Trilhos Urbanos - Novembro 2011

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Trilhos Urbanos Jornal-laboratório da Disciplina Jornalismo Impresso I e II - Edição de Novembro Umbanda Homeopatia Como funciona e o que está por trás des- sa prática que atrai tantas pessoas Mario Lago Se fosse vivo, o poeta, ator, escritor e letrista completaria 100 anos Religião que mistura manifestações indígenas, negras, católicas e ciganas ainda gera preconceito Umbanda Religião que mistura manifestações indígenas, negras, católicas e ciganas ainda gera preconceito

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Jornal-laboratório dos alunos do 6º semestre de jornalismo da Uniesp Itu.

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Trilhos UrbanosJornal-laboratório da Disciplina Jornalismo Impresso I e II - Edição de Novembro

Umbanda

HomeopatiaComo funciona e o que está por trás des-sa prática que atrai tantas pessoas

Mario LagoSe fosse vivo, o poeta, ator, escritor e letrista completaria 100 anos

Religião que mistura manifestações indígenas, negras, católicas e ciganas ainda gera preconceito

UmbandaReligião que mistura manifestações indígenas, negras, católicas e ciganas ainda gera preconceito

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Desmistificando a UMBANDA!Descubra o que está por trás e qual é a visão de mundo de uma religião tradicional e antiga, que tem por lema “construir sempre, destruir nunca!”Marília Monteiro

Quando resolvi aceitar a pauta sobre umbanda, sabia que não ia ser muito fácil, mas também tinha consciên-cia da grande janela cultural que se abria à minha fren-te. Confesso que não sabia como começar, mas assim que fui pesquisando, vi que essa crença não é nada mais que outra visão sobre o mundo, dos vivos e dos mortos.Para começo de conversa, não existe essa de mortos. Os espíritos são eternos, a morte é uma passagem. Esse também pode ser um pen-samento dos espíritas, pois a Umbanda é uma crença nova, nascida em 15 de no-vembro de 1908, através do

médium Zélio Fernandino de Moraes sob influência e manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, e con-siste num sincretismo entre catolicismo, espiritismo e religiões afro-brasileiras, como o candomblé.Os orixás são as caracterís-ticas que compõem o uni-verso divino, ou seja, deuses e fazem a ponte entre os seres humanos e a divindade maior. Cada um ajuda os humanos de uma maneira, ou outra e tem relação muito forte com a natureza, como por exemplo, Iemanjá é a orixá rainha do mar, Xangô é o rei das pedras, Oxalá é o dono da paz e do ar; Exu...Bem, todos têm uma con-cepção estranha de Exu, mas os umbandistas explicam o

que ocorre: “O Exu é o orixá que tem mais características humanas, mas ele é neutro: nem bom, nem ruim. Ele é o guardião das magias, transita pelo terreno mau, mas não pertence a ele, entendeu? Ele é quem cuida da comunicação entre os humanos e os trabalhos que querem fazer, assim como é ele também que desfaz trabalhos e magias negras”, explicou Mãe Helena, orien-tadora espiritual do centro Pai Xangô, em Itu.Os trabalhos ‘do mau’ são feitos com os Kiumbas que agem escondidos e não são orientados por nenhum Exu, mas muitas vezes se fazem passar por um deles, atu-ando em terreiros que não

praticam os fundamentos básicos da Umbanda, cujo objetivo é sempre propor-cionar vibrações positivas que beneficiam e ajudam em dificuldades, através da fé e respeito ao próximo.Saber disso já me tranqui-lizou, afinal, eu não tinha uma opinião formada, só um receio que é gerado devido ao boato sobre exus e incor-porações. Mãe Helena me convidou a uma reunião da linha cigana naquela noite, e aceitei. Sim, ciganos na Umbanda! As pessoas não incorporam especificamente os orixás, mas, sim, espíritos que fazem parte do grupo co-mandado por eles. Portanto, existem as reuniões em que

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os médiuns – pessoas aptas a incorporar, que trabalham na Umbanda – recebem os preto-velhos, que são da sabedoria e humildade, vem para resolver muitos assun-tos e pertencem à linha de Obaluayê.Há também os caboclos, que vêm na manifestação de índios, são de Oxóssi; os caboclos boiadeiros, que são de Ogum e Iansã; caboclos baianos e as crianças, que são de todos os orixás; os caboclos marinheiros, que são da linha de proteção de Iemanjá, e os Ciganos, que pertencem ao grupo dos Exus e pombas – gira.Sempre gostei da cultu-ra cigana e quando entrei naquele centro para ver o ritual, me senti numa ver-dadeira tenda. A fachada é de uma casa normal, com algumas flores na frente. Ao entrar, ando num corredor com muitas plantas e lá no fundo encontro o lugar das reuniões. Uma sala retan-gular dividida em duas partes: a menor era repleta de cadeiras, onde as pessoas assistiam e esperavam sua vez de consultar, a maior era

