transcrição de dados de LS ELAN
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Transcrição de dados de uma língua sinalizada: um estudo piloto da transcrição de narrativas na língua de sinais brasileira (LSB)1
Leland McCleary (Universidade de São Paulo) Evani Viotti (Universidade de São Paulo)
1. O problema de transcrição das línguas sinalizadas
Este artigo relata uma experiência de transcrição de uma narrativa contada em
língua de sinais brasileira (LSB).2 A experiência foi iniciada como um primeiro passo em
direção à constituição de um corpus de gravações e transcrições de LSB, sinalizada por
surdos adultos fluentes. A experiência foi inicialmente concebida como treinamento da
equipe de pesquisa no uso de um sistema de transcrição. Entretanto, logo nos demos
conta de que os sistemas de transcrição em uso são limitados, e que sistemas mais
adequados ainda estão em processo de desenvolvimento e experimentação. Infelizmente,
apesar de as línguas sinalizadas já estarem sendo estudadas por lingüistas por quase meio
século, o problema de sua transcrição continua sendo um desafio sem solução clara.
Diferentemente das línguas orais, que há milhares de anos têm sido representadas por um
sistema quase-fonológico -- o alfabético -- que se presta à transcrição de texto oral e que
pôde ser, sem grandes inovações, adaptado à representação fonético-fonológica, as línguas
sinalizadas carecem de qualquer sistema de escrita largamente aceito, que possa servir como
base de uma transcrição própria. Se, por um lado, essa falta de um sistema de escrita
1 McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada: um estudo piloto da transcrição de narrativas na língua de sinais brasileira (LSB). In H. Salles (Org.), Bilingüismo e surdez. Questões lingüísticas e educacionais. Brasília, DF: Editora da UNB. Esta é uma versão expandida de uma comunicação apresentada no Simpósio Língua de Sinais e Bilingüismo durante o IV Congresso Internacional da ABRALIN, Universidade de Brasília, 17 a 19 de fevereiro de 2005, como parte da mesa redonda "Língua de Sinais: Constituição e transcrição de corpora". A língua de sinais brasileira também é conhecida por 'língua brasileira de sinais' e 'Libras'. 2 O trabalho relatado aqui foi desenvolvido na USP a partir de 2003 pelo "Grupo de Língua" do grupo de pesquisa Estudos da Comunidade Surda: Língua, Cultura, História, coordenado por Leland McCleary. Desde 2005, tem o apoio do CNPq através do projeto "Estudos da Comunidade Surda: Formação de Corpus de Língua de Sinais Brasileira", coordenado por Evani Viotti (Processo 47.9077/2004-5). Agradecemos ao laboratório A Escola do Futuro, USP, pelo apoio.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
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significa que as línguas sinalizadas não sofreram influência de uma modalidade escrita,
persistindo apenas em sua corporalidade original,3 por outro, significa que os lingüistas não
têm acesso a corpora de textos escritos das línguas sinalizadas por onde começar sua
análise, e nem a uma ferramenta básica por meio da qual construir um sistema de
transcrição.
Evidentemente, é de extrema utilidade para o analista poder representar a língua
objeto de estudo de forma fixa e simplificada.4 Nos últimos cinqüenta anos, várias
propostas de representação das línguas sinalizadas têm sido apresentadas, e continuam
sendo adaptadas, juntamente com propostas de sistemas de escrita para uso escolar e
popular. Esses sistemas variam desde aqueles que são mais codificados/analíticos, como o
sistema de William Stokoe (Stokoe 1960; Stokoe, Casterline & Croneberg 1965), até aqueles
que são mais gráficos/icônicos, como o sistema de SignWriting, de Valerie Sutton (Sutton
1996), ambos baseados em traços (ou parâmetros) distintivos (Martin 2000). Esses
sistemas não têm atingido aceitação geral na literatura lingüística, pela dificuldade de leitura
que apresentam para pessoas não especialmente treinadas.5 O que tem sido adotado, em
geral, é alguma variação de um sistema de glosas, em que uma palavra em inglês (ou outra
língua oral), grafada em maiúsculo, é usada para representar o sinal manual com o mesmo
3 Para uma discussão de corporalidade como extensão do conceito de oralidade, ver McCleary (2002). 4 O fato de o sistema de notação obrigatoriamente fazer uma seleção dos fenômenos a serem registrados significa a não-neutralidade do sistema diante a análise (para uma discussão clássica, ver Ochs 1979). Enquanto, por um lado, é desejável registrar o maior número de fenômenos que possam ser significativos para não empobrecer ou enviesar a análise, por outro lado, uma transcrição demasiadamente carregada de detalhes pode prejudicar a análise. Não há como evitar essa tensão. 5 A transparência de um sistema de transcrição e seu acesso por não especialistas é uma questão interessante. A informatização permite a criação de sistemas de extrema complexidade, como o do projeto CHILDES (MacWhinney 2006) e como o “Berkeley transcription system for sign language research” (BTS) (Hoiting & Slobin 2002), derivando poderosos instrumentos de busca, cálculo e comparação translingüística da dispendiosa etiquetagem das transcrições. Essa complexidade, por si só, não é problema. Entretanto, o que se espera dessas ferramentas são mecanismos para formatar relatórios de diversos tipos, que possam ilustrar as generalizações de forma transparente para leitores não especialmente treinados.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
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sentido. Algumas marcações não-manuais são acrescentadas por códigos sobrescritos, e
alguns usos do espaço de sinalização são representados por letras ou números subscritos.
No Brasil, o mesmo tem acontecido. Nos textos pioneiros de Ferreira Brito,
publicados a partir de 1984, foi usado um sistema de notação por glosas (Ferreira Brito
1995: 207-209), apesar de a autora ter também publicado (com Remi Langevin) um
detalhado sistema analítico de notação por traços (Ferreira Brito 1995: 211-242). Desde
então, o sistema de transcrição por glosas tem sido usado, como o padrão, com algumas
variações, em dissertações e teses sobre a gramática da LSB (Felipe 1988, 1998; Santos
2001: 277-280; Chan-Vianna 2003: iv-v; Finau 2004: 227-228).6 Tal notação parece servir
razoavelmente bem para estudos baseados em intuições de falantes bilíngües, a respeito de
enunciados apresentados ou eliciados isoladamente, e em comparações pontuais com
descrições de outras línguas sinalizadas. Hoje, contudo, a literatura internacional aponta
para as limitações desses procedimentos e confirma a necessidade de se estudarem as
línguas sinalizadas por meio de corpora de língua produzida por sinalizadores fluentes
(Liddell 2003). E para a análise de trechos de discurso espontâneo, o sistema de glosas
simples que tem sido usado apresenta uma série de limitações. Em sua tese sobre aspecto,
baseada em gravações de relatos de surdos, Finau (2004) complementa as transcrições
tradicionais de glosas (e sobre- e subscritos) com figuras tiradas da filmagem em vídeo
correspondentes a cada sinal manual, às vezes acrescentando setas, na própria figura, para
marcar movimento. Embora esse recurso ajude, os fenômenos significativos observados
acabaram por não ser registrados de forma sistemática, deixando a análise sem uma
sustentação empírica suficientemente explicitada.
