TRATAMENTO DE CAULINITA PARA …IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de...
Transcript of TRATAMENTO DE CAULINITA PARA …IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE 10 a 13 abril de...
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
TRATAMENTO DE CAULINITA PARA INTERCALAÇÃO COM POLÍMEROS:
PRODUÇÃO DE NANOCOMPÓSITO
Luana Dutra1, Ana Lúcia Nazareth da Silva2, Christine Rabello Nascimento3, Luiz Carlos Bertolino4
1 Aluna de graduação em Química Industrial, CETEM e UFRJ
2 Engenheira química, D. Sc., Instituto de Macromoléculas Professora Eloisa Mano
3 Engenheira Química, D.Sc., Departamento de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFRJ
4Geológo, D.Sc., CETEM e UERJ
RESUMO
A mistura de nanocargas minerais com polímeros é conhecida como nanocompósito
polimérico. Estes nanocompósitos têm sido pesquisados por apresentarem grande potencialidade
nas propriedades químicas e físicas se comparadas aos polímeros puros ou aos compósitos
tradicionais. Neste estudo, o caulim utilizado foi fornecido pela mineradora Monte Pascoal (MP),
da Região de Prado, de qualidade extrafina e oriundo dos tipos de depósito secundário, com a
função de atuar como nanocarga, sendo este beneficiado e tratado com um agente de
intercalação, produzindo um intermediário que será usado na obtenção da nanocarga. Através
desse caulim beneficiado, busca-se desenvolver novas tecnologias para a valorização do caulim
que contenha possível ferro estrutural, e melhorar o desempenho de resinas termoplásticas
commodities ou elastômeros através da incorporação desse mineral tratado com o polímero,
dando enfoque no aumento da resistência mecânica, química, térmica e propriedades de barreira.
Como resultado principal desse estudo, foi obtido uma taxa de intercalação de 42% durante um
tratamento de 3 dias, entre caulim e solução de acetato de potássio (usado para expandir os
planos basais da caulinita), sendo esse tratamento considerado satisfatório em relação aos outros
tratamentos, os quais serão apresentados ao longo do texto. Esta amostra seguirá para a
intercalação com um sal de amônio, o qual facilitará a interação com o polímero apropriado.
PALAVRAS-CHAVE: nanocompósito, caulinita, intercalação.
225
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
ABSTRACT
The mixture of mineral nanofillers with polymers is known as a polymeric nanocomposite.
These nanocomposites have been researched for presenting great potential in chemical and
physical properties compared to the pure polymer or traditional composites. In this study, Kaolin
was supplied by the Monte Pascoal Mining, Prado region, extra-fine quality and coming from the
types of secondary storage, for the purpose of acting as the intercalation nanoclay with the
polymer, being received and treated with an intercalating agent producing an intermediate to be
used in obtaining the nanoclay. Through this processed kaolin, seeks to develop new technologies
for the enhancement of kaolin containing possible structural iron, and improve the performance
of thermoplastic commodities or elastomer resins by incorporating this treaty mineral with the
polymer, by focusing on increasing the mechanical strength, chemical, thermal and barrier
properties. The main result of this study , was 42% intercalation rate obtained for a treatment of 3
days at kaolin and potassium acetate solution (used to expand the basal planes of kaolinite), and
this result was considered efficient compared to other treatments, which will be presented
throughout the text . This sample followed to mixture with an ammonium salt, which will facilitate
interaction with the appropriate polymer.
KEYWORDS: nanocomposite, kaolinite, intercalation.
1. INTRODUÇÃO
Devido as suas funções física e química, as argilas são consideradas materiais com grande
capacidade de modificação superficial, o que possibilita a formação de uma gama de produtos, e
por isso, os argilominerais vêm ganhando cada vez mais atenção dos pesquisadores (Paiva et al.,
2008).
O caulim pode ser empregado em diversas finalidades industriais e uma delas é como
nanocarga em misturas poliméricas. O nanocompósito pode ser obtido mediante a esfoliação do
argilomineral durante o processamento do polímero. Esta esfoliação consiste na delaminação
completa do argilomineral, o que é possível pela atuação de reagentes específicos, capazes de
interagir com as lamelas e expandir o espaçamento basal.
226
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
O caulim possui em maior quantidade o mineral caulinita - Al4[ Si4O10](OH)8, a qual é
comumente observada como partículas aglomeradas, formando um empilhamento hexagonal,
conhecido como booklets, na proporção 1:1 (Cunha, 2004).
