Trova Brasil 15 Clevane Pessoa

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Dezembro de 2013

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SUMÁRIO

Biografia ............................................................................................................... 3

Clevane Pessoa em Xeque ...................................................................................... 11

Trovas ................................................................................................................. 19

OUTROS VERSOS

Haicais ................................................................................................................ 35

Poemas ............................................................................................................... 37

Fontes ................................................................................................................. 42

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Biografia

Clevane Pessoa de Araújo Lopes, nasceu em São José do Mipibu, Rio Grande do Norte, em 1947, filha de Lourival Pessoa da Silva e Terezinha do Menino Jesus da Silva. Trabalhou ativamente na imprensa de Juiz de Fora-Mg, nos Anos de Chumbo, mantendo a página Gente, Letras & Artes e a coluna diária Clevane Comenta, entre outras- na Gazeta Comercial. Aos dezesseis/dezessete anos, foi redatora chefe de Voz das Mil, jornal Literário do Colégio Sagrado Coração de Jesus. Sua primeira resenha foi publicada na Revista da Presidência, em 1964. Depois, escreveu em jornais por onde passou. Radicou-se em Belo Horizonte ao se casar com o engenheiro civil Eduardo Lopes da Silva, que então trabalhava na Via Expressa em viadutos e passarelas. Tendo iniciado Psicologia no CES (Centro de Ensino Superior) de Juiz de Fora, então formou-se na FUMEC na capital mineira (Belo Horizonte).

Acompanhou o marido a S. Luiz/MA, São Paulo/SP, depois a Belém/PA. Retornou a Belo Horizonte em 1990. Foi editora de Literatura e Arte do tablóide de vanguarda Urgente, entre outros, como A Voz de Rio Branco, de Visconde de Rio Branco, MG, onde mantinha ―A Voz da Mulher‖. Escreveu na revista "o Lince" e em outras. Atualmente, é psicóloga, ilustradora, palestrista e oficineira de Poesia e Conto. Até aposentar-se, trabalhou na Casa da Criança e do Adolescente do HJK, que fundou e coordenou ( SAISCA - Serviço de Atendimento Integral ao Adolescente, seu projeto criado em S.Luiz/ MA, encampado pelo Ministério da Saúde, tornado OS a posteriori) e levado a Belém/PA, de 1996

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a 1990, quando retornou a Belo Horizonte/MG.Esse projeto, alcança Poesia e Artes, crianças, adolescentes e família, além de atendimento à saúde. Em 1993, participa intensamente, pelo HJK, com a seção de Psicologia, da organização do Congresso Internacional L’espoir sem Frontiers (Esperança Sem Fronteiras). No evento, desenvolveu uma oficina sobre família e participou de mesas. Seu livro Mulheres de Sal, Água e Afins, publicado pela Urbana Editora, RJ/Libergráfica BH.), reúne contos com protagonismo feminino. Seu livro "O Sono das Fadas" (selo Catitu-BH) foi lançado na Bienal do Rio em 2009 e em vários espaços e cidades. Em 2011, foi relançado na Livraria Leitura do BH Shopping. Nesse ano, pela Pragmatha, do RS, publicou CENTAURA-poemas. Verbete no Dicionário de Afrânio Coutinho e no Dicionário de Mulheres de Hilda Huber Flores(RS) Possui capítulos em co-autoria (Homossexualidade e sexualidade do Adolescente,no compêndio "Adolescência, Aspectos Clínicos e Psicossociais", Edit Arte Med (RS). Em novembro de 2011, nos III Juegos Florales do aBrace, lança "Lírios sem Delírios", com poemas e desenhos, alguma poesia em espanhol, a maioria em Português, Editora aBrace. Consultora de teatro, revisora de textos, roteirista de peças teatrais. No ano de 2007, completou 50 anos de Poesia, pois começou a escrever, publicar e fazer saraus aos dez . Foi, pela‖ excelência da obra‖, agraciada com o título de‖ Poeta Honoris Causa", do Clube Brasileiro de Língua Portuguesa, para oito países lusófonos. O título foi concedido por sua Presidenta, a poeta Silvia de Araújo Motta e entregue por Conceição Piló (curadora do Palácio da Liberdade, nesta capital e diretora, em MG, da IWA), no evento ―Poesia é Ouro‖, em sua homenagem, que aconteceu no Centro de Cultura Belo Horizonte Março/2007), organizado por Karina Campos. Em maio de 2009, recebe o título de Doutora Honoris Causa em Filosofia (Ph.I.), em sua posse na ALB/Mariana. Pertence à REBRA, Rede Brasileira de Escritoras, tendo sido convidada por Joyce Cavalccante, sua presidente, para representar a REBRA em MG.

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Patronesa da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores, pertence à Academia Virtual Brasileira de Letras à Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do RN, do virARTE. Membro da IWA (Estados Unidos). Pertence à Rede Catitu de Cultura. Colaboradora da ONG Alô Vida. Por premiações em concursos, pertence ao CLESI (Clube dos escritores de Ipatinga). Chanceler da Arcádia Litterária de Aracaju. , Membro Honorário de Mulheres Emergentes, Conselheira do Instituto Imersão Latina. Estudou na SBAAT – Sociedade de Belas Artes Antonio Parreiras, aluna de Clério de Souza, o presidente da entidade. Ilustrava seus textos e de outros autores, em sua página na Gazeta Comercial (Juiz de Fora, MG). Ilustrou, a bico de pena, "100 Trovas de Juiz de Fora" – Programa Contraponto. Participou da primeira mostra de arte da FUMEC, quando concluía a faculdade de Psicologia. Em eventos na Semana da Mulher e da criança, expôs no HJK, em Belo Horizonte, posteres e poemas ilustrados. Fez 30 capas de pano para a edição artesanal de "Maldita Perfeição", de Jairo Rodrigues. Ilustrou, revisou e fez a divulgação de "Estalo, a revista", onde escrevia .Ilustrou ainda o espetáculo ―Completa Ceia", de poesia erótica, "Brincando de representar', de Virgilene Araújo e outros. Fez 25 desenhos para a III Edição do "Original-Livro de Artistas", no tema "A Forma do Pote vazio, tendo um dos desenhos apresentado no Palácio Galveias, em Lisboa, em maio de 2010. Ilustrou seus livros "Asas de Água", Poesias-Edit.Plurart e "Mulheres de Sal, Água e Afins"(contos-Edit.Urbana , Rio de Janeiro/Libergráfica.).

