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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade
Alantiara Peixoto Cabral
Trajétoria profissional e formação continuada dos professores de
educação física da rede estadual de ensino da Bahia: tecendo fios de
memória
Vitória da Conquista
Agosto de 2016
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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB
Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade
Alantiara Peixoto Cabral
Trajétoria profissional e formação continuada dos professores de
educação física da rede estadual de ensino da Bahia: tecendo fios de
memória
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade,
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia,
como requisito parcial para obtenção do título de
Mestre em Memória: Linguagem e Sociedade.
Área de Concentração: Multidisciplinaridade da
Memória.
Linha de Pesquisa: Memória, Cultura e Educação.
Orientador: Prof. Dr. Felipe Eduardo Ferreira Marta.
Vitória da Conquista
Agosto de 2016
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Título em Inglês: Professional Trajectory and Continued Formation of Teachers of Physical Education of the Bahia State Teaching Network: Weaving threads of Memory
Palavras-chaves em Inglês: Memory. Professional Career. Physical Educaction Teacheres. Continuing Education.
Área de concentração: Multidisciplinaridade da Memória
Titulação: Mestre em Memória: Linguagem e Sociedade.
Banca Examinadora: Prof. Dr. Felipe Eduardo Ferreira Marta (Orientador), Prof. Dr. Cláudio
Eduardo Félix dos Santos (titular), Prof. Dr. Luís Vitor Castro Júnior (titular).
Data da Defesa: 24 de agosto de 2016
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade.
Cabral, Alantiara Peixoto C240t Trajetória Profissional e Formação Continuada dos Professores de Educação Física da Rede Estadual de Ensino da Bahia: Tecendo fios de memória; orientador: Felipe Eduardo Ferreira Marta - Vitória da Conquista, 2016. 126f.
Dissertação (mestrado em Memória: Linguagem e Sociedade) – Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, 2016.
1.Memória 2. Trajetória profissional 3.Professores dee educação física. 4.Formação continuada. I.MARTA, Felipe Eduardo Ferreira. II. Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia. III. Título.
CDD – 370.71
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Dedicatória
Para Josira, minha mãe, que mesmo não lendo
os livros que eu li, nem estudando onde eu
estudei compreende o sentido mais amplo da
palavra educar. A essa professora especial,
como tantas outras (os) dedico este trabalho.
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AGRADECIMENTOS
Mais uma etapa vencida. Mais uma vitória a ser alegremente comemorada. Foram um
pouco mais de dois anos de experiências riquíssimas, e um aprendizado contínuo que tanto me
faz ser grata pela oportunidade concedida de poder ter ingressado nesse programa e ter
chegado até aqui. E hoje agradeço em especial:
Ao meu bom DEUS, força divina que a inteligência humana não foi capaz de explicar,
obrigada pela presença constante nos momentos de alegrias e superação e também naqueles
momentos de angústia e agonia, que muitas vezes compareceram nessa jornada, e me ajudou a
ter forças para continuar quando algumas vezes desacreditava dessa possibilidade.
Ao meu filho, Bernardo, você foi o presente recebido durante este percurso. Tão
pequenino e agiganta o meu ser com apenas um olhar. O Anjo que pousou na minha vida,
mola propulsora para eu seguir adiante. À você, meu AMOR INCONDICIONAL.
Ao meu companheiro e amigo, Aécio, por estar ao meu lado, incentivando, apoiando e
torcendo por mim. Obrigada por ser, um amigo fiel com quem tenho dividido todos os
momentos da minha vida. Eu te amo!
À toda minha família, em especial à minha mãe, Josira, pela educação dedicada a
mim, pelos valores ensinados, pelo amor transmitido; aos meus irmãos, Alantiel e Alantielma,
por me ensinarem mais do que imaginei aprender; aos meus sobrinhos, pelo carinho e amor.
Vocês são à base da minha existência.
Ao meu orientador, Professor Felipe Eduardo Ferreira Marta, pela oportunidade de
crescimento intelectual, confiança e apoio à construção da minha vida profissional, como
também pela sabedoria e dedicação com que orientou este trabalho. Obrigada, saiba que você
foi essencial para que eu pudesse chegar até aqui. Obrigada por tudo!
À banca examinadora, Professor Cláudio Eduardo Félix dos Santos e Professor Luís
Vitor Castro Júnior, por aceitarem fazer parte da composição da banca examinadora deste
trabalho, contribuindo de maneira significativa para o mesmo.
Aos professores participantes da pesquisa por cederem seu valioso tempo, colaborando
para reflexões sobre a educação física.
À todos os professores e colegas que tive na vida, pré-escola à pós-graduação, por
terem contribuído das mais diversas maneiras para a minha formação.
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Enfim, a todos e todas que fazem parte do meu mundo fraterno e afetivo, que embora
não nomeados, acompanharam-me nesse percurso de concretização de um objetivo
profissional e pessoal, MUITO OBRIGADA!
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Sou um homem comum
de carne e de memória
de osso e esquecimento.
e a vida sopra dentro de mim
pânica
feito a chama de um maçarico
e pode
subitamente
cessar.
Sou como você
feito de coisas lembradas
e esquecidas
[...]
– Ferreira Gullar, Brasília, 1963
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RESUMO
O presente trabalho se constituiu em uma investigação que analisou as opções e escolhas dos
professores de Educação Física da NRE 22 que atuam na cidade de Jequié-BA quanto à
formação continuada, sobretudo, quais memórias motivaram estas escolhas, bem como as
lembranças em torno da formação continuada proposta pela Rede Estadual de Ensino no
período de 2003 a 2014. Para realização do estudo, a História Oral foi o método que
viabilizou a concretização de entrevista com os professores de Educação Física que revelaram
a sua memória em torno da trajetória escolar e formação profissional, enfim descortinaram
suas histórias em relação à educação física no interior da Bahia do início da década de 80 até
os dias atuais. A hipótese que norteou este trabalho foi que as experiências da cultura corporal
durante a educação básica pode ter influenciado as escolhas profissionais bem como as
escolhas de formação continuada. Assim, contribuíram com suas memórias para a pesquisa os
professores: Alberto José Andrade Ferreira; Eduardo Costa Vieira; Luciano Ferreira
Bittencourt; Suzyanne de Almeida Pereira Munaro; Emerson Carlos Paim; José Gonçalves
Lopes Junior; Rogério Santos Teixeira; Temístocles Damasceno Silva; Júlio César Oliveira
Luz; Ianny Caroline Melo de Souza e Rafael Carlos Lavigne Diniz. Com base nas
investigações, foi possível conhecer características do ensino da Educação Física na escola de
educação básica em Jequié nos anos 80 até o início dos anos 2000, reconhecendo nesse
período a grande influência do esporte para a escolha de ser professor de Educação Física,
como também narraram os primeiros anos do curso de Licenciatura em Educação Física da
UESB, reconhecendo seu importante papel para a expansão da formação em Educação Física
em solos baianos, como também suas ações para a formação continuada dos professores de
Educação Física já formados e os recém-egressos dessa universidade. Nas memórias sobre as
escolhas e opções de formação continuada elas estavam alicerçadas nas experiências de
formação desde a educação básica e reafirmadas no ambiente acadêmico, ou seja, quando
tinham a opção de escolher seus caminhos sempre seguiram os cursos e especializações
ligados a treinamento físico, atividade física e saúde. No entanto as novas oportunidades de
experiência e a realidade do momento vivido contribuíram também para outras escolhas,
quando tiveram a oportunidade de vivenciarem o ambiente escolar também durante a
graduação, estas experiências abre para outras possibilidades de escolhas de formação
continuada. Quanto às ações do estado para a formação continuada dos professores
identifiquei nas memórias a seguinte “linha temporal”: 3 (três) Exames de certificação nos
anos de 2004, 2005 e 2006; Videoconferência no ano de 2008; Referência Curriculares para a
rede pública do estado da Bahia nos anos de 2010 e 2011; Capoeira na Escola: Patrimônio de
todos nós no ano de 2010 e 2 (dois) cursos de Atualização em práticas pedagógicas nos anos
de 2012 e 2014. Os professores entrevistados reconhecem essas últimas ações de cursos com
a mesma essência dos exames de certificações, já que o cumprimento das atividades e
aprovação condiciona o aumento salarial, direito trabalhista, no entanto vêem os cursos com
uma proposta interessante de formação, no entanto, o que motiva essas ações deveria ser a
formação e não o aumento salarial. As outras ações realizadas visando à melhoria da prática
pedagógica do professor de Educação Física são vistas pelos professores como construtivas,
no entanto falta um maior diálogo com os professores para uma construção permanente dessas
ações e também para que os professores compreendam todo o processo.
Palavras-Chave: Memória. Trajetória Profissional. Professores de Educação Física.
Formação Continuada.
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ABSTRACT
This paper is from an investigation which examined the options and choices of Physical
Education teachers of NRE 22 working in the city of Jequié city - Bahia state as the
continuing education, especially, what memories motivated these choices, as well as the
remembrances around the continuing education proposed by State schools from 2003 to 2014.