Diferente das argilas do grupo das esmectitas, a caulinita não é considerada uma argila com
plano basal expansível. Contudo, é possível introduzir e intercalar moléculas orgânicas entre as
camadas 1:1 da caulinita (Coelho et al., 2007). A intercalação entre nanocarga e polímero só é
possível na caulinita quando as ligações de hidrogênio são quebradas, as lamelas da argila são
expandidas e a afinidade do caulim por polímeros é modificada pelos agentes de intercalação, os
quais devem ter forte polaridade e serem capazes de se ligar aos grupos funcionais da caulinita
(Zhang et al., 2009).
2. Objetivo
Busca-se desenvolver um método eficiente para obtenção de um intermediário a ser
aplicado na produção de nanocompósitos poliméricos, através de agentes de intercalação e
modificações químicas. Posteriormente, serão produzidos nanocompósitos que devem ter suas
propriedades melhoradas em comparação ao polímero puro. Se propriedades como resistência à
tração, resistência química a ataque de ácidos e bases, resistência à fratura, resistência à
permeação de gases e aumento de resistência a chamas forem melhoradas, o caulim secundário
possivelmente contaminado com ferro será valorizado e poderá ser aplicado na produção de
novos materiais tecnológicos.
3. Metodologia
Para a expansão das lamelas da caulinita, usou-se o acetato de potássio (Kac.) como agente
de intercalação (solução de acetato de potássio 5M), o qual tem forte polaridade, tamanho
apropriado e pode se ligar aos grupos funcionais presentes na caulinita.
A eficiência do processo de intercalação entre o caulim e a solução de acetato de potássio
foi determinada através da intensidade dos picos nos difratogramas de raios X (DRX), usando a
equação que determina o percentual de caulinita intercalada (Li et al., 2009). Além desta técnica,
outras foram utilizadas como complemento ao estudo: espectroscopia por infravermelho segundo
transformada de Fourier (FT-IR), determinação da capacidade de troca catiônica (CTC),
227
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
microscopia eletrônica de varredura (MEV), análise termogravimétrica (TGA) e análise térmica
diferencial (DTA).
Foram utilizados 5 kg de caulim da empresa Monte Pascoal (MP). Inicialmente, o caulim foi
submetido à classificação granulométrica à úmido em peneira vibratória, sendo a fração abaixo de
44 µm submetida à separação magnética no equipamento Boxmag-Rapid (14.000 Gauss) e
secagem na estufa a 50°C.
Para modificar o espaçamento basal do caulim, foram pesados 30 g da fração não magnética
para homogeneização com solução de acetato de potássio 5M, 500 ml. As misturas foram
submetidas à agitação no agitador magnético (modelo RW 20ZM.n IKALabortecnik) durante 3, 6,
14 e 21 dias a 450 rpm.
Após os períodos de tratamento, os procedimentos seguintes foram determinação do pH de
cada mistura, filtração das amostras (lavadas com no máximo 100 ml de água deionizada),
secagem em estufa a 50°C e análises em difratômetro de raios X (DRX) com tubo de cobalto (λ=
1,79Å), análise espectroscópica por infravermelho (FT-IR), análises termodiferencial (DTA) e
termogravimétrica (TGA).
A taxa de intercalação da caulinita em solução de acetato de potássio foi determinada por
meio da equação da taxa de intercalação da caulinita em solução de acetato de potássio, proposta
por Li et al. (2009).
Taxa de intercalação = [I(001) ag. interc./ (I(001) ag. interc.+ I(001) caulinita)] * 100%.
Onde “I(001) ag. Interc.” e “I(001) caulinita” são as intensidades das reflexões dos planos
basais (001) da caulinita intercalada e não intercalada, respectivamente.
Os picos encontrados nas análises por DRX são utilizados para elaboração do gráfico no
software Origin 8.0, o qual determina as áreas dos picos que são utilizadas nos cálculos da taxa de
intercalação. Os resultados estão apresentados na tabela 1, a seguir:
Tabela 1. Eficiência da intercalação da caulinita em solução Kac.