6 Quadros (1999) usa uma combinação de transcrição por glosas e transcrição por SignWriting, numa tentativa de contornar algumas das deficiências da primeira.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
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Outros pesquisadores que trabalham com texto corrido também sentem as
dificuldades de trabalhar com uma notação por glosas, principalmente quando o objetivo é
estudar fenômenos globais, como a coesão textual. Observem o seguinte trecho de
transcrição de narrativa (Pereira & Nakasato 2002):
PORQUE ELA (apontando para um lugar longe dos dois) DOENTE LÁ ENTENDER (expressão facial de pergunta) (abaixando um pouco o corpo como se falasse com uma criança, levanta o corpo e olha para a esquerda com expressão facial de concordância) SIM MAMÃE (como se Chapeuzinho Vermelho estivesse olhando para a mãe) TUDO BEM (movimento de virar o corpo para o lugar estabelecido para o Chapeuzinho Vermelho e olha um pouco abaixo, balançando a cabeça) ENTÃO (movimento de girar o dedo indicador, interpretado como ENTÃO) (com a mão traça o caminho, mais expressão facial de entender?) CASA VOVÓ ENTENDER OLHAR (expressão facial de atenção) CAMINHO.
O exemplo mostra a dificuldade de se descrever narrativamente o que está sendo
sinalizado com sinais manuais, expressões faciais e outras marcações não-manuais, e ao
mesmo tempo produzir uma transcrição que ilumine a análise estrutural, tanto da frase
quanto da construção de texto. Um dos problemas que se percebe é a dificuldade de se
identificarem possíveis segmentos de discurso (frases ou orações), pelo fato de os sinais
manuais serem apresentados linearmente, intercalados por comentários. Isso acarreta
várias conseqüências para a análise, já que fenômenos importantes para uma análise textual,
como repetições, paralelismos estruturais e subordinação, podem passar despercebidos.
Outro problema é a sobreposição de descrição e interpretação. Nas explicações "expressão
facial de pergunta/de concordância/de entender/de atenção", não está claro se cada
descrição se refere a um determinado conjunto convencionado de traços faciais (por
exemplo, cabeça erguida, sobrancelhas franzidas, etc.), ou se a denominação indica a
interpretação global e intuitiva da expressão dentro do contexto. Sem dúvida, tal tipo de
transcrição representa um avanço sobre a simples tradução para o português, e sobre uma
transcrição por glosas não-comentada. Além disso, contribui para uma maior compreensão
do papel das marcações não-manuais na construção de um texto narrativo. Entretanto,
ainda deixa a desejar quando se pensa na constituição de um corpus de textos transcritos
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
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que possa servir de base para vários tipos de análises lingüísticas -- morfológica, sintática,
pragmática e discursiva -- e análises comparativas com outras línguas sinalizadas, o que
pede maior discriminação e padronização.
Mesmo nos casos mais simples, quando é usada para representar sentenças eliciadas
isoladamente, a transcrição por glosas traz dois inconvenientes que queríamos evitar na fase
inicial de nossa descrição. Primeiro, achamos precipitado o uso de indicações com valor
gramatical para marcações não-manuais, como de tópico, interrogação, ou negação. Tais rótulos
pressupõem uma análise sintática/semântica/pragmática, e podem ocultar algumas
diferenças sutis na produção das marcações não-manuais, que talvez sejam significativas.
Outro inconveniente da transcrição por glosas que achamos que deveria ser evitado é a
desvinculação do nome do sinal (sua glosa) da descrição de sua forma. Essa consideração
não é levantada na literatura. O senso comum atrás da prática de se usar a glosa
desvinculada de uma descrição é o de que "todo o mundo sabe" como determinado sinal é
executado. No entanto, isso não é verdade. Vários fatores podem fazer com que os sinais
sejam realizados de maneira diferente da forma mais conhecida, como, por exemplo,
variação regional e micro-regional, ocorrência de processos fonológicos e sinonímia. Um
problema relacionado a esse é a padronização do nome do sinal; muitas vezes, ao se
atribuir nome ao sinal, a tendência é a de se traduzir o sinal com base no sentido dominante
no contexto específico sendo transcrito, mesmo quando tal tradução não é o nome mais
típico do sinal sendo executado.
Tais considerações fizeram com que nossa primeira experiência de transcrição,
antes de ser um treinamento no uso de um sistema, fosse uma exploração sobre teoria e
técnicas de transcrição de línguas sinalizadas, com o objetivo de desenvolver um sistema
que atendesse nossos propósitos.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
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2. A formação do corpus: A História da Pêra
Decidimos iniciar nosso corpus com textos corridos, produzidos por surdos
fluentes. Essa decisão se deveu, em parte, ao fato de não termos, como nosso objetivo
inicial, o estudo de pontos gramaticais específicos, e, em parte, aos alertas que tínhamos
encontrado na literatura, relativamente às limitações de análises de línguas de sinais,
baseadas em frases eliciadas e descontextualizadas.
Entretanto, a questão de como eliciar tais textos não é trivial. Na época,
descartamos a idéia de registro de conversações espontâneas entre adultos surdos por sua
grande complexidade: aos problemas de transcrição, acrescentaríamos os dos fenômenos
de interação e gerenciamento dos turnos de fala. Narrativas baseadas em histórias escritas
em português correriam o risco de sofrer interferência da fonte em língua oral. Essa opção
também limitaria nossos colaboradores-informantes a surdos leitores do português.
