Trabalho do Renascimente

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Renascimento Mentalidade e Arte Índice Introdução Página 2 Contexto Histórico Página 3 Mentalidade Páginas 4 e 5 Ideais do Humanismo Páginas 6 e 7 A matematização do real Página 8 Reinvenção das formas antigas Clássicas: Imitação e superação dos modelos da Antiguidade Página 9 Urbanismo Renascentista Páginas 10 e 11 Arte Páginas 12 a 18 Arte Renascentista em Portugal Páginas 19 a 21 Literatura Renascentista Página 22 Música Renascentista Página 23 Conclusão Página 24 1

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Renascimento

Mentalidade e Arte

Índice

Introdução Página 2Contexto Histórico Página 3Mentalidade Páginas 4 e 5Ideais do Humanismo Páginas 6 e 7A matematização do real Página 8Reinvenção das formas antigas Clássicas: Imitação e superação dos modelos da Antiguidade

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Urbanismo Renascentista Páginas 10 e 11Arte Páginas 12 a 18Arte Renascentista em Portugal Páginas 19 a 21Literatura Renascentista Página 22Música Renascentista Página 23Conclusão Página 24

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Renascimento

Mentalidade e ArteIntrodução

O Renascimento constitui um período de mudança e redescoberta, como a própria designação indica, tanto a nível intelectual como artístico. A polivalência característica aos indivíduos desta época fez com que se formasse uma nova mentalidade que em nada pode ser comparada ao pensamento medieval.

A nova mentalidade, aliada ao desejo de inovar e superar as formas e modelos Antigos, levaram ao renascimento e aperfeiçoamento das várias formas de arte. Neste período surgiram inovações que até então nunca se tinha imaginado serem possíveis. Neste trabalho faremos uma viagem até estes novos ideais, partindo à descoberta do Passado sem o qual não seríamos o que somos hoje.

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Renascimento

Mentalidade e Arte

Contexto Histórico

Introdução ao Renascimento

Renascimento é o nome dado ao período dos séculos XV e XVI. Fundamentado no conceito de que o homem é a medida de todas as coisas, significou um retorno às formas e proporções da antiguidade greco-romana. Este movimento artístico manifestou-se inicialmente na Itália, mais precisamente em Florença, cidade que por essa altura era já um estado independente e um dos centros comerciais mais importantes do mundo.

Em poucos anos, o renascimento difundiu-se pelas demais cidades italianas e, nos finais do século XV, pelo resto do continente europeu, expansão denominada de Renascimento Clássico. As bases desse movimento eram proporcionadas por um novo ideal filosófico, o humanismo, que descartava a escolástica medieval e propunha o retorno às virtudes da antiguidade.

Não tardou muito até que o espírito da antiga filosofia clássica inundasse as cortes da nova aristocracia burguesa. O cavalheiro renascentista deve agora ser versado em todas as disciplinas artísticas e científicas, como recomenda um dos livros fundamentais da época, O Cortesão, de Baldassare Castiglione.

Imbuídas desse espírito, as famílias abastadas não hesitaram em atrair para seu mundo artistas de grande renome, aos quais deram seu apoio, tornando-se seus mecenas. Músicos, poetas, filósofos, escultores, pintores, ourives e arquitectos saíram do anonimato imposto pelo período medieval e viram crescer seu nome e sua fama, juntamente com a de seus clientes.

Foi graças ao reformador Lutero e às universidades, por intermédio do estudo das ciências exactas e da filosofia, que se difundiram as ideias da época. Nos finais do século XV, chegava de Espanha a notícia da descoberta de um novo continente, a América, facto que mudaria a fisionomia do mundo para sempre. O homem distanciava-se, assim, de modo definitivo, do período medieval para ingressar na modernidade.

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Mentalidade e Arte

Mentalidade

No centro da transformação intelectual renascentista encontra-se a passagem de uma mentalidade teocêntrica medieval, que colocava Deus no centro da reflexão humana, a uma mentalidade antropocêntrica, a qual tinha o homem como centro de tudo. Esta proposta correspondia a um reconhecimento e a uma crença optimista nas capacidades e no valor do ser humano, contrapondo-se à visão medieval do mundo.

Os intelectuais do Renascimento são conhecidos pelo nome de humanistas. Apaixonados pelos textos gregos e latinos, absorveram os seus valores antropocêntricos, fazendo da cultura antiga um instrumento formativo da personalidade humana. Estes homens de vasto saber procuravam viver intensamente a vida terrena, com um grande desejo de fama e glória, interessando-se cada vez mais por si próprios – individualismo. Procuravam o modelo de “Homem Ideal”, que passava por uma educação completa de boa formação cívica, intelectual e física. Nessa formação era essencial o estudo do latim e do grego, para que fosse possível compreender as obras dos autores clássicos.

O interesse pela cultura clássica está fortemente ligado ao facto de o Renascimento ter tido início em Itália, uma vez que nesse país os vestígios das antigas civilizações eram mais evidentes do que no resto do continente europeu.

