Trabalho Hospitais Psiquiátricos

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    Trabalho Territorial

    em Hospitais Psiquitricos

    Construindo no Presente umFuturo sem Manicmios

    Territorial Work in Psychiatric Hospitals Building a Future Without Hospices by Working in The Present

    Trabajo Territorial en Hospitales Psiquitricos Construyendo en el Presente un Porvenir sin Manicomios

    Artig

    o

    Lus Felipe Ferro

    UniversidadeFederal do Paran

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    PSICOLOGIA CINCIA E PROFISSO, 2009, 29 (4), 752-767

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    Trabalho Territorial em Hospitais Psiquitricos Construindo no Presente um Futuro sem Manicmios

    Lus Felipe Ferro

    Resumo: Tendo como pano de fundo o quadro da reforma psiquitrica no Brasil, o presente artigo procurasituar e diferenciar dois conceitos que considera mister para a transformao do modelo manicomial deassistncia sade mental: desospitalizao e desinstitucionalizao. A partir do aprofundamento da discussodesses conceitos, ressalta a necessidade da desinstitucionalizao da assistncia sade mental, abrangendotanto prticas teraputicas quanto o desmonte dos hospitais psiquitricos. Em proposta pragmtica, procura

    reposicionar o papel e a atuao dos agentes da sade vinculados ao hospital psiquitrico, discutindo apossibilidade de desinstitucionalizao de suas prticas teraputicas pela proposio de um trabalho territorial.A estruturao e a aplicao prtica desse trabalho visariam montagem e ao fortalecimento de uma redeconcisa de servios e encaminhamentos que poderiam subsidiar a necessria transformao do paradigmada sade mental e auxiliar a implantao dos servios substitutivos, resgatando o dbito da excluso socialcontrada pela sade mental junto loucura e investindo na incluso social e na cidadania da populaoatendida em situao asilar. O hospital psiquitrico, ainda necessrio para a garantia da assistncia sademental dado o atual quadro brasileiro de composio e estruturao dos servios substitutivos, apresenta-seaqui como catalisador de sua prpria reforma.Palavras-chave: Reabilitao psicossocial. Hospitais psiquitricos. Sade mental. Reforma psiquitrica.

    Abstract: Assuming the Brazilian psychiatric reform as a background, this article aims to situate anddifferentiate two essential concepts in order to transpose the old model of mental health attention, centered

    in the psychiatric hospitals: dehospitalization and desinstitutionalization. Exploring these concepts, theneed of desinstitutionalization of the attention in mental health is underlined, emphasizing the necessarychanges in the therapeutic practices as well as in hospitalization. In the pragmatic field, the article triesto re-set the role and the work of health professionals bound to psychiatric hospitals, arguing about thepossibilities of desinstitutionalization of the therapeutic practices by proposing a community-based work.The organization and the practical application of this work focuses the creation or fortification of a solidnet of community services that would subsidize the needful changes in the mental health paradigm and inthe strengthening of substitute services. It might rescue the debit of social exclusion made by mental health,investing in social inclusion and in the citizenship of the individuals with mental disorders. The psychiatrichospitals, still needed for the mental health attention, considering the actual panorama of composition andconstitution of the substitute services, becomes here the catalyzer of its own reform.Keywords: Psychosocial rehabilitation. Psychiatric hospitals. Mental health. Psychiatric reform.

    Resumen: Teniendo como teln el cuadro de la reforma psiquitrica en Brasil, el presente artculo procurasituar y diferenciar dos conceptos que considera menester para la transformacin del modelo de manicomiode asistencia a la salud mental: deshospitalizacin y desinstitucionalizacin. Desde el ahondamiento dela discusin de estos conceptos, resalta la necesidad de la desinstitucionalizacin de la asistencia a la saludmental, abarcando tanto prcticas teraputicas como el desmontado de los hospitales psiquitricos. Enpropuesta pragmtica, procura reposicionar el papel y la actuacin de los agentes de la salud vinculadosal hospital psiquitrico, discutiendo la posibilidad de desinstitucionalizacin de sus prcticas teraputicaspor la proposicin de un trabajo territorial. La estructuracin y la aplicacin prctica de ese trabajopretenderan el montaje y el fortalecimiento de una red concisa de servicios y encaminamientos que podransubvencionar la necesaria transformacin del paradigma de la salud mental y auxiliar la implantacin delos servicios sustitutivos, rescatando la deuda de la exclusin social contrada por la salud mental junto a lalocura e invirtiendo en la inclusin social y en la ciudadana de la poblacin atendida en situacin asilar. Elhospital psiquitrico, an necesario para la garanta de la asistencia a la salud mental dado el actual cuadrobrasileo de composicin y estructuracin de los servicios sustitutivos, se presenta aqu como catalizadorde su propia reforma.Palabras clave: Rehabilitacin psicosocial. Hospitales psiquitricos. Salud mental. Reforma psiquitrica.

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    local erigido na base da excluso social,poderia relacionar-se com um territrio?

    Pois bem, nesse terreno, primeira vistarido, que me percebi em prtica profissionale no qual procurei desenvolver este trabalho.

    Com minha formao acadmica voltadapara os ideais da reabilitao psicossocial

    Ao leitor, poderia apresentar-se, praticamenteem concomitncia com o ato da leiturado ttulo do presente trabalho, prontoestranhamento: trabalho territorial emhospitais psiquitricos?No estaria presenteum tamanho antagonismo entre essasduas prticas discursivas1da sade mentalque impossibilitaria qualquer relao decomposio? Como o hospital psiquitrico,

    1 Utilizo-me aqui dosconceitos foucaultianos

    de discurso e prticasdiscursivas para avaliar

    as transformaesocorridas na sade

    mental, suas prticase influncias sociais.

    Para o autor, odiscurso composto

    por condies emconstante mutao e

    localizadas espao/temporalmente, que

    sustentam a existnciade determinadas

    prticas e enunciados.A prtica discursiva um conjunto de regras

    annimas histricas,sempre determinadasno tempo e no espao,

    que definiram, emuma dada poca e

    para uma determinadarea social,

    econmica, geogrficaou lingstica,

    as condies deexerccio da funo

    enunciativa (Foucault,1995, p. 136). Para

    aprofundamento notema, aconselho a

    leitura de Foucault(1995).

