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POSSIBILIDADES DE UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO PARA O AGRONEGÓCIO: O CASO DO ERP (ENTERPRISE RESOURCE PLANNING) 1. INTRODUÇÃO Com a evolução das técnicas de gestão ingressamos na organização baseada na Sociedade Industrial e apoiada nos conceitos de Fayol e Max Weber, que estabeleciam de forma clara as regras de uma organização piramidal hierárquica, sustentada pela presença de alguém em nível superior para orientar as tarefas a serem executadas, conforme relatam RODRIGUEZ; ABREU (1996). Na década de 80, surgem os computadores e, com eles, um mercado desconhecido das grandes empresas de informática na época, que explodiu na revolução da informação, ganhando forma e espaço tornando-se uma Sociedade do Conhecimento. Dessa forma, os valores intangíveis e de difícil qualificação, com a evolução do homem e da sua tecnologia passaram a ser o diferencial competitivo das organizações. Atualmente, este diferencial não existe mais, porque fabricar e comprar tecnologia disponível é algo a que todos podem ter acesso. CESAR, R.(2004) comenta que no setor do agronegócio, apesar da importância do campo se manter ao longo da história do país, os ingredientes para o sucesso nessa área não são os mesmos de séculos passados. As necessidades decorrentes das inovações introduzidas no processamento da matéria-prima agrícola e da diversificação e intensificação das exportações vêm suscitando a utilização de recursos de tecnologia da informação no setor de agronegócios. MARCELLINO, R. (2004) considera que a primeira queda no PIB, após 1992, acendeu a luz amarela de advertência para a economia brasileira. Com um crescimento mais acelerado que outros setores, o agronegócio desponta como o responsável por evitar uma taxa negativa de crescimento, ainda maior do que o índice de -0,2% calculado pelo IBGE. De forma geral, a agroindústria vem empregando tecnologia agrícola de forma intensiva, desde meados da década de 60, mas ainda não faz o mesmo com a tecnologia de informação. Da mesma forma que o processo modernizador ocorreu de forma desigual, por perfil do produtor, por produto e por região, a utilização da informática tende a ocorrer da mesma forma. Assim sendo, indaga-se, em que nível a informática está sendo utilizada nas atividades ligadas à produção agrícola e conseqüentemente na própria gestão desse negócio. A resposta depende para onde se olha, porque pode variar de uma intensiva implantação de sistemas de última geração até o completo desconhecimento sobre toda a tecnologia de informação existente. Acrescente-se, ainda, que sua existência não se traduz, diretamente, para estar disponível ou acessível para a utilização de todos os segmentos e dos produtores de diferentes perfis. O agronegócio – que engloba toda uma gama de cadeias produtivas articuladas com a agricultura – esta tomada num sentido amplo – se transformou nessa grande mola propulsora da economia brasileira, em parte devido ao investimento em pesquisa e em inovações tecnológicas. Todo esse incentivo convergiu para o desenvolvimento de novas variedades de plantas, novos sistemas e métodos (agronômicos e zootécnicos), maior produtividade e competitividade, além de impulsionar outros setores relacionados ao agronegócio, tais como transporte, maquinário, defensivos agrícolas, entre outros. De acordo com CESAR, R. (2004), segundo dados do Ministério da Agricultura, em 2003 o agronegócio respondeu por 34% do produto interno bruto, 37% dos empregos e 42% das exportações. Em período anterior (2003), enquanto a economia brasileira sofreu uma retração de 0,2%, o setor cresceu 6,54%. Apesar de a importância da produção agrícola se manter ao longo da história do país, os ingredientes para o sucesso nessa área não são os

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POSSIBILIDADES DE UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO PARA O AGRONEGÓCIO: O CASO DO ERP (ENTERPRISE RESOURCE PLANNING)

1. INTRODUÇÃO

Com a evolução das técnicas de gestão ingressamos na organização baseada na

Sociedade Industrial e apoiada nos conceitos de Fayol e Max Weber, que estabeleciam de forma clara as regras de uma organização piramidal hierárquica, sustentada pela presença de alguém em nível superior para orientar as tarefas a serem executadas, conforme relatam RODRIGUEZ; ABREU (1996).