In order to accomplish the study, the Oral History was the method that made possible the
accomplishment of interviews with the Physical Education teachers who revealed their
memory about the school career and training professional, well showed their stories in
relation to physical education in Bahia in the early 80s to the present day. The underlying
hypothesis in this study was that the experiences of body culture in basic education may have
influenced the career choices and the choices of continuing education. Thus, the following
teachers contributed with their memories for the research, their names are: Alberto José
Andrade Ferreira; Eduardo Costa Vieira; Luciano Ferreira Bittencourt; Suzyanne de Almeida
Pereira Munaro; Emerson Carlos Paim; José Gonçalves Lopes Junior; Rogerio Santos
Teixeira; Themistocles Damasceno Silva;Julius Caesar Oliveira Light; Ianny Caroline Melo
de Souza and Rafael Carlos Diniz Lavigne. Based on the investigations, it was possible to
identify characteristics of the teaching of physical education in basic education school in
Jequié city in the 80s until the early 2000s, recognizing in that time the great influence of
sport to the choice of being a teacher of Physical Education, as also chronicled the early years
of the Bachelor's Degree in Physical Education UESB, recognizing their important role for the
expansion of training in Physical Education in Bahia soils, as well as their actions to the
ongoing training of physical education teachers already trained and newly graduates of this
university. In the memories of the choices and continuing education options they were
grounded in the training experiences from basic education and reaffirmed in the academic
environment, when they had the option to choose their paths always followed the courses and
specializations related to physical training activity and physical health. However the new
opportunities for experience and the reality of the time lived also contributed to other choices,
when they had the opportunity to experience the school environment also during graduation,
these experiences open to other possibilities of continuing education choices. As for the state
actions for the continuing education of teachers identified in the following memories
"timeline": three (3) certification tests in 2004, 2005 and 2006; Videoconferencing in
2008; Curriculum Reference to the public the state of Bahia in 2010 and 2011; Capoeira
School: Heritage of us all in 2010 and two (2) Update courses in pedagogical practices in the
years 2012 and 2014. The interviewed teachers recognize these latest actions courses with the
same essence of the certification exams, since compliance activities and approval conditions
the increasing of wage, labor law, however see the courses with an interesting proposal for
training, but, what motivates these actions should be training and not the salary
increase. Other actions carried out aimed at improving the teaching practice of physical
education teacher are seen by teachers as constructive, but lack a greater dialogue with the
class for a permanent construction of these actions and also for teachers to understand the
whole process.
Keywords: Memory. Professional Career. Physical Educaction Teacheres. Continuing
Education.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AC - Atividade Complementar
ACERT - Agência de Certificação Ocupacional
APLB - Associação de Professores Licenciados da Bahia
AT - Anísio Teixeira
AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem
BA – Bahia
CAP – Colégio Antônio Pinheiro
CBCE - Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte,
CEAD-UnB - Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília
CEEPRP - Centro Estadual de Educação Profissional em Gestão e tecnologia da Informação
Regis Pacheco
CEMS - Centro Educacional Ministro Spínola
CNPQ - Conselho Nacional de Pesquisa
DEM - Democratas
DIREC‟s - Diretorias Regionais de Educação
DOE - Diário Oficial do Estado da Bahia
DS - Departamento de Saúde
EAD - Educação a Distância
ENAF - Encontro Nacional de Atividade Física
ENEFD - Escola Nacional de Educação Física e Desporto
FACED - Faculdade de Educação
FETRAB - Federação dos Trabalhadores Público do Estado da Bahia
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FETRAB - Federação dos Trabalhadores Públicos do Estado da Bahia
FLEM - Fundação Luis Eduardo Magalhães
FTC - Faculdade de Ciências e Tecnologia
GEAB - Ginásio de Esporte Aníbal Brito
GEPERP - Grupo de Professores de Educação Física da Rede Pública de Ensino da Bahia
IAT - Instituição Anísio Teixeira
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia
IERP- Instituto Educacional Régis Pacheco
JERP - Estudantis da Rede Pública
LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
NEAFS - Núcleo de Estudos em Atividade Física e Saúde
NRE - Núcleo Regional de Educação
ONG - Organização não Governamental
PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais
PEV - Programa Educar para Vencer
PFL - Partido da Frente Liberal
PNE‟s - Portadores de Necessidades Especiais
PT - Partido dos Trabalhadores
SEC - Secretária da Educação
SESI - Serviço Social da Indústria
SOET - Sociedade Nacional de Educação, Ciência e tecnologia
UCSAL - Universidade Catolica de Salvador
UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana
UESB - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
UESC - Universidade Estadual de Santa Cruz
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UFBA - Universidade Federal da Bahia
UFRB - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia
UNEB - Universidade Estadual da Bahia
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Identificação e caracterização dos professores-narradores......................................31
Tabela 2. Identificação e caracterização dos professores-narradores......................................63
Tabela 3: Identificação dos cursos de Especialização realizados pelos professores
entrevistados..............................................................................................................................88
Tabela 4: “Linha temporal” da formação continuada proposta pelo governo estadual do
período de 2003 a 2014...........................................................................................................107
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LISTA DE IMAGENS
Imagem 1: Inauguração do Ginásio de Esporte Aníbal Brito, início da década de 80............43
Imagem 2: Mapa da localização dos auditórios da videoconferência....................................101
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
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2 ESCOLHA PROFISSIONAL NA MEMÓRIA DOS PROFESSORES QUE
INICIARAM SUA FORMAÇÃO NAS DÉCADAS DE 80 E 90
2.1. “FUI ATLETA POR CAUSA DA ESCOLA”: EDUCAÇÃO FÍSICA CERCADA
PELO AMBIENTE SOCIAL ESPORTIVO
29
38
2.2 “AÍ FUI MAIS PRO LADO DA ATIVIDADE FÍSICA E SAÚDE, DOS
CURSOS DE VÔLEI, NÉ?” A LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
2.2.1 “Ave Maria! Eu não imaginava nunca que o Curso de educação Física era
aquilo”: A UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia) em foco
2.3 “ESTABILIDADE... ESTABILIDADE E SEGURANÇA”: A ENTRADA DO
PROFESSORES NO MERCADO DO TRABALHO
3 A MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA TRAJETÓRIA DE FORMAÇÃO
DOS PROFESSORES QUE INICIARAM SUA GRADUAÇÃO A PARTIR DO
ANO 2000
3.1 “ENTÃO A GENTE DISCUTIA MAIS ATIVIDADE FÍSICA E EXERCÍCIOS,
ESSES CONTEÚDOS PRA SUBSIDIAR”: A EDUCAÇÃO FÍSICA PARA ALÉM
DAS MODALIDADES ESPORTIVAS
3.2 O PERÍODO ACADÊMICO: A LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA:
“EU CHEGO COM A IDEIA DA PRÁTICA ESPORTIVA, MAS ELA É
DESCONSTRUÍDA AO PASSAR DO TEMPO”
3.3 “DEPOIS EU PENSEI EM DESISTIR DA ÁREA”: A CARREIRA
PROFISSIONAL EM FOCO: OS DESAFIOS FRENTE À REALIDADE
PROFISSIONAL
4 A REDE ESTADUAL DE ENSINO E A FORMAÇÃO CONTINUADA DO
PROFESSOR EM SERVIÇO
4.1 “COMECEI FAZER UMA ESPECIALIZAÇÃO AQUI NA UESB”: A
IMPORTÂNCIA DA UESB NO PROCESSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA
DOS NOVOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
4.2 “EU FIZ OS CURSOS QUE O ESTADO OFERECIA”: A PROPOSTA DE
FORMAÇÃO CONTINUADA DA POLÍTICA GOVERNAMENTAL NO PERÍODO
DE 2003 A 2014 PARA OS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA
4.3 “O QUE MUDOU NA VERDADE FOI O PERFIL DOS CURSOS. ANTES NÓS
TÍNHAMOS UMA PROVA NÉ?”: O QUE DIZEM OS PROFESSORES DE
EDUCAÇÃO FÍSICA
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
47
51
56
60
63
70
79
83
85
95
107
114
121
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1 INTRODUÇÃO
O presente estudo surgiu oficialmente em Dezembro de 2013, com a abertura do edital
do Mestrado em Memória, Linguagem e Sociedade na Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia - UESB, campus de Vitória da Conquista. Neste momento, iniciei as primeiras
aproximações com a metodologia da história oral e a teoria da memória, contudo, acredito que
o embrião desta pesquisa foi estabelecido desde a experiência na educação básica, com a
disciplina pedagógica educação física.
No ensino médio tentei fazer parte do time de voleibol da escola. Sempre fui
apaixonada pela cultura corporal1, amava o movimento, mas nos treinos não conseguia jogar
com o grupo ficando apenas na repetição da técnica. O grupo do voleibol feminino já tinha
um repertório motor desenvolvido para esta modalidade. Eu, uma menina vinda de uma
cidade pequena2, onde não existia quadra na escola, não tinha adquirido os movimentos
básicos para aprender jogar o voleibol. Como era irritante repetir um movimento sozinho e
não viver a alegria do jogo, realizar um passe, marcar um ponto.