Dias de tratamento
do Caulim MP
I(001) ag. Interc. I(001) caulinita Razão de intercalação
(%)
3 dias 111,21 2018,61 5,22
3 dias a 40⁰C 1560,16 2134,11 42,23
6 dias 1338,42 819,45 62,02
14 dias 3922,08 1607,59 70,92
21 dias (duplicata) 3129,76 888,85 77,88
21 dias (original) 1901,06 730,29 72,24
228
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
Como continuidade deste trabalho, será feita a intercalação com sal de amônio, que
substituirá o agente intercalante anterior, ou seja, haverá uma substituição do acetato de potássio
por um sal de amônio de cadeia longa.
4. Resultados e discussões
Os difratogramas de raios X das amostras tratadas por 3, 6, 14 e 21 dias são os apresentados
na figura 1:
2 7 12 17 22 27 32 37 42 47 52 57
2 (graus)
Caulim 21 dias
Caulim 14 dias
Caulim 6 dias
Caulim 3 dias
Caulim nao magnetico
KAc.
Co
nta
ge
m (
u.a
)
Figura 1 - Difratogramas de raios X das amostras, antes e após o tratamento com Kac.
Houve aumento da distância interplanar referente ao plano basal da caulinita, indicando que
a intercalação com acetato de potássio foi bem sucedida. Observa-se na figura 1 o surgimento de
um pico intenso em aproximadamente 7° e a diminuição do pico referente ao plano 001 original
da caulinita, o que significa que o reagente intercalante aumentou a distância interplanar. A
possibilidade de cristalização do acetato sobre as partículas de caulim, que poderia ocorrer se a
remoção na lavagem tivesse sido insuficiente, está descartada, visto que não foram observados
picos do acetato nas amostras intercaladas (Fig.1). O tratamento por 21 dias foi o que apresentou
melhor taxa de intercalação (78%). Entretanto, como industrialmente, 21 dias seguidos de
229
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
tratamento seria inviável energeticamente e financeiramente. Portanto, é fixado um tratamento
por 3 dias mas buscando uma maior eficiência. A mistura solução de acetato de potássio mais
caulim foi refeita, agora por 3 dias a 40⁰C , em banho-maria, em uma lavadora ultrassônica
Unique, modelo USC-2850A , a 650 rpm. O aumento da eficiência foi considerável (de 5% para
42%) e este tratamento foi escolhido como melhor tratamento de expansão e para a posterior
intercalação com o sal de amônio. A seguir, é apresentado o difratograma referente ao
tratamento mais eficiente (figura 2):
10 20 30 40 50 60 70 80
0
2000
4000
6000
8000
10000
Co
nta
ge
m (
u.a
.)
2 (graus)
Caulim 3 dias a 40°CKAc.
Caulinita
Figura 2 – Difratograma de raios X da amostra tratada com solução Kac. por 3 dias a 40°C.
As análises do espectro no infravermelho das amostras de caulinita indicaram frequências de
vibração características de estiramento de hidroxila: 3692, 3668, 3651 e 3620 cm-1 (Li et al., 2009).
Além disso, a intercalação com o acetato de potássio gerou mais duas bandas em 1418,80 e
1616,80 cm-1, as quais são próximas aos picos de vibração dos movimentos simétricos e
antissimétricos do íon acetato, 1408,4 e 1604 cm-1 (Cheng et al., 2010). Na figura 3 está o espectro
em infravermelho da amostra tratada por 6 dias com a solução de Kac.
230
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
4,00E+009 3,00E+009 2,00E+009 1,00E+009 0,00E+000
0
5000000
10000000
15000000
20000000
25000000%
Tra
nsm
itâ
ncia
Comprimento de onda (cm-1)
Espectro IV Caulim 6d
3694.6
2
3621.0
6
2488.0
9
2318.4
2
1934.5
2
1824.7
3
1616.8
0
1418.8
0
1340.7
6
1108.6
1
924.9
1
713.4
6
492.0
5
Figura 3 – Espectro no infravermelho da amostra tratada por 6 dias com a solução de Kac.
Figura 4 – Espectro no infravermelho da amostra de caulinita pura para efeito de comparação.
Frequências de vibração das 4 bandas de OH.
Picos de vibração dos estiramentos de CH3COO-.
231
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
A determinação da CTC através do método com azul de metileno indicou que as amostras
tratadas com solução acetato de potássio e solução de sal de amônio apresentaram uma baixa
CTC, cerca de 5,12 meq/100g.
