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  • 7/25/2019 Trabalho Eunice

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    Faculdade de Filosofia e Cincias - Campus de Marlia

    Departamento de Filosofia

    Thiago de Souza Slvio

    O PENSAMENTO COMPLEXO COMO CONCEPO SISTMICA DO MUNDO

    Marilia/SP2015

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    1.INTRODUO

    No h evoluo em uma nica dimenso; existem evolues mltiplas. Ilya Prigogine

    A partir de uma leitura sobre os temas principais que compem o cerne da filosofiade Edgar Morin, a saber, o pensamento complexo, bem como a teoria sistmica, temosaqui em vista, o intuito de delinear concisamente, os aspectos elementares desta malhaconceitual, seu fio condutor; indicar a problemtica atinente ao desafio endereadopelas diferentes avenidas que levam ao caminho da complexidade.

    Num primeiro momento, suscitaremos os componentes heterogneos, propriedadesemergentes que, contudo, se organizam em unidade consoante, ou seja, o mltiplodiverso no uno idntico, simultaneamente, ressaltar a importncia dum pensamentocomplexo que d conta desta correlao distinta, abordada pela interdisciplinaridade.Por conseguinte, pautaremos os princpios fundamentais que norteiam a teoria, e comodesfecho, nos atentaremos a esta concepo sistmica bem articulada.

    2. COMPLEXIDADE

    2.1.Emergncia do pensamento complexo

    A complexidade uma palavra-problema e no uma palavra soluo.Edgar Morin

    O pensamento complexo animado por uma tenso permanente entre a aspirao aum saber no fragmentado, no compartimentado, no redutor, e o reconhecimento doinacabado e da incompletudede qualquer conhecimento. Neste sentido:

    Qualquer conhecimento opera por seleo de dados significativose rejeio de dados no significativos: separa (distingue oudisjunta) e une (associa, identifica); hierarquiza (o principal, osecundrio) e centraliza (em funo de um ncleo de noes-chaves); estas operaes, que se utilizam da lgica, so de fatocomandado por princpios supralgicos de organizao dopensamento ou paradigmas, princpios ocultos que governamnossa viso das coisas e do mundo sem que tenhamos conscinciadisso. (MORIN, 2007. p.10)

    O olhar simplificador incapaz de conceber a conjuno do uno e do mltiplo(unitat multiplex). Ou ele unifica abstratamente ao anular a diversidade, ou, ao contrrio,justape a diversidade sem conceber a unidade.

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    A um primeiro olhar, a complexidade um tecido (complexus: oque tecido junto) de constituintes heterogneos inseparavelmenteassociadas: ela coloca o paradoxo do uno e do mltiplo. Numsegundo momento, a complexidade efetivamente o tecido deacontecimentos, aes, interaes retroaes, determinaes,

    acasos, que constituem nosso mundo fenomnico. (ibid. p. 13)Deste modo, num certo sentido toda realidade conhecida, desde o tomo at a

    galxia, passando pela molcula, a clula, o organismo e a sociedade, pode ser concebidacomo sistema, isto , associao combinatria de elementos diferentes:

    A realidade est, desde ento tanto no elo quanto na distinoentre o sistema aberto e seu meio ambiente. Este elo absolutamente crucial, seja no plano epistemolgico,metodolgico, terico, emprico. Logicamente, o sistema s podeser compreendido se nele inclumos o meio ambiente, que lhe aomesmo tempo ntimo e estranho e o integra sendo ao mesmo tempoexterior a ele. (ibid. p.22)

    Em Cincia com Conscincia, Morin destaca o dbito que tem para com aciberntica, pois fora a pioneira em idealizar, no sentido positivo do termo, umametodologia que compreendesse, analogamente a comunicao entre sistemas de esferasdiferentes, mquinas, seres vives, relaes humanas, etc:

    A problemtica da complexidade permanece marginal. Tanto nopensamento cientfico como no pensamento epistemolgico comono pensamento filosfico... Curiosamente, a complexidade sapareceu numa linha marginal entre o engineeringe a cincia, naciberntica, a teoria dos sistemas. ... Como a complexidade s foitratada marginalmente, ou por autores marginais, como eu prprio,ela suscita necessariamente mal entendidos fundamentais.(MORIN, 2005, p.138)

    Qui, tais mal-entendidos, sejam espontneos, atitudes intelectuais repulsivas atoda e qualquer novidade que no se encaixe no paradigma epistemolgico atual, esteseria um possvel lado da moeda.