Na década de 80, surgem os computadores e, com eles, um mercado desconhecido das grandes empresas de informática na época, que explodiu na revolução da informação, ganhando forma e espaço tornando-se uma Sociedade do Conhecimento. Dessa forma, os valores intangíveis e de difícil qualificação, com a evolução do homem e da sua tecnologia passaram a ser o diferencial competitivo das organizações. Atualmente, este diferencial não existe mais, porque fabricar e comprar tecnologia disponível é algo a que todos podem ter acesso.

CESAR, R.(2004) comenta que no setor do agronegócio, apesar da importância do campo se manter ao longo da história do país, os ingredientes para o sucesso nessa área não são os mesmos de séculos passados. As necessidades decorrentes das inovações introduzidas no processamento da matéria-prima agrícola e da diversificação e intensificação das exportações vêm suscitando a utilização de recursos de tecnologia da informação no setor de agronegócios. MARCELLINO, R. (2004) considera que a primeira queda no PIB, após 1992, acendeu a luz amarela de advertência para a economia brasileira. Com um crescimento mais acelerado que outros setores, o agronegócio desponta como o responsável por evitar uma taxa negativa de crescimento, ainda maior do que o índice de -0,2% calculado pelo IBGE.

De forma geral, a agroindústria vem empregando tecnologia agrícola de forma intensiva, desde meados da década de 60, mas ainda não faz o mesmo com a tecnologia de informação. Da mesma forma que o processo modernizador ocorreu de forma desigual, por perfil do produtor, por produto e por região, a utilização da informática tende a ocorrer da mesma forma. Assim sendo, indaga-se, em que nível a informática está sendo utilizada nas atividades ligadas à produção agrícola e conseqüentemente na própria gestão desse negócio. A resposta depende para onde se olha, porque pode variar de uma intensiva implantação de sistemas de última geração até o completo desconhecimento sobre toda a tecnologia de informação existente. Acrescente-se, ainda, que sua existência não se traduz, diretamente, para estar disponível ou acessível para a utilização de todos os segmentos e dos produtores de diferentes perfis.

O agronegócio – que engloba toda uma gama de cadeias produtivas articuladas com a agricultura – esta tomada num sentido amplo – se transformou nessa grande mola propulsora da economia brasileira, em parte devido ao investimento em pesquisa e em inovações tecnológicas. Todo esse incentivo convergiu para o desenvolvimento de novas variedades de plantas, novos sistemas e métodos (agronômicos e zootécnicos), maior produtividade e competitividade, além de impulsionar outros setores relacionados ao agronegócio, tais como transporte, maquinário, defensivos agrícolas, entre outros.

De acordo com CESAR, R. (2004), segundo dados do Ministério da Agricultura, em 2003 o agronegócio respondeu por 34% do produto interno bruto, 37% dos empregos e 42% das exportações. Em período anterior (2003), enquanto a economia brasileira sofreu uma retração de 0,2%, o setor cresceu 6,54%. Apesar de a importância da produção agrícola se manter ao longo da história do país, os ingredientes para o sucesso nessa área não são os

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mesmos de séculos passados. A competição internacional acirrou-se, as oscilações das bolsas de Nova York e de Chicago precisam ser acompanhadas em tempo real de cada rincão do planeta, as exigências sanitárias e legais obrigam a adoção de um controle cada vez mais rigoroso de dados e informações. Nesse contexto, muitas empresas brasileiras perceberam que pode ser vantajoso exportar produtos acabados, e não apenas matérias-primas, agregando maior valor internamente. São exatamente esses dois fatores – a exportação e o processamento das matérias primas agrícolas – que levam à utilização de recursos de tecnologia da informação no setor de agronegócios.

