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UFSM Dissertação de Mestrado A INTERFACE TEXTO VERBAL E TEXTO NÃO-VERBAL NO ARTIGO ACADÊMICO DE ENGENHARIA ELÉTRICA Roséli Gonçalves do Nascimento PPGL Santa Maria, RS, Brasil 2002

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UFSM

Dissertação de Mestrado

A INTERFACE TEXTO VERBAL E TEXTO NÃO-VERBAL

NO ARTIGO ACADÊMICO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

Roséli Gonçalves do Nascimento

PPGL

Santa Maria, RS, Brasil

2002

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A INTERFACE TEXTO VERBAL E TEXTO NÃO-VERBAL NO

ARTIGO ACADÊMICO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

por

Roséli Gonçalves do Nascimento

Dissertação de Mestrado apresentada ao Curso de Mestrado em Letras, Área de Concentração em Estudos Lingüísticos, da

Universidade Federal de Santa Maria (UFSM,RS), como requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre em Letras.

PPGL

Santa Maria, RS, Brasil

2002

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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Artes e Letras

Curso de Mestrado em Letras

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação de Mestrado

A INTERFACE TEXTO VERBAL E TEXTO NÃO-VERBAL NO ARTIGO ACADÊMICO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

elaborada por Roséli Gonçalves do Nascimento

como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Letras

Comissão Examinadora:

__________________________ Désirée Motta-Roth

(Presidente/Orientadora)

__________________________ Barbara Hemais

__________________________ Ana Cristina Ostermann

Santa Maria, 27 de maio de 2002.

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AGRADECIMENTOS

À Désirée, pelo modelo de pesquisadora e orientadora ‘incansável’, com

quem aprendi que o conhecimento gerado em pesquisas é verdadeiramente

fértil se voltado à transformação e à inclusão social;

Aos professores Dr. Hélio Leães Hey, Dr. José Renes Pinheiro e Dr.

Humberto Pinheiro e aos então doutorandos José Roberto Baggio, Carlos

Marcelo Stein e Alysson Seidel, do programa de pós-graduação em Engenharia

Elétrica, pela solicitude e colaboração que tornaram esta pesquisa possível;

Aos meus pais, Ernanni e Cleonice, pelo amor e confiança, que me

deram audácia para fazer dos sonhos projetos e, destes, conquistas;

Ao meu marido, Rodrigo, pelo respeito aos meus projetos pessoais e

pela presença constante em palavras e em silêncio;

Aos meus sogros, D. Glê e Seu Turco, e também à Dinda e Tia Tânia,

pelo incentivo e vibração;

A todos os membros do LabLeR, pelo trabalho em equipe, sempre

obstinado e responsável, mas, acima de tudo, alegre e estimulante;

À Graci e à Val, colegas com as quais me orgulho de conviver, pela

experiência e dicas do tipo ‘I’ve been there’;

À Fernanda e à Patrícia, pelo interesse sincero e pelos comentários

valiosos sobre meu texto;

Aos meus inesquecíveis amigos, Léo e Lu, pela alegria, pelos cafés com

conversa e picadinho, pelo companheirismo e partilha, que tornaram a jornada

mais suave;

À Karina, meu alvo favorito nas apresentações de trabalho, pela

amizade e respeito, valores que provam que diferenças podem unir ainda mais

as pessoas.

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS viii

LISTA DE FIGURAS ix

LISTA DE SIGLAS x

RESUMO xi

ABSTRACT xii

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO 01

1.1 Contextualização ................................................................................ 01

1.2 Objetivo Geral .................................................................................... 03

1.3 Objetivos Específicos ......................................................................... 04

1.4 Questionamentos do estudo .............................................................. 04

1.5 Organização do estudo ...................................................................... 05

CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA 06

2.1 Comunidades disciplinares e gêneros discursivos acadêmicos ........ 06

2.2 A organização retórica do artigo acadêmico ..................................... 08

2.3 Textos não-verbais no artigo acadêmico ........................................... 13

2.3.1 As práticas de leitura e a configuração híbrida do artigo acadêmico 14

2.3.2 Textos não-verbais: freqüência e posição ....................................... 16

2.3.3 Textos não-verbais: função e tipo ................................................... 20

2.3.4 Textos não-verbais: natureza e tipo de significado ......................... 23

2.4 A organização do comentário de textos não-verbais ......................... 27

CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA 34

3.1 Universo de análise ............................................................................ 34

3.2 A seleção do corpus ........................................................................... 35

3.3 A coleta e análise dos dados ............................................................. 36

3.3.1 Investigação na comunidade disciplinar .......................................... 36

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3.3.2 Critérios para a análise dos textos .................................................. 38

3.3.2.1 A configuração do artigo acadêmico ............................................ 38

3.3.2.2 Textos não-verbais: freqüência e posição .................................... 39

3.3.2.3 Textos não-verbais: tipo e função ................................................ 39

3.3.2.4 Textos não-verbais: natureza e tipo de significado ...................... 40

3.4. Comentários de textos não-verbais .................................................... 41

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO 43

4.1 O artigo acadêmico segundo a visão de informantes da comunidade

disciplinar .................................................................................................

43

4.2 A organização retórica do artigo acadêmico de Engenharia Elétrica 49

4.2.1 Seções de Introdução e de Conclusão ........................................... 49

4.2.2 Seção de Revisão da Literatura ...................................................... 52

4.2.3 Seção de Metodologia ..................................................................... 54

4.2.4 Seção de Resultados e Discussão .................................................. 54

4.3 Como os informantes lêem e utilizam a informação visual ................ 58

4.4 Distribuição e localização dos textos não-verbais por página ............ 60

4.5 A disposição entre os textos não-verbais na página .......................... 63

4.6 Natureza e localização dos textos não-verbais nas seções do artigo

acadêmico ................................................................................................

67

4.7 A estrutura do comentário de textos não-verbais no artigo

acadêmico de Engenharia Elétrica ...........................................................

72

4.7.1 Etapa 1: como a atenção do leitor é direcionada aos textos não-

verbais ......................................................................................................

74

4.7.2 Etapa 2: como o texto não-verbal é descrito ................................... 79

4.7.3 Etapa 3: como o texto não-verbal é interpretado ............................ 80

4.8 Variações na estrutura do comentários de textos não-verbais .......... 83

4.9 A natureza da informação nos comentários de topologias na

Metodologia ..............................................................................................

86

4.9.1 Detalhes de Estrutura ...................................................................... 86

4.9.2 Detalhes de Composição ................................................................ 90

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4.9.3 Detalhes de Funcionamento ........................................................... 90

4.9.4 Detalhes de Função ou Finalidade .................................................. 93

4.9.5 Detalhes de Procedimentos ............................................................ 94

4.10 Os tipos de detalhe e a natureza conceitual e narrativa das

topologias .................................................................................................

98

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES DO ESTUDO E

SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS

101

5.1 Implicações para o ensino de Inglês para Fins Acadêmicos ............. 106

5.2 Limitações do estudo e sugestões para futuras pesquisas ................ 107

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 109

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Critérios de pontuação na revisão de trabalhos submetidos à

IEEE (IEEE Transactions on power electronics, 1999) ................................

46

Tabela 2 – Simulação X Experimentação no texto verbal ............................ 57

Tabela 3 – Número de TNVs por AA e número médio de TNVs por página 61

Tabela 4 – O padrão ‘Dado/Novo’ em itens lexicais no AAEE ..................... 65

Tabela 5 – As lacunas no Dado e a superação no Novo ........................... 66

Tabela 6 – Distribuição do tipo de TNV por seção nos AAEEs .................. 70

Tabela 7 – Tipo e freqüência das expressões utilizadas para fazer

referência a TNVs nos AAEEs .....................................................................

75

Tabela 8 – Ocorrência dos tipos de detalhes nos comentários de

topologias .....................................................................................................

87

Tabela 9 – Mecanismos sinalizadores de Estrutura ..................................... 89

Tabela 10 – Mecanismos sinalizadores de Procedimentos ......................... 95

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Modelo CARS proposto por Swales (1990:141) para a

Introdução de artigos acadêmicos em inglês ...............................................

10

Figura 2 – Extensão do modelo de Bittencourt (1996:485) proposta por

Motta-Roth e Hendges (1996:68) ..................................................................

12

Figura 3 – A natureza conceitual e narrativa dos diagramas ....................... 25

Figura 4 – Estrutura de comentários de TNVs para Swales & Feak,

(1994:80) .......................................................................................................

29

Figura 5 – Estrutura de comentários de TNVs na seção de Resultados e

Discussão, conforme Brett (1991:51) ...........................................................

29

Figura 6 – Estrutura de comentário de TNVs para Busch-Lauer (1998:118) 29

Figura 7 – Exemplo do tratamento dos resultados de simulação e de

experimentação nos TNVs ...........................................................................

55

Figura 8 – Exemplo de diagramação da página no AAEE ........................... 62

Figura 9 – TNVS em disposição sobreposta ................................................ 64

Figura 10 – Progressão entre abstração e representação em TNVs de

natureza topológica ......................................................................................

68

Figura 11 – A natureza dos TNVs nas seções de Metodologia (a) e de

Resultados e Discussão (b) ..........................................................................

71

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LISTA DE SIGLAS

AA Artigo Acadêmico

IMRD Introdução, Metodologia, Resultados e Discussão

CARS Creating A Research Space

PC Artigo de popularização da ciência

EE Engenharia Elétrica

AAEE Artigo Acadêmico de Engenharia Elétrica

TNV Texto não-verbal

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RESUMO

A INTERFACE ENTRE TEXTO VERBAL E TEXTO NÃO-VERBAL NO ARTIGO ACADÊMICO DE ENGENHARIA ELÉTRICA

Autora: Roséli Gonçalves do Nascimento Orientadora: Dra. Désirée Motta-Roth

No ensino superior, imagens em geral são vistas como periféricas na produção e negociação de significado. Entretanto, pesquisas recentes têm chamado atenção para a importância dos textos não-verbais (tabelas, figuras e equações) como elementos constitutivos de gêneros acadêmicos em diferentes áreas (Lemke, 1998; Johns, 1998; Busch-Lauer, 1998; Palmer & Posteguillo, 1998; Hemais, 2001; Rowley-Jolivet, 2002). Neste estudo, investigo o artigo acadêmico de Engenharia Elétrica com duplo objetivo: 1) verificar em que medida o artigo mantém as características centrais do gênero ou incorpora traços específicos em função das necessidades da comunidade em questão; e 2) analisar como o gênero é construído como um ‘híbrido semiótico’ (Lemke, 1998:87) que combina texto verbal e não-verbal. Para tanto, quinze artigos acadêmicos da referida disciplina foram analisados à luz da literatura pertinente e através de entrevistas com seis informantes da Universidade Federal de Santa Maria. Embora os resultados indiquem a adesão dos artigos do corpus ao padrão IMRD (Hill et al., 1983), três aspectos foram considerados típicos da disciplina: 1) Convenções de citação não-integrais; 2) Seção de Resultados estruturada em dois estágios, correspondentes à abordagem simulada ou experimental aos dados; e 3) Alta concentração de textos não-verbais em contraste com outras disciplinas. A análise dos textos e das entrevistas revelou que os engenheiros eletricistas tendem a considerar textos não-verbais como informação tácita, cujos propósitos variam de acordo com a seção do artigo na qual tais elementos são usados. Além disso, os textos não-verbais parecem determinar o uso de estratégias metadiscursivas de antecipação, recapitulação e sinalização lexical nos comentários verbais, os quais se organizam em três etapas, que incluem referência, descrição e interpretação. Especificamente na seção de Metodologia, os sistemas elétricos são explorados verbalmente tanto em termos de seu significado narrativo (como eventos) quanto conceitual (como estruturas físicas), com ênfase neste último. Tais constatações sugerem que os comentários de textos não-verbais tendem a enfatizar processos relacionais, em especial identificadores e atributivos, conforme as convenções da disciplina. Essas descobertas enfatizam a necessidade de consideramos a natureza híbrida dos gêneros acadêmicos e o papel constitutivo dos significados produzidos visualmente no texto, se nós realmente pretendermos, como professores de Línguas para Fins Acadêmicos, compreender o modo pelo qual as pessoas se comunicam nesse contexto.

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ABSTRACT

THE INTERFACE BETWEEN VERBAL TEXT AND NONVERBAL TEXT IN THE RESEARCH ARTICLE IN ELECTRICAL ENGINEERING

Author: Roséli Gonçalves do Nascimento Advisor: Dra. Désirée Motta-Roth

In the context of higher education, images are often viewed as peripheral for the production and negotiation of meaning. However, in the last few years, researchers have pointed out the importance of non-verbal texts (tables, figures, and equations) as constitutive elements of academic genres in different disciplinary fields (Lemke, 1998; Johns, 1998; Busch-Lauer, 1998; Palmer & Posteguillo, 1998; Hemais, 2001; Rowley-Jolivet, 2002). In this study, I investigate the research article of Electrical Engineering with a two-fold objective: 1) to examine the extent to which the article maintains core generic features or incorporates particular traits in response to the needs of the disciplinary community of Electrical Engineering; and 2) to analyze how the genre is constructed as a ‘semiotic hybrid’ (Lemke, 1998:87) which combines both verbal and non-verbal texts. For that purpose, fifteen research articles were analyzed in the light of the relevant literature and interviews with six informants working in the discipline at the Federal University of Santa Maria. Although the results indicate an adherence of the articles in the corpus to the IMRD pattern (Hill et al., 1983), three aspects were found to be discipline-specific: 1) Non-integral citation conventions; 2) Results sections usually structured in two stages corresponding to simulated and experimental approach to data; and 3) High concentration of non-verbal texts in contrast to other disciplines. As revealed by the analysis of interviews and texts, Electrical Engineers tend to consider non-verbal texts as tacit information that vary in purpose according to the research article section they appear in. Moreover, non-verbal texts seem to constrain the use of metadiscursive strategies such as advance labeling, recapitulation, and lexical signaling in their corresponding commentaries, which are organized in a three-step sequence, including reference, description and interpretation. Specifically in the methods section, electrical systems are verbally explored both in terms of their narrative (as events) and conceptual meanings (as physical structures), with emphasis on the latter. It may be concluded that non-verbal text commentaries tend to emphasize relational processes, especially identifying and attributive ones in ways that are regulated by the conventions of the discipline. These findings point out the need of considering the hybrid nature of academic genres and the constitutive role of visually-produced meaning in the text if we, as Language for Academic Purposes teachers, truly aim to account for the way people communicate in this context.