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    para o trabalho em sade mental, tomandocomo tutores professores como FernandaNiccio, Elisabete Ferreira Mngia, IanniRegia Scarcelli, Denise Dias Barros, Eliane

    Dias de Castro, Maria Isabel Garcez Ghirardi,figuras importantes no cenrio atual dadesinstitucionalizao e da reabilitaopsicossocial brasileiras, debruando-me sobrea produo acadmica de Franco Basaglia,Paulo Amarante, Benedetto Saraceno, AnaPitta, Jairo Goldberg, Franco Rotelli, Foucaulte outros, finalmente, em proximidadeterica e com a prtica da experincia dedesinstitucionalizao da cidade italiana de

    Trieste, vi-me, por esses acasos do destino,trabalhando em um hospital psiquitrico.

    Choque conceitual, poderia pensar oleitor, e foi exatamente o que pensei eexperienciei. Mas foi esse o desafio que meinstigou naquele espao: como considerara transposio de um modelo pautado emrelaes de excluso? Como desmontar todauma tecnologia criada para normatizar, paradocilizar corpos? Como investir em processos

    de subjetivao da populao atendidaem situao asilar2, ampliar suas redes desuporte, como considerar sua incluso social?Haveria alguma maneira possvel de utilizaro espao e algumas das tecnologias dohospital psiquitrico para auxiliar e fortalecero trabalho dos servios substitutivos?

    Para uma explorao mais pormenorizadadessas questes, necessrio, de antemo,

    situarmos adequadamente as crticaslevantadas s propostas manicomiais es propostas dos servios substitutivos,explicitando, embora brevemente, o atualpanorama da sade mental no Brasil. Emseguida, exploraremos o terreno das polticaspblicas que sustentam as transformaespropostas na sade mental, para, finalmente,propor aliana ao trabalho ainda existentedo profissional da sade dentro dos hospitaispsiquitricos e as premissas da reabilitaopsicossocial.

    Hospital psiquitrico e omodelo manicomial de ateno sade mental

    Atualmente, cr ticas incisivas no campodiscursivo da sade mental desferidascontra as propostas manicomiais acusam acompreenso social da loucura na qual estasforam sustentadas (Niccio, 1995; Saraceno,1999; Pitta, 1996; Rotelli, Leonardis, & Mauri,2001). Nessa compreenso, o sujeito atendidodeveria ser retirado de seu meio social,internado em hospitais psiquitricos, que,por sua vez, exerceriam sua funo de cura

    do indivduo e, aps isso, poderiam devolv-lo novamente so e apto convivnciasocial. A palavra de ordem nessa concepo anormatizao do indivduo atendido.Esse , portanto, um sistema de ao queintervm em relao a um problema dado (adoena) para perseguir uma soluo racional,tendencialmente tima (a cura) (Rotelli et al.,2001, p. 26).

    Essa compreenso, ainda presente nos diasatuais, retira do sujeito atendido o poder dedeciso sobre sua vida e processo teraputico,destitui-o de sua cidadania, impe a eleuma existncia em um plano de menosvaliade suas opinies, desejos e potencialidadesde vida. Tal plano de existncia aindapriva o sujeito de seu prprio meio social,aprisionando a loucura em hospcios, com ainteno de causar uma pseudo-estabilidadepara uma normalidade. Falha enfaticamenteenquanto proposta de cura/normatizao,conforme apontado por Rotelli et al. (2001)e amplamente por autores vinculados aomovimento de desinstitucionalizao.

    Para Rotelli, ...a cronicidade continua a sero objeto por excelncia, o problema e o sinalmais evidente da impotncia da psiquiatriaem alcanar a soluo-cura (e os manicmiosso a evidncia concreta de tudo isso) (p. 26).

    No plano do concreto, a proposta de sade

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    2Utilizo-me dadefinio asilar

    pautado em Carneiroe Rocha (2004). Esse

    conceito consideradoaqui socioinstitucional,

    abarcando tantoindivduos em estado

    crnico da doena

    como aquelesque permaneceminternados mesmo emausncia de sintomas.

    O paciente asilar aquele cujo sistema

    de trocas com asociedade foi rompido,

    e cuja vida relacionalrestringe-se s relaes

    que ainda mantmno interior da vida

    institucional. Em outraspalavras, o paciente

    asilar o morador de

    uma instituio demodo permanente psicossocial.

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    mental no contexto manicomial ofereceriaao sujeito atendido, ento, ser retiradoprontamente de seu contexto de vida/famlia/trabalho aps um ou alguns episdios de

    sofrimento e surto, ser submetido a regrashospitalares frias e sem muita negociaoem relao s flexibilidades da vida decada interno. As vontades e os desejos dosindivduos atendidos seriam descartados emprol de uma idia pr-concebida do que seriasaudvel terapeuticamente para sua vida, eoferecer-se-ia em paralelo, e sem nenhumcusto adicional, uma fragilizao de suarede de suporte, dado seu longo perodo de

    internao e de recluso em um mundo quelhe alheio.

    Para esse ltimo item, nos necessria maiorateno para aprofundarmos as discussesque pretendemos neste trabalho.

    Como efeito da causa hospital psiquitrico,pacientes com longo histrico de internaopercebem na qualidade mais fenomnicade seus cotidianos o enfraquecimento

    de seus vnculos. Na grande maioria doscasos, a presena familiar da primeirainternao se nulifica ou no mnimo sereduz exponencialmente em internaesposteriores. O deslocamento consecutivode sua vida, promovida pela internaopsiquitrica, desmonta amizades, vnculostrabalhistas, possibilidades de reorganizaoe recomposio de sua vida. O hospitalcria um mundo para receber o indivduo,

    parte de suas necessidades reais, mundoque promove a excluso, a fragilizao devnculos. Sustenta-se ...a hiptese de queo mal obscuro da Psiquiatria est em haver

    separado um objeto fictcio, a doena, da

    existncia global complexa e concreta dos

    pacientes e do corpo social (Rotelli et al.,2001, p. 26, grifos do autor).

    Para familiares, tendo o hospital psiquitricocomo local de referncia, a resposta crise passaa se constituir sobre esse encaminhamento.

    Crise aps crise, internao aps internao,surto aps surto, o afrouxamento dos vnculoscom a famlia acontece paulatinamente, e,sentindo-se desamparada no tratamento do

    indivduo quando este se encontra no lar,agarra-se soluo que parece a mais simplese resolutiva: o abandono.

    A excluso, no caso dos loucos, produziuento um outro fenmeno, que a igualdadematerial apenas no supre: produziu...desfiliao. E esta se distingue da pobreza ouda privao de bens materiais por agregar mesma a ruptura dos vnculos e a ausnciade futuro, gerando invisibilidade social.

    (Silva, 2004, p. 22)

    O hospital psiquitrico, a partir da premissaerrnea e impalpvel concretamente sobre aqual baseia sua atuao, a cura/normatizao,sustenta prticas excludentes sua respostaltima, em vrios casos, acaba se tornandoo abandono perptua internao ou sinternaes to recorrentes que nada depalpvel pode ser estabelecido, organizadoou recuperado fora do espao manicomial.

    nesse quadro problemtico que se inseremas crticas e no qual os servios substitutivospropem novas prticas discursivas.