Decidimos, então, nos valer da técnica de estimular a produção de narrativa com base em
uma história contada a partir de imagens, técnica essa já usada em estudos sobre narrativas
em línguas sinalizadas.7 Resolvemos usar a história da pêra, uma história encenada e filmada
sem palavras, planejada especificamente para a eliciação de narrativas a serem usadas para
fins de análise comparativa translingüística. O projeto da história da pêra, iniciado nos anos
70 por Wallace Chafe, já produziu uma literatura considerável, abrangendo várias línguas
de famílias distintas (Chafe 1980).8
7 Por exemplo, Morgan (1999) elicia narrativas usando o livro de história em figuras, Frog, where are you?. Rayman (1999) usa o desenho animado, The tortoise and the hare, de Disney. 8 Uma vantagem não esperada de termos adotado a história da pêra foi a descoberta de outros pesquisadores trabalhando com narrativas em várias línguas sinalizadas, que também estão usando a história da pêra como estímulo, notadamente na Universidade de Novo México (Sherman Wilcox, c.p.).
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
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Conseguimos o filme em forma digital,9 mas resolvemos passá-lo para VHS, para
facilitar seu uso em aparelhos de vídeo e TV comuns. Em consonância com as práticas
estabelecidas para o uso do filme, mostramos o vídeo em sessões individuais para cada um
dos surdos que se dispuseram a colaborar conosco, uma ou duas vezes, conforme
preferissem. A seguir, cada surdo recontou a história para um usuário da LSB,
preferencialmente surdo, que ainda não tivesse visto o filme e não conhecesse a história.10
As narrativas foram filmadas em fita digital, com uma câmera posicionada ao lado da
pessoa para a qual a história estava sendo contada. A gravação original foi passada para
VHS, com cópias para os pesquisadores, e guardada para uso posterior em forma digital.
3. O processo de transcrição
Gravadas algumas narrativas baseadas no filme da pêra, passamos ao processo de
transcrição. Para iniciar nosso experimento, escolhemos a narrativa contada pelo
colaborador surdo, Alex Melendez. Inicialmente, um membro do grupo fez uma glosa
tosca da narrativa, registrando todos os sinais manuais percebidos, sem a preocupação de
formatar o texto em sentenças ou construções gramaticais em português.11 Essa primeira
transcrição tinha a seguinte forma:
OK ÁRVORE FAZENDA CAMPO HOMEM CHAPÉU3 BIGODE COSTELETA TRABALHAR CAPINAR ÁRVORE APANHAR CESTA É PÊRA ERRAR HISTÓRIA HOMEM APANHAR AVENTAL
9 Agradecemos a Wallace Chafe a disponibilização do material. 10 Nem sempre foi possível satisfazer todos os critérios ideais, por falta de número suficiente de surdos nas várias sessões de gravação; no entanto, as condições de contação de cada caso foram registradas, permitindo análises posteriores, para verificar se essas condições tiveram algum efeito sensível sobre a forma das narrativas. 11 Queremos agradecer a Alex Melendez pela generosa colaboração, não só na hora da gravação, como nas várias horas em que participou das reuniões para discutir o filme e a transcrição; agradecimentos também aos membros da equipe.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
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A seguir, assistimos coletivamente ao filme da contação da história, verificando os
sinais transcritos, um por um. Com o objetivo de padronizar os nomes dos sinais (as
glosas atribuídas), e de vincular a glosa a uma descrição bem detalhada da forma do sinal,
optamos por usar, como referência básica, o Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngüe da língua
de sinais brasileira - Libras, de Capovilla & Raphael (2001). Essa decisão foi tomada levando-
se em conta a importância do dicionário como registro da LSB, sua larga distribuição, e
principalmente as cuidadosas anotações sobre a forma de cada sinal. Os sinais da gravação
que correspondiam a um sinal do dicionário recebiam, como nome, a palavra em português
que aparecia como verbete do dicionário. Esses nomes de sinais é que passaram a
constituir a glosa. Nesses casos, fazíamos, também, uma anotação para informar a página
do dicionário em que se encontrava o verbete. Aos sinais usados na gravação que foram
produzidos de forma diferente daquela encontrada no dicionário, atribuímos um nome, que
passamos a usar como glosa daqueles sinais, com um índice numérico subscrito, para
indicar que se tratava de uma variação de um sinal dicionarizado. Os sinais manuais
encontrados na gravação que não se encontravam no dicionário (37 sinais em 100, ou 37%)
foram anotados, para posteriormente fazermos sua descrição.12 Na transcrição, os sinais
dicionarizados foram indicados por glosas em maiúsculo, com itálico; os não-
dicionarizados, sem itálico.
De imediato, sentimos a dificuldade de trabalhar com uma transcrição contínua,
sem quebras de linhas que pudessem indicar alguma unidade (sintagma, oração). Sabíamos
que um dos nossos objetivos analíticos seria, ao longo do trabalho, descobrir as marcas
indicativas de segmentação gramatical, e que ainda não tínhamos conhecimento suficiente
da LSB para fazer uma segmentação definitiva. Mesmo assim, decidimos segmentar o
12 O fato de o dicionário ter apresentado descrições corretas de mais de 60% dos sinais produzidos espontaneamente na narrativa atesta seu grande valor como instrumento de pesquisa.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
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fluxo da narração em blocos, baseando-nos no conceito de unidades ideacionais usado por
Chafe (1980). Uma primeira segmentação intuitiva foi, então, feita pelo primeiro autor
deste artigo, resultando em 80 linhas, que correspondiam a 80 unidades ideacionais. Essa
divisão foi subseqüentemente submetida à análise coletiva, sendo modificada à medida que
apareciam argumentos para tal. Hoje a transcrição consta de 85 linhas (ou seja, 85 unidades
ideacionais), sendo que 63 linhas (74%) correspondem aos segmentos originais.
O próximo passo foi acrescentar, à transcrição dos sinais manuais, os sinais não-
manuais (e seu escopo), e marcar, para os sinais manuais, a mão ou as mãos que foram
usadas em sua produção. Para tal, foi montada uma espécie de "pauta" para cada unidade
ideacional. Essa pauta contava, inicialmente, com duas linhas, uma superior, a dos olhos,
em que, inicialmente, registramos piscadas ([p]), e uma inferior, em que informamos se o
sinal tinha sido realizado com as duas mãos (2m), ou com qual delas, se tivesse sido
realizado com apenas uma (md/me). Essas notações foram acompanhadas de uma
indicação sobre o número de repetições do sinal (1x, 2x, etc.),13 como mostra a figura
abaixo:
[p] 29. OUTR@ HOMEM CRIANÇA JOVEM md(1x) md(3x) md(1x) 2m(2x)
A seguir, aproveitando a linha dos olhos, acrescentamos a direção do olhar,
adotando a seguinte marcação: setas para a direita (>), para a esquerda (<), para cima (^), e
para baixo (V). A ausência de marcação indica que o olhar estava direcionado para o ponto
neutro (em direção ao interlocutor). Nos exemplos abaixo, a linha dos olhos é a que está
diretamente acima da linha da glosa dos sinais manuais14.
