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ANO V Nº 20 ANO V Nº 20 Junho 09 Junho 09 Antes da obra, os homens. ntonio Jannuzzi nasceu em Fuscaldo, Calábria, em 18 de junho de 1855, filho de Fioravante Jannuzzi e Ade Luigia de Seta. Assim que concluiu os estudos elementares seguiu o ofício do pai hábil mestre da arte da construção. Com grande inclinação artística e com sua capacidade, após poucas lições sobre arquitetura recebidas de Battista Santoro, com a idade de 14 anos já desenhava muito bem e estava em condições de atender aos projetos e dirigir as construções que o pai lhe confiava. Aos quinze anos já era um bom mestre-de- obras, conquistando fama na pequena aldeia onde morava, e isto já preconizava o esplêndido futuro que lhe era reservado. Atraído pelas ilusões e pelo fascínio que o desconhecido exercia sobre seu temperamento audaz e desejoso de trabalhar por conta própria, consciente de suas habilidades e potencialidades, com apenas dezessete anos, em 1872, acompanhado do irmão Giuseppe, mais novo que ele dois anos, e dos tios Giuseppe e Ignázio de Seta, saiu da Itália e atravessou o Atlântico em busca de uma nova sorte no Uruguai. Desembarcou em Montevidéu, a graciosa “Coquete do Prata”, local a que se voltavam, naquele tempo, os desejos e esperanças de imigrantes. A fortuna não lhe sorriu na bela cidade de Montevidéu. Ali lutou dois exaustivos anos no mal recompensado trabalho de desbastador e polidor de mármores, suportando uma odisséia de amargas desilusões, enquanto alimentava esperanças de dias melhores que a fé em si lhe apontava, não longe sobre os horizontes da vida, não cedendo à fraqueza ou ao desânimo, sempre unido a Giuseppe do qual foi mais que irmão, foi amigo e pai ao mesmo tempo. Vendo, porém a inutilidade dos seus esforços sem resultados, perdendo a fé no país que havia escolhido para sua residência, abandonou o Uruguai e dirigiu-se ao Rio de Janeiro, onde parecia- lhe devesse brilhar, finalmente a estrela da fortuna. Contrariando os desejos da família que lhe escrevia solicitando que voltasse ao modesto conforto da casa paterna, respondia à mãe, em afetuosa carta, prometendo que só retornaria à pátria quando uma cruz de cavalheiro lhe adornasse o peito. No Rio de Janeiro, pouco a pouco, a fada do sucesso sorri aos irmãos Jannuzzi. De mestre-de-obras, Antônio logo se tranforma em empreiteiro, suas obras começam a impor-se pelo gosto de arte revelado na pureza e na leveza das linhas da arquitetura italiana em contraposição as pesadas construções portuguesas em voga naquele tempo. O Engenheiro Januário Cândido de Oliveira, junto ao qual os dois jovens Jannuzzi estavam empreendendo as suas primeiras lutas na vida no Rio de Janeiro, foi seu primeiro protetor, tendo eles conquistado sua simpatia graças a perícia demonstrada por Antonio ao dirigir as construções a ele confiada, que resultou nos certificados honoríficos concedidos por Oliveira que Antonio conservou e exibia com orgulho aos seus íntimos, aos quais agradava contar, evocando os primeiros inebriamentos do merecido sucesso. Encorajados por suas primeiras provas, já providos de um discreto pecúlio devido a sua atividade, inteligência, coragem e incansável trabalho, no ano de 1875, os irmãos Jannuzzi constituiram a firma Antonio Jannuzzi, Fratello e Cia., para trabalhos de Palacete do conde Modesto Leal 1895 foto extraída do livro Il Brasile gli Italiani Edições Fanfula, Milão 1906 Moinho Fluminense 1887 foto extraída do livro Il Brasile gli Italiani Edições Fanfula Milão 1906 Foto extraída do livro Il Brasile gli Italiani Edições Fanfula Milão 1906 Irmãos Jannuzzi: 1 Antonio 2 Giusepe 3 Francesco 4 Michelangelo

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ANO V Nº 20ANO V Nº 20Jun

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Jun

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Antes da obra, os homens.ntonio Jannuzzi nasceu em Fuscaldo, Calábria, em 18 de junho de 1855, filho de Fioravante Jannuzzi e Ade Luigia de Seta. Assim que concluiu os estudos

elementares seguiu o ofício do pai hábil mestre da arte da construção. Com grande inclinação artística e com sua capacidade, após poucas lições sobre arquitetura recebidas de Battista Santoro, com a idade de 14 anos já desenhava

muito bem e es tava em condições de atender aos proje tos e d i r i g i r a s construções que o pai lhe c o n f i a v a . Aos quinze anos já era u m b o m mest re-de-

obras, conquistando fama na pequena aldeia onde morava, e isto já preconizava o esplêndido futuro que lhe era reservado.