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CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização

Os diferentes tipos de linguagem não-verbal (gestos, música, imagens),

assim como a linguagem verbal (oral ou escrita), constituem modalidades

semióticas, entendidas aqui como sistemas de signos cujos significados são

gerados e compartilhados socialmente (Halliday, 1985:3-5). Nessa perspectiva,

as imagens possuem uma gramática própria, ou seja, um conjunto de

convenções quanto à forma, arranjo e associação, que nos permite combinar

traços isolados em uma unidade semântica (Kress & Van Leeuwen, 1996:1).

A comunicação por imagens é bastante estimulada nos primeiros anos

da educação escolar. No entanto, as imagens e a sua valorização como

instrumento de representação de sentidos parecem perder gradativamente o

status no decorrer das séries escolares até o ensino superior. No ensino médio,

o texto escrito torna-se responsável pela maior parte da produção de nosso

conhecimento, quando não é a modalidade exclusiva com a qual somos

solicitados a nos expressar (Id.:15). Essa tendência continua na universidade –

exceto para cursos voltados especificamente para a produção visual.

Segundo Johns (1998:183), na área de ensino de Inglês para Fins

Acadêmicos, há pelo menos duas razões para o predomínio da pesquisa sobre

a modalidade verbal escrita. A primeira é que os lingüistas aplicados tendem a

se interessar mais e, sem dúvida, estão mais familiarizados com a ‘palavra’

escrita. A segunda razão é que, em algumas disciplinas acadêmicas, gráficos e

outras representações visuais não desempenham um papel central, como, por

exemplo, na Filosofia e nas Ciências Humanas em geral.

Por outro lado, pesquisas enfocando questões visuais nos gêneros

acadêmicos para contextos disciplinares específicos são particularmente

relevantes se considerarmos a natureza híbrida dos gêneros científicos

(Lemke,1998:87), pois os conceitos da ciência não são comunicados

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exclusivamente através da linguagem verbal: eles combinam o verbal, o

matemático, o visual e até mesmo o sensório-motor (Id.:ibidem).

Assim, na tentativa de contribuir para os estudos em Análise de Gênero,

na grande área de Análise do Discurso, pretendo analisar a organização formal

e retórica do gênero artigo acadêmico em Engenharia Elétrica em língua

inglesa, com foco na relação de textos não-verbais, ou seja, gráficos, tabelas e

figuras, com o texto verbal.

A escolha pela disciplina de Engenharia Elétrica está relacionada, em

primeiro lugar, à minha prática profissional na área de ensino de Inglês para

Fins Acadêmicos junto a pesquisadores da referida disciplina e da observação

de seus esforços para publicar em periódicos internacionais. Em segundo

lugar, a revisão da literatura evidenciou que essa disciplina não tem sido foco

de pesquisas, exceto por alguns estudos nas décadas de 70 e 80, como

mencionado em Swales (1990:131-2) e Brett (1991:47).

O enfoque na combinação das modalidades verbal e não-verbal é

conseqüência da presença marcante de figuras e tabelas nos artigos

acadêmicos de Engenharia Elétrica. Por acreditar que o emprego e a

significação de textos não-verbais (TNVs)1 são determinados por valores

disciplinares específicos, tomo por base os estudos em Análise de Gênero

(Bakhtin,1986; Bazerman, 1988; Swales,1990; Berkenkotter & Huckin, 1995),

segundo os quais não se concebe analisar as práticas de uma disciplina de

modo desvinculado de seu contexto de produção e consumo. Em função disso,

tento me aproximar de uma perspectiva etnográfica sobre os dados ao buscar

informações sobre significados, valores e funções de TNVs junto a um grupo

de professores-pesquisadores de Engenharia Elétrica da Universidade Federal

de Santa Maria.

Parto do princípio de que uma melhor compreensão das convenções

que regem a relação entre texto verbal e TNV, no artigo acadêmico (AA),

1 É necessário esclarecer que optei pelo termo ‘textos não-verbais’ (TNVs), ao invés de textos ou elementos visuais, pelo fato de que mesmo a linguagem escrita é percebida visualmente.

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podem servir para informar práticas de ensino de leitura e redação em Inglês

para Fins Acadêmicos. Tais convenções devem ser entendidas como as

opções de uma comunidade acadêmica, não apenas quanto a aspectos

formais do gênero (a estrutura do texto), mas também quanto a aspectos

discursivos (o texto como mediador da interação social e como veículo de

valores e significados de grupos particulares) e epistemológicos (o que é

considerado conhecimento legítimo na disciplina, já que há diferentes maneiras

de se abordar um fenômeno, por exemplo, uma abordagem positivista, na qual

cabe ao pesquisador apenas observar a realidade pré-existente; em oposição a

uma sócio-construtivista, na qual o pesquisador intervém na realidade pelo

processo de investigação). Assim, o ensino com base em gêneros se utiliza

das funções da linguagem como instrumento para habilitar aprendizes a

interagir no contexto do qual desejam fazer parte, pois, de acordo com Swales

(1990:89), o conhecimento sobre gêneros pode estimular a produção de textos,

ao auxiliar na superação de dificuldades iniciais na escrita acadêmica.

Acompanhado de reflexão crítica, esse processo gradativamente permite ao

aprendiz maior consciência sobre as conseqüências sociais de suas próprias

ações e das ações dos outros através da linguagem (Id.:92).

1.2 Objetivo geral

No intuito de contribuir para a discussão sobre o papel dos TNVs na

organização e construção do significado em gêneros acadêmicos para

contextos específicos, apresento, neste trabalho, um estudo da interface TNV e

texto verbal no artigo acadêmico de Engenharia Elétrica (AAEE). Nesse estudo,

busco investigar como o artigo acadêmico incorpora ao texto características

específicas para atender às necessidades de prática de uma comunidade

disciplinar.

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1.3 Objetivos específicos

1. Mapear, de forma geral, a configuração retórica do AA, nesse contexto

disciplinar, de forma a identificar aspectos do gênero que se mantêm e

aspectos que constituem características peculiares à disciplina;

2. Identificar algumas das estratégias que constróem a relação entre TNVs e

texto verbal no gênero.

3. Delinear a estrutura textual desse híbrido no que se refere à linguagem

usada para comentar TNVs.

1.4 Questionamentos do estudo

Como este trabalho tem caráter qualitativo e inspiração etnográfica,

algumas das questões de pesquisa não se estabelecerão a priori, mas sim, a

partir dos dados. No entanto, considerando os TNVs como um recurso de

construção de sentido, minha análise está fundamentada nos seguintes

questionamentos:

• Em que medida o AAEE mantém a configuração usual do gênero ou, por

outro lado, apresenta variações associadas às especificidades da

disciplina?

• Como é o uso de TNVs no AAEE? Como o TNV é incorporado ao texto

verbal no gênero, considerando aspectos como freqüência, posição e

função?

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• Qual é a estrutura textual desse híbrido? Há um padrão retórico subjacente

ao comentário verbal dos TNVs? Que marcadores lingüístico-discursivos

sinalizam essa organização?

1.5 Organização do estudo

O trabalho se distribui em quatro capítulos, além desta Introdução. No

Capítulo 2, de Revisão da Literatura, discuto questões teóricas e conceitos

relevantes para esta pesquisa. No Capítulo 3, de Metodologia, descrevo as

etapas e critérios seguidos para a implementação do estudo. No Capítulo 4, de

Resultados e Discussão, apresento e discuto os dados obtidos na análise do

corpus à luz da literatura na área. Ao final, no Capítulo 5, de Considerações

finais e Sugestões para futuras pesquisas, faço algumas considerações sobre o

significado do trabalho como um todo para a área de Ensino de Línguas para

Fins Acadêmicos.

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CAPÍTULO 2 – REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Comunidades disciplinares e gêneros discursivos acadêmicos

A academia, com suas práticas sociais de redação, publicação e leitura

de textos acadêmicos, que possibilitam a interação entre pares, se constitui em

uma das esferas de atividade humana. Enquanto universo de interação social,

a academia abrange várias comunidades formadas por membros de diferentes

disciplinas. Ainda que as práticas discursivas dessas comunidades – suas

atividades sociais de produção, distribuição e interpretação de textos

(Fairclough, 1992:71) – sejam moldadas por convenções da língua e da

estrutura social, elas podem agir sobre a estrutura no sentido de reproduzí-la

ou de transformá-la (Chouliaraki & Fairclough, 1999:49).

Como as situações nas quais os membros dessas comunidades

interagem socialmente são recorrentes – por exemplo, ministrar palestras ou

solicitar auxílio financeiro para pesquisa – a linguagem utilizada naquele

contexto torna-se tipificada, relativamente previsível e constitui os gêneros

discursivos (Bakhtin, 1986:60). Berkenkotter & Huckin (1995:4) definem

gêneros como “formas retóricas dinâmicas desenvolvidas a partir das respostas

de atores (sociais) a situações recorrentes e que servem para estabilizar a

experiência e conferir a ela coerência e significado.”

Entretanto, mesmo que as práticas discursivas acadêmicas tendam a ser

convencionalizadas, seria um equívoco supor que as comunidades

disciplinares sejam grupos homogêneos e fechados. Ao contrário, segundo

Flowerdew (2000:129), esses grupos são dinâmicos e sujeitos à mudança.

Tal flexibilidade reflete necessidades específicas da disciplina e,

geralmente, acarreta variações nos gêneros que a comunidade utiliza

(Berkenkotter & Huckin, 1995:22). Dessa forma, para se engajar em uma

determinada comunidade disciplinar, um indivíduo aprende os gêneros e as

convenções normalmente empregadas pelos membros mais experientes do

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7

grupo, através de iniciação profissional, em um processo denominado

aculturação (Motta-Roth, 1999:121). Isso pressupõe familiarizar-se não apenas

com aspectos formais, mas também com questões de conteúdo (Berkenkotter

& Huckin, 1995:14-5), tais como os tópicos e questões relevantes para aquele

momento socio-histórico da disciplina, bem como aspectos práticos, como

adequação às normas de publicação, cumprimento de prazos, procedimentos

de envio e submissão de trabalhos.

Todavia, o entendimento de que a familiaridade com os gêneros

acadêmicos deva ocorrer através do engajamento nas práticas da comunidade

(Idem:152), não impede que o processo possa ser acelerado através de

instrução sistemática. Nesse sentido, a teoria de gêneros, ao explicitar a

linguagem utilizada pelos usuários de gêneros, pode auxiliar aos próprios

usuários e aos que se iniciam na cultura disciplinar. Iniciativas dessa natureza

são particularmente úteis no caso de pesquisadores iniciantes que se deparam

com a necessidade de manusear gêneros específicos da comunidade

disciplinar na qual ingressam, especialmente em se tratando de língua

estrangeira.

Como busquei destacar nesta seção, cada comunidade utiliza com maior

ou menor intensidade um repertório de gêneros tais como o AA (artigo

acadêmico), comunicação em congressos, resumo acadêmico, dissertações e

teses. Dentre esses gêneros, o AA se destaca, já que é tipicamente o gênero

mais utilizado para relatar o resultado de pesquisas (Swales, 1990:90) e sua

publicação pode fazer com que reivindicações e questionamentos de um grupo

particular passem a ser um conhecimento compartilhado na comunidade

disciplinar como um todo (Idem:11).

Na disciplina de Engenharia Elétrica (EE), a necessidade de engajar-se

no debate acadêmico, através da publicação e revisão de pesquisas em caráter

conclusivo, faz do AA um desafio para os engenheiros elétricos, especialmente

no caso de periódicos internacionais. Como base para a análise do artigo

acadêmico de Engenharia Elétrica (AAEE), recupero estudos que sistematizam

a organização retórica do gênero em contextos disciplinares variados.

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2.2 A organização retórica do artigo acadêmico

A pesquisa, em Análise de Gênero, tradicionalmente investiga os

padrões retóricos recorrentes que podem dar conta da configuração de um AA,

ou seja, o objetivo, a natureza e a organização da informação no texto. A partir

disso, pesquisadores têm proposto modelos descritivos de extrema relevância

pedagógica, identificando traços lingüísticos relacionados à macro

(organização do texto em estágios textuais abrangentes) e microestrutura (os

elementos do sistema léxico-gramatical que realizam esses estágiosl) desses

textos em diferentes disciplinas (Hendges, 2001:27).

Hill et al. (1982:335-7) propõem um modelo geral composto por

Introdução, Metodologia, Resultados, e Discussão (IMRD), responsável pela

organização do AA em diferentes estágios funcionais. A Introdução atrai o leitor

para a pesquisa, ao fazer a transição entre uma visão geral da disciplina para o

tópico específico de interesse (Swales, 1990:134-142). A referência a

pesquisas prévias, típica dessa seção, constitui o conhecimento já estabelecido

na área (dado), enquanto que a apresentação do tópico do trabalho constitui a

proposta (conhecimento novo).

