Trabalho ameixoeira criativa

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UNIVERSIDADE DE COIMBRA Faculdade de Economia | Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação Mestrado em Intervenção Social, Inovação, Empreendedorismo Associação Lusofonia, Cultura e Cidadania - Ameixoeira Criativa Trabalho apresentado na Unidade Curricular de Sociedade Inovação e Empreendedorismo ministrada pela Professora Dra. Sílvia Ferreira André Luiz Silva Vasconcelos Benvindo Alberto Malungo Inês Filipa dos Santos Oliveira Matheus Estevan Barancelli Coimbra, 201

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UNIVERSIDADE DE COIMBRA

Faculdade de Economia | Faculdade de Psicologia e de Ciências da EducaçãoMestrado em Intervenção Social, Inovação, Empreendedorismo

Associação Lusofonia, Cultura e Cidadania - AmeixoeiraCriativa

Trabalho apresentado na Unidade Curricular de Sociedade Inovação e Empreendedorismoministrada pela Professora Dra. Sílvia Ferreira

André Luiz Silva VasconcelosBenvindo Alberto Malungo

Inês Filipa dos Santos OliveiraMatheus Estevan Barancelli

Coimbra, 201

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Sumário

1. Introdução ................................…...................................…..................................................… 03

2. Associação Lusofonia, Cultura e Cidadania ................................................…………………. 04

2.1 Missão ..................................................................................................…....…......…. 04

2.2 Projetos Sociais ALCC ........…..........…......….............................................……….. 05

2.2.1 Luso Integração ................…................................….........................…......…...…. 05

2.2.2 Identidade Comunitária .....….......….........…......…..................................…...……05

2.2.3 Gabinete de Inserção Profissional – GIP ........................................................……. 05

2.2.4 Ameixoeira Criativa .....…...............................................…..............…...........…….06

3. Ameixoeira Criativa e a Inovação Social .....…..........…...................…............................…….07

3.1 Análise do Ciclo da Inovação ...................….........…...............…....................……...08

4. Terceiro Setor, Empreendedorismo Social, Empresa Social e Economia Solidária …………..11

4.1 Terceiro Setor .......................................…..........…......…..........………..............……11

4.2 Empreendedorismo Social .......................................….....................................……...11

4.3 Empresa Social e Economia Solidária .................…....….….................…..............…12

4.4 Ameixoeira Criativa um Híbrido do Terceiro Setor …...........…………………….….13

5. Uma empresa EcoWise ....................................…........…...…...........................…...........…….14

6. Considerações Finais ..................................................................……...........…..............……..16

7. Referências Bibliográficas .................….....…..........…….............…......….......……………...17

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1. Introdução

No presente trabalho iremos analisar uma organização social, a ALCC - Associação

Lusofonia, Cultura e Cidadania, sediada na cidade de Lisboa. Para isso faremos recurso aos

conceitos e teorias trabalhados na Unidade Curricular de Sociedade, Inovação e Empreendedorismo

do Mestrado em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo, da Faculdade de Economia e

da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.

Para realizar esse trabalho, foram feitas entrevistas com duas das responsáveis pela

organização, Presidente da ALCC, Nilzete Pacheco e a Vice-Presidente Evonês Santos, além de

pesquisas ao material disponibilizado no site da organização < http://www.lusoculturas.org/>. O

contato com Evonês Santos foi iniciado através de redes sociais.

Para a apresentação da proposta à equipe da ALCC, o grupo deslocou-se até a cidade de

Lisboa para uma entrevista inicial no dia 30 de Novembro, e em uma segunda oportunidade no dia 3

de Dezembro, onde fomos convidados a participar de uma palestra de apresentação da ALCC e seus

projetos sociais. As demais entrevistas foram feitas via internet.

Através de um diálogo entre as teorias no campo da Inovação Social, Terceiro Setor e

Empreendedorismo Social e as características do trabalho de um dos projetos realizados pela

Associação, o projeto Ameixoeira Criativa, a análise realizada buscou compreender as relações que

estabelecidas entre os conceitos e as práticas desta organização. Para isso, apresentaremos a ALCC,

e em seguida abordaremos como foco principal, o projeto Ameixoeira Criativa, onde serão

detalhados aspectos do seu funcionamento, contexto em que foi criada, seus objetivos e atores

sociais envolvidos.