Atraído pelas ilusões e pelo fascínio que o desconhecido exercia sobre seu temperamento audaz e desejoso de trabalhar por conta própria, consciente de suas habilidades e potencialidades, com apenas dezessete anos, em 1872, acompanhado do irmão Giuseppe, mais novo que ele dois anos, e dos tios Giuseppe e Ignázio de Seta, saiu da Itália e atravessou o Atlântico em busca de uma nova sorte no Uruguai. D e s e m b a r c o u e m Montevidéu, a graciosa “Coquete do Prata”, local a que se voltavam, naquele t empo, os dese jos e esperanças de imigrantes.

A fortuna não lhe sorriu na bela cidade de Montevidéu. Ali lutou dois exaustivos anos no mal recompensado trabalho de desbastador e polidor de mármores, suportando uma odisséia de amargas desilusões, enquanto alimentava esperanças de dias melhores que a fé em si lhe apontava, não longe sobre os horizontes da vida, não cedendo à

fraqueza ou ao d e s â n i m o , sempre unido a Giuseppe do qual foi mais que irmão, foi amigo e pai ao mesmo tempo. Vendo, porém a inutilidade dos seus esforços sem resultados, perdendo a fé no país que havia escolhido p a r a s u a r e s i d ê n c i a , abandonou o U r u g u a i e dirigiu-se ao Rio de Janeiro, onde parecia-lhe devesse brilhar, finalmente a estrela da fortuna.

Contrariando os desejos da família que lhe escrevia solicitando que voltasse ao modesto conforto da casa paterna, respondia à mãe, em afetuosa carta, prometendo que só retornaria à pátria quando uma cruz de cavalheiro lhe adornasse o peito.

No Rio de Janeiro, pouco a pouco, a fada do sucesso sorri aos irmãos Jannuzzi. De mestre-de-obras, Antônio logo se tranforma em empreiteiro, suas obras começam a impor-se pelo gosto de arte revelado na pureza e na leveza das linhas da arquitetura italiana em contraposição as pesadas construções portuguesas em voga naquele tempo.

O Engenheiro Januário Cândido de Oliveira, junto ao qual os dois jovens Jannuzzi estavam empreendendo as

suas primeiras lutas na vida no Rio de Janeiro, foi seu primeiro protetor, tendo eles conquistado sua simpatia graças a perícia demonstrada por Antonio ao dirigir as construções a ele confiada, que resultou nos certificados honoríficos concedidos por Oliveira que Antonio conservou e exibia com orgulho aos seus íntimos, aos quais agradava contar, evocando os primeiros inebriamentos do merecido sucesso. Encorajados por

suas primeiras provas, já providos de um discreto pecúlio devido a sua atividade, inteligência, coragem e incansável trabalho, no ano de 1875, os irmãos Jannuzzi constituiram a firma Antonio Jannuzzi, Fratello e Cia., para trabalhos de

Palacete do conde Modesto Leal 1895 foto extraída dolivro Il Brasile gli Italiani Edições Fanfula, Milão 1906

Moinho Fluminense 1887 foto extraída do livro Il Brasile gli ItalianiEdições Fanfula Milão 1906

Foto extraída do livro Il Brasile gli Italiani Edições Fanfula Milão 1906

Irmãos Jannuzzi: 1 Antonio 2 Giusepe 3 Francesco 4 Michelangelo

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construção de edifícios, relevos, medições de terrenos, etc.O primeiro trabalho que os irmãos Jannuzzi tiveram na sua carreira de empreiteiros foi o plano inclinado para a

Ferrovia Funicular de Santa Tereza, inaugurado em 13 de março de 1877 que ligava o Largo dos Guimarães em Santa Teresa a rua Matacavalos (Riachuelo), no centro do Rio de Janeiro, pela colina que se tornou moradia da elite das famílias fluminenses e das colônias estrangeiras. Esta obra é de uma perfeição e solidez a toda prova como atestam os anos de funcionamento de um contínuo tráfego, nunca interrompido.(texto de 1906). L e n t a m e n t e , m a s e m constante ascenção, progrediram e conquistaram simpatia, trabalho, proteção, opulência. Construíram o Ascensor de Paula Mattos e um número incontável de casas, pequenas vilas, fábricas, igrejas, hospitais etc., que aumentaram sua fama e prosperidade. Em breve transcurso de tempo a firma tinha a seu serviço algumas centenas de operários, todos italianos, já que os irmão Jannuzzi sempre preferiram os trabalhadores italianos a outros.