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Em 2011, lançou, pela Editora aBrace – da qual é representante em Belo Horioznte-MG- "Lírios sem Delírios, de Poemas, que também traz suas ilustrações. Desde março de 2009, a mostra Graal Feminino Plural, com seus desenhos e poemas, sobre questões do gênero feminino, circula, a partir da Galeria da Árvore (MUNAP_Parque Municipal Américo Renê Gianetti) , para os Centros Culturais de Belo Horizonte(Pref.Munic.) e Regional Oeste. A mesma também faz parte, em 2010, do festival Internacional de Cultura e Gastronomia de Tiradentes, no largo das Forras - Espaço Cultural. Banco do Brasil. Participa de recitais, saraus com leituras e performances de textos. Humanista, sempre lutou pela criança, família, mulher e adolescentes, sendo pioneira nas ações brasileiras pelo atendimento integral, multidisciplinar à criança e à adolescência (desde os Anos 80). Pelo Ministério da Saúde, ministrou oficinas em vários Estados brasileiros, quando trabalhava no Hospital Júlia Kubitscheck, no Barreiro de Cima, onde coordenou e criou a Casa da Criança e do Adolescente, com equipe multidisciplinar. A pedido do MS, organizou no HJK, o I Seminário Brasileiro de Saúde Reprodutiva e Sexualidade na Adolescência, no qual foi ainda palestrista, mediadora, debatedora e oficineira de sexualidade humana.. Possui vinte e dois e-books, quatro dos quais infantis, um de memórias, um ensaio, os demais de poesias, gêneros vários ( os e-books podem ser baixados gratuitamente no Recanto das Letras, no site da AVBL e na Vila das Artes, além de Cá estamos Nós e recentemente, no ISSUUM, disponibilizou , pela Catitu, seus livros Erotissima e O sangue das Fadas. Participa ocasionalmente ou com frequencia dos jornais e revistas virtuais zaP (São Paulo) , DESTAQUE,Revista Nota Independente, Guatá, Gaceta Literália, Isla Negra (Argentina) , aBrace, Varanda das Estrelícias (Portugal) ,Caderno Literário (Pragmatha/RS) ,entre outros. Possui uma antologia poética em www.direitoepoesia.com e participa de várias coletâneas virtuais , inclusive várias de BLOCOS ON LINE, entre as quais, por três vezes, da SACIEDADE DOS POETAS VIVOS.

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Seus textos e poesias estão hospedados em revistas e jornais brasileiros e no Exterior. As páginas mais recentes foram o mini-conto "O Gato", na revista internacional ABRACE (Uruguay- Brasil), artigo sobre Cecília Meirelles ; ensaio A Casta da Dança , entre outros. A convite, seu artigo "A Casta da Dança", foi publicado no no Caderno de Dança 2, da Companhia de Dança Contemporânea de Évora,em Portugal. Colabora e é colunista virtual , inclusive possui uma escrivaninha em www.recantodasletras.com, onde disponibiliza seus textos. Seu site pessoal é http://www.clevanepessoa.net.blog.php Luta pelos Direitos Autorais, pela propriedade imaterial, pelas minorias carentes, pela ecologia, e, sobretudo, pela PAZ em todos os níveis. É Dama da Sereníssima Ordem da Lyra de Bronze, delegada de ―A palavra do Século XXI, membro da SPVA(Sociedade dos Poetas Vivos e Afins, do RN) , do virArte, acadêmica correspondente de várias academias e outras instituições. Gravou 48 horas de vídeos para o Projeto Educativo‖ Saúde, Vida , Alegria, CECIP /Kellog‖, sendo responsável por Metodologia Participativa e pelas oficinas com adolescentes de várias classes sociais, institucionalizados, feirantes, mães –meninas, moradores de favelas, classe A etc. Participa de mais de cem antologias, por mérito em concursos, convite ou por cooperativismo entre escritores e editoras. No início de 2007, duas mais recentes são Letras de Babel e CuentoGotas, da editora ABRACE, lançadas no VIII ENCONTRO INTERNACIONAL ABRACE (março 2007), em Montevidéu (UY), onde esteve com Ricardo Evangelista e Sueli Silva com o espetáculo ―Poetas Quae será Tamen", no qual apresentou, com os artistas, a performance ―Predição‖. Depois , em Roda ao Mundo 2007, Poetas do Brasil,– Antologia do Proyecto Sur (RS) – neste ano de 2009,participa das antologias aBrace, inclusive a comemorativa dos dez anos desse Movimento Cultural, tendo recebido o troféu aBrace ( pelo ano de 2008), por sua atuação pela cultura e modus vivendi. Em 2007, comparece com vinte e cinco desenhos no "Livro dos Artistas", projeto de Regina Mello, chamado ORIGINAL . Em 2009, realiza a mostra "Graal Feminino Plural", de desenhos e poemas, atualmente em circuito pelos Centros Culturais de Belo Horizonte. Em 2011 participa de coletiva do SIAPEMG_Sindicato dos Artistas Plásticos de MG, a convite da organizadora, Iara Abreu, com poemas e desenhos a bico de pena.

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Premiada no Brasil e no Exterior em versos e prosa. Entre os muitos prêmios, destacam-se: Primeiro lugar de Crônica, Troféu Dormevilly Nóbrega ; Primeiro Lugar de Conto Livre, prêmio Ex-Aeqüo, no ALGARVE, em Portugal, XXIII Jogos Florais. Recebeu em 2009 o Prêmio mais importante do aBrace, pelo seu trabalho cultural . Em 2009, teve o poema "O Chão da Nossa terra" classificado em primeiro lugar no FESTINVERNO (Ouro Preto, Mariana). Em 2010, foi a escritora convidada para o I Encontro de Escritores de Língua Portuguesa em Natal/RN e recebeu uma placa pela sua contribuição à Língua Portuguesa (UCCLA e Capitania das Artes). A seguir, foi homenageada na Câmara Municipal de São José de Mipibu, sua cidade natal. Em 2009, tomou posse na ALB, Mariana, na qualidade de acadêmica fundadora, Cadeira 11, Laís Corrêa de Araújo, quando recebeu o título de Filósofa Imortal, Doutora Honoris Causa, PH.I, pela ALB/CONALB. E, no mesmo ano, também tomou posse na cadeira n.5, Cecília Meirelles, na AFEMIL, (Academia Feminina de Letras-Belo Horizonte, MG), para a qual foi votada em novembro de 2008. Integra a Sociedade dos Poetas Vivos e Afins, de Natal/RN e tem acervo no Memorial da Mulher, da mesma capital, tendo sido convidada para em breve tomar posse na Academia Feminina de Letras do RN. Em 2010 tomou posse como Acadêmica Correspondente na ALTO-Teófilo Otoni-MG. Em 2011, tomou posse nas Academias Menotti del Picchia (membro correspondente), no PEN Clube de Itapira, na academia Pré Andina de Artes, Cultura y Heráldica . Em novembro, tomou posse na AILA, Academia Itapirense de Letras e Artes, na qualidade de Membro Correspondente Titular, cadeira 05, patronímica de Luiza da Silva Rocha Rafael Em 2009, lançou Olhares, Teares Saberes, pela Edit.Popular, de S.Luiz/MA, que foi apresentado na Bienal do Livro-Rio de Janeiro/2009. Representa a Rede Catitu, o Alô Vida, Mulheres Emergentes.

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Em 2010/abril recebeu placa da UCCLA/Capitania das artes, em Natal, RN, no I Encontro de escritores de Língua Portuguesa, sendo a única mulher dos quatro autores homenageados. Em junho 2010, foi personalidade do Ano-Taubaté/SP e em novembro, Destaque Brasil 2010. Em novembro de 2010, recebeu a Medalha Tiradentes/FALASP/JF. Faz parte dos Poetas pela Paz e Pela Poesia e é Consultora de Arte da AMI (Associação Mineira de Imprensa). Em 2011, recebe a Medalha de Recompensa à Mulher-GOB-RJ, através da ALB/Mariana; Vem participando de Poetas do Brasil do Proyecto Sur, nos números pares.Por premiação, seletiva ou cooperativismo, participa de mais de noventa antologias. Cônsul Poeta Del Mundo, Embaixadora Universal da Paz (Cercle Univ.de Les Ambassadeurs de la Paix-Genebra, Suiça) ; Poeta Honoris Causa pelo CBLP,para oito países Lusófonos , Patroness da AVSPE ; Diretora regional do inBrasCi (Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais) em Belo Horizonte ,integra a rede Catitu‖ na ―Núcleo de Entrevistas Clevane Pessoa entre Pessoas, Representante do Movimento Cultural aBrace (Uruguai Brasil), na capital mineira Delegada da ALPAS XXI por MG e Bahia. Presidiu, a convite do fundador da UBT , Luiz Otávio, a seção de Juiz de fora, MG, nos Anos 60, onde também foi empossada no NUME, Núcleo Mineiro de Escritores, após receber seu primeiro prêmio Literário (primeiro lugar de crônica, Troféu Domervilly Nóbrega, ) Pertence à Academia de Trovas do RN desde 1968

