erguidana segunda ou terceira década do século XVI. Mar-cando o poder de uma nova linhagem, os Manuéis,e beneficiando da protecção de D. Manuel e de D.João III, foi erguida uma torre com um tamanhofora do comum. Com uma planta de 17,69x17,55me uma altura de 22m, esta torre tem tectos abo-badados e espaços divididos nos pisos superiores.Mantém o coroamento de ameias associadas a pe-quenas torres cónicas feitas em tijolo. No terraçoladrilhado, rompem as chaminés das lareiras queaqueciam as salas. A Torre das Águias marca o úl-timo estádio de evolução das torres senhoriais. Semabandonar o seu perfil turriforme e militar, estaTorre adapta-se às novas exigências de habitar, ondeo conforto ganha novos requintes e a decoração émais refinada.

As habitações espelham os homens que as cria-ram e as habitaram, a evolução dos tempos e dosgostos, em suma a evolução da sociedade. O estudodas formas de habitar não se esgota com o que seconhece, mesmo no que se refere às domus fortis.Muitas outras torres existiram e desapareceram;muitas outras permanecem por estudar. Aos pou-cos a investigação vai desenhando o quadro da ocu-pação senhorial e das suas residências, acrescen-tando novos dados.

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Hic incipit inquisitio Ecclesie Sancte Marie deVilar.

Egeas Martini, juratus et interrogatus cujas estipsa Ecclesia, dixit quod est Domni Egidii Martini etejus progeniei. Interrogatus si habet ibi Dominus Rexaliquod jus vel debet habere, vel si faciunt indealiquod servicium Domino Regi, dixit quod non.Interrogatus quot casalia habentur in ipsa collatione,dixit quod X.cem, et sunt inde v.e Johannis Martini

Anexo 1

Portvgaliae Monvmenta Histórica - Inquirições de 1258, D. Afonso III, pág. 611

de Cainde et ejus fratrum; et iiij.or sunt Domni EgidiiMartini; et unum est filiorum Martini Subgerii dAgares. Interrogatus si habetur ibi aliquod Regalen-gum, dixit quod non. Interrogatus si moratur ibialiquis homo forarius, dixit quod non. Interrogatusquomodo scit omnia que perhibuit, dixit quod vidit etpassus fuit. Martinus Menendi, Gunsalvus Martini,D. Martini, Martinus Johannis, Johannes Gunsalvi,Petrus Dominici.

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25 Tem somente esta freguezia na parte supe-rior a antiquíssima torre chamada de Villar muiforte que segundo a tradição vulgar hé do tempodos godos, está siyuada em sima de hum duríssimorochedo que só de algumas partes dos alicerces sevê sobresahir a terra de huma piquena colinasobrequejas, terá de alto a dicta torre sessenta esinco athé oitenta palmos, e de diâmetro tomadopelas faces de fora, tem corenta e dous palmoscorrendo do sueste para noroeste, e de outra partecorrendo do nordeste para sudueste tem de diâme-tro segundo as faces exteriores trinta e hum pal-mos, as suas paredes têm de corpo seis palmos, esam tanto por dentro como por fora de pedra viva,duríssima de cantaria de fiadas quazi de igualporporsam e suficientemente polidas, mas as jun-turas cãs pedras comidas do tempo mostram mai-or abertura do que nos seus princípios poderia ter,indicio da sua nímia antiguidade, nam tem ameiasmas indicio de em outros tempos ter sido com ellasornada, tem huma única porta no solo ou lógia quetem de largo seis palmos, e de alto dês athé àpadieira que defende do pezo hum escarsam de arcode meio ponto, tem na fase que fica para o sudoes-te duas genellas, e outras duas na fase que fica para

Anexo 3

Memórias Paroquiais de 1758 – As freguesias de LousadaFreguezia de Santa Maria de Villar do Torno

o noroeste, e na face que fica para o nordeste temtres genellas, e coatro na que fica para sueste po-rém todas estas genellas pella face exterior da tor-re só se devizam abertas em frestas de hum palmode largo, excepto huma que fica à parte esquerdada fase do sueste, e outra que fica no meio da facedo sudueste que estas se devizam por fora com amesma grandeza de huma que por dentro tem oscineis das dictas genellas e descansos dos Biga-mentos que pella parte de dentro tem e se devizamno projecto de algumas pedras indicam ter sidohabitaçam de duas ordens de subrados, além dehum interssto por sima da lógia, e pella fase exte-rior de noroeste se devizam lugares de vigiamentode alguma caza encostada, nam se acha nella ma-terial algum de madeira, nem mostra ser acontadae margamalo e com segurança primordial sem serahinda levíssimo indicio de ruína, nem tendenciaa ella ahinda depois do memorial terramoto de milsetecentos e sincoenta e sinco anos, o estado dasua croa mostra nam se ter extrehido do corpo dellapedra alguma.

Texto transcrito pela Dra. Sandra Pinto da CâmaraMunicipal de Lousada e ainda não publicado.

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Anexo 4

Quadro das siglas encontradas na Torre de Vilar(Freguesia de Vilar do Torno e Alentém, Concelho de Lousada)

O registo das siglas foi feito visualmente, sem recorrer aos processos próprios de levantamento.

Localização por piso

Siglas 1º Piso 2º Piso 3º Piso

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Figura 2. Plantas da Torre de Vilar (Freguesia de Vilar do Torno e Alentém, Lousada)

Planta do Rés-do-Chão Planta do 1.º Andar

Planta do 2.º Andar Planta do 3.º Andar

Figura 1. Extracto da Carta Militar de Portugal (CMP) - Folha 112. Serviços Cartográficos do Exército - Escala 1: 25 000.Série M888. 1990.

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Figura 3. Vista Norte da Torre.

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Figura 4. Implantaçãorural da Torre de Vilar.

Figura 5. Vista da fachada posterior.

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Figura 6. Porta da fachada principal,voltada a Nordeste.

Figura 7 e 8. Porta do lado interior, com os negativos dos batentes.

Figura 9. Negativos dos batentese dos gonzos da porta.

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Figura 10. Cachorrosde sustentação dos pisos.

Figura 11. Vista interiordas frestas do 2º andar e3º andares

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Figura 12. Porta do 2º andar.

Figura 13. Fachada Noroeste,com porta no 2º andar.

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Figura 14. Vista exteriordas aberturas da fachada posterior.

Figura 15. Vista exterior das aberturasda fachada principal.