Em seguida, apresentaremos a análise que será dividida por áreas: Inovação Social, Terceiro

Setor, Empreendedorismo Social, e, por fim as considerações a respeito dos impactos sociais

gerados pela organização.

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2. Associação Lusofonia Cultura e Cidadania

A ALCC é uma associação sem fins lucrativos, sediada em Lisboa, reconhecida pelo Alto

Comissariado para a Imigração– ACM como associação representativa da comunidade Brasileira

em Portugal, além de ter apoio do Governo Brasileiro, através do Ministério de Relações Exteriores

- MRE. Iniciou as suas atividades no ano de 2000, tendo sido constituída legalmente somente no

ano de 2007.

Tem por função o apoio a imigrantes e comunidade nacional em situação de vulnerabilidade,

pobreza e exclusão social, com apoio financeiro do programa BIP/ZIP, da câmara municipal de

Lisboa, busca soluções alternativas para promover a inserção dos Imigrantes, na sociedade, facilitar

o acesso aos serviços necessários à sobrevivência e inclusão, bem como apoiar os seus descendentes

na sua integração social e profissional.

A associação nasceu da vontade de promover a integração social desta população e, desde o

início, busca soluções alternativas para a inserção do imigrante na sociedade e facilitar o seu acesso

aos serviços necessários à sua sobrevivência, utilizando diversas formas, tais como: sensibilização,

esclarecimento, divulgação, formação, visando a inclusão com base na igualdade de oportunidades

e gênero.

Procura também, dentro do seu espaço de ação, criar na população um sentimento de

pertença à comunidade local, que venha a gerar conceitos de direitos e deveres a todos aqueles que

escolheram Portugal como país de acolhimento. Outrossim minimiza as dificuldades que enfrentam,

oferecendo nas suas instalações, atendimento e acompanhamento psicossocial, tanto a nível

individual como coletivo e familiar.

2.1 Missão

A Associação Lusofonia Cultura e Cidadania (ALCC) consiste em promover e estimular as

capacidades individuais, culturais, sociais e econômicas das comunidades, com vista a sua

integração, nas áreas onde residem, e proporcionar o ambiente necessário para o seu bem estar.

Assim, as principais áreas de intervenção da ALCC englobam: apoio social, educação e

cultura, emprego, integração social e comunitária, orientação a legislação, apoio jurídico e

psicológico, formação, retorno voluntário entre outros.

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2.2 Projetos Sociais da ALCC

Movido pela vontade de mudar e fazer a diferença, capacitar e dar voz à comunidade, a

ALCC, procura enfrentar o desafio de atuar de forma mais aprofundada e integrada, com base num

plano de trabalho abrangente, onde inclui vários projetos que fazem parte do universo das

atividades da organização. Assim, a sua intervenção se traduz na gestão dos seguintes projetos:

Luso Integração, Identidade Comunitária, Gabinete de Inserção Profissional e Ameixoeira Criativa.

2.2.1 Luso Integração

Trata-se de um projeto de intervenção psicossocial dirigido a imigrantes em situação de

vulnerabilidade, pobreza ou exclusão social, promovendo a prestação de serviços relevantes para

melhoria no acolhimento, integração, valorização e capacitação dos mesmos como reforço da

diversidade e expressão cultural. Pretende-se através deste projeto desenvolver triagem,

atendimento, encaminhamento, acompanhamento, ações de sensibilização e mobilização de

recursos, para uma boa integração dos imigrantes.

Importa considerar as diferentes dificuldades que a imigração acarreta e que limitam a

inserção dos indivíduos: Os casos de exploração, desamparo, solidão, dificuldades na

empregabilidade e adaptação às idiossincrasias culturais do país de destino, sucedem-se.

2.2.2 Identidade Comunitária

Este projeto tem como objectivo geral ampliar a qualidade da relação parental,

proporcionando a família a aquisição de novos conhecimentos. Preconiza-se um desenvolvimento

de capacidades que venham a prevenir, minimizar ou extinguir situações de risco, desamparo ou

abandono familiar nesta comunidade. Isto visa, valorizar a família através da reestruturação dos

seus papéis sociais e sentimento de pertença, afim de assumir a sua responsabilidade. Existe um

trabalho na promoção do sentimento de pertença da comunidade(bairros), para consolidar conceitos

de cidadania da comunidade, identidade de normas e procedimentos jurídicos/legais, para que

possam transformar as suas realidades através da substituição da tendência assistencialista por uma

proposta de caráter socioeducativo e autônomo.