    Reabilitao psicossocial eos servios substitutivos aomodelo manicomial

    A partir das dcadas de 60 e 70, em cenriointernacional, comeam a surgir movimentos,

    com destaque para a psiquiatria democrticaitaliana, que procuraram levantar debatescontra as propostas manicomiais, buscandosua desconstruo e a proposio de novaspossibilidades de ateno sade mental(Antunes, Barbosa, & Pereira, 2002; Fassheber& Vidal, 2007).

    No Brasil, a partir dessa dcada, tcnicose usurios da sade mental apontaramincisivamente e de forma sistemtica anecessidade de reestruturao da assistncia

    A excluso,no caso dos

    loucos, produziuento um outrofenmeno, que

    a igualdadematerial apenas

    no supre:produziu...

    desfiliao. Eesta se distingueda pobreza ou

    da privao debens materiaispor agregar

    mesma a rupturados vnculos ea ausncia de

    futuro, gerandoinvisibilidadesocial. (Silva,2004, p. 22)

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    em sade mental. O Movimento dosTrabalhadores em Sade Mental (1987)une essas instncias, usurios, familiares etcnicos, e estrutura-se como movimento

    social, reivindicando transformaes nomodelo manicomial de ateno sademental (Carneiro & Rocha, 2004).

    Nesse contexto, a reabilitao psicossocial amplamente divulgada no mbito da sademental e priorizada pelas polticas pblicasatuais como proposta de assistncia sademental (Brasil, 2004) toma corpo juntoao discurso da sade, procurando proporalternativas para as problemticas levantadas

    pelo modelo manicomial de ateno, assimcomo sua transposio.

    Em vez da procura pela normatizao daloucura, pela formatao do indivduoatendido a um modelo preconcebidosocialmente como ideal/normal, a reabilitaopsicossocial tem suas prticas focadas emum objeto completamente diferente. Rotellicoloca:

    Mas, se o objeto, em vez de ser a doena,torna-se a existncia-sofrimento dospacientes e a sua relao com o corposocial, ento desinstitucionalizao ser oprocesso crtico-prtico para a reorientaode todos os elementos constitutivos dainstituio para esse objeto bastantediferente do anterior. (Rotelli et al., 2001,p. 30)

    Mas de que objeto estamos falando aqui? Oque essa existncia-sofrimento apontada

    por Rotelli? O que, na prtica, obteramos dediferena na ateno ao sujeito atendido e/ou composio de servios em sade mental?

    A resposta vem de solavanco s prticaspautadas no modelo manicomial. Criticacom propriedade as atividades do profissionalda sade mental erigidas sobre o terrenomanicomial.

    No caberia, nesse momento, o exlio doindivduo atendido de sua prpria vida;

    no se pensaria em normatizar o indivduoem espao institucional, para encaix-lo emmomento vindouro em uma sociedade quepermanecesse esttica.

    Quanto ao enfoque na cura e da atuaona especificidade da doena e no naproblemtica ampla do contexto de vida doindivduo atendido, Rotelli coloca:

    Por i s so e s se p r ime i ro pa s so dadesinstitucionalizao consiste no fato deque no se pretende enfrentar a etiologiada doena (ao contrr io, renuncia-se efetivamente a qualquer inteno de

    explicao causal), mas, ao contrrio, adota-se a direo de uma interveno prticaque remonte cadeia das determinaesnormativas, das definies cientficas, dasestruturas institucionais, atravs das quais adoena mental isto , o problema assumiuaquelas formas de existncia e expresso. Porisso, a reproposio da soluo reorienta demaneira global, complexa e concreta a aoteraputica como ao de transformao

    institucional. (Rotelli et al., 2001, p. 29)

    O foco na existncia-sofrimento coloca

    questionamentos para as prticas do modelomanicomial. O atendimento passa a necessitarde um territrio, o territrio do indivduoatendido, no qual as problemticas prpriasa esse sujeito possam ser vislumbradas etrabalhadas diretamente.

    No a substituio da desabilitao pelahabilitao, mas um conjunto de estratgiasorientadas a aumentar as oportunidades detroca de recursos e de afetos: somente

    no interior de tal dinmica de trocas quese cria um efeito habilitador. (Saraceno,1999, p. 112)

    Procura-se preservar e fortalecer vnculosfamiliares e comunitrios, resgatar o dbitoda excluso que as prticas da sade mentalcorroboraram, investindo na incluso socialdos indivduos atendidos. Nesse outroconceito de sade, procura-se, contra e acimada normatizao, investir na qualidade devida e nas demandas da populao atendida.

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    O problema no a cura (a vida produtiva),mas a produo de vida, de sentido desociabilidade, a utilizao das formas (dosespaos coletivos) de convivncia dispersa...

    A palavra de ordem : do manicmio,lugar zero dos intercmbios sociais, multiplicao extrema das relaes sociais...Se a relao com a doena tem semprecomo referncia um hospital, ambulatrioetc, a relao de desinstitucionalizaorequer a relao com um territrio. (Rotelli,2001, pp. 30, 36, 47)

    E esses so os desafios que a sade mentalcoloca para si mesma: como deslegitimaras prticas de excluso social promovidas

    pelo manicmio em prol de uma supostasade? Como restituir, ao sujeito atendido,a condio de cidado, que lhe vem sendoarrebatada por prticas da sade? Comoampliar a circulao social, a rede de suporte,fortalecer vnculos familiares e sociais? Comopromover a real incluso social da populaoatendida?

    Dois conceitos devem, ainda, antes de

    adentrarmos com maior propriedade emnosso objeto de pesquisa neste trabalho,ser abordados com certa cautela: adesinstitucionalizao e a desospitalizao.

    O movimento atualmente evidenciado dereforma psiquitrica, presente categoricamentenas polticas pblicas da sade mental (Brasil,2004), encontra em sua aplicao prtica, noentanto, alguns obstculos.

    Qualquer mudana de ideais e prticasdiscursivas no inaugura de sbito todo umnovo momento discursivo, em oposiocompleta ao que se conhecia (Foucault,1995). Qualquer nova prtica se instaura emum momento histrico, e no se v livre deseus legados.

    A prtica da desinstitucionalizao no pregaa simples extino dos hospitais psiquitricos,

    mas baseia-se em uma mudana do

    paradigma no qual estes foram erigidos, queinclui diversas das tecnologias reabilitativaspresentes atualmente.