Em 1881, a firma, forte e segura, agigantou-se, entregou-se resolutamente às grandes empreitadas e às grandes construções. Estabeleceu seu escritório técnico, agregou um escritório especial de arquitetura e Jannuzzi começou a ver coroada da palma do triunfo a sua obra de vários anos de firme e profícua vontade. De 1881 a 1884, aos dois irmãos Jannuzzi se uniram outros dois, Francesco e Camillo, e sua prosperidade aumentou ainda mais. Antônio, o chefe do clã, foi sempre tido pelos irmãos como um pai e tal foi realmente para eles. Sob sua direção e guiados pela sua sagacidade de homem de negócios, conhecedor agora de todas as sutilezas do especulador, de todas as garantias de um bom construtor, de todos os requintes de um ótimo arquiteto, sempre seguindo o caminho reto da mais escrupulosa e exemplar honestidade. Os irmãos Jannuzzi, uníssonos no querer, no trabalhar, no sentir, no realizar, alcançaram logo o alto cimo do qual jamais mudaram sua posição no caminho do sucesso.

Dores de família os golpearam: a jovem esposa de Francesco encontrou morte prematura quando nascia seu filho, em 02 de maio de 1885, ainda neste

A n o m o r r e Camilo . Uma m e n i n a d e Antônio, muito n o v a a i n d a , perdeu um olho por imprudência de um rapaz que Jannuzzi havia recolhido em sua c a s a . P o r é m , ainda naquele tempo, foi contemplado pela alegria. Em 11 de junho de 1886, o rei da Itália, em justo reconhecimento pelos serviços prestados à pátria por Antonio Jannuzzi, com o bom nome conquistado no exterior, conferiu-lhe, expontaneamente, a condecoração de Cavalheiro da Ordem Eqüestre da Coroa da Itália. Realizava-se assim, uma das promessas feitas por Antônio a sua mãe.

Em 1889 por uma concessão dada pelo Governo Imperial brasileiro a Américo de Castro, os irmãos Jannuzzi organizaram os planos e os projetos de uma ou mais vilas operárias, do que surgiu a Companhia Evoneas

F l u m i n e n s e s , s o c i e d a d e anônima para a construção de casas higiênicas para operários proletários. Esta s o c i e d a d e adqu i r i u dos irmão Jannuzzi a sua firma, ativos e passivos, pela

considerável soma de dois milhões de Liras italianas, nomeando ao mesmo tempo, diretor técnico o cavalheiro Antonio Jannuzzi, gerente o seu irmão Giuseppe Jannuzzi e diretor administrativo Francesco Jannuzzi. O relatório demonstrativo apresentado à direção da Evoneas por Antonio Jannuzzi, antes de dar início às obras, constituiu-se em um esplêndido trabalho e mostrou com quanto amor seu autor era dedicado ao estudo da higiene. Quanto à parte administrativa e econômica da empresa o quadro que ele submeteu ao severo exame dos diretores da Evoneas foi claro e conciso e mostrou o resultado de um capital gerador de lucro liquido de 14%. A Evoneas Fluminenses teria, por dados seguros, os resultados esperados por Antonio, se acontecimentos inesperados, gravíssimos, e que duraram longo tempo,(encilhamento) não tivessem empurrado para o precipício todas as sociedades organizadas naquela época.

