TP4- Estudo Da Lipoperoxidação de Óleos Alimentares (3)
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Mestrado em Tecnologia e Segurança Alimentar
Química e Bioquímica dos Alimentos
Trabalho Prático 4 – Estudo da lipoperoxidação de Óleos
Alimentares
Grupo 5: Ana Júlia Benites Nº 45958 Maria Luísa França Nº 45996 Marlene Fernandes Nº 45946
1. Identificação dos óleos estudados
Nesta actividade experimental analisaram-se os seguintes óleos:
Óleo de soja;
Óleo de milho;
Óleo de amendoim;
Óleo de girassol;
Azeite.
Todos os ensaios foram efectuados em duplicado para os óleos em estudo
antes e após aquecimento (fritura).
2. Resultados
Figura 1: Tubos de ensaio (correspondentes aos dois ensaios efectuados) contendo solução de óleo de
amendoim e azeite à temperatura ambiente.
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Figura 2: Tubos de ensaio (correspondentes aos dois ensaios efectuados) contendo solução de óleo de
girassol, milho e soja à temperatura ambiente.
Figura 3: Tubos de ensaio contendo as soluções de cada óleo, dispostos por ordem crescente de cor,
após um banho a 90°C durante 20 minutos.
Para os óleos em estudo antes e após aquecimento (incluindo os dois ensaios
efectuados) indicámos a intensidade da cor obtida nos diversos tubos tendo como
base uma escala de 0 a 10 (correspondendo o 0 e o 10 a uma baixa e uma elevada
intensidade de cor, respectivamente). Os resultados apresentam-se na tabela 1.
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Tabela 1: Escala correspondente às intensidades de cor obtidas nos diversos tubos de ensaio contendo
diferentes soluções de óleos, após um banho a 90°C durante 20 minutos.
Óleo Antes da fritura Depois da fritura
Ensaio 1 Ensaio 2 Ensaio 1 Ensaio 2
Azeite 2 3 7 7
Óleo de milho 3 4 8 8
Óleo de amendoim 4 5 7 7
Óleo de girassol 6 6 10 10
Óleo de soja 6 6 8 8
3. Discussão dos Resultados
Os óleos são substâncias insolúveis em água, de origem vegetal ou animal, que
se encontram na forma líquida à temperatura ambiente (Felisberto et al., 2011). Os
óleos vegetais são constituídos por uma mistura de ésteres derivados do glicerol, com
cadeias de oito a vinte e quatro átomos de carbono com diferentes graus de
insaturação, sendo a composição química dos óleos distinta conforme a espécie de
oleaginosa (Reda, 2007).
À temperatura ambiente os óleos podem sofrer certa degradação, a qual é
acelerada quando estes são sujeitos a elevadas temperaturas (como acontece nos
processos de fritura), levando à formação de produtos tóxicos que os tornam
potenciais perigos para a saúde (Felisberto et al., 2011; Zorro et al., 2012). As reacções
que estão na base da deterioração dos óleos são designadas reacções de
lipoperoxidação, as quais têm início com a interacção entre um ácido gordo insaturado
e um oxigénio reactivo (ou radical hidroxilo) da qual resulta a libertação de um radical
lipídico (fase de iniciação). O radical lipídico incorpora uma ou mais moléculas de
oxigénio produzindo assim um radical peroxil que então recebe um hidrogénio de
outra molécula de ácido gordo originando um hidroperóxido lipídico e um novo radical
lipídico livre (fase de propagação da reacção). Produz-se assim uma reacção em cadeia,
resultando da peroxidação de ácidos gordos a formação de moléculas de aldeídos,
nomeadamente malonildialdeído (MDA), 4-hidroxil-2-alcanal e 2-alcanal (fase de
terminação) (Fernandes, 2009; Vannucchi et al., 1998; Zorro et al., 2012).
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A reação de lipoperoxidação tem como consequência a alteração das
características organolépticas dos óleos, como o sabor original e também provoca o
aparecimento de odores e sabores característicos de ranço, sendo estes grandes
causadores de depreciação e rejeição do produto (Corsini e Jorge, 2006; Fernandes,
2009; Zorro et al., 2012). Tendo em conta que na maioria dos processos de confecção
de alimentos são utilizados óleos e que parte deles é absorvida pelos alimentos, é
muito importante que estes sejam de boa qualidade e que permaneçam estáveis por
um maior período de tempo (Felisberto et al., 2011).