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e a outras Academias Literárias , na qualidade de Membro Correspondente. Mantém dez blogs de divulgação culturais, alguns específicos (por ex, para indígenas, para crianças, entrevistas,e tc) Livros publicados: Poesia: Sombras Feitas de Luz (editora Plurarts); Asas de Água (Editora Plurarts); A Indiazinha e o Natal (Ed.Haruko); Partes de Mim ( RGD Ed.) Prosa: Mulheres de sal, Água e Afins – de Contos, em editora do Rio de Janeiro (Urbana) e Libergráfica Editora em Belo Horizonte. Olhares, Teares, Saberes (selo edit.Popular-S.Luiz-MA)- lançado na Bienal do Livro/Rio Erotíssima (Selo Catitu) -lançado na Bienal do do Livro /Rio O Sono das Fadas (Selo Catitu), para crianças até 100 anos-Lançado na Bienal do Livro do Rio.

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Entrevista concedida à Vânia Moreira para o Jornal/Ecos Querida amiga Clevane, você nasceu no importante Estado do Rio Grande do Norte, em São José do Mipibu guarda alguma recordação da cidade em que nasceu e gostaria de falar um pouco do período em que viveu lá? Na verdade, apenas nasci lá, porque meus avós ali estavam: mamãe, que se casara aos quinze anos, por ser a caçula e muito inexperiente, foi dar à luz perto dos pais. Ela e papai moravam em Natal. Mesmo depois de adulta, tendo morado em muitas cidades e Estados, nunca fui lá. Noutro dia, pela Internet, é que a "visitei".

Ainda bem pequena, além de Natal, morei em João Pessoa (PB), Japurá(fronteira com a Colômbia),Manaus(AM),Recife(PE) e por último, fomos para a Ilha de Fernando de Noronha, onde, aos cinco anos, fiz minha Primeira Comunhão, na Igrejinha dos Remédios. Da Ilha, lembro-me muito bem e foi dela que viemos para Minas gerais. Completei sete anos ao chegar em Juiz de Fora. Meus pais adoravam mudanças, escolhiam um lugar que os atraía e nos comunicavam. Nós, as crianças, aprendíamos geografia e, naturalmente, um pouco de História, Ciência e Astronomia, ao vivo... Era muito divertido viajar tanto... Em Belo Horizonte a bela capital mineira, com foi sua chegada e os primeiros anos passados lá? Vim morar em Belo Horizonte quando casei-me pela segunda vez, com o engenheiro Eduardo Lopes da Silva, em 1979.Aproveitava todo tempo livre para conhecer a cidade, mas estava no último ano de Psicologia, fazia estágios e trabalhava no INAMPS,era muito ocupada. Passei aqui três anos,e quando Gabriel, meu segundo filho completou três meses de vida, fomos para S.Luiz, a Ilha do Amor, terra de Gonçalves Dias,onde passamos seis anos. De lá para S.Paulo e depois para a capital do Pará, Belém. Somente retornei a Belo Horizonte em 1990,parando, por fim , com tantas andanças... Somente agora é que realmente estou conhecendo a cidade...Mas adoro viajar, o costume ficou enraizado em mim.

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Gostaria muito que falasse um pouco de sua família e da influência dela em suas decisões futuras? Minha família era maravilhosa, éramos alegres e talentosos para isto ou aquilo...Tive pais incríveis, avançados para a época, por exemplo, quando a inglesa Mary Quant lançou a minissaia minhas colegas eram recriminadas pela família se a usavam e meu pai mandava encurtar mais," pois o que é bonito, deve-se mostrar". Aprendemos, minha mana Cleone e eu, que a moral não está no modo de vestir apenas... Dançávamos muito-meu pai uma vez foi ao Rio de janeiro aprendeu Twist e fazíamos bailinhos no qual ele e mamãe ensinavam a nova moda às minhas colegas e rapazinhos... Ele comprava-me dezenas de livros, incentivava a leitura mesmo de revistas em quadrinhos, quando a maioria dos adultos decretava que "gibi" fazia mal... Também adoravam Cinema - e os filmes impróprios para menores tinham o enredo contado por mamãe que apenas atenuava as cenas mais fortes. Aos domingos, nos levavam às matinê, no Cine central em Juiz de Fora... Ela era grande missivista e eu naturalmente, a imitava, correspondia-me com os parentes e amigos distantes, o que me tornou sem preguiça para escrever, desde pequena, longas redações. Papai ensinou-me ortografia .Creio que minha mãe preparou-me, oralmente, para ser escritora. Contava "histórias de Trancoso", cantava todas as músicas que aprendia, sapateava, ensinou-me a declamar. Sou a mais velha de seis: Cleone, Luiz Máximo, Cleber Franck, Nildo Roberto e Lourival Jr. Eles gostavam de ter crianças pequenas em casa e quando um estava grandinho, papai convidava mamãe a arranjar outro nenê, o que ela aceitava alegremente.O filho caçula, Juninho, por ser especial (Síndrome de Down), precisou de mais atenção então as gravidezes acabaram. Também criaram filhas adotivas. Meu avô materno, paraibano, era jornalista e poeta. Ensinou-me a versificar. Eu sempre me senti a neta predileta... Mais tarde eu própria, nos Anos de Chumbo, trilhei o jornalismo. A primeira poesia brotou-me aos dez anos, em plena aula...O avô paterno era maestro e adoro música, embora nada toque. Qual a tia Terezinha, irmã de papai, pinto a óleo. Qual o tio Franck, irmão de mamãe, desenho, embora não tinha convivido tanto com eles, por causa das viagens. Somente voltei a natal, onde a minoria reside, já adulta. Escolheu a psicologia para atuar por mero acaso, por algum fato determinante ou era algo que estava já dentro de você? Sempre fui escolhida como confidente de pessoas mais velhas às de minha faixa etária.Mamãe tinha esse dom também. Ainda por cima, ela fez-me sua confidente, desde criança...Eu adorava exercer todas as modalidades de jornalismo, mas quando separei-me de meu primeiro marido, o jornalista Messias da Rocha, pai de Cleanton Alessandro, meu primogênito,fiz cursinho e fui da segunda

