Turismo, cultura e a festa do divino em Alcântara (MA): meu canto ...

187

Transcript of Turismo, cultura e a festa do divino em Alcântara (MA): meu canto ...

  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEAR

    ReitoRJos Jackson Coelho Sampaio

    Vice-ReitoRHidelbrando dos Santos Soares

    editoRa da UeceErasmo Miessa Ruiz

    conselho editoRialAntnio Luciano Pontes

    Eduardo Diatahy Bezerra de MenezesEmanuel ngelo da Rocha Fragoso

    Francisco Horcio da Silva FrotaFrancisco Josnio Camelo Parente

    Gisafran Nazareno Mota JucJos Ferreira Nunes

    Liduina Farias Almeida da Costa

    Lucili Grangeiro CortezLuiz Cruz LimaManfredo RamosMarcelo Gurgel Carlos da SilvaMarcony Silva CunhaMaria do Socorro Ferreira OsterneMaria Salete Bessa JorgeSilvia Maria Nbrega-Therrien

    conselho consUltiVoAntnio Torres Montenegro | UFPE

    Eliane P. Zamith Brito | FGVHomero Santiago | USPIeda Maria Alves | USP

    Manuel Domingos Neto | UFF

    Maria do Socorro Silva Arago | UFCMaria Lrida Callou de Arajo e Mendona | UNIFORPierre Salama | Universidade de Paris VIIIRomeu Gomes | FIOCRUZTlio Batista Franco | UFF

  • CRISTIANE MESQUITA GOMES

    1a EdioFortaleza - CE

    2017

    TURISMO, CULTURA E A FESTA DO DIVINO EM ALCNTARA (MA):

    MEU CANTO NO PODE PARAR.

    SELO TESES E DISSERTAES

  • TURISMO, CULTURA E A FESTA DO DIVINO EM ALCNTARA (MA):MEU CANTO NO PODE PARAR.

    2017 Copyright by Cristiane Mesquita Gomes

    Efetuado depsito legal na Biblioteca Nacional

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

    Editora da Universidade Estadual do Cear EdUECEAv. Dr. Silas Munguba, 1700 Campus do Itaperi Reitoria Fortaleza Cear

    CEP: 60714-903 Tel: (085) 3101-9893. FAX: (85) 3101-9893Internet: www.uece.br/eduece E-mail: [email protected]

    Editora filiada

    Coordenao EditorialErasmo Miessa Ruiz

    Diagramao e CapaNarclio Lopes

    Foto da Capa:Patricia Cunha - Mistura Fina: O Divino em Alcntara

    Reviso de TextoEdUECE

    Ficha Catalogrfica Vanessa Cavalcante Lima CRB 3/1166

    G633t Gomes, Cristiane Mesquita. Turismo, cultura e a Festa do Divino em Alcntara (MA): meu canto no pode parar / Cristiane Mesquita Gomes. Fortaleza: EdUECE, 2017.

    187 p. ISBN: 978-85-7826-466-6

    1. Festejo popular Maranho. 2. Negcio turstico. 3. Cultura. I. Ttulo.

    CDD: 390

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus pelas graas alcanadas em minha vida.Aos meus pais, Manoel e Gesse, a quem devo todo o apoio

    necessrio para a concluso desta pesquisa. Agradeo ao meu marido Alberto Martins pela pacincia e

    esforo empenhado.Ao meu filho Lucas Gomes Martins, irms Rosiane e Liziane

    Gomes e amigos, Edalton Silva e Augusto ngelo, que me socor-reram com ideias e materiais.

    Agradeo ao meu anjo da guarda no Cear, Conceio Nascimento, sem a qual eu no teria concludo tantas etapas.

    Ao querido professor Agileu Gadelha pelas palavras elo-giosas, pelo incentivo e pela aposta de que este livro se faria realidade.

    Minha incansvel orientadora, Luzia Neide Coriolano, que tanto me ensinou. E ao senhor Manuel Coriolano, pelo carinho e apoio.

    s Caixeiras de Alcntara que me proporcionaram tama-nha riqueza de conhecimentos.

  • PREFCIO

    Esse livro resulta do trabalho de dissertao de Cristiane Mesquita Gomes, egressa do Mestrado em Turismo da Univer-sidade Estadual do Cear. O estudo remete ao Maranho e a histrica capital So Lus com foco nas Caixeiras da Festa do Divino, em Alcntara. A autora apresenta a terra boa onde o poeta nasceu, cantada e rimada em contos literrios, em espe-cial por Gonalves Dias que em nostalgia rogava no permita Deus que eu morra, sem que eu volte para l, sem que desfrute dos primores que no encontro eu c, sem que ainda aviste as palmeiras onde canta o sabi, e de forma acadmica e tambm potica Cristiane mostra a realidade do estado do Maranho e as potencialidades tursticas do estado nesse livro intitula-do: TURISMO, CULTURA E A FESTA DO DIVINO EM ALCNTARA (MA): MEU CANTO NO PODE PARAR.

    A autora genuinamente maranhense apresenta ao leitor uma viagem na histria e no espao geogrfico a ilha de So Lus dos azulejos portugueses, dos Lenis Maranhenses, da Baa de So Marcos e da pequena cidade de Alcntara cercada de praias, ilhas desertas e vegetaes, fundada no sculo XVII, que se tornou Patrimnio Nacional pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), desde 1948. Cristiane de forma potica e respaldadas no rigor cientfico apresenta dis-cusses sobre polticas econmicas, sociais, culturais e tursti-cas do estado nordestino que no consegue nivelar-se a outros da regio Nordeste apesar de possuir imensas possibilidades. O Nordeste, rico em negcios tursticos, apresenta ao Pas a Rota das Emoes que integra Jericoacoara, Delta do Rio Parnaba e os Lenis Maranhenses agregando Cear, Piau e Maranho em esforo de fortalecimento do turismo regional.

  • A anlise histrica apresentada pela autora faz o leitor vol-tar aos tempos coloniais e imperiais quando So Lus e Salvador foram as maiores cidades do imprio portugus no Brasil pro-duzindo patrimnio histrico cultural que poderia ser direciona-do para o turismo cultural. Mostra como em muitos lugares a cultura tem sido atrativa para dinamizao de fluxos tursticos, tendo grupos tradicionais de culturas autctones oportunidade de participao na dinmica turstica com pequenos negcios, mas, sobretudo como forma de salvaguardar razes histricas e valores culturais de grupos histricos.

    A autora questiona a realidade das Caixeiras do Divino Esp-rito Santo de Alcntara, que apesar da beleza cultural e da origi-nalidade da forma e do contedo da manifestao cultural com elevado valor de atratividade dado raridade do atrativo en-contra-se ameaada, por falta de polticas culturais e tursticas em Alcntara. Cidade que Centro de Lanamento Aeroespacial do estado, que recebeu escravos tendo importncia histrica e cultural, possui comunidades remanescentes de quilombos de-nominadas quilombolas e mantm padres e festas e costumes afros como as Caixeiras do Divino e o tambor de crioula e mes-mo assim, Alcntara no um ncleo turstico de destaque nos Pas. Essa realidade e festa das caixeiras do Divino Esprito Santo so descritas e analisadas no texto ficando-se com vontade de participar das manifestaes folclricas e religiosas em Alcnta-ra, dado o envolvimento que a autora provoca no leitor.

    Cristiane descreve as caixeiras como mulheres sacerdotisas que h muitas geraes conduzem os rituais festivos da Festa do Divino com o toque das caixas anunciando os complexos rituais religiosos dos cultos festivos que resgatam a herana cultural africana. A pesquisadora levanta questionamentos e preocu-paes sobre as sacerdotisas do Divino que devem chegar aos

  • gestores municipais e estaduais em especial ao trade turstico de So Luis do Maranho.

    O livro de Cristiane que ora nos chega s mos , portanto, leitura imperdvel para todos aqueles que amam o Maranho e que desejam contribuir para o crescimento do estado. Sobretu-do para os que trabalham nas polticas de crescimento socioe-conmico e que podem fazer do turismo um meio de promo-o dos valores culturais dessa terra rica na arte, folclore, com rico patrimnio natural e cultural, conhecida como a capital do reggae. Cristiane e eu, que acompanhei sua pesquisa, espera-mos que essa obra seja disponibilizada para todos os professo-res e alunos maranhenses, governos, empresrios, lideranas comunitrias, ONGs, pesquisadores, para que todos, conhecen-do melhor esse estado privilegiado do Brasil, saibam encontrar caminhos para seu engrandecimento.

    Luzia Neide CoriolanoMestrado Profissional em Gesto de Negcios Tursticos da UECE

  • SUMRIO

    INTRODUO ....................................................................... 10

    CAPTULO 1

    ESTADO POTENCIALMENTE TURSTICO ................................. 18So Lus dos azulejos e portal entrada dos Lenis MaranhensesNcleos indutores de turismo no estadoRota das emoes: negcios tursticos

    CAPTULO 2

    ALCNTARA: BERO DA NOBREZA PORTUGUESA .................. 51A pequena cidade de Alcntara, turismo e culturaVida socioeconmica da pacata AlcntaraCentro de lanamento aeroespacial de Alcntara e comunidades quilombolas

    CAPTULO 3

    CAIXEIRAS DA FESTA DO DIVINO ESPRITO SANTO .............. 104Festa sagrada do Divino Esprito SantoFesta profana em Alcntara: arte e folcloreA Realidade das caixeiras do Divino em Alcntara

    CONCLUSO ....................................................................... 154

    REFERNCIAS ...................................................................... 159

    APNDICES ......................................................................... 174

  • 10

    INTRODUO

    O universo sacro profano da festa do Divino Esprito Santo na cidade de Alcntara no Maranho apresenta imbricadas re-laes com as caixeiras que so mulheres idosas remanescentes de quilombo que dedicam a vida em prol do Divino, apresentan-do diferencial entre as demais caixeiras do estado que tambm entoam as caixas em Terreiro de Mina. O contexto sociocultural extrado do universo das sacerdotisas do Divino em Alcntara se pretende exposto nos captulos desse livro.

    O Maranho est situado a Oeste da regio Nordeste do Brasil, segundo maior estado da Regio, contando com 217 mu-nicpios, em rea de 331.983,293 km. O Estado tem origem na luta entre povos nativos e colonizadores quando, no ano do des-cobrimento do Brasil, espanhis ali se instalaram. Trinta e cinco anos depois, chegam portugueses que tentaram ocupar o terri-trio sem sucesso. E em 1612, franceses, liderados por Daniel de La Touche1, Senhor de La Ravardire, ocupam o Maranho (pela invaso Ilha de Upaon-Au2), originando a Frana Equinocial. A ocupao ocorre em cenrios de lutas e trguas entre portugue-ses e franceses durante trs anos e, no ano de 1615, os portu-gueses expulsaram os franceses pela Batalha de Guaxenduba e retomaram definitivamente a colnia. Em 1641, novo cenrio de guerra toma de assalto s terras da Capitania do Maranho com a invaso holandesa, que objetivava expandir a indstria au-careira com aquisio de novas reas de produo de cana-de

    1 Liderou a expedio francesa que, em 1612, deu incio as pretenses de colonizao no Norte do Brasil.

    2 EmTupinambsignificaIlhaGrande.Adenominaoindgenafoirestabelecidapelacons-tituiodoEstadodoMaranho:Art.8-AcidadedeSoLus,nailhadeUpaon-Au,acapital do Estado.

  • 11

    -acar. Assim, sucessivas batalhas marcam o princpio da hist-ria do Maranho, como em 1642, quando colonos se agigantam na expulso de holandeses das terras e, por trs anos, sofreram intenso despovoamento e destruio de boa parte da Vila de So Lus. Os cenrios de guerra s se dissiparam em 1644, com a retirada dos holandeses das terras maranhenses por falta de reforos. Muitas outras revoltas ocorrem no decorrer da his-tria, pois as condies de vida, em terras maranhenses, eram difceis sob o jugo da coroa portuguesa. assim que os historia-dores como Coelho Netto (1979), Viveiros (1992; 1999) e Lacroix (2012) registram a histria do Maranho.