Palácio Rio Negro Petrópolis início da década de 1890 foto extraída do livroIl Brasile gli Italiani Edições Fanfula Milão 1906

Casa do Barão do Rio Negro foto extraídado livro Il Brasile gli Italiani Edições Fanfula Milão 1906

Residência dos Jannuzzi, Rua Monte Alegre, Santa Teresa foto extraída

do livro Il Brasile gli Italiani Edições Fanfula Milão

1906

Casa de Eduardo P. Guinle r. Paisandu foto extraída dolivro il Brasile gli Italiani Edições Fanfula Milão 1906

Marcenaria da Antonio Jannuzzi & Fratelo nas oficinas do morro da Viúva, localonde em 1922 seria inaugurado o Hotel 7 de Setembro, hoje restaurado pelaUFRJ - Foto extraída do livro Il Brasile gli Italiani Edições Fanfula Milão 1906

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A Evoneas, como as outras, cai sob o peso da fatalidade. E se não naufragou por inteiro a fortuna dos Jannuzzi, não deixou de ficar, todavia, sensivelmente abalada. Foi realmente uma estrela má aquela que impeliu os irmão Jannuzzi a deixarem sua firma para se envolverem com a Evoneas. Descobriram tarde o passo falso dado e, quando a Evoneas, depois de haver repetidamente violado o contrato, pretende ir demasiadamente além, os irmãos Jannuzzi decidem perder tudo e desligar-se, de uma vez por todas, de um vínculo que fora sua ruína.

E i s e m p o u c a s pa lavras , a s c láusu las principais do contrato dos Jannuzzi com a Companhia Evoneas e os motivos imperiosos que obrigaram os

o irmãos a desligarem-se da mesma: 1 Pela soma de cerca de dois milhões de liras italianas a firma Jannuzzi cederá à Companhia Evoneas o ativo e o passivo, garantindo a firma Jannuzzi à Companhia Evoneas a soma de setenta e quatro contos de réis (200 mil liras italianas) como lucro dos

o trabalhos em curso por conta da firma. 2 Antônio Jannuzzi será obrigado a prestar à Companhia Evoneas os s e u s s e r v i ç o s n a qualidade de diretor técnico, pelo espaço de seis anos, devendo, em garantia desta cláusula, depositar a soma de

o 302.500 liras italianas. 3A Companhia Evoneas garantirá a Antonio Jannuzzi o estipêndio anual de 40.000 liras italianas e 5,5% sobre os juros do capital social de 5 0 . 0 0 0 . 0 0 0 l i r a s italianas. A Companhia depois de algum tempo reduziu o capital social de cinquenta milhões para vinte milhões e,

logo depois para doze milhões de liras, violando, nos seus direitos, a Antonio Jannuzzi. Ele se desligou da Companhia Evoneas em 22 de julho de 1892, perdendo o depósito feito e outras somas no montante de 600.000 liras italianas.

Depois do abalo que o privou, em poucos meses, de boa parte de seus ganhos de muitos anos, qualquer pessoa seria tomada pelo desânimo. Os tempos começavam calamitosos. A nova república surpreendida subitamente diante de vários conflitos, mil dificuldades, culpava o sistema tributário, diminuia as despesas, administrava o desequilíbrio evidente com meios mais convenientes, sendo o primeiro, entre outros, a desvalorização do papel moeda reduzido a um valor quase irrisório. Antonio não sentiu enfraquecer o ânimo forte, lutou, refez a vida, senão do princípio, ao menos quase do princípio. Era conhecido, conferia alta estima a seu valor pessoal, combateu, combateu obstinadamente e venceu mais uma vez.

A eles se juntou o mais jovem dos irmãos, Michelangelo, um outro valor, uma outra vontade, uma

grande ajuda. Reconstituiu-se a firma Antônio Jannuzzi, Irmãos e Cia, cresceram, abriram por conta própria o túnel de granito do Morro da Viúva, fundaram uma oficina e serraria mecânica para madeira da qual foi gerente Michelangelo, encontraram novo alento e novas esperanças floriram pela operos idade dos irmãos. Em 1897, também Giuseppe foi condecorado com a Cruz de Cavalheiro da Coroa da Itália.