    O mal-entendido consiste em conceber a complexidade comoreceita, como resposta, em vez de a considerar como desafio ecomo incitamento para pensar; acredita-se... que a complexidadedeve ser um substituto eficaz da simplificao, ... que vai permitirprogramar e esclarecer. Ou ...concebe-se a complexidade comoinimiga da ordem e da clareza.(ibid.)

    Por outro lado, o pensamento sistmico evoca algumas dificuldades notrias, isto,devido ao grau de abstrao exigido para conceber as interconexes do micro aomacrocosmo, certa vez, o poeta brasileiro, Ferreira Gullar, durante uma entrevista disse

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    em uma entrevista: Ns no temos a capacidade para entender a complexidade domundo. Seja nos permitido de descordar desta afirmao, pois no todo est contido aspartes, e na parte est contido o todo, num vislumbre, at parece que a realidade nosescapa, todavia, o processo do conhecimento devir, no se esgota no particular, mas naapreenso totalizante dos atuais seres sencientes, o mundo se revela a si mesmo na

    multiplicidade de manifestaes fenomnicas. Se a maneira vigente encontra-seincompleta, no devemos dissipar o que temos de antemo em prol de abordagensreducionistas, devemos ter pacincia e dar tempo ao tempo, at que possamosdesenvolver nossas potencialidades suficientemente, a ponto de lidarmos seguramentecom o problema em questo, deixando a diferena que possa emergir, complementar.

    A ambio da complexidade relatar articulaes que sodestrudas pelos cortes entre disciplinas, entre categorias cognitivase entre tipos de conhecimento. De fato, a aspirao complexidadetende para o conhecimento multidimensional. No se trata de dartodas as informaes sobre um fenmeno estudado, mas derespeitar as suas diversas dimenses(ibid p.177)

    2.2. Interdisciplinaridade em ao

    A pensamento complexo almeja dar conta das articulaes entre os camposdisciplinares [interdisciplinaridade] que so desmembrados pelo pensamento disjuntivo,caracterstica do pensamento simplificador, pois, o pensamento mutilador conduznecessariamente aes mutilantes

    Se tentarmos pensar o fato de que somos seres simultaneamentefsicos, biolgicos, sociais, culturais, psquicos e espirituais, evidente que a complexidade reside no fato de se tentar conceber aarticulao, a identidade e a diferena entre todos estes aspectos,enquanto o pensamento simplificador ou separa estes diferentesaspectos ou os unifica atravs de uma reduo mutiladora.(MORIN, 2003.p. 138)

    A ambio da complexidade relatar articulaes que so destrudas pelos cortes entredisciplinas, entre categorias cognitivas e entre tipos de conhecimento.

    Tomemos, por exemplo, o estudo do homem, do ser humano comseu lado psicolgico, cultural, espiritual, e seu lado biolgico,natural, cerebral. Essas duas vertentes so radicalmente separadas; preciso ir a duas faculdades diferentes se quiser estud-las. Ouento o homem cultural est reduzido ao homem biolgico e seprocurar compreender o ser humano por meio do maado e associedades humanas pelas das formigas. uma mutilao, poissomos inexoravelmente, inseparavelmente, ambos os aspectos. E,no meu entender, uma criana pode muito bem compreender quequando ela come, cumpre no somente um ato biolgico, comotambm um ato cultural: que essa alimentao foi escolhida em