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turma de psicologia do CES (Centro de Ensino Superior, em Juiz de Fora),pois o nascimento de Juninho motivou-me mais a fazer Psicologia e ajudá-lo.Sempre fui fascinada pelo comportamento humano, meus personagens não são criações aleatórias e sim explicadas em vários ângulos.Sempre li muito essa matéria, muito antes de cursar a faculdade.O último ano, fiz em Belo Horizonte, na FUMEC, pois me uni ao Eduardo no último semestre do curso. Quais foram os grandes mestres que lhe fascinaram ? Jesus Cristo(eu achava que era a queridinha do filho de Deus), meu pai, Sidarta ("Buda"). Depois Ghandi, a garça, Golda Meir, Martin Luther King, Mandela, meus avós... Tem orgulho consciente e justo da vida que está trilhando? Fico bastante contente com minhas vitórias, respeito as minhas lutas como um desafio a crescer ainda mais. Não sou vaidosa, quanto a premiações, por exemplo. Acho um golpe de sorte que um determinado texto, preenchendo os requisitos básicos de originalidade, correção ortográfica, tenham um estilo que vá agradar justamente àquele tal corpo de jurados entre tantos outros concorrentes. O contrário pode ocorrer: um escrito perfeito, por ser diferente, desagradar...Quando ganhei o prêmio ex-aequo de Primeiro lugar de conto, nos XXIII Jogos Florais do Algarve, em Portugal, por exemplo, eu ficava sorrindo sozinha: "Primeiro Lugar", repetia, contentíssima. Nem pude ir receber o prêmio, porque não consegui um patrocínio. Na premiação constava uma excursão à zona medieval de Portugal e três dias em Hotel. Para a viagem ficar menos cara, era preciso ficar pelo menos uma semana, então eu teria de arcar com os demais dias de hospedagem. Não houve ONG nem órgão governamental que quisesse ajudar. Disseram, de Brasília, que eu teria de ter entrado pelo menos com quarenta e cinco dias antes, com o pedido, da data da viagem. Mas tentei, até esgotar recursos. Recebi, do Governo do Faro, um prato de bronze lindíssimo, onde atrás agradeciam, à contista brasileira, "a presença entre nós". Devem ter gravado julgando que iria .Com o prato, veio uma grande e pesada Medalha com o rosto de Samora Barros, o poeta homenageado e a coletânea. Todos os prêmios e troféus, valorizo, amo... Também tenho a maior alegria de ter trabalhado com população carente, em especial com adolescentes e idosos, famílias, mulheres. Quando fui homenageada na Assembléia Legislativa de Belo Horizonte, no Dia da Mulher, no ano de 2001, já aposentada ,recebi, emocionada, uma placa, mas o que fez-me chorar foi um adulto jovem, de cuja adolescência eu cuidara no Hospital Júlia Kubitscheck, onde criei e coordenei a casa da Criança e do Adolescente, dizer-me, após a cerimônia: "Clevane nenhum de nós que

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passou por você, deu prá coisa ruim". Na realidade, são todos jovens de bem, líderes e empoderados, em franco progresso ou pobreza digna... A Revolução de 64 marcou muito sua juventude? Pode relatar algum fato mais doloroso nessa época de incertezas? Vivi muitas dolorosas experiências, por exemplo, com a prisão de colegas. Um deles, o astrônomo Roberto Guedes era noivo da atriz Marta Sirimarco, que escrevia a coluna de Teatro e foi um horror sabê-lo desaparecido, acompanhar a luta da jovem para conseguir-lhe uma fuga. Muitos anos depois, abri um grande Jornal e lá estava ele, falando de seus queridos astros e estrelas...Muitas pessoas vinham a mim contar torturas, porque papai era militar, tentando ajuda, no entanto ele não compactuou com o regime. Era sargento telegrafista, ficando no seu gabinete, mas quando foi promovido a tenente e teve de sair do casulo, pediu a reforma, mesmo tendo curso até major. Ele, que sempre foi muito bondoso com crianças e animais, adoeceu e teve de ser hospitalizado .Por questões de ética militar, jamais nos contou nada. Eu levava, sem problemas, para almoçar lá em casa, jovens que recolhia, às vezes sem lugar para ir. Um dos lugares onde se escondiam durante o dia, era a galeria de Arte Celina, mantida pela família Bracher, em homenagem à artista morta. Penso que os "milicos", não se lembravam de procurar "subversivos" ali...Muitas vezes, como repórter, fui ameaçada, por exemplo, quando, num evento da Escola Federal de Engenharia, cheguei a um lançamento de livros do Carlos Heitor Cony e do Poerner, com meu amigo Cláudio Augusto de Miranda Sá, fomos recebidos por metralhadoras na mão de jovens PM's. Eu sempre mantinha, nesses momentos críticos, um facies de alienada e nos deixaram ir. Fomos...diretamente para o hotel onde estavam. Fizemos uma entrevista e tanto. Eu sempre publicava tudo. A "Gazeta Comercial", onde escrevia, era a linotipos, então eu ia à gráfica e entregava as matérias diretamente a um linotipista, o Zequinha, de quem era comadre. Quando Rubens Braga, Vinicius de Moraes e Fernando Sabino, bastante reprimidos no Rio, estiveram em Juiz de Fora, o diretor, temeroso das minhas clevanices, disse que não os entrevistasse. Eu queria, inclusive, fotos. Não iria perder a chance de estar com meus ídolos. Liguei então para a redação. Atendeu-me o "Seu" Théo Sobrinho, o dono do jornal. Eu falei: "Seu Theo, o Vinicius chegou". Ele: "Quem o Ministro?" E eu": Sim, o Ministro". O fotógrafo chegou e eu conversei por muito tempo com o trio, ficando encantada porque o Vinicius me elogiou. galante, os longos cabelos, Braga a juventude e Sabino, a "inteligência". O redator chefe, Sr. Paulo Lenz, irmão do diretor, vibrava com minha "coragem", talvez a inconseqüência inocente da juventude... Uma vez um advogado pediu-me, cheio de mistérios, que fosse visitar o irmão machucado, fazer-lhe companhia. O rapaz estava engessado, muito ferido, cheio de alucinações. Haviam conseguido retirá-lo, após tortura. Passei uma tarde dando uma de psicóloga, muito antes de entrar nessa faculdade, horrorizada, penalizada...Jamais contei a meus pais essa visita, para não

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preocupá-los. O pai de uma amiga também desapareceu e quando a mãe dela soube das circunstâncias de sua tortura e morte, urrava, dizendo que o marido era um bom homem e que aquilo era "um insulto de Deus", uma injustiça...Eu, pessoalmente, jamais fui perseguida abertamente, embora sempre tivesse alguém a vigiar-me, em várias circunstâncias. Como surgiu a literatura de forma definitiva em sua vida? Penso que já na escola, queria ser escritora, minhas redações iam "para livros de ouro", eram afixadas no pátio, e, em Itajubá, sul de Minas, onde morei dos doze aos dezesseis anos, fui escolhida para redatora -chefe de um jornal da Escola Sagrado Coração de Jesus,( Irmãs da Congregação da Previdência) chamado Voz das Mil Também tive uma crítica literária publicada na revista da congregação. Como uma premonição, chamei-a..."Sapatilhas e Botinas". Ao retornar a Juiz de Fora, enviei textos a um concurso de crônicas. Passei dias me torturando, achando que nem os leriam porque os temas eram Operária, Satélite e um outro. Para o primeiro, escrevi sobre o trabalho materno, a mãe, "uma operária completa", em vez de falar das mulheres que trabalhavam nas muitas fábricas existentes na cidade. Sobre "satélite", em vez de falar do espacial, falei de pessoas "puxaquistas militantes", que gravitam na órbita de alguém para favorecer-se. E ganhei o primeiro lugar, troféu Domervilly Nóbrega, com Operária....O radialista, mais tarde professor de jornalismo, José Carlos de Lery Guimarães, clamava pelo programa:" senhor Clevane, por favor, apareça, comunique-se, o segundo e o terceiro lugar já apareceram Precisamos marcar a entrega de prêmios". Cleonice Rainho, se não me engano e Marilda Ladeira, foram classificadas, eram mulheres feitas, escritoras já conhecidas, o que me constrangia. A partir daí, minha carreira de escritora ficou definida Mais tarde, estudei, no Vice- Consulado de Portugal, Literatura Portuguesa, com Cleonice Rainho e lhe contei isso. Ela achou muita graça...Um dia, reuni minhas crônicas e levei às redações dos jornais da cidade. Fui aprovada, escolhi a Gazeta Comercial,, onde ganharia menos, mas poderia fazer "de um tudo". E adorei. Seu momento de criação vem de algum acontecimento específico ou pode surgir repentinamente? Às vezes, um personagem chega e se instala, pede-me que conte sua história, insistentemente, fico inquieta enquanto não sento e o imagino, para descrever. Noutras, uma história "lateja" até que a desenvolvo. Não raro, o protagonista muda tudo que eu tinha planejado. Muito observadora, costumo ver acontecências e depois as reconto, com fantasia e criatividade. Não há nenhum método, mas escrever é sempre um prazer, nenhum sofrimento. Se pudesse, escrevia sem parar. Poesias, é só apaixonar-me por uma palavra, que elas se desenrolam da meada poética. É só experenciar uma emoção ou a de outrem, idem...Trovas são mais elaborada, sextilhas e sonetos, idem. Mas transito livremente da poesia concreta ou processo, para os versos brancos, a prosa