Não foi à experiência de sucesso com o esporte que contribuiu para a escolha
profissional, muito menos o desejo de ser professor. Chegar em casa e ver a mesa repleta de
livros e papéis, trabalhar 60 horas por semana, não era o sonho da adolescente. Esta era a
realidade marcada em minha memória durante toda a infância e adolescência, filha de
professora, irmã de professores.
O ano de 2004 marca o início do curso de Licenciatura em Educação Física, o campo
educacional como lócus de trabalho ainda não era o almejado. Ser professor até então, não era
um desejo profissional. Naquele momento, a Educação Física que constituía minha memória
era caracterizada ao momento do “baba”, os meninos jogam futsal e as meninas, quando
muito, brincam de baleado. Esta educação física marcou toda minha vida escolar na educação
básica.
1 A cultura corporal é abordado no Coletivo de Autores (SOARES et al,; 1992, p.62), a partir da lógica
Materialista-Histórico-Dialético, afirmando que “os temas da cultura corporal, tratados na escola, expressam um
sentido/significado onde se interpenetram, dialeticamente, a intencionalidade/objetivos do homem e as intenções/
objetivos da sociedade” Os temas da cultura corporal são: Jogos, lutas, esportes, ginástica e dança. Coletivo de
Autores é a denominação dada aos seis autores do livro Metodologia do Ensino de Educação Física, publicado
em 1992, pela editora Cortez. 2 Aiquara, distrito criado com a denominação de Aiquara pelo Decreto Estadual nº 8143, de 08-09-1932,
subordinado ao Município de Jequié, de acordo com censo do IBGE a cidade no ano de 2010 tinha 4.602
habitantes, e previsão para 4.767 habitantes em 2015. Vivi lá até 2001, com uma quantidade ainda menor de
habitantes. Informação no site: .
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Por que a Educação Física? O curso de Licenciatura em Educação Física da UESB
está lotado no Departamento de Saúde – DS, logo a Educação Física era o caminho para
alcançar outros cursos: fisioterapia, enfermagem. Desejava um curso de maior status social,
mas por outro caminho. Então pensei: vou para a Educação Física primeiro.
Aos poucos, o ambiente universitário proporcionou-me um maior conhecimento sobre
a profissão do professor. Ser educador, estar no ambiente escolar passa a ser um desejo. Ser
professor de Educação Física começa a se encontrar com a minha personalidade.
A universidade foi o espaço utilizado para aprender os conhecimentos específicos e
pedagógicos do futuro professor de educação Física. A universidade não foi um espaço de
passagem, mas um local que marcou a minha vida onde aproveitar todas as oportunidades que
ela oferecia naquele determinado momento era a meta.
Ao receber o diploma, não me permiti ser outra coisa. A escola, a sala de aula, a
quadra poliesportiva, são os ambientes que me realizam profissionalmente, então não é de se
estranhar que o professor de Educação Física faça-se o ator principal desta pesquisa,
especificamente as experiências de sua formação. Portanto, lembranças do passado
possibilitaram-me a percepção mais nítida de que a educadora que sou veio nascendo e se
construiu ao logo de tudo que vivi.
Foi o cenário cotidiano da educação física escolar, que tornou premente a necessidade
de uma reflexão sobre a prática vivida. O primeiro contato com o espaço escolar,
especificamente com a disciplina educação física, aconteceu durante os Estágios
Supervisionados após primeiros 2 (dois) anos do curso. Até então, a universidade não tinha
proporcionado uma maior aproximação dos futuros professores com o ambiente escolar.
Em conjunto com a professora de Estágio Supervisionado amadureci as reflexões que
começaram aflorar. Elaboramos um artigo relatando a experiência do Estágio Supervisionado
I, construção que contribuiu para uma maior reflexão sobre o cenário da educação física
escolar, e a formação inicial do professor de Educação Física3. Nesta pesquisa identifiquei as
dificuldades encontradas para realização do estágio, dentre elas, “os muros da Universidade”,
ou seja, a falta de aproximação entre universidade e escola. Era preciso estreitar esses laços.
Em outro estudo, agora já durante a especialização em Metodologia do Ensino e da
Pesquisa em Educação Física Esporte e Lazer, oferecida pela Universidade Federal da Bahia
no ano de 2010, debrucei-me sobre a formação inicial dos professores de educação física do
estado da Bahia, no que tange aos Projetos Políticos Pedagógicos dos cursos de Educação
3MORAES, E. V.; CABRAL, A. P.; SOUZA, L. N.; ALCANTARA, M. S. de. O Estágio Supervisionado nos
cursos de Educação Física: um desafio presente nesta formação. Dialogia, São Paulo, v.7, n.2, p. 199-209, 2008.
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Física das Universidades Públicas da Bahia, quatro estaduais (UESB, UESC, UEFS e UNEB)
e duas federais (UFBA e UFRB)4.
Essas reflexões realizadas direcionaram-me a pensar no processo de qualificação
profissional dos professores de educação física, especialmente as capacitações realizadas
depois da graduação, a formação continuada, ou seja, passei a refletir sobre a capacitação
daqueles que já dedicam tempo da sua vida à formação de jovens no interior da Bahia,
especialmente, aqueles professores de educação física, concursados e que possuem uma
estabilidade profissional.
Portanto, o presente estudo é direcionado para a memória em torno da formação
continuada dos professores de Educação Física da rede de ensino estadual da Educação Básica
do Estado da Bahia, especificamente, da NRE 225.
A NRE 22 está localizada na cidade de Jequié, mesma cidade onde se encontra
inserido o curso de Educação Física da UESB. Esta Universidade pública foi uma das
pioneiras na formação dos primeiros professores de Educação Física no interior da Bahia. Até
1996, apenas a Universidade Católica de Salvador, Universidade Federal da Bahia e a
Faculdade Montenegro cumpriam este papel, somente esta última é localizada no interior
baiano, no entanto, faz parte da rede privada de ensino.
Nesse sentido, é de interesse precípuo nesta dissertação descortinar a memória em
torno da formação continuada dos professores de Educação Física da NRE 22,
especificamente, de professores que atuam na cidade de Jequié/BA. Desta forma, busquei
analisar as opções e escolhas destes profissionais quanto sua formação continuada, sobretudo,
quais memórias motivaram estas escolhas bem como as lembranças em torno da formação
continuada proposta pela rede estadual de ensino no período de 2003 a 2014. Período este,
que compreende o governo de Paulo Souto e o Governo de Jaques Wagner, mandatos de
partidos diferentes com propostas diferentes de formação.
Nesta perspectiva, após maiores aproximações com a teoria da memória e a realização
da entrevista piloto, novos olhares foram direcionados ao objeto de estudo. Para entender a
memória dos professores quanto à formação continuada foi importante traçar também a
4UESB: Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia; UESC: Universidade Estadual de Santa Cruz; UEFS:
Universidade Estadual de Feira de Santana; UNEB: Universidade Estadual da Bahia; UFBA: Universidade
Federal da Bahia e UFRB: Universidade Federal do Recôncavo Baiano. 5 NRE – Núcleo Regional de Educação possui sob sua área de jurisdição 16 municípios, são eles: Aiquara,
Apuarema, Barra do Rocha, Boa Nova, Dário Meira, Gongogi, Ibirataia, Ipiaú, Itagi, Itagibá, Itamari, Jequié,
Jitaúna, Manoel Vitorino, Nova Ibiá e Ubatã. Informação no site:
. O presente estudo será realizado apenas com os professores de Educação Física do município de Jequié.
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memória em torno da trajetória escolar e formação profissional, pois ajudam a pensar as
escolhas da formação continuada.
Pensando nos fenômenos que envolvem a memória dos profissionais da educação
física, estabeleci alguns objetivos específicos visando atingir a meta proposta neste estudo que
é de compreender a temática aqui debatida, dentre os quais destaco: problematizar as
circunstâncias que balizaram as escolhas dos professores em relação ao ingresso no curso de
Educação Física, examinando suas experiências na educação básica, na educação familiar,
bem como a ambiência do período; compreender o início da atuação profissional dos
professores narradores e analisar o programa de formação continuada proposto pela rede
estadual de ensino no período de 2003 a 2014, a partir das memórias dos professores de
Educação Física.
Ao eleger as memórias como fio condutor deste estudo, parti da hipótese que as
experiências da cultura corporal durante a educação básica podem ter influenciado as escolhas
profissionais bem como as escolhas de formação continuada.
A memória é o vivido, a experiência. Para Thompson, em “A miséria da teoria” é a
experiência que dá corpo a cultura e ao pensamento, “a experiência foi, em última instância,
gerada na vida material. Foi estruturada em termos de classes, e consequentemente o ser
social determinou a consciência social.” (THOMPSON, 1981, p.189).
Assim, para chegar à memória dos professores de Educação Física utilizei como
metodologia de trabalho a história oral, escolhendo conhecer a trajetória e formação
profissional bem como a formação continuada dos professores a partir dos seus relatos orais,
ou seja, fundamentei a pesquisa nas entrevistas dos professores da rede estadual de ensino da
cidade de Jequié, no sentindo de conhecer a trajetória formativa desses professores. Seguindo
os apontamentos de Portelli (1997), os relatos orais são documentos do presente sob a
responsabilidade do entrevistado e do entrevistador, ou seja, é um documento do presente
compartilhado.