A chamada automação agroindustrial vem se desenvolvendo significativamente no mundo e em menor escala já está sendo adotada em várias atividades no Brasil. Exemplos são a eletrônica embarcada em máquinas, a agricultura de precisão, o controle de ambientes, a robótica e o processamento pós-colheita. A tecnologia disponível é predominantemente importada, e é necessário um maior esforço nacional para desenvolver, dominar e disseminar tecnologia própria, particularmente naquelas atividades e situações que são peculiares ao país. A maior interação entre os diversos atores do setor agrícola é uma condição importante para a melhor utilização dos recursos disponíveis, e também para aumentar a competitividade das exportações brasileiras.

Segundo MAZZALI, L. (2000), a sofisticação dos sistemas de informação e de comunicação foi uma poderosa força na abertura de novas possibilidades de interação entre os agentes econômicos. À crescente capacidade para manipular dados em linhas complexas, associou-se a facilidade de comunicação, reduzindo os custos e ampliando consideravelmente a capacidade de coordenação e controle de funções e atividades no interior das organizações. Por outro lado, a disponibilidade de sistemas de informação constitui elemento facilitador da contratação de recursos para exportação ou pelo mercado externo, favorecendo também uma significativa redução dos custos de transação entre várias empresas.

A justificativa para a realização do presente trabalho está relacionada à carência desses recursos por parte de alguns setores do agronegócio.

De acordo com CÉSAR, R. (2004), os diversos sub-setores da atividade agroindustrial se encontram em níveis diferentes de incorporação da tecnologia de informação.

Assim, o setor sucroalcooleiro está amadurecendo rapidamente desde que o governo saiu do controle de regulação de preços. Na média, as empresas dessa área estão muito preocupadas com TI e propensas a investir. É um mercado que vem buscando tecnologia para o que é diretamente ligado à operação e para o suporte a suas funções.

Por sua vez, na atividade citrícola, o Brasil desfruta de uma atuação destacada no mercado internacional de suco concentrado e congelado de laranja (SCCL) e as empresas desse segmento vêm incorporando a tecnologia da informação, constantemente. O setor está investindo, buscando renovar o parque e procurando formas de transformar investimento fixo em variável. O nível de maturidade em TI é, na média, bom.

O segmento de grãos, excluindo algumas grandes empresas, ainda é uma área em que o uso de informática está no estágio embrionário. Como as empresas desse segmento não estão sob pressão do mercado, não sentem urgência em investir em TI. No entanto, as organizações empresariais estão capitalizadas e poderiam aproveitar o momento para ganhar eficiência de gestão com o uso de sistemas.

Na pecuária, o perfil de adoção de TI está a um passo atrás das empresas de cítricos e do ramo sucroalcooleiro. Embora ainda não esteja amadurecido no uso de informática, há um bom potencial no médio prazo.

Há diversas empresas, de outros setores, não referidos, vinculados ao complexo agroindustrial, que atuam em áreas diferentes, desde fornecedoras de insumos e maquinário agrícola até os produtores de produtos com menor peso na balança comercial brasileira.

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Nessas culturas, há um perfil favorável à adoção de TI, na média, similar ao do setor de pecuária e grãos. Entre os fornecedores o nível de adoção de TI é variável.

Este trabalho tem como objetivo principal, apresentar e discutir proposta de um sistema integrado de gestão ERP (Enterprise Resource Planning)1, de pequeno porte, dirigido ao agricultor do setor de grãos, desenvolvido e aplicado em atividades industriais e adaptado e “transportado” para atividades agroindustriais, visando um controle mais efetivo das atividades de planejamento financeiro (receitas/despesas), organizacional (hierarquias, mão de obra, treinamentos, formas de trabalho) e operacional (processos e instruções de trabalho) A meta é que as estratégias de gestão passem a ter, como referencial, indicadores de desempenho adequados à realidade do agricultor de menor porte, objetivando melhorias de sua atuação, tendo em vista que ele, pelo volume de sua produção, não encontra esse tipo de recurso disponibilizado.