    O movimento da desinstitucionalizao, seconfundido com uma pobre desospitalizao,resumir-se-ia a acabar com os espaos fsicosdos hospitais psiquitricos e perderia suaqualidade mais interessante, a transposiodo modelo manicomial de ateno. Casobastasse a desospitalizao, mini-hospitaispsiquitricos territoriais seriam inauguradose se chamariam Centros de ReabilitaoPsicossocial (CAPS). Mudar-se-iam os

    nomes sem uma transformao no que adesinstitucionalizao considera mister, amudana na concepo de sujeito, de cura,de reabilitao, de incluso social, de sade equalidade de vida culminando em prticastotalmente diferentes das aplicadas noshospitais psiquitricos.

    Prazeres e Miranda (2005) realizaram umestudo buscando compreender a relaoentre um servio substitutivo e um hospital

    psiquitrico de uma cidade no interior deMinas Gerais, entrevistando, para tanto,alguns agentes envolvidos nesses doisservios de sade mental. Recorro citaode uma entrevista, presente no corpo dotexto, que creio ser emblemtica. Disse oentrevistado: Se o servio substitutivo tiverfuncionamento vinte e quatro horas, ele virahospital psiquitrico, [e disseram os autores]afirmamos que: se o hospital psiquitrico

    resolver a questo da liberdade, ele vira umservio substitutivo.

    O processo de desinstitucionalizaono pra na desospital izao. Se adesinstitucionalizao for confundida comdesospitalizao e esta for mantida naaplicao prtica em carter exclusivo,replicar-se-iam todas as prticas segregatriasevidenciadas no hospital psiquitrico ea citao acima seria justa. Um mundo parte seria novamente construdo e diversas

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    oficinas e atendimentos aconteceriam dentrodo CAPS, circunscrevendo a loucura a esseespao a incluso social e os ideais dareabilitao psicossocial no se sustentariam

    concretamente.

    As questes principais da desinstitucionalizaono se restringem desospitalizao; somaiores e englobam esta ltima. Se replicarmoso modo de funcionamento de um hospitalpsiquitrico em um servio substitutivo, nofalaramos de desinstitucionalizao nempoderamos falar em servios substitutivos,s poderamos discorrer a respeito de um

    mini-hospital psiquitrico, localizado perto daresidncia dos pacientes, onde os pacientesseriam soltos para dormir em suas casas.

    essa a problemtica que se apresenta sade mental, desligar-se de seus legados ecompor novos conhecimentos e tecnologiaspara suas prticas.

    Dessa forma, no basta desospitalizar. preciso desinstitucionalizar, pois o que se

    encontra em jogo no apenas um novoendereo, seja um asilo, um internato oumesmo a famlia, em que a situao detutela do sujeito seja mantida, mas a adoode uma poltica de incluso do paciente navida social. (Carneiro & Rocha, 2004)

    Reiterando: para a reabilitao psicossociale os servios substitutivos, interessa enxergare levantar desejos dos indivduos atendidose possibilitar a esses a participao socialem outros papis sociais que no osreservados doena. Intenciona-se investirna ampliao de redes de trocas sociais doindivduo, ao inseri-lo em um mundo deintersubjetividades. No se trata mais debuscar a normalidade, mas de proporcionara vivncia da diferena, de criar mecanismosde funcionamento sociais que a abarquem emtoda sua complexidade, de fortalecer umarede de servios que procure dar conta detoda a complexidade dos sujeitos atendidos.Caracteriza-se outro momento discursivo

    da sade mental, o de uma reviso de seusparadigmas, o de outra concepo de sade,que extrapole a inteno de normatizaoda loucura.

    Antes de pousarmos em terreno fi rmee de apresentarmos a possibilidade (e anecessidade) de um trabalho concreto dedesinstitucionalizao dentro do espaode um hospital psiquitrico visando aofortalecimento das prticas territoriais e dosservios substitutivos, vejamos brevementecomo se encontra a legislao brasileira emseu dilogo com a desinstitucionalizao.

    Ode desinstitucionalizao

    Vrias frentes, sustentadas pela legislaobrasileira, vm propondo a desospitalizaoque compe o atual quadro da reformapsiquitrica.

    A Portaria GM n 2.077, de 31 de outubro de2003, regulamenta o programa intitulado DeVolta para Casa, criado pela Lei n 10.708,de 31 de julho de 2003. Essa Lei instituiu...o auxlio-reabilitao psicossocial paraassistncia, acompanhamento e integraosocial, fora de unidade hospitalar, de pacientesacometidos de transtornos mentais, internadosem hospitais ou unidades psiquitricas... emperodo igual ou superior a dois anos (Brasil,2003). Esse auxlio contempla indivduos com...alta hospitalar ou morando em residnciasteraputicas, com suas famlias de origem ou

    famlias substitutas, ou formas alternativas demoradia e de convvio social (Brasil, 2003).

    Essa portaria ainda obriga a excluso do leitodo indivduo que saiu da instituio hospitalare a transferncia dos recursos correspondentespara aes extra-hospitalares.

    Outra portaria que nos interessa nestetrabalho, a Portaria GM n 106, de 11 de

    fevereiro de 2000, legisla sobre a criaoe a constituio dos intitulados Servios

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    Residenciais Teraputicos, reservados parao atendimento de pessoas com transtornosmentais.

    Nessa Portaria,

    ...entende-se como Servios ResidenciaisTeraputicos moradias ou casas inseridas,preferencialmente, na comunidade,destinadas a cuidar dos portadores detranstornos mentais, egressos de internaespsiquitricas de longa permanncia,que no possuam suporte social e laosfamiliares, e que viabilizem sua insero

    social. (Brasil, 2000)

    Aqui tambm os leitos hospitalares reservadosaos indivduos transferidos para essa novamodalidade de ateno seriam excludosda instituio ou descredenciados do SUS,realocando seus recursos.

    Dois artigos dessa Portaria que nos interessampara a atual discusso so descritos na ntegraabaixo:

    Art. 3 Definir que aos Servios ResidenciaisTeraputicos em Sade Mental cabe:a) Garantir assistncia aos portadores detranstornos mentais com grave dependnciainstitucional que no tenham possibilidadede desfrutar de inteira autonomia social e nopossuam vnculos familiares e de moradia;b) Atuar como unidade de suportedestinada, prioritariamente, aos portadoresde transtornos mentais submetidos a

    tratamento psiquitrico em regime hospitalarprolongado;c) Promover a reinsero dessa clientela navida comunitria.