13 A questão da relação entre o número de repetições produzidas (e o conseqüente número indicado na descrição do sinal) como parte integrante do sinal ainda está em aberto. 14 Em 17 e 18, a primeira linha de cada pauta é a linha das sobrancelhas, e a última de baixo é a da simultaneidade dos sinais manuais. Essas linhas vão ser descritas adiante.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
10
\/.............. V V [p] V [p] 17. OBJETO-CONTEÚDO CHEI@2 JÁ 2m(1x) md(1x) md(2x) me BASE-OBJETO....................
/\........................................................
V> V> V> [p]
18. OBJETO-CONTEÚDO CHEI@2 JÁ PRONT@
>2m(1x)> >md(1x)> >md(1x)> 2m(1x) >me BASE-OBJETO.....................>
Durante toda a sinalização manual representada na pauta 17, os olhos do narrador
estão voltados para baixo e para o centro do espaço de sinalização, como mostra a marca V.
No início da sinalização da pauta 18, os olhos do narrador se mantêm voltados para baixo,
mas estão, agora, direcionados para a direita. É isso o que significa a marca V>.
Também aproveitando a linha das mãos, que vem imediatamente abaixo da linha da
glosa, acrescentamos a posição da formação dos sinais em relação ao espaço neutro, que é
o espaço que fica bem à frente do sinalizador. Usamos setas à direita (>) e à esquerda (<).
A ausência de qualquer marca significa que o sinal foi feito no espaço neutro. Essas marcas
foram colocadas antes e depois da indicação das mãos usadas para a realização do sinal,
como se observa na pauta 18 acima, para possibilitar o registro de alguma mudança de
posição entre o começo e o fim do sinal. Nos casos em que uma mudança desse tipo tenha
ocorrido, colocamos uma linha vertical (|) para indicar o espaço neutro, como se vê na
pauta 74.
\/.........................
< > 74. DOIS FALTAR1 UM@ md(1x) <2m(2x)| >md(1x)> [tem] duas, falta uma
Progressivamente, foram acrescentadas outras linhas à pauta de transcrição. Uma
linha foi adicionada imediatamente abaixo da linha das mãos, para indicar a realização
simultânea de sinais manuais. Essa realização simultânea acontece quando cada mão
produz um sinal diferente ao mesmo tempo, como ilustrado na pauta 23, ou quando uma
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
11
mão permanece em sua posição, enquanto a outra mão parte para formar outros sinais,
como ilustrado nas pautas 17 e 18 acima15.
[p]<V <V <V <V 23. OLHAR PÊRA VONTADE3 PEGAR2 me(1x) 2m(1x) md(1x ) me(1x) md PUXAR2-CORDA
Acima da linha dos olhos, incluímos uma outra linha, para registrar o movimento
das sobrancelhas. Essa linha conta com as seguintes opções: sobrancelhas levantadas (/\);
sobrancelhas levantadas e cenho franzido (/*\); cenho franzido (\/). Notem, nos
exemplos acima, que o narrador franze as sobrancelhas (\/) quando realiza a sinalização de
CHEI@ (pauta 17), mantendo-as assim até sinalizar OBJETO-CONTEÚDO (pauta 18).
Nesse momento, as sobrancelhas deixam de estar franzidas e passam a estar levantadas
(/\). Os pontinhos que aparecem tanto depois do franzimento, quanto depois de
levantamento das sobrancelhas, marcam o tempo em que a sobrancelha se manteve naquela
posição.
Finalmente, foi acrescentada uma linha para a tradução, em português, da unidade
ideacional sinalizada. Essa linha é colocada na pauta como a última de baixo. Na tradução,
são colocadas entre colchetes as palavras em português que não têm correspondentes entre
os sinais manuais, mas que são necessárias à boa formação do português.
..../\.......................................................... < < < < 19. AGORA2 FALTAR1 OBJ-REDOND1 RESTAR VAZI@ 2m(2x) 2m(2x) <2m(1x)< md(1x) <2m(1x)< <me BASE-OBJETO....< agora, falta [o] resto [das pêras] [na] cesta vazia [à esquerda]
Notem que as informações entre colchetes são de vários tipos: às vezes são
palavras exigidas pelo português; às vezes são informações inferidas a partir dos sinais não
15 Na próxima seção, discutimos essa questão em mais detalhes.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
12
manuais ou do contexto. Essa notação ainda está sob estudo. A pauta 19, acima, mostra
todas as linhas preenchidas.
Uma omissão óbvia é uma linha para a representação da formação da boca. Essa
linha não foi incluída por não termos à mão, na época, um sistema de marcação
suficientemente sensível para capturar as múltiplas possibilidades de formação. Essa
questão ainda está sob estudo e será comentada na última parte deste trabalho.16
4. Comentários sobre o sistema de transcrição
É importante ressaltar a natureza eminentemente descritiva do modelo de
transcrição que estamos desenvolvendo. Não sabemos ainda se as piscadas que
registramos na linha dos olhos têm algum estatuto lingüístico, ou se são movimentos
naturais das pálpebras, sem qualquer significação particular17. Mesmo assim, optamos por
registrá-las, mantendo a informação disponível para estudos futuros. Da mesma maneira,
sabemos que a direção do olhar é fundamental para questões de referenciação.
Entendemos, então, que o sinal OBJETO-CONTEÚDO, glosado na pauta 17, tem um
referente diferente do sinal OBJETO-CONTEÚDO glosado em 18. Mas, na glosa
propriamente dita, isso não aparece. Essa informação é obtida apenas com o cruzamento
das informações trazidas pela linha da glosa com as informações trazidas pela linha dos
olhos e das mãos.
16 O leitor deve ter notado que também não mencionamos outras linhas que são de grande importância para a transcrição de línguas de sinais, como as que caracterizam os movimentos do tronco e da cabeça. Atualmente, já estamos fazendo a experiência de transportar a transcrição que estamos descrevendo aqui para sistemas informatizados, e, nessa nova fase, estamos incluindo novas linhas que registram várias outras características da LSB. 17 De maneira geral, a literatura sobre as línguas de sinais não menciona piscadas como um elemento gramatical dessas línguas. Entretanto, Baker & Padden, já em 1978, comentam sobre a possibilidade de piscadas estarem associadas aos limites de unidades gramaticais na ASL. Mais recentemente, Engberg-Pedersen (1999: 33) observa que, na língua de sinais dinamarquesa (DSL), os sinalizadores podem romper o contacto visual com seus interlocutores por meio de piscadas, e que essas piscadas ocorrem nos limites de grandes sintagmas. Kanda et al. (2002a: 187) e Kanda et al. (2002b: 116) também comentam que piscadas que seguem um tipo particular de apontamento ou aceno de cabeça parecem indicar o limite final de uma sentença na língua de sinais japonesa (JSL).