    E do emaranhado de invases resulta a miscigenao e o sincretismo religioso perpetuado no Estado. ndios, negros, por-tugueses, holandeses, franceses, algum tempo depois, srio-li-baneses contribuem na formao do povo brasileiro e, em es-pecial, do mstico povo maranhense, crdulo de lendas e de f.

    Nesse contexto sincrtico, houve vrias formas de expres-so religiosa e de manifestaes culturais dos maranhenses, em destaque, a Festa ao Divino, herana do povo portugus, objeto de investigao.

    A capital maranhense conhecida como Ilha de So Lus, Ilha dos Amores ou Ilha de Upaon-Au. Compe-se pelos munic-pios de So Lus, Pao do Lumiar, Raposa e So Jos de Ribamar, s margens da Baa de So Marcos, do Oceano Atlntico e do Estreito dos Mosquitos. Com populao estimada em 1.011.943 de habitantes (IBGE, 2010), So Lus um polo turstico do Nor-deste, o principal do estado, compreendendo os municpios que formam a Ilha e a cidade Monumento de Alcntara, prxima linha do Equador, a Ilha dos Amores resulta na maior variao de mar3 do territrio nacional, com alternaes de at oito metros

    3 avariaodonveldasguas,entreumapreamareumabaixa-mar.NoMaranhovariaentre6e8m.

  • 12

    entre mar alta e baixa. A vegetao selvagem um dos maio-res expoentes. Capital brasileira do reggae se tornou conhecida como Jamaica brasileira 4.

    So Lus, no conjunto arquitetnico, guarda antigos casa-res cobertos de azulejos de influncia portuguesa, com cerca de 5 mil imveis dos sculos XVII a XIX, que remontam ao pas-sado de muita riqueza, quando bares (cidados com ttulos de nobreza) e prsperos comerciantes acumularam fortunas. O rico acervo foi tombado em 1997 como Patrimnio da Humanidade pela UNESCO. O acervo colonial abriga reparties pblicas e privadas, lojas, cinemas, museus, teatros, bares, restaurantes e hotis, detm o maior conjunto arquitetnico de origem portu-guesa da Amrica Latina. O casario colonial do Centro Histrico da Capital e de cidades do interior, como Viana, Guimares e Alcntara herana de tempo de riqueza, quando o Maranho era grande exportador de algodo e cana-de-acar, o comrcio algodoeiro e o da cana de acar prosperavam poca.

    Colonizadores portugueses e descendentes reproduziam em solares e casares, o estilo arquitetnico colonial europeu. Utilizaram revestimento em azulejos nas fachadas, ideia funcio-nal que tambm agregou charme e beleza, e se fez marca carac-terstica das construes coloniais maranhenses. Alm de facha-das, os azulejos tambm eram utilizados em painis em casas e igrejas. A arquitetura da poca definida pelo uso de pedras de cantaria5, trazidas de Portugal, sacadas com balces em ferro e mirantes. A rea de casares histricos de So Lus ocupa 250 hectares e envolve trs mil e quinhentas construes. A beleza e

    4 SoLuspalcodograndemanifestomusicaldereggaequeteveincionoBrasilnofinaldadcadade70elogoinvadiuoEstado.onicolugardomundoondesedanaoReggae em pares. Em todo o Estado so formadas radiolas (paredes) de som de alta qualidade, que fazem das festas uma noite de muita animao massa regueira.

    5 Mrmoreportugus,otermocantariaerautilizadoporqueaspedraseramtrabalhadaspelosprofissionaischamadosdecanteiros(profissionaisportugueses)quepreparavamapedra de Lioz dando a ela a forma necessria para ser usada nos cantos e nos portais das residn-cias.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Liozhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Lioz

  • 13

    a importncia histrica do acervo arquitetnico foram reconhe-cidas em 1997, no primeiro mandato da governadora Roseana, pela Organizao das Naes Unidas como Patrimnio da Hu-manidade (ENCONTRAMA, 2009). A capital ostenta no litoral belas praias e dunas exuberantes em extensa faixa litornea. En-tre praias da capital e lagoas dos Lenis maranhenses, tm-se guas lmpidas que desguam em cachoeiras no Sul do Estado. Fazer turismo no Maranho significa experimentar riqueza de paisagens e cultura com todas as peculiaridades. Culturalmente o Maranho reconhecido pelas manifestaes ricas em tradi-o: bumba meu-boi, tambor de crioula, tambor de mina, mani-festaes do condado de reis, pastores e festa do Divino Esprito Santo.

    Na maioria das cidades, celebra-se a Festa do Divino como manifestao local, entretanto, na cidade de Alcntara, realiza-se a pesquisa com maior acuidade, para explicao da tradio das caixeiras da festa, verificao do significado e do que ocorre com o grupo folclrico tradicional que, a duras penas, se man-tm. No contexto histrico cultural, Alcntara a rea investi-gada em contextualizao com a metrpole So Lus, no estado do Maranho.

    Alcntara, pequena cidade cercada de praias e ilhas desertas, fundada em 22 de dezembro de 1648, foi a primeira cidade his-trica amaznica reconhecida Patrimnio Nacional pelo Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN), desde 1948.

    Com a proclamao da independncia, elevada cate-goria de cidade em 1836, e, pela proximidade com So Lus, atraiu aristocratas rurais do Maranho que ali edificaram casa-rios e sobrados. Na dcada de 1850, Alcntara possua oitenta e uma fazendas agrcolas, vinte e dois engenhos de acar, vinte e quatro fazendas de gado e mais de uma centena de salinas, o que lhe conferia posio de destaque na provncia, reconhecida

  • 14

    produtora e exportadora de sal, acar, cachaa, couro, carne, algodo, arroz, farinha, milho e peixe seco. (VIVEIROS, 1999).

    Para chegar a Alcntara, pitoresca cidade-monumento do Maranho, h que se atravessar a grande Baa de So Marcos, em viagem de aproximadamente uma hora e meia de barco. O stio urbano da cidade est centrado no continente, e integra o Golfo Maranhense. O cenrio de antigas ruas caladas de pe-dras, casares, azulejos, igrejas, moradas, fontes e runas resis-tentes ao tempo deixam saltar aos olhos de quem admira a fas-cinante opulncia e riqueza de tempos atrs. Os museus, casas temticas e igrejas guardam o remanso do passado e induzem viagem no tempo.

    As Caixeiras da Festa do Divino, na cidade de Alcntara re-lembram a descida do Esprito Santo sobre os apstolos. uma das mais expressivas festas do calendrio cultural e religioso do Maranho. Pela histria oral sabe-se que a origem da festa portuguesa, derivada da construo da Igreja do Esprito Santo em Alenquer6, nos idos do sculo XIII, por ordem da rainha Dona Isabel, casada com D. Dinis I, de Portugal, festa to singular que chegou ao Brasil no sculo XVI com colonizadores.

    O significado cultural da Festa do Divino Esprito Santo, transformada em atrativo turstico de Alcntara um convite pesquisa. A convivncia da pesquisadora com a comunidade, desde 2008, aproximou-a do significado de prticas culturais locais, especificamente de Alcntara, pelo interesse em inves-tigar a tradio das Caixeiras do Divino e a importncia do lazer e turismo no desenvolvimento do municpio. Dessa forma, res-salta-se a pertinncia da temtica no que se refere ao carter histrico e sociocultural, memria cultural coletiva do residente que tem, nas caixeiras, testemunhas da histria e da tradio do povo alcantarense.

    6 Vila portuguesa pertencente ao Distrito de Lisboa.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Portugalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Distrito_de_Lisboa

  • 15

    Atrativo turstico de todos, a cidade de Alcntara encena a tendncia de atrair turistas por possuir valores naturais, histri-cos, culturais, arquitetnicos, nos ltimos anos, mais direciona-dos ao turismo. No conjunto de atrativos, a Festa do Divino se faz expoente, coexistindo com Caixeiras e toque de caixas com especificidade.

    Dessa forma a pesquisa se faz necessria, principalmente pelo ineditismo, considerando que as Caixeiras do Divino de Alcntara, ao que parece, no foram valorizadas em primeiro plano, seno como apndice de manifestao cultural, em te-ses e dissertaes. Pretende-se, no mais que primordialmen-te, identificar a origem da festa sagrada e profana no Estado do Maranho, relao com os Terreiros de Mina na capital, So Lus, e aporte catlico dado manifestao cultural da cidade de Alcntara. Pelas constataes, investiga-se a real situao das caixeiras no momento hodierno prospectando possibilidades de futuro do festejo na cidade, frente ameaa de extino das mulheres que envelheceram e no h preocupao em perpe-tuar a cultura do toque de caixas pela nova gerao de alcan-tarenses. o que se percebe no discurso dos moradores e das prprias caixeiras.

    Por tudo isso, principalmente pela preocupao das caixei-ras com a continuidade do legado cultural, se justifica a pesqui-sa. Pretende-se, com trabalho investigativo, elucidar o futuro da forte herana cultural, contribuindo para discusses produtivas que envolvam a comunidade alcantarense, caixeiras e dirigentes pblicos, para o futuro responsavelmente pensado e remediado.

    Pelo visto, a tradio das Caixeiras da Festa do Divino Es-prito Santo, resultado da histria sociocultural do Estado do Maranho e da capital So Lus. Pelas particularidades da festa, h ameaa constante ao legado pelo descaso e falta de condi-es de o grupo manter-se coeso em reproduo da prtica do

  • 16

    toque de caixas quando se sabe o significado para manuteno da identidade, lazer, turismo, sobretudo considerado o proble-ma da comunidade com saberes constitudos.

    Em face do convvio com a comunidade, desde 2008, a op-o foi acompanhar o ritual, em 2013, a comear pelo domingo de Pentecostes, incio oficial da festa, at encerramento. A me-todologia exploratria, com abordagem quanto qualitativa. A reviso da literatura sobre o tema levou identificao de con-ceitos bsicos acerca de cultura, turismo, polos tursticos, lazer, festas populares, sagrado e profano e cultura. Adota-se viso crtica frente s anlises, confrontando contradies com inte-resse no conhecimento de conflitos e contradies da realidade do Maranho. Para tanto, verificaram-se fontes da histria, geo-grafia e turismo, com apoio em autores crticos e, assim, defini-ram-se categorias de anlise.

    As fontes para teorizao foram variadas, com o compro-misso de manuteno do foco da investigao. Questionaram-se e contrapuseram-se informaes para no engessamento de verdades como absolutas. Procedimentos metodolgicos envol-vem coleta de informaes, aplicao de questionrios e entre-vistas, registros fotogrficos de passos do festejo, assim como gravaes de ladainhas das Caixeiras e depoimentos sobre a iminente preocupao com o futuro da festa. Aplicou-se tcnica de observao participante, o que levou participao da mani-festao, lado a lado, com as caixeiras, incluindo ensaios.

    Como resultado de observaes anteriores sobre a festa, houve necessidade de entrevista de devotos, caixeiras, festeiros, autctones, visitantes e autoridades locais para entendimen-to de determinaes e relaes locais, fatores relevantes para compreenso do contexto da celebrao da festa e imbricaes com o turismo e economia local. Relaes diretas do festejo, as-sociadas com similares no estado, fizeram compreender as reais

  • 17

    ameaas que pairam sobre as mulheres de Alcntara, dedicadas ao toque das caixas, durante a Festa do Divino Esprito Santo.