A s c o n s t r u ç õ e s executadas pelos irmãos Jannuzzi atendiam a todas as

regras exigidas pela solidez, a elegância das formas, a ousadia da concepção, a justa medida das proporções e a beleza do conjunto, demonstrando o bom gosto e o profundo conhecimento da arte arquitetônica. Não se limitou ao Rio de Janeiro a obra dos irmãos Jannuzzi. No ano de 1899, foram encarregados pelo governo do Estado do Amazonas, da construção do Hospital da Santa Casa de Misericórdia, projeto grandioso, adequado em tudo às exigências mais modernas e rigorosamente científicas, que teve como dificuldade extra a total inexistência de granito para construção no e s t a d o d o Amazonas, sendo t o d o e l e transportado do Rio de Janeiro, numa viagem de vinte e oito dias. Quando, houve em 1 9 0 3 , o alargamento das vias do Rio de J a n e i r o , principalmente a a b e r t u r a d a Avenida Central, hoje Rio Branco, os

Postal de 1913 da Av. Central, o prédio à direita na esquina da r. São Bento deEduardo P. Guinle projetado e construído pela Jannuzzi & Fratello.In vasques 2002 pág. 84, extraído de A Arquitetura Residencial de AntonioJannuzzi Idéias e Realizações Dissertação de Mestrado em Arquitetura de Bettina Zellner Grieco UFRJ/FAU 2005

Escritórios da Jannuzzi e Cia na Av. CentralFoto extraída do livro Il Brasile gli ItalianiEdições Fanfula Milão 1906

Hotel Palace, vendo-se ao fundo à direita a fachada do theatro Phenixfoto de Augusto Maltaextraida do siterio.fot www.rio.fot.br

Cine-Theatro Phenix Dramatica 1915 foto de autor desconhecido - in História das Ruas do Rio de

Brasil Gerson

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i r m ã o s J a n n u z z i e s t a v a m e n t r e a s p r i m e i r a empresas a concorrer às g r a n d e s obras . Na e n t ã o A v e n i d a

Central haviam várias de suas construções, como o palacete do Sr. Eduardo P. Guinle, o primeiro inaugurado naquela nova avenida, a casa Ferreira Serpa, a Companhia Docas de Santos, cujo projeto arquitetônico foi elaborado pelo grande arquiteto Ramos de Azevedo de São Paulo, o Palacete da Sra. Simonard, o do Sr. José Paranaguá e o próprio prédio da firma Antônio Jannuzzi & Fratello. Podemos citar fora da a v e n i d a , o M o i n h o Fluminense, o Palacete do Conde Modesto Leal, na Rua das Laranjeiras, a Igreja dos Ingleses na rua Evaristo da Veiga, o palacete do Barão do Rio Negro na Rua Senador Dantas, o Palácio Rio Negro, hoje residência de Verão da Presidência da República em Petrópolis e o Obelisco no final da hoje Avenida Rio Branco, que foi uma oferta dos Irmãos Jannuzzi ao povo do Rio de Janeiro, quando da inauguração da Avenida Central. Na realidade foram mais de duas mil e quinhentas obras espalhadas em vários locais, mas infelizmente poucas ainda restam de pé, e algumas já bastante descaracterizadas.

Às qualidades técnicas e administrativas que lhe adornam o intelecto, se reunem, em Antonio Jannuzzi, aos dotes de índole leal e grande coração. Jamais uma desventura, uma necessidade de socorro o encontrou surdo às súplicas e com a carteira fechada, falam por ele os vários beneficiados, prova-o a lista de subscrições para entidades e

pessoas desventuradas às quais ele sempre t r i b u t o u s o m a s relevantes. A Sociedade de Benficência Italiana o teve por muitos anos como presidente, não se c o n h e c e a ç ã o desinteressada que durante vinte anos, o Cavalheiro Antonio Jannuzzi não tenha feito pela colônia. Todas as v e z e s q u e s e u s c o n c i d a d ã o s p r e c i s a r a m d e l e , sempre o encontraram. Um fato que não deve

deixar de ser registrado, porque serve para dar uma justa idéia da nobreza de seu caráter, aconteceu durante o período da revolta que irrompeu no Rio de Janeiro, em 06 de setembro de 1893, e que perdurou por mais de um ano. (Revolta da Armada). A necessidade imperiosa de d e f e n d e r a R e p ú b l i c a obrigava o governo a uma enérgica ação contra aqueles que de a lguma forma participavam da revolta. O Dr. José Carlos Rodrigues, redator-chefe e proprietário do Jornal do Commércio, um dos mais importantes da América Latina e um dos primeiros do mundo, era investigado porque se suspeitava de suas relações com os revoltosos. Foi procurado insistentemente em vários locais e, se tivesse sido pego, o teriam fuzilado sem consideração. Durante treze meses esteve refugiado na casa de Jannuzzi, por longo tempo foi obstinada a caça dada ao Dr. Rodrigues e suspeitando que Antonio o tivesse sob proteção o levaram detido, mas diante da firma atitude deste, que não cedeu às pressões, o libertaram 24 horas depois. Porém se conseguissem descobrir o Dr. Rodrigues em sua casa quem poderia justifica-lo ou garantir a sua vida naquele momento em que vigorava o estado de sítio, que suprimia todas as garantias constitucionais e legitimava qualquer atitude por parte do governo? Quem pode, portanto, não reconhecer o alto valor moral de tal ação.