A redescoberta da antiguidade passou em grande parte pelo trabalho de tradução, comentário e divulgação de autores clássicos e pela sua adopção como modelos. Aos eruditos que se empenharam nesta tarefa, e que constituíram uma rede de contactos a nível internacional, dá-se o nome de humanistas. Entre os humanistas mais célebres encontram-se Erasmo de Roterdão, Nicolau Maquiavel e Thomas More. O primeiro e o último levaram a cabo um importante trabalho de crítica social e política das sociedades em que viviam; Maquiavel é autor de uma obra fundamental sobre política.

No entanto, não só o homem se encontrava no centro das preocupações renascentistas: também a natureza era objecto de conhecimento. O saber renascentista assentava numa mentalidade racionalista, ou seja, só se considerava válido o conhecimento que,

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Mentalidade e Artecomprovado pela observação e pela experiência humana, pudesse ser explicado de forma racional e inteligível.

Assim, os autores antes considerados como autoridades indiscutíveis (Ptolomeu e Aristóteles, por exemplo) eram agora postos em causa. Neste processo tiveram grande importância as viagens de descoberta, que muito contribuíram para desfazer algumas ideias erradas, tanto de geografia, como acerca dos povos, da fauna e flora de outros locais até então desconhecidos. Tratava-se, acima de tudo, de aplicar o espírito crítico do homem ao mundo e aos saberes acumulados até à altura, e ainda ao desenvolvimento de novos conhecimentos.

Mentalidade

Os caminhos abertos pelos humanistas

Os intelectuais dos séculos XV e XVI viveram momentos únicos de descoberta. Descoberta do mundo que se lhes abria de par em par ao ritmo do reconhecimento geográfico; da natureza e das suas leis; das velhas memórias dos Gregos e Romanos, dos seus escritos e do seu pensamento; de si próprios.

Este Classicismo teve origem nas cidades italianas que, tendo reconquistado a sua autonomia e animadas por um forte impulso de progresso, procuraram nas suas origens a fonte de inspiração e o património cultural para dar resposta às suas aspirações e ideais.

A Antiguidade não fora, de modo algum, esquecida, e, ao longo de centenas de anos, serviu de fonte de inspiração aos intelectuais de diferentes áreas. Grande parte do legado romano sobreviveu graças ao esforço do homem medieval e das instituições eclesiásticas. Embora não dessem grande uso a essa herança, as elites culturais medievais tinham consciência do seu valor. O Ocidente medieval não esquecera antigos feitos, mas a ideia que se fazia desse passado correspondia a uma imagem transfigurada, revestida com as suas próprias roupagens e valores.

A novidade do trabalho dos humanistas está na procura da verdadeira Antiguidade. Seguindo o exemplo de Petrarca, surgiram novos pesquisadores e coleccionadores de obras romanas, procuradas e guardadas com paixão.

No entanto, a Antiguidade não foi apenas romana; grande parte do seu legado encontrava-se escrito em grego, língua que, no Ocidente, poucos dominavam, embora o seu conhecimento fosse

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Mentalidade e Arteimprescindível para o acesso directo aos escritos de autores silenciados há séculos, como Homero e Platão.

A conquista de Constantinopla, em 1453, e a consequente fuga de muitos intelectuais para Itália, acabariam por reforçar o interesse pela língua e pelas obras dos antigos autores gregos.

Esta valorização da antiguidade grega fez-se também sentir no seio da Igreja Católica Romana. O papa Nicolau V fundou a Biblioteca do Vaticano, enriquecendo-a com grande número de títulos gregos.

Ideais do Humanismo

Individualismo

O Renascimento conheceu a promoção do individualismo. Nos palácios e nas cortes, as elites cortesãs e burguesas sobressaíam pelo luxo, pelas maneiras, pelos talentos culturais. Especialmente apreciados foram os intelectuais e os artistas, que mereceram as maiores honras e justificaram o mecenato.

É comum dizer-se que no Renascimento se redescobriu o homem e se colocou o mesmo no centro do mundo. Esta definição atribui-se a um conceito designado de antropocentrismo.

Por individualismo entende-se uma corrente doutrinal que faz sobressair as características individuais do ser humano, bem como as suas potencialidades, sobrevalorizando, deste modo, o papel do indivíduo na sociedade.

Espírito Crítico

A paixão do homem do renascimento pelo mundo greco-romano expressa a sua oposição a um mundo de valores tidos como envelhecidos e inadequados às suas aspirações e ideais. A convicção de que se vivia uma Era nova e a vontade de afirmar a modernidade

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Mentalidade e Arteem relação a uma época considerada obscura e bárbara, a idade Média, estimularam nas elites mais cultas um forte espírito crítico, geralmente associado à sociedade. Com efeito, desde o século XV que os principais humanistas europeus fazem criticas implacáveis à corrupção moral, à ignorância e à hipocrisia da sociedade e poderes instituídos. O melhor exemplo desta ousadia intelectual é-nos dado por Erasmo de Roterdão.

Racionalismo e Utopia

A valorização da experiência e do processo de descoberta do Homem levou a que o papel dos humanistas não se limitasse apenas à denúncia dos erros da sociedade. O regresso às fontes antigas encorajou também a clarificação da ideia de progresso através da comparação da realidade aos ideais de uma sociedade perfeita. Surgem assim as utopias, descrições de modelos de sociedades organizadas segundo princípios diferentes daqueles que vigoram no mundo real.

