Trabalho de Hanseniase

17
Introdução A hanseníase é uma doença infecciosa, crônica, causada por uma bactéria denominada micobaterium leprae, que atinge pessoas de todas as idades, principalmente aquelas na faixa etária economicamente ativa, tendo assim grande importância para a saúde pública, devido à sua magnitude e seu alto poder incapacitante. Conhecida pelo nome de Lepra durante sua história, a hanseníase é uma doença muito antiga, que tem uma terrível imagem na história e na memória da humanidade, pois desde tempos remotos tem sido considerada uma doença contagiosa, mutilante e incurável, ocasionando rejeição, discriminação e exclusão do doente na sociedade. As pessoas acometidas pela hanseníase foram confinadas e tratadas em leprosários durante muitos anos, o que deu origem ao estigma da doença e ao preconceito contra o doente. O estigma ligado à hanseníase ocorre desde tempos imemoráveis, sendo por isso uma condição complexa, que exige um processo de mudança gradativo através dos anos. Nesse sentido, muitas ações foram e ainda estão sendo desenvolvidas com o objetivo de amenizar esse estigma. Uma dessas ações foi a mudança do nome lepra para hanseníase, mas nem todos os países adotaram esta nomenclatura. O Brasil teve a iniciativa pioneira de substituir oficialmente o termo lepra por hanseníase, contribuindo para a redução do preconceito e o estigma que envolve a doença. 1

Transcript of Trabalho de Hanseniase

Page 1: Trabalho de Hanseniase

Introdução

A hanseníase é uma doença infecciosa, crônica, causada por uma bactéria denominada

micobaterium leprae, que atinge pessoas de todas as idades, principalmente aquelas na faixa

etária economicamente ativa, tendo assim grande importância para a saúde pública, devido à

sua magnitude e seu alto poder incapacitante.

Conhecida pelo nome de Lepra durante sua história, a hanseníase é uma doença muito

antiga, que tem uma terrível imagem na história e na memória da humanidade, pois desde

tempos remotos tem sido considerada uma doença contagiosa, mutilante e incurável,

ocasionando rejeição, discriminação e exclusão do doente na sociedade. As pessoas

acometidas pela hanseníase foram confinadas e tratadas em leprosários durante muitos anos, o

que deu origem ao estigma da doença e ao preconceito contra o doente. O estigma ligado à

hanseníase ocorre desde tempos imemoráveis, sendo por isso uma condição complexa, que

exige um processo de mudança gradativo através dos anos. Nesse sentido, muitas ações foram

e ainda estão sendo desenvolvidas com o objetivo de amenizar esse estigma. Uma dessas

ações foi a mudança do nome lepra para hanseníase, mas nem todos os países adotaram esta

nomenclatura. O Brasil teve a iniciativa pioneira de substituir oficialmente o termo lepra por

hanseníase, contribuindo para a redução do preconceito e o estigma que envolve a doença.

A transmissão da hanseníase se dá por meio de uma pessoa doente e sem tratamento,

que elimina os bacilos pelas vias áreas superiores, infectando outras pessoas suscetíveis.

Estima-se que somente uma parcela da população que entra em contato com a bactéria

manifeste a doença, que acomete principalmente a pele e os nervos periféricos, mas também

se manifesta de forma sistêmica, comprometendo articulações, olhos, testículos, gânglios e

outros órgãos. O diagnóstico da hanseníase é realizado essencialmente nos serviços de

Atenção Básica de Saúde, por meio do exame dermatoneurológico, com o objetivo de

identificar lesões ou áreas de pele com alteração de sensibilidade ou comprometimento de

nervos periféricos.

Grande esforço global tem sido empregado, sob orientação da Organização Mundial

de Saúde (OMS), com o objetivo de eliminar a hanseníase como problema de saúde pública.

Mesmo na atualidade, apesar dos significativos avanços, a hanseníase continua sendo uma

1

Page 2: Trabalho de Hanseniase

doença estigmatizante, que acarreta transtornos físicos e psicológicos às pessoas em

tratamento.