onde os médiuns estavam – nesse dia todos caracteriza-dos como legítimos ciganos: as mulheres de vestido com cores específicas, lenços e muitos acessórios e os ho-mens de calça larga, camisa, colete e bandana.Sentei na cadeira, saquei o caderninho, a câmera e comecei anotar vários detalhes, quando Helena me chama e pede para que eu sente entre o altar cheio de imagens de orixás e uma médium toda vestida de dourado. Estranhei, mas depois ela disse que era pra ir me explicando as coisas conforme fossem acontecen-do. Sentada ali, eu podia ver exatamente tudo que acon-tecia, de perto. Os médiuns dispunham-se em um cír-culo e no centro havia uma mesinha, com uma cesta de frutas e flores, uma jarra de água, um cristal e duas

velas que Helena acabara de acender – uma amarela e uma azul. “Eles vão ener-gizar as frutas e as flores, a água representa fartura, o cristal corta qualquer tipo de energia negativa e as velas são nas cores deles”, sussur-rou Helena. Após acender as velas, todos saudavam os orixás e Santa Sara Kali, a protetora dos ciganos. Os médiuns co-meçaram dançar em seus lugares e cantar uma música típica cigana, voltada para os espíritos, enquanto isso as incorporações iam acon-tecendo. Eu não via nada diferente daquilo. Só sabia que eles estavam chegando porque Helena ia falando: Salve Esmeralda, Salve Estrela-Guia, Salve Samira, etc, que são os nomes dos ciganos que se encostam a essa reunião.Cada um deles tem caracte-rísticas diferentes. Estrela

Guia cuida do ouro e do amor, Samira das crianças, e por aí vai. Eis que depois de todos estarem presentes, um dos ciganos ajoelha em frente à mesinha no centro, pega a água, estrala os dedos algumas vezes, fala coisas que eu não consigui ouvir, molha a mão e espirra a água nas frutas e flores, faz mais alguns gestos e volta para seu lugar. Helena me explica que ele está energi-zando aqueles elementos, que serão dados às pessoas que forem se consultar.“Eles só trabalham com os elementos da natureza, fazem cura através de chás e banhos, ervas, flores e fru-tas”, disse a orientadora.Outro detalhe que percebi, foi que atrás de cada um deles, havia umas mesinhas pequenas, com incensos queimando, um maço de cigarros, perfume, taças decoradas com correntes,

Os orixás são as características que compõem o univer-so divino, ou seja, deuses e fazem a ponte entre os se-res humanos e a divindade maior.

Alegoria de santos e “divindades” que forma o altar de umbanda: mescla da cultura indígena, afro e cigana, há espaço para várias visões de mundo, mas o objetivo é fazer o bem

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medalhinhas e uma garrafa de vinho. Logo vejo todos os ciganos fumando, tomando o vinho e borrifando os per-fumes. São acessórios que eles utilizam também como símbolos da cultura e ener-gia cigana.Helena anuncia que eles já podem receber as consultas. Cada pessoa que pegou uma senha antes de entrar na reunião vai, por ordem, falar com o cigano que mais tem afinidade. Enquanto isso, os auxiliares da reunião, que ficavam ali na área dos mé-diuns, ligaram um rádio que só tocava Gipsy Kings, para completar o clima. Ali do meu lado, Estrela Guia batia o pé bem forte no chão e chacoalhava um círculo do tamanho de uma pulseira, com umas moe-das penduradas. Entre uma

batida e outra, ela foi até a cesta de frutas, pegou uma manguinha bem bonita e estendeu-a na minha frente. Fiz um gesto com a mão, sinalizando educadamente que não queria; ela sorriu, fez que sim com a cabeça e insistiu: “É pra você”. Então peguei a fruta e fiquei com ela nas mãos. Helena se aproximou, chamou Estre-la e disse que eu estava ali fazendo uma reportagem. Estrela balançou a cabeça, como quem estava enten-dendo, e disse em bom portunhol: “Coma essa fruta e faça um pedido, vai comendo e pedindo o que quiser”. E voltou em seu lugar.A orientadora me disse que isso foi um presente deles para mim e que se eu não