Trata-se de um género literário que floresceu na época do renascimento, cuja designação provém da obra de Thomas More, A Utopia. Esta obra inovadora expressa a contradição entre a visão optimista das possibilidades do homem e as suas aspirações e as duras realidades do quotidiano. Inspirada na República de Platão, a obra descreve um Estado Ideal, assente numa organização comunitária. Na ilha imaginária de Utopia, a riqueza era distribuída de forma equitativa, pelo que não havia nem pobres, nem ricos. Para além disto, todas as injustiças e questões políticas, sociais, económicas e religiosas eram resolvidas de forma pacífica e racional, pelos vários membros da sociedade.

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A matematização do real

O aumento do número das viagens e do intercâmbio de cultura levou a que houvesse um despertar da curiosidade acerca de pormenorização da natureza, da diversidade da fauna, do clima, entre outros aspectos, que influenciaram a formação de uma nova mentalidade. Esta mentalidade foi marcada por três importantes fenómenos:

As descobertas, que levaram à necessidade de compreender e encontrar respostas para os novos problemas;

A afirmação de um Estado moderno, centralizado e burocratizado, com novas necessidades, com a invenção dos recursos humanos e materiais;

A inserção de actividades mercantis e de técnicas comerciais, bancárias e contabilistas que estão associadas à mesma.

Deste modo, o Estado e a sociedade são levados a calcular, a apreciar o rigor e a exactidão, o que levou a uma valorização dos

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Mentalidade e Artenúmeros, da medida, do cálculo, ou seja, uma mentalidade quantitativa. Esta mentalidade tornou tudo mensurável, quantificável, até o próprio tempo.

Documento: A mentalidade quantitativaA formação de mentalidade quantitativa nos séculos XV e XVI

prende-se a duas ordens de razões. Por um lado, é a progressiva construção do Estado moderno, substituindo os laços de dependência pessoal e passando do momentâneo, do ocasional, para o duradouro, para o permanente. Enumeramos três pontos:

a) a mobilização militar para a construção de exércitos permanentes (…);

b) a tributação, com impostos gerais e permanentes substituindo as rendas do domínio real, de modo a que o Estado disponha dos recursos necessários às funções administrativas e outras, bem como às crescentes despesas com a guerra;

c) a contabilidade dos vários serviços e a contabilidade geral pública, sem as quais não poderiam funcionar as hierarquias burocráticas e os diferentes órgãos do Estado: armazéns, capitanias, tribunais, etc.

Por outro lado, durante estes dois séculos, desenvolve-se e enraíza-se a economia de mercado, principalmente monetária (…). Quer dizer que os agentes da vida económica vão pensar cada vez mais em termos de quantidades, preços, custos, valores e stocks de moedas (…). O Estado e a sociedade são levados a calcular, e assim o número, a mentalidade quantitativa vai impregnando, pelas finanças públicas, pela contabilidade dos mercadores, pelo quotidiano dos preços e dos salários em época de “ revolução dos preços”, as relações humanas (…), os círculos mercantis, a administração pública, a reflexão técnico-científica.

O número implicava a notação e, portanto, o abandono do sistema romano-peninsular pelos algarismos indo-árabes e, por outro lado, a ciência do cálculo. (…)

GODINHO, V.M. (1978), “ Os Descobrimentos: Inovação e Mudança nos Séculos XV e XVI”, in

Revista de História Economia e Social, nº2, Julho-Dezembro, pp.4 e 12 (adap.)

Arte

Reinvenção das formas antigas Clássicas

Imitação e superação dos modelos da Antiguidade

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Mentalidade e Arte

O estudo apaixonado dos autores clássicos constituiu, sem dúvida, um dos aspectos fundamentais do renascimento. No entanto, não foi o seu elemento exclusivo. Como tal, o renascimento apresentou-se um movimento tão vasto e tão complexo que não é possível resumi-lo numa única característica.

Os artistas renascentistas não se limitaram a fazer uma imitação passiva dos modelos clássicos. Estes artistas estabeleceram com esses modelos uma relação de competição, ou seja, desejaram fazer melhor que os gregos e os romanos tanto que alguns deles tiveram mesmo a consciência de o ter alcançado. Inspirar-se nos Antigos para fazer coisas novas – era o seu propósito.

Concluindo, a antiguidade clássica apresentou-se não só como um modelo a seguir, mas sobretudo como um estímulo à superação. Com efeito, os artistas do renascimento não só revelaram uma técnica superior à dos antigos - nomeadamente no domínio pictórico, com a pintura a óleo, a perspectiva, o sfumato e a introdução do uso da tela como suporte – como também foram mais longe na tentativa de reduzir o mundo à medida do homem, colocando a arte ao serviço da compreensão racional das aparências do mundo exterior.

Documento: O desejo de superação dos antigosOs homens do Renascimento aliavam de modo bastante espantoso a

admiração pelo mundo greco-romano a uma falta de respeito por vezes muito evidente para com as obras legadas pela antiguidade à posteridade. De um ou de outro modo, tiveram vontade de fazer melhor do que ela, e muitas vezes tiveram também consciência de o ter conseguido (…). Inspirar-se nos Antigos para fazer coisas novas, eis o propósito (…)

Os artistas do Renascimento possuíam uma técnica superior à dos antigos e não ignoravam esse facto.