Antonio Jannuzzi foi Sócio Vitalício do Clube dos Engenheiros, fundador do SINDUSCON, Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Rio de Janeiro da qual foi seu primeiro presidente com mandato de 1919 a 1928. Representou por muitos anos a Maçonaria Italiana junto ao Grande Oriente do Brasil.

No seu íntimo Jannuzzi era orgulhoso de si mesmo e, enumerando os sofrimento que passara, os perigos enfrentados, as dificuldades superadas e os títulos honoríficos conquistados, deveria, também, estar extremamente satisfeito com as vitórias obtidas por sua energia pessoal, contra a qual barreiras de despedaçaram. Tradução do italiano de Lucy Giesta Revisão e montagem de texto Luiz Francisco

Vila Conde Alto Mearim foto extraida do livro Il Brasile Gli Italiani Edições

Fanfula Milão 1906

Igreja AnglicanaPraça Ferreira

Viana - ReformaFoto extraida do

Livro Il Brasile gliItaliani Edições

Fanfula Milão1906

Igreja Metodista do Catete 1885, Pça José deAlencar foto Luiz Francisco 2005

Mausoléu da família Jannuzzi fotoextraida do livro Il Brasile gliIitaliani Edições Fanfula Milão 1906

Casas de vila na Av. Barão de Mesquita 1911 foto Bruno Grieco 2002 extraída de A Arquitetura Residencial de Antonio Jannuzzi Idéias e Realizações Dissertação de Mestrado em Arquitetura de Bettina Zellner Grieco UFRJ/FAU 2005fotoshop luiz francisco

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Antonio Jannuzi em ValençaA primeira vez que Antonio esteve em Valença foi

no início de agosto de 1908, em visita à família de Nicolao Pentagna, com quem mantinha relações de amizade no Rio de Janeiro. Foi recebido na Sociedade Italiana de

Beneficência, onde, demonstrando mais u m a v e z s u a generosidade e seu espírito solidário, doou à Sociedade, à Santa Casa e aos pobres de Valença a quantia de seiscentos mil réis. Em sua r e u n i ã o extraordinária de 17 de agosto de 1908, a mesa diretora da S a n t a C a s a d e M i s e r i c ó r d i a , tomando ciência do donativo de Jannuzzi, delibera conferir ao

mesmo o Diploma de Irmão. Ainda no mês de agosto daquele ano, adquire o belo palacete que pertencera ao Visconde do Rio Preto, hoje Colégio Teodorico Fonseca, investindo vultosa quantia em sua reforma, mas preservando sua fachada original. Alí passa a ser a sua Villa Adélia.

C o m o a m i g o d o d i r e t o r d a E s t r a d a d e Ferro Central do Brasil, Dr. P a u l o d e Frontin, que no Rio de Janeiro h a v i a s i d o Engenhei ro-chefe das obras de abertura da Av. Central, e de Francisco Sá, Jannuzzi teve, certamente, participação na encampação da União Valenciana e da Rio das Flores que passaram a fazer parte da Rede de Viação Fluminense. Após a encampação das ferrovias, o governo instalou em Valença uma estrutura de oficinas com manutenção e fabricação de componentes ferroviários, sendo que coube a empresa de Jannuzzi a construção de

t o d o o complexo de prédios e galpões, destinados a esse fim, a l é m d a c a s a d o engenheiro na esquina das ruas dr. Figueiredo c o m Benjamim

G u i m a r ã e s . Tal estrutura r e p r e s e n t a , hoje, o maior c o n j u n t o arquitetônico d e v a l o r h i s t ó r i c o e cu l t u r a l da c i d a d e d e V a l e n ç a . Ainda naquela área, em 1913, junto com o empresário Henrique Leuthold, funda a Companhia de Rendas e Tiras Bordadas Dr. Frontin que levou este nome em homenagem a seu grande amigo Dr. Paulo de Frontin.

