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Trabalho sobre a exclusão social no âmbito do Mestrado em Ciências da Educação

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Introduo

O mercado de trabalho como meio de excluso social?

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IntroduoNo mbito da primeira unidade curricular do Mestrado Europeu - Teorias da Excluso Social , e tendo por base o livro Os lugares da Excluso Social, de STOER, R. Stephen, MAGALHES, Antnio, ROCHA, David, foi-nos solicitado um ensaio reflexivo com o intuito de promover uma atitude crtica dos temas debatidos nas aulas acerca dos lugares da excluso social. O livro acima referido aborda cinco lugares de excluso (trabalho, cidadania, identidade, corpo e territrio) que, tal como sabido, a priori, no podero ser tratados como compartimentos estanques, j que existe uma circularidade e encadeamento entre eles, complementando-se ou chocando uns com os outros nas mais diversas situaes de excluso. A designao de excluso social um conceito recente, imbudo de um carcter fludo, sendo muitas das vezes dado como sinnimo de pobreza, assim como a peculiaridade do concubinato das palavras antnimas Excluso e Incluso, pelo que faro inevitavelmente, parte da minha reflexo. Penso ser lcito afirmar que este conceito de excluso se insere no paradigma da Ps Modernidade, que pela contextualizao da sua emergncia penso ser pertinente abordar.No presente ensaio terei por base o conceito de excluso considerando a particularidade do conceito de ageism, como motivo de excluso no mercado de trabalho nos nossos dias. Irei, portanto, reflectir acerca das implicaes que o mercado de trabalho tem a nvel da excluso e, mais do que isso, que consequncias esta trar para o self relacionando-o com outros lugares de excluso. Devo ainda dizer que o ttulo do trabalho - Mercado de trabalho como meio de excluso? Ser que quis dizer: mercado de trabalho como meio de incluso? - (que me agrada particularmente, pela inocncia do software, que tinha uma pergunta formatada, e no dando lugar complexidade desta problemtica, me devolve a questo e me questiona) , na minha opinio, uma confirmao de uma falsa verdade dada como instituda. Por forma a fundamentar e dar consistncia ao discurso produzido nesta reflexo, articularei o trabalho com autores pertinentes para a anlise em questo.A Evoluo contextual e a emergncia de conceitosApesar de no ser minha inteno fazer uma reflexo profunda acerca do conceito de excluso, penso que, contudo, ser pertinente, neste primeiro momento, deter-me brevemente sobre o aparecimento deste conceito para, a posteriori, o poder relacionar de uma forma esclarecida com a problemtica que pretendo abordar.

Das pesquisas que realizei, pude constatar que os autores Serge Paugam, Lus Capucha, Bruto da Silva, concordam, invariavelmente, que excluso se trata de um termo bastante recente, muito embora se saiba que a excluso enquanto prtica ficar margem pelo que o Captulo 1 do texto O significado conceptual e real da excluso social, on-line http://www.ilo.org/ciaris/pages/portugue/frame/download/1.pdf" http://www.ilo.org/ciaris/pages/portugue/frame/download/1.pdf, refira que excluso e excludos sempre existiram desde que os homens e as mulheres vivem de forma colectiva e quiseram dar um sentido a esta vida em comunidade. De facto, disso so exemplos inegveis o ostracismo em Atenas, a proscrio em Roma, as castas inferiores na ndia ou as perseguies aos protestantes, s para citar alguns.Poder-se-, ento, questionar a razo pela qual s muito recentemente se comeou a utilizar, quase indiscriminadamente, este conceito. Parece ser consensual que o seu aparecimento se verifica no ltimo quartel do sculo XX, no sendo a isso alheio toda a problemtica conjuntural do paradigma da Modernidade e, mais recentemente, com o emergente paradigma da Ps-Modernidade. De facto, no podemos esquecer que houve transformaes sociais drsticas que fizeram com que se desse uma mudana radical a todos os nveis, seja econmico, poltico e/ou social. A Revoluo Industrial, as Guerras Mundiais, o marcante Maio de 68, a sada das mulheres para o mercado de trabalho e a descolonizao, so a prova histrica dessas transformaes. Da que a Ps-Modernidade possa ser encarada como uma ruptura evidente com a Modernidade, ou seja, algo diferente (...) em que a trajectria do desenvolvimento social est a levar-nos para longe das instituies da Modernidade em direco a um tipo novo e distinto de ordem social (Giddens, 1990:32). Podemos, efectivamente, depreender que a Modernidade se esgotou devido aos prprios excessos que produziu e, concomitantemente, os ecos desses excessos fomentaram a poca Ps Moderna. Se, por um lado, estes marcos trouxeram o repensar dos direitos civis, polticos e sociais, por outro lado, inegvel que tambm