A criação do sistema implica no levantamento e na criação de indicadores que gerem parâmetros para a atuação do produtor, relacionados à tomada de decisões necessárias para a garantia e continuidade do seu negócio em bases competitivas.

2. UTILIZAÇÃO DO SISTEMA ERP – (ENTERPRISE RESOURCE PLANNING)

Uma das tendências mais marcantes na área de sistemas de informação nos últimos anos é representada pelos produtos ERP. Esses produtos se caracterizam por um conjunto de subsistemas integrados, capazes de suprir as necessidades de informação e automatizar os diversos processos empresariais, desde a entrada de um pedido de um cliente, até sua expedição, incluindo o planejamento dos recursos financeiros, materiais e humanos para sua produção. O ERP é uma evolução de conceitos mais antigos na área de planejamento e controle da produção nas organizações industriais. Em geral, os produtos ERP agregam as funcionalidades previstas pela filosofia Manufacturing Resources Planning – MRP2 e MRP II3, que a princípio focalizam a preocupação com os recursos materiais para a produção, com as funcionalidades oferecidas por sistemas das áreas financeira, contábil, comercial e de recursos humanos. Assim, o conceito de ERP tem sua fundamentação no planejamento integrado de todos os recursos necessários para a produção industrial. Entretanto, os produtos ERP buscam uma universalização desses conceitos, propondo sua adaptação para organizações não industriais. No caso específico das empresas do setor agroindustrial, apenas as grandes empresas se beneficiam dessa integração sistêmica, ficando as pequenas, médias e micro empresas com acesso limitado principalmente devido aos elevados custos de aquisição de um sistema completo.

2.1. O mercado do ERP

De acordo com HEHN, H.F(1999), um dos fatores que levaram as empresas a procurarem produtos ERP foi, sem dúvida alguma, a necessidade de se prepararem para enfrentar o bug do ano 2000. As grandes corporações que dispunham de sistemas antigos viram como uma opção viável o investimento em novos sistemas que já estivessem sem o problema do ano 2000 ao invés de empreenderem esforços na manutenção de seus sistemas antigos. Por outro lado, um outro fator que levou ao crescimento dos negócios referentes ao ERP, relaciona-se ao próprio amadurecimento da informática e à visão, por parte das empresas, da necessidade de investirem em sistemas integrados, como forma de potencializar 1 ERP – Sistema de Planejamento dos Recursos Empresarias 2 MRP – Planejamento dos Recursos de Materiais. 3 MRPII – Planejamento dos Recursos de Manufatura (Produção).

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seus negócios. Diante desse quadro, séries de softwarehouses4 passaram a oferecer sistemas ERP que, inicialmente, em virtude dos altos investimentos, eram destinados, em sua maior parte, às grandes corporações. Como exemplos de softwarehouses de expressiva participação no mercado podemos citar: SAP, DATASUL, BAAN, LOGOCENTER, IFS, entre outros.

A partir de meados da década de 90, observa-se que: a) as grandes corporações já haviam feito sua opção por determinado produto ERP; b) os produtos ERP oferecidos no mercado passaram a se parecer cada vez mais, em termos de funcionalidade.

Esses dois fatos, por sua vez, exerceram uma pressão sobre os fornecedores, que passaram a rever suas políticas de preço, buscando ampliar sua fatia de mercado com o oferecimento de soluções para médias empresas; e a introduzir inovações em seus produtos e processos com o objetivo de obter diferenciação no mercado e, com isso, conquistar mais clientes.

2.2. Implantação de ERP: Expectativas, frustrações, promessas e realidade

HEHN, H.F (1999) afirma que, passada a febre do ERP, os clientes passaram a questionar dois aspectos cruciais em relação à implantação desses sistemas.

O primeiro desses aspectos diz respeito aos fracassos na implantação. Um certo número de projetos fracassou em termos de cumprimento de prazos estipulados e adequação aos orçamentos planejados. Essa situação, longe de ser exceção na área de informática, chega a ser a regra. Em geral, a indústria de software enfrenta graves problemas relacionados à qualidade e à produtividade de seus produtos e processos. Essa situação se potencializou no que diz respeito aos ERP´s, na medida em que são sistemas complexos e abrangentes.