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poética. Gosto tanto de haikais, minipoema e agora Poetrix, como dos longos e das crônicas Na Gazeta Comercial tinha, por exemplo, uma coluna diária, chamada Clevane Comenta e, aos domingos, uma página inteira, de Artes e Letras, onde fazia crítica literária, colocava entrevistas, etc. E era só sobrar espaço, que eu escrevia uma poesia...Só ia lê-la no outro dia, quando saia a tiragem...Quando estou triste, escrevo mais. Pode citar algum fato curioso envolvendo seu primeiro nome? Sim, muitos, mas quando eu estava na Gazeta, achavam que eu era homem, mesmo meu nome sendo feminino, a meu ver. À época da minissaia(nos Anos 60), escrevi um artigo na revista "O Lince"(hoje extinta), sobre a nova moda. O desembargador Vasques Filho, de Fortaleza, Ceará, mandou-me longa missiva, de" homem para homem", comentando como se sentia vendo pernas de fora e desejava que "Oxalá as mulheres em breve, passassem a vestir-se como Evas, ou seja, com nada", algo assim. Respondi num papel cor-de-rosa, dizendo-me uma senhorita. A partir daí, nos correspondemos, ele se lembrando da Juiz de Fora que conhecera e mandando-me lindos cartões, pois era aquarelista. Quando eu ia nascer, papai queria um Cleber. Não havia ultra-sonografia, então nasci e ele escreveu numa lista, nomes iniciados por "Cle". mamãe e ele optaram por Clevane, por ser diferente. E tive de ser, à força dessa sinalização... Mamãe, que era parteira, muitas vezes dava seu nome, a pedido das parturientes, às meninas (Terezinha). Quando já havia uma, resolviam dar o meu ou o de minha irmã Cleone. Em sites de busca, já vi algumas "Clevane", todas mais novas que eu. Jamais encontrei pessoalmente, alguma. Curiosamente, meu segundo marido, antes de mim, namorou uma Cleivan... Sou chamada de Cleovane, Cleivane, Clivane,etc. Na Internet há uma poeta Clivânia. Adoro meu nome, que me distingue e marca. Você nasceu numa cidade pequena do Nordeste e foi criada na tradicionalista Minas Gerais , pelo menos há alguns atrás, contrastando com a atuação de uma escritora, poeta e mulher. Sofreu algum tipo de preconceito? Nunca experenciei preconceitos, sempre coloquei-me lado a lado com o homem, lutei e luto pelos direitos da Mulher, e a educação que recebi deu-me sempre muita segurança. tanto o Nordeste quanto Minas são tradicionalistas, Meus pais eram rigorosos apenas em certas questões: caráter, honestidade e... virgindade. Acho que fui a" penúltima donzela" até casar-me... O papel da escritora é usar a palavra como sua arma, na defesa do belo, do amor, sim, mas principalmente, em prol das militâncias sociais, das denúncias, dos exemplos edificantes...

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Sua vida de psicóloga ajuda na composição de seus "cantos"? Muitíssimo, porque a pessoa ,com seus significantes e significados, bem como a palavra, instrumento deles, me fascinam e oferecem suas múltiplas faces para a descrição verbo-poética. O que o desenho, o colorido significou para você e sei que seus leitores gostariam de saber desse seu lado de "artista plástica", entre tantos talentos. Sempre desenhei, mas foi aos doze anos que comecei a desenhar mulheres, porque uma prima o fazia e eu me encantei quase ludicamente, ao ver que podia representar a figura humana também além as coisas. Uma professora, no Ginásio Estadual de Juiz de fora, Nanci Ventura Campi, recomendou-me a Escola de Belas Artes Antonio Parreiras. Adorei e falei com papai , que imediatamente foi lá sondar o ambiente para sua princesinha, e colocou-me como aluna do presidente, Clério de Souza, que assinava como Pimpinela. Ele, rigoroso, ensinou-me a desenhar em perspectiva, sombra e luz, usando o fusain, o crayon, em papel cinza, que era usado nos açougues para embrulhar carne. Até hoje, o reflexo, a sombra e a luz me fascinam. Meu primeiro livro editado chama-se Sombras feitas de Luz(*).O segundo, Asas de Água, possui quatro ilustrações minhas a bico-de-pena e a capa é de meu filho, Allez Pessoa, que herdou meu dom...Fiz, aos quinze anos, uma tela a óleo com professora, mas saí logo da sua escola,, por não suportar cópia, sem poder criar. Autodidata, a partir daí, fiz muitos quadros, que andam pelos brasis, porque viajei muito. Fiz muitos posterpoemas, para exposições. Meu estilo literário é sempre cheio de nuances, como se eu desenhasse escrevendo. Tenho ilustrado livros, criei o Projeto Poesia no Pano, desenhando e escrevendo diretamente em páginas de tecido e montando os livros artesanalmente. Atualmente desenho uma capa e ilustro um livro de contos. Quem é Clevane Pessoa, a psicóloga, a escritora, a poeta? Conseguiria em algumas frases defini-la? *A psicóloga: uma pessoa que gosta de - e respeita - pessoas, sem preconceitos, atenta na relação de ajuda, para que cresçam, se modifiquem para ser mais felizes. Luto pela justiça social, pelo empoderamento da mulher, dos direitos humanos, das minorias necessitadas. Gosto de criar dinâmicas de grupo, técnicas para manejo, fazer oficinas, dar palestras. A relação de ajuda faz-me muito feliz.

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*A escritora: sempre a escrevinhar, com mais de dez livros para editar, sem nenhuma perspectiva de parar de criar, um dia... *A poeta: minha essência reside no castelo mágico da Poesia. Estou e sou perenemente em/cantada por essa feiticeira do Bem... Jornal/Ecos - Agradecemos sua linda entrevista e a oportunidade de ouvi-la e de saber um pouco mais de você.

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TROVASA arte é a essência plástica

a cada coisa do mundo — a criatividade é elástica faz o que é raso, profundo

A empregada, despedida, Sai triste, trouxa na mão... Leva no ventre, uma vida Que é do filho do patrão...

A gestante, carinhosa,

"leva" o bebê, comovida... Sensação maravilhosa:

Guarda, no ventre, UMA VIDA...

A honestidade aprendi

com meu pai, honrado e forte — igual a ele, nunca vi

ser sua filha, é uma sorte...

Ajudando a toda gente amando sem distinção

é que ganha o presente de ter céu com pés no chão...

Ajudar a cada irmão

Fazer tudo o que pudermos — Pois essa é a nossa missão, Se o crescimento quisermos...

A minha alma, em plenitude,

Cheia de luminosidade Faz-se bela, na quietude

Do amor que se faz saudade...