levaram a um adensamento das situaes o que conduziu, por exemplo, ao racismo, ao problema com os fluxos migratrios, etc., assente num desenvolvimento desenfreado das tecnologias de informao, numa globalizao da prpria informao e na mundializao da economia. Ou seja, aquilo a que Foucault denominou de grande encerramento (1963) ou a expresso mxima da excluso. (on line, ttp://www.ilo.org/ciaris/pages/portugue/frame/r1-1.htm" http://www.ilo.org/ciaris/pages/portugue/frame/r1-1.htm)No entanto, a definio de Ps - modernidade de Touraine , na minha opinio, a que melhor identifica a confuso desta nova era que confrontada com novas situaes, gera a necessidade da emergncia de novos conceitos como sociedade da informao, flexibilidade, a desregulao, a descentralizao, a contextualizao, o declnio, a fragmentao e a individualizao, bem como o conceito de excluso e incluso. Por isso mesmo, Touraine ao questionar-se Podemos conceber uma nova situao histrica, um novo tipo de sociedade onde a modernidade seja definida, no por um princpio nico e totalizador, mas ao contrrio por novas tenses entre a racionalizao e a subjectivao? (Touraine: 1994:431), faz todo o sentido, na medida em que conduz sua definio de Ps Modernidade. Seno, veja-se:O desenvolvimento j no a srie de etapas atravs das quais uma sociedade sai do desenvolvimento e a modernidade j no sucede tradio; tudo se mistura; o espao e o tempo so comprimidos. Em vastas partes do mundo; os controlos sociais e culturais estabelecidos pelos estados, pelas igrejas, pelas famlias ou pelas escolas, enfraquecem, e a fronteira entre o normal e patolgico, o permitido e o proibido, perde a nitidez (Touraine, 1998:13).H um enfraquecimento ou at desaparecimento das normas codificadas e protegidas por mecanismos legais dando como exemplo a famlia e a escola onde o cenrio de decomposio bem patente e constante, desinstitucionalizao assim como o desaparecimento das normas e valores sociais que estruturavam a vida quotidiana), trazendo a vida privada para o debate poltico atravs dos novos movimentos sociais dessocializao (Touraine, 1998: 43). Ento, poder-se- dizer que quanto maior for a abertura ideolgica face ao outro, maior ser tambm o preconceito em relao ao outro, principalmente numa poca em que cada vez mais se preconiza o culto do individualismo atravs das prprias ferramentas que a sociedade nos d, sejam elas a Internet, em paradoxo com a aldeia global em que vivemos. Por isso mesmo, Lipovetsky refere que Sem dvida, o direito de o indivduo ser absolutamente ele prprio, de fruir ao mximo a vida, inseparvel duma sociedade que erigiu o indivduo livre em valor principal e no passa duma ltima manifestao da ideologia individualista; mas foi a transformao dos estilos de vida associada revoluo do consumo que permitiu este desenvolvimento dos direitos e dos desejos do indivduo, esta mutao na ordem dos valores individuais (Lapovetsky. A era do vazio, pp. 9 11).Por outro lado, uma vez que o termo excluso faz parte da nossa linguagem quotidiana e que se faz um uso quase indescriminado do mesmo, convm no olvidar que nunca se poder abordar a excluso sem considerar o seu antnimo: a incluso. Existe uma inter-relao, uma simbiose, uma inter-dependncia face a estes dois termos que os remetem para uma atraco repulsa qual no podem fugir. Ou seja, excluir algum de uma categoria inclu-lo noutra. Quer excluso, quer incluso permitem a filiao, a identificao de uns em relao aos outros (Captulo 1 do texto O significado conceptual e real da excluso social, (on line http://www.ilo.org/ciaris/pages/portugue/frame/download/1.pdf" http://www.ilo.org/ciaris/pages/portugue/frame/download/1.pdf).Contudo, creio que no poderia finalizar este breve comentrio face ao termo excluso sem alertar para a importncia de no o podermos confundir com pobreza. Apesar de serem dois termos que esto interligados, em que um (exluso) pode conduzir ao outro (pobreza), so diferentes. Tal como se alude no ICSW Conference 2006, citando Robert Castel, exluso social como a fase extrema do processo de marginalizao, entendido este como um percurso descendente, ao longo do qual se verificam vrias rupturas na relao do indivduo com a sociedade. Ora desta ruptura poder resultar, num ltimo caso, o desemprego o que, logo, conduzir pobreza. Mas, como se verifica pela definio de Castel, pobreza e excluso no so o mesmo, pelo que este autor, citado por Stoer et alium, afirme que a excluso social (...) o processo que no permite a uma pessoa o acesso ao trabalho no contexto do capitalismo (pg. 26). Penso, ainda que sucintamente, ter reunido a informao terica para a compreenso das condies da evoluo contextual a emergncia do conceito de excluso/incluso, para poder articular com a questo acerca da qual procurarei reflectir O mercado de trabalho como meio de excluso social?