DELUMEAU, Jean (1984), A civilização do Renas cimento,Lisboa, Estampa

Urbanismo Renascentista

A racionalidade no urbanismo

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Mentalidade e ArteAs cidades medievais eram constituídas por aglomerados de

edifícios e, frequentemente, por campos cultivados, prados, vinhas e pomares, sendo cercadas por muralhas que protegiam as populações mas também as isolavam do mundo exterior. O traçado e a configuração da cidade dependiam da muralha que a delimitava, do terreno e do crescimento da população. Estas cidades, opostas às urbes romanas, onde tudo era pensado em termos de garantir uma existência mais cómoda e agradável, não podiam satisfazer nem os princípios de racionalidade nem os desejos do modo de vida requintado do homem do Renascimento. O objectivo de racionalização, característico dos arquitectos renascentistas, está bastante presente na organização dos espaços urbanos.

O Renascimento assinala a primeira intervenção urbanística consciente, através da elaboração de planos geométricos em quadrícula ou círculos concêntricos, considerados ideais. É essa racionalidade que fundamenta os planos de remodelação das velhas cidades medievais, em particular das praças, que constituíam o coração monumental dos centros urbanos.

Esta racionalização vai tornar-se mais coerente e evidente nas cidades novas que vão surgindo no Ocidente Europeu a partir o século XVI, onde os construtores têm tempo e liberdade para elaborar e executar os seus planos em função da nova concepção do espaço, de carácter antropocêntrico.

Exemplo de uma área que foi planeada antes de a obra propriamente dita ter sido levada a cabo é o Palácio de Versalhes, em França.

Alguns artistas conhecidos, como Leonardo da Vinci e Miguel Ângelo, por exemplo, desenharam e ajudaram a embelezar algumas cidades italianas, nos séculos XV e XVI, enquanto Georges-Eugène Haussmann planeou grandes avenidas e praças, em Paris, no Século XVIII, que ajudaram a cidade a tornar-se reconhecida mundialmente como uma das cidades mais belas.

Cidades Utópicas

Thomas More, em 1516, criou a ideia de utopia ao descrever uma ilha imaginária com uma sociedade perfeita em todos os sentidos. O surgimento desse género literário, tão próximo da história, da filosofia e da política, está ligado ao processo burguês de racionalização da vida. O Renascimento sintetizou uma grande racionalização da vida humana. Para construir a sua sorte e o destino da humanidade, os homens daquela época fixaram normas de conduta e quiseram regulamentar cada aspecto da vida prática. A lógica desta ideia levou à construção de critérios universalmente

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Mentalidade e Arteválidos para cada actividade, com normas, regras e códigos: surgiram assim os tratados sobre o perfeito cortesão, sobre o perfeito ministro, sobre o perfeito homem do mundo.

Esta necessidade de impor uma racionalidade à vida individual e colectiva, inevitavelmente, chegou ao urbanismo renascentista. A nova cidade é fundada pela necessidade da virtude combater eternamente a fortuna ameaçadora. As cidades medievais tinham-se desenvolvido anarquicamente, pelo impulso das iniciativas individuais, e essa estrutura comunal foi substituída pelas iniciativas de príncipes desejosos de ampliar o seu poder e instaurar a ordem. Em Itália, surgiram soberanos construtores que sonhavam com novas cidades e, pela oportunidade, arquitectos do Quattrocento planeavam cidades num estilo racional e geométrico. Mas não é possível modificar as muralhas sem modificar os homens: a cidade é o espelho e a dimensão do homem. A organização social passa a ser uma preocupação dos urbanistas, colocando o ser humano no centro das suas construções, e sonham em torná-los idênticos: que a uma cidade sã e racional corresponda um novo homem.

Aparecem então os teóricos de um urbanismo utópico. Não é fundamental que tais cidades ideais sejam de fato construídas: mesmo sem saírem do papel, servem para a melhor compreensão das limitações do presente, e sugerem cidades melhores do que as actuais. E, se puderam ser pensadas, poderão ser construídas. Aos seus grandiosos projectos de cidades com traçados rectilíneos, os urbanistas unem o desejo de regulamentar a vida dos habitantes, de fazer da sociedade um minucioso alvéolo onde cada um possa encontrar o seu lugar e a sua função.

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Renascimento

Mentalidade e Arte

Arte

Arquitectura

Os arquitectos do século XV deram corpo e teorizaram a arquitectura do Renascimento. A arquitectura Renascentista caracteriza-se pela preocupação com o equilíbrio, clareza de linhas e equilíbrio das proporções.