    No captulo 1, apresenta-se o Estado do Maranho frente ao potencial turstico que apresenta, principiando com digres-so histrica que remonta ocupao das terras brasileiras, as-sim como se explicitam fatos histricos que resultam em misci-genao na formao do povo maranhense, herdeiro de crenas e prticas culturais ancestrais.

    O captulo 2 ambienta a histria de fundao da cidade de Alcntara, relao com o turismo, vida social e relao do Centro de Lanamento Aeroespacial com as comunidades quilombolas.

    No captulo 3, contextualiza-se a Festa do Divino Esprito Santo compreendendo a realidade socioeconmica de Alcnta-ra e da festa das caixeiras do Divino Esprito Santo, enfim, con-cluses e apresentao de propostas.

  • 18

    CAPTULO 1

    ESTADO POTENCIALMENTE TURSTICO

    O estado do Maranho, na regio Nordeste do Brasil, tem como limites Oceano Atlntico, Piau, estado do Tocantins e Par, em rea de 331.983,3 km. O clima tropical e relevo de costa recortada, assim como a plancie litornea formam dunas e planalto na regio interior do estado. A cobertura vegetal va-riada em destaque: Mata dos Cocais (leste); mangues na regio litornea, Floresta Amaznica (oeste) e Cerrado (no sul). As cida-des mais populosas do estado so a capital So Lus e cidades de Imperatriz, So Jos de Ribamar e Timon. No subsolo h minas de calcrio, ouro, cobre, gipsita, diamante e argila. banhado pelos rios: Balsas, Itapecuru, Gurupi e Mearim (RIOS, 2010). Duas regies se destacam como atrativos tursticos no estado: Chapada das Mesas, com cachoeiras, trilhas e rios, e Lenis Maranhenses com dunas, lagoas, rios e o mar.

    Historicamente, ocorreram lutas entre nativos pela posse da terra, a exemplo do que discorre Lacroix (2012), os espanhis foram os primeiros a passar por c, onde hoje se sabe Maranho, quando do descobrimento do Brasil. A ocupao se confunde com a histria da capital So Lus, pois em 1612 os franceses ocupam o Maranho, no contexto de conflitos entre estes e por-tugueses. Estado do Maranho e Gro-Par7 foram institudos em 1621, para melhoria de defesas e ligao com a Metrpole, j que as relaes com a capital Salvador eram entravadas por consequncia de correntes martimas na costa leste do oceano

    7 Umdos estados coloniais portugueses naAmrica doSul criado no perodo pombalino quandooMaranhomudouacapitaldeSoLus para Belm.IadoNordesteOcidentalataAmazniaOcidental,quandooMaranhoganhousoberaniaesecriouacapitaniadoGroPareRioNegro(Amazonas).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica_do_Sulhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Marqu%C3%AAs_de_Pombalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A3o_Lu%C3%ADs_do_Maranh%C3%A3ohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bel%C3%A9m

  • 19

    Atlntico. Em consequncia do domnio portugus na regio, em 1774, d-se a ruptura entre Maranho e Par, motivada pela for-te influncia portuguesa que resistia na aceitao de indepen-dncia do Brasil de Portugal que somente se consolida em 07 de setembro de 1822. Relevar a questo do domnio portugus, da influncia dos escravos traficados para essas terras e o resultado sincrtico da miscigenao se faz importante para compreenso de vis cultural do povo investigado e estudado na pesquisa.

    Para explorao de terras do Maranho, h compreender a teoria de que o grande serto, ao Sul do estado, fora a porta de entrada para migrantes de paragens brasileiras como conta Coelho Netto (1979) em pesquisa no Maranho do Sul. O pesqui-sador relata que o serto era o lugar mais afastado dos pontos conquistados pelos colonizadores: matas densas, acessos inade-quados, rea de povoados indgenas e variveis que tornavam o cenrio bastante hostil e desafiador. Descreve os primeiros ha-bitantes do Maranho e habitat decorrente de muitos conflitos e resistncias pela posse da terra

    Eram nordestinos os homens que ali no alto serto, no sul deste grande estado, vieram criar a civilizao do gado que se caracterizava na implantao das fa-zendas, com a casa do vaqueiro ou pre-posto, curral, ocupao de terras, apa-recendo assim o seu aspecto fundirio da propriedade, pequena agricultura de sustentao, firmando a conquista defi-nitiva com o afastamento dos gentios, seus primitivos habitantes. (COELHO NETTO, 1979, p. 11).

    O autor perfila princpio de ocupao das entranhas do estado, na contramo do que Lacroix (2012) discorre como pri-mrdio contemplando a ocupao unicamente pelo litoral. Coe-

  • 20

    lho Netto (1979, p. 12) tambm cita os territrios ocupados pela encenao de odisseia dos que atravessavam o rio Parnaba e vislumbravam Pastos Bons e se estendem nos campos e nas agradveis ribeiras at chegar em Tocantins, estabelecendo na poca o conflito de fronteiras entre a provncia do Maranho e as de Gois e Par.

    No traziam escravos, eram brancos, portugueses na sua origem e na sua descendncia, da Bahia e de outros es-tados do nordeste, acompanhados dos mais legtimos brasileiros, nascidos da mesclagem das raas que povoaram ini-cialmente essa grande nao, [...] aven-tureiros e sonhadores que tinham a pri-mazia de possuir o gado e em seguida a terra pela posse imediata [...]. (COELHO NETTO, 1979, p. 12).

    Em instantes primeiros da histria de ocupao das ter-ras, prepara-se, sobremaneira, a miscigenao e o sincretismo religioso, foco da investigao. No sculo XVI, o territrio ma-ranhense era povoado por ndios tupinambs, tremembs e potiguaras, conforme Coelho Netto (1979). O primeiro europeu a irromper o litoral maranhense fora o navegador espanhol Vi-cente Yez Piazn,8 em 1500. Por outro lado, contempla-se a viso de Lacroix (2012, p. 17) ao tratar da invaso das terras do Maranho, ao Norte, invaso por mar:

    Desde fins do sculo XV, europeus, espe-cialmente franceses, vasculharam o lito-ral brasileiro, em relao amistosa com nativos por meio do escambo. Confirma-da a riqueza da regio, a receptividade silvcola e livre da posse dos descobrido-

    8 Navegador (explorador) espanhol, foi co-descobridor da Amrica em 1492 como capito da caravela La Nia, na primeira expedio de Cristvo Colombo.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Velejadorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Exploradorhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Espanhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9ricahttp://pt.wikipedia.org/wiki/1492http://pt.wikipedia.org/wiki/Caravelahttp://pt.wikipedia.org/wiki/La_Ni%C3%B1a_%28caravela%29http://pt.wikipedia.org/wiki/Crist%C3%B3v%C3%A3o_Colombo

  • 21

    res, foi formada uma empresa autoriza-da pela Regente Maria Mdici. Organiza-da a frota, velas lanadas ao mar a 19 de maro e depois de algumas paradas, os sditos dos Bourbon chegaram a Upaon-Au a 6 de agosto de 1612. Escolheram um lugar estratgico, com viso para os dois braos de rios que circundam a ilha e construram o forte principal, em pau-a-pique, nominado de Sant Louis. [...]. Grande parte da comitiva se hospedou nas vinte e sete aldeias da ilha, comple-tamente integrados vida nativa, usan-do os primitivos caminhos como rede de comunicao e os rios em canoas de um s tronco (LACROIX, 2012, p. 17).

    A historiadora ambienta dedutveis relaes miscigenadas ocorridas no perodo, resultado da unio entre europeus e na-tivos at ento nico povo da regio. A chegada dos negros tra-ficados ao Maranho data de 1671, segundo Lacroix (2012, p. 33), quando Padre Antnio Vieira9 sugere ao Rei soluo para o entrave econmico na regio em decorrncia da ausncia de mo de obra indgena (escravizados), como comprova o texto:

    Recuperando o territrio, persistiu o problema da mo de obra. Em 1661, Pa-dre Antnio Vieira sugeriu ao Rei a vinda de negros africanos para o Maranho. Sugesto aceita. Data de 1671 uma pe-tio assinada por leigos e frades reque-rendo ao Senado da Cmara de So Lus a compra de escravos vindos em dois navios estrangeiros, pois do contrrio consumar-se-ia a runa da terra, j muito decadente.

    9 Personalidade do sculoXVII, destacou-se como missionrio em terras brasileiras, defendeu os direitos dos povos indgenas combatendo a explorao e escravizao e evangelizando.

    http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%A9culo_XVIIhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mission%C3%A1riohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_humanoshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ind%C3%ADgenas

  • 22

    Feita digresso histrica sobre os primrdios do estado do Maranho faz-se primordial entender a forma do encontro e mistura dos povos. De fato, o encontro de diferentes povos e o momento histrico principiam o desenvolvimento terico da pesquisa. Compreende-se que a riqueza cultural advinda do processo de desenvolvimento histrico cria legado cultural vasto e rico, que explicita a tendncia do Maranho a ser forte atrao turstica.

    Contemporaneamente, luta-se pelo desenvolvimento eco-nmico significativo, que o estado, com todo o diferencial, oferece atrativos dos mais variados, devido importncia do processo histrico e por ser um dos maiores estados da federa-o: o oitavo maior e somente dcimo sexto posicionado em relao ao desenvolvimento econmico. Regionalmente est organizado em polos10:

    Os vrios governos do Maranho tam-bm vm, ano aps ano, buscando so-lues para o desenvolvimento do Esta-do e para a melhoria das condies de vida da populao. E diante do grande potencial, o turismo se apresenta como uma das opes mais viveis. No Ma-ranho so cinco plos tursticos privi-legiados: So Lus, Floresta dos Guars, Parque dos Lenis, Delta das Amricas e Chapada das Mesas. (ANDRADE FILHO, 2003, p. 22).

    Dividido em dez Polos, acrescentem-se-lhe cinco mais re-centes: Polo Lagos e Campos Floridos, Polo Munin, Polo dos Co-cais, Amaznia Maranhense e Polo Serras (Guajajara, Timbira e Kanela) (MARANHO, 2011a) (Figura 1).

    10Espaogeogrficoclaramentedefinido,compronunciadavocaoparao turismo,envol-vendoatrativostursticossimilarese/oucomplementares.Prodetur/NEII-PolosdeTurismo - ConceitoeEtapasdeImplementao.

  • 23

    O mapa mostra a diviso do Estado do Maranho em Polos Tursticos, de acordo com o Projeto Maranho nico, da Secre-taria de Turismo do Estado.

    Figura 1 - Mapa Polos Tursticos do Maranho.

    Fonte: Maranho (2011a).

  • 24

    O Maranho da regio Nordeste do Brasil, em vizinhana da regio Norte, o que lhe confere diversificados ecossistemas. So 640 quilmetros de extenso de praias tropicais, floresta Amaznica, cerrados, mangues (ENCONTRAMA, 2009). Dada a diversidade, o estado fora dividido em Polos para gesto mais apropriada de questes naturais e socioeconmicas. Tamanha variedade de ecossistemas constitui estado rico em atrativos tu-rsticos. Sobre seu significado, Lage e Milone (2000, p. 28) dizem:

    Os lugares, objetos ou acontecimentos de interesse turstico que motivam os deslocamentos de grupos humanos para conhec-los: recursos naturais, patrim-nio histrico-cultural, manifestaes fol-clricas, realizaes cientficas e outros acontecimentos programados.

    Os recursos naturais constituem ativos tursticos, instru-mento de desenvolvimento socioeconmico e elevao do n-vel de bem-estar da coletividade. H que sublinhar o significado de desenvolvimento na viso de Bursztyn, Bartholo e Delamaro (2009, p. 77), que consideram o desenvolvimento: uma ideia dos anos 1950 que marca a discurso sobre as estratgias polti-cas e econmicas que permitiriam s naes menos favorecidas efetivar a superao da misria. E, na perspectiva de superao da misria, de vida marginal, utilizou-se o termo desenvolvi-mento visando possibilitar crescimento endgeno dos munic-pios do Maranho. Para Carestiato (2000, p. 27)

    A construo do poder endgeno para que um determinado grupo social possa autogerir-se desenvolvendo o seu po-tencial socioeconmico, preservando o seu patrimnio ambiental e superando as suas limitaes, na busca contnua de qualidade de vida de seus indivduos.