A hanseníase tem cura e o tratamento é extremamente eficaz quando são

diagnosticados os primeiros sintomas cedo. Quanto mais precoce for o tratamento mais seguro

e eficaz será a cura da doença, no entanto alguns fatores sociais colocam certa dificuldade

para as pessoas quanto ao conhecimento da doença, por falta de informação algumas pessoas

não chegam a procurar o tratamento precoce e deixa a doença evoluir causando vários danos

que às vezes chegam a ser irreparáveis, portanto alertar sobre o perigo da hanseníase e levar o

conhecimento sobre a doença a população é muito importante para a redução dos casos de

hanseníase no mundo.

Através deste trabalho nós iremos apresentar uma visão geral do que é a hanseníase,

sua ampla história no mundo antigo e contemporâneo, os principais ricos e danos que ela pode

causar ao individuo, as formas de transmissão da doença, o diagnóstico, prevenção e

tratamento, os aspectos epidemiológicos, fatores de risco e demais fatores importantes para

um bom conhecimento prévio sobre este mal que aflige a população mundial a milhares de

anos.

História

A Hanseníase parece ser uma das mais antigas doenças que acomete o homem,

existindo referências mais remotas datadas de 600 a.C, e precede da Ásia que, juntamente

com a África, podem ser consideradas o berço da doença.

Há relatos de casos desde os tempos bíblicos, com o nome de lepra, como era

conhecida antigamente e que, ao longo dos anos, se disseminou por todo o mundo,

inicialmente através dos movimentos das Cruzadas, peregrinações e, posteriormente, com os

processos de colonizações. Desta forma, tornou-se endêmica graças à associação de fatores

como as más condições de higiene, alimentação e moradia, originadas do rápido crescimento

da população e sua concentração no confinado espaço das cidades medievais e colônias.

Dos tempos bíblicos ao período moderno, a hanseníase foi descrita como uma

doença que causava horror por conta da aparência física do doente não tratado – lesões

2

Page 3: Trabalho de Hanseniase

ulcerantes na pele e deformidades nas extremidades e associada a estigma, os mais diversos.

Esta marca de desonra fisicamente presente nas feridas e nos membros desfigurados do

"leproso" e incorporada à sua identificação lançou a doença no lado mais obscuro da

sociedade. Ela significou, ainda, ao longo de anos, exclusão do convívio social devido à única

forma de tratamento existente até meados do século XX, que era o isolamento nos leprosários.

A criação dos leprosários em todo o mundo foi uma medida utilizada para tentar

conter a disseminação da doença, onde os pacientes eram isolados e obrigados a usar

vestimentas características que os identificassem e portar sinos ou matracas que alertassem as

pessoas sadias sobre sua aproximação. Entretanto, tais medidas não foram eficientes no

controle da doença, ao contrário, apenas contribuíram para aumentar o medo e o preconceito

contra seus portadores associados à imagem do pecado, das impurezas da alma e do castigo

divino, aumentando o estigma da doença.

Ao longo dos anos, a Hanseníase começou a diminuir gradativamente em todo o

mundo devido, provavelmente, à melhoria das condições de vida da população com relação

aos aspectos sanitários e socioeconômicos, havendo a necessidade inclusive de mudança dos

esquemas terapêuticos e dos hábitos de confinamento. Além disso, a adoção de novas

políticas voltadas para a educação em saúde, acompanhamento de comunicantes e aplicação

da BCG, detecção de casos novos, tratamento dos doentes e prevenção de incapacidades

físicas que a doença pode causar, favoreceram a sua redução de casos.

Aspectos epidemiológicos

A Hanseníase é causada pelo M. leprae, ou bacilo de Hansen, nome dado em

homenagem ao pesquisador que o descobriu em 1873, o médico norueguês Gerhard Henrik

Amauer Hansen. Trata-se de um parasita intracelular obrigatório que se aloja principalmente

nas células de Schwann e na pele. Seu longo período de incubação – 2 a 7 anos – e sua

reprodução lenta resultam em uma evolução clínica insidiosa da doença, que se manifesta

principalmente através de lesões na pele e nos nervos periféricos, principalmente nos olhos,

mãos e pés.

3

Page 4: Trabalho de Hanseniase

O contágio dá-se por contato direto com o indivíduo não tratado, através da eliminação

dos bacilos pelas vias aéreas superiores do trato respiratório. Deve-se, portanto, haver um

contato íntimo, prolongado e uma predisposição para adquirir a doença. Sendo assim, a

Hanseníase pode atingir pessoas de todas as idades, de ambos os sexos, no entanto, raramente

em crianças. Observa-se uma maior incidência da doença nos homens do que nas mulheres,

na maioria das regiões do mundo. Admite-se que as vias aéreas superiores constituem a

principal porta de entrada e via de eliminação do bacilo. A pele erodida, eventualmente, pode

ser porta de entrada da infecção. As secreções orgânicas como leite, esperma, suor, e secreção

vaginal, podem eliminar bacilos, mas não possuem importância na disseminação da infecção.