2.2.3 Gabinete de Inserção Profissional – GIP

O Gabinete de Inserção Profissional (GIP) é o resultado de uma parceria entre o Instituto de

Emprego e Formação Profissional (IEFP), o Alto Comissariado para as Migrações e a ALCC, o qual

está em funcionamento desde 2011. O GIP constitui assim uma resposta de proximidade no apoio a

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desempregados.

O objetivo principal é a inserção ou reinserção no mercado de trabalho dos jovens e adultos

desempregados, como forma de definir o seu percurso de desenvolvimento, atividade esta

desenvolvida em estreita colaboração com os centros de emprego do IEFP, no âmbito dos Gabinetes

de Inserção Profissional.

2.2.4 Ameixoeira Criativa

Ameixoeira Criativa, é um projeto Social-Ambiental, que nasceu no ano de 2012, na

Quinta da Torrinha zona da Ameixoeira (freguesia de Santa Clara) na cidade de Lisboa, partindo da

ideia de intervir na capacitação das pessoas, através do ensino na área da costura e artesanato

atendendo ao fato de que essas vivem num bairro com poucas oportunidades e alto índice de

pobreza, vulnerabilidade social, desempregos e baixo rendimento.

Esse trabalho baseia-se na reutilização de matéria-prima desperdiçada pela indústria têxtil,

roupas de segunda mão, até outros materiais recicláveis que normalmente iriam para o lixo,

transformando essas, em acessórios em peças de costura e/ou artesanato além de customizar,

estilizar e redesenhar novas peças, com a colaboração de designers que realizam workshops, como

forma captação de atenção da comunidade e de potenciais novos clientes e financiadores.

A empresa possui um atelier, que é composto por três professores, dois dos quais fazem

parte da direção do projeto, além de incluir dois alunos como responsáveis por um grupo de doze

beneficiários do mesmo. A formação no atelier consistem em, aprendizagens de corte, costura e

designer de diferentes estilos de roupa e outros artigos. Além disso é estimulado a utilização de

processos diferenciados de estilização, como por exemplo o uso de técnicas com produtos orgânicos

para a fabricação de novas estampas para as roupas.

Durante a formação, as alunas podem compartilhar e transmitir seus conhecimentos com os

designers, priorizando os conhecimentos já adquiridos pelas alunas em outros lugares, criando

assim uma interatividade e co-produção de conhecimento.

Os produtos feitos no atelier, deram origem a uma loja social, onde os mesmos são

comercializados. Consequentemente com o rápido crescimento do projeto, criou-se uma marca

social com o nome de COMPONTO®. Esta marca possibilita a venda de peças confeccionadas na

empresa social, visando a sustentabilidade do projeto, e subsídios para os beneficiários. A política

da empresa é repartir o rendimento das vendas 50% para cada parte (empresa/beneficiários),

visando a sustentabilidade, autonomia do projeto e também o bem-estar dos beneficiários, assim, a

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empresa utiliza o valor para a sua sustentabilidade e os utentes utilizam como complemento da sua

renda.

Segundo Evonês Santos, vice-presidente da ALCC, “nos tempos atuais, o que há a mais num

lado está a faltar noutro, e o que se pretende é o equilíbrio dos dois lados: sensibilização para a

importância do papel de cada Pessoa/Instituição na sociedade e para a possibilidade de recuperar e

reutilizar coisas que parecem não ter valor, viabilizando o retorno social e econômico para a

população abrangida” (Dez. 2015); ajudando o estado a concretizar a sua política social.

3. A Ameixoeira Criativa e a Inovação Social

A abordagem sobre a inovação social é abrangente, a julgar, pela diversidade de conceitos

de diferente autores, em vários quadrantes do globo. Apesar disso, alguns conceitos destacam-se

pelo fato de espelharem, algumas características mais visáveis e acessíveis a sua compreensão.