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
13
É interessante observar que os contornos de sobrancelha aqui apresentados não
parecem estar relacionados às marcas sintáticas de interrogação, já mais estudadas pela
literatura. Mesmo sem saber se esses contornos têm uma função lingüística e, em caso
afirmativo, qual seria ela, eles estão registrados na transcrição, para serem investigados
posteriormente.
Uma pergunta que poderia ser feita a respeito das linhas das mãos refere-se ao fato
de que, de maneira geral, a informação sobre o número de mãos envolvidas na realização
do sinal é uma informação de caráter lexical. Desse modo, a glosa deveria ser suficiente.
Entretanto, insistimos em registrar essa informação em uma linha separada, por vários
motivos. Primeiramente, essa é uma maneira de marcar qual é a mão dominante do
sinalizador. Como se sabe, surdos destros e canhotos preferem realizar os sinais de uma
mão com a mão direita ou esquerda, respectivamente. Segundo, o exame das narrativas
nos mostrou que um mesmo sinalizador pode realizar um mesmo sinal quer com a mão
direita, quer com a esquerda, dependendo da necessidade que ele tenha de deixar sua mão
dominante livre para a realização de outros sinais. Assim, por exemplo, um sinalizador
destro realizaria, prototipicamente, o sinal ÁRVORE, da seguinte maneira: braço esquerdo
dobrado na horizontal, posicionado junto ao abdomem, palma da mão voltada para baixo;
braço direito dobrado na vertical, mão vertical aberta, palma para frente; cotovelo direito
apoiado no dorso da mão esquerda; palma da mão direita gira para trás. Entretanto, o
sinalizador pode inverter as mãos, ou seja, tornar a direita passiva e a esquerda ativa, para, a
seguir, realizar o sinal DESTREPAR com a mão direita, tomando, como ponto de
articulação, a mão esquerda que permaneceu dobrada na vertical após a realização do sinal
ÁRVORE. Notem as pautas 71 e 72, abaixo. Em 71, a linha das mãos mostra que o sinal
ÁRVORE foi realizado com as duas mãos. Em 72, o sinal DESTREPAR é realizado com
a mão direita, enquanto a esquerda mantém parte do sinal de ÁRVORE feito
anteriormente.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
14
71. HOMEM ÁRVORE md(1x) 2m(1x) [o] homem [na] árvore 72. DESTREPAR <md(4x)< <me ÁRVORE ..........< desceu [a escada]
A manutenção de parte de um sinal por uma das mãos por um período superior ao
da realização do sinal parece ser bastante freqüente. Notem que o mesmo acontece no
trecho transcrito nas pautas 17 e 18. Depois de sinalizar OBJETO-CONTEÚDO com as
duas mãos, o sinalizador mantém a mão esquerda (não-dominante) na mesma posição
(BASE-OBJETO) enquanto faz o sinal de CHEI@ com a mão direita (dominante).
Praticamente, inexistem discussões a respeito de fatos desse tipo na literatura sobre
as línguas de sinais18. Entretanto, esse parece ser um recurso gramatical importante. No
caso do trecho transcrito em 71 e 72, a manutenção de parte do sinal ÁRVORE durante a
realização do sinal DESTREPAR parece estabelecer a relação entre o verbo e seu
argumento locativo. No trecho de discurso transcrito em 17 e 18, parece que a
concomitância dos dois sinais reforça a relação entre CHEI@ e OBJETO-CONTEÚDO.
Notem, ainda, o trecho transcrito entre as pautas 42 e 46, reproduzido a seguir:
\/......................... [p] 42. HOMEM ANDAR-DE-BICICLETA md(1x) 2m(2x) ele [estava] andando [de] bicicleta
/\..... 43. MULHER VIR3 md(2x) md(1x) me BICICLETA2....... [quando viu uma] mulher vindo [de bicicleta]
18 Uma observação de que temos notícia, e que pode ser aproximada a essa característica que estamos apontando, está em Liddell (2003: 154). O autor comenta um trecho de uma narrativa em que o sinalizador está narrando a história com sua mão direita, ao mesmo tempo em que está demonstrando, com seu corpo, a ação que está sendo narrada. Kanda et al. (2002b: 115) também mencionam que a simultaneidade característica das línguas de sinais se verifica não só pela co-ocorrência de sinais não-manuais com sinais manuais, mas também pelo fato de que duas ou mais palavras da língua podem ser articuladas simultaneamente, cada uma com uma mão.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
15
< 44. ANDAR-DE-BICICLETA 2m(2x) [ele continuou] andando [de] bicicleta
< < 45. MULHER BONIT@ md(1x) md(1x) me BICICLETA2.......... [e olhou para ela] mulher bonita!
< 46. ANDAR-DE-BICICLETA(i) 2m(2x) [continuou] andando [de] bicicleta
Nesse trecho, o sinalizador conta que o protagonista da história estava andando de
bicicleta quando cruza com uma mulher vindo em sentido contrário. Ele acha a mulher
bonita. A manutenção da mão esquerda do sinalizador com parte do sinal BICICLETA
parece ser fundamental para o estabelecimento da temporalidade dos eventos. Em 42, o
narrador introduz o sinal ANDAR-DE-BICICLETA com as duas mãos, mantendo a
esquerda em posição durante a sinalização de MULHER VIR, em 43. Em 44, o narrador
volta a sinalizar ANDAR-DE-BICICLETA, indicando a continuidade da ação. Em 45, a
mão esquerda se mantém em parte do sinal BICICLETA, enquanto, com a direita, o
narrador sinaliza MULHER BONIT@. Em 46, ele realiza o sinal ANDAR-DE-
BICICLETA mais uma vez. Na linha de tradução para o português, nós procuramos
capturar a seqüencialidade dos eventos por meio de perífrases aspecto-temporais, como ele
[estava] andando de bicicleta, uma mulher vinha vindo, ele [continuou] andando de bicicleta, etc.19
Com isso, queremos chamar a atenção para a importância que a transcrição tem no
processo inicial de descrição de uma língua. Como já mencionamos, de maneira geral, a
19 Interessantemente, o mesmo acontece com gestualizações que acompanham narrativas feitas em línguas orais. McNeill & Duncan (2005: 519) observam que em muitas narrativas orais baseadas na história da pêra, ocorre um fenômeno semelhante: na gesticulação que acompanha a narrativa, o contador da história faz, inicialmente, um gesto com as duas mãos, mantendo, em seguida, apenas uma delas, liberando a outra para a realização concomitante de um outro gesto, que tem relação com o primeiro.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
16
literatura sobre as línguas de sinais não faz menção à manutenção da mão não-dominante
realizando parte de um sinal, enquanto a mão dominante realiza outras sinalizações. Como
o modelo de transcrição que estamos desenvolvendo tem por objetivo capturar o maior
número possível de detalhes da sinalização, não pudemos deixar de registrar esses fatos.