Embora a hanseníase hoje se mantenha nos países mais pobres e nestes nos estratos de

população menos favorecidos, não se sabe ao certo o peso de variáveis como moradia, estado

nutricional, infecções concomitantes (HIV e malária), e infecções prévias por outras

microbactérias. O papel de fatores genéticos tem sido avaliado há muito tempo, a distribuição

da doença em conglomerados, famílias ou comunidades com antecedentes genéticos comuns

sugere esta possibilidade.

A prevalência (casos em registro) tem declinado no mundo e a meta de eliminação

vem sendo alcançada em vários países. O número de casos novos registrados no ano tem se

mantido estável, mostrando que muitos casos novos irão surgir nos próximos anos. Outro

aspecto que preocupa é a prevalência oculta, definida como os casos novos esperados que não

esteja sendo diagnosticados ou o são tardiamente. Enquanto a doença se torna mais rara em

alguns países ou regiões, quinze países com mais de 1 milhão de habitantes foram

considerados endêmicos pela Organização Mundial da Saúde ao final de 2000. No mundo

existiam 597.232 casos registrados, e foram diagnosticados 719.330 casos novos.

Para se combater a doença, é prioritário que o diagnóstico seja feito o mais

precocemente possível, antes da instalação das incapacidades físicas e da eliminação de

bacilos, o que possibilita a cura do paciente sem seqüelas físicas e interrompe a cadeia

epidemiológica da infecção. Cerca noventa por cento (90%) da população tem resistência ao

bacilo de Hansen (M. leprae), e conseguem controlar a infecção. As formas contagiantes são a

virchowiana e a dimorfa. Nem toda pessoa exposta ao bacilo desenvolve a doença, apenas

cerca de 5%. Acredita-se que isto se deva a múltiplos fatores, incluindo a genética individual.

Indivíduos após 15 dias de tratamento ou já curados não transmitem mais a doença.

4

Page 5: Trabalho de Hanseniase

Sintomas

Os sintomas mais freqüentes nos casos de Hanseníase são o aparecimento de

manchas hipocrômicas, com alteração de sensibilidade e presença de cãibras, formigamentos,

choques, que evoluem para dormência; formação de pápulas, infiltrações, tubérculos e

nódulos, normalmente sem sintomas; diminuição ou queda de pêlos, localizada ou difusa,

especialmente nas sobrancelhas e falta ou ausência de sudorese no local. Além destes, outros

sintomas menos comuns podem ser perceptíveis como: dor e/ou espessamento de nervos

periféricos; diminuição e/ou perda de sensibilidade nas áreas dos nervos afetados, edema de

mãos e pés; febre e artralgia; entupimento, feridas e ressecamento de nariz; mal estar geral e

ressecamento dos olhos.

A hanseníase pode ser classificada em quatro formas clínicas deiferentes:

Indeterminada é a forma inicial, caracterizada por uma ou poucas lesões hipocrômicas

e planas, sem espessamento de nervos;

Tuberculóide resulta da evolução da doença em indivíduos não tratados que

apresentam resistência natural ao bacilo. É caracterizada por lesões limitadas, em

placa, com a presença de pápulas (tubérculos), podendo haver o comprometimento de

nervos;

Virchowiana é conseqüência do desenvolvimento da doença em indivíduos não

tratados que não apresentam resistência ao M. leprae. Apresenta manchas eritematosas

e infiltradas, de limites imprecisos, podendo surgir pápulas, tubérculos, infiltrações em

placas e lesões circunscritas denominadas hansenomas. Geralmente apresentam

comprometimento neural lento e insidioso;

Dimorfa apresenta características transitórias entre as formas tuberculóide e

virchowiana, com lesões neurais importantes.