Chamo a atenção ainda para os apontamentos de Alberti (2004), ao afirmar que a
entrevista não é a própria história, ela é a fonte. Analisei e interpretei como uma fonte oral.
Após a transcrição da entrevista, levantei perguntas e verifiquei como usufruir dessa fonte,
tirando dela as evidências e os elementos que contribuíram para resolver o questionamento da
pesquisa.
As entrevistas é a fonte principal deste estudo e a essência da pesquisa serão as vozes
dos professores narradores. As lembranças registradas em suas falas nos guiaram a entender o
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20
percurso da formação continuada, abrindo um leque para conhecer as opções e escolhas de
formação depois do período da graduação em Licenciatura em Educação Física.
Para a escolha dos sujeitos da pesquisa, inicialmente busquei o levantamento de todos
os professores de Educação Física da rede estadual do município de Jequié no órgão
responsável, NRE 22, no entanto, não alcancei estas informações, pois não existe uma
organização no setor responsável, consegui apenas uma lista com alguns telefones e/ou e-mail
dos professores que participam dos Jogos Estudantis da Rede Pública (JERP) e suas
respectivas escolas de atuação.
O JERP (Jogos Estudantis da Rede Pública) é um evento que envolve um grande
quantitativo de professores de educação física e ocorre todo ano, tornando necessário por
parte do articulador dos jogos saber quais as escolas e os professores que irão participar desse
evento.
Neste levantamento obtive o contato de 26 professores de 13 escolas. Na rede estadual
de ensino em Jequié existe um total de 15 escolas, assim, apenas duas não estavam presente
na participação do JERP, no entanto, quanto aos professores não consegui inferir o montante,
caminhamos em busca desta informação e, ao mesmo tempo, iniciamos a primeira entrevista.
Parti do pressuposto que o tempo é um grande aliado no acúmulo de experiências de
vida, onde então para iniciar o estudo realizei a entrevista piloto com o professor mais antigo
da rede e que atua na escola mais antiga da cidade, CEEPRP – (Centro Estadual de Educação
Profissional em Gestão e tecnologia da Informação Regis Pacheco)6, localizada no centro da
cidade.
Pretendia seguir esta lógica, realizar o estudo com os professores que tinham mais
tempo de serviço, no entanto, este caminho predefinido necessitou de mudanças, primeiro
porque no contato com os professores que lecionam há mais tempo não houve uma aceitação,
justificando o desejo de não realizar a entrevista, uma vez que, a entrevista seria gravada e seu
nome também seria revelado. Se fosse para preencher um papel, assinalar respostas estaria à
disposição e outros não responderam o contato inicial.
Outra mudança necessária no percurso foi o mapeamento geral quanto à formação dos
professores da Disciplina de Educação Física da NRE 22. Para isso, pretendia levantar um
diagnóstico sobre dados específicos de cada professor, ano que concluiu o curso em
6
Instituição de ensino que durante sua trajetória passou por diversas modificações e denominações. Inicialmente
no ato da criação em 14 de dezembro de 1948 sob a Lei nº 130 foi denominado Ginásio Público Régis Pacheco,
mais tarde com a ampliação do seu espaço passou a ser designado como Instituto Régis Pacheco (IERP) e desde
2011 passou a ser chamado de Centro Educacional Profissional Regis Pacheco. Sua criação foi em 14 de
dezembro de 1948, no entanto sua primeira aula inaugural só veio acontecer em 19 de março de 1952, neste
momento o Governado do Estado era Régis Pacheco e o prefeito da Cidade Lomanto Júnior.
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21
Licenciatura em Educação Física, curso de especialização e ano que iniciou a atuação na rede
estadual de ensino.
Com esse diagnóstico em mãos, iniciaria a busca pelos professores colaboradores do
estudo, contudo, não obtive estas informações. Ao deixar nas secretárias das escolas uma
tabela para preenchimento, pouco retorno se obteve. Ficando para a pesquisadora a
responsabilidade de encontrar cada professor a fim de levantar estas informações, entretanto,
por questão de tempo não foi possível realizar tais visitas.
Não obtendo os dados de todos os professores com perfis desejados por mim, o foco
principal dos entrevistados não poderia mais ser os docentes mais antigos. Então, definimos
como critérios os educadores que tinham uma maior aproximação com a pesquisadora,
buscando experiências diversificadas de formação inicial.
Neste novo caminho realizei o contato com 27 (vinte e sete) professores, 2 (dois)
negaram participação, 2 (dois) estavam afastados de suas atividades, um com licença médica e
outro em licença maternidade, 9 (nove) não responderam ao primeiro contato, 1 (um) durante
o ato do agendamento e a data agendada veio a óbito em um terrível acidente automobilístico,
3 (três) não realizaram a entrevista pela dificuldade de encontrar uma data, de tal modo que
realizei 11 (onze) entrevistas neste primeiro momento.
É importante salientar que a atitude durante o estudo foi de respeito total às negativas
e às não resistências, por considerar o interesse e a disposição dos professores entrevistados
fundamentais para iniciar o trabalho. Foram enormes os percalços que encontrei frente à
construção do estudo, dentre eles cabe destacar a não colaboração de alguns professores que
por motivos diversos, se negaram a colaborar com a pesquisa, mas dei sequência à mesma
com a participação daqueles que prontamente se dispuseram a colaborar comigo no estudo
acerca do tema em debate.
Os professores inicialmente foram contatados por telefone, rede social e nos locais de
trabalho. Neste primeiro momento, discorria sobre os objetivos e metodologia do estudo, a
fim de detectar os interessados em participar da pesquisa. Apesar de alguns apresentarem
interesse inicial, outros contatos foram feitos até a confirmação e agendamento da entrevista.
As entrevistas ocorreram no período de abril a setembro do ano de 2014, sendo a
maior parte realizada no mês de julho e nenhuma no mês de maio, junho e agosto. O primeiro
mês corresponde o momento de análise da entrevista piloto. O mês de junho é o mês dos
festejos juninos, portanto, momento de grande festa na cidade e recesso das escolas.
Em alguns casos, por existir um maior vínculo afetivo entre os envolvidos na
entrevista, ou seja, do professor pesquisador (eu) e do professor entrevistado, os primeiros
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diálogos ocorreram presencialmente e através da concordância do (a) entrevistado (a) foi
possível realizar a gravação do diálogo. Muitos dos professores entrevistados apresentaram
bastante interesse e entusiasmo no contato prévio. No dia agendado para a gravação o Termo
de Consentimento Livre e Esclarecido foi apresentado, deixando clara a necessidade de suas
identidades serem reveladas.
É importante evidenciar a dificuldade do agendamento, muitas vezes, quando o
professor apresentava entusiasmo de colaborar com a construção do trabalho existia uma
dificuldade de encaixar na sua agenda nosso encontro.
No momento da entrevista apresentava novamente a proposta de trabalho e acentuava
que se tratava de um diálogo que envolvia sua trajetória de vida e sua trajetória profissional,
desde a formação inicial até as experiências profissionais, dando um foco principal nas suas
escolhas e opções de formação continuada.
Os encontros para a gravação da entrevista foram resumidos na maioria das vezes, a
um momento, apenas um professor precisou de um segundo encontro, em razão do tempo
disponível ter extrapolado e ter outro compromisso. Remarcamos um segundo encontro, que
partiu do ponto encerrado no primeiro momento. As entrevistas duraram na sua maioria 1
(uma) hora a 2 (duas) horas.
Ao final de cada encontro registrei em diário de campo às expressões faciais, gestuais,
momento de silêncios ao reconstruírem suas memórias. É importante pontuar que estas
anotações não aconteciam durante a construção do dialogo, neste momento perseguia na
permanência de um ambiente confortável.
Devemos ficar atentos às entrelinhas. Para Portelli (1997, p. 34), “[...] a informação
mais preciosa pode estar no que os informantes escondem e no fato que os fizeram esconder
mais que no que eles contaram”. Neste sentido, é evidente a necessidade de olhar além da
impressão inicial bem como as várias expressões das “linguagens do corpo” no momento da
entrevista com a história oral, fato este que ficou bastante evidente no momento da concessão
das entrevistas pelos professores.
A utilização do diário de campo é uma ferramenta fundamental nas entrevistas, outro
ponto importante na história oral é à transcrição, já que neste momento aquilo que não foi dito
na fala deve ser relatado, a entrevista não é palavra fria e descontextualizada, é necessário
ouvir várias vezes as entrevistas, para compreender o que os entrevistados desejam mostrar.
Portelli (1997, p. 22): [...] “no que me diz respeito, não revelaria quase nada de importante
sobre minha vida a alguém que, ao conversar comigo, assumisse uma atitude neutra,
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impessoal e distante”. Por que devo eu esperar que outros me falem de sua vida se eu não me
mostro disposto a contar algo a respeito da minha?