    Art. 4 Estabelecer que os ServiosResidenciais Teraputicos em Sade Mentaldevero ter um projeto teraputico baseadonos seguintes princpios e diretrizes:a) Ser centrado nas necessidades dosusurios, visando construo progressivada sua autonomia nas atividades da vida

    cotidiana e ampliao da insero social;b) Ter como objetivo central contemplaros princpios da reabilitao psicossocial,oferecendo ao usurio um amplo projeto de

    reintegrao social, por meio de programasde alfabetizao, de reinsero no trabalho,de mobilizao de recursos comunitrios,de autonomia para as atividades domsticase pessoais e de estmulo formao deassociaes de usurios, familiares evoluntrios;c) Respeitar os direitos do usurio comocidado e como sujeito em condio dedesenvolver uma vida com qualidade e

    integrada ao ambiente comunitrio. (Brasil,2000)

    Cito esses dois artigos para afirmar a importnciadas prticas de desinstitucionalizaovinculadas ao processo de desospitalizaoe para ressaltar as premissas legais dasresidncias teraputicas.

    No esqueamos ainda a Portaria n 52/

    GM, de 20 de janeiro de 2004, que instituio Programa Anual de Reestruturao daAssistncia Psiquitrica Hospitalar no SUS, quereafirma a poltica de reduo progressiva deleitos em hospitais psiquitricos e desloca osrecursos advindos dessa reduo para serviosde suporte desinstitucionalizao.

    Os trs componentes principais do Programaso: 1) a reduo progressiva de leitos (pormdulos de 40 leitos), constituindo novaclassificao para os hospitais a partir donmero de leitos SUS, com recomposiodas dirias; 2) estmulo s pactuaes entregestores e prestadores para que a reduo sed de forma planejada, prevendo a assinaturade um Termo de Compromisso e Ajustamentoentre as partes na garantia de efetivao doprograma e 3) redirecionamento dos recursosfinanceiros da internao para a atenoextra-hospitalar em sade mental. Em suma,este programa estabelece um mecanismo

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    organizador do processo de reduo deleitos, com incentivo financeiro pela reduo(priorizando os hospitais de menor porte) epela melhor qualidade de assistncia, aferida

    pelo PNASH psiquiatria. (Brasil, 2004)

    A revista Psicologia: Cincia e Profisso Dilogos, em seu 4 volume, de dezembro de2006, disponibiliza alguns dados interessantesa respeito da diminuio gradual dos leitoshospitalares, em um artigo com o ttulo EmNome da Incluso.

    O Brasil atinge o pico da poltica centrada

    na internao, totalizando 430 hospitaispsiquitricos em seu territrio nacional 73 pblicos e 357 privados. De acordocom levantamento do Ministrio da Sade,divulgado em junho de 2006, o nmero dehospitais no passa de 228.

    E o nmero de leitos no pra de diminuir. De72.514, em 1996, eles baixaram para 60.868.em 2000, e, no ano passado (2005), carampara 42.076. Por trs dessa mudana, estevee continua presente o empenho de centenasde profissionais da rea de sade, alm doesforo governamental... Atualmente (2006),alm de 426 residncias teraputicas, existem882 CAPS espalhados pelo territrio nacional,sendo que 29 deles funcionam 24 horas pordia. (Conselho Federal de Psicologia [CFP],2006, p. 57)

    Fassheber eVidal (2007, p. 196) ainda

    complementam:

    No Brasil, atualmente, existem mais de 300RTs (residncias teraputicas) distribudas em14 Estados, abrigando mais de 1.500 pessoas.Apesar de esse nmero parecer expressivo,pode-se dizer que esses servios ainda estoem fase embrionria, representando apenas11% do total previsto.

    Em atual quadro da sade mental,caracterizado pelo progressivo desmonte

    dos hospitais psiquitricos, fica a pergunta:como poderiam os profissionais da sademental vinculados aos ainda existenteshospitais psiquitricos aliar-se s premissas

    da reabilitao psicossocial em seu exerccioprofissional? Como poderiam esses agentesfocar seus trabalhos e esforos tcnicos paraa incluso social da populao em situaoasilar atendida? Haveria forma cabvel deconjugar o trabalho dentro de um hospitalpsiquitrico e o fortalecimento dos serviossubstitutivos?

    O trabalho do profissional da

    sade no hospital psiquitrico:garantindo incluso social,cidadania e fortalecendoservios substitutivos

    Como vimos, a desinstitucionalizao no serestringe somente a uma desospitalizao,mas atravessa seus limites. Ela a criaode um novo conjunto de tecnologias queprocura responder s demandas do indivduo

    atendido, procurando inclu-lo na vidasocial em base igualitria, garantindo suaparticipao no trabalho e em eventossocioculturais, de lazer, de formao ecidadania sua incluso social.

    O fato que, agradando ou no aos quedefendem as premissas da reabilitaopsicossocial, os hospitais psiquitricos existeme ainda existiro por algum tempo, no mnimo

    at que os servios substitutivos tomem corpoe consistncia, at que uma rede concisa deservios e encaminhamentos possa subsidiara necessria transformao do paradigmada sade. No entanto, dada a situao deexistncia dos hospitais psiquitricos, comopoderamos considerar a incluso social daspessoas que residem nesses locais? E aqui seinstala a proposta de desinstitucionalizaocomo mudana do modo de atuao dosprofissionais da sade.

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    Em vez de reservarmos nossos esforos paraa atuao dentro do hospital psiquitrico,buscando resgatar a promessa falvel danormatizao do indivduo atendido,

    atravs das tcnicas da mais variada sorte, adesinstitucionalizao nos levaria a pensar (ea agir) diferentemente. E, se desmontssemosa idia preconcebida do trabalho cabveldentro de um hospital psiquitrico, darealizao de grupos de atividades, oficinas,dos atendimentos grupais e individuaisdos profissionais da terapia ocupacional,Psicologia, Medicina, mesmo que realizadosda melhor forma cabvel a partir do modelo

    manicomial, dentro do hospital psiquitrico,o que nos sobraria? Qual seria nosso papelcomo agentes da sade? Como transporamosa funo de aliados da norma para aliadosdos indivduos atendidos?

    Pensando unicamente no atendimentodentro do hospital psiquitrico, no vejoqualquer sada para essas questes. Noentanto, e se transpusssemos os muros dessainstituio, derrubando, nesse processo,nossos prprios muros imaginrios h tantocristalizados?

    Implementar a desinstitucionalizao requerinstalar-se em um territrio, retomando aspalavras de Rotelli et al. (2001, p. 47): Sea relao com a doena tem sempre comoreferncia um hospital, ambulatrio, etc, arelao de desinstitucionalizao requer arelao com um territrio.