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    razo de normas que lhe deram sua famlia, sua religio... Acriana est apta a compreender essa complexidade do real, aopasso que o adulto freqentemente, formado pelo ensinoacadmico, no consegue mais. (MORIN, 2001)

    De fato, a aspirao complexidade tende para o conhecimento multidimensional.No se trata de dar todas as informaes sobre um fenmeno estudado, mas de respeitar assuas diversas dimenses. Todavia, Morin nos chama ateno para um grave problema danossa era tcnico-cientfica, calcada na produtividade industrial, hyperespecializada,anunciada em Notas para um Emlio contemporneo, aludindo a obra do filsofogenebrino J. J. Rousseau, romance pedaggico onde propunha criticar a educaotradicional de sua poca.

    Ns que produzimos modos de separao e lhes ensinamos aconstituir entidades separadas. As crianas aprendem em meio acategorias isolantes: a histria, a geografia, a qumica, a fsica, semaprender, ao mesmo tempo, que a histria se situa sempre emespaos geogrficos e que cada paisagem geogrfica o fruto deuma histria terrestre; sem aprender que a qumica e a microfsicatem o mesmo objeto, mas em escalas diferentes. Ns ensinamos ascrianas a conhecer os objetos isolando-os, ao passo que precisotambm reintegr-los a seu ambiente para conhec-los e que um servivo pode ser conhecido somente em sua relao com seu meio, deonde extrai energia e organizao. Esquecem-se os vnculos entretodos os fenmenos e isso se torna desastroso no mbito dascincias humanas; a economia considerada como distinta dapsicologia, da histria, da sociologia, enquanto a psicologia e odesejo humano impregnam todos os fenmenos econmicos: e aeconomia, por sua vez, influencia a psicologia por meio dapublicidade. (ibid)

    Cabe acrescentar que, a servio dos interesses capitalistas, pautados na super-faturao delucro, em detrimento da fruio de todo material transformado, manufaturado, pelas classestrabalhadoras, portanto, aqum da segregao entre classes, a sociedade permanecefragmentada. Tais fatores refletem por sua vez, no atual modo de produo, bem como naeducao governamentalista, cujos diligentes em seus cargos burocrticos, so os menosindicados para delimit-la, ao contrrio, cumprem com a via de regra, que comprimi-la aponto do estudante ignor-la a ponto de ser sempre aquela tabula rasa insuficiente, paraocupar as posies sociais mais subordinadas, perpetuando a estrutura de poder hierrquicade cima pra baixo, dos que, dum lado mandam, do outro obedecem; onde indivduos sosubjugados, coercitivamente, em diversos setores e, em seu isolamento, so reificadosnuma atividade alienante sem reconhecimento.

    2.3.Princpios fundamentais a complexidade

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    Os sete Princpios

    Podemos adiantar sete princpios-guia para pensar a complexidade, estes socomplementares e interdependentes:

    1.

    O principio sistmico ou organizacional, que une o conhecimento das partes com oconhecimento do todo (...) A ideia sistmica, que se ope ideia reducionista, a deque o todo mais do que soma das partes (...) Acrescentamos que o todo igualmente menos que a soma das partes, cujas qualidades so inibidas pelaorganizao do conjunto.

    2. O principio hologramtico pe em evidencia esse aparente paradoxo dossistemas complexos nos quais a parte no somente est no todo, como o todo estinscrito na parte. Assim, cada clula uma parte de um todo o organismo globalmas prprio todo esta na parte: a totalidade do patrimnio gentico esta presente emcada clula individual; a sociedade esta presente em cada individuo no que dizrespeito ao todo atravs da sua linguagem, da sua cultura e de suas normas.

    3.

    O principio do ciclo retroativo, introduzido por Norbert Wiener, permite oconhecimento dos processos auto-reguladores. Ele rompe com o principio decausalidade linear: a causa age sobre o efeito, e o efeito sobre a causa, como umsistema de aquecimento no qual o termostato regula o funcionamento da caldeira(...) O ciclo de retroao (ou feedback) permite, sob sua forma negativa, reduzir oerro e, assim, estabilizar um sistema. Sob sua forma positiva, o feedback ummecanismo amplificador como, por exemplo, a situao de chegada aos extremosem um conflito: a violncia de um protagonista conduz a uma reao ainda maisviolenta. Retroaes so verificveis, por exemplo, nas esferas polticas,econmicas e sociais.