O presente trabalho experimental teve como objectivo avaliar o grau de
degradação dos óleos de soja, milho, amendoim, girassol e azeite antes e depois de
estes serem sujeitos a um processo de fritura.
Inicialmente, de forma a avaliar a extensão da reacção de lipoperoxidação dos
óleos, adicionou-se a cada uma das amostras de óleo ácido tiobarbitúrico, ácido
acético e dodecil sulfato de sódio e incubou-se os tubos de ensaio a 90°C durante 20
minutos. Esta metodologia permite avaliar o grau de degradação de cada um dos óleos
através da avaliação da intensidade da coloração final que as soluções apresentam,
uma vez que o ácido tiobarbitúrico adicionado à amostra reage com o malonildialdeído
em meio ácido (razão pela qual é adicionado o ácido acético) e a temperatura elevada,
dando origem a compostos cor-de-rosa (Halliwell e Chirico, 1993). A função do dodecil
sulfato de sódio é permitir a solubilização dos lípidos em meio aquoso.
Observando os resultados obtidos verificamos que, após a adição dos reagentes
às amostras de óleo a coloração dos tubos de ensaio foi branca em todos os casos
(Figura 1 e 2). Após incubação a 90°C, observou-se que todos os tubos
correspondentes a óleos que não foram sujeitos a um processo de fritura
apresentaram uma coloração menos rosada que os tubos correspondentes a óleos que
sofreram fritura (Figura 3). Este resultado encontra-se de acordo com o esperado uma
vez que, como referido anteriormente, os óleos após serem expostos a altas
temperaturas possuem um maior grau de degradação. Dos óleos que não sofreram
aquecimento prévio o azeite foi o que mostrou ter uma menor degradação, seguido
pelo óleo de milho, amendoim, girassol e soja. Relativamente aos três primeiros óleos
é importante referir que se observou uma ligeira diferença na coloração entre os dois
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ensaios realizados, o que provavelmente deveu-se a uma incorrecta preparação da
amostra já que o óleo dentro da garrafa apresenta-se homogéneo (não estratifica).
Quanto aos resultados obtidos para os óleos que previamente haviam sido aquecidos,
o que apresentou menor degradação foi o óleo de amendoim, seguido do azeite, óleo
de milho, soja e girassol.
Estes resultados foram semelhantes aos obtidos por Fuentes (2011), que
avaliando os óleos de girassol, canola, milho e soja sem sofrerem aquecimento prévio
concluiu que o óleo de milho apresentou menor degradação, no entanto, o grau de
degradação do óleo de girassol foi superior ao do óleo de soja. Quanto aos óleos que
sofreram uma fritura prévia, os resultados desta aula prática foram também
semelhantes aos encontrados por Del Ré e Jorge (2007) que observaram de entre os
óleos de milho, soja e girassol o que apresentou menor degradação foi o de milho,
seguido pelo de soja e por fim o de girassol.
O motivo de alguns óleos possuirem um grau de degradação superior a outros
está diretamente relacionado com o seu grau de insaturação, visto que os óleos
vegetais que possuem maior quantidade de ácidos gordos insaturados são mais
susceptiveis a oxidação e, consequentemente, têm menor estabilidade oxidativa dos
que os óleos que possuem maior quantidade de ácidos gordos saturados (Corsini e
Jorge, 2006). De acordo com Fonseca e Gutierrez (1974) o óleo que apresenta menor
grau de insaturação é o óleo de algodão seguido pelo óleo de amendoim, milho,
azeite, soja e girassol, sendo que os graus de insaturação dos óleos de milho e azeite
possuem uma diferença muito pequena entre si (Tabela 2).