Provedor da Santa Casa de Misericórdia 1912/1918Por essa época andava em crise a Santa Casa de

Misericórdia. Em janeiro de 1911, Teodorico da Fonseca convoca uma assembléia extraordinária para tratar da reforma do compromisso da instituição. Tal reforma tinha como objetivo principal eleger o Comendador Antonio Jannuzzi provedor da Santa Casa, pois como evangélico este não poderia ocupar tal posto, já que isto era vedado a

q u e m n ã o professasse a fé católica. E m 1 8 d e julho de 1912 a e n t ã o i n s t i t u i ç ã o c a t ó l i c a transforma-se na sociedade civil Casa de Caridade de V a l e n ç a ,

Antônio Jannuzzi é eleito provedor para o biênio 1912/1914, tendo como secretário José de Siqueira Silva da Fonseca, sendo empossado à 21 de agosto de 1912.Durante sua gestão como provedor da Santa casa, em 1914, foi criada a comissão para conseguir material de rouparia para o hospital com a participação de sua esposa Sra. Anna Jannuzzi. Durante a reunião de 20 de junho de 1914, o Sr. Frederico Sotto Garcia de la Vega enaltece os serviços do provedor e comunica que a empresa Antonio Jannuzzi e Cia, cedeu a instituição a quantia de 31 Contos de Réis, valor de todo material fornecido para as obras do hospital.

Igreja Presbiteriana 1923 Foto Luiz Francisco 2008

Estação Ferroviária 1914 fotoextraída do livro Valença de Ontem e de Hoje Leoni Iório

edição eletrônica

12º Depósito da Central do Brasil 1914 Foto Luiz Francisco

14º GRD Oficinas da Central do Brasil1914 Foto Luiz Francisco

Santa Casa de Misericórdia 1857 foto luiz Francisco 2004

Hotel Valenciano 1919 foto extraída do livro História de Valença 1803

1924 de Luiz Damasceno Ferreira2ª edição 1978

Editora Valença S.A.

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O Secretário S r . J o s é F o n s e c a n o t i c i a a oferta de um rico tinteiro de bronze, p e l o p r o v e d o r . Em 13 de a g o s t o d e 1 9 1 4 Jannuzzi é eleito para seu segundo mandato como provedor e anuncia que os recursos não seriam regateados a instituição e que considera inadiável a conclusão da maternidade, que já tinha conseguido da Jannuzzi e Cia., o fornecimento gratuito de todo o material. Na reunião seguinte a Sra. Anna Jannuzzi doa oito camas, nove mesas e acessórios, um biombo, uma mesa cirúrgica e um sortimento de roupas para récem-nascido. Nessa reunião o Secretário e amigo, José Fonseca comunica seu afastamento da diretoria por motivos particulares e o provedor Antonio Jannuzzi pede a diretoria que lhe seja outorgado o título de Grande Benemérito, pelos serviços prestados. São realizadas as obras de reforma do prédio e dependências, mais obras novas e urgentes do prédio de isolamento dos tuberculosos, despesas realizadas pela empresa de Jannuzzi no valor de 81 Contos de Réis. Em 25 de junho de 1916 é novamente eleito para um terceiro mandato que expiraria em 1918.

Outras Realizações em ValençaEm abril de 1909 a Antonio Jannuzzi e Cia adquire o

antigo casarão que pertencera ao Visconde de Pimentel, ao lado do hoje Banco do Brasil, transferindo-o a Sociedade Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro. O prédio que se encontrava inacabado foi concluído e melhorado as expensas de Jannuzzi. Em 03 de abril de 1910 é inaugurado

como Primeiro T e m p l o d a I g r e j a Presbi ter iana em Valença, que n e s t e a n o completa 100 a n o s d e atividades na cidade. E m 1 9 1 2 é encar regado ,

pela direção da Central do Brasil da construção da nova Estação Ferroviária de Valença, um dos mais belos da bitola estreita, bem como dos prédios do 10º depósito, das oficinas, e da casa do engenheiro localizada na esquina das ruas Dr. Figueiredo com Benjamim Guimarães. Ainda em 1912 Jannuzzi adquire o antigo solar do Dr. Souza Nunes e o aumenta consideravelmente, doando-o em seguida a Sociedade Igreja Presbiteriana de Valença, que alí instalou o Colégio Atheneu Valenciano, que mais tarde, em 1918, foi tranferido para o Palacete de Jannuzzi na Praça Visconde do Rio Preto, atual Escola Estadual Theodorico da Fonseca. Mais uma vez a família Jannuzzi cede um imóvel seu para uso da comunidade presbiteriana. Em 1913 é inaugurada a Praça Dr. Frontin, no local onde fica as oficinas e a nova