quisesse comer, era para deixar em um jardim aberto e bonito.E assim foi acontecendo. As pessoas conversavam, conta-vam seus problemas, pega-vam o presente do cigano e iam embora. Não havia só adultos. Duas crianças parti-cipavam inclusive da roda de médiuns. Um deles, Caíque, tem sete anos e toca ataba-que em outras reuniões. “Eu venho todos os dias. E também toco chocalho que a minha mãe fez e meu pai preparou”. Um menino super esperto e de presença, sem deixar de ser infantil, contando pra mim das aven-turas no dentista e do dente que caiu.Enfim, o que pude levar dessa experiência é que na Umbanda forma-se uma comunidade. Particularmen-

te nesse centro que eu fui, a filosofia não impede que os frequentadores pratiquem outra religião. Joselaine L. S. disse que frequenta missas, além de participar das reuni-ões da Umbanda. “Vai sair uma excursão que eu estou fazendo, para uma missa lá em Nossa Senhora Aparecida, nesse sábado, se Deus quiser”, disse a prati-cante que também afirmou “A gente sai daqui (do cen-tro) com a energia mais leve, é essencial pra mim”.Helena ia se despedindo das pessoas, disse que eu pode-ria ir embora se quisesse e fechou o assunto dizendo: “E aí, o que achou? Nada de mais, não é? Aqui nosso lema é sempre construir e nunca destruir. O mau não chega”.

Conheça o que cada Orixá representa:

Exu: Combate as magias negras, é o grande guar-dião das estradas e encru-zilhadas.

Iansã: É a mulher guer-reira da tempestade, dona dos ventos e raios.

Iemanjá: É a mãe dos orixás e dos humanos, fortalecendo e criando a todos. Rainha do mar.

Nanã: É a responsável pela reencarnação, cuida do corpo dos mortos e

recria a vida. Dona dos pântanos. Oxalá: Pai de todos, permitiu que os Orixás escolhessem seus domí-nios. Dono do céu, do ar, de rios e montanhas.

Xangô: Resolve impasses e é o grande líder de seu povo. Domina a monta-nha, o raio, trovão e as pedreiras.

Ogun: O guerreiro que abre caminhos e executa a lei. Dono dos caminhos, estradas e de tudo que é feito de ferro.

Oxóssi: Trabalha com cura e é protetor dos ani-mais. Orixá das matas e florestas, é o caçador.

Obaluayê: Divide com Iansã o poder sobre os mortos. Tem o poder de levar as doenças embora.

Oxum: Orixá da beleza e do ouro, soberana nos campos da sedução e da esperteza, responsável pela gestação. Dona das cachoeiras e rios.

Obá: Dispensa a devoção masculina. É respeitada pelas mulheres, pois é a

justiceira delas.

Ossaim: Trabalha com as ervas, tem domínio sobre elas, conferindo-lhes a força da cura. Domina as matas virgens.

Oxumaré: É o orixá da abundância e da fertili-dade. Tem o domínio da geração da vida.

Logunedé: É o filho de Oxóssi e Oxum. Rege os adolescentes e domina as cachoeiras, matas, flores-tas e rios.

Quem são os orixás?

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Umbanda ou candomblé?A mesma coisa?Flávia Rosa

Umbanda e Candomblé são duas religiões respeitáveis, porém tão distintas quanto o protestantismo e o catoli-cismo.Aos olhos do leigo, Umban-da e Candomblé são duas formas de denominar um mesmo culto. Mas, na verda-de, são duas religiões dis-tintas, unidas apenas pelas roupas, atabaques e pelo uso do transe mediúnico.A começar pelas origens, o Candomblé é uma religião africana que existe desde os tempos mais remotos daquele continente e foi trazida para o Brasil atra-vés do fluxo da escravatura.

Escravos de diversas tribos e nações Africanas continu-aram a cultuar no Brasil os Orixás negros, suas divinda-des, e estiveram na origem da criação das chamadas “Casas de Santo” (Ilê), onde continuaram com os seus rituais e preceitos africanos. As diversas origens das tri-bos, e as diversas regiões do Brasil onde se implantaram, deram origem às diversas Nações do Candomblé, onde o Ketu é tido como o mais tradicional.A Umbanda é até ao mo-mento, a única religião criada no Brasil, e sofre influências de várias ou-tras religiões, inclusive do Candomblé, de onde tirou

a forma de vestir dos mé-diuns, o uso dos atabaques e a nomenclatura dos Orixás – adotando também para estes Orixás cores diferentes das utilizadas no Candomblé. A Umbanda portanto, ad-vém do sincretismo católico e afro, necessário numa épo-ca de grande repressão das religiões africanas no Brasil, em que era proibido o culto dos Orixás na sua forma de origem, e esta adaptação tornou-se necessária.No Candomblé os cânticos são em línguas africanas (Io-rubá ou Banto), dependendo da nação de origem daquele grupo. Os cânticos da Um-banda são em português. No Candomblé o culto é voltado