    Caberia aos profissionais da sade, nessenovo momento discursivo, abrir as portasdo hospital psiquitrico e aventurar-sepelo territrio, respirar novos ares junto populao atendida.

    E se, ao invs de nos comportarmos comocarcereiros, trancafiando a loucura eprocurando docilizar corpos para uma

    internao mais pacfica, empunhssemosa chave das portas (cuja posse infelizmente

    ainda detemos) e explorssemos, compacientes asilares h tanto institucionalizados,a potencialidade de vida presente no mundodefora?

    Nesse novo papel, caberia a ns, profissionaisda sade, a incluso social da populaoatendida, fortalecendo o dilogo de nossasprticas com o mundo de fora. No entanto,a primeira questo que se apresentaria seria:qual esse mundo de fora?

    Inicialmente, seria imprescindvel, paraadentrar nesse mundo com a populao

    atendida, conhec-lo adequadamente.Ao profissional da sade, a misso inicialincumbida: levantar todas as possibilidadesdo territrio em que se instala o hospitalpsiquitrico, levantar os diversos equipamentossociais presentes nas proximidades do hospitalpsiquitrico. E, para responder s demandasdos usurios de nossos servios nada nos mais necessrio do que a montagem concisade uma rede de servios e equipamentossociais do local.

    Exploraramos, em um primeiro momento,a existncia de espaos de cultura e lazer,de profissionalizao, de cooperativas detrabalho, de igrejas e/ou centros religiosos,de estudo e formao, de ONGs, OSCIPs,associaes e terceiro setor em geral. readevidamente conhecida, as parceriasprodutivas so sempre bem-vindas; emsegundo momento, o trabalho sobre a criao

    e/ou fortalecimento de uma rede de serviosconcisa, contactando as entidades e osequipamentos sociais em busca de elaboraode projetos conjuntos para atendimento dapopulao alvo: internos psiquitricos emsituao asilar.

    E aqui no pretendemos fixar nenhumprojeto como imutvel e imprescindvelpara toda e qualquer populao/regio/

    hospital psiquitrico, recorrendo a um errocartesiano bsico. Cada parceria e projeto

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    devero procurar responder diversidadedas demandas de sua prpria clientela, tendocomo base a disponibilidade de serviosterritoriais.

    O que nos nortear, no entanto, seropremissas da reabilitao psicossocial jestabelecidas: a incluso social, o respeito cidadania, o trabalho sobre as demandas dosindivduos atendidos, a procura pela criaode oportunidades de profissionalizao,formao, participao cultural, social epoltica, o investimento em projetos desubjetivao do indivduo atendido, o

    trabalho intersetorial e a criao de uma redede servios e encaminhamentos.

    Atravs dos projetos obtidos, o profissional dasade procurar resgatar a dvida da excluso,que h tanto vem sendo contrada pela sademental em relao ao indivduo atendido,garantindo a restituio de sua cidadania.

    Um exemplo palpvel para pousarmos deum plano iderio em terreno slido ocorreu

    a partir de uma experincia profissional.Aps levantar alguns equipamentos sociaisdas proximidades do hospital psiquitricoonde trabalhei como terapeuta ocupacional3,algumas parcerias proveitosas puderam serobtidas. Uma delas foi a composio deum projeto em conjunto com uma igrejaevanglica4 local que apresentava fortepreocupao e empenho com trabalhossociais.

    Nesse projeto, a igreja disponibilizou seuespao e entrou em contato com vriosfiis para a composio e a ministraode aulas da mais variada sorte (artesanato,msica, alfabetizao, dana, etc) visando formao/profissionalizao/lazer dosindivduos atendidos pelo hospital. A partirde projetos como esse, diversas frentes detrabalho poderiam se abrir: subprojetos de

    gerao de trabalho e renda, de participaosociocultural, etc, sempre em dilogo com

    um mundo compartilhado e norteado pelaincluso social.

    Em outro projeto realizado, a mesma igreja

    disponibilizou veculo prprio para transportaroito indivduos em longa internao efragilidade de vnculos familiares e conduzi-los a seu culto principal, assim como paraacolher esses indivduos de maneira noestigmatizada. Em contra-partida, caberia aosprofissionais da sade em ambos os projetos:levantar demandas dos usurios para aparticipao nestes projetos, construindo estaparticipao em conjunto com o indivduo

    atendido e respeitando suas vontades edesejos, investindo no resgate/fortalecimentode sua subjetividade/cidadania; preparar,embasado teoricamente na reabilitaopsicossocial, os parceiros da igreja parao trabalho com a populao da sademental, caso fosse necessrio; acompanharos indivduos atendidos em seu percursono projeto; trabalhar de maneira no-assistencialista as relaes interpessoaisgarantindo o acolhimento e participaosocial dos usurios; trabalhar a relao evinculao do usurio ao local e parceiros;pensar em sub-projetos concomitantes e emestreito dilogo com os projetos iniciais, dadoo exemplo do sub-projeto de gerao derenda e trabalho, participao cultural, etc...

    Dessa forma, mesmo trabalhando em ummanicmio, os ideais e procedimentos prprios desinstitucionalizao podem ser postos em

    prtica, corroendo por dentro essa mquinade normatizao e dessubjetivaodenominada manicmio.

    Outro projeto que exigiu nossa preocupaofoi o trabalho com voluntrios internos.Nesse trabalho, indivduos da comunidade,contactados atravs do levantamento eda relao com as entidades e com asferramentas sociais, eram acionados paraministrar aulas de diversas atividades, assimcomo para apresentar peas de teatro/msica

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    3A Associao

    Beneficente daSade Mental, mais

    conhecida comoHospital Charcot.

    Trata-se de umhospital psiquitrico

    com um dos quadrosmais problemticos

    da cidade de SoPaulo.

    4 Igreja EvanglicaRio da Vida, situadaem So Caetano do

    Sul, na rua Silvia,1493.

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    dentro da instituio. E aqui o perigo iminente! Caso esse trabalho seja apropriadocomo fim em si, podemos at afirmar umacerta melhora na qualidade de vida das

    pessoas dentro dos hospitais psiquitricos,mas jamais sua incluso social! Caso sejaafirmado e reafirmado incisivamente comoum meio, atravs de prticas concomitantesque se utilizem do aprendizado das tcnicasnas atividades oferecidas e reforcem aparticipao cultural e social do usurio,poderamos falar em incluso social, emborapassveis de crticas. Investiramos na sadadessa produo, no levantamento de locaisde escoamento, no trabalho em conjunto

    com os indivduos com gerao de renda,trabalho com participao sociocultural. Aprtica do voluntariado, entretanto, por si s,recairia na criao de um mundo paralelo loucura. Apetece-me mais a idia de transporos limites institucionais/manicomiais em todoo percurso, pois o mesmo trabalho poderiaser realizado na comunidade, caso exista ooferecimento de aulas em espaos sociais oueste seja conseguido atravs de parcerias. O

    levantamento da possibilidade de inclusodos usurios no mercado de trabalho, formalou informal, em empresas capitalistas oucooperativistas, ainda so oportunidades eparcerias que podem ser estabelecidas.