  • 25

    A sociedade protagonista da mudana da realidade de universos marginalizados, muitos no estado, rico de povo pobre. uma questo dialtica: se o estado rico em recursos natu-rais e potencialidades tursticas, por outro ngulo, se abstrai em estado singular com gritantes diferenas sociais. Estado de dis-paridades econmicas sob o jugo da hegemonia capitalista con-centradora de riquezas em mos de poucos, enquanto a grande massa vive dissonante de seus direitos, ignorada nas necessida-des e ignorante do que deve ter por direito.

    A advertncia de Coriolano (2009, p. 279) punge a anlise quanto possibilidade de a atividade turstica ajudar a combater a pobreza de pases ou estados mais pobres:

    Os pases pobres so levados a acreditar no turismo como atividade indutora do desenvolvimento, o que no acontece, pois se sabe que o chamado desenvolvi-mento econmico tem base em ativida-des produtivas slidas, com grande res-paldo na industrializao. E que primeiro o lugar precisa crescer e se desenvolver para poder o turismo se estabelecer com sucesso. E se o turismo ocorre sem essa base industrial, tem que fazer esse papel de promover o combate s desi-gualdades sociais.

    Assim, o Estado do Maranho passa por conflitos e con-tradies reveladores de cenrio de diferenas socioeconmi-cas discrepantes e ascendentes, e acredita na atividade turstica como oportunidade de incremento econmico e possibilidade de reintegrao de marginalizados social e economicamente. Dir-se-ia turismo capaz de mitigar desigualdades regionais e lo-cais. A reflexo, luz da teoria miltoniana, ajuda a definir o que so desigualdades regionais do pas, em relao ao Maranho e ao Nordeste.

  • 26

    Diferenas durveis, localmente inter-dependentes e cumulativas entre su-bespaos de um mesmo pas. Condies no somente conjunturais, mas tambm estruturais so responsveis por nume-rosas diferenas durveis, ligadas umas as outras, na escala do espao conside-rado. (SANTOS, 2004, p. 293).

    Desta forma, entende-se Maranho como estado rico em atrativos naturais, culturais, na mesma medida, abastado de problemas e gargalos polticos que dificultam seu crescimento. O entendimento de entraves no estado revela por que Mara-nho no se destaca em desenvolvimento turstico em p de igualdade com estados nordestinos que usufruem de benevo-lncias da atividade.

    So Lus dos Azulejos e Portal Entrada dos Lenis Mara-nhenses

    Fundada pelos franceses, a capital do estado, nica bra-sileira, no nascida lusitana, apresenta arquitetura singular e histria intimamente ligada ao desenvolvimento do pas. Reco-nheceu-se pela UNESCO em 1997 como Patrimnio Mundial, e bem da humanidade. O traado urbano da cidade data do sculo XVIII, conta com mais de cinco mil imveis, adornados com ar-cos, gradis, bandeiras, vitrais e azulejos, com diversidade arqui-tetnica, artstica e cultural mundial. Viana Lopes (2008, p. 11) descreve assim:

    Terra sem males para os tupinambs, eldorado de piratas e colonos, acrpole anacrnica de escritores e literatos, rei-no vodum para os que buscam encanta-mento So Lus cidade e ilha. E como

  • 27

    toda ilha, paraso do imaginado. Mais do que qualquer outra cidade, So Lus revela a cada detalhe, a cada mudana, por mais furtiva, que o resultado do desejo dos homens. [...]. Construram a cidade colonial planejada segundo as normas e fins da Monarquia e da Igreja, mas no sufocaram o misticismo e a sen-sualidade do barroco.

    So Lus foi uma das maiores cidades do Imprio portugus no Brasil, acomodava homens e mercadorias atendendo aos in-teresses da Monarquia. o que se v em pleno sculo XXI:

    uma cidade dentro da outra: a metr-pole traada segundo princpios funcio-nais abraa, em anis virios, a colnia fundada sob leis jesutas e consagrada em ambas contemplam o seu reverso, os subrbios sem limites da Jamaica brasi-leira (assim conhecida mundialmente pela tradio com o reggae). Na ilha en-tre praias, mangues e muralhas, a cidade de alumnio convive com a serpente len-dria que habita suas galerias subterr-neas. (VIANA LOPES, 2008, p. 11).

    Tupinambs, povo nmade, vindo de todas as partes do li-toral brasileiro para a terra de Upaon-Au, diziam-se smbolo de liberdade, e baseavam as atividades na agricultura, caa e pesca. Organizavam-se em vinte e sete aldeias, com cerca de doze mil ndios. Mas, no sculo XVI, exploradores europeus procura no Maranho, do Eldorado lendrio, minas de Potosi11 na Cordilhei-ra dos Andes, desagregam as tribos indgenas.

    11 Localizam-se no cerro de Potos, AltoPeru. Principal centro produtor de prata da Amrica, durante o perodo colonial.

    http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Cerro_de_Potos%C3%AD&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Alto_Peruhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Pratahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Am%C3%A9rica

  • 28

    Diante da perspectiva de explorao da Amrica, o ponto do litoral norte do Brasil foi visitado pelo espanhol Vicent Pian-zon, em 1500 e por outros que vieram em anos seguintes, na inteno de explorar e colonizar (VIANA LOPES, 2008).

    Em 26 de julho de 1612, uma expedi-o francesa composta por trs navios e quinhentos homens, vindos do porto de Cancale sob o comando dos tenentes-generais Daniel de La Touche, Sieur de La Ravardiere, Sieur de Rasily e Aunelles, e Nicolau de Harlay [...] desembarcam no porto de Jeviree (ponta do So Fran-cisco), com o intuito de fundar aqui uma colnia, reforando a povoao origin-ria. (VIANA LOPES, 2008, p. 12).

    Sob a influncia dos franceses, catequizaram-se tupinam-bs internalizando, no cotidiano, prticas do trabalho de coloni-zador. Sculo depois, pela influncia portuguesa, importante dizer da interveno de Jernimo de Albuquerque - primeiro governador do Maranho que, no intento de fortalecer e for-malizar o domnio portugus, organiza a administrao de So Lus, quando o engenheiro-mor do Estado do Brasil, Francisco Farias de Mesquita, elabora o primeiro plano de arruamento da cidade. Da colnia francesa aos portugueses conservaram o agenciamento espacial do ncleo primitivo da cidade, em torno do Forte de Saint Louis, e o prprio uso do forte, serviu para manter a localizao dos edifcios religiosos construdos pelos gauleses. (VIANA LOPES, 2008, p. 13).

    Para fomento do turismo, o programa de Regionalizao e diviso do Estado em Polos coloca o Maranho na rota dos gran-des destinos brasileiros, entre os quais destaca-se o Polo Turs-tico So Lus, que abrange a Ilha de Upaon-au, e mais quatro cidades, alm da capital: Pao do Lumiar, So Jos de Ribamar,

  • 29

    Raposa e Alcntara. A capital aparece, romanescamente dese-nhada, na descrio sinttica de Andrade Filho (2003, p. 23), que apresenta as principais atraes:

    So Lus dispe de belas praias, entre as quais, pode-se destacar: So Mar-cos, Ponta dAreia, Calhau, Caolho, Olho dAgua e Guia. A avenida litornea que liga as principais praias da ilha vem se tornando um ponto de concentrao turstica e, assim, estimulando o sur-gimento de uma srie de negcios em sua extenso. No patrimnio histrico de So Lus (Ma), um dos mais ricos do pas, destaca-se o acervo arquitetnico da Praia Grande (Projeto Reviver), Praa Benedito Leite, Largo do Carmo, Cais da Sagrao, Palcio dos Lees e La Ravar-diere, Teatro Artur Azevedo, Fonte de Santo Antnio, Fonte das Pedras, Largo do Ribeiro, Largo dos Amores e Stio do Fsico; alm de igrejas centenrias, tais como: Igreja de So Jos do Desterro, Igreja de So Pantaleo, Igreja do Car-mo, Igreja da S, Igreja dos Remdios e Igreja de Santo Antnio. (ANDRADE FI-LHO, 2003, p. 23).

    Entre as manifestaes populares, importante citar os festejos juninos, com o tradicional bumba meu boi, apresenta-es de tambor de crioula, quadrilhas e tambor de mina. Expo-nente cultural do Maranho o reggae, que reconhece So Lus capital brasileira do reggae. O acervo cultural dispe de museus: Museu Histrico e Artstico do Maranho, Museu de Arte Sacra do Maranho, Museu do Negro, Museu do Centro de Cultura Po-pular Domingos Vieira Filho, Museu de Artes Visuais e Convento das Mercs.

  • 30

    So Jos de Ribamar, municpio turstico, a 32 km da capi-tal, destino do turismo religioso que faz parte do litoral da Ilha dos Amores, com praias extensas, a mais conhecida a de Pa-naquatira. Oferece culinria baseada em frutos do mar e recebe visitantes diariamente. A cidade de Raposa conhecida pelos bordados manuais e renda de bilro e culinria tambm com base em frutos do mar. A praia da Raposa dista 30 km do centro de So Lus, onde se tem a principal colnia de pescadores. O con-junto urbanstico composto de casas de madeira em que se expem rendas de artess. Destaque-se a praia de Carim, uma das mais atraentes da Ilha.

    A quarta cidade do Polo Turstico de So Lus Pao do Lu-miar, tpica cidadezinha de interior, com reas verdes intocadas. O manguezal fonte geradora de alimentao e renda de mo-radores, cidade atrativa de turismo. A influncia de mars, na maioria dos rios tambm atrai a visitao localidade, pois com o aumento de volume das guas que desembocam no mar, pas-seios de canoas e lanchas se tornam constantes, favorecendo a pesca e apreciao da arrevoada de guars e garas que fazem ninhos no manguezal.

    E a cidade monumento de Alcntara, nica do Polo Tursti-co, que est fora da Ilha. A prpria viagem de barco um convite ao turismo. A cidade de rico patrimnio histrico, forte apelo cultural, com conjunto de atrativos naturais em rota de visitao.

    O modelo de gesto em Polos no foi suficiente para desen-volvimento do turismo. As deficincias do Maranho comeam pela capital e se reproduzem nos municpios, e o modelo de ges-to atinge a pequena vila dos palcios, em cheio. Lacroix (2012, p. 558) coloca o problema da seguinte forma:

    Este centro de atrao turstica e lazer oferecido por bares, restaurantes, lojas de artesanato, livraria, pousadas, comr-cio de alimentos, seria o carto de visita

  • 31

    de So Lus no fora a m conservao dos passeios, dos lampies, dos prdios, das caladas, sarjetas, depositrio do lixo obstrutor das grelhas e tubulaes nas chuvas torrenciais, responsveis pe-los maus cheiros dos esgotos, devido a crnica e m administrao da coisa p-blica, bem como a ausncia da iniciativa privada nas aes de conservao. Esta a cidade de So Lus, cujo permetro an-tigo, parte integrante e representativas das pginas da histria colonial e impe-rial, possui atualmente 5.500 edifica-es, que deveriam ser melhor cuidadas, numa poca de mudana de concepo e valorizao do passado. [...]. O Mara-nho, no entanto, continua descompas-sado das polticas de conservao do pa-trimnio histrico e do meio ambiente.