A arquitectura renascentista aproxima-se das formas clássicas dos edifícios da Antiga Roma e da Antiga Grécia – Classicismo – e está bastante comprometida com uma visão do Mundo assente no Humanismo. Através do Classicismo, os homens do Renascimento encaravam o mundo greco-romano como um modelo para a sua sociedade contemporânea, tendo procurado aplicar na realidade material aquilo que consideravam pertencer ao mundo das ideias. Assim, a arquitectura passou, cada vez mais, a tentar concretizar conceitos clássicos como a Beleza, acreditando que a canonização e o ordenamento estabelecido pelos arquitectos da Antiguidade Clássica constituíam o caminho correcto a ser seguido a fim de alcançar este mundo ideal. Sabendo que os valores clássicos eram considerados pagãos e objectos de pecado, o Renascimento também se caracterizou pela integração da visão clássica do mundo no projecto do mundo Cristão. Os edifícios renascentistas procuravam traduzir os ideais representados nas construções da antiguidade, onde era visível uma ordem e beleza que se dizia existir na Natureza. Sendo a Natureza a maior criação de Deus, certamente aí estavam escondidos os limites da perfeição. Assim, os arquitectos renascentistas procuram a perfeição da Natureza conseguida, em parte, pelos antigos.

A importância da perspectiva

Um elemento crucial na definição da arquitectura do Renascimento é a incorporação da perspectiva como instrumento de projecto.

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Mentalidade e ArteOs arquitectos do Renascimento passaram a designar nos seus

edifícios um ritmo de percurso em que as regras de desenho do espaço são facilmente assimiladas pelos observadores. O domínio da linguagem clássica, usada para se chegar a estes efeitos de percurso, só se torna possível quando simulado através do projecto pela perspectiva. Estas novas relações espaciais mostram-se especialmente evidentes quando comparadas com o espaço presente nas catedrais góticas. Nestas, a intenção arquitectónica é a de que o observador, desde o momento em que entra no edifício, seja dominado pelo seu espaço e instantaneamente deseje olhar para cima, procurando um movimento ascendente em busca do Senhor. No espaço renascentista a intenção é justamente a oposta: o edifício deixa de dominar o indivíduo, passando a acontecer o contrário. Resumindo, na arquitectura do Renascimento procura-se a chamada medida do homem.

A recuperação dos ideais da arquitectura clássica, inserida na cultura do Renascimento, deveria transcender a observação da realidade. Ou seja, não se desejava que os edifícios produzidos pelos arquitectos do Renascimento, humanistas que em geral procuravam manter uma imagem erudita e literata, fossem simplesmente reproduções de ruínas greco-romanas. Os arquitectos procuravam constantemente um modelo ideal para suas obras, em detrimento dos modelos antigos já existentes.

Os artistas procuraram uma estética arquitectónica racional, onde privilegiaram valores como a regularidade, simetria, proporção, clareza formal e sobriedade decorativa. Assim sendo, desenharam edifícios com as seguintes características:

Cálculo rigoroso das proporções , de modo a que o resultado final fosse o equilíbrio e a harmonia;

Plantas e volumes inspirados nas formas geométricas regulares;

Fachadas rectilíneas ; Coberturas interiores rectas , em madeira ou pedra, na

forma de abobadas de barco ou de arestas, ou ainda em cúpulas; Ordenação em perspectiva dos espaços interiores, a

partir de um ponto fixo; Aberturas normalizadas e colocadas com simetria e

regularidade; Sobriedade decorativa , através de uma decoração

essencialmente estrutural, utilizando elementos das ordens arquitectónicas greco-romanas.

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Pintura

Na pintura, o objectivo de reproduzir, com o maior naturalismo possível, como se de um espelho se tratasse, a realidade humana e o mundo físico implicou o recurso à perspectiva, ou seja, ao efeito de profundidade ou tridimensionalidade nas figuras pintadas. Nesta arte, o projecto adquiriu uma importância fundamental.

A pintura transformou-se, desta forma, num laboratório científico da realidade observada, sendo as obras de arte construções matemáticas. A aproximação à ciência faz-se através dos métodos de arte, sendo que o artista, a seu modo, produz ciência. Nesta perspectiva, Leonardo da Vinci dedicou muito do seu tempo a dissecar cadáveres, no sentido de compreender, analisar e descrever o funcionamento do corpo humano antes de o reproduzir na tela ou na pedra. Essa preocupação estendeu-se também à anatomia dos animais, à botânica, à geologia e até à representação de atmosferas.

A expressão naturalista na pintura

Os pintores do Renascimento foram mais longe do que quaisquer outros que os precederam no modo de representar o homem e, acima de tudo, a sua realidade física.

A melhor compreensão da anatomia humana, traduzida tecnicamente através dos progressos da pintura a óleo que veio permitir um uso mais subtil da cor, da luz, da sombra e a ilusão de

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Mentalidade e Artevolume das figuras, reproduzindo com precisão as três dimensões ocupadas pelo corpo humano. Ao mesmo tempo, a técnica da perspectiva deu ao artista a possibilidade de traduzir com rigor matemático na tela a realidade exterior onde o homem se move, o seu meio ambiente, bem caracterizado, rigorosamente retratado nas cores e nas formas, e, como tal, reconhecível pelo olhar do observador.

Masacio, o primeiro grande pintor do século XV, foi o iniciador da nova maneira de exprimir na tela o volume das coisas e a anatomia dos corpos. Nos seus quadros, a força expressiva das figuras não provém do movimento – algumas delas representavam personagens imóveis – mas da técnica excepcional do pintor, que consegue transmitir com uma clareza impressionante a ilusão de relevo.