unicamente aos Orixás que são considerados deuses e não espíritos. Na Umbanda trabalham com espíritos como cabo-clos, pretos-velhos e ciganos, entre outros. No candomblé, só os Orixás podem provo-car a possessão; a nenhum espírito que tenha tido vida na terra, é permitido este fenômeno. Na Umbanda é permitida a incorporação de qualquer tipo de entidade. “É preciso que reconhe-çamos e respeitemos as diferenças regionais do Candomblé, mas devemos também separar as coisas. O Candomblé Ketu tradicional não cultua pombagira, que é uma entidade comum em alguns terreiros, muito pro-vavelmente por influencia da Umbanda.Convém desfazer a confusão entre Exús (entidades) e Exú (Orixá). Os primeiros que muitas vezes possuem nomes que ressaltam características ne-gativas e assustadoras, (…), são entidades que devem ser respeitadas, que tem o seu valor, mas que não perten-cem, de fato, ao Candomblé, cabendo à Umbanda (ou a quem as cultua) explicar as suas origens e funções.”(L. Candomblé A Panela do Segredo-84)

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HomeopatiaUm presente da natureza para a saúde. Tratamento traz benefícios para o corpo e a mente.

maior à homeopatia”, conta a Médica Pediatra e Homeo-pata, Dra. Norma Honda. Para a home-opata

Claudia Meirelles, o trata-mento já conquistou seu es-paço, mesmo que sua com-provação não seja na lógica da ciência convencional. “Há

muitos anos a homeopatia recebeu respeito e crédito da

ciência e do mundo leigo,

pois cura doen-

ças, mexe com a qualidade da saúde e resgata a visão holística do organismo”, explica.

A indicação para o trata-mento homeopático pode vir da falta de sucesso no uso dos medicamentos químicos, como no caso da autônoma Vera Lúcia do Nascimento Horn, que

sofria com as constantes crises de enxaqueca.

“A homeopatia me ajudou muito.

Eu era muito dependente

de remédios que algumas vezes não resolviam o meu proble-ma. Na home-opatia, passei a usar

medica-mentos que

respondiam ao meu corpo

muito bem”, conta.

Vera Lúcia conhe-ceu a homeopatia

através do sogro, que lhe indicou procurar um

profissional da área. Com os bons resultados, Vera inseriu o tratamento na rotina de sua família, mas não abandonou os remédios tradicionais. “Hoje faço uso tanto da homeopatia quanto de analgésicos”, afirma.

Jéssica Ferrari

Desde 1979 uma nova arte de curar passou a constar no Conselho de Especialida-des Médicas da Associação Médica Brasileira: a homeo-patia. Com seus princípios, ideologias, paradigmas conceituais e métodos, essa medicina ainda gera dúvidas quan-to à eficácia, mas também ganha novos adeptos a cada dia e já faz parte das rotinas de atendimento até do Siste-ma Único de Saúde (SUS) do país, sendo estabelecida como política de Estado.

História

Trazida ao Brasil pelo médico francês Benoit Jules Mure, em 1840, a alternativa hoje é chamada de medicina integrativa, possui cursos de formação em universi-dades e é utilizada também por médicos veterinários e odontológicos, além de farmacêuticos e psicólogos. “Felizmente a população já possui um nível de aceitação

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Segundo a homeopata Norma Honda, não é preci-so retirar os medicamentos químicos dos pacientes, o processo pode ser feito aos poucos, sem perder a eficá-cia. “Muitas pessoas que tomam de dez a vinte tipos de medi-camentos por dia, também sentem os efeitos colaterais da homeopatia e conseguem reduzir o número de remé-dios”, explica. Para ela o importante é respeitar os pontos de vista de cada pessoa, não forçá-las a um tratamento que não estão acostumadas, escla-recê-las bem e esperar o tempo de cada um para uma mudança de vida. “É muito importante adquirir o dom de ouvir os pacientes, o que não ocorre mais na medicina atual”, alerta Norma.