A seção de Metodologia contém a descrição dos materiais e

procedimentos utilizados na pesquisa para obtenção e análise dos dados

(Idem: 134). Em termos de microestrutura, essa seção é marcada por

expressões que remetem aos sujeitos de pesquisa (patients, interviewees,

informants) e materiais utilizados (liquid nitrogen, acid) bem como aos

procedimentos de análise (method, procedure) (Motta-Roth, 2001b:72-3).

Tradicionalmente, os fatos são narrados em ordem cronológica (first, next) e os

verbos referentes à atividade de pesquisa (analyze, examine, investigate, use)

encontram-se na voz passiva, no tempo passado (Id.:ibidem).

Quanto à organização global, o relato tende a se estruturar em função do

fenômeno estudado e da maneira como se concebe o conhecimento gerado

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em pesquisas naquela área (Motta-Roth, 2001b:68-9), mas, em geral, a

Metodologia tem formato de lista, pois os eventos de pesquisa tendem a ser

relatados em seqüência linear (Swales, 1990:168). Por essas razões, Swales

(Id.:ibidem) aponta para a necessidade de se caracterizar o padrão de

desenvolvimento da informação na Metodologia, já que o usual padrão Dado-

Novo nem sempre parece dar conta da organização dessa seção.

Segue-se a seção de Resultados, cuja função é apresentar os dados

coletados com o auxílio das categorias estabelecidas na Metodologia

(Id.:ibidem). Por fim, na Discussão, os resultados são interpretados e as

implicações dessas descobertas são discutidas com referência a pesquisas

prévias, de modo que se perceba o quanto o conhecimento na área avançou.

Além de incluir limitações do estudo e sugestões para futuras pesquisas, a

Discussão se caracteriza por uma transição de foco que se amplia

gradativamente em direção às questões gerais da disciplina, fazendo o

movimento inverso da Introdução (Motta-Roth & Hendges, 2001:78).

Essa estrutura, entretanto, pode variar de uma disciplina para outra (Brett,

1994; Holmes, 1997). As especificidades do objeto de estudo e os valores

disciplinares, nos diferentes contextos, podem gerar variações

macroestruturais, embora se trate de um mesmo gênero (Hendges, 2001:8),

uma vez que aspectos decisivos como o objetivo comunicativo (relatar

resultados de pesquisas) e a natureza do veículo de comunicação (periódico

científico) são mantidos.

Em relação à seção de Introdução, Swales (1990:141) elabora um modelo

que ele próprio denomina CARS (Creating A Research Space), que descreve o

tipo e a seqüência da informação geralmente encontrada nessa seção

(Hendges, 2001:10), conforme mostra a Figura 1. Nesse modelo, cada

movimento é uma unidade discursiva com uma função definida e com

características estruturais específicas organizadas de modo hierárquico

(Nwogu, 1990:98). Cada estágio textual é definido como um movimento (move)

em nível mais abrangente e pode ser concretizado através de um ou mais sub-

movimentos ou passos (steps) (Motta-Roth, 1995:47-8).

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__________________________________________________________ MOVIMENTO 1 ESTABELECER UM TERRITÓRIO Passo 1 - Estabelecer a importância da pesquisa e/ou Passo 2 - Fazer generalizações e/ou Passo 3 – Citar pesquisas prévias MOVIMENTO 2 ESTABELECER UM NICHO Passo 1A - Contra-argumentar ou Passo 1B - Indicar lacunas ou Passo 1C - Provocar questionamentos ou Passo 1D - Continuar a tradição MOVIMENTO 3 OCUPAR O NICHO Passo 1A - Delinear os objetivos ou Passo 1B - Apresentar a pesquisa Passo 2 - Apresentar os principais resultados Passo 3 - Indicar a estrutura do artigo

___________________________________________________________ Figura 1 - Modelo CARS proposto por Swales (1990:141)

para a Introdução de artigos acadêmicos em inglês

Os passos são estratégias constitutivas mais específicas que se

combinam para constituir a informação que perfaz um movimento (Id.:48).

“Cada uma dessas unidades esquemáticas é considerada retórica uma vez que

realiza ou adiciona uma parte da informação dentro da totalidade do texto”

(Id.:47).

Através do Movimento 1 (Estabelecer um Território), o escritor interpela a

comunidade disciplinar para estabelecer a relevância da pesquisa no contexto

mais amplo (Passo 1), através de generalizações sobre o tópico (Passo 2) e/ou

referência à pesquisas prévias (Passo 3). O interesse no tópico é marcado por

expressões que indicam a quantidade de estudos já realizados sobre o tema

(studied extensively, studied by many authors) ou explicitam a importância do

mesmo (interest, great importance) (Motta-Roth & Hendges, 2001:57; Swales,

1990:144-5). Além disso, o presente perfeito é utilizado para indicar a adoção

habitual de um procedimento no passado recente (many investigators have

recently turned to ...) (Id.:ibidem).

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As generalizações sobre o tópico são afirmações de caráter amplo que

sugerem conhecimento compartilhado na área, freqüentemente identificadas

pela presença de lexemas explícitos como well-known, standard, common

(Id.:ibidem) e pelo uso do presente do indicativo (English is rich in related

words; malignant lymphomas are very rare) (Id.:ibidem).

Na citação a pesquisas prévias, há referência a publicações anteriores

através de menção ao nome do autor, ano de publicação da obra e, por vezes,

à página. Para uma discussão mais aprofundada sobre padrões de citação no

AA, ver, por exemplo Swales (1990), Thomas e Hawes (1994) e Hendges

(2000).

No Movimento 2, o escritor apresenta uma postura em relação aos

resultados de pesquisas prévias e passa, assim, a estabelecer o nicho através

de três passos. No Passo 1, Contra-argumentar, a discordância com relação a

algum ponto da pesquisa anterior é sinalizada por conjunções adversativas

como but, however. No Passo 1B, Indicar lacunas, o escritor aponta limitações

no conhecimento estabelecido através de quantificadores negativos (none,

little, few) e lexemas indicando falhas (fail, lack, suffer from, inconclusive,

expensive, time consuming). No Passo 1C, o autor faz questionamentos sobre

o assunto (A question remains ..., ... need to be analyzed; This raises the issue

of whether a protocol exists in the writing of e-mail messages). Finalmente, no

Passo 1D – Continuar a tradição – o escritor adota procedimentos ou modelos

desenvolvidos em trabalhos anteriores, mostrando concordância com estes

freqüentemente ao mencionar aspectos a serem cobertos pela pesquisa, ao

indicar conclusão lógica (seem, appear, therefore) em sentenças como There is

therefore a pedagogical rationale for extending the genre analysis of the RA into

the social sciences; There seems to be a need for revisiting the technical view

of feedback (...).

Seguindo a mesma tradição, Motta-Roth e Hendges (1996:68) propõem

uma releitura sobre a transição do conhecimento dado para o novo, na Revisão

da Literatura em resumos acadêmicos (abstracts) (Figura 2).

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_____________________________________________________ MOVIMENTO 1 SITUAR A PESQUISA Sub-função 1A - Estabelecer interesse profissional no tópico ou Sub-função 1B - Fazer generalizações do tópico e/ou Sub-função 2A - Citar pesquisas prévias ou Sub-função 2B - Estender pesquisas prévias ou Sub-função 2C - Contra-argumentar pesquisas prévias ou Sub-função 2D - Indicar lacunas em pesquisas prévias MOVIMENTO 2 APRESENTAR A PESQUISA Sub-função 1A - Indicar as principais características ou Sub-função 1B - Apresentar os principais objetivos e/ou Sub-função 2 - Levantar hipóteses MOVIMENTO 3 DESCREVER A METODOLOGIA MOVIMENTO 4 SUMARIZAR OS RESULTADOS MOVIMENTO 5 DISCUTIR A PESQUISA Sub-função 1 - Elaborar conclusões e/ou Sub-função 2 - Recomendar futuras aplicações

___________________________________________________________ Figura 2 - Extensão do modelo de Bittencourt (1996:485)

proposta por Motta-Roth e Hendges (1996:68)

A Figura 2 indica que, nas Sub-funções 1A e 1B, a literatura é citada de

modo geral, enquanto que questões mais específicas são citadas nas sub-

funções de 2A a 2D (Hendges, 2001:20). Já o Movimento 2, de apresentação

da pesquisa, constitui o conhecimento novo e pode ser concretizado pela

indicação das principais características do estudo (Sub-função 1A),

apresentação dos objetivos (Sub-função 1B) ou levantamento de hipóteses

(Sub-função 2). Essa função é marcada pelo uso de dêiticos que remetem ao

trabalho ou aos autores (the present study, we, here) e por lexemas explícitos

sobre os objetivos (objective, aim) e à organização do trabalho (sections,

structure, is organized) (Id.:159-61), como, por exemplo, no seguinte excerto:

The purpose of this study is to investigate the features of e-mail messages from

academic sources. The article is organized as follows. In Section 1, we review

the literature on (...).

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O esquema de movimentos e passos também é usado para analisar

outras seções do AA, como, por exemplo, a seção dos Resultados nas

disciplinas de Bioquímica (Thompson, 1993) e Sociologia (Brett, 1994); a seção

de Discussão na História, Ciência Política e Sociologia (Holmes, 1997); e a

seção de Resultados e Discussão de forma conjunta (Dudley-Evans, 1986;

Hopkins & Dudley-Evans, 1988). Nesses estudos, Resultados e Discussão

parecem ser considerados como um estágio retórico único, uma vez que a

separação entre as duas seções não é muito rigorosa.

Ao descrever os padrões de organização da informação e exemplificar os

traços lingüísticos que, de modo mais freqüente, sinalizam casa etapa do AA,

esses estudos contribuem para o presente trabalho, visto que pretendo mapear

a configuração do AAEE. Assim, conhecer as características comuns ao

gênero será essencial para determinar aqueles traços que são peculiares às

práticas discursivas na disciplina investigada.

2.3 Textos não-verbais no artigo acadêmico

O uso dos textos não-verbais (TNVs) parece ser um dos traços do AA que

reflete as necessidades das diferentes comunidades disciplinares. Talvez o

logocentrismo de gêneros puramente verbais (especialmente nas Ciências

Humanas) tenha nos levado a subestimar a presença da informação não-verbal

que, em si e em combinação com o verbal, é responsável pela mensagem

construída no texto (Lemke, 1998:111; Miller, 1998:30). Em áreas como a

Economia (Johns, 1998), Física, Medicina (Lemke, 1998), no entanto, a

linguagem não-verbal1 parece desempenhar um papel central para os valores

disciplinares.

1 Linguagem não-verbal, chamada neste trabalho indiscriminadamente de imagens, figuras, modalidade não-verbal, textos não-verbais ou TNVs.

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Para compreender a função dos TNVs, em tais contextos, é necessário

investigar as regras e estratégias que regulam a combinação das duas

modalidades – verbal e não-verbal – na construção do argumento científico.

Com esse intuito, pesquisas recentes têm enfocado a linguagem híbrida do AA,

em alguns contextos disciplinares, por exemplo, Lemke (1998) em Física e

Medicina; Jonhs (1998) em Economia; Busch-Lauer (1998) em Medicina;

Palmer & Posteguillo (1998) em Lingüística. Outras pesquisas abordam o não-

verbal como um dos traços particulares da disciplina, seja no AA (Hemais,

2001, em Marketing) ou no contraste entre gêneros acadêmicos e gêneros não

acadêmicos, como o artigo de popularização científica (Myers, 1990), ou o

artigo de revistas jornalísticas populares (Miller, 1998).

A seguir, reviso essas pesquisas no que tange aos seguintes aspectos: 1)

como a presença dos TNVs se insere nas práticas de leitura do AA; 2) como os

TNVs variam em freqüência, posição e integração no corpo do AA; 3) que tipos

de TNVs são mais característicos no contexto acadêmico e que função

desempenham em relação à disciplina, ao gênero e às suas respectivas

seções retóricas; 4) como os traços mencionados em 2) podem se realizar na

linguagem verbal.

2.3.1 As práticas de leitura e a configuração híbrida do artigo

acadêmico

Em princípio, qualquer texto acadêmico escrito é linear apenas na

aparência, pois, ao contrário da linguagem falada, ele apresenta pelo menos

duas dimensões (altura e largura), que podem ser acessadas a partir de

qualquer ponto, a qualquer momento (Lemke, 1998:95). Nessa perspectiva, o

texto acadêmico representa uma forma primitiva de hipertexto (Id.:ibidem), no

qual há mais de uma seqüência de leitura subentendida. As notas de rodapé,

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as figuras e seus títulos e as expressões tais como ‘aTabela 3 apresenta’, que

apontam para as figuras, oferecem um caminho opcional para os leitores.

Se observarmos a prática de acadêmicos experientes, que tanto lêem

quanto escrevem AAs, podemos constatar que sua leitura, em geral, não segue

um padrão linear. Muitos cientistas, após lerem o título e o abstract, avançam

diretamente para as referências, ou ainda as lêem de forma superficial em

busca de citações familiares (Lemke, Id.:96). Para Busch-Lauer (1998:115), os

cientistas tendem a passar do título diretamente aos TNVs, retornar ao abstract

para somente então ler o texto.

Freqüentemente, eles recorrem aos TNVs como primeira fonte de

informação (Berkenkotter & Huckin, 1995:30-2; Lemke, 1998:96; Miller,

1998:29-30). Uma possível razão para isso é que figuras e tabelas, em geral,

contêm as informações mais importantes e convidam os leitores a ver os

fenômenos por si próprios, como se os dados, não o cientista, estivessem

veiculando o argumento (Miller, Id.:30 e 32).