Mosacio observou não só que os objectos na paisagem diminuíam de tamanho em função das diferentes distâncias a que se encontravam, mas também que os seus contornos perdiam nitidez e que as suas cores se tornavam cada vez mais ténues à medida que aumentava essa mesma distância. A procura da representação exacta da realidade observada levou-o a introduzir a perspectiva nos grandes planos, colocando o observador na posição de espectador privilegiado que surpreende as personagens no seu espaço natural ou construído.

Estas inovações – volume, perspectiva e naturalismo – fizeram escola na pintura renascentista. Dentre os seus muitos seguidores destacam-se Piero della Francesca e Botticelli, mas o máximo desenvolvimento desta técnica foi atingido no século XVI com Miguel Ângelo. Os seus frescos da Capela Sistina são uma demonstração impressionante da energia, do vigor e das potencialidades explorativas da figura humana.

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Escultura

A escultura do Renascimento compreende o período aproximado entre fins do século XIV e início do século XVI, período em que a escultura expressou uma reacção contra os princípios estéticos do Gótico e, assimilando a influência da arte da Antiguidade clássica, do humanismo e do racionalismo, desenvolveu um estilo que fundiu elementos naturalistas e outros ideais em proporções variáveis.

Alguns autores assinalam o início oficial do Renascimento em 1401, ano em que foi realizado, em Florença um concurso público para a criação das portas em bronze do Baptistério de São João; outros apontam 1408, quando foi encomendado a Donatello e Nanni di Banco um grupo de esculturas de santos para a fachada da Basílica de Santa Maria del Fiore. Foi na escultura que primeiro se observou a adopção de uma nova estética, sendo também uma das artes mais representativas de todo o Renascimento.

A escultura do Renascimento reflecte a preocupação de integrar a oposição entre o interesse pela observação directa da

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Mentalidade e ArteNatureza e os conceitos estéticos idealistas desenvolvidos pelo humanismo. Numa época em que o homem foi colocado no centro do universo, a sua representação assumiu um papel central, tendo, consequentemente, redescoberto o nu artístico e o retrato, que desde o fim do Império Romano haviam caído no esquecimento. O interesse dos artistas do Renascimento pelo homem, para alguns tornou-se mesmo obsessivo, e o objectivo de o representar com a maior precisão possível está claramente evidenciado na escultura renascentista; isto não quer dizer que a escultura gótica desprezasse a figura humana. Acontece, no entanto, que aquilo que mais importância tinha era o facto de ela ser como que a imagem, a obra suprema da Criação. Muito mais do que o simples homem, enquanto ser dotado de um corpo e de um espírito próprios, ou seja: um indivíduo. Foi retomada a temática mitológica, e enfatizou-se a estreita associação entre conhecimento teórico e uma rigorosa disciplina de trabalho prático como a ferramenta indispensável para a criação de uma obra de arte qualificada. A escultura do Renascimento italiano foi, nas suas três primeiras fases, dominada pela influência da escola da Toscana, cujo foco era Florença, o maior centro cultural italiano e uma referência para todo o continente europeu. A fase final foi conduzida por Roma, na época caracterizada pela afirmação da universalidade da autoridade do papado como o herdeiro tanto de São Pedro como do Império Romano.

Na escultura renascentista, desempenham um papel decisivo o estudo das proporções antigas e a inclusão da perspectiva geométrica. As figuras, até então relegadas ao plano de meros elementos decorativos da arquitectura, vão adquirindo pouco a pouco total independência. Já desvinculadas da parede, finalmente mostram-se livres, apoiadas numa base que permite sua observação de todos os ângulos possíveis.

O estudo das posturas corporais traz como resultado esculturas que se sustentam sobre as próprias pernas, num equilíbrio perfeito, graças à posição do compasso, com ambas abertas, ou do contraposto, com uma perna à frente e a outra ligeiramente atrás. As vestes reduzem-se à expressão mínima, e as suas pregas são utilizadas para acentuar o dinamismo, revelando uma figura humana de músculos levemente torneados e proporções perfeitas.

Também o baixo-relevo – escultura sobre o plano –, outro género da escultura, acabou por ser beneficiado pela aplicação dos conhecimentos da perspectiva. Empregando uma técnica denominada schiacciato, Donatello posiciona as suas figuras a distâncias precisas, de tal modo que elas parecem vir de um espaço interno para a superfície, proporcionando uma ilusão de distância.

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Mentalidade e ArteDeste modo, ao mesmo tempo que se torna totalmente

independente da arquitectura, a escultura adquire importância e tamanho. Como reflexo disso temos as primeiras estátuas equestres, que dominam as praças italianas e os grandiosos monumentos funerários que coroam as igrejas. Pela primeira vez na história, sem necessidade de recorrer a desculpas que justificassem a sua encomenda e execução, a arte adquire proporções sagradas.

Também os escultores renascentistas se inspiraram directamente nos modelos clássicos. As suas figuras – nomeadamente a figura humana – são representadas de forma harmoniosa e com um realismo notável para o qual contribui o estudo profundo da anatomia. Tal estudo revela o desejo de perfeição que estes escultores sempre almejaram alcançar.