Conceitos e métodos

A homeopatia é uma forma de enfermidades usando como ferramenta subs-tâncias da natureza super diluídas. “Ela [homeopatia] é a arte de curar pelas leis da semelhança. Nós anali-samos os sintomas e sinais do problema que o paciente apresenta e o remédio ho-meopático que corresponda a essas características. Por isso há diversos remédios para vários tipos de tosse”, explica Norma. Para ser um remédio ho-meopático, Claudia Meirel-les conta que a substância deve ser capaz de produzir no homem aparentemente sadio, sintomas semelhantes aos da doença que se preten-

de curar num determinado caso. “Essa coincidência de sinto-mas existentes no doente e o seu reconhecimento no me-dicamento caracteriza a ‘Lei da semelhança’, fundamento capital da prática homeopá-tica”, diz. A individualização proposta pelo médico homeopata ao seu paciente é baseada em todos os seus sinais e sinto-mas característicos, como afirma Claudia. “A homeo-patia direciona sua ação ao bem estar físico e mental e paralelamente pode propor o ajuste de seu paciente através de coadjuvantes como fitoterapia, orientação dietética, atividade física direcionada, mudança de hábitos, florais de Bach, me-dicina ortomolecular, pro-gramação neurolinguística e outra inúmeras alternativas para ensinar o organismo a trabalhar a favor de si mes-mo”, conta.

Para Norma, a homeopatia é uma medicina curativa e de forma rápida. “As pes-soas costumam pensar que é ela [homeopatia] é um tratamento demorado, mas não é”, afirma. A homeopata Claudia Meirelles ainda vai além na definição do método e afirma: “Ciência e Efici-ência se misturam na defi-nição da homeopatia, cujo caminho conquistado é hoje irreversível.”

O tratamento

Segundo a Dra. Norma, qualquer pessoa, de qual-quer idade, com qualquer patologia - seja doença agu-da ou crônica – pode aderir a homeopatia. “Mesmo doenças graves po-dem ter tratamentos parale-los com a alopatia. Tendo-se um bom senso, podemos tratar de qualquer doença. Mesmo uma pessoa que já toma muitos medica-mentos pode ter a energia vital equilibrada”, afirma. Diferente dos medicamentos químicos, a homeopatia pro-cura agir também na parte psicológica da pessoa. “Faço tratamento para ajudar o estado emocional e melho-rar o aspecto imunológico dos pacientes, além de fazer uma orientação para uma alimentação mais saudável”, conta Norma. Com seu trabalho voltado a pediatria, Norma alerta que muitas doenças podem ter causas dentro da estrutura familiar da criança. Segundo ela, o maior bene-ficio da homeopatia é a me-dicina preventiva, que ajuda

na cura por inteira. “O que mais me fascina como pedia-tra é tratar do emocional da criança. Eu acabo trabalhan-do a dinâmica familiar, pois o problema da criança não é isolado, depende do meio que ela vive e das pessoas que cuidam dela. Acabo tornando-me uma médica de família”, conta.

Linhas da homeopatia

- Unicismo: Prescrição de um único composto homeo-pático.

- Pluralismo: É chamado também de alternismo, dois compostos homeopáticos administrados em horas dis-tintas, um complementando o outro.

- Complexismo: São pres-critos dois ou mais com-postos homeopáticos que podem ser administrados simultâneamente.

- Organicismo: O compos-to homeopático é prescrito conforme o órgão doente. Esta prática aproxima-se muito da alopatia.

O tratamento homeopático já conquistou seu espaço no Brasil, mas ainda gera dúvidas, é pouco compreen-dido e também sofre preconceito

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Consciência negra

Flávia Rosa

O Dia Nacional da Consciência Negra é celebrado em 20

de novembro e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Sua data foi es-colhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi

Uma vitória contra o preconceito

dos Palmares, em 1695. O Dia da Consciência Ne-gra procura ser uma data para se lembrar a resis-tência do negro à escravi-dão, e, com isso, mostrar a todos a importância de se desenvolver o não precon-ceito diante de cada um.O Trilhos conversou com o vereador e presidente da

Câmara da Estância Turística de Itu, Givanildo Soares da Silva, sobre a lei implantada na nossa cidade

Qual o principal Motivo para tra-zer este feriado para nossa cida-de?Quebra de precon-ceito, para a própria reflexão do povo, que todos podem independente da sua cor ou raça.

Como foi o pro-cesso de aceita-ção e execução do projeto? Fui aceito por una-midade na câmara, todos os vereadores foram a favor a este dia de consciên-cia negra. O seu primeiro ano foi colocado em pratica

no dia 20 de novembro de 2005 em um domingo.

Esse feriado repre-senta algo em especial para você?Sim, pois sou adotado e uma irmã minha é ne-gra, e quando pequeno vi como era o seu tratamen-

to e nunca achei correto, pois somos todos iguais. Por isso quis trazer este feriado para nossa cidade para mostrar que o “Pre-conceito esta dentro da gente”.

Você acha que com o feriado a uma cons-cientização contra o preconceito ou é o próprio preconceito?Sim ele é contra o pre-conceito, pois mostra que todos somos iguais. E que temos como propósito de mostrar a todos que existe uma conscientização.