Além de indicar a constituição híbrida do AA, tais observações nos levam

a refletir sobre o potencial informativo dos TNVs, já que, de acordo com Lemke

(Id.:105), a figura parece ser necessária para que o leitor experiente interprete

o texto. Portanto, figuras e expressões matemáticas parecem ser informação

essencial, isto é, não-redundante, seja para reforçar significados do texto, seja

para completá-los.

Ao contrário de leitores experientes, estudantes tendem a ler o texto

linearmente, recorrendo aos TNVs à medida que eles aparecem (Busch-Lauer,

1998:115). Para Kress & van Leeuwen (1996:218), esse comportamento pode

estar associado a uma espécie de sentimento de culpa por parte do leitor em

não seguir o padrão da esquerda para a direita ou de cima para baixo, segundo

o qual o texto é planejado.

Assim, leitores e escritores menos experientes, possivelmente, deixam de

utilizar a informação de modo seletivo; primeiro, por acreditarem estar violando

a seqüência convencional de leitura e; segundo, por encontrarem dificuldade

em identificar as informações mais relevantes e sua localização usual no AA.

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Como subsídio para discutir essas questões, apresento, a seguir, os resultados

de pesquisas que tratam de padrões e convenções sobre a distribuição da

informação não-verbal no AA.

2.3.2 Textos não-verbais: freqüência e posição

Os TNVs ocorrem em diferentes proporções no AA, de acordo com as

disciplinas investigadas. Lemke (1998:88-9) verifica uma média de 1,1 e um

máximo de 4,3 TNVs por página em AAs da Medicina; e média de 1,2 na

Física. A constatação de que cada página do AA contém ao menos um TNV,

fornece indicações sobre a constituição híbrida desse gênero, visto que a

informação, nessas disciplinas, é veiculada a partir de uma combinação do

verbal e do não-verbal

Quanto à distribuição, nas seções do AA, as pesquisas em geral

destacam a seção que reúne Resultados e Discussão como aquela que

tipicamente contém maior número de TNVs (Brett, 1991:50, na Sociologia;

Busch-Lauer, 1998:115, na Medicina; Miller, 1998:36, na área médica2). Miller

(Id.:ibidem) acrescenta que, “exceto pelas seções de Introdução e Discussão, o

visual domina o artigo.” Com isso, o autor sugere que as seções de Resultados

(nesse caso, considerada em separado) e de Metodologia devam ser

observadas quanto à presença de TNVs.

Em se tratando da posição dos TNVs em relação ao texto verbal na

página, tanto na Medicina (Busch-Lauer, 1998:116), quanto na Lingüística

(Palmer & Posteguillo, 1998:255), TNVs tendem a se localizar na parte inferior,

quando as páginas são impressas em coluna simples, e, no canto superior

esquerdo ou inferior direito, quando as páginas são impressas em coluna

2 Não há uma definição explícita sobre a disciplina investigada. Em função do tipo de TNVs e do léxico utilizado, posso inferir que se trate de Biologia ou Medicina.

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dupla. No entanto, a maioria das pesquisas não discutem o significado desses

dados para a composição da página em textos acadêmicos.

Acredito que a distribuição dos diferentes blocos informativos, em um

texto, resulta em diferentes estratégias coesivas entre eles e pode, dessa

forma, refletir como a comunidade disciplinar concebe a informação que

veicula. Portanto, considero necessário buscar categorias que respondam pelo

significado da composição entre TNVs e texto verbal. Com essa finalidade,

recupero as metafunções da linguagem, originalmente propostas por Halliday e

Hasan (1985) para a linguagem verbal e, posteriormente, exploro tais funções

para a análise de textos que combinem imagem e linguagem verbal, segundo

proposta de Kress e van Leeuwen (1996).

Quando utilizamos a linguagem, três tipos principais de processos estão

em ocorrência simultânea: a construção da realidade (metafunção ideacional);

a representação e negociação de relações e identidades sociais (metafunção

interpessoal); e a construção do próprio texto (metafunção textual) (Halliday &

Hasan, 1985:19-23; Chouliaraki & Fairclough,1999:50). Isso significa que não

podemos construir, semioticamente, a realidade sem nos representar e aos

outros, mas também não podemos fazê-lo sem nos engajarmos na atividade

semiótica de elaboração do texto (Chouliaraki & Fairclough, 1999:50).

A metafunção ideacional é responsável pelo potencial da linguagem para

representar objetos, entidades e fenômenos da realidade e a relação entre eles

(Halliday & Hasan, 1985:19,26-27 e 45). No texto, tal função tipicamente se

manifesta na forma de nominalizações, processos e circunstâncias. Já a

metafunção interpessoal, através da escolha de modo verbal, modalidade e

pessoas do texto, responde pela capacidade da linguagem de estabelecer a

interação entre locutor e interlocutor como participantes de um ato social

(Id.:ibidem).

Por fim, a metafunção textual é responsável pela coesão interna dos

textos e pela coerência destes com o contexto no qual são significativos. De

modo geral, essa função se manifesta nos padrões de organização da

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informação no texto (tema e rema) e nos elementos coesivos que conectam

diferentes blocos informativos (Id.:ibidem).

Kress & van Leeuwen (1996) utilizam as metafunções da gramática

funcional hallidayana para analisar até que ponto as imagens têm um sistema

de emprego próprio. Nessa proposta (Id.:183), a metafunção textual é

concretizada através de três sistemas: 1) o valor da informação conforme o

posicionamento dos elementos (participantes relacionados entre si na imagem

ou a imagem em relação ao texto verbal) nas diferentes regiões da página (por

exemplo, esquerda-direita), 2) a saliência dos elementos (posição de frente ou

de fundo, tamanho, contraste e definição da imagem) com o intuito de atrair a

atenção do observador e 3) os efeitos de moldura (linhas e outros mecanismos)

usados para promover algum tipo de associação (ou dissociação) entre os

elementos do texto (Id.:183).

Dentre os três sistemas, interessam-me o 1) e o 3), de modo

interrelacionado. O sistema 1, como mencionei acima, trata do valor da

informação nas diferentes zonas da página. Nesse sistema, esquerda e direita

são associadas aos valores de Dado e Novo, respectivamente. Assim, os

elementos posicionados à esquerda são apresentados como informação que o

observador já conhece e servem, portanto, de ponto de partida para a

mensagem (Id.:187). Ao contrário, o lado direito geralmente introduz

informação considerada nova, ou seja, algo que não é consenso e que, logo,

merece atenção especial (Id.:ibidem).

Segundo os próprios autores (Id.:183), princípios de composição, como os

descritos acima, aplicam-se não apenas à análise de figuras em si, mas

também à análise de páginas que combinem texto e imagem. Os AAs que

investigo são impressos e a informação, nas suas páginas, encontra-se

disposta entre esquerda e direita. Portanto, acredito que os valores de Dado-

Novo podem contribuir para um entendimento de como as modalidades verbal

e não-verbal se coadunam no texto dessa disciplina.

Na linguagem verbal, a posição dos TNVs pode se manifestar através de

marcadores de antecipação e recapitulação, que promovem a associação dos

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TNVs no texto e, dessa forma, realizam o ponto 3 da metafunção textual, como

mencionado anteriormente. Tanto antecipadores quanto recapituladores se

enquadram na noção de previsão de Tadros (1985:5-13), segundo a qual,

certos marcadores, em um texto, prevêem a ocorrência de eventos discursivos,

seja na forma verbal ou não-verbal.

Os antecipadores (tradução de advance labelling por Motta-Roth,

1997:97-121) possibilitam ao escritor prever a realização do TNV como ato

discursivo subseqüente no texto. Por exemplo, ao escrever ‘graphically

represented this would give a regular pyramid as shown in Fig. (A)’, o autor

assume o compromisso de produzir e apresentar o gráfico.

A essência, nesse sistema, é, portanto, o relacionamento entre a

previsão e a realização, as quais a autora denomina membro V e membro D,

respectivamente (Motta-Roth, 1997:114).

Exemplo 1 Membro V: Consider the following diagram. Membro D(a): a realização do diagrama Membro D(b): interpretação verbal do diagrama.

No Exemplo 1, adaptado de Tadros (Id.:26-7), o membro V interpela o

leitor e prevê não somente o ato de produzir o TNV, como também o de

interpretá-lo verbalmente. Assim, o membro D(a) corresponde ao diagrama, e o

membro D(b), ao texto verbal, cuja função é interpretar a linguagem do TNV.

De modo semelhante, os recapituladores prevêem informação nova ao

recuperar uma informação previamente mencionada no texto (Tadros, 1985:35;

Araújo, 1997:132), conforme ilustra o Exemplo 2.

Exemplo 2 As mentioned earlier, there are three types of goods. (...) Como visto no Exemplo 2, ao retomar algo que já apresentou, o autor se

certifica de que a informação nova subseqüente será considerada no contexto

do que já foi dito. Quando utilizado para recuperar um TNV, o recapitulador

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funciona como o elo entre o conhecido, ou seja, o TNV, já inserido

anteriormente, e o novo, ou seja, a exploração verbal da figura.

A recapitulação requer o cumprimento de quatro critérios: 1) a sentença

deve conter um indicativo de recapitulação (as seen in the previous chapter; in

part 3 we pointed out); 2) a sinalização deve conter um verbo no tempo

passado; 3) a responsabilidade pela recapitulação é atribuída ao escritor do

texto; 4) a sentença na qual o recapitulador ocorre não deve encerrar um

capítulo funcionando como resumo ou encerrar uma sentença, como

comentário (Tadros, 1985:36-7).

Nesta pesquisa, verificarei a adequação do sistema Dado-Novo para

determinar o valor da informação veiculada nos TNVs em relação ao texto

verbal. Já os antecipadores e recapituladores serão considerados os

marcadores que manifestam verbalmente essa relação de composição textual.

2.3.3 Textos não-verbais: função e tipo

A principal vantagem dos TNVs é que eles podem mostrar aspectos da

realidade, ou seja, objetos e suas relações (metafunção ideacional ou de

representação), difíceis de descrever verbalmente (Miller, 1998:36), tais como

gradação, proporção, relações múltiplas de proximidade e conexão (Lemke,

1998:87). Para buscar informações sobre os tipos e as funções exercidas por

TNVs no AA, apresentarei, nesta seção, resultados de pesquisas que abordam

1) a função dos TNVs conforme variação entre dois gêneros (AA e artigo de

popularização da ciência) e 2) os tipos característicos de TNVs em duas

disciplinas (Lingüística e Medicina).

No que tange à variação entre gêneros, Myers (1990:158-165) estuda de

forma contrastiva o AA e o artigo de popularização da ciência e aponta a

ilustração como um dos aspectos que diferenciam o texto científico do texto de

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popularização da ciência (PC), dirigido a uma audiência não-especializada. A

base da discussão é que os AAs estabelecem uma narrativa da ciência, na

qual o relato dos eventos segue uma seqüência lógica, a da atividade científica

(IMRD). Por outro lado, o PC segue a narrativa da natureza, já que os fatos

tendem a ser relatados em seqüência cronológica (Id.:142), iniciando, por

exemplo, com a história de uma pessoa que descobre ter uma doença e se

estendendo até a cura através da descoberta de uma nova droga.

Grosso modo, poderíamos dizer que, no AA, não há preocupação com a

ordem na qual os eventos efetivamente ocorreram, mas em como organizá-los

de modo a defender a tese. Isso se reflete nas figuras do AA, que tendem a

representar a realidade de maneira estilizada, desprovida de detalhes que não

constituam evidências científicas (Hemais, 2001:45). Ao contrário do PC, que

induz a uma sensação de observação direta, o AA mostra os objetos sob

intervenção científica (Id.:161-2), por exemplo, uma imagem ultrasonográfica

ao invés da imagem natural de uma pessoa.

Atrair deixa de ser o objetivo, uma vez que o AA pressupõe uma audiência

de pares interessados no debate proposto pelos autores do texto (Id.:ibidem).

Assim, os TNVs representam os objetos como conceitos da ciência e, por isso,

reduzidos a suas características essenciais (Myers,1990:161-2).

Quanto aos tipos de TNVs, a literatura (Palmer & Posteguillo, 1998;

Busch-Lauer, 1998) diferencia, em princípio, tabelas e figuras. No entanto,

classificar TNVs em tabela ou figura parece atender muito mais às convenções

dos periódicos e manuais técnicos do que às necessidades das disciplinas para

representar seus conceitos em diferentes formas visuais. Em oposição à

tabela, que corresponde a um tipo específico de TNV, figura é um termo

superordinado que abrange vários tipos de TNVs, tais como gráficos (barra ou

linha), esquemas, diagramas (bloco ou árvore) e imagens (desenhos,

fotografias).

Apesar da existência de vários tipos de TNVs, é possível percebermos

que alguns são utilizados com maior ênfase em determinadas disciplinas. Por

exemplo, Busch-Lauer (1998:113) destaca as ‘imagens’ (raio-X, ultra-

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sonografias, fotografias) como típicas do relatório de caso na Medicina, visto

que a principal função desse gênero é descrever as condições do paciente

através do exame físico (Id.:114;121). Nessa disciplina, as imagens fornecem

evidências imediatas para o diagnóstico e prescrição de terapia ao paciente e,

para o caso particular de imagens ultrasonográficas, uma visão que requer

mais do que a simples observação a olho nu.

Já, na Lingüística, Palmer & Posteguillo (1998:255) verificam uma

predominância de tabelas (2,75 por texto) em relação aos demais tipos de

figuras (1,70 por texto). Nessa disciplina, as tabelas geralmente têm duas

funções: a de expandir a informação, em tabelas que incluem dados numéricos

como quantidades e percentagens, e a de resumir conjuntos de dados,

naquelas que contêm informação verbal (Id.:254).