    4. O principio de ciclo recorrentesupera a noo de regulao pela de autoproduo epela de auto-organizao. Trata-se de um ciclo gerador no qual os produtos e asconsequencias so, eles prprios, produtores e originadores daquilo que produzem.Assim, ns, indivduos somos os produtores de um sistema de reproduo nascidoem priscas eras, contudo, esse sistema somente pode se reproduzir se ns prpriosnos tornarmos produtores, nos acasalando. Os indivduos humanos produzem ahumanidade de dentro e por meio de suas interaes, mas a sociedade emergindo,produz a humanidade desses indivduos, fornecendo-lhes a linguagem e a cultura.

    5. O principio de auto-ecoorganizao (autonomia/dependncia): os seres vivos soseres auto-organizadores que se autoproduzem sem cessar e por isso gastam aenergia para salvaguardar sua autonomia. Como eles tem necessidade de retirar aenergia, a informao e a organizao de seu ambiente, sua autonomia inseparveldessa dependncia e, portanto, necessrio conceb-los como sendo auto-ecoorganizadores. O princpio da auto-ecoorganizao vale, evidentemente, demaneira especifica para os humanos, que desenvolvem sua autonomia dependentesda sua cultura, e para as sociedades que dependem de um ambiente geoecolgico.Um aspecto-chave da auto-ecoorganizao ativa que esta se renovapermanentemente a partir da morte de suas clulas, conforme a formula deHerclito, viver de morte, morrer de vida, e que as duas idias antagnicas (da

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    morte e da vida) so complementares ao mesmo tempo em que permanecemcontraditrias.

    6. O princpio dialgico acaba, justamente, de ser ilustrado pela frmula heraclitiana.Ela une dois princpios ou noes em face de se exclurem um ao outro, mas queso indissociveis em uma mesma realidade.

    Portanto, devemos conceber uma dialgica ordem/desordem/organizao desde osurgimento do universo: a partir de uma agitao calorfica (de ordem) na qualcertas condies (encontros ao acaso) dos princpios de ordem vo permitir aconstituio de ncleos, de tomos, de galxias e de estrelas. Reencontramos, ainda,essa dialgica desde o surgimento da vida, nos encontramos entre macromolculasno seio de uma espcie de ciclo autoprodutor que termina tornando-os uma auto-organizao ativa. Sob as mais diversas formas, a dialgica entre a ordem, adesordem e a organizao, por via de inumerveis inter-retroaes, estconstantemente em ao nos mundos fsico, biolgico e humano. [MORIN, 2003;p.74]

    Quando consideramos a espcie ou a sociedade, o indivduo desaparece, quandoconsideramos o indivduo, a espcie e a sociedade desaparecem. O pensamento complexoaceita dialogicamente os dois termos, que tendem a se excluir um ao outro. Por fim, oltimo princpio se caracteriza pelo seguinte contedo:

    7. O principio de reintroduo do conhecido em todo conhecimento. Esse princpiorealiza a restaurao do tema e revela o problema cognitivo central: da percepo teoria cientfica, todo conhecimento uma reconstruo/traduo por umesprito/inteligncia em uma cultura e em um tempo determinados.

    Tais so os fundamentos que norteiam os processos cognitivos do pensamentocomplexo. Segundo Morin este pensamento no se trata de um pensamento que exclui acerteza pela incerteza, que exclui a separao pela inseparabilidade, que exclui a lgicapara permitir todas as transgresses.