A minha reflexoAquando da proposta de trabalho, desde logo soube qual seria o meu tema de reflexo. De facto, tornava-se at oportuno reflectir sobre uma temtica que me vem inquietando pessoalmente. Passo a explicitar. Leio os Jornais, mais calmamente ao fim de semana, nomeadamente o Jornal de Notcias e o Expresso, e gosto de ver os classificados, nomeadamente a oferta de emprego, no por curiosidade, mas para saber quais as reais ofertas para o meu perfil. H muito que constatei que no meu perfil o factor idade, me exclui do mercado de trabalho em mais de 80% dos anncios de oferta de emprego. Na verdade, eu, Maria Jos Marques, que me encontro a tirar a Lincenciatura em Cincias da Educao, com 45 anos de idade, no tenho lugar no mercado de trabalho por um factor condicionante que a idade. Fiz uma srie de pesquisas, nos anncios de jornais, das quais apresento dois anncios escolhidos aleatoriamente (vide capa do trabalho na qual se podem visualizar mais exemplares):

GESTOR DE UNIDADE (m/f)AlgarveRef GU - 601.000106REQUISITOS:

* Habilitaes literrias mnimas ao nvel do 12 Ano de Escolaridade;* Experincia profissional ao nvel administrativo e de backoffice de 2 anos;* Experincia em coordenao de equipas multidisciplinares;* Capacidade de ajudar a definir objectivos e de os concretizar;* Bons conhecimentos de informtica na ptica do utilizador;* Idade entre os 28 e os 35 anos;* Carta de conduo;* Residncia no Algarve (Sotavento e Barlavento)Anncio:

Procuramos Administrativo/a com as seguintes caractersticas:- Conhecimentos na rea da gesto e/ou contabilidade- Conhecimentos de informtica na ptica do utilizador- Idade entre os 22 e os 33 anos- Carta de conduo- Dinmico/a e proactivo/aA idade exigida pelos anncios nunca superior a 35/45 anos, independentemente das reas laborais a que se referem. Assim, analisando este cenrio, estou decididamente excluda do mercado do trabalho para me incluir nos desempregados.Estas evidncias impeliam-me para centralizar a minha reflexo na problemtica da idade como factor de excluso no mercado de trabalho. Neste sentido, no posso negar que tal se exacerbou quando iniciei a minha pesquisa pelas vrias ferramentas disponveis, como leitura de literatura de suporte e pesquisa on-line. Pesquisei no mais visitado motor de busca da Internet o seguinte tpico: mercado de trabalho como meio de excluso?. Ao abrir a pgina do que pedi, no pude acreditar naquilo que estava no meu monitor: o prprio motor de busca respondeu ingenuamente:Ser que quis dizer: mercado de trabalho como meio de incluso?Perante esta realidade, e perante o facto de nem o prprio motor de busca reconhecer que o trabalho possa, eventualmente, ser um lugar de excluso, inevitavelmente fiquei furiosa, ciente que estava excluda pela varivel idade. lcito questionar se no ser o mercado de trabalho, devido s variveis pelas quais se ladeia actualmente, uma forma de excluso social? Ou ainda, pela forma como o mercado de trabalho est organizado, no ser um factor de excluso social? De facto, o que aqui parece estar presente no mais do que aquilo que Stoer et alium denominam de consequncias das sociedades de risco. Isto , existe um risco globalizado (forma como o mercado de trabalho se encontra estruturado) que tem como consequncia imediata o facto de tornar os indivduos (neste caso em particular, aqueles com idade superior a 35 anos) vulnerveis a uma determinada forma de excluso social (aqui, o desemprego) vide pgina 25.Assim, se a idade se torna factor de excluso, independentemente das capacidades intelectuais do indivduo, poder-se- falar naquilo que Robert Butler denominou de ageism. Segundo este autor, referido por Stoer et alium, no lugar do corpo, este termo define um processo de estereotipizao e de descriminao contra pessoas porque j esto velhas. Contudo, actualmente, tal preconceito