Quando foi decidido o feriado na cidade?13 de maio de 2005. Sen-do que ocorre a sete anos consecutivos uma festa no ginásio da cidade nova, com o propósito de unir a todos independente de raça ou cor. No ano passa-do havia 20 mil pessoas.O ingresso é um quilo de alimento não perecível.

6- Qual a sensação de saber que um projeto seu foi aprovado?Uma grande satisfação, uma vitória contra o pre-conceito. Pois ninguém tinha coragem para fazê--lo, eu mudei isso.

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A cidade Vale do SolThaís Lopes

A Cidade Cinema. Roma Brasileira. Onde tudo é grande. Assim é conhecida uma das cidades do inte-rior de São Paulo, Itu. Mas o que estes jargões têm em comum?Estamos falando da mesma cidade. Uma cidade do in-terior mas que cresceu his-toricamente por causa dos seus fatos ocorridos. Como o eixo histórico, onde os turistas passam por pon-tos marcantes de Itu e se relacionam com os acon-tecimentos de uma época de impérios, realezas. Já a fama de Roma Brasileira é por causa das igrejas em estilo barroco as quais, em cada ponto da cidade, podem ser encontradas.E, enfim, a cidade Vale do Sol. Por quê? Pode ser que alguns já tenham escutado falar, mas poucos sabem

por que de tal significado. Explicando: a cidade foi cenário de muitas produ-ções do cinema nacional, pois era utilizado a luz do sol, que se tornava de muito bom grado para as filmagens.Paulo Rodrigues, dirigente do Cineclub Osvaldo de Oliveira e estudante de cinema, relata que foi no século XX que Itu teve suas principais (por serem as primeiras) produções.Trata-se de imagens que desapareceram, embora no núcleo de cinema de Itu exista algum registro dessas e de algumas outras produções dos anos 30, 40 e 50, como disse Paulo.O cineclube Osvaldo de Oli-veira surgiu para capturar e guardar essa memória e leva o nome de um dos ci-neastas das época, que em

1978 juntamente com dois críticos cineastas, fizeram um curtametragem histó-rico - A convenção de Itu - em formato 35 minutos.Outra explicação para o apelido “Vale do Sol” é o pôr-do-sol da cidade, bem como fazendas, cli-ma quente e sol forte, que facilitaram muito para as filmagens. O que motivou os produtores, naquela época reunirem as produ-ções aqui!Um caso marcante foi o seriado ‘O vigilante rodovi-ário’, que se passava intei-ramente em Itu, quando as cenas ligavam gravações externas, por conta da luz forte. Foi uma série exibida na TV Tupi, na década de 60, no qual foi dirigido pelo cineasta Ary Fernandes, que trouxe como tema a polícia militar, em que faz uma criação de um herói 100% brasileiro e também pela simpatia que a popu-

lação tinha na época por aquela segurança.Ainda como Vale do sol, Itu conquistou vários filmes nacionais populares, do tipo cangaço, bangueban-gue (filmado em fazendas) e até produções nostálgi-cas.Recentemente, o roteirsta Renato Benedetti, atual dono da rádio Convenção, concluiu seu filme “Bento da Caridade”, que narra a vida de padre Bento Dias Pacheco, que nasceu em Itu, na fazenda da Ponte.Nessa minissérie, o reli-gioso abre mão de todo o dinheiro da família para cuidar dos doentes, com hanseniase.Uma história real, com tra-ços cinematográficos que o Hospital Dr. Francisco Ribeiro Arantes, localizado na região do Pirapitingui, pôde assistir no dia 27 de setembro, gratuitamente.

Cena do filme Bento da caridade, de Renato Benedetti

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Jaqueline Sevilha

Mário Lago nas-ceu em 26 de novembro de

1911, no Rio de Janeiro e durante toda a sua vida, passou muito longe de ser uma pessoa comum. Ele foi ator, produtor, diretor, compositor, maestro, vio-linista, radialista, jorna-lista, escritor, poeta, autor de teatro, cinema, rádio e TV, frasista, militante sindical, ativista político e torcedor do Fluminense. Foi criado no bairro da Lapa, Rio de Janeiro, formou-se em direito e nunca exerceu a profissão. Sempre teve uma paixão pela arte. Seu primeiro poema foi publicado aos 15 anos e seu envolvimen-to com a televisão come-çou em março de 1933, como autor teatral. Sua estreia como letrista de música popular foi com “Menina, eu sei de uma coisa”, gravada em 1935 por Mário Reis. Suas com-posições mais famosas são “Ai que saudades da Amélia” e “Atire a primei-ra pedra”, ambas em par-ceria com Ataulfo Alves; “É tão gostoso, seu moço”,