    De acordo com a crtica de Lacroix (2012), compreende-se que a dimenso dos problemas estruturais do Polo So Lus de-corrncia da gesto pblica, o que implica entraves para as de-mais cidades do Polo e principalmente para Alcntara que, ape-sar de situada no continente, tem acesso mais rpido pelo mar, o que, deveras, dificulta o fluxo de matrias primas necessrias para a alavancada econmica do lugar, tanto quanto legitima a inoperncia dos gestores. O comentrio de Vieira (2011, p. 92) que o Polo So Lus apresenta entraves ao desenvolvimento:

    No Polo So Lus o mais importante do Estado, abarcando a capital e tendo sido contemplado no estudo dos 65 destinos indutores de desenvolvimento regio-nal - a Secretaria Municipal de Turismo tem desenvolvido a Regionalizao por meio do projeto Turismo Integrado na Ilha, envolve os municpios de So Lus,

  • 32

    Raposa, So Jos de Ribamar, Pao do Lumiar e Alcntara uma primeira ten-tativa de desenvolver os municpios de forma integrada como sugere o Progra-ma . O projeto Turismo Integrado na Ilha foi criado para incentivar a atuao dos poderes pblicos e da iniciativa privada na promoo do desenvolvimento da regio. O objetivo maior era local, apro-veitando as reas do entorno, como o balnerio de So Jos de Ribamar, a ci-dade histrica de Alcntara, as belezas naturais da Raposa e de Pao do Lumiar.

    A diviso do estado em polos para potencializar os luga-res, valoriz-los e estrutur-los para, de fato, chegar a patamar de desenvolvimento socioeconmico significativo via turismo. As anlises de Lacroix (2012) e de Vieira (2011) mostram que a ingerncia da capital no tem sido induo ao desenvolvimento regional, a metrpole concentra capitais, projetos e fluxos e no distribui. Com essa compreenso, explica-se a pseudoestagna-o econmica da cidade de Alcntara e a desesperana de que o fato de ser membro do Polo So Lus pouco contribui para o crescimento socioeconmico da cidade.

    importante frisar o novo plano do Estado ao retomar o Plano Maior em 2010 com diretrizes que se estendem at 2020, retomando as possibilidades do Maranho:

    O Governo do Maranho construiu o Plano Maior/2020, instrumento de pla-nejamento, gesto e orientao tcnica das aes da Secretaria de Estado de Turismo. Com esse trabalho, estamos traando um caminho a ser seguido com o objetivo de conquistar os mercados mundiais e atrair visitantes. O Governo trabalha para colocar o Maranho entre

  • 33

    os grandes destinos mundiais, visando gerar emprego e renda para os mara-nhenses, pois turismo hoje um dos seg-mentos econmicos que mais crescem no mundo e o nosso estado tem vocao para o setor. (MARANHO, 2011a, p. 3).

    Em 2010, o Governo, por meio da Secretaria de Estado do Turismo, revisou o Plano Maior dando-lhe novas perspectivas para o turismo nos anos de 2010 a 2020. O objetivo primordial resgatar os resultados alcanados inicialmente para melhoria de produtos tursticos. A proposta agrega valores, define ofertas e traa estratgias de longo prazo definindo o que ser promo-vido, com operacionalizao de curto prazo para aumento de captao de turistas (MARANHO, 2011a). Mediante estratgias de desenvolvimento de produtos e tendo em vista diferentes n-veis de atratividade e desenvolvimento dos Polos Tursticos do Maranho, hierarquizados em trs categorias que definem seu papel no composto turstico do Maranho:

    POLOS INDUTORES: com capacidade de mxima rentabilidade pela melhor oti-mizao de oferta atual e de produtos existentes em curto e mdio prazos. So, assim, capazes de induo de desenvol-vimento turstico e catalisao do desen-volvimento dos demais polos.

    POLOS ESTRATGICOS: estrategicamente importantes para diversificao de ofer-ta, a mdio prazo, pelo potencial de atra-tividade e por questes de acessibilidade.

    POLOS DE DESENVOLVIMENTO: os que necessitam de altos investimentos em desenvolvimento para atingimento dos mesmos nveis de rentabilidade dos Po-los Indutores: em todos os estados as ca-pitais so principais polos indutores.

  • 34

    A reconfigurao revela que a capital se mantm em des-taque no s pelos prprios atrativos histricos e culturais, mas tambm por ser o grande porto de entrada ao turismo no esta-do e a principal cidade do Polo So Lus.

    Lenis maranhenses mantm posio estratgica na capta-o de demanda turstica. Chega-se ao Parque dos Lenis pelo aeroporto Cunha Machado, de So Lus pela BR 135, pela MA 110 e BR 402 at Barreirinhas. Situa-se o Parque no litoral oriental, abrangendo os municpios de Barreirinhas, Santo Amaro do Ma-ranho, Primeira Cruz e Humberto de Campos.

    Lenis so mundialmente conhecidos pela extensa faixa de dunas e lagoas de guas cristalinas (Figuras 2 e 3). Lagoa Azul e Lagoa Bonita so os pontos tursticos mais visitados no interior do Parque. Na regio est o Rio Preguias, responsvel pela diviso das Dunas em Pequenos e Grandes Lenis. No percurso, encon-tram-se comunidades pesqueiras de Cabur, Atins e Mandacaru, habitado por comunidades indgenas pesqueiras.

    Figura 2 - Lagoa dos Lenis Maranhenses.

    Fonte: GOMES, C.M, 2013.

  • 35

    Figura 3 - Parque Nacional dos Lenis Maranhenses.

    Fonte: Maranho (2011a).

    O Parque Nacional dos Lenis Unidade de Conservao criada pelo Decreto Lei no 86.060 de 02 de junho de 1981 (BRAS-LIA, 1981), com rea de 1550 km2 e limites ao norte com o Ocea-no Atlntico, ao sul com o municpio de Santo Amaro e Barreiri-nhas, ao leste Municpio de Paulino Neves, ao oeste municpios de Santo Amaro e Primeira Cruz (Figura 4).

    Figura 4 - Parque Nacional dos Lenis Maranhenses.

    Fonte: Lenis maranhenses (2013).

  • 36

    O Parque Nacional para preservao de ecossistemas na-turais, com rios e lagoas interdunares de diferentes tamanhos e profundidades, campos, plancies, lagos, mangues, vegetao de restinga, buritizeiros e juarais ou aa. A dinmica das dunas pelos ventos marinhos provoca o fenmeno de mobilidade de dunas mveis com mais de 50 m de altura. Flamingos, jaburus de pescoo vermelho e aves migratrias se tm no Parque. Na fau-na encontram-se tambm diversas espcies de peixes e maris-cos, assim como espcies de tartaruga que desovam nas praias dos Lenis Maranhenses.

    Os principais municpios tursticos de domnio do Parque so Barreirinhas e Santo Amaro.

    Ncleos Indutores de Turismo no Estado

    O Projeto Destinos Indutores do Desenvolvimento Tursti-co Regional, segundo o Ministrio do Turismo, que define pa-rmetros, avalia o estgio de desenvolvimento e elabora plano de ao para que 65 destinos indutores do turismo, no pas, te-nham competitividade em nvel internacional. A primeira edio do estudo em 2008 apresenta estgio de competitividade turs-tica de destinos do Pas: no Maranho, os principais indutores so Barreirinhas e So Lus (Figura 4).

    Para o Ministrio do Turismo, o municpio indutor quando competitivo e, para o rgo, a competitividade: no se trata de um municpio ser melhor do que o outro, mas sim de cada um se superar ano aps ano, proporcionando ao turista uma expe-rincia cada vez mais positiva. (BRASIL, 2010). Ou seja, o muni-cpio precisa de resultados crescentes e qualitativos na balana comercial, superando-se ano a ano. Para a Secretaria de Turismo da Bahia, um dos destinos de destaque, destinos Indutores so municpios com maior e melhor infraestrutura e com atrativos qualificados, identificados com pesquisa de consultores realiza-

  • 37

    da pelo Ministrio do Turismo. Os destinos recebem do Minis-trio do Turismo orientao e treinamento para elaborao e desenvolvimento do plano de aes com competitividade para atendimento de demandas nacionais e internacionais. So res-ponsveis pelo desenvolvimento na regio turstica.

    Os Destinos indutores so aqueles que possuem infraestrutura bsica e turstica e atrativos qualificados, que se caracte-rizem como ncleo receptor ou distri-buidor de fluxos tursticos, isto , capa-zes de atrair e distribuir um significativo nmero de turistas para seu entorno e dinamizar a economia do territrio em que esto inseridos. (TOMAZZONI; POS-SAMAI; LOVATEL, 2010, p. 17).

    So Lus como municpio indutor do turismo, se destaca em atrativos histricos, tursticos e naturais. Casarios secula-res, com azulejos franceses, holandeses, ingleses e portugueses pintados mo, marcam as principais atraes locais, conforme Figuras 5 e 6. Ilha cercada de praias de guas calmas abriga sig-nificativo conjunto arquitetnico da Amrica Latina: mais de mil construes na rea declarada Patrimnio Mundial pela UNES-CO no Centro Histrico de So Lus.

  • 38

    Figura 5 - Centro Histrico de So Lus.

    Fonte: GOMES, C.M, 2013.

    Figura 6 - Azulejos e fachadas de herana portuguesa.

    Fonte: GOMES, C.M, 2013.

  • 39

    No Maranho o Plano Estadual de Turismo denomina-se Plano Maior, assim definido:

    O desenvolvimento turstico tem como objetivo criar e definir produtos a partir dos recursos, entendendo-se por Recur-sos o conjunto de atrativos naturais e culturais de um territrio, criados e con-servados por seu povo ao longo da hist-ria. Para os recursos h que definir o que se pode realizar propondo um conjunto de atividades: visitar, assistir, participar, estudar, comprar, comer, dormir etc., mediante uma proposta de acessibili-dade, envolvendo horrios de funciona-mento, formas de chegar e preos, pre-viamente definidas pelos proprietrios e gestores dos recursos. (MARANHO, 2011a, p. 10).

    Assim, o processo de desenvolvimento, a exemplo do Plano Maior, exige atuao sobre infraestruturas e servios pblicos relacionados com recursos (comunicao, transportes, sanea-mento bsico, sade); age tambm sobre equipamentos e servi-os do setor turstico (hotis, restaurantes, agncias de viagem, empresas de aluguel de carros, servios de guias etc.); e sobre a capacidade das pessoas que vivem e prestam servios ao tu-rismo; sobre a prpria organizao da atividade especialmente em mecanismos de planejamento, gesto e na legislao (MA-RANHO, 2011a). Os Planos de turismo, em todos os estados, ampliam fluxos tursticos no territrio nacional. Figura 7: 65 des-tinos indutores de turismo no Brasil.

  • 40

    Figura 7 - Os 65 destinos indutores de turismo no pas.

    Macrorregional Norte MacrorregionalCentro-OesteN UF DestinoIndutor N UF DestinoIndutor

    1 AC Rio Branco 35 DF Braslia 2

    AMBarcelos 36

    GO

    AltoParaso3 Manaus 37 Caldas Novas4 Parintins 38 Goinia5 AP Macap 39 Pirenpoles6

    PABelm 40

    MSBonito

    7 Santarm 41 CampoGrande8 RO PortoVelho 42 Corumb9 RR Boa Vista 43

    MTCceres

    10TO

    Mateiros 44 Cuiab11 Palmas MacrorregionalSudeste

    Macrorregional Nordeste N UF DestinoIndutorN UF DestinoIndutor 45 ES Vitoria12

    ALMacei 46

    MG

    Belo Horizonte13 Maragogi 47 Diamantina14

    BA

    Lenis 48 OuroPreto15 Maragogi 49 Tiradentes16 MatadeSoJoo 50

    RJ

    AngradosReis17 PortoSeguro 51 ArmaodosBzios18 Salvador 52 Parati19

    CE

    Aracati 53 Petrpolis20 Fortaleza 54 RiodeJaneiro21 JijocadeJericoacoara 55

    SPSoPaulo

    22 NovaOlinda 56 Ilhabela23

    MABarreirinhas MacrorregionalSul

    24 SoLus N UF DestinoIndutor25 PB JooPessoa 57

    PRCuritiba

    26PE

    FernandodeNoronha 58 FozdoIguau27 Ipojuca 59 Paranagu28 Recife 60

    RSBentoGonalves

    29PI

    Parnaba 61 Gramado30 SoRaimundoNonato 62 PortoAlegre31 Teresina 63

    SCBalnerioCambori

    32RN

    Natal 64 Florianpolis33 TibaudoSul 65 SoJoaquim34 SE Aracaju

    Fonte: Rio de Janeiro (2013).