    3. A Teoria Sistmica como um todo

    Como vimos acima o princpio hologramticocaracteriza os sistemas complexos, nosomente cada parte est no todo como o todo est tambm em cada parte: o indivduo, nasociedade, mas tambm a sociedade enquanto todo, no indivduo. Desde a infnciaaprendemos a linguagem, a cultura, que se introduzem, na qualidade de todo, em cada umde ns e nos permitem que nos tornemos ns mesmos. O pensamento sistmico umachave de compreenso, permeado por este princpio e, est fundamentado no conhecimentocomplexo da palavra sistema. Portanto, a virtude sistmica :

    a) ter posto no centro da teoria, com a noo de sistema, no uma unidade elementardiscreta, mas uma unidade complexa, um todo que no se reduz soma de suaspartes construtivas;

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    b) no ter concebido a noo de sistema como uma noo real, nem como umanoo puramente formal, mas como uma noo ambgua ou fantstica;

    c) situar-se a um nvel transdisciplinar, que permite ao mesmo tempo conceber aunidade da cincia e a diferenciao das cincias, no apenas segundo a naturezamaterial de seu objeto, mas tambm segundo os tipos e as complexidades dos

    fenmenos de associao/organizao. (MORIN, 2007, p.20). Virtude esta que seestende amplamente em todo conhecimento.

    Um sistema no somente constitudo de partes. Ele tem qualidades, propriedadesditas emergentes, que no existem nas partes isoladas: em outras palavras, o todo mais doque a soma das partes. Porm, algumas qualidades ou propriedades das partes so, comfreqncia, tambm inibidas pelo todo: portanto, vale tambm menos do que a soma daspartes. H sempre, e em todo sistema, e mesmo nos que suscitam emergncias, coeressobre as partes, que impem restries e servides. Estas imposies, restries, fazem-noperder ou inibem qualidades ou propriedades:

    Toda associao implica imposies: imposies exercidas pelaspartes independentes umas sobre as outras, imposies das partessobre o todo, imposies do todo sobre as partes. Mas enquanto asimposies das partes sobre o todo esto ligadas em primeiro lugars caractersticas materiais das partes, as imposies do todo sobreas partes so em primeiro lugar organizao (MORIN, 2008, Omtodo1: a natureza da natureza, p.144)

    E ainda:

    Uma ligao qumica determina as imposies sobre cadaelemento unido, e, por exemplo, a aquisio da qualidade slidapela ligao de suas molculas gasosas compensadaevidentemente pela perda da qualidade gasosa. Mas estes exemplosfsico-qumicos so pouco srios e pouco convincentes. , comefeito, no momento em que a organizao cria e desenvolveregulaes ativas, controles e especializaes internas, ou seja, apartir das primeiras organizaes vivas as clulas at asorganizaes antropossociais, que se manifestam tanto o princpiode emergncia quanto o princpio de imposio. (ibid)

    As qualidades emergentes aparecem apenas quando o sistema se constitui. Um ser vivo,por exemplo, feito de macromolculas agrupadas, mas o todo tem propriedades, tais comoa possibilidades de se movimentar. No entanto, por sua vez, essas qualidades emergentesretroagem em cada parte: seres sociais, ns somos parte de uma sociedade, mas esta pdese constituir somente por meio das interaes entre esses indivduos que somos ns.Dessas interaes nasceram qualidades emergentes, a cultura, a educao, que fazem de nsverdadeiros indivduos humanos. Essas qualidades emergentes so observadas, portanto,tambm no nvel os indivduos e das partes.

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    As imposies que inibem enzimas, genes, inclusive clulas, nodiminuem uma liberdade inexistente neste nvel, a liberdade semergindo em um nvel de complexidade individual em que hpossibilidade de escolha; elas inibem qualidades, possibilidades deao ou de expresso. As imposies s podem ser destrutivas de

    liberdade, quer dizer, s podem se tornar opressivas, no nvel deindivduos dispondo de possibilidades de escolha, de deciso e dedesenvolvimento complexo. Assim, o problema das imposies secoloca ao mesmo tempo de maneira ambivalente e trgica no planodas sociedades, e singularmente no das sociedades humanas.(ibid. p.145)