Os trechos que examinamos mostram que se trata não só de um recurso muito produtivo
na LSB, mas que parece ter uma multiplicidade de funções que precisam ser mais bem
investigadas.
Um outro registro que procuramos fazer no modelo de transcrição que vimos
desenvolvendo é o de uma classe de verbos das línguas de sinais, que Liddell (2003) chama
de verbos depictivos20. Tipicamente, verbos depictivos são aqueles que apresentam uma forma
particular, dependendo ou de quem realiza a ação, ou do objeto sobre o qual recai a ação
do verbo, ou da maneira como a ação do verbo é realizada. Assim, por exemplo, na LSB
existem várias formas para expressar a ação que, em português, é expressa pelo verbo andar,
dependendo de a entidade que está andando ser humana ou animal, dependendo da
maneira como essa entidade está andando, e assim por diante. Para deixar claro que esses
verbos têm uma forma variável, optamos por transcrevê-los, seguidos de uma letra grega,
do seguinte modo: PEGAR-α, PUXAR-α, etc. Se, em um mesmo discurso, aparecerem
diferentes formas de sinais correspondentes ao verbo pegar ou puxar, vamos mudar apenas a
variável que segue o verbo, como em PEGAR-β, PUXAR-β, PEGAR-γ, PUXAR-γ. Essa
letra grega, por sua vez, é seguida de um índice, que aponta para um outro sinal, portador
do mesmo índice. É a forma do referente desse sinal que o verbo vai assumir. Observem
o seguinte trecho de transcrição:
20 De maneira geral, a literatura sobre as línguas de sinais chama esses verbos de verbos classificadores. Entretanto, estudos mais recentes têm mostrado que o estatuto desses verbos enquanto classificadores é bastante discutível. Ver, a esse respeito, os textos em Emmorey (2003). Por isso, optamos por usar a nomenclatura sugerida por Liddell (2003).
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
17
[p] v< v< < < 24. OLHAR PÊRA(i) VONTADE1 PEGAR-αi <me(1x)< 2m(1x) md(1x) <me(1x)< >md PUXAR-α > >md VONTADE1>....... [ele] olhou [as] pêras [com] vontade [de] pega[-las]
Notem que o sinal PÊRA vem seguido do índice (i), subscrito. Logo a seguir,
aparece a transcrição PEGAR-αi . A presença de α junto ao verbo indica que se trata de
um verbo cuja forma vai depender do tipo de objeto que se pega. O índice (i), junto a α,
aponta para outro sinal que traz o mesmo índice, nomeadamente PÊRA. Isso significa que
o verbo PEGAR, nesse trecho, tem sua forma determinada pelo referente do sinal PÊRA.
Com isso, conseguimos capturar essa flexibilidade icônica das línguas de sinais, sem
assumir uma posição teórica sobre o estatuto gramatical dessa característica da língua.
5. A informatização e a padronização do corpus
Desde o início do trabalho, foi nossa intenção produzir um corpus da LSB
informatizado, que pudesse 1) ter a transcrição sintonizada com a imagem em vídeo, 2)
permitir buscas e relatórios de vários tipos, 3) ser facilmente disponibilizado para outros
pesquisadores no mundo, e 4) ser comparável com outros corpora internacionais. A busca
de softwares e soluções que atendessem esses critérios foi feita concomitantemente à
primeira fase de experimentação em transcrição descrita nos itens 2 a 4 deste trabalho.
Julgamos conveniente iniciar as transcrições e ganhar experiência com elas, mesmo antes de
ter encontrado as ferramentas para a informatização. Durante essa primeira fase, usamos a
tecnologia de vídeo em VHS para a visualização das narrativas, como já foi dito, e
mantivemos as transcrições atualizadas em versões seqüenciais de documentos em Word
(de onde tiramos os exemplos usados acima).
O desenvolvimento de ferramentas que permitam a visualização e anotação
simultânea de gravações em vídeo tem se beneficiado nos últimos anos de um crescente
interesse pelos aspectos não-verbais da comunicação, dentro de várias áreas de
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
18
investigação, além da de descrição das línguas de sinais: aquisição de língua, educação,
estudos da gestualidade, inteligência artificial, animação gráfica, interação homem-
computador. Uma busca por esse tipo de ferramenta levantou vários candidatos, cada um
desenvolvido para fins específicos, e com vantagens e desvantagens em relação a nosso
projeto21. A título de exemplificação, podemos mencionar:
ANVIL (Annotation of video and language data). Desenvolvido por Michael Kipp, do DFKI (Centro Alemão para Pesquisas em Inteligência Artificial) para a anotação de comunicação não-verbal. Permite múltiplas trilhas customizáveis para anotações. Disponível gratuitamente para fins educacionais e de pesquisa. Para plataformas PC, Mac e Unix. Sítio: <http://dfki.de/~kipp/anvil/>.
ELAN (EUDICO Language Annotator). Criado pelo Instituto Max Planck de Psicolingüística especificamente para análise lingüística, está sendo desenvolvido junto a um grupo de pesquisadores de línguas de sinais. Permite múltiplas trilhas customizáveis para anotações e vídeos simultâneos. Distribuído gratuitamente para plataformas PC, Mac e Unix. Sítio: <http://www.mpi.nl/tools/elan.html>.
CLAN (Computerized Language Analysis). Desenvolvido na Universidade Carnegie Mellon para analisar dados transcritos no formato CHILDES. Não é um software específico para transcrição a partir de vídeo, mas permite a interligação de trechos da transcrição com trechos de áudio e vídeo. Compatível com o Berkeley transcription system for sign language research (BTS). Distribuído gratuitamente para plataformas PC, Mac e Unix na base de troca de dados com o projeto CHILDES. Sítio: <http://childes.psy.cmu.edu/>.