Diagnóstico

O diagnóstico da hanseníase é realizado através do exame clínico, quando se busca os

sinais dermatoneurológicos da doença. É feito através do exame físico onde procede-se uma

avaliação dermatoneurológica, buscando-se identificar sinais clínicos da doença. Antes,

porém, de dar-se início ao exame físico, deve-se fazer a anamnese colhendo informações

5

Page 6: Trabalho de Hanseniase

sobre a sua história clínica, ou seja, presença de sinais e sintomas dermatoneurológicos

característicos da doença e sua história epidemiológica, ou seja, sobre a sua fonte de infecção.

O roteiro de diagnóstico clínico constitui-se das seguintes atividades:

• Anamnese - obtenção da história clínica e epidemiológica;

• avaliação dermatológica - identificação de lesões de pele com alteração de sensibilidade;

• avaliação neurológica - identificação de neurites, incapacidades e deformidades;

• diagnóstico dos estados reacionais;

• diagnóstico diferencial;

• classificação do grau de incapacidade física.

Para definir-se como caso de Hanseníase, a pessoa deverá estar apresentando no

momento da consulta médica, um ou mais critérios listados a seguir, com ou sem história

epidemiológica, sendo: lesão(ões) de pele com alteração de sensibilidade; espessamento do(s)

nervo(s) periférico(s); acompanhamento de alteração de sensibilidade; e baciloscopia positiva

para o bacilo de Hansen.

O diagnóstico da Hanseníase é feito através do exame físico, onde é realizada uma

avaliação dermatológica que visa identificar lesões na pele com alterações da sensibilidade

térmica, dolorosa ou tátil, típicas da Hanseníase. Faz-se também a avaliação neurológica que

consiste na inspeção dos olhos, nariz, mãos e pés, palpação dos troncos nervosos periféricos,

avaliação da força muscular e avaliação de sensibilidade nos olhos, membros superiores e

inferiores. A palpação dos nervos periféricos tem o objetivo de verificar se há espessamento

dos nervos que inervam os membros superiores e inferiores, visando prevenir lesões neurais e

conseqüentes incapacidades.

A Hanseníase pode ser confundida com outras doenças dermatológicas ou

neurológicas, que apresentam sinais e sintomas semelhantes aos seus. Portanto, o profissional

médico, deve fazer o diagnóstico diferencial em relação a essas doenças. Exames diagnósticos

como baciloscopia e reação de Mitsuda devem ser realizados como forma complementar ao

exame clínico.

De acordo com o número de lesões que o portador de Hanseníase apresenta, ele

pode ser classificado operacionalmente sob duas formas, para fins de tratamento específico,

sendo:

6

Page 7: Trabalho de Hanseniase

Paucibacilares(PB) , onde o indivíduo apresenta até cinco lesões cutâneas,

representando o estágio não transmissível da doença e;

Multibacilares(MB), onde o indivíduo apresenta mais de cinco lesões, estes pacientes

são considerados de alto poder de transmissão e da forma de disseminação da doença.

Tratamento

A hanseníase tem cura. O tratamento é feito nas unidades de saúde do SUS e é

gratuito. A cura é mais fácil e rápida quanto mais precoce for o diagnóstico. O tratamento é

por via oral, constituído pela associação de dois ou três medicamentos.

O tratamento da Hanseníase é ambulatorial, padronizado pela OMS e indicado

pelo Ministério da Saúde, feito através da Poliquimioterapia, constituída de rifampicina,

dapsona e clofazimina acondicionados em quatro tipos de cartelas, com a composição e

esquemas terapêuticos prescritos de acordo com a classificação operacional de cada caso.

O esquema de tratamento para os pacientes com poucas lesões é constituído por

uma dose mensal de rifampicina e doses diárias auto-administradas de dapsona, com duração

de 6 doses mensais. Já o esquema com pacientes com muitas lesões consiste em uma dose

mensal de rifampicina e doses diárias auto-administradas de dapsona e clofazimina, em um

total de 12 doses mensais. Em alguns casos, pacientes em tratamento com a doença muito

avançada necessitam de varias doses adicionais.

Os pacientes em tratamento devem possuir agenda de consultas de rotina a cada 28

dias para receberem, além das orientações e avaliações, a administração da dose

supervisionada e nova cartela com os medicamentos para doses auto-administradas no

domicílio.

Prevenção

É importante que se divulgue junto à população os sinais e sintomas da doença e a

existência de tratamento e cura, através de todos os meios de comunicação. A prevenção

consiste no diagnóstico precoce de casos e na utilização do BCG. Para tal recomenda-se o

7

Page 8: Trabalho de Hanseniase

exame dermato-neurológico de todos os contatos intra-domiciliares do caso diagnosticado.