Gênio completoAtor, roteista, letrista, poeta. Mário Lago foi um homem gentil e um artista completo que, em 2011, completaria 100 anos.

com Chocolate, “Número um”, com Benedito Lacer-da, o samba “Fracasso” e a marcha carnavalesca “Au-rora”, em parceria com Roberto Roberti, que ficou marcada na interpretação de Carmen Miranda.No rádio, Mario foi ator e roteirista, escreveu a radionovela “Presídio de Mulheres” e depois atuou na Rede Globo em no-

velas como “O Casarão”, “Nina”, “Brilhante”, “Elas por Elas” e “Barriga de Aluguel”, entre outras. Em 1957, esteve na União Soviética, pela Rádio Moscou, participando do programa Conversando com o Brasil e foi tema do desfile da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz em 2001.Em dezembro de 2001,

recebeu uma homenagem especial por sua carreira durante a entrega do Tro-féu Domingão do Faustão, que apenas falava sobre os grandes nomes da teledra-maturgia. Em 2002 teve a Ordem do Mérito Parla-mentar entregue em sua residência pelo próprio presidente da Câmara, Aécio Neves. Mário disse uma vez: “Estou escrevendo minha biografia, fiz um acordo com o tempo, nem ele me persegue, nem eu fujo dele”. Mário morreu no dia 30 de maio de 2002, aos noventa anos de ida-de, de efisema pulmonar, deixando quatro filhos, frutos de seu casamento com Zeli Cordeiro Lago. O velório foi no palco do Teatro João Caetano.Mário Lago foi um exem-plo de força, determi-nação, inspiração pro-fissional e inteligência. Com certeza merece ser lembrado durante muitos anos. Este ano, Mário Lago completaria seus 100 anos. De modo inquestio-nável, o Brasil sente ate hoje essa grande perda.

Mário Lago, em caricatura

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Crítica com sarcasmoJéssica Ferrari

Ter bons argumentos é fundamental para cons-truir uma boa imagem organizacional. Não basta apenas tentar manter as aparências, é preciso estar preparado para supe-rar uma crise a qualquer momento. E isso, pode ser resolvido com a experiência e aprendizado de apenas uma pessoa: o porta-voz. Essa importante profissão se materializa no papel de Aaron Eckhart no filme “Obrigado Por Fumar”, do diretor Jason Reitman, onde o ator interpreta Nick Naylor, um representante das grandes empresas de cigarro. Na narração, Nick utiliza todo seu potencial natural de comunicação e pensa-mento rápido para defen-der os direitos dos fuman-tes. Os argumentos muitas vezes surgiam dos próprios atacantes de suas ideias, que perdidos em falas cons-tantes do porta-voz, acaba-vam abrindo brechas para que ele os confundissem e utilizassem suas próprias ideias contra si mesmos. Sem respostas na maioria das vezes as organizações contra o tabagismo se calavam e o público alvo, os

consumidores, se conven-ciam da ideia de Nick. Uma maneira de desviar a aten-ção da empresa em ques-tão, para os problemas dos atacantes.Como grandes empre-sas, não são só os produtos que devem possuir um controle de qualidade, mas tam-bém toda sua cultura organiza-cional deve ser bem vista pelos consu-midores. Afinal, ninguém gostaria de desco-brir que o fundador da SOS Mata Atlântica não recicla o lixo produzido por sua família. Se fosse verdade e caísse na “boca do povo”, com certeza toda a ideia de sustentabi-lidade e responsabilidade ambiental viria por água abaixo. Não é? Por tanto, aquela velha frase “faça o que eu falo, mas não o

que eu faço “ não pode de maneira alguma ser seguida pelas principais hierar-quias de uma empresa, e se forem, devem ser muito

bem camu-fladas das mídias. Ai que entra novamente o porta-voz na história. Ele tem que ser capaz de esconder, driblar ou até achar um modo de afirmar a verdade sem que ela soe nega-tivamente nos ouvidos do público. Durante o “Obrigado Por Fu-mar”, Nicki

passa por esses momentos com uma certa facilidade, pois já possui uma espon-taneidade em sair de situ-ações utilizando os bons e fortes argumentos. Mas na vida real, infelizmente ou felizmente, nem todos os porta-vozes escolhidos são assim. Para ensinar a eles essa habilidade pode de-