Tabela 2: Composição em ácidos gordos de diferentes óleos vegetais (Fonseca e Gutierrez, 1974)
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Portela et al. (2009) também afirma que a composição química do óleo vegetal
influencia diretamente na estabilidade da oxidação, pois no seu estudo o óleo de
girassol, que possui entre 55 a 75% de ácido linoléico e que possui mais insaturações
que os outros óleos estudados, foi o que apresentou menor estabilidade à oxidação,
seguido pelo óleo de canola, milho e soja.
Assim, podemos concluir que dos óleos utilizados nesta actividade
experimental, o azeite é o mais indicado para a confecção de alimentos quando não há
necessidade de utilizar temperaturas elevadas. Quando se pretender realizar um
processo de fritura é recomendada a utilização do óleo de amendoim, uma vez que foi
o que apresentou menor degradação entre os óleos que foram aquecidos
previamente.
Apesar dos resultados obtidos estarem de acordo com a literatura, é
importante referir que para se efectuar uma comparação mais precisa entre os óleos,
seria necessário conhecer a sua composição, uma vez que esta varia entre marcas e
também perceber quais as condições de armazenamento (luz e temperatura) dos óleos
analisados. No que diz respeito à metodologia utilizada nesta actividade experimental,
esta é bastante discutível porque depende muito da percepção que o operador tem
das diferentes colorações apresentadas. Para um estudo mais exaustivo seria
necessário utilizar outras metodologias (quantitativas) como uma espectrofotometria.
4. Referências
Corsini, M. S.; Jorge, N. (2006) Estabilidade oxidativa de óleos vegetais
utilizados em frituras de mandioca palito congelada. Ciênc. Tecnol. Aliment.,
Campinas, 26(1): p. 27-32.
Del Ré, P. V.; Jorge, N. (2007) Comportamento dos óleos de girassol, soja e
milho em frituras de produto cárneo empanado pré-frito congelado. Ciênc.
agrotec., Lavras, v.31, n. 6, p.1774-1779.
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Felisberto, R.; Lamas, L.; Lopes, M.; Sousa, P.; Rodrigues, A. L. (2011)
Lipoperoxidação dos óleos alimentares. Revista Lusófona de Ciência e Medicina
Veterinária, Lisboa. p. 12-17.
Fernandes, J. (2009) Peroxidação lipídica. Disponível em: <http://bioradicaisbio.
blogspot.pt/2009/07/peroxidacao-lipidica.html>. Acessado em 30 de
Novembro de 2014.
Fonseca, H.; Gutierrez, L. E. (1974) Composição em ácidos gráxos de óleos
vegetais e gorduras animais. An. Esc. Super. Agric. Luiz de Queiroz, vol.31.
Piracicaba-SP, p.485-490.
Fuentes, P. H. A. (2011) Avaliação da qualidade de óleos de soja, canola, milho
e Girassol durante o armazenamento. Dissertação apresentada como requisito
à obtenção do grau de Mestre em Ciência dos Alimentos, Universidade Federal
de Santa Catarina – Florianópolis, p. 98.
Halliwell, B.; Chirico, S. (1993) Lipid peroxidation: its mechanism, measurement,
and significance. American Journal of Clinical Nutrition, vol. 57, p. 155-255.
Portela, F. M.; Santos, D. Q.; Hernández-Terrones, M. G. (2009) Estudo da
estabilidade oxidativa de óleos vegetais para a produção de Biodiesel. 49º
Congresso de Química: A química e a sustentabilidade, Porto Alegre – Brasil.
Reda, S. H.; Carneiro, P. I. (2007) Óleos e Gorduras: Aplicações e
Implicações. Revista Analytica, n. 27, p. 60-67.
Vannucchi, H.; Moreira, E. A. M.; Cunha, D. F.; Junqueira-Franco, M. V. M.;
Bernardes, M. M.; Jordão-Jr, A. A. (1998) Papel dos nutrientes na peroxidação
lipídica e no sistema de defesa antioxidante. Simpósio Nutrição Clínica, Capítulo
III, vol. 31, n. 01, Ribeirão Preto-SP, p. 31-44.
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Zorro, A.; Gomes, J.; Pinto, P.; Rodrigues, A. L. (2012) Determinação da
lipoperoxidação em óleo alimentar. Revista Lusófona de Ciência e Medicina
Veterinária, Lisboa. p. 39-42.