Amo com tal amplitude

Que nem tempo, nem espaço Reduzem a completude

Transmitida quando abraço

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Ao bom Deus, Mariazinha

Pede para devolver Sua Santa mamãezinha

Que morreu pr’a ela nascer...

Ao ver as meias, coitado o vovô pensa:-"Já sei!

Essas, dei no ano passado no retrasado, as ganhei..."

Apesar das tempestades

Meu espírito cansado Tem reservas de amizades Pra cada momento errado.

A primeira vez da gente É gravada por demais!

Mas é como estrela cadente Que ao céu não volta jamais...

As duas rosas do teu rosto De róseas, brancas ficaram, Para mostrar teu desgosto

— Já que os olhos não choraram...

As notas interpretando

Com os pés, pernas, mãos, braços, A moça que está bailando

Vai "escrevendo" com seus passos...

A solidão que me embala

Canta-me tristes cantigas... Será que o silêncio fala?

Serão as sombras, amigas?

Às vezes, o Amor, querida

Pode matar a ilusão... O sol, que dá luz e vida

Traz desgraças ao sertão...

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Às vezes, te trato mal Por coisas tolas, banais — E até zangada, afinal

Te quero cada vez mais...

A verdade é mole ou dura dependendo da impressão

— ou é Bem que assim perdura ou demonstra a escuridão

Ciúme é flor que não se cheira

Por mera premonição, — Ainda assim, erva traiçoeira

envenena o coração

Com lucidez peculiar

Quantos "doidos" são mais certos Que os que pensam acertar

Julgando-se muito espertos...

Com uma luz interior que os "normais" não podem ver,

o cego tem um pendor para "enxergar" o prazer...

Deixe o orgulho, minha gente...

Abandonem tal pecado! — No acerto, é ficar contente! No erro, entender o recado!...

Dentro de mim, choro tanto — E sorri tanto, o meu rosto! — Em riso, torno meu pranto, Para ocultar meu desgosto...

Deus, que escuta toda prece

Atende meu jardineiro A roseira floresce

E há gerânios, o ano inteiro...

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Deve-se amar aos doidinhos São filhos de Deus, também Agem como os passarinhos Não fazem mal a ninguém...

É minha mãe quem me inspira

Os versos do coração: De seu amor, sonora lira, Eu tiro qualquer canção...

Em vão espera um brinquedo

um menininho de rua... Risca no chão, com um dedo,

um foguete e vai prá lua…

Eu fico presa, extasiada, Nas folhas daquele galho,

Pois amo o que é quase nada Como o cristal do orvalho...

Eu sou sempre adolescente Recriando quase tudo

— Inquieta, mas resiliente: Aço puro, com veludo...

Eu vivo há uns tantos anos — De angústia, seculares –

Sofri tantos desenganos Que fiquei imune aos pesares...

Fui "bruxa", ou fada, sabendo Com as ervas curar doentes, Bebês à luz, vim trazendo

Fiz brotar muitas sementes...

Gato pardo e belicoso

Arqueia o corpo robusto, Projeta as unhas, raivoso

Vira um puma no seu susto

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Gatos à noite são bardos E miam versos para a lua

Dizem que então ficam pardos Parecem da cor da rua…

Há gente que vale nada

— Rouba ideias, trai amigos Fazendo os outros de escada,

Ocupando seus abrigos...

Há muito "louco" no hospício

Fazendo tanto escarcéu Por ter passe vitalício

Nos auditórios do Céu...

Há no mistério da fome este mistério profundo:

É Cristo quem se consome Em cada pobre do mundo...

Impossível conhecer Mesmo o presente obscuro:

Tudo pode acontecer Sem fantasiar o futuro

Jamais terei um presente qual o que desejo mesmo:

a presença que está ausente porque no céu caminha a esmo…

Jardineiro os segredos

Das rosas, tem o ceguinho — "Eu tenho olhos nos dedos Sei contornar cada espinho"...

Mentiste sempre, é verdade

— Nunca me amaste, afinal!... Mas não quero a realidade

Mente mais, que não faz mal!...

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Meia dúzia de gatinhos, uns nos outros, enroscados, são novelos bem quentinhos

parecem interligados

Meu canto é de Amor e Paz — Sou humilde passarinho

Que trovas, num leva-e-traz Sai espalhando, de mansinho...

Meu coração galopante

Deixa-me às vezes, sem ar Por tudo que é discrepante Do meu jeitinho de amar...

Meu Deus, por que sofro assim,

Pardal em boca de gato? Se não tens pena de mim, Como ser intimorato?...

Meu mar de amor é abissal Insondável, pois profundo:

— Esconde-me assim do Mal E das invejas do mundo...

Meu mar de amor se renova...

— Será que vou conseguir Na gota de orvalho — A TROVA —

Pôr meu jeito de o sentir?...

Meu pai, menino crescido

Brinca mais que meus irmãos — Meu coração, comovido

Vê os calos em suas mãos...

Meu pai tem vista apurada

excelente pontaria... mas jamais matava nada,

pela sua filosofia...

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Meu sobrenome é Pessoa — Uma luz a me nortear: Ser leal, ser muito boa, a ninguém prejudicar...

Minha mãe!... Quanta saudade

Da passagem, pela Terra, De quem me ensinou a bondade E o perdão – que a paz encerra...

Minha rua, que se aclara

Com a luz do sol, nascente, À tardinha se prepara

E vai dormir com o poente...

Nada é somente difícil

Tudo, mesmo, pode ser. — O impossível só é incrível

Até quando acontecer...

Nada pode contestar O poder da natureza

— Nem o homem a reinventar O que Deus fez com certeza!

Não desejo nunca o Mal,

mesmo a quem mal me trouxe A bondade é bambuzal

de mil folhas e som doce...

Não fiquei gorda, nem chata Ao passar para a meia-idade Sonho sempre — e intimorata

Sigo, sem indignidade…

Não há mulher que não minta

Nos diz um velho refrão... — Tem gordura sob a cinta

E diz "sim" quando diz "não"...

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Não me atingem as palavras De calúnia ou de desdém... Infâmia, tu não me cravas As invejas de ninguém...

Não tendo, medo de nada,

Vivo, porém escondida, Ocultando essa espada

Que faz-me sangrar a vida...

Na tristeza da saudade, O coração faz queixume:

Fugiu-me a felicidade Vai-me chegando o ciúme...

Nenhum carnaval da Terra traz de volta os que se vão - a saudade nos encerra em um fechado salão…

Nesses muros, tão pixados, Vejo os conflitos do povo

— E sinto que os desgraçados Querem ser "homens"... De novo!

No mistério dos vitrais Há captação da energia

Que o Cosmos, às catedrais Manda em plena luz do dia...

Nos opostos, a atração

Forma, às vezes, completude Mas noutras, há combustão Ou barulho em plenitude...

Nossas máscaras do dia

nem sempre nos fazem mal a esconder dor ou alegria de um eterno carnaval...

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Nossos erros nos apontam novas trilhas nos caminhos e os acertos só despontam se afastamos os espinhos

Nos teus olhos, a luz que arde

faz meu espírito brilhar... Fui entendê-los tão tarde! Agora não posso voltar...

No verão, canta a cigarra. Hino à vida, sem razão,

pois a vida a que se agarra finda em meio da canção

Num mundo de faz-de-conta

O insano, bem contente Parece dançar na ponta

De uma lança incandescente

O amor materno é meu ninho — É fogo que não se acaba — É canto de passarinho

Mesmo se a chuva desaba...