É igualmente da Antiguidade Clássica que se recupera a representação do nu humano e as figuras equestres, ambos já referidos.

A escultura renascentista distingue-se da gótica essencialmente por deixar de ter a função de elemento decorativo, passando a valer por si mesma.

Na escultura do renascimento destacam-se Lorenzo Ghiberti, Donatello, Michelangelo, Luca della Robbia, Andrea della Robbia, Desiderio da Settignano, Baccio Bandinelli, Agostino di Duccio e Tullio Lombardo, entre outros. Estes foram impulsionadores da evolução da civilização ocidental e da formação da mentalidade moderna.

O Renascimento tem sido muitas vezes associado a um processo de secularização da sociedade, sendo isso correcto apenas parcialmente. Como provam as igrejas da época e os museus de hoje, uma enorme quantidade de arte renascentista tratou de temas religiosos, e a Igreja Católica foi de longe o maior mecenas individual dentre todos os que houve. Mesmo o debate filosófico laico dedicou muito de seus esforços no sentido de tentar melhor compreender as relações entre o Homem e Deus, e em nenhum momento surgiu qualquer questionamento sério sobre a verdade da Religião como um todo ou os seus dogmas específicos, nem o entusiasmo dos eruditos pelo classicismo pagão teve qualquer poder de deslocar o Cristianismo do seu lugar central na sociedade.

A estatuária sacra renascentista, como toda arte sacra do período, foi criada com o propósito de estabelecer um meio de comunicação intermediada com Deus e o sagrado, lembrando ao devoto os princípios essenciais da fé através de uma complexa rede de convenções simbólicas representativas, então de domínio público, no que diz respeito a atitudes, gestos, posturas e expressões fisionómicas das figuras e ao carácter geral da composição e da

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Mentalidade e Artenarrativa. Durante a Alta Renascença observou-se uma nítida inclinação para a idealização e para o sublime. Os santos, apóstolos e mártires deixaram de ser figurados com as feições do homem comum, como haviam sido retratados na maior parte do século XV; ainda que essas feições fossem maioritariamente generalistas e não específicas, tornaram-se imagens impassíveis, graves e solenes. Completamente sobre-humanas, em composições altamente ritualizadas.

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Arte Renascentista em Portugal

Gótico-Manuelino

O Renascimento é um fenómeno contemporâneo dos descobrimentos e desenvolveu-se em íntima ligação com a empresa ultramarina nacional. No entanto, a arte renascentista só tardiamente chega a Portugal e, de início, apenas por via de elementos decorativos, associados às estruturas do gótico flamejante, ou gótico final. Em Portugal, este estilo adquiriu características ornamentais próprias, surgindo assim entre finais do século XV e inícios do século XVI, um estilo chamado Manuelino ou Gótico-Manuelino.

A arquitectura do Manuelino constitui um prolongamento das construções góticas e desenvolve a tendência da arte final deste estilo, nomeadamente para a homogeneização dos espaços anteriores. Assim, fica explicada a preferência típica do manuelino pelas igrejas-salão, igrejas de nave única, ou com três naves erguidas à mesma altura, criando assim um espaço amplo, normalmente quadrangular.

Em relação ao campo decorativo, a representação da natureza expressa-se por ornamentações de carácter realista onde a demonstração vegetalista aparece frequentemente de forma exuberante, como podemos verificar nas obras manuelinas mais importantes, de que são exemplo a Janela da Sala do Capitulo, no Convento de Cristo, e o Mosteiro dos Jerónimos, entre outros. O exotismo que se regista na representação de animais, flora e seres estranhos ou mitológicos, traduz a procura do diferente e do novo, a pretensão nacionalista de se distinguir do gótico, transportando para o espaço nacional elementos que faziam parte do quotidiano, das viagens e dos encontros civilizacionais no Império Português.

Por outro lado, o facto de o gótico-manuelino se ter desenvolvido, quase sempre, sob a tutela da coroa, explica a utilização de elementos decorativos associados ao objectivo da exaltação da monarquia absoluta de direito divino. É o caso da sempre presente esfera armilar, ou ainda o profundo sentido místico

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Mentalidade e Artepresente nas imagens sacras, em particular da Virgem, transformada pelo rei D. Manuel I num símbolo régio.

As Novas tendências renascentistas

A arte do renascimento chegou a Portugal como uma fonte ornamental associada à arquitectura da última fase do gótico. Com efeito, os elementos decorativos renascentistas – arabescos (desenhos característicos da arte islâmica constituídos por figuras geométricas entrelaçadas e muito ornamentadas), grutescos (decorações com temas vegetalistas, formas humanas ou figuras de animais), medalhões, etc. - aparecem a decorar formas arquitectónicas essencialmente góticas. Uma outra particularidade é o facto de terem sido introduzidas por artistas estrangeiros ou nacionais educados no estrangeiro.

Na arquitectura, os elementos renascentistas – colunas, frontões, entablamentos, pilastras, arcos, etc. – estão presente em algumas construções importantes, destacando-se a Igreja de Nossa Senhora da Conceição e o palácio da Quinta da Bacalhoa.