Na presente pesquisa, utilizarei, em princípio, as nomenclaturas

tradicionais de TNVs para identificar diferenças entre os contextos disciplinares

relatados na literatura e a EE. Nessa disciplina, provavelmente, predominarão

outros tipos de TNVs, o que deverá se evidenciar na análise dos dados e

consulta aos informantes.

Para compreender como os traços de função e tipo se realizam na

linguagem verbal, podemos utilizar, de forma conjunta, dois recursos: 1) os

verbos de certeza e de incerteza, conforme Thomas e Hawes (1994:138-140) e

2) os lexemas explícitos, conforme Nwogu (1990:129).

Os verbos de certeza (show, demonstrate) e de incerteza (indicate,

suggest) servem para apresentarmos as informações como mais ou menos

conclusivas e mais ou menos definitivas em um texto (Id.:139). Por exemplo,

em studies demonstrated a positive relationship between improved physical

fitness and incremental changes in motor and cognitive functions, o verbo

‘demonstrar’ indica que o autor apresenta os resultados dos referidos estudos

com alto grau de certeza. Do contrário, se optar por suggested, ao invés de

demonstrated, o autor expressa menor grau de certeza e de comprometimento

com o resultado dos estudos.

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Considerando o foco deste trabalho, verbos de certeza podem confirmar

a tendência apontada pela literatura para que TNVs funcionem como

evidências conclusivas de pesquisa, enquanto que os verbos de incerteza

podem estar associados ao uso dos TNVs para funções mais ilustrativas.

Já os tipos de TNV podem ser expressos na forma verbal através de

marcadores chamados lexemas explícitos. Nwogu (1990:129) propõe o uso de

lexemas explícitos para identificar a organização dos movimentos retóricos em

gêneros como o AA. Na proposta original, esses marcadores são palavras que

sinalizam de maneira explícita o conteúdo e a função dos diferentes estágios

de desenvolvimento do texto (Motta-Roth,1995:117).

Exemplo 3 The methods used to collect data on patientes with cervical and prostate cancer were identical with those reported in our retrospective study (...) (Nwogu, 1990:129).

No Exemplo 3, as expressões methods e to collet data são típicas da

seção de Metodologia no AA. Em se tratando da integração entre verbal e não-

verbal, os lexemas explícitos podem indicar o tipo de TNV (table, diagram,

graphically represented) e, por vezes, a própria função desse elemento, como

em this can be illustrated by Figure 1, trecho que evidencia a função do TNV

como sendo a de ilustração.

Na presente pesquisa, os verbos de certeza e de incerteza serão

utilizados de forma conjunta com os lexemas explícitos para identificar como a

linguagem verbal materializa traços de função e tipo dos TNV.

2.3.4 Textos não-verbais: natureza e tipo de significado

A fim de compreender a capacidade dos TNVs para representar o mundo

da experiência humana, podemos recorrer ao modelo proposto por Kress & van

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Leeuwen (1996:43-118) para análise da metafunção ideacional ou de

representação em imagens. De acordo com esse modelo, os objetos e

elementos representados visualmente são denominados participantes (Id.:45-

6), de modo semelhante às nominalizações da linguagem verbal.

Dependendo do modo como os participantes são relacionados entre si no

TNV, dispomos de ‘estruturas conceituais’ ou ‘estruturas narrativas de

significação’. Figuras que representem os traços essenciais de um participante,

isto é, suas características relativamente constantes, tais como forma, cor,

parentesco, são classificadas como ‘estruturas conceituais de significação’

(Id.:79). Dentre essas, os diagramas em árvore, por exemplo, são estruturas

conceituais do tipo classificatórias, pois representam objetos em uma relação

hierárquica ou taxonômica. Na linguagem verbal, essa estrutura pode ser

realizada em sentenças como, por exemplo, Dogs, cats, and horses all belong

to the same overarching category of mammals, na qual os participantes ‘cão,

gato e cavalo’ são subordinados à categoria ‘mamíferos’, que funciona como

superordinada.

De modo semelhante, quando os itens, na figura, são dispostos em um

arranjo parte-todo, estamos diante de uma estrutura conceitual do tipo analítica

(Id.:89). Nessa categoria, podemos encontrar fotografias de objetos e seus

componentes, assim como diagramas em bloco, mais ou menos abstratos,

contanto que a ênfase recaia sobre as partes das quais um objeto é constituído

e a relação entre essas partes. Verbalmente, as estruturas analíticas podem

ser concretizadas em sentenças como The social system consists of larger

social structures, na qual o ‘sistema social’ é o portador, isto é, o todo, e as

‘estruturas sociais’ são os atributos ou partes que caracterizam e compõem o

todo.

Os gráficos, sejam em linha, barra ou ainda do tipo pizza (pie chart),

também são estruturas conceituais analíticas construídas em escala (Id.:103-

4). Ao invés da dimensão física dos componentes, a escala, nos gráficos, é

quantitativa, isto é, refere-se à quantidade ou freqüência dos grupos de

elementos considerados idênticos sob um determinado aspecto (Id.:ibidem).

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Quando contêm um eixo temporal, os gráficos adquirem um sentido de

dinamismo, o que lhes confere mais característica de estrutura narrativa do que

conceitual (Id.:104-5).

Quando as figuras representam ações, atividades ou eventos, estamos

diante de uma ‘estrutura narrativa de significação’(Id.:79). Seja fotografia,

desenho ou diagrama, a estrutura narrativa enfatiza o aspecto transitório das

relações entre os participantes. A presença de vetores – setas e outros

elementos que sugiram ação ou direção – tem valor semelhante à dos

processos na linguagem verbal (Id.:56-8). Nessa modalidade, estruturas

narrativas tipicamente se realizam em sentenças como, por exemplo, She

drove him down to the coast, uma relação de transitividade entre dois

participantes, ou She drove down the coast, um acontecimento com um único

participante (Martin, Matthiessen & Painter, 1997:103). Esse tipo de sentença

se utiliza basicamente da categoria dos processos materiais ou processos do

‘fazer’ (Halliday, 1994:110), como por exemplo, make, move, put, go, que

expressam mudanças no mundo material externo em termos de movimento no

espaço (Jack fell down; The lion caught the tourist) ou mudança de constituição

física (He mended the broken toy; The lake froze) (Martin, Matthiessen &

Painter, 1997:103). Processos materiais podem ser identificados por perguntas

como ‘o que X fez?’, ‘o que X fez com Y?’ ou ainda ‘o que aconteceu com Y?’,

sendo X e Y diferentes participantes (Halliday, 1994:110).

Um mesmo TNV pode apresentar simultaneamente características

narrativas e conceituais, como ilustra a Figura 3.

(a) (b)

Figura 3 - A natureza conceitual e narrativa dos diagramas

X

Y

X

Y

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De acordo com Kress & van Leuween (Id.:59), essa parece ser uma

propriedade dos diagramas, pois as configurações espaciais estáticas (Figura

3a) adquirem caráter dinâmico com o acréscimo de vetores que indiquem ação

entre os participantes (Figura 3b).

Por outro lado, diagramas tendem a ser conceituais em essência, porque,

segundo van Leeuwen & Humphrey (1996:43), eles se assemelham à

estratégia expositiva, na linguagem verbal, na qual a maior parte do significado

é veiculado na forma de nominalizações (por exemplo, conversion,

transformation, ao invés de convert, transform), enquanto os verbos se

restringem a um pequeno grupo representado por processos relacionais tais

como is, has, leads to, develops. A comparação parece válida, já que, na

gramática funcional, processos relacionais refletem a capacidade humana de

generalizar, de “relacionar um fragmento da experiência a outro” (Halliday,

1994:107) através de 1) identificação de participantes (ex.: Mary is the leader)

ou 2) descrição dos participantes em termos de atributos (Mary is energetic ou

Mary has many friends) (Martin, Matthiessen & Painter, 1997:106).

Além disso, como uma mesma seta pode significar vários tipos

diferentes de processos na linguagem verbal (van Leeuwen &

Humphrey,1996:43), o TNV parece depender de sua contrapartida lingüística

para expressar com precisão o tipo de relação entre os participantes

representados. Com isso, busco argumentar que TNVs não possuem apenas

significação quando isolados, mas em conjunto com uma orientação verbal.

Nesta pesquisa, pretendo investigar 1) em que medida o texto verbal

que explora os TNVs é mais narrativo pelo predomínio de processos materiais

e, por outro lado, o texto é mais conceitual pelo predomínio de processos

relacionais. No entanto, antes de fazê-lo, é preciso identificar os limites do texto

verbal que explora as figuras. Assim, na seção seguinte, reviso a literatura em

busca de padrões de comentário de TNVs em AAs.

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2.4 A organização do comentário de textos não-verbais

Alguns pesquisadores (Brett, 1991 ; Swales & Feak, 1994; Busch-Lauer,

1998) têm apresentado modelos que sistematizam em estágios a linguagem

usada para explorar TNVs em AAs. A partir das características que se mantêm

entre tais modelos, tentarei, ao longo desta seção, delinear uma proposta

comum, que sirva de ponto de partida para este trabalho.

De modo geral, os modelos descritos por Brett (Id.:ibidem)3, Swales &

Feak (Id.:ibidem) e Busch-Lauer (Id.:ibidem) apresentam três etapas: 1) a

referência e apresentação do TNV, 2) a descrição do conteúdo do TNV e 3) a

conclusão do comentário. O Exemplo 4 ilustra a organização subjacente aos

três modelos de comentários de TNVs.

Exemplo 4 Etapa 1 Table 5 shows the most common modes of infection for

U. S. business. Etapa 2 As can be seen, in the majority of cases, the source of

viral infection can be detected, with disks being brought to the workplace from home being far the most significant. However it is alarming to note that the source of nearly 30% of viral infections cannot be determined.

Etapa 3 While it may be possible to eliminate home-to-workplace infection by requiring users to run antiviral software on diskettes brought from home, businesses are still vulnerable to major data loss, especially from unidentifiable sources of infection.

(Swales & Feak, 1994:80).

No exemplo acima, a Etapa 1 representa a conexão explícita do TNV

com o texto verbal, através do marcador Table 5 shows – um antecipador ou

um recapitulador (ver seção 2.4.1). Tal marcador insere a tabela no discurso e,

3 Brett (1991:51), na verdade, recupera um modelo originalmente proposto por Weissberg & Buker.

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juntamente com o trecho the most common modes of infection for U. S.

business, prevê o conteúdo dessa tabela.

Na Etapa 2, o autor relata as informações mais relevantes da tabela: 1) a

causa mais freqüente para infecção de vírus nos computadores (in the majority

of cases, the source of viral infection can be detected, with disks being brought

to the workplace from home being far the most significant ) e 2) o fato de que

30% desses casos não têm razão aparente (However it is alarming to note that

the source of nearly 30% of viral infections cannot be determined ).

Por fim, na Conclusão do comentário, Etapa 3, o autor indica as

implicações da tabela em termos de conseqüências para a área, ao 1) sugerir

que o problema dos disquetes infectados pode ser solucionado pela utilização

de programas antivírus (it may be possible to eliminate home-to-workplace

infection by requiring users to run antiviral software on diskettes brought from

home) e 2) concluir que os casos de infecção por fonte desconhecida

continuam representando uma ameaça às empresas (businesses are still

vulnerable to major data loss, especially from unidentifiable sources of infection.

As Figuras 4, 5 e 6 apresentam os modelos de comentários de TNVs

propostos por Swales & Feak (1994:80), Weissberg & Buker (1990) e Busch-

Lauer (1998:118), respectivamente, para fins de comparação. É preciso

esclarecer que dividi cada figura nas Etapas 1, 2 e 3 para facilitar ao leitor a

visualização dos pontos que considero convergentes entre os modelos.

Apesar das diferentes nomenclaturas (Elementos de Localização e

Sentença de Resumo; Sentença que localiza a figura; Referência Explícita ao

TNV), a função de estabelecer a coesão entre TNV e texto verbal se mantém

para a Etapa 1 nas três propostas.

Para identificar a Etapa 1, além dos antecipadores e recapituladores (ver

seção 2.3.2), marcadores de enumeração e listagem também podem aparecer

na Sentença de Resumo prevendo o conteúdo do TNV.

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Etapa 1 – Elementos de Localização e Sentença de Resumo Etapa 2 – Sentenças de Destaque Etapa 3 – Discussão de implicações, problemas, exceções

Explicações e/ou implicações Resultados inesperados ou dados insatisfatórios Previsões ou sugestões para pesquisas futuras

Figura 4 – Estrutura de comentários de TNVs para Swales & Feak (1994:80)

Etapa 1 – Sentença que localiza a figura na qual os dados podem ser encontrados (tempo presente)

Etapa 2 – Sentenças que apresentam as descobertas mais importantes (tempo passado)

Comparação entre grupos de dados Indicação de mudança com o passar do tempo Relação entre variáveis

Etapa 3 – Sentenças que comentam os dados (tempo passado, modais e verbos de incerteza)

Generalização a partir dos resultados Explicação dos resultados Comparação com outros estudos.

Figura 5 – Estrutura de comentários de TNVs na seção de Resultados e Discussão, conforme Brett (1991:51)

Etapa 1 – Referência Explícita ao TNV Referência catafórica e/ou Referência anafórica

Etapa 2 – Descrição/Explicação dos dados não-verbais Descrição do estado ou processo apresentado no TNV Explicação de detalhes

3A Interpretação/Comentário sobre os dados nos TNVs Fornecimento de razões para um determinado padrão Avaliação dos detalhes ou padrões evidenciados

Etapa 3 –

3B Resumo ou Conclusões a partir dos TNVs Indicação de conclusões Expressão de probabilidade Conclusões finais

Figura 6 – Estrutura de comentário de TNVs para Busch-Lauer (1990:118)

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Os enumeradores são marcadores prospectivos, pois nomeiam de

antemão um ato discursivo (Tadros,1985; Motta-Roth, 1997:117), como ilustra

o exemplo abaixo.