SIGNSTREAM. Desenvolvido pelo American Sign Language Linguistic Research Project, da Universidade de Boston, especificamente para pesquisa com línguas sinalizadas. Permite múltiplas trilhas customizáveis para anotações e vídeos simultâneos. Disponível para plataforma Mac, mediante compra de licença por uma quantia simbólica. Sítio: <http://www.bu.edu/asllrp/SignStream/>.
TRANSANA. Ferramenta para transcrição e análise qualitativa de dados em áudio e vídeo desenvolvida no Wisconsin Center for Education Research. Permite interligação de trechos da transcrição com trechos de áudio e vídeo. Transcrição livre, sem pré-definição de trilhas. Disponível gratuitamente para plataforma Windows. Sítio: <http://www.transana.org/>.
Uma ferramenta como o Transana tem a vantagem de ser de uso relativamente
fácil, sendo possível importar as transcrições já preparadas em Word, como mostra a Figura
1.
21 Para análises e comparações de softwares, ver Dybkjaer (2001) e Bigbee et al. (2001).
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
19
Figura 1. Transcrição com vídeo em Transana
Uma desvantagem é que a transcrição deve ser interligada ao vídeo em blocos, e
não continuamente.22 Como não há um cursor acompanhando os segmentos transcritos à
medida que o filme vai passando, não se pode estabelecer com precisão a correspondência
entre um elemento da transcrição e um ponto específico do vídeo. Na ilustração, o
sombreado marca a pauta que corresponde ao trecho do vídeo que está passando no
momento. À medida que o vídeo avança, o destaque vai avançando de pauta em pauta
para sinalizar o bloco correspondente. Podem-se demarcar blocos menores (sinais
individuais) ou maiores (uma seqüência de pautas), mas os blocos para visualização do
vídeo devem ser pré-definidos. 23
22 Isso parece ser também o caso do CLAN, que acopla o vídeo a transcrições já feitas. 23 É possível selecionar um trecho aleatório do vídeo para ser visualizado, mas os trechos relevantes da transcrição continuam destacados em bloco.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
20
Outra desvantagem do Transana é a pouca flexibilidade para a visualização da
transcrição. Não há opção de visualizar só algumas linhas das pautas e não outras (por
exemplo, só a das glosas, das mãos e da boca). Para isso, é necessário preparar outro
modelo da transcrição só com as linhas desejadas.
Uma ferramenta específica para transcrição e análise lingüística como o ELAN ou o
SignStream, traz algumas vantagens, apesar de sua maior complexidade. Uma vantagem
que eles apresentam para a transcrição das línguas sinalizadas é a possibilidade de visualizar
duas ou mais tomadas de vídeo simultaneamente, como ilustra a Figura 2, exemplo de
transcrição da língua de sinais holandesa (NGT) disponibilizado pelo Instituto Max
Planck.24
Figura 2. Transcrição no ELAN, com duas tomadas simultâneas de vídeo
24 Agradecimentos a ECHO - European Cultural Heritage Online, University Nijmegan. <http://www.let.kun.nl/sign-lang/echo/>.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
21
Como se vê na figura acima, a transcrição é feita em trilhas separadas, cada uma
relacionada a algum aspecto sendo codificado. As trilhas podem ser ocultadas ou
visualizadas, de acordo com o aspecto sendo estudado, e a ordem das trilhas pode ser
mudada com facilidade. Cada trilha pode ser segmentada e rotulada independentemente,
cada uma sincronizada continuamente com a linha do tempo do vídeo.25 Existem as
opções, também, de vincular uma trilha a outra, para que as demarcações de uma sejam
herdadas pela outra; e de criar glossários de marcações próprios para cada trilha.
Uma desvantagem do sistema do ELAN, relacionada com a natureza contínua da
transcrição, parece ser a impossibilidade de se gravarem relatórios que preservem as pautas
organizadas por unidades ideacionais, como em transcrições convencionais.26
Concomitantemente à busca de ferramentas informatizadas para facilitar a
transcrição, procuramos propostas de sistemas de anotação, principalmente aquelas que
visavam ao registro de marcações não-manuais. Essa preocupação se deve a nosso objetivo
de padronizar, na medida do possível, as nossas transcrições seguindo as normas
internacionais emergentes, e de aproveitar soluções encontradas por outros grupos de
pesquisa. Não é a proposta deste relato fazer uma revisão da literatura produzida na área.
Queremos apontar apenas, como exemplo, algumas das tentativas de resolver um problema
que, para nosso grupo, está, ainda, sem solução: as marcações não-manuais da boca.
Inicialmente, imaginamos que uma possível abordagem seria a de mapear as
configurações da boca com base em dois conjuntos de padrões: um conjunto dos visemas
do português brasileiro (PB), e um conjunto de outras configurações de boca. Visemas são
padrões visualmente contrastáveis de movimentação articulatória dos lábios e da língua
25 Na figura 2, a linha vertical que perpassa as trilhas marca o momento atual dos vídeos. 26 Essa e outras "desvantagens" podem ser sanadas à medida que ganhamos familiaridade com a ferramenta, ou à medida que avança o desenvolvimento do próprio software.
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
22
produzidos em conseqüência da fala. Tanto quanto os fonemas, eles têm função distintiva
e identificadora (De Martino & Magalhães, 2004). A preocupação com os visemas
específicos do PB deve-se à freqüente incorporação da oralização do português, mesmo
que parcialmente, na sinalização em LSB, tanto por surdos oralizados quanto por surdos
não-oralizados.27
A literatura recente sobre transcrições de outras línguas de sinais tem mostrado a
mesma preocupação. A distinção entre articulação visêmica e outras configurações da
parte inferior da face tem sido foco de atenção de vários grupos de pesquisa na área. Por
exemplo, o grupo que desenvolve o sistema notacional sIGNDEX, para a descrição da
língua de sinais japonesa (JSL), elabora um conjunto de marcações distribuídas em 14
categorias, entre as quais incluem-se movimentos da boca, dos lábios e outros movimentos
da parte inferior da face, elencadas na Tabela 1 (Kanda at al. 2002a: 183).