Na construção da narrativa de cada professor entrevistado, me provi dos apontamentos
de Portelli (1997), ao estabelecer que uma das condições do entrevistador foi constituir
prioridade sobre o que os professores desejavam contar, ao invés de buscar alcançar suas
aspirações, ou seja, valorizar o que o pesquisador deseja ouvir. Assim, as memórias dos
entrevistados foram constituídas no contexto partilhado por todos envolvidos no andamento
da entrevista.
Na análise, não busquei julgar o que é correto ou desnecessário, mas sim, atentar ao
contexto geral, ou seja, busquei analisar o contexto social, político e a classe social de cada
professor entrevistado. Parti do pressuposto que não posso obrigar o professor dar um
determinado depoimento, no entanto, posso construir sempre uma estratégia de cooperação
por livre e espontânea vontade.
Finalizando o momento da entrevista, dei inicio à transcrição das mesmas. Neste
momento procurei perseguir o caminho mantendo sua originalidade, repetições e marcar
características da oralidade ou mesmo inadequações de regência e concordância.
A memória revela singularidade e o tempo de cada narrativa sempre contextualizada e
carregada de sentidos. Assim, a fonte principal do nosso estudo foi à memória dos professores
de Educação Física, mas também me debrucei nos documentos escritos e produções escritas a
fim de contextualizá-las. No estudo refleti sobre as trajetórias de formação, especialmente as
opções e escolhas da formação continuada.
A memória não é só lembrar os fatos ou eventos que aconteceram e que de alguma
maneira fizermos parte dele, seja como uma memória vivenciada ou uma memória adquirida,
ela é uma avaliação, uma comparação. Daí o fato de na construção do estudo, refletir mais
questões e dúvidas do que arriscar afirmações.
Neste contexto, o estudo se pauta nas elaborações de Halbwachs sobre a memória, na
qual acredita-se que ela não é o passado tal qual aconteceu. “não os vemos agora como os
víamos outrora, quando ao mesmo tempo olhávamos com os nossos olhos e com os olhos de
um outro” (HALBWACHS, 2003, p. 30).
Os professores entrevistados ao contarem sua experiência de formação, lançam sobre
ela olhares e reflexões que no momento vivido poderiam não existir, mas hoje com as
experiências adquiridas no fluxo da vida os fazem analisar e apresentar as histórias contadas a
partir do que são hoje. Os olhos que hoje olham para o passado e os contam, não são os
mesmo que olhavam anteriormente, agora é carregado de avaliação e comparação.
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Um ponto interessante a enfatizar na realização deste estudo, é que no momento das
entrevistas não era apenas uma mestranda que estava levantando informações, sobretudo, era
sua colega de trabalho. Aquela que nas reuniões estavam ombro a ombro com os professores
de Educação Física da rede básica de ensino. Neste contexto, é importante frisar que mesmo
sendo professora da secretaria de educação, o olhar sobre o objeto de estudo caminhava além
das aparências, tinha como meta o particular na responsabilidade compartilhada da entrevista,
o olhar envolvido na pesquisa era de um pesquisador e não de professor da disciplina.
Nas narrativas dos professores entrevistados, em muitos momentos foi possível me
reconhecer nas memórias contadas, uma construção afetiva se formou, mas o olhar
direcionado na construção da fonte da pesquisa não foi deixado de lado. Ainda que estivesse
fascinada pelas memórias e com um olhar apaixonado pelas histórias, o olhar crítico e político
estavam presentes na construção das fontes, como também na narrativa das memórias.
Neste sentindo a narrativa como afirma Bosi (1994, p.88) “é a forma artesanal da
comunicação. Ela não visa transmitir o „em si‟ do acontecimento, ela tece até atingir uma
forma boa. Investe sobre o objeto e o transforma”. Durante a pesquisa os professores
entrevistados são sujeitos históricos envolvidos no contexto social e esse contexto muitas
vezes, pode acabar intervindo no que será contada e como será contada. Durante a construção
da narrativa apresentam a vida e suas transformações durante os momentos vividos. E,
enquanto sujeitos envolvidos no meio social, suas vozes podem ser silenciosas e/ou
silenciadas.
Os professores entrevistados são sujeitos que pertencem a vários grupos sociais, e ao
tecerem suas memórias particulares e singulares se situam no encontro de muitas memórias
coletivas, ou seja, ao relatarem suas experiências de formação e apontarem suas opções e
escolhas de formação continuada. O grupo de professores entrevistados estará sempre
carregado da sua memória do grupo escolar, memória do grupo familiar, memória do grupo
de estudantes de Educação Física, memória do grupo de professores da rede de Estadual de
Educação, entre diversos outros grupos que cooperam para constituição deste ser individual,
mas ao mesmo tempo coletivo.
Estas características são de todas as pessoas que compõe a sociedade, têm relação com
vários grupos e trazem o especifico de cada um, como pontua Halbwachs (2003 p.42).
Por isso, quando um homem entra em sua casa sem estar acompanhado por
ninguém, sem dúvida durante algum tempo “ele andou só”, na linguagem
corrente – mas ele esteve sozinho apenas na aparência, pois, mesmo nesse
intervalo, seus pensamentos e seus atos se explicam por sua natureza de ser
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social e porque ele não deixou sequer por um instante de estar encerrado em
alguma sociedade.
Na análise e interpretação das entrevistas levantadas, parti da premissa de que a
memória individual de cada professor entrevistado é o ponto de vista sobre a memória
coletiva deste grupo, não sendo fixa, mas sempre em movimento, ou seja, muda consoante o
lugar social ocupado pelo mesmo. Dito de outra forma, ao apresentarem suas memórias os
professores avaliaram e julgaram conforme o pensamento que está constituído hoje, eles
avaliaram suas histórias e nos contam conforme o que pensam atualmente e não
necessariamente é como pensavam outrora.
Concordamos com as ideias de Halbwachs (2003) ao defender o caráter construtivo
da memória social, no qual o mesmo cita que a nossa memória não é uma reprodução das
experiências passadas, mas é uma construção que se faz a partir delas no presente. Ancoramos
novas experiências aos conhecimentos preexistentes e assim, construímos nossa imagem
sobre os fatos.
A percepção dos sujeitos é particular, já que a sua capacidade de discernir é carregada
pelos significados de tudo que o envolve, ou seja, o significado dado às situações é
consequência de suas crenças, experiências, valores e papéis sociais inerentes ao grupo social.
A memória é a reconstrução de uma trajetória individual entrecruzado com suas experiências
e as experiências de outros.
Durante a entrevista, ainda que fisicamente só estivessem presente à pesquisadora e o
professor entrevistado, a constituição da entrevista só foi possível porque suas memórias são
ancoradas em todas as experiências que deixaram marcas e ainda podem ser relembradas.
Assim, a memória coletiva dos professores da Rede Estadual de Educação, especialmente, os
professores de Educação Física da NRE 22 que lecionam em Jequié, quanto suas opções e
escolhas de formação continuadas são baseadas em todos os grupos coletivos que fizeram e
ainda fazem parte de suas vidas.
É importante frisar que o grupo de professores entrevistados possui uma aproximação
com a realidade o que contribuiu para que os fatos lembrados sejam carregados de sentido e
significado vivo na memória. Os professores vivem no dia a dia, a experiência escolar e ainda
se percebem professores de Educação Física no espaço da NRE 22, logo não se distanciaram
desta realidade. Como afirma Halbwachs (2003, p.37) “Esquecer um período da vida é perder
o contato com os que então nos rodeavam”.
Como o presente estudo objetivou desvendar as opções e escolhas de formação
continuada dos professores, sendo as vozes dos mesmos o ponto crucial na pesquisa, trilho o
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caminho da metodologia da história oral temática, especialmente os apontamentos de Portelli:
a) as escolhas profissionais; e b) a formação continuada.
Os estudos de Portelli contribuíram para a elaboração e constituição das entrevistas,
especialmente, a análise do âmbito da subjetividade como afirma o mesmo ao dizer que; a
subjetividade é a maior riqueza, a maior contribuição cognitiva que chega a nós das memórias
e dos fatos orais narrados, sendo mais do que uma interferência. Destaco que a minha análise
se deram na visão e versão mais profunda da experiência narrada, buscando não apenas
interpretar os fatos relatados, mas também o silenciado pelo professor.
O entrevistador, mesmo considerando o momento da entrevista como uma construção
compartilhada tem um papel primordial para a construção das fontes orais, já que estas
dependem largamente do que os entrevistadores põem em termo das questões, diálogos e
relações pessoais. O narrador e pesquisador são impelidos para dentro da história e se tornam
parte da história.
Durante a realização desta pesquisa especificamente, durante a gravação das
entrevistas, foi possível perceber um ambiente de igualdade na diferença. De acordo com
Portelli (1997), somente a igualdade na diferença nos prepara para aceitar a diferença,
partindo do pressuposto que sem diferença não há igualdade, apenas semelhança. Assim, no
trabalho com a história oral tentei construir uma igualdade sobre as diferenças dos envolvidos,
considerando a igualdade enquanto um elemento que torna a entrevista aceitável e somente a
diferença faz a entrevista relevante.