Assim, a inovação social “é uma resposta nova socialmente reconhecida e que visa e gera mudança

social”(…) e tem as seguintes características: satisfação das necessidades humanas, não satisfeitas

por via do mercado; promoção da inclusão social; e capacitação de agentes(…) a processos de

exclusão/marginalização social. (apud André e Abreu, 2006:124)”

“A Inovação Social ganhou maior enfoque, por meio da empresa social. Ela é definida como

uma solução nova, para um problema social, que é seja mais eficaz, eficiente, sustentável e justa,

superando as existentes, cujo valor criado benificirios primeiramente a sociedade e não aos

indivíduos”. (Hulgaard e Ferrarini, 2010)

Segundo Murray, “A Inovação Social é uma via de garantir a criação de valor social, a

promoção da justiça social, acesso aos serviços básicos da vida, democracia participativa e combate

a pobreza” (Murray eT al, 2010). A empresa social, é uma unidade lógica que visa concretizar os

objetivos e intenções da economia social, dentro das organizações do terceiro setor.

A iniciativa da Ameixoeira Criativa é um sinônimo de inovação social, pois procura

socializar as pessoas através de atividades produtivas, que ajudam equilibrar socialmente, as

pessoas necessitadas no aspecto econômico, psicológico e familiar.

Na Ameixoeira Criativa, identificamos um grande potencial de mudança social na vida dos

indivíduos e da comunidade, ao gerar relações interpessoais face-a-face, partilha de bens e serviços,

cooperação e simpatia mútuas, e solidariedade entre os integrantes do grupo, provocando uma

ressignificação da função social deles; e com ele a responsabilidade como valor social conquistado.

Além disso, pode-se notar que as atuações da empresa, ajudam na criação de valor, que

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possibilita a transformação pessoal e familiar, bem como o equilíbrio social da comunidade,

“colocando as pessoas na condição de protagonista das mudanças que deseja, promovendo o

empoderamento das pessoas nas comunidades em que atua, rompendo, com isso, um padrão tácito”

uma nova forma de pensar ou fazer algo, uma mudança qualitativa, uma alternativa – ou até mesmo

uma ruptura face aos processos tradicionais” (André e Abreu, 2006: 125).

Em relação aos impactos das ações das organizações sociais, no âmbito econômico, social e

ambiental, não são facilmente mensuráveis a julgar pelo tempo de manifestação, isto é “em parte

devido ao fato de que os efeitos são vistos apenas longo intervalo de tempo” (Bassi, 2011 p. 9).

Apesar disso, no grupo de beneficiários da ameixoeira criativa, pode-se notar, impacto econômico e

psico-afetivo.

3.1 Analise do Ciclo de Inovação

Mesmo sendo a Ameixoeira Criativa, uma empresa consideravelmente nova, mostra-se

possível analisá-la através de uma perspectiva do Ciclo de Inovação Social do Open Book of Social

Innovation.

Figura 1 – Open Book of Social Innovation

Como se vê na figura acima, o ciclo de inovação social, movimenta-se em seis níveis.

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1º Nível – Prompts (impulso, identificação do problema).

Nesse nível são identificados problemas ou necessidades existentes não resolvidos, ou novos

problemas. No caso da empresa estudada, identificou-se a pobreza e o desemprego como os

principais problemas sociais que afeta a vida da comunidade, outro fator constatado como um

problema, é a questão de que os alguns dos indivíduos abrangidos pelo programa, tem idade

elevada, acima de 50 anos, o que por si só, é um fator de exclusão no mercado de trabalho.

2ª Nível – Proposals (propostas).

A partir do impulso, nasce a proposta de dar voz as pessoas que vivenciam a pobreza e que

desenvolvem soluções criativas para combatê-la. O registro e disseminação dessas soluções consiste

no modelo da organização, no caso dos problemas identificados na comunidade, houve uma

variedade de soluções, como o atelier onde os beneficiados compartilham experiências e aprendem

novas técnicas de costura e design, a criação de uma loja social, da ideia de criação de uma marca

própria (COMPONTO), o que possibilitou a organização (ALCC), projetar uma empresa social com

vista a solução do problema.

3ª Nível – Prototypes (teste das soluções).