1 Mandíbula Direção da mandíbula ou indicação de tensão 07 símbolos 2 Canto da boca Movimento do canto da boca 02 símbolos 3 Bochecha Enchimento da bochecha 02 símbolos 4 Língua Aparecimento da língua 05 símbolos 5 Boca (Mouthing) Abertura da boca ou fala 18 símbolos 6 Lábios Movimento específico dos lábios 05 símbolos 7 Dentes Aparecimento dos dentes 02 símbolos
Tabela 1: Representação de sinais da face inferior em sIGNDEX
Como mostra a tabela, o item 4, correspondente à boca, abrange 18 símbolos, um
dos quais é reservado para indicar a articulação visêmica (chamada por eles de mouth-speech).
Os autores se abstêm de caracterizar detalhadamente esses movimentos, registrando apenas
sua ocorrência. Os outros 17 símbolos são usados para registrar gestos bucais
considerados não-articulatórios.
27 Na época em que demos início à nossa transcrição, não existia catalogação dos visemas do PB. Concordando com o fato de que "não é legítima a simples extrapolação de resultados de uma língua para outra qualquer" (Sá et al. 2003), julgamos necessário adiar essa parte do trabalho. Felizmente, essa barreira já foi superada pela recente tese de doutorado de José Mario De Martino, da Unicamp (2005).
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
23
Já o grupo alemão da Universidade de Hamburgo, ao desenvolver o projeto
ViSiCAST, estabelece as categorias relacionadas à face inferior apresentadas na Tabela 2
abaixo (Hanke 2000: 42-69). Na coluna à esquerda da Tabela, colocamos a numeração dos
itens correspondentes ao sIGNDEX, para facilitar a comparação.
Nota-se que no sistema proposto pelo projeto ViSiCAST, todas as categorias
relacionadas à face inferior são subordinadas à categoria 'boca'. Essa categoria, por sua vez,
é subdividida em 'figuras de boca' (em inglês, mouth pictures) e 'gestos bucais' (em inglês,
mouth gestures). A sub-categoria 'figuras de boca' é destinada ao registro da articulação
visêmica, anotada com o alfabeto fonético internacional (IPA). É importante ressaltar que,
enquanto sIGNDEX apenas registra a presença de articulações visêmicas, o sistema de
Hamburgo procura anotá-las. A sub-categoria 'gestos bucais' compreende os símbolos
usados para registrar os demais movimentos da face inferior.
5 Boca (Mouthing) -- Figuras de boca (Mouth pictures) símbolos IPA -- Gestos bucais (Mouth gestures) 7 Dentes 07 símbolos 1 Mandíbula 01 símbolos
2 e 6 Lábios 26 símbolos 3 Bochecha 10 símbolos 4 Língua 15 símbolos
Tabela 2: Representação de sinais da face inferior em ViSiCAST
O grupo da Universidade de Boston, criador do sistema SignStream (Neidle 2002)
também propõe uma distinção entre articulação visêmica (que eles chamam de oral language-
based mouthing) e gestos bucais (mouth gestures). Diferentemente do grupo de Hamburgo, até
2002 eles ainda não tinham anotado as articulações visêmicas pelo fato de que a ferramenta
SignStream não aceitava as fontes do IPA. Além disso, Neidle (2002: 35) ressalta a
dificuldade de distinguir, em muitos casos, gestos bucais de articulações visêmicas. De fato,
nos sistemas descritos tanto por Kanda et al., quanto por Hanke, os gestos bucais parecem
ser de dois tipos: aqueles que são claramente de natureza expressiva (com ou sem função
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
24
gramatical), e aqueles que parecem derivar de articulações visêmicas. Por exemplo, entre os
gestos bucais, Kanda et al (2002a: 192) listam [po], [pa], [pi] e [pu], enquanto Hanke (2001:
52-58), por sua vez, inclui [f], [�], [u], [pi] e [l], entre outros. O estabelecimento do estatuto
desses gestos e sua relação com processos de articulação visêmica e lexicalização nos parece
um estudo que ainda está por ser desenvolvido, e que depende de transcrições
adequadamente discriminatórias.
6. Conclusão
Nossa proposta, neste artigo, foi a de iniciar uma discussão sobre questões
relacionadas à documentação de línguas sinalizadas e à transcrição dos dados, relatando
alguns aspectos de nossa experiência inicial na formação de um corpus de LSB. Por
enquanto, esse corpus se constitui basicamente de narrativas produzidas por surdos
fluentes, baseadas em um filme sem palavras, conhecido como “A História da Pêra”,
preparado especialmente para a eliciação de narrativas (Chafe 1980). A opção pelo uso
desse filme teve, entre outros, o objetivo de evitar o uso de histórias baseadas em textos
escritos em português, o que poderia causar alguma interferência de processos gramaticais e
estratégias discursivas dessa língua na narrativa em LSB.
A questão da transcrição de dados de línguas sinalizadas é particularmente
complexa, na medida em que essas línguas não contam com um sistema de escrita
largamente aceito que possa servir de base para sua transcrição. Por isso, há diferentes
propostas de representação das línguas de sinais.
Para transcrever os dados que coletamos, estamos desenvolvendo um sistema de
transcrição de orientação eminentemente descritiva. Nesse sentido, temos procurado criar
um sistema de marcações que capturem o maior número possível de detalhes presentes na
sinalização, mas que estejam desvinculadas de quaisquer análises gramaticais já feitas, ou
que possamos fazer a respeito dos dados com que estamos trabalhando.
Duas outras características que temos procurado imprimir a esse sistema de
transcrição são a padronização e a comparabilidade. Com vistas a isso, no que diz respeito
ao registro dos sinais manuais, optamos por tomar o dicionário de Capovilla & Raphael
(2001) como base para a construção das glosas, uma vez que se trata de um importante e
cuidadoso registro da LSB, largamente difundido no país. No que diz respeito aos sinais
McCLEARY, L; VIOTTI, E. (a sair). Transcrição de dados de uma língua sinalizada.
25
não-manuais, como a direção do olhar, a configuração das sobrancelhas, a configuração da
boca, entre outros, temos procurado avançar, sempre levando em consideração o que vem
sendo feito por outros pesquisadores interessados na transcrição das mais variadas línguas
de sinais, para que, justamente, o sistema que vimos desenvolvendo possa se comparar aos
sistemas que vêm sendo criados em outros países.
Um último ponto que gostaríamos de destacar é que, a nosso ver, a questão da
transcrição das línguas em geral, e das línguas sinalizadas em particular, vai além do aspecto
meramente formal de uma boa documentação lingüística. Sistemas de transcrição bem
elaborados se tornam lentes poderosas que nos ajudam a ver várias características das
línguas que, sem eles, poderiam passar despercebidas.
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