O segundo aspecto, que começou a ser levantado pelos clientes, diz respeito à efetividade do retorno que as soluções ERP propiciariam aos clientes. As expressões chave aqui podem ser "retorno de investimentos" e "relação custo/benefício". Também aqui podem ser observadas limitações da indústria de software no que diz respeito à clareza em sinalizar ao cliente o quanto um produto de software pode efetivamente propiciar de retorno e em quanto tempo podem ser observados resultados.

O questionamento dos clientes em relação ao retorno que o investimento em ERP pode propiciar está relacionado às expectativas depositadas no sistema o que nem sempre se torna realidade.

Desenvolve-se uma primeira expectativa sobre o que o ERP pode propiciar quanto ao acesso à informação, no momento em que ela é necessária para o interessado, que efetivamente terá de tomar a decisão em relação àquela situação. Sem dúvida, esta é a expectativa de todo usuário em relação a todo sistema de informação. Por exemplo, em nível operacional, o sistema deve ser capaz de informar com precisão o saldo em estoque de matérias-primas, permitindo que haja a emissão de ordens de compra tão logo se observe que os níveis de estoque são insuficientes para a produção.

Outra expectativa diz respeito à possibilidade do ERP propiciar a perfeita integração entre setores da empresa. Um fator crucial para o sucesso dos negócios é a integração entre as áreas que compõem uma empresa. Em termos de sistemas, essa integração é feita através de informações que estão depositadas nos bancos de dados compartilhados pelos setores. Classicamente, os principais problemas relacionados ao armazenamento dos dados são: a redundância e a inconsistência. A primeira referente à duplicação do dado, no Banco de Dados, o que requer controle. A inconsistência, por sua vez, está relacionada ao fato

4 Foi significativo o crescimento do número de empresas fornecedoras de softwares (softwarehouses) a partir de 1998 num processo de preparação para o BUG do milênio

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de que estando um dado armazenado em mais de um local no banco de dados, poderá haver um momento em que o seu conteúdo se apresente diferente em cada um dos locais.5

A terceira expectativa diz respeito à possibilidade do ERP eliminar conversões de informações entre sistemas diferentes. É possível que uma empresa construa seus sistemas de forma gradativa a partir de soluções de fornecedores ou tecnologias diferentes. Em virtude disso, a integração entre os sistemas exige que se construam interfaces que permitam a conversão dos dados de um sistema para outro. Tais conversões, em geral, constituem “retrabalho”, implicando em custos que poderiam ser evitados a partir da adoção de sistemas integrados desde a sua concepção.

Na esfera gerencial, a necessidade de dispor de ferramentas que permitam o planejamento das atividades operacionais é imprescindível. A possibilidade de previsão das tarefas a serem realizadas, bem como da atribuição de responsabilidades e prazos constitui recurso valioso para o posterior exercício de acompanhamento, controle e avaliação das atividades e da utilização dos recursos.

A partir de dados fidedignos e de planejamento adequado, que pode ser oferecido pelo ERP, é possível detectar não conformidades no processo produtivo e propiciar melhorias que permitam um incremento no desempenho operacional, com reflexos na atuação da empresa no mercado.

É preciso destacar que essas expectativas seriam realísticas, desde que levado em conta que o ERP é capaz de gerar tais vantagens apenas se compreendido que sua implantação não é uma mera instalação de software, mas tem conseqüências organizacionais e comportamentais profundas.

Pode-se considerar que expectativas exageradas em relação ao ERP, por parte dos clientes, constituem conseqüência das estratégias de marketing dos fornecedores. Essas estratégias, em geral, consistem na venda da idéia de que o ERP é uma panacéia, uma solução universal, dando ao mesmo tempo a impressão de que o cliente estaria adquirindo uma solução para a qual seus concorrentes não teriam acesso.