O amor oculto, floresce

Qual rara flor, num penedo — Perfume, que remanesce Das delícias de um segredo

O amor que sinto, profundo,

Perseguido injustamente, Sofre as injúrias do mundo Como qualquer inocente...

O que lembra coincidência

Chamo sincronicidade Entre a energia e a essência De que é feita a humanidade

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O aroma é potencialmente Emissário da memória

— Da saudade faz-se agente Para lembrar uma história

O climatério prossegue

E sangro, como quem chora — Embora a mulher o negue

A velhice não demora...

Olhando fotos antigas

Tenho saudades de mim: — Hoje, maduras espigas Ontem, um frágil jardim...

O luar enriquece a rua

Que é tão pobre à luz do dia... — Terá feitiços, a lua?

É de prata, sua magia!...

O ódio é um ácido letal Que derramado em alguém

Causa refluxo e afinal Queima quem mira também

O peru tomou cachaça para ficar bem macio...

Borracho, quebrou a vidraça e fugiu, quente no frio…

Os ladrões sempre se traem — (Há larápios e autores) Se na malha fina caem,

— (Há charlatões e doutores)

Os namorados da rua

Buscam recantos escuros... — Para fugirem da lua

Escondem-se atrás dos muros...

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Os pardais da minha rua, Pela grande quantidade

Formam a casta que atua Pela força da igualdade...

Os teus lábios são macios, Rosas rubras, onde o Amor

Pôs o calor dos estios, Deixou do maná o sabor...

Ouvindo vozes "de fora"

Quantos loucos, conectados Com o Alto, sem demora,

São deste mundo, afastados.

Para fugir das pedradas

O espírito sobrevoa: — Das alturas azuladas

Se assusta... E depois perdoa...

Para harmonizar a mente Pratique meditação,

Queira o bem de toda gente Tenha paz no coração...

Parecem falar sozinhos Os dementes, todavia,

Traduzem, dos passarinhos Os recados e a magia...

Peço a Deus que me transporte

Para uma outra dimensão... — Aqui, despida da sorte Sigo só, na multidão...

Peço a Deus que não esqueça

De me deixar esquecer Todo amor que não mereça A meu lado estar, viver...

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Por te amar ardentemente Eu de ti me aproximei...

— Por te amar profundamente É que depois me afastei...

Primavera o ano inteiro Você verá, onde houver Um amigo verdadeiro

Para o que der e vier...

Qual ave, que melhor canta Quando triste, na prisão, O trovador mais encanta

Se prendem seu coração...

Qual livro em braile, aos meus dedos,

Teu lindo corpo, querida, Ensina-me, sem segredos,

Todos os segredos da Vida...

Qual um cavaleiro errante Condenado a não parar

O meu sonho é bom viajante Corre o mundo sem cessar...

Quando amo, sou uma criança

Com jeitinho de mulher — Inocente... Com malícia,

Qual a flor do bem-me-quer...

Quando eu quero é de verdade (mas como amar de mentira

se, do olhar a claridade revela a secreta lira?)

Quando sabemos que o "amigo"

Rompe o cristal da amizade, Lembramos que há joio no trigo

Dourado da ingenuidade...

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Quando traem nossa amizade Parece que nos falar o ar,

Pois o que não tem lealdade Bem sabe onde apunhalar...

Quantas vezes quem me engana

não sabe que estou fingindo crer na sua palavra insana

e que por dentro, estou rindo...

Quanta verdade é mentira Que o preconceito alicia

— Nem sempre é o certo que inspira As leis que o "society" cria...

Que filhos maravilhosos,

Deus me deu, pra compensar os amores dolorosos

Que fizeram-me chorar...

Queimada numa fogueira Vítima da Inquisição,

A mulher, que era parteira Nasce hoje, sem delação...

Quem é rico, na verdade,

recebeu educação, – o saber não tem idade,

nem se esgota com ação…

"Querida, vamos dançar?"

Diz ele, todo cortês — E a mulherzinha, a brincar.

"E como se dança a três?"

Quero ser doce velhinha Com a memória intocada

— Pintar, escrever sozinha, Amar muito e ser amada...

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Reflexo do Amor, na Terra, É sem dúvida, o perdão:

Jesus o semeou — e ele encerra A chave da salvação...

Se Deus é a Maior energia a Humanidade aquecendo

no céu, sua fotografia é o Sol nos aparecendo...

Saudade... Nunca se sabe

o que ela quer dizer: Lembrança que já não cabe ou vontade de esquecer...

Sei do Bem, Versus o Mal (O lado escuro do mundo,

Que é denotado, afinal Por qualquer Amor profundo!)

Sempre que uma criança mente Ou tem medo de castigo Ou se defende da gente

Ou faz do sonho, um amigo...

Sem usar aspas o "autor" Que plagia, é displicente: Se "cola" de outro escritor Deixa pistas, claramente...

Sinto-me na adolescência: Curiosa, em eterna ânsia, Tendo às vezes, paciência

Sou noutras, sem tolerância...

Sinto-me qual beija-flor

Que é frágil só na aparência: — Bate asas com vigor

— Suga o néctar com paciência...

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Sobe o morro o caixãozinho Levando o recém-nascido

Morreu sem nenhum carinho Volta ao céu, sem ter vivido...

Só quem não ama, não deseja,

mas sem amor, a paixão, simula o encontro, que almeja

uma longa duração…

Sou muito mais carinhosa,

És muito mais exigente — Sou frágil botão de rosa

És temporal inclemente

Tanta criancinha faminta estende a mão sem lograr tocar alguém que não sinta Asco, sem sequer a olhar...

Tem gente que tanto mente conta lorota, faz fita,

Que, da Verdade, descrente, Nem em si próprio acredita.

Tem gente que tanto mente,

Fala inverdades, faz fita, Que, na verdade descrente,

Nem em si próprio acredita...

Todo artista é mensageiro de muita transmutação...

Seu mundo é belo e altaneiro fruto de imaginação...

Tudo pode ter sentido:

— "Se gritar, não vou ouvir"... Diz, à esposa, o marido.

— "Se me ouvir, vou só balir

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Um anjo na escuridão de uma trilha sem carinho estendendo-me Sua Mão iluminou-me o Caminho.

Vale qualquer instrumento

Se o transmissor é bem forte — Lendo nosso pensamento

"Vê passado... "Sabe" a sorte"

Veja o riacho, que andando,

Deseja chegar ao mar... Coitado! Ao mar chegando Nunca mais há de voltar!

Veneno, que devagar, vai minando a relação,

o ciúme faz acabar as forças do coração...

Verde é a cor de meu pai, de arguto esverdeado olha coqueiro que jamais cai, — farda de bom militar...

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OUTROS VERSOS

HAICAIS

( em Haicais, Clevane utiliza o pseudônimo Hana Haruko)

Os risos das crianças: No cristal, bolas de gude

— luzes trepidantes ­

Pássaros canoros

Energia em expansão Almas projetadas...

Gestação do arco-íris

Leveza atestando o efêmero — Bolha de sabão.

Reflexo de prata: Luar despeja-se no mar

— Espelho do céu

Leve borboleta

Vitória sobre a crisálida: Pétalas aladas…

Sons de flauta doce:

Murmúrios edulcorantes - Vento no bambual...

Órgãos musicais

De sonata progressiva: Cigarra insistente

Armadilha bela:

Luz atraindo mariposa - Destinação cruel

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Força dos opostos Espirais de eternidade Yin e yang: você e eu

Pescoços de cisne

Transformam em corações O espaço vazio…

Mini-borboletas

Orquídeas papilonáceas - Só não podem voar

Violinista freme

Libélula com o arco Vibrações no espaço...