Exemplo 5 (1) I think then that the language of verse may be divided into three kinds. (2) The first is poetry proper, the language of inspiration (...). (3) The second kind I call Parnassian (...). (4) The third kind is merely the language of verse as distinct from that of prose (...) (Id.:139).

No Exemplo 5, a expressão three kinds (of language of verse) funciona

como enumerador que compromete o autor a detalhar os três tipos de

linguagem do verso que antecipa. Tal como ‘Three kinds’ no exemplo anterior,

os enumeradores são substantivos no plural (aspects, points, factors)

acompanhados de numerais exatos (two, three) ou inexatos (several, a few),

cujo referente é textual, em oposição a referentes do mundo fora do discurso

(Tadros, 1985:14; Motta-Roth, 1997:105).

O outro tipo de marcador que pode caracterizar a Etapa 1 do comentário

de TNVs é listagem. Nela, o escritor opta por citar os itens de antemão,

geralmente na ordem em que serão discutidos, sem o uso de numerais (Hoey,

1983:139).

Exemplo 6 (1) The harpoon consists of a ‘socket’, ‘shank’, and ‘mouth’. (2) The shank, (2a) which is made of the most pliable iron, (2b) is about two feet long; (3) the socket is about six inches long, and swells from the shank to nearly two inches in diameter; (4) and the mouth is (...) (Id.:ibidem).

No Exemplo 6, o autor apresenta uma lista dos itens (socket, shank, and

mouth) que compõem o objeto em discussão – o arpão. Após citá-los, o autor

passa a descrever cada um em maiores detalhes. Desse modo, a listagem

pode ser considerada um marcador da organização e do conteúdo do

comentário de TNVs, já que antecipa, para o leitor, o tópico do comentário (e

do TNV) e sua divisão em um número pré-determinado de itens.

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Como a listagem não está associada a um grupo de elementos da

língua, mas é a ordenação de um conjunto de lexemas que variam em função

do tópico, ela pode antecipar o conteúdo do TNV que será explorado no

estágio subseqüente (a Etapa 2).

Assim, na Etapa 2, o autor descreve os dados do TNV antecipados na

Etapa 1. Nos modelos que consultei, a Etapa 2 é apresentada sob diferentes

títulos: Sentenças de Destaque, para Swales & Feak (1994:80) na Figura 4;

Sentenças que apresentam as descobertas mais importantes, para Brett

(1991:51) na Figura 5; Descrição/Explicação, para Busch-Lauer (1998:118) na

Figura 6. Nomenclaturas a parte, a Etapa 2 é uma oportunidade para o escritor

destacar os aspectos mais importantes, isto é, as tendências e regularidades

evidenciadas na figura (Swales & Feak, 1994:85).

Em termos de microestrutura, esse trecho tende a apresentar verbos no

presente do indicativo (can be detected, is) e expressões comparativas e

superlativas (in the majority of cases, the most significant, nearly 30%), bem

como marcadores de atitude (Vande Kopple, 1985:85) (it is alarming to note

that). Para Brett (1991:51), no entanto, a característica mais marcante da Etapa

2 são verbos no passado, o que é compreensível, na medida que esse autor

investiga a seção de Resultados, na qual esse tempo verbal está associado ao

relato dos resultados de pesquisa (Swales, 1990:137).

Por fim, conforme se pode observar nas Tabelas 3, 4 e 5, há um terceiro

estágio no comentário de TNVs, no qual o autor apresenta as implicações ou

explicações para os aspectos que descreveu na etapa anterior. Para Busch-

Lauer (1998:118), além das explicações e implicações, o escritor pode ainda

indicar, de modo explícito, a conclusão do comentário e apresentar um resumo

dos principais dados observados no TNV.

Embora seja apresentada como um estágio a parte por Busch-Lauer

(Id.:ibidem), acredito que a conclusão ocorra em conjunto com as implicações

sobre os dados. Portanto, considero que, tanto o estágio denominado

Interpretação/Comentário, quanto o denominado Resumo ou Conclusões,

constituem, de forma conjunta, a Etapa 3.

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No que tange à microestrutura, a Etapa 3 parece se caracterizar pela

presença de marcadores textuais de conclusão (From the figure, it may be

estimated that, Finally it may be concluded that) (Busch-Lauer, 1998:125),

marcadores de validade tais como modais (It appears to be true that, may) e

verbos de incerteza (will likely suggest, indicate) (Brett, 1991:51), os quais

servem para apontar as explicações tanto para regularidades quanto para

exceções (may be due to, can probably be attributed to, is probably a

consequence of) (Swales & Feak, 1994:97).

Além das características em comum entre os três modelos revisados, é

preciso destacar também a contribuição individual de cada um, principalmente

em termos de refinamento das etapas.

A organização sugerida por Swales & Feak (Id.:ibidem) parece ser a

mais propícia para a análise de comentários de TNVs porque ela distingue três

etapas básicas que podem caracterizar a estrutura potencial do comentário de

TNVs em qualquer seção do AA (Halliday & Hasan, 1985:63). Os outros dois

modelos (Figuras 5 e 6) descrevem uma dinâmica semelhante à dos

Resultados e Discussão e, logo, requerem adaptações em caso de TNVs

comentados em outras seções do AA.

Quanto à proposta de Busch-Lauer (1998), sistematizada na Figura 6, a

principal contribuição parece ser a diferença que se estabelece entre descrever

os dados (Etapa 2) e interpretar os dados (Etapa 3), aspecto que considero

pouco claro na proposta de Swales & Feak (1994). Além disso, tanto Brett

(1991) quanto Busch-Lauer (1998) parecem determinar as características

microestruturais mais recorrentes para as Etapa 2 e 3, o que pode orientar a

análise do comentário de TNVs em contextos diferenciados.

Em função da tendência apontada pela literatura para que os

comentários de TNVs predominem na seção de Resultados e Discussão (Brett,

1991:50; Busch-Lauer, 1998:115; Miller, 1998:36), pretendo investigar 1) em

que medida isso se verifica nos AAEEs e 2) em que medida a combinação das

estruturas, proposta acima, responde pela configuração dos comentários de

TNVs na disciplina de EE.

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Até o momento, revisei pesquisas prévias no intuito de 1) explorar o

conhecimento estabelecido sobre o AA e sobre o uso de TNVs nesse gênero e

2) estabelecer categorias para análise dos AAEEs considerando a relação

entre figura e texto. Na próxima seção, delimito as categorias e procedimentos

que pretendo utilizar de modo efetivo na nesta pesquisa.

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CAPÍTULO 3 – METODOLOGIA

Neste estudo, analiso a interface entre texto verbal e texto não-verbal, no

artigo acadêmico da disciplina de Engenharia Elétrica, com o intuito de verificar

como esse gênero incorpora características específicas para atender às

necessidades comunicativas de seus usuários. Ao final da pesquisa, pretendo

vislumbrar respostas para os seguintes questionamentos:

• Em que medida o artigo acadêmico de Engenharia Elétrica mantém a

configuração usual do gênero ou, por outro lado, apresenta variações

associadas às idiossincrasias da disciplina?

• Como é o uso de TNVs no AAEE? Como o TNV é incorporado ao texto

verbal no gênero, considerando aspectos como freqüência, posição e

função?

• Qual é a estrutura textual desse híbrido? Há um padrão retórico subjacente

ao comentário verbal dos TNVs? Que marcadores lingüístico-discursivos

sinalizam essa organização?

• Como os significados entre TNV e texto verbal se complementam ou, ao

contrário, sobrepõem-se? Até que ponto o texto verbal enfatiza o significado

narrativo ou conceitual do TNV?

3.1 Universo de análise

Para este trabalho, utilizei três periódicos da área em questão, todos da

mesma editora, mas cada qual dedicado a uma sub-área: IEEE Transactions

on Industrial Electronics (Eletrônica Industrial), IEEE Transactions on Industry

Applications (Aplicações Industriais) e IEEE Transactions on Power Electronics

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(Eletrônica de Potência). Essas publicações são compostas de um volume

anual, distribuído em seis números, cada qual com 10 AAs em média. Foram

incluídas, no universo inicial, apenas as edições de 1998, 1999 e 2000.

A escolha da referida publicação resultou de consulta a informantes da

comunidade disciplinar da EE, na Universidade Federal de Santa Maria, que a

recomendaram como sendo uma revista bem conceituada internacionalmente.

Além disso, a revista dispõe de um corpo editorial que conduz revisões por

pares dos artigos submetidos para publicação (peer review).

3.2 A seleção do corpus

A fim de estabelecer o que seria um AA prototípico em tais revistas,

realizei uma análise quantitativa de todos os AAs presentes nos volumes das

edições de 1998 a 2000 e verifiquei que continham de três (03) a treze (13)

páginas. A extensão média desses textos foi estabelecida como sendo de oito

(08) páginas.

Selecionei o corpus de forma aleatória, observando dois critérios.

Primeiro, ao menos um AA de cada volume deveria ser selecionado e,

segundo, cada AA deveria conter um mínimo de seis (06) e um máximo de dez

(10) páginas, ou seja, até duas páginas a mais ou a menos que a média (08).

O procedimento acima permitiu uma maior flexibilidade na coleta do

corpus. Ainda assim, caso o exemplar de um volume contivesse número

superior ou inferior à margem determinada, eu faria uma nova seleção no

mesmo volume, até que houvesse atingido o total de 15 AAs.

O corpus ficou formado, então, de 15 AAs, contendo entre 6 a 10

páginas, coletados aleatoriamente das edições de 1998 a 2000 das revistas

IEEE Transactions on Industrial Electronics, IEEE Transactions on Industry

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Applications e IEEE Transactions on Power Electronics, que representam sub-

áreas da Engenharia Elétrica.

3.3 A coleta e análise dos dados

Depois de compor o corpus, passei à coleta e análise dos dados, que

envolveu 1) a consulta a informantes da comunidade disciplinar e 2) a análise

dos textos.

3.3.1 Investigação na comunidade disciplinar de Engenharia Elétrica

Para compreender a verdadeira função de um texto, é preciso olhar para

o mundo no qual esse texto serve como atividade significativa (Bazerman,

1988:4). A partir dessa perspectiva, busquei informar minha análise através do

contato com 06 pesquisadores da disciplina de EE (03 professores e 03 alunos

de doutorado) e visitas ao laboratório de Eletrônica de Potência, na

Universidade Federal de Santa Maria, durante o segundo semestre de 2000 e

primeiro semestre de 2001.

Os três professores contatados são membros relativamente experientes

e ativos em termos de produção e consumo de publicação científica,

selecionados em função de três critérios: indicação da comunidade, análise do

currículo e interesse em participar da pesquisa. Dois deles participaram de

entrevistas gravadas e, posteriormente, transcritas. O terceiro professor foi

incluído na pesquisa em função de sua disponibilidade e iniciativa particular

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durante as visitas que eu fiz ao laboratório de engenharia. Nessa entrevista,

apenas tomei notas. Já as entrevistas com os doutorandos tiveram como

objetivo esclarecer dúvidas sobre o conteúdo técnico dos artigos que

compunham o corpus.

No contato com os professores, os tópicos abordados foram: 1) as

características que tornam um artigo bem conceituado, de acordo com os

parâmetros da comunidade disciplinar; 2) a importância dos TNVs na

configuração do AA como um todo; 3) a inclusão de TNVs e o processo de

leitura e escritura do AA. Abaixo, apresento o roteiro norteador das entrevistas.

1. Quanto ao consumo de publicação, o que te faz recomendar um artigo para

teu aluno/orientando ler? E no texto? O que faz com que o texto de um

artigo seja interessante para que tu recomendes ao aluno?

2. Há algum texto que tu, recorrentemente, indiques que os alunos leiam? Por

quê?

3. Considerando a tua experiência em publicação e como parecerista, o que

seria um bom exemplar de um artigo para publicação? Quando tu escreves

um parecer, tu lembras de alguma instrução ou critérios de análise ?

4. E no teu texto? Tu usas figuras e tabelas nos artigos que escreve? Com

que finalidade?

5. E quando tu lês um artigo, recorres às figuras? Como é o uso de figuras na

leitura de um artigo?

6. Tu te lembras de alguma situação em que uma figura ou tabela foi decisiva

na leitura de um trabalho? Em que medida uma figura torna o texto mais

palatável, ou seja, economiza maiores explicações?

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De modo geral, entrevistas e visitas ao laboratório constituem vias de

comunicação permitiram-me acesso não somente aos periódicos dos quais

selecionei o corpus, mas também a vários outros documentos informativos

utilizados na análise dos dados, tais como normas de publicação e submissão

de artigos, critérios para fornecimento e parecer emitido por instituições

técnico-científicas nacionais e internacionais.

3.3.2 Critérios para análise dos textos

Primeiramente, os AAEEs foram analisados em busca da identificação de

1) características prototípicas do gênero e 2) características disciplinares

específicas, tanto na macro quanto na micro estrutura. Logo após, o foco de

pesquisa se voltou para a interface entre texto verbal e TNV como um dos

traços mais marcantes do gênero nessa disciplina.

A seguir, apresento os critérios de análise tanto da configuração do AA,

quanto da relação entre as modalidades verbal e não-verbal.

3.3.2.1 A configuração do artigo acadêmico

No que tange à macroestrutura do AA, tomo por base o modelo IMRD (Hill

et al., 1982; Swales, 1990), os movimentos retóricos para a seção de

Introdução e do Resumo Acadêmico (Swales, 1990; Motta-Roth e Hendges,

1996).