    Creio que, neste momento, o trabalhadorda sade mental que se envolveu com opresente artigo pde terica e praticamenteconceber os ideais da desinstitucionalizaoassim como vislumbrar concretamente a

    possibilidade da destruio de muros edo seu papel nesse processo. Recorro, noentanto, a mais duas experincias prticaspara reforar o contedo pragmtico doartigo, ressaltando, contudo, a riqueza davariedade das experincias e dos projetosadvindos das futuras parcerias dessesprofissionais quando em contato com umterritrio.

    Para qu restringirmos nossa atuao paradentro de quatro altas paredes cinza e frias?

    Conhecendo o territrio, ainda poderamossimplesmente andar at um SESC com algunsusurios que gostem de teatro e assistirmosuma agradvel comdia. Quem j trabalhou

    ou trabalha em hospitais psiquitricos conhecede perto a miserabilidade subjetiva do locale as cores e brilhos que provocariam nosolhos dos usurios um simples teatro. A sademental pequena, se instala no mais usual davida cotidiana. Quo grande seria nosso papelse investssemos nessa pequena sade mental!

    Com o andar desse processo, com a aberturagradual das portas, a destruio progressivados muros mentais e fsicos, quem sabe algunsusurios no poderiam sozinhos caminharpara seu destino, o teatro? Quo pequenoseria esse ato?

    Poderamos acionar, quando em contato com oterritrio, voluntrios externos, que poderiam,em primeiro momento, acompanhar osusurios para compor um cotidiano em que asade mental pudesse ser observada, em quea misria subjetiva do manicmio pudesse ser

    transposta. Em um segundo momento, comum investimento macio dessa nova forma deatuao na constituio das redes de suportedos indivduos atendidos, quem sabe oterapeuta ou o voluntrio externo no dessemlugar a algum que o usurio chamasse deamigo... bem pequeno, mas exatamente nolugar em que a vida se instala em potncia...

    Alguns profissionais poderiam considerar seresse um trabalho excessivo deslocar-se de

    nossas cmodas salas teraputicas (nem tocmodas em alguns hospitais psiquitricos),tendo que transpor e/ou ampliar nosso usualsetting teraputico mas esse trabalho, noentanto, se faz imprescindvel caso queiramosfalar de incluso social, caso queiramostransformar a legitimidade da miserabilidadesubjetiva prpria ao modelo manicomial,se intencionamos o respeito cidadania, otrabalho com a sade, a qualidade de vida e

    o investimento na demanda dos indivduosatendidos.

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    Longe de excessivo, creio que as qualidadesatribuveis a esse trabalho poderiam ser:teraputico, humanizador, necessrio,subjet ivante, desinst itucionalizante,

    transformador, inclusivo, instigante,desafiador. Longe de tomar tal trabalho comoexcessivo, creio ser esse somente um trabalhono usual ao que vem sendo praticado nomanicmio, mas que pode facilmente tomarseu lugar a tica para com o paciente,alm de tudo, nos tomaria de mpeto, e noscompeliria a realiz-lo.

    Alm disso, tais prticas podem ser sustentadas

    legalmente. A Portaria SNAS n 224, de 29de janeiro de 1992, legislando a respeitodas normas para o atendimento do hospitalpsiquitrico, impe a necessidade de prepararo indivduo atendido para a alta, garantindoainda a existncia e o fortalecimento de umsistema de referncia e contra-referncia(Brasil, 1992).

    Para alm do manicmio, creio que essetrabalho ainda pode oferecer subsdios para

    os prprios servios substitutivos repensaremalgumas de suas prticas herdadas do modelomanicomial.

    Um dos tpicos de discusso propostos pelopresente artigo ainda permanece descoberto:o fortalecimento dos servios substitutivosa partir da prtica do trabalho territorialem hospitais psiquitricos. O que tem acontribuir o trabalho realizado em hospitais

    psiquitricos para os servios substitutivos,embora considerado territorialmente? Qualseria o dilogo entre essas duas prticas?

    Profissionais da sade emhospitais psiquitricos preparando o futuro,intervindo no presente

    Dado irrevogvel: os hospitais psiquitricosconforme se apresentam atualmente no

    tero uma vida to curta. A poltica nacionalda sade, embora se apresente incisivamentecontra o modelo manicomial, projetandoseu foco na desospitalizao, na reforma

    psiquitrica, na desinstitucionalizao,ainda no apresenta estruturao suficientepara contar com o pronto fechamento doshospitais psiquitricos em mbito nacional.

    Residncias teraputicas, formas alternativasde moradia, servios territoriais, trabalhosobre fortalecimento e manuteno devnculos familiares vm se estruturando natentativa de descaracterizar a necessidade de

    internaes prolongadas e de reconfigurar omodelo de ateno na sade mental.

    No entanto, um recado aos profissionaisda sade que trabalham em hospitaispsiquitricos: antes de serem tomados pelomedo da desapropriao do trabalho e de seapegarem firmemente s premissas exclusorase desumanas do modelo manicomial,defendendo a continuao de sua existnciaem moldes usuais, tenhamos claro o novo

    momento da sade e seus questionamentos.Procuremos transformar nossas tecnologiasde acordo com tal momento, visando humanizao, cidadania e incluso socialna prestao de nossos servios.

    A contribuio dos agentes da sade noshospitais psiquitricos para esse novomomento no pra por aqui. Dada asubstituio do modelo manicomial por um

    modelo mais humano de ateno sade,algumas misses cabero a esses novosservios e formas de atuao: montar uma redeconcisa de encaminhamento entre os serviospresentes no territrio, de suporte e atenoaos indivduos com transtornos mentais,incluir socialmente os indivduos em longoperodo de internao, (re)apresentando-lheso mundo e possibilidades de convvio sociale garantindo sua participao no trabalhoe em eventos socioculturais, de lazer e de

    formao, assim como no exerccio de suacidadania.

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    No cabe aqui a defesa da continuao daexistncia do espao fsico do manicmio,mesmo com a desinstitucionalizao de suasprticas teraputicas. A poltica da sade

    mental est configurada para seu desmonte,e esse um legtimo ganho social conquistadopelo movimento antimanicomial a partir debatalhas rduas.