Considera-se os conviventes do domicílio nos últimos cinco anos. Depois do exame clínico o

contato será encaminhado para a aplicação da BCG por via intradérmica. Os contatos sem

cicatrizes prévias receberão duas doses de BCG, com intervalo de seis meses entre elas.

Aqueles com uma cicatriz irão receber uma dose da BCG.

A partir do diagnóstico de um caso de hanseníase deve ser feito de imediato a

investigação epidemiológica de todo caso novo objetivando romper a cadeia epidemiológica

de transmissão da doença. Deve-se procurar identificar a fonte de contágio do doente,

descobrir novos casos de hanseníase entre os conviventes no mesmo domicílio e realizar

exame dos contatos intradomiciliares (toda e qualquer pessoa que resida ou tenha residido

com o doente nos últimos cinco anos). Esta ação é justificada pelo fato de que elas apresentam

um maior risco de adoecerem do que a população em  geral.

As pessoas que tiveram contato com portadores da hanseníase devem receber

informações sobre a doença e serem informados da necessidade de ficarem atentos ao

aparecimento de sinais e sintomas, visando fazer um diagnóstico precoce

Caso Clínico

Paciente do sexo feminino, 39 anos, parda, natural e procedente de Fortaleza, foi

atendida em posto de saúde, queixando-se de “feridas” no corpo, ha cerca de dois anos,

surgindo como pequenos “caroços” e prurido disseminado. Foi medicada com

dexclorfeniramina e creme de betametasona com gentamicina, Havendo melhora parcial do

quadro. Apos o período de uso da medicação, a paciente engravidou e apresentou recaída com

aparecimento de inúmeras lesões pruriginosas disseminadas. Diante do quadro, fez uso de

benzoato de benzila, itraconazol, dexclorfeniramina e creme de betametasona com

gentamicina, porem sem melhora clinica. Em novembro de 2006, foi então encaminhada ao

Centro de Referencia Nacional em Dermatologia Sanitária Dona Libania para elucidação

diagnostica.

Ao exame dermatológico, apresentava inúmeras lesões papulosas violáceas em tronco

e membros, sendo algumas eritematosas e outras escoriadas). Sugeriram se como hipóteses

diagnosticas: sífilis, líquen plano e hanseníase. Foram realizados hemograma, prova de função

8

Page 9: Trabalho de Hanseniase

hepática e renal, baciloscopia e exame histopatológico em coxa direita e coxa esquerda.

Hemograma, VDRL, provas de função hepática e renal não mostraram alterações patológicas.

O índice baciloscopico foi de 4,75. O exame histopatológico de ambas as coxas revelou

dermatite crônica linfohistiocitaria perivascular e perianexial, com pesquisa de BAAR,

revelando numerosos bacilos e globias no processo inflamatorio, configurando hanseníase

borderline. Clinicamente, caracterizada por hanseníase borderline virchowiana. Foi iniciada a

poliquimioterapia com dapsona, clofazimina e rifampicina, como preconizado pela OMS. A

paciente apresentou regressão parcial do quadro clinico, apos a quarta dose do tratamento.

Não houve reação arsênica.

DISCUSSÃO

A hanseníase pode se manifestar de diversas formas clinicas, e o seu diagnostico se

baseia, fundamentalmente, no surgimento de lesões cutâneas, com perda da sensibilidade

(térmica, dolorosa e táctil), espessamento neural e baciloscopia positiva.6 Na pele, a doença

apresenta um polimorfismo de lesões em que variam, desde manchas, papulas, placas e

nódulos ate infiltração difusa, dependendo da resposta imunológica do individuo.

No relato, a paciente apresentou lesões papulosas violáceas, pruriginosas, em tronco e

membros, de aspecto liquenoide, nas quais não são características da hanseníase. Através da

baciloscopia e do exame histopatológico, foi confirmado o diagnostico de hanseníase

borderline, o que nos mostra a variedade de apresentações clinicas da doença.