ou descriminao tido em relao a um grupo com idade compreendida entre 25/45 anos??. Mas, porque motivo a idade alvo de tal segregao? Aparentemente pelo facto de o indivduo ser considerado menos produtivo, menos dinmico. Na verdade, a nvel do mercado de trabalho, o que se verifica que se exige determinada idade (como j referi anteriormente, abaixo dos 35 anos), mas tambm uma vasta experincia. Mais uma vez entramos em paradoxo, pois salvando as excepes, h uma relao mais directa entre mais idade e mais experincia.Este patamar dos 35 anos parece entrar em rota de coliso com uma srie de fenmenos inegveis da nossa era. De facto, nas sociedades ocidentais, o sculo XX foi denominado como o sculo do corpo, na medida em que este assume-se, por um lado, como objecto de estudo sendo um campo disciplinar vasto (seno, veja-se as disciplinas que o estudam: filosofia, antropologia, sociologia, psicologia, educao, s para citar algumas) e, por outro lado, adquire-se a conscincia da importncia dos valores e das prticas corporais. O corpo como sendo um culto, o reflexo da prpria identidade do indivduo (tal como refere o livro, articula-se com o lugar da identidade considerando que esta passa pelas afirmaes que fazemos, pela nossa linguagem e por estar includa no lugar do corpo poder afectar a personalidade de cada um sendo vital no confundir identidade com personalidade). Da que sejam to importantes aspectos a ele relacionados, nomeadamente a aparncia, a forma fsica, a endumentria, o tratamento... Assim, o corpo ultrapassa em muito a sua mera dimenso funcional para ser uma forma de identidade e de afirmao social. Contudo, quer queiramos quer no os dias passam e h um dia no calendrio em que celebramos o nosso aniversrio. Os anos vo passando e pelo atrs exposto s posso concluir que se transforma num handicap, a idade torna-se um factor de excluso.Outro aspecto que me parece evidentemente contraproducente o facto de, cada vez mais, a idade da reforma aumentar. Qual a lgica que presidir ao julgar-se e excluir-se do mercado de trabalho uma pessoa com 30/45 anos como eventualmente pouco produtiva?!? E, por outro lado, pretender, ou melhor exigir, que outros trabalhem at aos 65 anos? Por isso mesmo, o governo afirma o aumento de pessoas idosas na nossa sociedade (www.portal.gov.pt., no apenas pela baixa taxa de natalidade, mas porque cada vez mais as pessoas esto aptas fsica e psicologicamente para realizar todo o tipo de tarefas em sociedade at muito mais tarde, na medida em que a esperana mdia de vida maior, tal como revela o governo no Comunicado da Apresentao da Rede de Cuidados Continuados de Sade e de Apoio Social de 21/04/2006: em 2004, a esperana mdia de vida nascena se situava nos 74 anos para os homens e ultrapassava os 80 nas mulheres.Logicamente que aqui h ainda outro factor relevante. No apenas a idade da reforma que aumenta, nem a idade mdia da esperana de vida que aumenta. A idade para se ser jovem aumenta tambm. Ou seja, cada vez mais -se jovem at mais tarde. Porm, no podemos esquecer o que se entende por juventude. Para as Naes Unidas, ser-se jovem ter entre 15 e 24 anos. Porm, este critrio no suficiente, pois ao longo dos sculos o termo juventude tem vindo a ganhar contornos bastante diferentes. Para tal contribuiu a viso de Aris (1981) que revela que no perodo pr industrial no existia a juventude como ns a conhecemos hoje, pois a infncia no estava separada da vida adulta tal como hoje verificamos.Ento, ser-se jovem at mais tarde implica estudar at mais tarde, arranjar emprego mais tarde, sair de casa dos pais mais tarde, constituir famlia cada vez mais tarde. Seria, portanto, lgico que se aumentasse a idade mxima para ser admitido num trabalho. Parece-me que ficou claro que a idade, enquanto factor biolgico inegvel qual o corpo no pode fugir, um lugar de