O grupo de professores que compõem este estudo compartilha aspectos em comum e
também tem suas diferenças. Por isso, agrupei em dois grupos, o primeiro inicia sua vida
universitária anterior aos anos 2000 e o segundo ingressa na Universidade após este período.
Desta maneira, o texto é dividido em três capítulos, o primeiro capítulo tem como
titulo; a escolha profissional na memória dos professores que iniciaram sua formação nas
décadas de 80 e 90, neste capítulo a memória dos professores-narradores é apresentada a
partir dos fatos rememorados daqueles que tiveram a experiência de iniciar a Licenciatura em
Educação Física até a década de 90. A intenção é problematizar as circunstâncias que
balizaram as escolhas dos professores em relação ao ingresso no curso de Educação Física,
examinando suas experiências na educação básica, na educação familiar, bem como a
ambiência do período. Além disso, analisamos características da Educação Física no interior
da Bahia, destacando as experiências narradas pelos professores desde o ambiente
universitário até a atuação profissional, não almejando construir uma história única da
Educação Física no interior.
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27
No segundo capítulo, abordarei a memória da Educação Física na trajetória de
formação dos professores entrevistados que iniciaram sua graduação a partir dos anos
2000. A memória dos professores-narradores é apresentada a partir dos fatos rememorados
daqueles que tiveram a experiência de iniciar a Licenciatura em Educação Física a partir dos
anos 2000. A intenção foi compreender o processo de rememoração dos professores
narradores, englobando três momentos distintos de formação: a experiência com a educação
básica, experiência no ambiente universitário e o início da sua atuação profissional.
E por fim, abordarei no terceiro e último capítulo A rede estadual de Ensino e a
formação continuada do professor em serviço, na qual debruçarei a minha análise nas
memórias dos professores de educação física a partir do momento que alcançam a estabilidade
financeira, ou seja, passam a fazer parte do quadro de professores efetivos da rede estadual de
ensino. A intenção será problematizar a realidade vivida por estes professores e quais os
caminhos trilhados quanto à formação continuada, bem como, enfatizar as propostas de
formação oferecida pela rede estadual de ensino no período de 2003 a 2014.
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2 ESCOLHA PROFISSIONAL NA MEMÓRIA DOS PROFESSORES QUE
INICIARAM SUA FORMAÇÃO NAS DÉCADAS DE 80 E 90
Inicio a presente seção apresentando os atores principais deste estudo. No presente
quadro identifiquei e caracterizei o período de formação, o ano de início da atuação na rede
básica de ensino, a escola em que atua e o curso de especialização realizado pelo professor
entrevistado. Estas informações têm como pretensão auxiliar na compreensão da importância
de cada professor ter buscado em suas memórias, certos acontecimentos e desprezado outros,
ou seja, dão um significado detalhado de um determinado evento em detrimento de outros.
Tabela 1. Identificação e caracterização dos professores-narradores
Identificação Universidade
que realizou
o curso de
Licenciatura
em Educação
Física
Ano que
iniciou na
rede
estadual de
Educação
Escola que
Atua
Exercício em
outra
atividade
remunerada
fora do
magistério
Pós-Graduação
Alberto José
Andrade
Ferreira
UCSAL –
1984 -1987
1990 CEEPRP Até 2005 em
academias de
ginásticas
Especialização
Metodologia do
Ensino da Educação
Física e Esporte –
UESB (2012)
Eduardo
Costa Vieira
Faculdade
Montenegro –
1994 - 1998
2001 Colégio
Estadual
Professor
Firmo Nunes
de Oliveira
Escolinha de
Iniciação do
Futsal
Especialização
Atividades Físicas
para população
Especiais – UESB
(2001)
Luciano
Ferreira
Bittencourt,
UESB
1997 -2001
1999 - 2002 Colégio
Estadual Luiz
Viana Filho
Não Especialização
Atividades Físicas
para população
Especiais – UESB
(2003)
Emerson
Carlos Pain
UESB
1998 -2002
2007 Escola
Estadual
Preparador
Físico de
Especialização
Atividades Físicas
-
29
Professora
Florípes
Sodré
Times de
Futebol
para população
Especiais – UESB
(2003)
Suzyanne de
Almeida
Pereira
Munaro
UESB
1998 - 2002
2002 Colégio
Estadual Luiz
Viana Filho
Não Especialização
Atividades Físicas
para população
Especiais – UESB
(2002)
José
Gonçalves
Lopes Junior
UESB
1998 -2002
2002 Colégio
Estadual Luiz
Viana Filho
(vice-diretor)
Colégio
Estadual
Mary Rabelo
(Professor)
Instrutor de
Esporte de
Quadra do
Serviço
Social do
Comercio
Especialização
Metodologia do
Ensino da Educação
Física – UESB
(2003)
Especialização
Metodologia do
Ensino Superior –
UESB (2004)
Rogério
Santos
Teixeira
UESB
1999 - 2003
2007 Colégio
Estadual
Mary Rabelo
Academia de
Ginástica
Especialização
Educação Física
Escolar – EAD
(2010)
Especialização
Metodologia do
Ensino da Educação
Física e Esporte –
UESB (2012)
Fonte: Entrevistas e currículo lattes dos mesmos.
O grupo de professores que compõem este estudo compartilha de aspectos em comum
e também tem suas diferenças. Por isso, agrupamos em dois grupos, o primeiro inicia sua vida
universitária anterior aos anos 2000 e o segundo ingressa na Universidade após este período,
neste momento apresentaremos a memória de formação do primeiro grupo.
O primeiro grupo em alguns momentos foi subdividido em 2 (dois), pois como
apresenta o quadro acima, dois professores, Alberto Ferreira e Eduardo Vieira, realizaram sua
formação superior em instituição distinta, ou seja, estes professores fizeram sua graduação do
Curso de Licenciatura em Educação Física na rede privada de ensino, ocorrendo em períodos
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30
e locais distintos bem como, os momentos históricos. É importante destacar que quando estes
professores iniciaram seu curso de licenciatura em Educação Física nas Universidades
privadas, nas universidades públicas do interior da Bahia ainda não contavam com o curso de
Licenciatura em Educação Física.
O professor Alberto Ferreira residiu durante toda a sua infância e adolescência na
cidade de Jequié/BA, concluindo o ensino médio nesta cidade, mudando-se para a capital com
a finalidade de dar continuidade aos seus estudos, agora, no nível superior em uma
Universidade privada no curso de Educação Física, uma vez que, em Jequié não existia o
curso de Licenciatura nesta área. Assim que o professor concluiu o seu curso, retornou para
sua cidade natal e começa a atuar como professor de Educação Física, experiência esta,
marcada pelo período da segunda metade da década de 70 e década de 80 do século XX.
O professor Eduardo Viera tem a sua vida escolar na educação básica demarcada
durante a década de 80 e início dos anos 90 do século XX, e a experiência no ambiente
universitário a partir da segunda metade dos anos 90. Este professor também viveu a sua
infância e adolescência na cidade de Jequié, e quando termina o ensino médio a família passa
a residir na cidade de Ilhéus-BA, situação que favoreceu seu ingresso no curso de Educação
Física na Faculdade Montenegro, instituição privada, sendo esta instituição a primeira a
ofertar o curso de Licenciatura em Educação Física em solos do interior baiano.
Todos os outros professores são egressos do curso de Licenciatura em Educação Física
pela UESB (Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia), e experimentaram o mesmo
período universitário, ainda que sejam de turmas diferentes. Luciano Bittencourt é da primeira
turma, Suzyanne Munaro, Emerson Paim e o José Junior são da segunda turma e Rogério
Teixeira terceira turma. Todos iniciaram o curso antes do ano 2000 e experimentaram o
processo de implementação do curso.
Neste capítulo, a intenção foi problematizar as circunstâncias que balizaram as
escolhas dos professores em relação ao ingresso no curso de Educação Física, examinando
suas experiências na educação básica, na educação familiar, bem como a ambiência do
período. Além disso, analiso características da Educação Física no interior da Bahia,
destacando as experiências narradas pelos professores desde o ambiente universitário até a
atuação profissional, pois estas memórias ajudam a pensar as escolhas de formação
continuada quando não são mais estudantes e sim professores de educação física.
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31
No entanto, para melhor entendermos o panorama da formação em Educação Física,
vivenciado pelos professores entrevistados, cabe introduzir brevemente a expansão da
formação em Educação Física no interior da Bahia7.
A Implementação do primeiro curso de Educação Física na Bahia se deu na
Universidade Católica de Salvador (UCSal) em 1973. Anterior a este período, Ferraro (1991)
aponta que a formação em Educação Física ocorria no Rio de Janeiro, estudantes eram
enviados para estudar inicialmente, na escola do Exercito e a partir de 1940 eram enviados
para ENEFD, (Escola Nacional de Educação Física e Desporto). Até a implementação do
primeiro curso de formação superior em Educação Física Ferraro (1991) assinala que, 90%
dos que atuavam na área eram leigos8 e quando muito eram credenciados para assumirem a
profissão com cursos de curta duração.