A realidade mostra que o ERP não é uma solução para todos os problemas. Por outro lado, a saturação do mercado de grandes empresas fez com que as softwarehouses disputassem do mercado das médias empresas, ocorrendo uma queda de preços e uma certa padronização entre os produtos ERP.

Apesar dessas mudanças no mercado, o processo de implantação continua sendo o calcanhar de Aquiles do ERP.

2.3. Cuidados e etapas referentes à implantação do ERP

Os problemas relacionados à implantação de ERP se devem, em grande parte, à abordagem adotada inicialmente por clientes e fornecedores. Essa abordagem inicial compreendia que a implantação de um ERP restringia-se, tão somente, à instalação de um software, suscitando apenas cuidados técnicos.

Hoje, há um certo consenso de que uma solução ERP abrange aspectos técnicos, organizacionais e comportamentais. Isto é, pela abrangência do ERP, é preciso que se leve em

5 Como exemplo, suponha que o dado a respeito do valor a investir por um departamento esteja armazenado no Banco de Dados da área Financeira e no Banco de Dados da Área de Projetos, configurando uma redundância. Se houver divergência entre os dois valores em virtude de problemas de entrada de dados, pode-se encontrar um valor de U$ 500,00 no item Banco de Dados Financeiros e U$ 5.000,00 no Banco de Dados de Projetos, existindo então uma inconsistência. Uma decisão tomada a partir do dado incorreto terá conseqüências desastrosas para a empresa.

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conta uma série de características administrativas do cliente, bem como se gerencie um série de mudanças de comportamentos dentro da empresa. Decorre disso admitir-se que a implantação de ERP constitui um processo de mudança organizacional.

O ERP pode ser encarado como uma best-practice6 que pode propiciar uma melhoria de desempenho da empresa. Mas, para isso, sua implantação deve seguir as seguintes etapas: Análise de Adequação; Implantação; Uso/Manutenção.

Na Etapa 1 – Análise de Adequação – o aspecto a considerar é que não existem soluções universais. Por melhor que seja o produto ERP escolhido, será necessário um processo de adaptação. Isto foi verdade em grande parte para os produtos internacionais que chegaram ao Brasil. Houve uma necessidade de "tropicalização" do produto, dada as peculiaridades das empresas brasileiras, do mercado nacional e das políticas e leis existentes em nosso país. O primeiro passo é verificar as necessidades da empresa. O objetivo dessa etapa é analisar se as funcionalidades oferecidas pelo produto ERP atendem às necessidades da empresa. O ponto crítico, nesse momento, é que uma análise inadequada dos requisitos do cliente, das funcionalidades do ERP e da relação entre ambos pode levar à implantação de um sistema com restrições operacionais que acarretam queda do desempenho operacional.

A Etapa 2 – Implantação – é feita a partir da análise de adequação,. É preciso definir como o ERP será empregado de forma a contribuir com a melhoria do desempenho organizacional. Nesse sentido é imprescindível criar um ambiente de comprometimento com o sistema, bem como fazer com que os usuários considerem que o ERP é de sua propriedade e responsabilidade. Sem comprometimento e ownership7 a implantação está fadada ao fracasso. Durante a implantação devem ser realizados: 1. treinamento conceitual para disseminar a filosofia do sistema; 2. treinamento operacional, capaz de permitir o uso do sistema; 3. redesenho de processos, que serão alterados pela entrada do sistema; 4. gestão da mudança organizacional, na medida em que a introdução do ERP implique em uma nova filosofia de trabalho e em mudanças nos processos; 5. garantia da qualidade das informações, pois o sucesso do ERP depende da consistência dos dados existentes; 6. adequação do sistema às necessidades específicas do cliente, através da customização e da parametrização, sendo que a customização consiste em alterar algoritmos de forma a que o processamento atenda aos requisitos exigidos pelo cliente e a parametrização em configurar dados de entrada e de saída de um algoritmo, sem alterar sua lógica, permitindo que o cliente extraia os dados de seu interesse.