excluso. pertinente verificar o que tudo isto implicar a nvel da personalidade de cada indivduo, ou seja, que alteraes se verificaro. Acima de tudo, algo que ser inquestionvel que, o ser-se excludo pela idade ser factor de inibio de performances quer individuais, quer fsicas. Na realidade, numa sociedade em que, tal como alude Stoer et alium, a cultura de massas acelerou o processo de individualizao (vide pgina 42), cada vez mais o indivduo deseja assumir-se como tal, como identidade nica, singular, longe da homogeneidade, tendo autonomia sobre a sua aco, parece que o corpo deve ser uma afirmao do prprio self, estando intimamente relacionado com o conceito de agency que est na origem da afirmao individual levando a que o indivduo se afirme como cidado revertendo como uma mais valia para o Estado, no pelo empowerment por parte deste, mas pelo facto de eu, indivduo, ter conscincia do meu valor trabalhando sempre a minha identidade e enriquecendo-a. Aqui a minha reflexo atravessa os lugares de identidade e cidadania referidos livro Os Lugares da Excluso Social. Este conceito de agency, na Ps Modernidade aqui muito pertinente, considerando que um indivduo deveria ter capacidade de agency, ou seja, de pensar e de poder modificar ou interferir, baseada na razo, contudo, esquece-se que se encontra contingenciado por formaes discursivo-ideolgicas, incorrendo no risco de cair na iluso do arbtrio segundo teoria de Pcheux & Fuchs. (on line http://www.elton.com.br/FSDB/TI-FSDB-Esp-Texto1-Souza.pdf" http://www.elton.com.br/FSDB/TI-FSDB-Esp-Texto1-Souza.pdf)Pelo que pude reflectir at agora, o corpo, de acordo com a idade que apresenta, excludo no s para o trabalho, mas tambm pelo mercado de trabalho.O que se passa na sociedade em termos de cidadania que no permite ao indivduo ver salvaguardado o direito que tem a exercer a sua profisso? Como referi atrs, o indivduo tem uma certa autonomia nas suas aces, mesmo no que concerne ao campo laboral, na medida em que, pela grande possibilidade que existe em termos de mobilidade de indivduos e bens, cada um poder-se- desvincular do seu prprio territrio e procurar outro lado, j que vivemos numa sociedade global. Por esta razo, ser vital termos em conta a noo de desterritorializao, at porque uma das caractersticas mais representativas da Ps Modernindade, na medida em que esta dominada pela mobilidade, pelos fluxos ou pelo hibridismo cultural gerando o que Castells apelida de sociedade em rede (1999). Mais uma vez podemos constatar a transversalidade da excluso pela idade includo no lugar do corpo de acordo com Stoer et alium com identidade, cidadania e, agora, com o territrio.Contudo, parece haver aqui uma contradio: se as mudanas de paradigmas trouxeram novos conceitos que permitiram ao indivduo alargar os seus horizontes e fronteiras, inclusiv a da liberdade, como o sejam a cidadania, a excluso, a heterogeneidade, juventude,..., como se explica que o indivduo ainda se sinta limitado e confinado quilo que as sociedades lhe impem? Vejamos o exemplo do trabalho luz do conceito de rede (network). Todos sabemos que esta uma forma de sociedade hegemnica, na medida em que os indivduos so levados a pensar que h uma horizontalidade nas redes de trabalho que, na verdade, no existe porque est sempre implcita uma relao de poder; isto , a horizontalidade nunca horizontal, j que h sempre verticalidade o conceito de rede tambm ele uma falcia. (retirado de apontamentos da aula) Considero este conceito muito pertinente neste ensaio, pois bem visvel o poder que est subjacente s empresas como reguladoras do mercado.Em suma, pelo facto de no estarmos sob a gide do Estado Providncia (pois em Portugal, o caminho da proteco social tem sido dificultado pelas debilidades da nossa economia, tal como refere Eduardo Vitor Rodrigues em O Estado Providncia e os