Esse nível consiste na testagem e experimentação da solução encontrada para os problemas

identificados. Através dos produtos comercializados, a Ameixoeira ultrapassou essa fase com

facilidade, visto que os produtos ofertados pela loja social, tem grande aceitação no mercado, fato

demostrado pela criação de uma marca própria, a COMPONTO, que está sendo comercializada e

também pelo número de encomendas que a empresa recebe mensalmente, além de pedidos de mão

de obra vindos da indústria textil.

Além disso, recebe convites e estabelece parcerias de desfiles e exposições de moda para a

exposição da marca e do projeto, como por exemplo, o desfile promovido no fórum de Economia

Social em Lisboa, em parceria com a estilista Ana Paula Varela, batizado de ReUse It, e também a

apresentação da mais nova coleção do projeto, a coleção COMPONTO 2.0, em conjunto com o blog

“Tea Time with Paula”.

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4ª Nível – Sustaining (sustentação da solução na prática).

Esta fase é uma das peças-chave para a análise do ciclo de inovação social pois avalia a

viabilidade e a sustentabilidade da ação inovadora. Geralmente o financiamento deve ser continuo

para revitalizar o projeto, contudo, é difícil obter financiamento continuo, e este fato, torna a

situação de algumas empresas complicados.

• No caso analisado, constatou-se que os financiamentos à empresa, através do programa

BIP/ZIP, foram interrompidos. Assim, a única fonte de renda da empresa agora, é a produção

interna consubstanciada nas receitas da marca criada.

• A sustentação institucional é estável, na medida em que está ligada a organização ALCC,

que lhe confere o estatuto normativo legal.

• Quanto a sustentação organizacional, está muito bem hierarquia de comando permanece

estável, e funciona devidamente como deve.

5ª fase – Scalling (aumento em nível de escala).

Nesse sentido, depois de ultrapassar as primeiras fases, a Ameixoeira, revela-se sustentada

nas três principais áreas, e assegura a sua continuidade no mercado com os produtos que cria, de tal

forma que tem alcançado algum publico em esfera local. Podemos exemplificar isso, com a

comercialização da marca, e a criação da loja social, onde estão expostos grande quantidade de

produtos oriundos do seu atelier.

A Ameixoeira vem sendo reconhecida no mercado, e já recebe solicitações de mão de obra

de empresas da indústria téxtil por exemplo, e também, participa de diversos eventos para

apresentar a empresa e seu modelo inovador. Com isso, a escala vem aumentando

consideravelmente.

6ª fase – Systemic change (mudança sistêmica).

Esta fase pressupõe uma transformação sistêmica que alcança níveis elevados na estrutura

social, impactando as políticas públicas, os processos de governação, as regras de mercado através

da adoção de um crescente número de atores sociais e estruturas institucionais.

Acreditamos que a Ameixoeira ainda não atingiu esse nível, porém, nota-se um grande

potencial para que atinja, e se manter seus projetos no rumo atual, a empresa em um período curto

de tempo chegará lá.

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4. Terceiro Setor, Empreendedorismo Social, Empresa Social e Economia

Solidária.

4.1 Terceiro setor

A classificação das organizações de Terceiro Setor e a compreensão entre as diferenças,

semelhanças e conceitos da Economia Social, Economia Solidária e Empresa Social não é tarefa

simples, uma vez que, diversos autores tratam os temas de contextos e pontos de vista diferentes,

pois trazem as divergências e particularidades de cada um nas definições e interpretação desses

conceitos.

“O terceiro setor, é convocado em muitas das dimensões das transformações do estado

providência, por contribuir para o empreendedorismo, e a inovação social, para a economia e o

emprego, para a governação, infra e supra nacional ou até para a democracia, para a solidariedade e

para reforço das comunidades. A preferencia pela proximidade e auto governação, em detrimento

das estruturas democráticas, hierárquicas da administração pública, das grandes empresas, ou até

das grandes organizações da economia social”(Ferreria, 2009, p 162).

Os argumentos das discussões, giram a volta de ideias tais como: que o terceiro setor é

híbrido e por essa razão estaria em articulação e colaboração com o estado, naquilo que é a

governação e tem a ver com a partilha de responsabilidade e do bem comum; o estado não tem

capacidade de atender grande parte das suas responsabilidades e por isso, confia na ajuda do

terceiro setor; e, com a crise do estado providência o estado olha para o terceiro setor como

alternativa de envolver a sociedade na solução dos seus próprios problemas, e assim por esta via,

devolver parte da responsabilidade assumida no âmbito do contrato social.