Outras análises complementares são as observações das imagens obtidas no microscópio
eletrônico de varredura, as quais mostraram uma delaminação em alguns pontos das amostras
tratadas com a solução de acetato de potássio, assim como desplacamentos e expanção do plano
basal da caulinita. Portanto, mais uma comprovação de que o tratamento foi efetivo.
Figura 5 – Imagem obtida por microscopia eletrônica de varredura, modalidade retro espelhado, detector
DSE, modo Z, da amostra tratada por 14 dias em solução de acetato de potássio.
Além disso, a amostra de caulim MP não magnético (original e sem tratamento) e a amostra
de caulim MP tratado com solução de acetato de potássio a 40°C, foram caracterizadas também
segundo TGA e DTA. A perda da água estrutural nas análises ficou entre 490°C e 510°C, enquanto
que as perdas de água superficial e dos reagentes ocorreram em diferentes temperaturas,
segundo o tipo de tratamento. Para o caulim MP tratado com solução de acetato de potássio a
40°C, a perda da água superficial e reagente ocorreu em dois pontos: em 70°C e a 350°C. Por
conseguinte, é observado que existe certa estabilidade na perda da água estrutural em torno de
500°C. Faz-se necessário então um estudo de qual tratamento será o mais estável para a
intercalação com o polímero adequado, assim como se necessita continuar as análises em relação
à intercalação com a solução do sal de amônio.
232
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
Com base nos resultados obtidos através do difratometro de raios-X e do espectrômetro por
infravermelho, verificamos a eficiência da técnica. Os difratogramas de raios X mostraram que o
tratamento com solução de acetato de potássio desloca o pico da caulinita, e com isso verifica-se
que o espaçamento entre os planos basais do mineral foi aumentado. As amostras de caulim
tratadas com a mesma solução de acetato de potássio em diferentes períodos de agitação
apresentaram diferentes razões de intercalação, sendo o tratamento mais eficiente o referente à
amostra tratada por 3 dias a 40°C, com 42% de razão de intercalação, a qual será destinada ao
tratamento com solução de brometo de cetiltrimetil amônio (sal de amônio).
O sal de amônio permite uma maior interação entre a caulinita e as macromoléculas, como
os polímeros, que antes não era possível devido à falta de afinidade influenciada pelo acetato de
potássio. A eficiência da intercalação com o sal de amônio ainda está sendo analisada.
A partir dos espectros no infravermelho, observa-se que houve a intercalação com a solução
de acetato de potássio, pois a frequência de vibração do íon acetato foi identificada.
Já os resultados apresentados na análise termogravimétrica (TGA) e na análise térmica
diferencial (DTA) são importantes para a escolha do polímero a ser intercalado, pois a carga deve
ter estabilidade térmica para ser aquecida na temperatura de fusão do polímero, e com isso temos
uma faixa de limitação para a escolha da macromolécula.
As próximas etapas serão investigar a eficiência da intercalação com o sal de amônio e
intercalar com um polímero específico, escolhido com base nos resultados das análises
termodiferencial e termogravimétrica, e aumentar as proporções de todos os reagentes
envolvidos para testes fora da bancada de laboratório.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHENG, H., LIU, Q., YANG, J., ZHANG, Q., FROST, R.L. Thermal behavior and decomposition of kaolinite – potassium acetate intercalation composite. ThermochimicaActa, Vol. 503-504 (2010) p.16–20. COELHO, A.; SANTOS, P. e SANTOS, H. Argilas Especiais: Argilas Quimicamente Modificadas – Uma Revisão. Química Nova, Vol. 30 (2007) p. 1282-1294. CUNHA, F.O. Estudo da Reologia de Polpas de Caulim para a Indústria de Papel com Base no Caulim da Região do Prado. Tese de Doutorado, Departamento de Ciências dos Materiais e Metalurgia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2004) p. 130.
233
5. Conclusões
IV SIMPÓSIO DE MINERAIS INDUSTRIAIS DO NORDESTE
10 a 13 abril de 2016, João Pessoa - PB
LI, Y., SUN, D., PAN, X. e ZHANG, B. Kaolinite Intercalation Precursors - Clays and Clay Minerals, Vol. 57 (2009) p. 779–786. PAIVA, L.B., MORALES, A.R., DÍAZ, F.R.V. Argilas organofílicas: características, metodologias de preparação, compostos de intercalação e técnicas de caracterização. Cerâmica, Vol. 54(2008) p. 213-226.
234