estação da cidade de Valença, e mais uma vez Antônio Jannuzzi lá estava tomando a iniciativa de homenagear o grande engenheiro Paulo de Frontin que tantos benefícios trouxe a cidade. No ano seguinte era inaugurada, com a presença do Presidente da República Marechal Hermes da Fonseca, a nova estação e as demais dependências da Central do Brasil em nossa cidade. Porém não ficaria somente nestes empreendimentos o Comendador Jannuzzi. Em 1917 inicia a construção do Hotel Valenciano, considerado por muitos, como o mais belo prédio de Valença. Em estilo normando com acabamentos em Mármore de Carrara, belas escadarias em madeira e com instalações luxuosas o hotel foi inaugurado em 1919, em alto estilo, c o m u m b a n q u e t e oferecido a e n t ã o s o c i e d a d e industrial de V a l e n ç a . D u r a n t e muitos anos o hotel foi l o c a l d e encontro da elite valenciana. Entre 1920 e 1921, trabalhou ativamente junto com o Dr. Hypolito Filho, então presidente da Câmara de nosso município, para convencer ao governo do estado da necessidade de se rever os valores para a construção do Grupo Escolar. Depois de aprovado o orçamento a Empresa Jannuzzi & Cia projetou e construiu o prédio do então Grupo Escolar Casemiro de Abreu, hoje Colégio Estadual Benjamim Guimarães. Reformou e construiu o segundo pavimento do antigo quartel, hoje cadeia pública. Tanto o prédio do Grupo Escolar quanto o da cadeia pública foram inaugurados a 23 de abril de 1921 pelo Presidente do Estado do Rio de Janeiro Dr. Raul de Morais Veiga.

Em 18 de março de 1923 foi consagrado o belo prédio da Igreja Presbiteriana de Valença, o segundo templo daquela comunidade evangélica e em termos arquitetônicos um dos mais belos da região. Em estilo gótico lombardo, seu interior é decorado por pinturas florais baseada em uma mistura de argila com urucum.

Em Valença foi sua última obra, verdadeiro fecho de ouro.Pesquisa e texto de Luiz Francisco Moniz Figueira, Pesquisador e Guia de Turismo, criador do projeto “Conhecendo Valença à Pé” e do Tributo aos 150 Anos de Nascimento de Antonio Jannuzzi.

Grupo Escolar Casemiro de Abreu 1921 Foto de 1922 de Daniel Ribeiro Álbum do RJ, Centenário da Independênciade Clodomiro Vasconcelos

Fábrica de Rendas e Tiras Bordadas Dr. Frontin 1913Foto Luiz Francisco 2004

Casa do Engenheiro-chefe da Central do Brasil 1914foto Luiz Francisco2004

Prédio de Eduardo P. Guinle na Av. Central Foto extraída do livro Il Brasile GliItaliani Edições Fanfula Milão 1906

Page 7: Turismo e Etc. 20

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Antonio Jannuzzi em Valença

Complexo Ferroviário 1912/1401 Estação - 02 Oficinas - 05/06 Depósitos

03 - Hotel Valenciano 1917/1904 - Busto de Paulo de Frontin 191407 - Fábrica de Rendas 191308 - Casa do Engenheiro da Central 1912/191409 - II Igreja Presbiteriana 1921/192310 - Palacete do Visconde do R. Preto 1908 (Escola Estadual Theodorico Fonseca)11 - Construção do Passeio do Jardim de Cima 192012 - Armazem Vila Leonor13 - Grupo Escolar Casemiro de Abreu 1921 (Cólegio Estadual Benjamim Guimarães)14 - Cadeia 1921

15 - Santa Casa de Misericórdia 1912/1816 - I Igreja Presbiteriana 1910 (lojas CEM)

17 - Busto em Homenagem a Jannuzzi 1914 (Jardim de Baixo)18 - Chácara Leonor (Esquadrão Tenente Amaro)19 - Chácara do Dr. Souza Nunes 1912 (FAA)20 - Acionista da Cia. Industrial de Valença 1911

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Mapa: Luiz Francisco