É assim que, a lei de base do Sistema de Segurança Social – lei n 4/2007, 16 de janeiro,

prevê, a delegação de “alguns serviços e equipamentos sociais a iniciativa privada não lucrativa,

para cumprir as funções de apoio social, que são de inerente responsabilidade do estado.”

(Hespanha, 2009).

4.2 Empreendedorismo social

O Empreendedorismo Social muitas vezes confunde-se com Empresa Social. Os

empreendedores sociais, estão determinados a produzir mudanças sociais, com base na empresa

social que gera lucros que devem ser reinvestidos na finalidade da organização, projeto ou

iniciativa. Por essa via, o empreendedorismo social pode ser entendido, como uma forma de criação

de valor social fazendo recurso a uma inovação.

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A ALCC através da Ameixoeira, utiliza técnicas de gestão, inovação, criatividade,

sustentabilidade e outras, com o propósito de maximizar o capital social da comunidade onde está

inserida. Resumindo, nota-se que a empresa já transforma a vida das pessoas e na comunidade onde

se insere, para justificar isso, segue abaixo um trecho do depoimento de uma das beneficiárias do

projeto:

“...Agora já ocupo mais a cabeça, sinto-me mais prestativa e aprendo uma nova função, a

qual, sei que em pouco tempo posso voltar ao mercado de trabalho, e também quem sabe em um

futuro próximo eu possa montar minha própria empresa, pois além de aprender aqui novas técnicas

de costura e artesanatos, também nos é passado uma base sobre empreendedorismo, para que

possamos um dia nos tornarmos independentes...” (Isabel do Nascimenento, aluna da Ameixoeira,

DEZ 2015)

Os empreendedores, usam competências e conhecimentos do mundo dos negócios para criar

empresas que proseguem fins sócias, sendo ao mesmo tempo, sustentáveis no mercado (Emerson &

Twersky, 1996). A ALCC, enquadra-se nas organizações sociais sem fins lucrativos, que criam

empresas e projetos para gerar emprego, rendimentos e serviços que servem fins sociais a

comunidade.

4.3 Empresa Social e Economia Solidária.

A economia solidária está emergindo como fruto ao mesmo tempo da crise da sociedade

salarial e do processo de terceirização da economia. Diante da exclusão social provocada por esses

fenômenos, ou da chamada nova questão social, "o fenômeno da economia solidária se apresenta

[...] numa perspectiva de busca de novas formas de regulação da sociedade, sob a forma de auto-

organização social em torno de ações, ao mesmo tempo econômicas e políticas" (Laville, 2006).

Criticando o reducionismo que explica a ação econômica apenas pelo interesse material eindividual, Laville recupera o conceito de Polanyi (2000) de que a economia é plural, constituídapor uma diversidade de formas de produção, entre as quais se encontrariam as baseadas nareciprocidade.

As empresas sociais baseiam-se em uma inovadora forma de exercer a atividade

empresarial, integrando fatores econômicos, sociais e ambientais, redimensionados em sua ordem

de prioridade, segundo um novo conjunto de valores compatível com o conceito de

desenvolvimento. (TOLEDO e SILVA, 2009)

“O desafio é inovar os modelos de negócios e aplicá-los para produzir os resultados sociais

desejados com economia e eficiência. Podemos criar uma alternativa poderosa: um setor privado

movido pela consciência social, criado por empreendedores sociais". (YUNUS, 2008)

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Quando falamos de Empresas Sociais, referimo-nos à organizações que adotam estratégias

com ou sem finalidade lucrativa para resolver problemas sociais. No entanto, o conceito de

"Empresas Sociais" é ainda freqüentemente debatido mundo afora. Nos EUA, por exemplo, o

conceito é aplicado a toda e qualquer organização voltada para resultados socias, dificultando

realçar a ruptura, inovação e potencial do que aqui conceituaremos de "Empresas Sociais". .

Malgrado as diferenças conceituais apresentadas por diversos autores estruturantes do setor,

consultorias, etc, a grande maioria apresenta um consenso quanto ao fato de que o conceito deve ser

aplicado a organizações voltadas ao terceiro setor, que possuam estratégias de mercado para atingir

sua missão principal de transformação social.