Processos de Excluso Social) no conferindo, portanto, ao indivduo a proteco que em tempos lhe era atribuda. Assim, o indivduo sente-se impotente no conseguindo ser o self que tanto ambiciona e, muito menos, deter o poder de comandar as suas prprias aces pela agency. Esta situao no mais do que o que Castel denomina de volatilidade do trabalho, pois, efectivamente, a globalizao acarretou consigo alteraes fundamentais no que se refere a quem faz que tipo de trabalho, onde, quando e como ou seja, nem sempre quem tem qualificaes para um determinado trabalho o est a fazer, onde e como o deseja. Para alm disso, esta mobilidade e votalidade laboral tm conduzido a rupturas profundas com a identidade dos indivduos e, por consequncia, das prprias sociedades ocidentais aqui torna-se evidente o dualismo que Boaventura Sousa Santos estabelece entre localismos globalizados e globalismos localizados: isto , um indivduo ao provocar em si uma ruptura, provoca nos outros tambm e a cadeia de relaes to vasta que acaba por criar uma ruptura social. Da que o resultado mais bvio seja a desqualificao social no mercado de trabalho, para a qual Paugam chama a ateno aqui a nossa problemtica (a idade no lugar do corpo) est presente no lugar do trabalho com os condicionalismos que o mercado apresenta, apesar da falcia que o mercado de trabalho . Por estas condicionantes, o indivduo sente que nada pode fazer face s variveis nas quais se encontra inserido, pelo que Rousseau, citado por Stoer et alium, defenda que o que o homem perde pelo contrato social a sua liberdade natural e um direito ilimitado a tudo o que tenha para alcanar; o que ganha a liberdade civil e a propriedade de tudo o que possui. Isto , a sua liberdade natural estabelecida pelas suas prprias barreiras e fronteiras, enquanto que a liberdade civil delimitada pela vontade geral, da sociedade em que est inserido, bem como pelas leis que a regem.Se a excluso social ocorre no mercado de trabalho pelo facto de o indivduo ter uma determinada idade (a que temos como ponto de referncia para esta reflexo: 35 anos), isso ter consequncias funestas na sua prpria identidade. Efectivamente, segundo o ICSW Conference 2006, poder mesmo reflectir-se em caractersticas psicolgicas, culturais e comportamentais prprias da ter referido anteriormente a influncia da excluso a nvel da performance. Isto faz com que o indivduo fique, inegavelmente, com a sua identidade abalada, pois a partir do momento em que o indivduo reflecte sobre a sua prpria situao e ganha dela conscincia, ele sabe que poderia agir sobre si mesmo, sobre as aces. Esta caracterstica prpria da Ps Modernidade, pois, e parafraseando Giddens (1991:11), as sociedades modernas chegaram a um estado tal de modernidade que so obrigadas a reflectir sobre si mesmas e a desenvolver a capacidade de reflectir retrospectivamente sobre si mesma, uma vez que o que foi criado at ento s trouxe dilemas e problemas. o que Giddens (1991) denomina de Modernidade Reflexiva. O prprio poder da reflexividade do eu sobre si mesmo, torna-se seu inimigo neste caso, pois apesar de os indivduos estarem, como defende Stoer et alium, cada vez mais conscientes do seu processo de formao identitria e das suas possibilidades de intervir sobre ele (vide pgina 113), poder fazer com que o indivduo se deprima pela situao de excluso social que possa sentir neste caso em especfico relativo idade face ao mercado de trabalho.Assim, de salientar que a nossa liberdade que, a priori, julgamos to grande e vasta, passa ainda por muitos constrangimentos. Pois embora o indivduo saiba que livre, que um cidado do mundo, de uma aldeia global, no menos verdade que o mesmo indivduo sabe que fica reduzido ao papel que lhe conferido pela prpria sociedade: h uma luta interior muito forte entre os direitos que o indivduo sabe que possui