Etapa 3 – Uso/Manutenção É preciso considerar que a gestão do ERP não se encerra com sua implantação. Na verdade apenas se inicia. Assim, após a implantação deve haver um contínuo gerenciamento do comprometimento do pessoal com a filosofia do sistema. Sem isso, o ERP não manterá aderência com a realidade, deixando de ser confiável e não contribuindo efetivamente para a melhoria do desempenho organizacional.

Pode-se compreender melhor a necessidade deste contínuo gerenciamento, ao considerarmos a forma com que os sistemas de informação são capazes de apoiar a manutenção de vantagens competitivas da empresa. Nesse sentido torna-se fundamental o cumprimento da etapa 3, referente ao uso e manutenção.

6 Melhores práticas 7 Propriedade

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3.0.ERP COMO MUDANÇA ORGANIZACIONAL NO MERCADO AGROINDUSTRIAL

Pelas características do ERP enquanto sistema de informação e filosofia de

trabalho, é preciso considerar que a implantação de uma solução como essa vai além dos aspectos técnicos, exigindo uma abordagem que leve em conta a organização e as pessoas que irão utilizá-la.

O forte avanço do agronegócio no Brasil - que neste ano deve crescer 7%, mais de sete vezes a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) - vem estimulando os fabricantes de softwares, hardware e prestadores de serviços e consultorias de tecnologia da informação (TI). Trata-se de um segmento pouco explorado e que, no auge do desenvolvimento da informática foi deixado em segundo plano, pois havia muito a explorar na indústria e no setor financeiro. Agora, com a queda de demanda esperada no segmento de TI, especialmente na indústria, as atenções se voltam para esse mercado. A tecnologia já está presente no campo, com ceifadeiras e tratores equipados com ar condicionado e GPS (sistema de posicionamento geográfico por satélite) não constituindo, porém, uma prática de utilização generalizada por todo o agronegócio, considerando-se as diferenças em termos de porte, atividade e região.

É nesse mercado que os fabricantes de software de gestão ERP encontram um grande potencial, especialmente nos médios produtores de commodities como açúcar, soja e suco de laranja concentrado e congelado. Há muitas soluções improvisadas, a maioria delas esperando por uma atualização, pois ainda são processadas em sistemas antigos, como Cobol e Clipper. É comum – contam os fabricantes – ver a velha tela preta com letrinhas verdes.

Um dos segmentos que se tem apresentado como usuário do ERP é o sucroalcooleiro. Além disso, 15% de todas as usinas, no máximo, usam alguma solução de gestão integrada. O segmento citrícola, em razão da alta concentração por parte da indústria processadora é mais fechado e há poucas oportunidades para os fabricantes.

Enquanto a indústria está na segunda onda, buscando soluções de gestão do TI, o setor agrícola começa agora a atravessar a primeira onda, que é a da implementação de um ERP integrado. São muito comuns os casos de usinas que, em menos de cinco anos, conseguiram quadruplicar a produção devido à queda do dólar, e, agora, para garantirem a produtividade, precisam investir em TI como forma de ganhar competitividade no mercado externo. Cada vez mais o produtor precisa ter a noção precisa da composição dos custos, o histórico das safras, para se programar. A contribuição da tecnologia, nesse caso, deve se apresentar atendendo a essa demanda.

No setor sucroalcooleiro a adoção do sistema não é tão recente; na realidade, vem acontecendo desde 1997, porém de forma restrita. A inclusão de módulos específicos entre os convencionais de um ERP é que tem garantido a preferência dos usineiros.

Os módulos para análise da terra, para a manutenção de tratores e de usinas; o geoprocessamento para controle da área plantada, do tempo de colheita, da administração de entrada e saída de caminhões para evitar congestionamento; o planejamento do plantio, a análise do grau de sacarose e de álcool, entre outros - foram acrescentados à gestão convencional.