  • 41

    So Lus, como municpio indutor do turismo no Estado, apresenta atrativos peculiares: culinria base de frutos do mar, camaro, sururu, caranguejo, siri, pescada, robalo, tainha, curimat, mero, surubim e peixes de gua doce e salgada. Pra-tos de destaque: sarrabulho12, dobradinha, mocot13, carne de sol, galinha ao molho pardo14, acompanhados da tpica farinha dgua15 ( base de mandioca em forno artesanal). Na cozinha maranhense destacam-se arroz-de-cux16, smbolo da culinria do Maranho feito com mistura de gergelim, farinha seca, cama-ro seco, pimenta-de-cheiro e ingrediente especial vinagreira (hortalia de origem africana muito comum). O mais novo ex-poente das peculiaridades da Ilha o guaran Jesus de sabor peculiar e colorao rosada, com expressividade nacional. So Lus tambm bero de famosos poetas: Aluisio de Azevedo e Artur Azevedo, Bandeira Tribuzi, Ferreira Gullar e tantos outros.

    Das principais festas folclricas, destacam-se bumba meu boi, festas juninas e tambor de crioula (tombado como Patrim-nio imaterial Nacional), elementos primordiais que endossam a capital maranhense como um dos principais municpios induto-res do turismo.

    Barreirinhas, consolidada municpio, no final do sculo XVIII, uma pequena cidade de referncia agrcola, onde se cul-tiva primordialmente mandioca, caju, laranja, melancia, arroz, cana-de-acar, coco da praia, milho, feijo e banana. Figura 8: beira rio de Barreirinhas, s margens do rio Preguias, um dos principais pontos tursticos.

    12Pratoculinriotipicamenteportugus.Guisadodemidosdoporco ou cabrito, ligado com sangue e geralmente temperado com cominhos. um prato tpico do norte de Portugal.

    13 Prato baseado em patas (de vaca) sem casco ou extremidades de bovinos.14Pratobasedegalinhadaterra,criadanoterreiro,guisadacomsangue.15Feitacommandiocadescascadaeamolecidaporcercade4diasemguacorrente.16Prato tpicoda cidadedeSoJosdeRibamar. servido comoacompanhamentopara

    frutosdomar,comotortadecaranguejooudecamaroepeixes.Abasedestapreparaoa vinagreira, (Hibiscus sabdariffa).

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Porcohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bodehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Sanguehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cominhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Portugalhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Bovino

  • 42

    Figura 8 - Cidade de Barreirinhas.

    Fonte: Aldeia gLobal (2013).

    Na cultura pecuria, destaca-se a criao de caprinos, base da alimentao. Os principais atrativos so o Rio Preguias, la-goas Azul, Bonita, dos Peixes, dos Bentos e lugarejos como Ca-bur, Vassouras, Atins e Alazo. Das principais manifestaes culturais, avultam-se as danas de So Gonalo e bumba meu boi, assim como vaquejadas e Festas Religiosas, de Nossa Se-nhora da Conceio e de Santa Rita. A cidade principalmente conhecida pelo artesanato do local base de fibra de buriti, tambm pela artesania em barro e madeira e gastronomia des-tacam-se os pratos a base de frutos do mar, a galinha caipira, o arroz de coco e de cux. O conjunto do Patrimnio histrico apresenta construo que remonta ao sculo XIX, na Fazenda de Santa Cruz e Igreja Matriz. Antecedendo a todos os atrativos, o municpio principalmente o grande porto de entrada para Lenis Maranhenses.

  • 43

    Em 2010, sugere-se a insero do municpio de Carolina entre os principais municpios tursticos do Maranho. Um dos principais atrativos de Carolina a cachoeira de Itapecuruzinho (Figura 9).

    Figura 9 - Cachoeira de Itapecuruzinho em Carolina.

    Fonte: Peloso, 2013.

    Carolina est centrada no Plo Turstico Chapada das Me-sas (Figura 10), em demanda constante de visitantes no ano.

  • 44

    Figura 10 - Rapel na Chapada das Mesas.

    Fonte: Maranho (2011a).

  • 45

    Rota das Emoes-Negcio Turstico

    A Rota das Emoes um roteiro turstico que parte das reentrncias maranhenses ao encontro dos estados do Piau e Cear. Destacam-se Jericoacoara no Cear, Delta do Parnaba no Piau e Lenis Maranhenses no Maranho, pela regio do extremo norte do nordeste brasileiro. Desde 2007, a unio dos governos de 3 estados, com apoio de empresrios de turismo, ajuda a promoo de roteiro recente, j reconhecido no pas. Municpios da Rota:

    Araises, MA

    Barreirinhas, MA

    Paulino Neves, MA

    Santo Amaro, MA

    Tutia, MA

    Cajueiro da Praia, PI

    Ilha Grande, PI

    Luis Correia, PI

    Parnaba, PI

    Barroquinha, CE

    Camocim, CE

    Chaval, CE

    Cruz, CE

    Jijoca de Jericoacoara, CE

    http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;http://www.rotadasemocoes.com.br/a-rota.html#javascript:;

  • 46

    Figura 11 - Estados da Rota das Emoes.

    Fonte: Brasil Planet (2013).

    O roteiro integrado resultado do Projeto da Rede de Coo-perao Tcnica para a Roteirizao 1 edio, implementado pelo SEBRAE e Ministrio do Turismo, desde 2005. A proposta en-volve lideranas locais, empreendedores e entidades para o de-senvolvimento integrado da regio.

    O SEBRAE desenvolve trabalho nas comunidades ao longo da rota, valorizando a cultura local, capacitando para a atividade turstica. Em 2009, a Rota das Emoes foi eleita Melhor Rotei-ro Turstico do pas, pelo Ministrio do Turismo, no 4 Salo do Turismo.

    O circuito (Figura 12) apresenta congruncia entre os trs estados e pontos de interseo da Rota.

  • 47

    Figura 12 - O circuito Rota das Emoes.

    Fonte: Mapa das rotas (2013).

    Figura 13: aventura a que se submetem os trilheiros da Rota das Emoes, em transporte off road a lugares de difcil acesso, com travessias de rios e lamaais que automveis comuns no conseguiriam faz-lo.

    Figura 13 - Jipes na trilha.

    Fonte: Rota das emoes (2013).

  • 48

    A Rota das Emoes destino de referncia nacional e in-ternacional, pelos produtos nicos, diferenciados, que integram natureza, aventura, esportes relacionados a vento, gua e cul-tura, em praia. A ideia nasceu em 1970, do piauiense Everardo Montenegro, que criou Projeto CEPIMAR que une sigla dos trs estados, em 2005, implementada por intermdio da unio de esforos entre SEBRAE e Governo Federal. A partir de ento se aloca infraestrutura em localidades contempladas pelo roteiro em benefcio de 14 municpios abrangendo trs estados forta-lecidos com:

    Compromisso com o desenvolvi-mento sustentvel e melhoria da qualidade de vida das comunida-des;

    Fortalecimento da governana lo-cal;

    Efetivao do processo de integra-o em todas as instncias, vivncia de experincia de grande significa-do ao turista;

    Observncia de polticas pblicas nacionais, estaduais e municipais, voltadas para o turismo (ROTA DAS EMOES, 2013).

    No segundo semestre de 2012, o SEBRAE iniciou aes de qualificao de empresrios e trabalhadores do roteiro para for-talecimento de competitividade do destino e estmulo aos fluxos nacionais e internacionais de turistas.

    A ideia do projeto, intitulado Rota das Emoes e novos desafios, implantar um processo contnuo de qualificao, abrangendo aspectos de estrutura, aten-

  • 49

    dimento, gesto e sustentabilidade das empresas envolvidas com a atividade tu-rstica no territrio do roteiro. Alm dis-so, a novidade estimular a participao das empresas nos programas de certifi-cao em turismo disponveis no Brasil, como o Bem Receber do Ministrio do Turismo (MTur) e o Aventura Segura, da Associao Brasileira das Empresas de Turismo de Aventura (Abeta). (PORTAL DO CEAR, 2012, p. 1).

    Segundo o SEBRAE, a oferta est em vigor sob o ttulo: Coo-perando para uma Rota das Emoes Melhor - O Territrio o Negcio (RIBEIRO, 2013).

    Figura 14: dimenso do atrativo turstico, pauta de mat-rias em vrios tipos de mdia.

  • 50

    Figura 14 - Matria de jornal sobre Rota das Emoes.

    Fonte: Rope (2011).

  • 51

    CAPTULO 2

    ALCNTARA: BERO DA NOBREZA PORTUGUESA

    Volta ao incio da colonizao europeia, no Brasil, ajuda no entendimento do Maranho e modo de vida alcantarense que guarda, na gnese, legado de lutas, falncia e sobrevivncia que resultam no cotidiano moroso do lugar. Figura 15: runas, cons-trues da poca do Imprio e antigos palacetes corrodos pelo tempo, cones da paisagem.

    Figura 15 - Runas de Alcntara.

    Fonte: GOMES, C.M, 2013.

  • 52

    De Alcntara trajada de gala cidade simples e pacata, ce-nrio de runas que contam a histria da colonizao, h contro-vrsias sobre o surgimento, h quem afirme precedncia a So Lus, como mostra Viveiros (1999), entretanto, ele prprio cita, em primeira nota de rodap, no livro sobre Alcntara, o passado econmico, social e poltico. Diz o autor:

    Alcntara no tem, na histria, prece-dncia sobre So Lus. imprpria e inadmissvel a comparao de cidade com aldeia indgena. Mesmo que assim no fosse, nada autorizaria tal conclu-so, pois quando a expedio francesa chegou ao Maranho, encontrou aldeias tanto em Tapuitapera quanto em Upaon-au. E as daqui eram mais numerosas que as de l. (VIVEIROS, 1999, p. 15).

    O autor segue narrativa idlica sobre o valor de Tapuita-pera aos olhos dos franceses, aqui chegados na expedio de La Ravardire, com desembarque no Porto de Jevire, na Ilha Grande do Maranho, em 1612.

    Na mataria densa que al lobrigavam, do outro lado da baa, numa distncia que no chegaria a 4 lguas, em fertilssimas terras do continente, souberam existir um aglomerado de aldeias, de 15 a 20, com uma populao que no seria erro calcular em 8.000 habitantes. Dessas aldeias no faltou quem lhes desse os nomes, dos quais os cronistas da expe-dio guardaram apenas os principais: Tapuitapera (residncia dos tapuios ou cabelos compridos), Siriji (rio do siri), Je-nipa-ip (jenipapo), Miriti-ip (miritizal),

  • 53

    Caaguiria (sombra do mato), Pindotiua (palmeira), Arui-ip (lugar de sapos), Ta-pui-tininga (cabelo seco), Iguaraupaba (estncia de canoas, porto). (VIVEIROS, 1999, p. 15).

    necessrio explicar o surgimento de Alcntara em rela-o a So Lus, para que se possa chegar ao ponto principal da pesquisa: a herana cultural do povo. Para tanto, os alicerces de Viveiros (1999) sugerem como marco histrico o hiato entre os anos de 1616 e 1618, como possibilidade de incio da coloniza-o portuguesa de Tapuitapera. O autor destaca a lentido do desenvolvimento, tambm no restante do litoral brasileiro, no perodo, mas elege a paz, em Tapuitapera, elemento sobrele-vante em relao aos congneres.