morar um tempo, por isso é preciso escolher o aquele que contenha as caracterís-ticas principais para essa área da comunicação e que conheça bem a empresa que representará. No fim, pode valer muito a pena o investimento. Nick é capaz de investir milhões em uma campanha que julgue seu produto, mas lucrar mais que o dobro somente por se mostrar preocupado com a ação. Uma jogada de marketing empresarial e modestamente, para ele, de mestre! Você já parou para pensar que quando criança você nunca conseguia algo de seus pais se não argumen-tasse ou fizesse uma certa “chantagem emocional”? Pois bem, isso já pode te ajudar a entender melhor como funciona esse mundo dos porta-vozes. Não que toda empresa precise contra--atacar, há aquelas que não chamam a atenção dos con-sumidores. Mas vá que um engraçadinho não goste da nova embalagem do seu pa-pel higiênico e decida postar sua indignação no facebook? Você vai estar preparado para responder corretamen-te a onda de pessoas que acreditarão nos argumentos dele? Pense nisso!

Filme cult, Obrigado por Fumar é exemplo de lobby, imagem organizacional e muita ironia na crítica à Indústria do Tabaco.

Crítica

Page 12: Trilhos Urbanos - Novembro 2011

Artigo

Não desperdice uma dádivaLuís Felipe Conte

Qual o valor da vida? Até onde podemos brincar com o maior bem que temos? Será que a valorizamos? Viver intensamente signifi-ca correr riscos?As perguntas acima surgem sempre que alguém passa por um momento em que a dádiva – alguns preferem chamar de presente ou gra-ça – que Deus nos concede corre risco de deixar de existir. Tal risco, quase sempre, acontece por imprudência (principalmente com a mistura de bebidas alco-ólicas e direção), por não valorizar a vida e não saber que por qualquer vacilo – próprio ou não – tudo pode simplesmente acabar. Acabar!Tudo que foi dito parece “lorota”, papo de mãe ou coisa parecida. E essa tese de as pessoas nunca acredi-tarem que pode acontecer com elas apenas se fortale-ce a cada dia que irrespon-sabilidades são praticadas sem nenhuma consequen-cia. Não em curto prazo.Para exemplificar, um rela-to pessoal: Vinte e dois de julho, nunca vou esquecer esse dia. Pas-sar a tarde toda tomando uma cervejinha gelada com os amigos, sem pressa e nem horário pra ir embora, não tem preço. Estávamos

em um dos maiores restau-rantes da cidade, bebendo e comendo a vontade du-rante horas, mas ainda não era o bastante. Havia uma festa das gran-des me aguardando a noite. Festa essa do clube de futebol que mais cresce na cidade, do qual acumul car-

gos de diretor e jogador.A música era boa, as com-panhias eram ótimas, as comidas deliciosas e a be-bida incrivelmente gelada. Nada disso podia mudar, nada podia comprometer o sucesso da festa. Acabou--se o gelo e com o seu fim surgiu o que não pode acontecer de forma algu-ma com a bendita cerveja, esquentar. Prontamente

peguei dinheiro no caixa e junto com um parceiro sai na busca desenfreada por quilos de pedras de gelo. Rapidamente a “iguaria” foi encontrada e comprada, numa conveniência de um posto de combustível da cidade.

Até então, nada de anor-mal, dirigir depois de ingerir bebidas alcoólicas pode, não é? Basta ir devagarzi-nho, com cuidado, que não “dá nada”, é o que se pensa, mas vamos continuar.Sacos e mais sacos de gelo comprados, bastava voltar e jogar tudo em cima das incontáveis latas de cerveja e algumas águas e refrige-rantes.

Saindo da conveniência, velocidade do carro co-meçou a aumentar e nada mudará. Nada mudou mes-mo, até acordar algumas capotadas depois, dentro de um córrego da cidade, com a coluna fraturada, correndo risco eminente de paraplegia – faltaram dois milímetros – e com um parceiro preso nas ferra-gens do carro. O objetivo do relato não é impressionar com uma história de acidente de trânsito. Hoje, o autor que vos fala e seu parceiro estão bem, sem lesões permanentes, mas por pouco não es-tariam aqui pra contar a história. A recuperação da fratura da minha coluna durou três longos meses numa cama, com movi-mentos limitados e família e amigos muito preocu-pados com o que poderia acontecer, tudo por conta de uma bobagem, idiotice, irresponsabilidade pura. Ao outro ocupante do veí-culo, nada aconteceu.Sonhe, lute, alcance, na-more, perturbe, seja since-ro, chore com vontade de sorrir, ria com vontade de chorar, sinta que é capaz, conquiste muitas derrotas. O importante é não deixar de sonhar, não deixar que a irresponsabilidade de um momento, destrua toda sua vida, todo seu futuro.