e os limites que tem.Ento, e voltando ao meu caso em particular, surgem-me vrias inquietaes. Em primeiro lugar, estou a tirar o curso nesta altura da minha vida, na medida em que, pelas mais variadas razes, no tive oportunidade para o fazer antes. Por outro lado, penso tambm: e se precisar mesmo do trabalho, onde me conduzir esta falta? Invariavelmente ser precariedade do trabalho e, num caso mais extremo, pobreza. Perante esta situao, verifica-se, tal como j referi anteriormente, que o termo excluso e pobreza andam juntos, porm no so sinnimos. Poderei, assim, reflectir sobre o facto de ser ou no legtimo colocar a idade como um factor de seleco na admisso de pessoas para um determinado emprego. Na verdade, como se instituiu que a idade mxima para empregar algum a dos 35 anos? Isto significa que ter 36 anos ser-se velho? E eu, com 45 anos?ConclusoConcluo o meu ensaio com as mesmas inquietaes que tinha antes em relao idade como factor de excluso no mercado de trabalho. As pesquisas feitas e os autores consultados inegavelmente foram uma mais valia, elucidando-me conceitos e teorias. Infelizmente no me trouxeram mito conforto, pois vieram confirmar a minha incapacidade de agency para alterar esta situao. Deparo-me com um poder camuflado que rege as nossas vidas nos direitos mais fundamentais, como o sejam, neste caso, o direito ao trabalho.

Fiz pesquisas feitas nas mesmas fontes (jornais) em pases da Comunidade Europeia (como o www.elpais.com, www.figaro.fr e www.telegraph.com), em que no perfil do candidato a idade nem sequer mencionada como um requisito obrigatrio sendo, pelo contrrio, muito valorizada a vasta experincia profissional. curioso se pensarmos que os processos de Educao na Comunidade Europeia tendem para uma centralidade das orientaes, tendo em vista o desenvolvimento das sociedades como uma luta contra a excluso social. Estudos projectados pela Education at a Glance vm afirmar os efeitos positivos da qualificao, que mostra que aqueles com nveis de educao superiores tm maior probabilidade de participar no mercado de trabalho. Consciente de toda esta realidade, no posso deixar de ficar desiludida pelo trabalho que feito para melhorar a vida da toda a sociedade, mas depois permitido a quem tem poder, fazer as suas prprias leis. Se pensarmos na amplitude do termo excluso que engloba etnias, religies, raas, credos, minorias, sexo, deficincia, s para apontar alguns, e no questionando no meu perfil qualquer outra varivel a no ser a idade, veja-se como esta , per si, exclusora do mercado de trabalho.

Post scriptum: em anexo segue um texto com diferentes terminologias para o mesmo objecto que, ainda que grosseiramente, leva reflexo como os termos marginalizao e excluso so (?) sinnimos em analogia com outros do texto. Diferentes pocas e contextos ditam as terminologias.Referncias Bibliogrficas:

Livros * GIDDENS, Anthony (1990): As consequncias da modernidade, Lisboa, Celta Editora;* LAPOVETSKY, G. A era do vazio, pp. 9 11.* PAUGAM, Serge (1992): O debate em torno de um conceito: pobreza, excluso e desqualificao social;* STOER, R. Stephen, MAGALHES, Antnio, ROCHA, David (2204): Os Lugares da Excluso Social, So Paulo, Cortez;* TOURRAINE, Alan (1994) (1998): Uma viso crtica da Modernidade;Revistas* Civitas Revista de Cincias Sociais, Vol. 4, n 1 (2004);* Revista Cincia e Cultura; * Education at a glance: OECD indicators 2005Consultas on-line* Captulo 1 do texto O significado conceptual e real da excluso social , pesquisado no site http://www.ilo.org/ciaris/pages/portugue/frame/download/1.pdf" http://www.ilo.org/ciaris/pages/portugue/frame/download/1.pdf* www.icsw.org* www.elpais.com* www.figaro.fr* www.telegraph.com* www.portal.gov.pt* http://www.elton.com.br/FSDB/TI-FSDB-Esp-Texto1-Souza.pdf *, http://www.ilo.org/ciaris/pages/portugue/frame/r1-1.htm