O termo erupcao liquenoide se refere a lesoes papulosas, presentes em determinadas

desordens de pele, no qual o líquen plano e o protótipo. As papulas são brilhantes, achatadas,

poligonais, de diferentes tamanhos e ocorrem em grupos, criando um padrão que se assemelha

ao líquen, crescendo em rochedos. O histopatológico e caracterizado por hiperqueratose,

aumento focal da camada granulosa, acantose em dentes de serra, degeneração hidrópica da

camada basal e infiltrado linfocitário, em faixa na derme papilar

Conclusão

A hanseníase por muito tempo foi sinal de segregação social e preconceito, levando as

pessoas portadoras da doença a sofrer em todos os pontos, tanto no corpo como na alma, a

9

Page 10: Trabalho de Hanseniase

falta de tratamento na antiguidade fez os doentes levarem uma vida de extremo sofrimento e

dor física e emocional, sem esperanças de uma cura ou vida melhor, essas pessoas sofriam

durante a vida isolados esperando a morte chegar para lhes trazer o descanso e paz.

Com a evolução dos tratamentos de saúde trouxe uma cura simples e eficaz para uma

doença que era vista como mortal e extremamente temida por todos os povos, assim essas

pessoas puderam em fim ter esperança de uma vida melhor e a hanseníase deixou de ser vista

como uma doença extremamente perigosa e temida. Em todos os países desenvolvidos e em

grande parte dos países em desenvolvimento, a hanseníase não é um problema tão grave para

a população e o governo, porem em países subdesenvolvidos, onde há miséria e falta quase de

tudo, incluindo a saúde, a hanseníase ainda se propaga como antigamente, quando ainda não

existia nenhum tipo de tratamento eficaz, causando muita dor e sofrimento nas populações

carentes.

Em países em desenvolvimento como no Brasil, os casos de hanseníase que avançam

causando grandes danos aos doentes somente ocorrem por causa da falta de informação das

pessoas, principalmente as mais carentes, mesmo que os governos disponibilizem o

tratamento gratuito, as pessoas não procuram o tratamento precocemente, ou acabam

procurando por tratamentos caseiros, por causa da grande semelhança da hanseníase com

outras doenças de peles comuns ou alergias, deixando a doença evoluir até causar grandes

danos ao seu corpo e sua saúde, o que poderia facilmente evitado se elas tivessem um mínimo

de informação e conscientização sobre a doença.

Por fim, os países devem investir em campanhas de prevenção e conscientização sobre

a hanseníase, para que um povo bem informado possa procurar um atendimento de saúde

profissional precocemente, evitando a proliferação da doença.

Referencias:

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Políticas de Saúde. Guia para o Controle da Hanseníase. Brasília: Ministério da Saúde; 2002.

ARAUJO, Marcelo Grossi. Hanseníase no Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. [online]. 2003, vol.36, n.3, pp. 373-382. ISSN 0037-8682. doi: 10.1590/S0037-86822003000300010.

10

Page 11: Trabalho de Hanseniase

NUNES, Joyce Mazza; OLIVEIRA, Eliany Nazaré and VIEIRA, Neiva Francenely Cunha. Hanseníase: conhecimentos e mudanças na vida das pessoas acometidas. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2011, vol.16, suppl.1, pp. 1311-1318. ISSN 1413-8123. doi: 10.1590/S1413-81232011000700065.

ENDONCA, Vanessa Amaral et al. Imunologia da hanseníase. An. Bras. Dermatol. [online]. 2008, vol.83, n.4, pp. 343-350. ISSN 0365-0596. doi: 10.1590/S0365-05962008000400010.

BEIGUELMAN, Bernardo. Genética e hanseníase. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2002, vol.7, n.1, pp. 117-128. ISSN 1413-8123. doi: 10.1590/S1413-81232002000100011.

QUEIROZ, Marcos S.. Hanseníase: representações sobre a doença. Cad. Saúde Pública [online]. 1995, vol.11, n.4, pp. 632-634. ISSN 0102-311X. doi: 10.1590/S0102-311X1995000400016.

BRANDAO, Paula. Assistência ao portador de Hanseníase. Rev. bras. enferm. [online]. 2008, vol.61, n.spe, pp. 782-783. ISSN 0034-7167.

SOUSA, Antônio Renê Diógenes de et al. Hanseníase simulando erupção liquenóide: relato de caso e revisão de literatura. An. Bras. Dermatol. [online]. 2010, vol.85, n.2, pp. 224-226. ISSN 0365-0596. doi: 10.1590/S0365-05962010000200014.

11