Pires (2009) afirma que a formação profissional consubstanciada pela Universidade
Católica de Salvador (UCSal) procurou obedecer fielmente à Política Nacional de Educação
Física e Esportes, onde recomendava que os trabalhos na área de Educação Física no Brasil
teriam como objetivos centrais a melhoria da aptidão física da população, o grande aumento
da participação estudantil e popular em práticas desportivas e o aprimoramento técnico dos
desportistas.
Esta formação proporcionada inicialmente na Bahia é afirmada pelo professor Alberto
Ferreira, quando nos conta seu período de formação inicial. Sua memória é marcada pela
experiência de um curso voltado para área fitness e as disciplinas relacionadas à modalidade
esportiva. “[...] tinha ginástica 1,2,3,4 e 5, tinha cinesiologia forte, tinha musculação
mesmo”. “Oh! Por eu ter sido atleta tudo ficou mais fácil”, também pontua sobre a
metodologia:
Qual a metodologia que você naquela época não, não era assim que se
falava, lá falava iniciação esportiva, então você vai dar iniciação, como você
vai iniciar com seus alunos? Como é que você vai colocar ele para fazer?
Tocar a bola, qual é a posição? Como é que você vai fazer a punhadura da
bola? Como é que você vai? Quais são os exercícios que você pode fazer em
cima da punhadura, né? Qual o tipo de método? Hoje fala é método
analítico, método global, não sei o que. Antigamente não, era assim como é
que você pode colocar seu aluno para ele entender que o movimento tem que
7 É importante salientar que não almejo dar conta da história da implementação dos cursos de Educação Física
no território baiano, mas sim compartilhar questões importantes para compreender o cenário vivenciado pelos
professores entrevistados quando pontual sua experiência de formação. Estudos de Ferraro (1991), Pires (2003),
Pires (2006) e Pires (2008), Pires; Junior e Marta (2014) apresentam o panorama da história de implementação
da Educação Física na Bahia. 8 O autor apresenta a palavra leigo, no entanto, acredito que o olhar do autor foi equivocado ao utilizar a
denominação de leigos para os professores não licenciados.
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32
ser feito desta forma, se não for desta forma, vai ser um erro técnico, um erro
técnico.
O professor Alberto Ferreira, realizou a sua formação inicial em 1984, momento que
demonstra que na Bahia só UCSal, oferecia a formação em Licenciatura em Educação Física.
Mais de 10 anos se passaram da implementação do curso em Educação Física, no entanto, as
características de formação pontuada por Pires (2009) ainda estavam presentes.
Pires; Junior e Marta (2014), apresenta um interessante apontamento sobre este
modelo de formação, o curso da UCSal surge baseado no modelo de formação da ENEFD e
esta foi a instituição que formou a grande maioria dos docentes do curso de Licenciatura em
Educação Física da UCSal, então é de se esperar que a sua estrutura de currículo foque nos
aspectos técnicos e esportivos, além do peso das disciplinas da área biomédica.
Corroborando a isso, Pires; Junior e Marta (2014, p. 219), também enfatiza para a
necessidade de mudança no currículo, buscando abraçar as novas discussões da Educação
Física, “o professor Georgeochoama afirma que, já no ano de 1975, propôs alterações em sua
estrutura, inclusive de acabar com o exame físico, sendo visto como „uma bobagem‟, no
entanto, as mudanças ocorridas não foram na essência e a dinâmica curricular existente não
aconteceu”.
Situação também reafirmada pelo professor Alberto Ferreira, que inicia seu curso em
1984, entretanto, o mesmo relata seu período universitário com grande influência das
disciplinas com base nas Ciências Biológicas e de cunho técnico-desportivo.
O movimento de mudança curricular proposta pelo professor Georgeochoama, vem
ancorada na situação em que o Brasil estava passando e consequentemente, a educação física
também. Germano (1994) aponta que o período de 1975 a 1985 é configurado como sendo um
período de “crise de legitimidade do Regime Militar, e neste contexto surge os Planos
Nacional de Desenvolvimento (PND), que almejava uma melhor distribuição de renda e uma
maior participação econômica e política das classes trabalhadoras no País”. Com este novo
contexto social, as políticas educacionais começam ser refletidas e consequentemente,
mudanças passam a ocorrer.
Conduzida por este movimento educacional, a educação física entrou na chamada
“crise de identidade”, o contexto da década de 1970, todos os ideais de transformar o Brasil
em uma potência olímpica não se tornou uma realidade, fato que provocou uma profunda
crise de identidade nos pressupostos da Educação Física brasileira.
De acordo com Paiva (2004, p.54) “os anos 70 e 80 caracterizam novos caminhos para
área, com a implementação da pós-graduação e/ou com „a crise‟ da educação física. Medina
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33
(1995) aponta que os métodos de ensino começam sofrer influências de movimentos
“humanistas” e também a década de 80 culminou numa importante produção teórica, até
então, não vista no Brasil. Ou seja, presenciamos na educação física uma mudança no modelo
de educação proposta, já que até a década de 1970, ela esteve aprisionada a paradigmas
cientificista e ao modo positivista de fazer ciência. (DAÓLIO, 2003).
Acompanhando este movimento em meados da década de 80, algumas instituições de
ensino superior que formavam profissionais em Educação Física “implementaram novas
propostas curriculares, procurando formar o aluno numa perspectiva mais ampla9” (DARIDO,
2003, p.28). No entanto, apesar destes debates, “a prática docente permaneceu fortemente
ancorada no paradigma da aptidão física e esportiva” (PAIVA, 2004, p.73).
Neste contexto, é claro que mesmo com tentativas de mudanças no currículo, ainda
são evidenciados o esporte e a aptidão física como sendo elementos centrais na formação dos
professores de Educação Física que cursavam o curso da UCSal, no período vivenciado pelo
professor entrevistado, sendo esta a única universidade que até o momento cumpria este
papel na Bahia. Formação que seguia ainda os objetivos da formação do corpo físico, seja ela,
do melhoramento da aptidão física ou da formação esportiva, sabendo que para ser um bom
jogador também era necessário ter um bom desenvolvimento físico, logo à formação dos
futuros professores de Educação Física na Bahia no final da década de 80, ainda seguia os
princípios da década de 70, momento da implementação do curso.
O professor Alberto Ferreira, ao passar no vestibular, de imediato foi na capital, já que
tinha familiares seus que residiam lá, o que facilitou a sua estadia na capital até concluir o seu
curso. Já para o professor Luciano Bittencourt as coisas não foram tão fáceis assim. Só foi
possível fazer o tão sonhado curso de Educação Física, quando esta graduação passa a existir
na grade curricular da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) na cidade Jequié,
cidade esta, onde o mesmo residia. “Eu não tinha condição de morar, na época só existia
educação física em Salvador, eu não tinha estrutura, minha família não podia me bancar lá e
eu não tinha condição de ir.”
O professor Luciano Bittencourt termina o ensino médio em 1991. Neste período,
aqueles que desejavam cursar Educação Física não tinham muitas alternativas, ou deslocava-
se para a Salvador ou para Ibicaraí. Frente a este panorama, muitos desistiam ou adiavam seus
sonhos. “Bom! Eu fiz letras, por que era a única opção que eu tinha na verdade. Eu queria
9 Formação mais ampla aqui é considerada como aquela que acontece a fim de escapar de modelos da formação
de professores de Educação Física que reproduzem em suas práticas pedagógicas uma visão totalmente
esportiva, competitiva, individualista e sem fundamentos teóricos (DARIDO, 2003).
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continuar estudando, só que a minha primeira opção era educação física, não existia
educação física”.
Deste modo, o professor relata a sua preferência pelo curso de educação física apesar
de o mesmo não existir na sua cidade ainda e não dá condições econômicas de se manter na
capital baiana, ficando evidente que na sua memória só era possível fazer tal curso em
salvador, esquecendo-se de outras possibilidades, como por exemplo, fazer em outra cidade
do interior, ou até mesmo em outro estado.
No momento pontuado pelo professor Luciano Bittencourt, na Bahia existiam apenas
três possibilidades de cursar Educação Física, embora o professor não se recorde da
Faculdade Montenegro, na cidade de Ibicaraí. Em 1989 temos o primeiro curso de Educação
Física no interior da Bahia, este oferecido por uma instituição privada. É importante ressaltar
neste contexto que no início dos anos 90 ainda no interior da Bahia, não existia formação em
Educação Física em Universidades Públicas.
Pires (2009) sobre a interiorização do ensino da educação física na Bahia que afirma
que:
Em 1989, a Faculdade Montenegro cria o primeiro Curso de Educação Física
no interior do Estado da Bahia, na cidade de Ibicaraí. Todavia, podemos
considerar, em grande medida, que a efetiva expansão e consequente
interiorização da Formação Profissional em Educação Física na Bahia foi
consolidadas pelas Universidades Públicas Estaduais (PIRES,2009, p. 30).
Dentre os professores entrevistados um, é advindo desta experiência de formação. Em
1994 o professor Eduardo Vieira inicia seu curso de formação na Montenegro, o mesmo
morava no sul baiano, o que possibilitou o seu deslocamento, como afirmado anteriormente.
Residia em Ilhéus-BA e a faculdade ficava a uma distância de 70 km, “eu ia [...] é são 70 km,
eu ia e voltava todos os dias”.