    Aemergncia e o princpio hologramtico so dois princpios capitais paracompreender a ns mesmos.

    certamente a cultura que permite o desenvolvimento daspotencialidades do esprito humano. certamente a sociedade queconstitui um todo solidrio protegendo os indivduos que respeitamsuas regras. Mas tambm a sociedade que impe suas coeres erepresses sobre todas as atividades, desde as sexuais at asintelectuais. Enfim, e, sobretudo nas sociedades histricas, adominao hierrquica e a especializao do trabalho, as opressese escravides inibem e probem as potencialidades criadoras dosque as suportam (ibid).

    Enfim, no emblemtico livro, Terra-Ptria, acerca de reflexes gerais acerca doplaneta da poltica humanidade, Edgar Morin e Anne Brigitte Kern, enfatizam o seguinte:

    A poltica no tem soberania sobre a sociedade e sobre a natureza;ela se desenvolve de maneira autnoma/dependente numecossistema social, ele prprio situado num sistema ecossistemanatural, e as consequncias de suas aes, que entramimediatamente no jogo das inter-retroaes do conjunto social enatural, s obedecem por pouco tempo e raramente interao ou vontade de seus atores. Isto ainda mais verdadeiro na eraplanetria, na qual a interdependncia generalizada faz que aeslegais e singulares tenham consequncias gerais, longnquas einesperadas. O princpio da ecologia da ao poltica deve, portantoestar presente sem descanso no pensamento antropoltico e nopensamento planetrio. (MORIN E KERN, 2003. p. 142)

    4. CONCLUSO

    guisa de concluso podemos recapitular os focos da nossa exposio, vimos que acomplexidade no pretende solucionar os problemas epistemolgicos instanciados em seusmais diversos nveis, outrossim, aspira problematiz-los numa articulao orgnica, nosentido que os conhecimentos produzidos no se isolem, que nos eduquemos de forma

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    crtica e anti-dogmticas sem submeter os saberes caixas etiquetadas, em suma, munindo-nos do instrumental interdisciplinar, buscando o dilogo necessrio para uma conceposistmica do mundo. Vimos o quo abrangente o princpio hologramtico pode ser, e temosplena liberdade filosfica de adot-lo ou no, contudo, de se admirar a aplicabilidademetodolgica do mesmo e os resultados profcuos que pode engendrar. Em ultima anlise,

    a implicao complexo-sistmica culmina na tica e na poltica, desvelando a dimensocondicionante e constitutiva de toda prtica cognoscitiva, restringida ao mbito cientfico,ao mesmo tempo que se pensa pra alm, pois o pensamento complexo se estende para umplano de aes ecossistmicas, cidadania planetria e humanizadora sem perder de vista opadro que nos liga aos demais seres sencientes, respeitando-os igualmente como aos denossa espcie.

    5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    MENDES, Candido (org). Representao e Complexidade / Enrique Larreta (ed.).Riode Janeiro : Garamond, 2003MORIN, Edgar. Cincia com Conscincia. Traduo de Maria D. Alexandre e Maria AliceSampaio Dria. Ed. revista e modificada pelo autor - 8 Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,2005.

    _____. Introduo ao pensamento complexo/ Edgar Morin; traduo de Eliane Lisboa.Porto Alegre : Sulina, 2007.

    ______. NOTAS PARA UM EMLIO CONTEMPORNEO. Fonte: PENA-VEJA,Alfredo, ALMEIDA, Cleide R. S., PETRAGLIA, Izabel.Edgar Morin. tica, Cultura e Educao.So Paulo, Cortez, 2001. p. 149-156.

    _____. O MTODO 1: a natureza da natureza. / Edgar Morin ; trad. Ilana Heineberg.Porto Alegre : Sulima, 2008.

    ______. Terra-Ptria.Edgar Morin e Anne-Brigitte Kern / traduzido do francs por PauloAzevedo Neves da Silva.Porto Alegre : Sulina, 2003.