    Ao profissional da sade, seria mais urgenteresgatar a cidadania e investir na subjetividadee na incluso social dos indivduos atendidosnos hospitais psiquitricos.

    Atravs da prtica dos prof issionais dasade mental nos hospitais psiquitricos,transformada pelos ideais da reabilitaopsicossocial, o fortalecimento dos serviosterritoriais poderia ser evidenciado namontagem e na estruturao de uma redede encaminhamentos e de servios quetomaria corpo e serviria como subsdio paraa composio dos servios substitutivos.

    Uma vez tal rede instalada e operante, osservios substitutivos poderiam inserir-senessa rede e gradualmente desinstalar ohospital psiquitrico como referncia daregio para a sade mental, aproveitandoat mesmo a mo-de-obra dos agentes desade dos hospitais psiquitricos, que teriamseu mesmo perfil e o ganho da familiaridadecom a rede.

    A incluso social seria de pronto investida

    pelo hospital psiquitrico, e, aos usuriosde seus servios, seria devolvida uma vidah tanto reduzida. Uma vinculao aoterritrio seria composta junto aos indivduosatendidos. Aos servios substitutivos, como,por exemplo, as residncias teraputicas, emcontrapartida, caberia respeitar a cidadaniado indivduo e o seu vnculo com o territrio,levando em considerao tais quesitos emsua pragmtica. Propor-se-iam residncias

    teraputicas em determinadas regiespara dar conta de determinados cidados

    internados nessas regies no caberia retiraro indivduo de seu territrio sem consultarsua vontade explcita. Que o indivduo possaescolher que casa e que bairro habitar, que

    lhe seja garantida o mnimo de cidadania emseu percurso vital.

    Aos CAPS a serem instalados nas regies doshospitais psiquitricos: servios adiantados.A incluso social j estaria sendo trabalhada.Transformaes sociais que garantissem apresena da loucura em todos os mbitos dasociedade, advindas do processo da incluso,j estariam em movimento.

    Aos servios de sade primria, prontaparceria poderia ser proposta, fortalecendoesses servios para avaliar sua atuao junto populao da sade mental, pensandoem projetos de parceria para gerao derenda com a comunidade de maneira ampla,investimento em participao social e criaode cooperativas de trabalho.

    A de si ns ti tucional izao das pr t ica steraputicas no requer espao fsicodiferente do manicmio. Os dois processos,desinstitucionalizao de prticas teraputicase desmonte do hospital psiquitrico,dificilmente acontecem simultaneamente.Pode haver uma desospitalizao de umaregio sem, no entanto, desinstitucionalizarem-se as prticas teraputicas aqui se criariamos mini-hospitais psiquitricos. Importante,no entanto, colocar em movimento, tantono mbito hospitalar quanto no mbitosubstitutivo, a desinstitucionalizao.

    Concluso

    Aos que se aventurarem a aplicar os ideaisda desinstitucionalizao nos hospitaispsiquitricos ainda existentes, procurandoinvestir em cidadania e subjetivao dapopulao em situao asilar, uma observao:o problema maior do que parece.

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    Alm dos al tos muros e das barrei raspsicossociais que colaboram para umacronificao dos tcnicos da sade, diversasregras de funcionamento institucional

    devero ser combatidas cotidianamente,e parcerias entre tcnicos e administraohospitalar devem se afinar cada vez maispara proporcionar a conciso necessriaaos projetos.

    Tive a oportunidade de contar com umaequipe teraputica em boa parte j formadapelos ideais da reabilitao psicossocialque apostou no trabalho proposto. Creio,

    infelizmente, que tal facilidade no servivenciada por todos os agentes de sadeque optarem por esse caminho; no entanto,as parcerias fortalecem e do cada vez maiscorpo ao trabalho.

    O trabalho que descrevemos neste artigoteve fim devido ao processo de fechamentodo hospital psiquitrico em que estavasendo desenvolvido desfecho ideal porexcelncia. No entanto, tenho a inabalvelcerteza de que diversos conflitos permeariama continuao do trabalho e teriam que sercautelosamente tratados.

    Refletir a respeito da desinstitucionalizaorequer mais do que pensar somente sobrea desospitalizao. Caso esta tome a cenaprincipal, nada ser feito dentro dos hospitaispsiquitricos para colocar em andamentoa desinstitucionalizao. O hospital

    psiquitrico no condio impeditiva aotrabalho de desinstitucionalizao, mas ,acima de tudo, afirmativo da necessidadeinterna dessa prtica.

    Em atuais configuraes sociais da sademental, percebemos a necessidade decolocar em movimento o processo dedesinstitucionalizao, tanto dentro comofora do espao fsico do manicmio, visto

    que este ainda se encontra presente naateno sade mental.

    Do mesmo modo que um CAPS, umaresidncia teraputica ou um servioterritorial, podem funcionar como um mini-manicmio, e os hospitais psiquitricos

    podem procurar transpor seus prprios limitesdesinstitucionalizando-se por dentro. Aindahaver diversas e assertivas crticas referentesao hospital psiquitrico quanto tutela dosindivduos atendidos nesses espaos; noentanto, tomemos como certo o cartertransitrio desses servios e procuremos,mesmo dentro deles, fortalecer a reabilitaopsicossocial e, acima de tudo, trabalhemospara resgatar a subjetividade do indivduo

    atendido e sua relao com o mundo assimcomo sua condio de cidadania.

    Em vez de atacarmos, atravs de crticascontraproducentes, tanto os hospitaispsiquitricos quanto os profissionais dasade que prestam servio nesses locais,tomemos a existncia desses espaos comotransitria e ainda necessria, dado o atualquadro de composio e estruturao dosservios substitutivos. E se, em concomitncia

    com a briga terica, propusssemos umaaliana prtica? Construiramos, assim, umfuturo sem manicmios, agindo em umpresente onde estes existem, atravs deprofissionais com posturas, ideais e prticasdesinstitucionalizadas.

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    Lus Felipe FerroTerapeuta ocupacional formado pela Universidade de So Paulo, mestre pelo Departamento de PsicologiaSocial e do Trabalho pelo Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo, professor do curso de TerapiaOcupacional da Universidade Federal do Paran, Curitiba, PR Brasil.

    Endereo para envio de correspondncia:Rua Padre Camargo, 280 - Alto da Glria, Curitiba, PR - Brasil - CEP: 80060-240 A/C Departamento de TerapiaOcupacional - Setor de Cincias da sadeE-mail: [email protected]

    Recebido 10/09/2008, Reformulado 07/01/20009, Aprovado 16/02/2009

    Lus Felipe Ferro

    PSICOLOGIACINCIA E PROFISSO,

    2009, 29 (4), 752-767