Dito de outra forma, no panorama baiano o primeiro curso de Educação Física surgiu
na década de 70, o segundo só passa a existir em 1988 e o terceiro em 1989, surgindo assim,
anos depois do primeiro, mas dessa vez no interior, na cidade de Ibicaraí.
Sobre a implementação do curso de Educação Física pela Faculdade Montenegro é
bastante escassa a publicação de material que aborda a fundação do curso. Infelizmente os
estudos encontrados pontuam apenas a existência desta faculdade, ano de implementação, mas
falta um maior aprofundamento sobre as motivações para seu surgimento, bem como o
caminho trilhado até a chegada da sua implantação.
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A primeira Universidade Pública a oferecer o curso de Educação Física foi a
Universidade Federal da Bahia – UFBA, tendo dado início no ano de 1988, ou seja, o curso da
UFBA é o segundo curso de Educação Física no estado da Bahia. A formação superior em
Educação Física na Bahia estava debutando, completando seus 15 anos de implementação.
Sobre este assunto Pires (2009) destaca que a UFBA (Universidade Federal da Bahia),
nasceu apontando para um modelo diferenciado de formação, talvez influenciado pela
unidade de instalação na Faculdade de Educação, o convívio com outras áreas de
conhecimento pode ter possibilitado um alargamento na perspectiva formativa.
Mesmo com a materialização do primeiro curso de Educação Física no interior do
Estado da Bahia, Pires (2009) considera que a efetiva expansão da Formação Profissional em
Educação na Bahia foi consolidada a partir da segunda metade da década de 1990. Todas as
Universidades Estaduais baianas começam ofertar o curso de Formação de Professores de
Educação Física. Até a primeira metade da década de 90 a experiência possível de formação
na Bahia estava restrita a estas três possibilidades apresentadas anteriormente.
Atualmente, no interior baiano a Formação de Professores de Educação Física é
oferecida pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB10
; Universidade do
Estado da Bahia – UNEB11
; Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, como o
nome deixa claro, esta Universidade fica localizada no município de Feira de Santana12
.
Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC, implementa o curso em 2004, contemplando
cidades do Sul da Bahia, Itabuna e Ilhéus e a Universidade do Recôncavo Baiano – UFRB13
.
10
O Curso de Educação Física da UESB está no campus de Jequié, Em julho de 1996 foi criado o curso,
reconhecido pelo dec. 8565, DOE 14 e 15/06/2004, o curso está lotado no Departamento de Saúde – DS e tem
como objetivo a formação do profissional para atuar na pré-escola, ensinos fundamental e médio e na educação
superior, possibilitando também, aquisição de conhecimentos genéricos na área não formal (academias,
condomínios, associações desportivas, clubes, centros sociais urbanos, clínicas e outros). Informação retirada do
site: http://www.uesb.br/catalogo/cga-csa.asp. 11
Na UNEB o curso de Educação Física está presente no Campus II (Alagoinhas), funcionando no turno
matutino, no Campus IV (Jacobina), funcionando no turno matutino e no campus XII (Guanambi) funcionando
no turno diurno, sua implementação iniciou na cidade de Guanambi no ano de 1999 e no ano de 2004 expande
essa oferta com a criação do curso em Alagoinhas e Jacobina, e atualmente no campus X, Teixeira de Freitas.
. Informação retirada do site: http://www.uneb.br/institucional/a-universidade. 12
O curso de Licenciatura em Educação Física faz parte do Departamento de Saúde, com algumas disciplinas
ligadas ao Departamento de Educação. Informação retirada do site:
http://www.uefs.br/portal/ensino/graduacao/cursos. O curso passou a ser pensando a partir da necessidade de
professores de Licenciatura em Educação Física no estado da Bahia e especificamente no município de Feira de
Santana, começou a funcionar no primeiro semestre de 1997 e obteve o seu reconhecimento através do Parecer
nº 198/2004, do Conselho Estadual de Educação da Bahia, em 05 de julho de 2004 e do Decreto nº 9150, de 28
de julho de 1995, do Governo do Estado da Bahia, publicado no Diário Oficial da União de 29 de julho de 2004
(UEFS, 2008). 13
Em 23 de dezembro de 2009 foi criado pela Resolução nº. 035/2009 o curso de Licenciatura em Educação
Física, campus Amargosa, começou a funcionar em 2010, com oferta de 50 vagas no turno noturno Informação
do site: http://www.ufrb.edu.br/cfp/index.phd/cursos/cursos.
http://www.uefs.br/portal/ensino/graduacao/cursos
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De acordo Pires (2009), a criação dos Cursos de Formação de Professores de
Educação Física nas Universidades Estaduais baianas, foi resultado de uma longa experiência
de debates e da ausculta nas comunidades locais, mas com a justificativa central no
atendimento de demandas reprimidas e carências profissionais nas regiões de instalações dos
cursos.
Quanto à carência profissional, o professor Alberto Ferreira expõe que em 1990
quando prestou concurso para a DIREC 13, atual NRE 2214
o número de aprovados não
supriu a necessidade de professores. “Tinham 4 vagas, só passaram 3 pessoas, de 6 que
fizeram só passaram 3”. Até este momento a expansão dos cursos de Educação Física não
tinha chegado ao interior baiano, o que de certa forma, justifica o quantitativo de inscritos.
Atualmente, presenciamos outra realidade. Os concursos oferecem vagas e a
concorrência é cada vez maior, já que a cada ano estas universidades tanto as públicas quanto
as privadas têm lançado grande quantidade de profissionais formados em Educação Física no
mercado de trabalho. (PIRES, 2009).
Pires (2009, p. 30) analisa os cursos de Educação Física das Universidades Estaduais
como uma continuidade de um perfil de formação de Professores de Educação Física iniciado
pelo curso da UFBA.
Partindo-se da análise dos projetos de criação dos cursos de Educação Física
das Universidades Estaduais baianas, podemos observar que na UESB,
UEFS, UNEB e UESC, todos eles, em maior ou menor medida, assumem a
continuidade de um perfil de formação iniciado na Bahia pelo Curso de
Educação Física da UFBA. Esse resultado, a nosso juízo, é fruto de uma
combinação de fatores, quais sejam: abrigarem-se em uma estrutura pública
de ensino, sobretudo em um ambiente universitário; contar com professores
(concursados) egressos do Curso da UFBA, o que favoreceu uma orientação
parecida com a formação recebida; estarem orientados pela mesma
legislação referente à formação Profissional em Educação Física no Brasil,
03\87 e pelas Diretrizes Nacionais; na elaboração dos seus projetos,
consultorias dadas por professores do quadro docente da UFBA.
Então, o que se presencia na Bahia é a expansão da formação de Professores de
Educação Física a partir da segunda metade da década de 1990 do século XX, especialmente
em solos do interior com o intuito de atender as demandas das regiões. Como este estudo terá
como foco a região de Jequié, a maioria dos professores entrevistados é advindo da formação
14
O Governo do Estado publicou, no Diário Oficial do dia 31 de dezembro de 2014, o Decreto nº 15.806, de
30/12/2014, dispondo sobre a organização territorial dos Núcleos Regionais de Educação, a partir da extinção
das Diretorias Regionais de Educação (DIREC).
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proposta pela UESB, os que não são egressos desta universidade iniciaram sua graduação
anterior ao período de implementação do curso de Licenciatura em Educação Física, até a
primeira metade da década de 90.
Abordarei a seguir, por meio das memórias narradas pelos professores entrevistados, a
Educação Física que perpetuou durante as suas experiências na Educação Básica. O esporte
no ambiente escolar aparece enquanto um elemento importante para os entrevistados durante
a educação básica.
Desta forma, as escolhas do curso de Educação Física pelos professores entrevistados,
se deram através da grande influência que os mesmos sofreram quando alunos da rede básica
de ensino por volta dos anos 80 e 90 períodos, marcado pela forte presença do militarismo que
naquele momento ainda era bastante visível, fatos que acabaram colaborando para produzir
seus efeitos na memória destes professores que justificam suas ações e escolhas dentre elas, a
preferência da própria profissão. Em outras palavras, a opção da profissão, no caso destes
atores, baseou-se fortemente em uma memória afetiva que remonta a um relativo “sucesso”
no esporte escolar.
2.1 “FUI ATLETA POR CAUSA DA ESCOLA”: EDUCAÇÃO FÍSICA CERCADA PELO
AMBIENTE SOCIAL ESPORTIVO
Quando eu comecei na 5ª série no CAP, eu estudei da 5ª até o 3º ano no
CAP, então quando eu entrei na 5º série a educação física, eu me lembro
que tinha um professor na 5º série que era militar, tinham poucos
profissionais de Educação Física nessa época, isso foi em... eu entrei no
CAP, 8615
.
[...] como é que funcionava, nós tínhamos as aulas de educação física e na
aula de educação física era identificada aqueles alunos que tinham um pré
disposição pra uma determinada modalidade esportiva, aí havia paralela a
aula de educação física havia as turmas de esportes que funcionava no
ginásio de esportes entendeu? E os alunos que eram selecionados pra
prática desportiva eram liberados das aulas