4. 4 Ameixoeira Criativa, um híbrido do Terceiro Setor

É interessante perceber as relações que a Ameixoeira estabelece com o Estado, o Mercado e

Sociedade Civil, enquanto um híbrido do Terceiro Setor, que observa os fracassos de cada um, mas

também propõe articulações a partir das características de sucesso desses setores (Ferreira, 2009).

Assim como um híbrido de intervenção e empreendedorismo de negócios, a Ameixoeira é capaz de

tratar problemas cujo âmbito é estreito demais para instigar o ativismo legislativo ou para atrair

capital privado.

Desde sua fundação até hoje, é a sociedade civil ajuda a Ameixoeira através de doações de

matéria-prima, como roupas, tecidos e outros materiais que iriam para o lixo. Estabelecendo assim

um vínculo entre sociedade/empresa, as doações são feitas pela sociedade de forma espontânea, são

entregues na sede da ALCC, e segundo informações colhidas com a vice-presidênte da ALCC

Evonês Santos, “a associação chega até essas doações, através de anúncios e solicitações feitos em

palestras e também pelo site da ameixoeira”.

No mercado, a Ameixoeira estabelece parcerias com empresas para divulgação de seus

produtos, além de vender esses produtos, criou uma marca social, a COMPONTO. Todas essas

atividades têm objetivo de obter renda, porém não com a finalidade de obter lucro, e sim visam a de

sustentação da empresa. Um aspecto nesse sentido que vale-se destacar, é que essas atividades com

o mercado vão além da meta de sustentabilidade financeira, eles colaboram para a melhoria de vida

dos beneficiários, que além para a recolocação desses no mercado de trabalho, proporcionando

também a criação de novas oportunidades de emprego ou complementação de renda.

Em relação ao estado, Ameixoeira percebe as incapacidades do mesmo em responder às

necessidades da população e busca estabelecer com o governo municipal uma relação de

proximidade, mas também de neutralidade. A organização pretende transformar suas ações, no

futuro, em políticas públicas, mas antes busca construir um equilíbrio entre o apoio e a apropriação.

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A partir da análise dessas relações intersetoriais, entendemos que, mesmo havendo uma

aproximação maior com o setor comunitário, a ameixoeira também tem fortes interações com o

Governo Municipal e o Mercado, e “tamanhas são as especificidades dessas relações que a

organização não pode ser definida claramente como pública ou privada, lucrativa ou não lucrativa”

(Evers e Laville apud Ferreira, 2009).

É então, híbrida. Segundo Ferreira afirma, “nas organizações híbridas nenhum dos sistemas

prevalece em termos de determinar as suas operações principais. [...] podem tornar visível o que não

pode ser observado pelos sistemas fechados, incluindo a complexidade que criam no ambiente com

as suas operações e modo como afetam a vida das pessoas e dos grupos sociais” (Ferreira, 2009:

185). A autora também cita Enjolras para explicar como o Terceiro Setor pode atuar como um

“mecanismo de governação dos diferentes modos de governação” (Enjolras apud Ferreira,

2009:184). Algo que se aplica bem à realidade da Ameixoeira, que cria diferentes relações com os

setores e entre os setores, buscando ultrapassar os seus fracassos para atingir seus objetivos sociais.

5. Uma empresa ECO-WISE

Através das conversas com as responsáveis pela Ameixoeira Criativa, e dos debates

realizados entre os integrantes grupo ao longo do desenvolvimento do presente trabalho, observa-se

que a empresa em questão, utiliza uma mescla entre três objetivos: Empresarial, social e ecológico.

Recorrendo a uma abordagem europeia de empresa social, concluiu-se que Ameixoeira Criativa, é

um tipo de Empresa Social de Integração pelo trabalho denominada ECO-WISE.

Seguindo as características básicas desse tipo de empresa, a Ameixoeira, serve como

instrumento de transição e formação que ajuda dos trabalhadores a se capacitar e retornar ao

mercado de trabalho, presta apoio social durante um tempo limitado procurando ressocializar

pessoas através de atividades produtivas, além de possuir também traços de base voluntária.