Quanto à microestrutura referente às seções e respectivas funções

retóricas no AA, utilizo aqueles elementos metadiscursivos já apontados na

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literatura, tais como lexemas explícitos (Nwogu, 1990:129), tempo, aspecto e

voz dos sintagmas verbais (Swales, 1990:131-76) e conetivos textuais (Vande

Kopple, 1985:83-4).

3.3.2.2 Textos não-verbais: freqüência e posição

Para analisar a freqüência dos TNVs no AA, considerando página e seção,

utilizo como parâmetro os dados relatados em pesquisas prévias. Nesse

sentido, médias iguais ou superiores às reportadas serão consideradas

reveladores da importância dos TNVs na disciplina e médias inferiores serão

consideradas convencionais, ou seja, indicadores da importância moderada da

linguagem não-verbal na disciplina.

A função textual ou de composição, de acordo com Kress & van Leeuwen

(1996:181-229), servirá para avaliar a relação dos TNVs com o texto verbal na

página. Assim, o sistema de valor da informação associado às zonas esquerda-

direita e parte superior-inferior da página serão considerados segundo os

valores dado-novo e ideal-real, respectivamente (Id.:186-202). Antecipadores e

recapituladores serão utilizados para verificar como a posição dos TNVs se

manifesta na linguagem verbal, conforme já discutido na seção 2.3.2.

3.3.2.3 Textos não-verbais: tipo e função

No intuito de estabelecer os tipos de TNVs mais recorrentes na EE,

utilizo as nomenclaturas e categorias convencionais (tabela, gráfico, diagrama,

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desenho e fotografia) de maneira combinada com os dados das entrevistas que

deverão revelar a terminologia usual na disciplina.

Para vislumbrar como os traços de função e tipo de TNVs se

materializam na linguagem verbal, optei pelos seguintes marcadores: 1) verbos

de certeza e de incerteza, conforme Thomas e Hawes (1994:138-140) e 2)

lexemas explícitos, conforme Nwogu (1990:129).

Verbos de certeza serão indicativos do uso dos TNVs como evidências

conclusivas de pesquisa, enquanto que os verbos de incerteza serão

associados ao uso dos TNVs em termos menos conclusivos e definitivos.

No que concerne aos tipos de TNV, a linguagem verbal do AAEE será

investigada em busca de lexemas explícitos (Nwogu, 1990:129), isto é,

palavras diretamente associadas aos diferentes tipos de TNV (table, diagram).

Além disso, lexemas explícitos podem revelar ainda aspectos sobre a função

do TNV. Por exemplo, o verbo illustrate pode indicar que o TNV é usado para

elucidar ou reforçar um dado já estabelecido na área. Já o verbo compile indica

que o TNV foi usado para agrupar e condensar uma grande quantidade de

dados, em geral, os resultados da pesquisa.

3.3.2.4 Textos não-verbais: natureza e tipo de significado

Nesta pesquisa, analisarei os TNVs e sua contrapartida verbal quanto à

capacidade de tais modalidades para representar a experiência em termos de

estruturas narrativas de significação (Kress & van Leeuwen, 1996:43-78) e

estruturas conceituais de significação (Id.:79-118).

Para tanto, classifico como estruturas narrativas aqueles TNVs que

contêm vetores (setas), indicando ação entre os participantes, e, como

estruturas conceituais, aqueles TNVs que enfatizam a descrição do todo em

partes ou categorias.

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Na linguagem verbal, o foco recairá sobre os tipos de processos. Dessa

forma, processos materiais como make, move, put, go, que, grosso modo,

representam ações e acontecimentos no mundo físico (Halliday, 1985:106-11)

serão indicativos de que a linguagem verbal enfatiza as características

transitórias dos TNVs. Perguntas como ‘o que X fez?’, ‘o que X fez com Y?’ ou

ainda ‘o que aconteceu com Y?’, sendo X e Y participantes, deverão ser

utilizadas em caso de sentido ambíguo dos processos materiais (Id.:110).

Por outro lado, a linguagem verbal estará explorando aspectos

conceituais do TNV quando predominarem processos relacionais, tais como is,

has, leads to, develops, que constituem o mundo do “ser”; em contraste ao

processos materiais, que constituem o mundo do “fazer” (Id.:119).

Essa análise poderá fornecer uma noção sobre a hibridez do AAEE, pois

possibilita observarmos em que medida as modalidades verbal e não-verbal

são semanticamente complementares.

3.3.2.5 Comentário de textos não-verbais

Para analisar a organização da informação nos comentários de TNVs,

utilizarei uma combinação dos três modelos discutidos na seção 2.3.4

(Weissberg & Bucker, 1990; Swales & Feak, 1994 e Bush-Lauer, 1998).

Da estrutura proposta por Swales & Feak (1994), utilizarei a divisão em

três etapas, que considero adaptável a contextos diferenciados e respectivas

nomenclaturas (Etapa 1: Elemento de Localização e Sentença de Resumo;

Etapa 2: Sentenças de Destaque; Etapa 3: Conclusão do Comentário).

Já as estruturas propostas por Weissberg & Bucker (1990) e Busch-

Lauer (1998) serão utilizadas pela sua contribuição ao esclarecer a diferença

entre descrever e interpretar o TNV e, ao mesmo tempo, identificar a

microestrutura associada a cada uma dessas funções. Com base nesses

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autores, nesta pesquisa, a função de descrever dados não-verbais será

atribuída às Sentenças de Destaque (Etapa 2) e, a de interpretá-los, à

Conclusão do comentário (Etapa 3).

Em termos de microestrutura, as características para identificar a Etapa

1 são antecipadores e recapituladores, lexemas explícitos e verbos de certeza

e incerteza, conforme definido nas seções 3.4.2 e 3.4.3 acima.

A Etapa 2 será investigada pela presença de lexemas explícitos

sinalizando comparação entre dados (the most, more) e tendências ou

regularidades nos dados (in the majority of cases, at least half of), pela

presença de marcadores de foco relacionados à leitura dos dados não-verbais

(as can be seen) e pela identificação do tempo presente do indicativo.

A Etapa 3 deverá conter marcadores de validade (may, might, it is likely,

probably) (Vande Kopple, 1985) e marcadores de atitude (surprisingly, it is

interesting to observe that), que podem indicar as funções de explicar os dados

não-verbais ou estabelecer implicações sobre os mesmos. Além desses

marcadores, que sugerem momentos mais interpretativos e avaliativos de um

texto, os conetivos textuais de encerramento (in conclusion, finally) podem ser

utilizados para identificar a Conclusão do comentário de TNVs nos AAEEs.

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CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo, discuto os resultados da análise dos textos do corpus,

orientada por informações obtidas nas entrevistas com informantes da

disciplina de Engenharia Elétrica e na consulta a material técnico fornecido por

esses pesquisadores.

Inicialmente, apresento uma discussão sobre a qualidade de um texto

acadêmico, segundo os critérios dos informantes e orientação do periódico do

qual o corpus foi coletado. Logo a seguir, analiso o AAEE para verificar, por um

lado, em que medida ele mantém as características do gênero, em termos de

estrutura e função retórica, conforme modelos discutidos no Capítulo 2

(Swales, 1990; Motta-Roth & Hendges, 1996) e, por outro lado, em que medida

esse gênero incorpora características específicas de forma a atender às

necessidades da comunidade disciplinar.

Finalmente, passo a concentrar a análise sobre a hibridização do texto

no AAEE, mais especificamente sobre as estratégias de coesão e coerência

entre a linguagem verbal e a não-verbal.

4.1 O artigo acadêmico segundo a visão de informantes da comunidade

disciplinar

A análise do corpus permitiu detectar pontos convergentes entre o

material das entrevistas e os documentos da área usados para orientar a

escritura do AAEE (meu informante enquanto autor) e a revisão deste (meu

informante enquanto revisor que adota a orientação do periódico). Tais pontos

referem-se a: (1) critérios para avaliar a qualidade de um AA e (2) o papel do

TNV na disciplina.

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4 4

A própria natureza do contato profissional com os pesquisadores da

comunidade ocorreu em função da busca desses professores por assistência

na escritura de AAs submetidos à publicação. Uma análise dos documentos

emitidos pelos periódicos para orientar autores quanto à escritura e ao envio de

trabalhos revela um processo de revisão rigorosa, que envolve, no mínimo,

duas etapas.

Na primeira etapa, o manuscrito é recebido pelo encarregado do Comitê

Técnico, que decide sobre a validade do trabalho e o encaminha, caso o julgue

relevante, a pareceristas membros do Comitê. Na segunda, os pareceristas se

manifestam sobre o AA, com base em um formulário emitido pela IEEE

Transactions (independentemente da sub-área). Esse documento determina

questionamentos e critérios de avaliação referentes à contribuição técnica do

trabalho e à qualidade da redação do mesmo, como mostra o trecho a seguir,

retirado do guia do autor.

Exemplo 7 Quality must be judged, not alone by the novelty and significance of its subject, but also by the efficiency with which its ideas are conveyed to the reader. Thus the reviewer of IAS papers is asked to rate papers on two main points: 1) subject matter and 2) writing effectiveness.

Como mostram os fragmentos destacados, tanto a contribuição em

termos de inovação para a área, quanto a qualidade do texto apresentado

estão associados ao sucesso do AAEE. Essa orientação do periódico se reflete

nas entrevistas com os informantes, os quais serão identificados através da

abreviatura S1 e S2, equivalentes a Sujeito 1 e Sujeito 2.

Exemplo 8 S1 (...)1 o meu enfoque sempre (...) é a questão da contribuição técnica, né. (...) me detenho mais com (...) a questão da contribuição, né, Sobre o valor da contribuição e a forma com que é desenvolvida

1 Os parênteses contendo reticências representam trechos das entrevistas que foram editados para fins de síntese.

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4 5

essa contribuição, né. A forma que é ... como é colocada, como (...) o pesquisador (...) desenvolveu (...) essa idéia,(...).

Exemplo 9 S2 Bom, primeiro é o conteúdo técnico do artigo, né, se realmente está envolvido na nossa área: a qualidade técnica do trabalho que tá sendo feito. Esse é um ponto fundamental. (...) Mas aí onde é que tu vai buscar o artigo com a qualidade técnica? Tu vai ler aquele artigo que tá bem escrito. Por exemplo, tem artigos (...) que até têm contribuições técnicas relevantes, mas o artigo é tão mal escrito, tão mal apresentado, (...), que te impossibilita de ler, quer dizer, te leva a tu ter uma visão pejorativa do trabalho (...). (...)aí tem toda, digamos, a dica de como tu escrever um artigo bom, como tu cativar o autor, ehr o leitor pra aquilo que tu tá tentando vender, né.

Os Exemplos 8 e 9 reiteram, como principal aspecto na qualidade de um

AA, a questão da contribuição técnica, ou seja, o impacto do trabalho na área

acadêmica e industrial de Engenharia Elétrica. Isso significa que um AA que

apresente novos conceitos pode ser válido para a área, mesmo com limitações

de caráter formal. Ao mesmo tempo, fica evidente que um artigo bem sucedido,

em termos de organização retórica, de discussão crítica e de argumentação,

pode ser avaliado de maneira positiva, embora não disponha de originalidade

intrínseca à proposta.

Além da orientação reproduzida no Exemplo 7, o periódico fornece 10

critérios, com escore que varia de 0 a 5 pontos, para nortear o julgamento do

revisor, como mostra a Tabela 1. Esses critérios abrangem desde aspectos

formais e de estilo, até de conteúdo.

Quanto ao conteúdo, os pontos, de modo geral, parecem convergir para

que associemos a validade do trabalho às implicações deste para a disciplina.

Em outras palavras, o AA deve apresentar contribuições originais e de valor

prático, fazendo uma ponte entre o conhecimento acadêmico (científico) e a

profissão (comercial) (ponto 2) e, da mesma forma, estimular novas pesquisas

(ponto 7).

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4 6

Tabela 1 – Critérios de pontuação na revisão de trabalhos submetidos à

IEEE

PAPER QUANTITATIVE EVALUATION

1. Original, elegant 5-0 Restatement of existing knowledge

2. Valuable for practicing engineers 5-0 Impractical or excessively commercial 3. Technically and mathematically

accurate

5-0 Unsound; contains significant errors

4. Well supported with analysis and experimental evidence

5-0 Unproven, unsupported

5. Rich in engineering judgement and insight

5-0 Uninformed, amateurish

6. Clear, concise, effective presentation

5-0 Obscure, disorganized, verbose

7. Interesting to readers, stimulates new ideas

5-0 Uninteresting: topic is nearly cliche

8. Effective illustrations and tables 5-0 Poor figures or figures without discussion

9. Correct English usage 5-0 Weak grammar; difficult to follow

10. Useful references to past work 5-0 No context is provided beyond the author’s work

(IEEE Transactions on power electronics. Formulário para revisão de trabalhos. Jan, 1999.)

Podemos interpretar esses critérios como relativos à natureza aplicada da

EE, uma vez que qualquer ciência que assim se intitule, deveria estar voltada à

mudança na prática profissional e social, a tal ponto que o conhecimento

gerado nos laboratórios científicos reflita as necessidades da sociedade e, em

contrapartida, resulte em benefícios para essa mesma sociedade.

No que tange a aspectos formais, é possível concluir que os pareceristas

esperam um equilíbrio entre clareza e concisão, por um lado, (ponto 6) e

elegância (ponto 1), por outro. No contexto acadêmico, escrever de forma clara

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4 7

e concisa envolve o uso de, ao menos, duas estratégias: 1) o encadeamento

retórico do gênero e 2) a coesão e a coerência textual.

