Trabalho de Mídias locais - Sergio Bonato

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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC- Rio) Mídias locais - Sergio Bonato

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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio)

Mídias locais - Sergio Bonato

Abril 2014

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O filme “À margem da imagem”, dirigido por Evaldo Mocarzel, discorre sobre a

população de rua brasileira. Neste grupo, incluímos viciados em drogas,

desempregados e até trabalhadores que vivem, principalmente, de bicos. Em vez de

ouvir sociólogos, políticos e outros especialistas, o documentário de Mocarzel opta

por dar voz aos moradores de rua.

Durante o longa-metragem, percebemos as condições sub-humanas nas quais as

pessoas vivem. Esses brasileiros têm de se alimentar com restos de comida que estão

na lixeira, tomando banho em águas contaminadas e dormindo em lugares perigosos,

na rua. É gente como o líder indígena Galdino Jesus dos Santos, queimado vivo por

cinco jovens de classe média-alta de Brasília, enquanto dormia em um abrigo de um

ponto de ônibus em 20 de abril de 1997.

Há, ainda, a crítica àqueles que ganham dinheiro com a imagem de pessoas

miseráveis, sem o pagamento de dinheiro algum, ou mesmo satisfação do trabalho

feito. O fotógrafo Sebastião Salgado é citado no documentário. Uma mulher conta

que, certa vez, o profissional teria chegado próximo a ela e, sem cumprimentar, pedir

ou conversar, começou a fotografar. Incomodada com a atitude, ela teria ouvido como

resposta que ele tinha autorização para fotografar no local.

A equipe de Mocarzel adota, portanto, outro comportamento. Eles dão uns trocados

aos moradores de rua que aceitam dar depoimento para o longa-metragem. Quando o

filme estava praticamente pronto, a equipe convidou os personagens para assistir à

edição do filme num sala de cinema. Depois, algumas mudanças foram feitas para

agradar àquelas pessoas, como a inserção da música no começo do filme.

No documentário, percebe-se alguns problemas que atrapalham a melhoria na

qualidade de vida no Brasil. Entre eles, estão a educação, o déficit habitacional e a

concentração econômica. A educação é um dos principais motivos para o país

continuar sendo sinônimo de desigualdade social. Não, de fato, o Brasil não é um país

de todos. Milhões de brasileirinhos nascem sem moradia, sem saneamento básico,

sem saúde, sem acesso a transporte público de qualidade, sem conhecer direitos e

deveres e, é claro, sem educação.

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Outro problema é o déficit habitacional no país, fortemente relacionado à

concentração econômica. Os estados São Paulo e Rio de Janeiro e, principalmente, as

capitais de ambos atraem brasileiros, principalmente, do Norte e do Nordeste, a fim de

se mudar em busca de emprego. Segundo o Censo de 2010, mais de 11 milhões de

pessoas vivem no município São Paulo, enquanto por volta de seis milhões moram no

município do Rio de Janeiro. Se há demanda no local, mais mão de obra vai para lá.

Se há demanda no local é porque estão investimento lá. E cadê o investimento nas

cidades do interior e nas regiões do Norte, Nordeste e Centro-Oeste? Por lá faltam

investimentos públicos em itens básicos – transporte, saneamento, saúde, educação

etc – tanto para atender à população local quanto para atrair empresas que possam se

instalar no município e oferecer empregos.

O investimento acaba focando, principalmente, nas capitais do Brasil e nas regiões

Sul e Sudeste. Isso faz com que brasileiros deixem as cidades natais, muitas vezes

menos desenvolvidas, para morar num município com mais desenvolvido socialmente

e economicamente.

Uma das consequências disso é o déficit habitacional. Se mais de seis milhões de

pessoas querem morar no Rio, logicamente não há e nunca haverá espaço para todos.

Daí muitos acabam se instalando em lugares ilegais e perigosos, como as favelas. O

transporte público passa a não fluir. Outros problemas aparecem. Enquanto isso, os

municípios abandonados tanto pelos brasileiros quanto pelo poder público e pelas

empresas têm espaços aos montes e carecem de atenção.

Vamos remover as favelas, como fez o ex-governador do Rio Carlos Lacerda? Não. A

solução é criar regiões mais atraentes para provocar, espontaneamente, a saída dessa

população. E, antes de fazer qualquer movimento, o governo precisa planejar, ou seja,

pensar onde essas pessoas vão morar e montar a infraestrutura. Afinal, moradia, saúde

e educação são direitos básicos, assegurados pela Constituição Cidadã (1988).

Se compararmos o Brasil com a Alemanha, vemos uma grande diferença quanto à

dispersão populacional. Sã as mais ricas por aqui: São Paulo (Sudeste), Rio de Janeiro

(Sudeste), Brasília (Centro-Oeste). Em ordem, o PIB nominal dos três é R$

477.005.597.000, R$ 209.366.429.000 e R$ 164.482.129.000. O quarto lugar seria

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ocupado por Curitiba, cujo PIB nominal menos de três vezes menor que o de Brasília,

uma diferença bem grande.

Já na Alemanha, a capital, Berlim, é distante do município com o maior aeroporto do

país e conhecida pela economia, Frankfurt. Ambos ficam, levando em conta o

tamanho do território alemão, longe da turística Munique. Os três também não são

próximos ao município portuário, Hamburgo.

As universidades mais reconhecidas estão muitas vezes em cidades pequenas, como

Tuebingen (mas não tão longe de Stuttgart), Darmstadt (mas não tão longe de

Frankfurt) e Aachen (na fronteira com a Bélgica e os Países Baixos). No Brasil, todos

os universitários querem estudar na USP, na UnB ou na UFRJ, já que só por lá

encontram algum infraestrutura, emprego e ensino de qualidade. É mais uma etapa

para chegarmos ao ciclo vicioso da concentração econômica!