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3.1 - ERP para o produtor de grãos

Para a avaliação da possibilidade de utilização do sistema ERP, usualmente adotado na indústria, e transposto para o agronegócio, mais especificamente para o segmento de grãos (soja), foi selecionada uma empresa que produz, em sua propriedade agrícola, soja, cana de açúcar e que também desenvolve atividade rural não agrícola na área do turismo rural. Essa propriedade se localiza em município da região central do estado de São Paulo. Trata-se de uma propriedade de 214 alqueires, sendo em torno de 30 % da terra utilizada anualmente com o cultivo de soja, em caráter rotativo.

A história profissional da família proprietária – com experiência na indústria de transformação – contribuiu para o desejo de construção de um novo cenário, aberto à incorporação de novas experiências dentro de um novo processo de desencadeamento de ações e de tomada de decisões favoráveis ao maior conhecimento, avaliação, controle e gestão da empresa agrícola.

Apesar das condições desse produtor não serem as usuais, observadas dentre os produtores desse porte, tornaram possível observar e detectar as dificuldades e as vantagens de aplicação do sistema para o caso da produção de grãos.

Os resultados esperados e buscados por parte do usuário evidenciaram-se possíveis, possibilitando os seguintes benefícios: • Acesso e integração dos dados em tempo real • Planejamento com base em relatórios otimizados • Confiabilidade e segurança dos dados gerados • Informações mais rápidas e precisas • Eliminação de re-trabalhos • Tomadas de decisões mais rápidas em função dos erros identificados • Dados mais confiáveis sobre os custos envolvidos no plantio • Retorno financeiro mediante a correção dos erros verificados; • Maior satisfação de clientes e fornecedores devido à agilização dos processos; • Contato mais próximo com o cliente no momento da venda do produto final; • Facilidade de venda e compra de produtos, devido ao acesso de indicadores financeiros e econômicos. • Controle efetivo da safra e dos estoques.

A figura 1, abaixo, apresenta alguns indicadores que podem ser utilizados para análise da eficiência e eficácia dos métodos utilizados pelo agricultor de menor porte desde o plantio até a venda de seu produto final.

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Fig. 1 – Exemplos de Indicadores gráficos gerenciais utilizando o ERP. Fonte: Sistema Integrado de Gestão implantado em uma Usina Sucroalcoleira

4.0. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As possibilidades de utilização de sistemas de informação para o agronegócio se mostraram não apenas viáveis, mas necessárias, encontrando receptividade por parte do usuário, cuja atividade produtiva foi foco da observação. O sistema ERP (Enterprise Resource Planning) – ainda não implantado na empresa estudada – apresentou-se adequado aos anseios do produtor.

Os custos-benefícios do empreendimento mostraram-se convenientes, em razão não apenas dos resultados passíveis de serem alcançados no curto prazo, mas daqueles desencadeados no médio e no longo prazo.

Se considerado apenas o custo, o acesso a essa ferramenta ficará limitado à possibilidade de sua difusão, a fim de que se possa usufruir dela numa sistemática de produtores consorciados.

Por outro lado, a possibilidade de implantação modular – nos moldes adotados pela indústria - permite escalonar gastos, viabilizando que a empresa usufrua dos benefícios dessa implantação, desde o início da adoção da ferramenta.

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O principal problema está em difundir a cultura do planejamento integrado e a prática da organização das informações, que devem dar suporte às diferentes formas de planejamento.

É possível que o levantamento das condições da empresa desenvolvido a partir da Metodologia da Pesquisa-Ação, formulada por Thiollent, surta melhores resultados do que o imples levantamento de dados e informações, em bases tradicionais.

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5.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BECK, M. (2003) – Agronegócio já cresceu 5,3% no ano. – Jornal O Globo – agosto de 2003. CESAR, R.(2004) – O impacto da TI no agronegócio – Computerworld – Edição 407 – 21/04/2004. COEN L. – Boas regras de gestão ajudam a estabelecer prioridades –www.computerworld.uol - 05/08/2004

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