Quanto à escultura, a arte renascentista portuguesa concentrou-se sobretudo na construção de retábulos, imagens de santos e túmulos onde estão bem patentes duas das suas características fundamentais: a proporção e o realismo. De entre os autores salientaram-se Nicolau de Chanterenne (Jerónimos, Capela da Pena) e João de Ruão (Claustro da Manga, Porta especifica da fachada da Sé Velha).

Na pintura, a influência renascentista fez-se sentir sobretudo através da escola flamenga, graças às obras importadas da Flandres e à presença de pintores originários desta região da Europa. Essa influência renascentista revela-se na concepção de espaço, no emprego de motivos renascentistas na ornamentação de estruturas, no mobiliário, objectos vários, bem como no realismo da representação da figura humana e da Natureza.

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Mentalidade e ArteDocumento: O manuelinoA representação da Natureza tem sido tomada como uma forma

correspondente, na arte, ao “experiencialismo” português, cunho evidente do pensamento prático da altura. (…) Mas outros factores culturais devem entrar em linha de conta.

Um hiper-realismo que transubstanciava a matéria ou o abstracto da arquitectura: noção natural da arquitectura dos homens, que “saía do chão” e se justificava a si própria; estruturas ornamentadas, fábricas naturais, tudo isto é a evidência do vegetalismo obsessivo de algumas peças manuelinas, como Tomar, Alcobaça (…).

Quanto ao exotismo, percebemos que ele só existiu desarticuladamente: houve dele uma noção impressionista ou difusa. E se a ornamentação ou a decoração queriam ser diferentes, foram-no reavaliando velhas formas, recombinando-as (…). Representaram-se, com toda a evidência, animais, vegetação, homens e mulheres “exóticos” - mas em casos pontuais e nunca num programa que os vinculasse declaradamente ao Oriente. (…)

Nacionalista foi a arquitectura manuelina. Diferente como queria ser do gótico, regionalizou-o e deu-lhe uma carga ornamental própria e radical. Programa de forte simbologia imperial perpassado por um monarquismo providencial de tonalidades místicas – como em Tomar, Belém, túmulo dos Reis e na omnipresente Esfera.

PEREIRA, Paulo (1990), A Obra Silvestre e a Esfera do Rei,Coimbra, pp. 202-203

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Literatura Renascentista

A literatura do Renascimento deu destaque à personalidade individual – individualismo. Novas formas, como os ensaios e as biografias, tornaram-se importantes. A maior parte da literatura medieval fora escrita em Latim. Os escritores do Renascimento começaram a adoptar línguas vernáculas, como o francês e o italiano. A literatura tenta recuperar a Antiguidade Clássica através da retoma dos seus modelos literários. Assim, a procura pela perfeição estética e a pureza das formas, trazem de volta os sonetos, epopeias, romances, entre outros, inspirados em Homero, Platão e Virgílio. A literatura continuou a ter características religiosas, que frequentemente apareciam aliadas às novas características do renascimento.

Nicolau Maquiavel, Luís Vaz de Camões, Francisco Guicciardini e William Shakespeare são exemplos de escritores bem sucedidos do Renascimento.

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Música Renascentista

A Música é uma criação que retrata todas as sociedades e respectivas mentalidades, acompanhando dinamicamente a evolução social, política e até económica. Na época renascentista é bastante visível esta interacção. A revolução que se deu no pensar humano marcou a produção artística de então, ao que o campo musical não ficou indiferente, embora de uma forma muito menos profunda. O Renascimento, na musica, situa-se de meados do século XV ao inicio do século XVII e corresponde à idade de ouro da polifonia. Nas últimas décadas de século XVI forja-se um estilo que culmina na criação da ópera, em 1600.

Os compositores passaram a ter um interesse muito mais vivo pela música profana, e em escrever peças exclusivamente para instrumentos, já não usados somente para acompanhar vozes. No entanto, os maiores tesouros musicais renascentistas foram compostos para a igreja, num estilo descrito como polifonia coral e cantados sem acompanhamento de instrumentos. A música renascentista é de estilo polifónico, ou seja, possui várias melodias tocadas ou cantadas em simultâneo.

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Conclusão

Como muito frequentemente se diz, a História repete-se. O Homem do Renascimento redescobriu as suas raízes, restaurando e aperfeiçoando as normas e mentalidade daqueles cujos povos constituíram a origem de Mundo civilizado. O homem teve a capacidade de elevar as suas potencialidades pessoais e desenvolvê-las tanto para o próprio bem, como para o bem dos outros. Se assim não tivesse sucedido, quem sabe não viveríamos ainda numa Era medieval, regidos pelo medo do desconhecido. Concluindo, o Renascimento foi um dos mais importantes acontecimentos na história da humanidade pois desfez medos sem fundamento, mostrando que a experiência, que é, por vezes um risco, vale a pena.

É sempre bom, e saudável – pois o saber nunca é demais, nem mata –, mergulhar na aventura de pôr o momento de lado por algum tempo e descobrir o que já lá vai, e que, no entanto, continua tão presente. Afinal, o que seríamos sem o nosso legado?

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