Por meio de seu atelier, a Ameixoeira promover o desenvolvimento local, implementa ações,

como por exemplo os treinamentos ofertados, as orientações que passa aos beneficiários, referente a

como empreender novos negócios e gerir os mesmos, permitindo a ativa participação dos

beneficiários nos processos de aprendizado, e através da comercialização de seus produtos e divisão

dos lucros obtidos, possibilita o fortalecimento da economia local, sendo essa também uma maneira

de empoderamento desses beneficiários, antes excluídos do mercado de trabalho.

Segundo, Nilzete Pacheco Presidente da ALCC “...com a ameixoeira, nós conseguimos dar

ferramentas para as beneficiárias para que elas possam voltar ao mercado de trabalho, aqui a

aprendizagem não é só na costura propriamente dita, elas tem que perceber o que se passa la fora,

Page 15: Trabalho ameixoeira criativa

e não só isso, o que queremos não é só buscar melhoria dos beneficiários a nível financeiro, e sim

uma melhora na auto-estima e no sentimento de pertença...”

No âmbito ecológico identificamos uma grande capacidade de inovação, voltada a

preocupação com questões da sustentabilidade do meio ambiente, através do lema “do velho fazer

novo com arte”, a empresa está focada na reutilização e transformação e de resíduos têxteis em

peças de roupa confeccionadas, acessórios e artesanato, e também no reaproveitamento de peças

que estão “fora de moda” customizando-as e ampliando seu ciclo de vida.

Isso justifica-se conforme o relato de Suzana Antonio, designer responsável por ensinar

técnicas e maneiras criativas de reutilização de material as beneficiárias do projeto, responsável

pelo lema citado no parágrafo anterior, “...eu sinto que o design ecológico credibiliza o trabalho

que se faz nessas organizações e nesses sítios, mostra o que se faz de melhor nos bairros, e que as

vezes a sociedade não tem acesso, estamos a aprender a tingir, a serigrafar, a pintar e a estampar,

com roupas que iriam para o lixo...”

Esse novo modelo de empresa social, serve como norte para o desenvolvimento da nossa

sociedade, pois engloba uma série de questões interessantes e pode ser utilizado de forma a orientar,

políticas públicas governamentais, repensando as formas das indústrias, e orientando o modelo de

consumo e desenvolvimento das populações. Nesse novo contexto a busca por sustentabilidade

dentro das empresas e por corporações ecológicas se torna crescente à medida que a sociedade

começa a cobrar atitudes mais responsáveis das organizações.

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6. Considerações Finais

A Ameixoeira Criativa é uma organização hibrida do terceiro setor que possui uma proposta

inovadora e que se enquadra nos conceitos de empreendedorismo social. A sua proposta

proporciona valor social e transformação da realidade onde se insere. Segundo Dees et al “o

empreendedorismo social não se refere a iniciar um negócio, ou tornar-se mais comercial, trata-se

de encontrar novas e melhores formas de criar valor social” (Dees et al apud Hulgard e Ferrarini,

2002:35)

Levando em consideração os aspectos econômico e ecológico, notamos a integração dessas

duas partes, visto que a Ameixoeira promove o fortalecimento da economia local, através da

comercialização de produtos ambientalmente sustentáveis que produz, visto que boa parte de suas

confecções provém da reutilização de roupas e outras bens descartáveis.

O enquadramento teórico da iniciativa inovadora da Ameixoeira Criava que acabamos de

apresentar demonstrou ser um exercício interessante. No entanto, está muito aquém de revelar o real

sentido e significado das suas ações na vida das pessoas que vivem na comunidade. Para além dos

resultados quantitativos que poderiam sugerir o impacto social da organização, o aspecto mais

interessante, está nos valores subjetivos que produz: a cooperação, a autoestima, a solidariedade, a

valorização das pessoas e a ressignificação do conhecimento popular.

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7. Referências Bibliográficas

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POLANYI, Karl. (2000), A grande transformação. Rio de Janeiro, Campus.

Yunus, Muhammad. Um mundo sem pobreza. São Paulo: Ática, 2008.

Vídeo de apresentação da Ameixoeira Criativa. Disponível em: http://sicnoticias.sapo.pt/pais/2014-10-10-Projeto-Ameixoeira-Criativa-ajuda-a-combater-exclusao-social-e-desemprego

Vídeo de apresentação “12 mulheres em risco”. Disponível em:http://videos.sapo.pt/nfal1IHjo0OPAYMjLsOZ