    A comunicao de Alcntara com os ou-tros lugares no era s martima; havia tambm as terrestres. De l partiam trs estradas: a do Pirau-au, que ia ao Gro-Par, passando por So Joo de Cortes, Guimares, Pindoval, Flexal, Sacramento e margens do Rio Turi, que foi, mais tar-de, o limite civil e militar do Maranho com o Par. (VIVEIROS, 1999, p. 32).

    O progresso s viria em 1648, quando da aldeia elevada categoria de vila, mesmo perodo em que se construram, em Alcntara, os primeiros engenhos de cana. Dois anos depois, a produo passa a ser escoada mediante embarcao martima. , se no fundamental retornar ao tempo para ressaltar o s-culo XVII, com identificao da primeira empreitada de trfico negreiro para Tapuitapera, em decorrncia da inapetncia ind-gena para o trabalho submisso.

  • 54

    Tambm muito cedo, os colonos de Coelho de Carvalho compreenderam que, enquanto o esforo exigido do escravo ndio foi o de abater rvores, transportar os toros aos navios, caar, pescar e guiar os exploradores no mato virgem, ele foi dando conta do trabalho servil, mas no dia em que foi arrancado de seu meio fsico e do seu ambiente moral, para as tarefas dos canaviais, dos algodoais e dos mandiocais, ele deixou-se abater, envolvendo-se numa tristeza de introvertido e ficando intil e inca-paz, dentro do sistema de colonizao, que ia criar a economia brasileira. Por isso, depois das razes de Matias de Al-buquerque e de Bento Maciel Parente, na primeira metade do sculo XVII, o co-lonizador de Tapuitapera deixou a india-da entrar em sossego e seguir o rumo de sua emigrao para o norte. No pro-curou pre-la. Substituiu-a pelo negro, evitando assim uma dupla guerra, com o ndio e com o jesuta, seu protetor. (VIVEIROS, 1999, p. 54).

    Desta feita, Alcntara fez-se forte centro de trabalho servil de negros advindos do continente africano, o que poca no fugia ao normal em, praticamente, todas as naes. o ponto histrico preponderante que se busca para explicao do legado cultural da cidade de Alcntara. Nesse momento, mesclam-se ndios, europeus e negros. Figura 16: ao centro a imagem do pelourinho que representa o passado de sofrimento da mo de obra escrava do incio da colonizao, um dos principais cartes postais da cidade.

  • 55

    Figura 16 - Pelourinho da Praa da Matriz Alcntara MA.

    Fonte: GOMES, C.M, 2013.

    Pela miscigenao, tem-se o expoente dos resqucios da Festa do Divino, recebendo influncias da insero africana por estas terras. Assim, por esse motivo, por todo o sculo XVIII, Alcntara se disse celeiro do Maranho, at o sculo XIX.

    Nomes ilustres despontaram no cenrio nacional, com ra-zes fincadas em terras de Alcntara: Antnio Joaquim Franco de S, filho do Senador de mesmo nome e de D. Lucrcia Rosa Costa Ferreira, nascido em 1836 e outro, nascido em 1841, tam-bm Senador de nome Felipe Franco de S. Assim como Carlos Fernando Viana Ribeiro, nascido em 1854, filho do Baro de Gra-ja, tambm se dera carreira poltica. E entre tantos outros, ressalte-se o nome de Incio de Viveiros Raposo, neto de um dos heris da independncia. Muitos outros foram grifados na histria do pas, advindos dos rinces alcantarenses, como des-crito no livro Alcntara, no passado econmico, social e poltico.

  • 56

    A Pequena Cidade de Alcntara, Turismo e Cultura

    Antes de revelar-se a trajetria da construo sociocultural da cidade de Alcntara, mister conhecer definio de cidade e pequena cidade.

    O conceito de cidade, segundo Souza (1999), vincula-se materialidade do espao construdo, bem como ao conjunto de infraestrutura, equipamento e toda a materialidade de vida coletiva de indivduos em coabitao, em espao concreto. En-quanto pequena cidade um adjetivo, que remete noo de tamanho, dimenso e no caso das cidades, uma associao entre pequeno nmero de habitantes com pequena rea no sentido mensurvel ocupada por uma cidade. (FRESCA, 2008, p. 47).

    Antes de configurar-se pequena cidade, nos primrdios da aldeia dos ndios Tapuitapera, at a constituio do municpio de Alcntara, decorreram 350 anos. Os costumes resultam da mis-tura de raas e do rano da segregao social entre aristocratas brancos, dos clebres casarios do sculo XVIII, de indgenas e negros serviais, responsveis diretos pela herana cultural tra-zida da frica que resiste at os dias de hoje. Afirma Montello (1978, p. 84) que.

    Alcntara, no seu conjunto, ter, quanto muito, cinquenta ruas, incluindo becos e travessas. Parece menor, cercada pela vegetao densa que a vai invadindo. De longe, ao ver um p de mamona num beiral de sobrado, tem-se a impresso de que a mata j plantou ali no alto o seu pendo de conquista. Em breve, por cima do telhado, enramaro as trepadei-ras. No entanto, tarde da noite, muitos destes imponentes sobrados senhoriais, h tanto tempo fechados, misteriosa-mente se se descerram. Como outrora, refulgem as luzes de seus sales no re-

  • 57

    tngulo das janelas sobre a rua. Dos su-portes de ferro pendem as luminrias. E h mesmo quem oua, no sussurro do vento, os sons dos pianos, das flau-tas e dos violinos, na ressurreio dos famosos seres alcantarenses. [...]. Do viso de uma ladeira, na comprida Rua das Mercs, fiquei a pensar nessas res-sureies noturnas, lenda? Realidade? E aos poucos comecei a ver que, luz do sol, Alcntara retrocedia no tempo com o retinir das ferraduras nas pedras de seu calamento, o rolar das carruagens de portinholas abrasonadas, as janelas que se escancaravam sobre o passeio, e gente que vinha e gente que ia, grave, colorida, nas suas roupas fora de moda, e que passava por mim sem me olhar.

    Desde a dcada de 1940, Alcntara conhecida nacional-mente como Patrimnio Histrico Nacional, em consequncia da riqueza cultural e arquitetnica.

    A riqueza arquitetnica e os costumes de sua gente so os atrativos tursticos mais divulgados daquele pedao de con-tinente. A aproximao com So Lus, apenas uma hora de barco, levou prti-ca de um turismo bate-volta, ou seja, o visitante chega pela manh, passeia so-mente pelo centro histrico e retorna tarde. Desestimular tal prtica tem sido o principal desafio da Administrao Municipal e de empresariado instalado em Alcntara. Alm do patrimnio ar-quitetnico, Alcntara oferece atrativos que se encaixam no Ecoturismo. o caso das Trilhas na Lama, ou Siriguejo, onde o turista se aventura por uma caminha-da nas razes do mangue, buscando o

  • 58

    equilbrio e gastando calorias. Uma ca-minhada de aproximadamente 20 minu-tos na lama equivale a quase uma hora em calado liso. O ponto de partida deste inovador esporte a Pousada Bela Vista. (RODRIGUES, 2008).

    A cidade de Alcntara apresenta clima tropical quente e mido, com temperatura mdia anual de 29 graus centgrados. Integra a Regio Metropolitana de So Lus, com populao de mais de 22 mil habitantes (IBGE, 2010).

    Dizer-se Alcntara pequena cidade induz anlise criterio-sa sobre seu significado privilegiando o cotidiano das pessoas, conflitos e modos de resistncia. De acordo com Silva, Gomes e Silva (2009, p. 51):

    A anlise e compreenso da pequena ci-dade requerem que sejam considerados os laos de sociabilidades que so cons-trudos ao longo da histria de vida coti-diana do povo e do lugar. [...] assim por meio da compreenso do cotidiano, po-demos ento chegar a uma anlise crtica da sociedade que se constri sob as bases capitalistas. E nesse processo de constru-o buscar as marcas espaciais significati-vas que vem sendo deixadas, como exclu-so social e segregao espacial.

    Alcntara se acomoda na premissa de laos de sociabilida-de em que se reinventam caminhos de sobrevivncia na selva capitalista que a marginaliza. Figura 17: confluncia entre antigo e moderno no cenrio alcantarense, com helicptero da Base Ae-roespacial de Alcntara em sobrevoo cpula da Igreja do Carmo:

  • 59

    Figura 17 - Cpula da Igreja do Carmo e aeronaves militares.

    Fonte: GOMES, C.M, 2013.

    Ao se referenciar Alcntara pequena cidade, cabe o con-ceito de Santos (2005), afirmao de que estas desempenham importante papel em zonas de produo primrias que permi-tem consumo acessvel ao resto da populao brasileira, dando feito em feedebak maior expanso econmica. Diante disso, o autor sugere a preservao do papel das cidades sem conservar disparidades (SANTOS, 2005). Entretanto a pequena cidade de Alcntara no parece comungar da descrio miltoniana quanto ao desempenho na produo primria. Por fatores variados, o modelo de gesto pblica aplicado por anos consecutivos, no parece contar com planejamento de desenvolvimento socioeco-nmico da cidade que ainda guarda o passado em runas.

  • 60

    Milton Santos tambm trata de gesto calcada em pres-supostos do planejamento para o desenvolvimento do lugar e explica a concepo de lugar.

    As combinaes se fazem em lugares historicamente determinados, de forma que a combinao de recursos (homem, capital, infraestruturas, instituies, ecologia) se transforma em sinnimo de localizao. Pode-se falar, ento, de uma diferenciao espacial e de uma defini-o especfica para cada lugar. (SANTOS, 2005, p. 44).

    Tratando-se de diferenciao espacial, preciso conhecer em que contexto se fala de espao e Santos (2005, p. 91) concei-tua-o, dizendo: se organiza conforme um jogo dialtico entre foras de concentrao e disperso [...] em toda a parte, os es-paos de produo tornam-se tambm espaos de consumo. e da teoria miltoniana se extrai que a:

    Estrutura espacial a combinao locali-zada de uma estrutura de receita espec-fica de uma estrutura de consumo espe-cfica, e de uma organizao tambm es-pecfica das tcnicas que esto na base das relaes entre as estruturas especfi-cas e os recursos. (SANTOS, 2005, p. 44).

    Do jogo dialtico a que se refere Santos (2005), o povo al-cantarense tem, nas Caixeiras do Divino Esprito Santo, o reflexo dos conflitos e forma de resistncia, reorganizando o espao de convivncia, realinhando o cotidiano para trocas necessrias que lhe assegurem sobrevivncia. Seabra (1996, p. 77) enfatiza que

  • 61

    O cotidiano ao mesmo tempo abstrato e concreto; institui-se a partir do vivido. Com isso ele traz o vivido ao pensamen-to terico e mostra certa apropriao do tempo, do espao, do corpo e da espon-taneidade vital. Apropriao esta sem-pre em vias de expropriao. O cotidia-no, ele prprio uma mediao entre o econmico e o poltico, objetivaes de estratgias do Estado no sentido de uma gesto total da sociedade; lugar de rea-lizao da indstria cultural visando os modelos de consumo, no que se desta-ca o papel da mdia. Enfim no cotidiano, entre o concebido e o vivido, travam-se as lutas pelo uso, sempre envolvendo as particularidades na direo e com o sen-tido de firmarem-se como diferenas.

    O cotidiano do alcantarense moroso, em ateno ao modo de vida de quem tem razes em antigos quilombos, a quem tem intimidade com funes agrrias, com escambo, com sobrevivncia. Nesse cotidiano sem pressa, travam-se lutas com o capital, com acelerados e acumuladores de capital.