Pássaros nos fios

Como notas musicais: Celestiais canções...

A chuva pingando Devassa o botão da flor

De / flora antes da hora...

Pele contra pele

Proximidade de cheiros: Mistura de humores

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POEMAS

De Anjos e de Pássaros

Ergo olhar deslumbramento

vejo anjos sobre cabeças humanas dentro da catedral;

Anjos de ferro negro, esculturas na arquitetura de formas quase profanas

a romper tradição.

Não desabe ó figura milenar, tu que estás

bem sobre mim , que não rezo orações prontas

e somente sei usar o verbo molhado em pranto ou a metáfora cheia de luar.

(...)

Que desabem sobre as cabeças dos poetas os passarinhos em alarido dentro de um mercado,

a parecer kamikaze, suicida em massa,

ao jogar-se do teto ao chão

apenas para bicar migalhas.

São nosso retrato: livres, sem sermos canalhas,

videntes com olhos cheios de palhas a pre/dizer os tempos,

cada fato envolvido no pacote dos tesouros,

crianças e sábios a um mesmo tempo, a chamar atenção pelos voos inusitados.

(...)

Prefiro os pássaros vagabundos

das ruas e das igrejas, mercados e sinais.

Não são artes singulares e belas nem enfeites de catedrais:

os anjos passarinhos de Brasília

estão presos a cabos e suspensos

sobre nossas cabeças a lembrar talvez pecados ,

talento, criatividade embora. Já os pássaros – anjos desde o Egito antigo

têm a missão de carregar almas entre a vida terrena

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e a morada dos deuses.

ALEGORIA DAS PALAVRAS SOLTAS

Que as mãos dos poetas libertem as palavras de conceitos e preconceitos antigos.

Que a voz dos poetas entoe cantos inusitados e muitas vezes inaudíveis aos demais.

Mas que sejam sempre palavras oloROSAS, a perfumar os poros dos amados e dos amigos.

O que vier a mais, será benesse e lucro, e dividendo mais importante que a glória

e a libertação do proprio menestrel. Que os versos sejam livres, com palavras soltas, a resignificar todas as im/possíveis metáforas!

PALMEIRA SOLITÁRIA para Luiz Lyrio, in memoriam

Do alto, para onde cresce

em busca do azul absoluto, a palmeira (quase) antiga,

bela e conformada, vê passar o tempo.

Suporta intempéries e poeira rebrilha rocio ao sol, na terra das gemas.

Um dia, voltará ao pó e renascerá no ciclo da vida.

A ESSÊNCIA DOS POETAS

De metáforas alimenta-se o poeta mas também dos olores mais fragrantes.

faz das eternidades, meros instantes,

quando voa nas asas das alegorias...

Mas de denúncia também vivem os seus versos pois sensível qual bolha de murano

destinada á beleza singular, aquecido pelo fogo da justiça,

consome-se em seu próprio Gilbratar, divino e humano, mero e avatar.

O poeta tem nas mãos,

os segredos da sacra escrita, consagrada aos deuses da Beleza,

mas também ergue o dedo acusatório:

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brilha de indignação seu anular, pois é humanista, artista, esteta

e sabe colocar-se no lugar de seu semelhante...

O poeta escreve sobre seus sentires

e sobre os sentimentos alheios. Sussurra ou brada, conforme a acontecência,

mas é sempre emissário da quintessência que muitas vezes

nessa Terra não encontra lugar...

IMPRESSÃO

A terra é mais que amante-amada: sem ela o tudo cotidiano vira um quase nada...

Com ela, um mínimo amplia-se parecendo a maior riqueza do universo

na transmutação dos ciclos...

DE UM SONHO

Do sonho entressonhado

entreaberta flor de mil pétalas holopetalar

traduz-me as sutilezas e multiplicações

da Palavra... Cheiro os cheiros, coloro as cores,

abro o entreaberto e chego ao self das revelação.

Ao poeta é permitido sonhar e sonhando desvendar

o segredo

CANÇÃO PARA ELIANE POTIGUARA

Sinringe canora, avis rara,

Eliane Potiguara.

Maracá e pena, "mejopotara"

cocar e urucum caneta e papel

diploma e renome: Eliane Potiguara.

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Aluá,beiju, mani-oca

ocara, dança e canta

voz baixa e clara, Eliane Portiguara.

Peixe boi e boto.

uirapuru e boitatá, igarapé, igara,

o avô rio peixes oferece, no livro a letra

aparece, imagina/ação floresce,

Eliane Potiguara.

Pacifista e guerreira, um pé no atavismo,

outro no modernismo, mas sempre fiel às raízes.

Defenda úteros sagrados à terra

e ás lições de continuidade. Quer a mata, mora na cidade,

no asfalto não de ara, mas sua sabedoria dispara

lendas e crenças,

cerimoniais, fitoterapia ancestral,

sempre atual. Eliane Potiguara.

Mulher

que sabe o quer e busca, sobe montanhas

ou busca clareiras para ela nada ocorre à toa

tudo é vestido de muito sentido. Atenta, ouve, fala,

cheira, sente vê.

Na natureza,

a verdade é muito simples, nada no mundo para,

tudo é beleza e partilha. Eliane Poti, Potiguara,

da floresta filha, da cidade adotada,

adapta-se, jamais é uma ilha defende as outras mulheres...

Eli, Eliane, Eliane Potiguara, potiguar, potiguara, poti:

chama a deusa o sol e chama a deusa lua

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essa Nação é mesmo tua, por direito ancestral.

Descendente dos úteros sadios das mães da Terra brasilis,

você é andiroba, seringueira,

guaraná e açaí. roçado e igara,

peneira, tipi-tipi,paná -paná, ati-ati,

voa, ave, voa borboleta,

o caldo da mandioca coa, você é tudo isso e muito mais,

Eliane Potiguara, mesmo se vestir vestidos citadinos e aparecer em salões nas festas...

Mas os olhos de castanhas, os cabelos lisos e escuros,

a cor da pele bonita, sempre apontam que você

é onça nativa, arara. Eliane Potiguara,

Pega o microfone, tecla e fala,

defende a mulher ,a criança, a idosa, pede proteção á iara.

você é forte e poderosa, Eliane Potiguara, "Metade Máscara,

Metade Cara"...

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FONTES:

– Clevane Pessoa de Araujo Lopes. Mix de Haikais e Poetrix. Editora: AVBL, www.avbl.com.br, 2005 – Trovas enviadas pela autora

– http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=723 – Clevane Pessoa de Araújo. Pana-paná. Trovas. Portal CEN. e-book.

– http://clevanepessoa.net/publicacoes.php?categoria=J

– http://www.gargantadaserpente.com/entrevista/clevane.shtml – União Brasileira de Escritores (UBE)

– http://www.gargantadaserpente.com/entrevista/clevane.shtml

A montagem da capa foi realizada com a imagem do mapa do Brasil retirada da internet, a qual não consta a autoria. Se souber de quem é, informe-me, para que sejam dados os

devidos créditos.

Esta publicação não pode ser comercializada em hipótese alguma, sem autorização da autora.

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JOSÉ FELDMAN

Academia de Letras do Brasil / Paraná Cadeira n.1 – Patrono: Paulo Leminski

Presidente Estadual do Paraná Vice-Presidente do Conselho de Ética

Academia de Letras de Teófilo Otoni

Membro correspondente

União Brasileira dos Trovadores/PR Delegado Municipal de Ubiratã

Sociedade Mundial de Poetas

Unión Hispanomundial de Escritores (UHE) Ordem Nacional dos Escritores (ONE)

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