    Alcntara mostra-se aos poucos e do seu interior pouco se pode conhecer. Pode-se ver Alcntara apenas trajada de gala, vestida de imponentes sobrados de pe-dra e cantaria lioz. S o tempo dir quan-do sero vistas assim destacadas suas comunidades negras remanescentes de quilombos, suas prticas e arquiteturas vernaculares, seus ritos e lugares sa-grados. Todos eles encarnados na zona rural, aguardando por sculos sua vez. Alcntara se desvela a cada runa: nas ausncias de suas muralhas nunca ter-minadas ou em suas estruturas centen-rias carcomidas pelo tempo e pela his-tria. (BARRETO JNIOR, 2008, p. 353).

  • 62

    vista da realidade do cotidiano como realidade para an-lise da lgica do modo de vida alcantarense hodierno, preciso considerar que o espao cotidiano, para alguns, no passava de algo banal, ou quem sabe, da alienao. No entanto, as indaga-es sobre a existncia ou no de uma lgica de reproduo do homem, de como ele vive, cria e recria a realidade cotidiana, so antigas. (FERREIRA, 2009, p. 71). Se resultado de banalidade ou de alienao num passado de insurgncias e sobrevivncia a du-ras penas, o alcantarense vive realidade diferente das demais cidades do entorno.

    Indo de barco, a partir de So Lus, os atrativos comeam logo no Porto do Jacar, subindo a ladeira com o mesmo nome, que conduz ao corao da cidade. O largo onde se encontram as runas da igreja Matriz, a antiga cadeia e o pelouri-nho pode ser percorrido num dia. A sete quilmetros da cidade est instalada uma das mais modernas bases espaciais da Amrica Latina onde so desenvolvi-dos projetos para lanamento de satli-tes. (GAZETA MERCANTIL, 1998, p. 64).

    Entretanto, a viagem de barco diz-se problemtica, pois, ao tempo em que constitui forte atrativo, inversamente o mo-tivo pelo qual o turista desiste de retorno a Alcntara, que as condies precrias de lanchas e barcos, somadas ao temor de enfrentamento do mar revolto, desestimulam visitantes que passaram pela experincia.

    Aportado ao porto do Jacar, o visitante se defronta com passado em runas17, cidade que guarda, no conjunto arquitet-nico, arcabouo da histria da colonizao brasileira, em peque-na cidade calma e silenciosa.

    17 As runasdatamdosculoXVIIe representamo tempodo Imprioemqueacidadeseencontrava em franco desenvolvimento.

  • 63

    Considerando referentes atrativos tursticos da cidade (Fi-gura 18), bem se representam calma e lentido de Alcntara em frente a um dos principais pontos tursticos.

    Figura 18 - Runa da Igreja na Praa da Matriz Alcntara MA.

    Fonte: GOMES, C.M, 2013.

    O produto turstico de Alcntara constitui, em si mesmo, o passado histrico, contempornea decadncia em cenrio dialtico de relaes sociais, com oferta de servios tursticos.

    O turismo uma combinao complexa de inter-relacionamentos entre produ-o e servios, em cuja composio in-tegram-se uma prtica social com base cultural, com herana histrica, a um meio ambiente diverso, cartografia na-tural, relaes sociais de hospitalidade, troca de informaes interculturais. O somatrio desta dinmica sociocultural

  • 64

    gera um fenmeno, recheado de obje-tividade/subjetividade, consumido por milhes de pessoas, como sntese: o produto turstico. (MOESCH, 2002, p. 9).

    Na cultura, alcantarense, identificam-se saberes e fazeres, conhecimento tcito, com regras prprias no dia a dia, onde o ambiente de ruralidade se confunde com as runas de passado glamoroso. Vale-se de Morin (2005, p. 56) que define cultura e ajuda a entender a cultura local:

    A cultura constituda pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibies, estratgias, crenas, ideias, valores, mitos, que se transmite de ge-rao em gerao, se reproduz em cada indivduo, controla a existncia da socie-dade e mantm a complexidade psicol-gica e social. No h sociedade humana, arcaica ou moderna, desprovida de cul-tura, mas cada cultura singular. Assim sempre existe a cultura nas culturas, mas a cultura existe apenas por meio das culturas.

    Os saberes formam um leque divertido e atrativo de ma-nifestaes culturais que, para a atividade turstica, produto potencial, entre as quais tem-se o simblico como principal ex-poente. De acordo com Ferrara (apud YAZIGI, 1999, p. 15), o simblico um produto cultural que cria tramas fictcias mais duradouras do que as urdidas pela frgil realidade. Cultura e signo coadunam com a representao de realidade contradi-tria, ao mesmo tempo passageira e estvel, que constitui o simblico e conforma a linguagem que nos envolve. (FERRARA apud YZIGI, 1999, p. 15).

  • 65

    A condio de homem exige que o indi-vduo, embora exista e aja como um ser autnomo, faa isso somente porque ele pode primeiramente identificar a si mes-mo como algo mais amplo como um membro de uma sociedade, grupo, clas-se estado ou nao, de algum arranjo, ao qual ele pode at no dar um nome, mas que ele reconhece institivamente como seu lar. (SCRUTON apud HALL, 2000, p. 48).

    Lucena Filho (2007, p. 47) explica cultura entre breve ambi-valncia situada no vcuo entre instituies e linguagens.

    As manifestaes da cultura de um povo abraam no apenas as suas instituies e linguagens. As culturas se expressam via transmisso de mltiplos signos, smbolos e cones presentes nas suas crenas, danas, na musicalidade, na religiosidade, na culinria, na literatura, na oralidade, nas produes artsticas e nas festas.

    O fenmeno turstico18 tem, no expoente cultura, forte atrativo para praticantes: pertinente que os programas turs-ticos sejam inicialmente norteados por uma poltica de preser-vao do patrimnio cultural, artstico, histrico, documental e paisagstico natural do pas, a preocupao do autor transcen-de a simples sugesto, ao enfatizar a necessidade de interfe-rncia de projetos nas reas vocacionadas ao desenvolvimento da atividade turstica, cujas aes interferem nas atividades so-ciais e culturais preexistentes, as quais condicionam as ativida-des econmicas. O autor compreende que a relao entre tu-rismo religioso e cultural torna esses segmentos muito prximos

    18Aatividadeapresentaambivalnciaentreofenmenosocialeofenmenoeconmicocon-comitantemente.

  • 66

    e, no raro, dependentes um do outro. (ALVES, 2012, p. 132). Entretanto cabe a preocupao de Swarbrooke (2000, p. 44) so-bre a fossilizao das culturas:

    A indstria do turismo e os turistas tm interesse especial por culturas fossiliza-das, que sejam pitorescas ou interessan-tes, por causa de seu valor de novidade ou pelo contraste com a cultura dos pr-prios turistas. Os folhetos esto repletos de menes como intctos e inesgot-vel. No entanto, a cultura est sempre mudando, e provavelmente impossvel e indesejvel tentar conservar culturas. Parece estranho falar emocionalmente e nostalgicamente da necessidade de conservar uma cultura tradicional, que j vem sendo rejeitada pelos jovens au-tctones, vidos por adotar a cultura do prprio pas dos turistas. Existe o risco de que o interesse de hoje em conservar as culturas de ontem faa com que as novas culturas do amanh sejam um tanto arti-ficiais e carentes de dinamismo.

    Instigante preocupao do autor situa a emblemtica ques-to enfrentada pelas caixeiras da Festa do Divino Esprito Santo em Alcntara. No se pretende investigao pelo vis do est-tico, do fossilizado, mas, ao contrrio, hoje Alcntara est sob a iminncia de extino da festa, o que preocupa na medida inver-sa da posio de Swarbrooke (2000).

    Hall (2000, p. 48) pontua que: a lealdade e a identificao que, numa era pr-moderna ou em sociedades mais tradicionais, eram dadas tribo, ao povo, religio e regio, foram transferi-das, gradualmente, nas sociedades ocidentais, cultura nacional.. Em discurso sobre culturas nacionais o pensador acrescenta que

  • 67

    As culturas nacionais so compostas no apenas de instituies culturais, mas tambm de smbolos e representaes. Uma cultura nacional um discurso um modo de construir sentidos que in-fluencia e organiza tanto nossas aes quanto a concepo que temos de ns mesmos. (HALL, 2000, p. 50).

    No mesmo sentido Gellner (apud HALL, 2000, p. 59) admi-te que a cultura o meio de partilha mnima em que membros da mesma sociedade podem sobreviver e produzir. Com base na afirmativa: para uma dada sociedade, ela tem que ser uma atmosfera na qual podem todos respirar, falar e produzir; ela tem que ser assim a mesma cultura. Abstrai-se da afirmativa que, independente das diferenas de classe, gnero, religio ou raa, a cultura precisa unific-los em identidade cultural coesa. O mesmo pensamento sobre o significado de cultura aplica-se s comunidades diante do global. Suas particularidades preci-sam ser vivenciadas para lhes conferir unidade.

    Bauman (2003) define comunidade como lugar clido, confortvel e aconchegante. Diz tambm que comunidade como um teto que nos abriga, uma lareira que nos aquece. Diz ainda que a comunidade o lugar que nos mantm seguros, onde se pode relaxar com perigos exteriores, o lugar onde to-dos se entendem, desenvolvem confiana uns nos outros, lugar onde nunca se sentiu estranhamento. Em se tratando de viver em comunho, comungar algo, refere-se anlise de Bauman (2005, p. 17) ainda mais crtica na discusso do termo:

    [...] comum afirmar que comunidades (as quais as identidades se referem como sendo as entidades que as definem) so de dois tipos. Existem comunidades de vida e de destino, cujos membros vivem

  • 68

    juntos numa ligao absoluta, e outras que so fundidas unicamente por idias ou por uma variedade de princpios.

    inevitvel fugir anlise de Bauman (2003, p. 18), por colocar a comunidade sob o jugo do globalizado, do artificial, do estrangeiro repensando muros de proteo da comunidade, frente s ameaas exteriores:

    Essa fissura nos muros de proteo da comunidade se torna trivial com o apa-recimento dos meios mecnicos de transporte; portadores de informaes alternativas (ou pessoas cuja estranheza mesma informao diferente e confli-tante com o conhecimento itinerante disponvel) j podem em principio viajar to rpido, ou mais, que as mensagens orais originrias do crculo da mobilidade humana natural. A distncia, outrora a mais formidvel das defesas da comuni-dade, perdeu muito de sua significao.

    Fissura em muros de proteo da comunidade, no pensa-mento de Bauman (2003), induz reflexo de Hall (2000), no vis da convivncia em comum, quando aponta tambm que as pessoas de aldeias pequenas, aparentemente remotas, perce-bem, no ambiente das casas, mensagens e imagens de culturas consumistas pelos mltiplos meios miditicos. O discurso do autor confronta o global com o local, na transformao de iden-tidades que devem representar vnculos com o lugar, mediante smbolos e histrias prprias, representando pertencimento.

    Quanto ao significado de identidade, as origens dos sujeitos, de onde so, levam a tratar do resgate de um fenmeno huma-no. De conjecturas do autor, extrai-se o sentimento de perten-cimento. O indivduo se refere [...] famlia, ou cidade a que pertence e se sente integrado, impregnado pelo cheiro do lugar,

  • 69

    pela maneira do povo e sentimento de pertencer [...] algo que o liga quele lugar, ao povo ou ao grupo. (MARTINS, 2003, p. 42)

    Pelo sentimento de pertencimento, o cantor maranhense Mano Borges refere-se ao Maranho em toada de bumba meu boi, representando as principais caractersticas do Estado, dei-xando claro o valor que d terra em que nasceu, expressando a importncia cultural e rique