A primeira estratégia responde pela progressão da informação no texto, de

modo a transmitir os significados pretendidos pelo autor e a provocar reações

no leitor (Motta-Roth, 1998:33). No AA, espera-se que o escritor, logo no início,

situe a pesquisa na área e estabeleça os limites do que vai abordar (tópico),

conforme esclarece Swales (1990:142), através do modelo CARS. Os objetivos

da pesquisa, por exemplo, são convencionalmente estabelecidos antes da

metodologia, pois parece inadequado relatar ‘como’, sem estabelecer, de

antemão, ‘o que se pretende’. Em suma, o texto do AA deve estar organizado

de forma que cada nova seção pareça ao leitor como a única saída ou, ao

menos, a mais plausível para a continuidade da argumentação naquele texto

(Motta-Roth, 2001a) .

De modo simultâneo, na segunda estratégia, a clareza de um texto está

relacionada à organização lógica entre as unidades de significado (idéias) e

unidades formais (parágrafos, orações). Uma pesquisa relevante, mas cujo

relato seja mal sinalizado, em termos de recursos lingüísticos de coesão, por

exemplo, pode ter seu impacto potencial comprometido, conforme evidenciado

nas entrevistas. No meio acadêmico, isso, muitas vezes, significa pôr em risco

o acesso aos recursos de publicação e, conseqüentemente, ao reconhecimento

na academia.

Por outro lado, a elegância está relacionada à precisão e à adequação

dos termos, já que expressões quotidianamente aceitas podem soar

deselegantes quando utilizadas em AAs. A precisão também parece ser

importante a fim de se evitarem conceitos e expressões polissêmicas, ou seja,

aplicáveis a mais de um contexto.

No meio acadêmico, poderíamos dizer que autores bem sucedidos na

tarefa de escrever e publicar são aqueles que conseguem dosar questões tais

como: o grau de mitigação (hedging) em relação aos debates da disciplina (ver

Myers, 1989), a personalização da informação (sobre topic-based X interactive

“human face” discourse, ver Thetela, 1997), a avaliação da informação

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4 8

(Thompson & Yiyun, 1991; Hunston, 1994) ou ainda a postura do escritor para

com os resultados de pesquisas prévias (sobre reporting verbs, ver Thomas &

Hawes, 1994; Hendges, 2001).

Por fim, merece destaque o oitavo critério para julgamento de AAEEs

(effective illustrations and tables), segundo o qual o emprego de TNVs deve ser

eficaz e esses devem ser acompanhados por uma discussão verbal. De acordo

com S1, TNVs devem ser inseridos quando forem realmente necessários para

a compreensão da idéia e não de modo aleatório, para preencher espaço. Isso

confirma a constatação de Myers (1990:159), de que periódicos científicos

desencorajam a inserção de gravuras que não contribuam diretamente para a

tese de pesquisa.

Todavia, não me parece haver consenso sobre o que significa uma

figura pouco eficaz ou mal explorada verbalmente, conforme o oitavo critério

(figures without discussion). Daí o interesse desta pesquisa em investigar as

convenções que regulam o uso e de TNVs e sua relação com o texto verbal no

AA.

Como discuti nesta etapa, a qualidade de um AA, na área em questão,

parece resultar do uso eficaz da linguagem para se fazerem reivindicações

sobre algo novo em busca de reconhecimento (Bhatia, 1998:17). Uma análise

das convenções já naturalizadas nos AAs da disciplina de EE pode fornecer a

medida mais aproximada sobre o uso de TNVs, pois estudos têm demonstrado

que os gêneros apresentam variações interdisciplinares (como a Resenha

acadêmica em Lingüística, Química e Economia, em Motta-Roth, 1995; Relato

de Casos em Administração e Direito em Bhatia, 1998; e o AA, em Motta-Roth,

Hendges e Nascimento, no prelo). Assim, na próxima seção, apresento uma

análise do AAEE e de sua configuração genérica.

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4 9

4.2 A organização retórica do artigo acadêmico de Engenharia Elétrica

De modo geral, parece haver um padrão macroestrutural subjacente aos

15 AAEEs analisados. Todos contêm o título, seguido pelo resumo acadêmico

(abstract), o corpo principal do texto e uma lista final de referências. No corpo

principal do texto, o AAEE está organizado nas quatro seções: Introdução,

Metodologia, Resultados e Discussão (IMRD) (Hill et al., 1982), sendo que a

Conclusão constitui uma seção à parte, como solicitam as normas de

publicação. A seguir, discuto cada seção separadamente.

4.2.1 Seções de Introdução e de Conclusão

Todos os AAEEs apresentam uma Introdução. De modo semelhante, a

Conclusão, como seção separada, foi identificada ao final de 14 AAEEs. Em

termos de extensão, a Introdução geralmente se limita à primeira página do

AAEE, juntamente com o título e o abstract, podendo variar de um mínimo de

257 a um máximo de 705 palavras.

As Introduções desses AAs correspondem, em grande parte, ao modelo

esquemático CARS (Creating A Research Space) (Swales,1990:141),

detalhado na seção 2.2. O Movimento 1, Estabelecer o território, é concretizado

pelos três passos (Estabelecer a importância da pesquisa; Fazer

generalizações; Revisar a literatura), como ilustram os Exemplos 10, 11 e 12,

respectivamente.

Exemplo 10 Passo 1- Estabelecer a importância da pesquisa EE#3 High frequency single-sidebanded (HF-SSB) communication continues to play an important role in long-distance communications

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5 0

worldwide [1]. (...). These advantages make HF radio systems popular for commercial, government, and marine use. (...)

No Exemplo 10, a importância da pesquisa é estabelecida (Passo 1)

através de menção ao papel relevante do tópico investigado (important role) e

do seu potencial para aplicações comerciais e governamentais/institucionais

(for commercial, government, and marine use).

Exemplo 11 Passo 2 - Fazer generalizações EE#8 A typical low-voltage electric distribution network consists of a three-phase four-wire system and is widely employed in (...).

O Exemplo 11 caracteriza a generalização sobre o tópico (Passo 2),

marcada por verbos no presente do indicativo, empregados sem delimitação de

tempo e espaço (consists of, is). Tais características permitem que o autor

apresente o conhecimento como fato, isto é, informação que ele sabe ser

verdadeira na disciplina, em qualquer circunstância, sem restrições (Motta-

Roth, 1995:157).

Exemplo 12 Passo 3 - Revisar a literatura EE#2 The available fault current in a dc system has traditionally been calculated by the superposition method [1], [2] (...).

Por fim, o Exemplo 12 denota a revisão da literatura (Passo 3), na

Introdução, sinalizada pelo verbo no presente perfeito, indicando procedimento

habitual, e pelo número indexado entre colchetes, correspondendo às

referências bibliográficas listadas ao final do AAEE. Em comparação ao

sistema de referência contendo o nome do autor e a data da publicação, esse

formato de citação, típico nos AAEEs, pode indicar uma tendência à

descaracterização da autoria do trabalho, de modo semelhante à voz passiva

impessoal, que coloca o agente do discurso em segundo plano.

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5 1

Para estabelecer o nicho (Movimento 2), a estratégia mais utilizada no

AAEE é o Passo 1B, ou seja, indicar lacunas no conhecimento estabelecido.

Esse movimento é sinalizado, em grande parte, pelos conetivos textuais

‘however’ e ‘although’, como previsto por Swales (Id:142).

Quanto ao Movimento 3, ocupar o nicho, três passos são utilizados, com

freqüência variada, na Introdução dos AAEEs, exceto pelo Passo A, delinear os

objetivos, que não aparece de modo explícito.

Exemplo 13 Passo 1B – Apresentar a pesquisa EE#6 In this paper, a new power converter system architecture with high performance and low cost is proposed, as shown in Fig. 2(b).

Exemplo 14 Passo 2 – Apresentar os principais resultados EE#9 (...) results obtained from a 10-kVA UPFC agree with both analytical and simulated results and show that (...).

Exemplo 15 Passo 3 – Indicar a estrutura do artigo EE#11 First, a review of existing methods is presented. (...) Second, the new method of (...) is introduced, (...) Third, (...).

Os excertos acima ilustram, respectivamente, o Passo 1B, apresentar a

pesquisa, o Passo 2, apresentar os principais resultados, e o Passo 3, indicar a

estrutura do artigo na Introdução.

Se, por um lado, a Introdução tende a incluir esses movimentos de

natureza e função variadas, a Conclusão se configura como uma seção breve ,

variando de um mínimo de 87, a um máximo de 286 palavras. Nessa parte do

AA, além de recuperar o propósito da pesquisa, o autor, com freqüência,

retoma os principais passos da investigação. Ainda assim, a principal função da

seção parece ser a de destacar a relevância do modelo proposto pela

recuperação dos resultados mais significativos, já descritos nos Resultados e

Discussão.

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5 2

Em cinco AAEEs, a Conclusão contém também sugestões para futuras

pesquisas, explicitamente indicadas no título, seja no mesmo bloco textual

(Conclusions and Further Work - EE#5) ou em bloco distinto (Future Work -

EE#2).

4.2.2 Seção de Revisão da Literatura

Além da Introdução, 06 dos 15 AAEEs apresentam seções específicas de

Revisão da Literatura, nas quais se discutem modelos já utilizados em

trabalhos anteriores (application, DCVRS; designs; UPFC; MOSFETS) e

questões relativas ao estado da arte (Background; Conventional; Basic;

Preliminaries).

Tais seções geralmente são identificadas por um subtítulo de conteúdo,

como por exemplo DCVRS (um modelo de fonte de voltagem) (EE#5),

Connecting power MOSFETS (um tipo de transistor) in series (EE#11). De

acordo com Motta-Roth et al. (2000:35), esse tipo de subtítulo expressa o

conteúdo disciplinar específico da seção, diferentemente dos títulos estruturais,

que sinalizam a organização do AA em seções (IMRD).

Nos textos dessas seções, a citação de pesquisas prévias, indexada por

números entre colchetes (conforme já discutido na seção 4.2.1) indica menor

concordância com os modelos revisados no AA, conforme prevê o modelo

CARS (Swales, 1990:141).

Exemplo 16 EE#5 Although solid-sate standards are mechanically robust (...), they are still subject to various environmental influences and technological imperfections (...).

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5 3

Exemplo 17 EE#9 The cross-coupling control proposed in [4] (...). However, neither control schemes may render good dynamic performance because interference exists in (...)

Os Exemplos 16 E 17 ilustram a apresentação de lacunas nas pesquisas

prévias, conforme explanação de Motta-Roth & Hendges (1996:68) acerca de

abstracts. Nessa sub-função, o autor aponta uma falha no conhecimento prévio

(Id.:76), sinalizada por expressões adversativas (although e however) e,

também, por expressões que avaliam negativamente a performance dos

aparatos e modelos existentes (still subject to influences and imperfections;

difficult to optimize; require additional (...); neither schemes may render good

dynamic performance).

Ao apontar a dificuldade das pesquisas anteriores para cobrir

satisfatoriamente o conhecimento, o autor cria espaço para a apresentação de

uma proposta alternativa (Id.:ibidem). Na seção de Revisão da Literatura dos

AAEEs, essa transição é feita ao se apresentar a contribuição da pesquisa para

sanar o problema constatado.

Exemplo 18 EE#1 In order to accurately estimate the losses, a good model of (...) is needed. (...) In the following section, an alternate topology is proposed (...).

Exemplo 19 EE#11 This paper introduces a new gate-side technique that takes (...).

Nos Exemplos 18 e 19, a apresentação da pesquisa (Motta-Roth &

Hendges, 1996:68) é feita através de menção às principais características do

estudo (Sub-função 1A).

Apesar dessa função de apresentar a pesquisa também ocorrer na

Introdução dos AAEEs, ela é recuperada na Revisão da Literatura, como uma

espécie de transição entre o conhecimento dado e o novo, conforme já

verificado por Hendges (2001:72), para AAs eletrônicos nas disciplinas de

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5 4

Lingüística e Economia. “Assim, a retomada do tópico, objetivos ou dados

metodológicos da pesquisa atual no final da Revisão da Literatura evita um

corte abrupto entre essa seção e a Metodologia (Id.:ibidem)”.

4.2.3 Seção de Metodologia

A seção de Metodologia foi identificada através de pistas lexicais, nos

subtítulos, referentes a procedimentos metodológicos, como, por exemplo, em

Procedure for Individual Static Sources (EE#2), Methods (EE#5), A Novel

Overmodulation Strategy (EE#7), Control Methodology (EE#8), Experimental

Setup (EE#10), Operation (EE#13).

Para aqueles AAEEs nos quais os títulos das seções não fornecem pistas

claras sobre a função retórica, dois critérios foram utilizados para identificar a

Metodologia. Primeiro, a seção deveria estar localizada entre a Introdução e os

Resultados e, segundo, os textos de tais seções deveriam descrever passos da

elaboração da pesquisa.

Além disso, na disciplina de EE, a Metodologia apresenta alta freqüência

de TNVs, conforme discuto posteriormente, na seção 4.6.

4.2.4 Seção de Resultados e Discussão

Todos os AAEEs contêm a seção de Resultados e Discussão. Em 10

deles, os sub-títulos fazem referência explícita à função retórica da seção,

como em: Simulation and Experimental Results (EE#6), Experiments and

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5 5

Discussions (EE#7), Simulation Results (EE#8), Results (EE#10). Nos

demais AAEEs (04), o relato dos resultados encontra-se em seções

identificadas por títulos de conteúdo: Finite-element Analysis of Planar Copper

Strip Windings (EE#1), Inductor Topology Case Study (EE#1), Convergence

Analysis (EE#4), (EE#4), System Simulation (EE#11), como já observado em

relação à Revisão da Literatura.

Em sete AAEEs (EE#5, 6, 7, 9, 11, 12 e 13), a seção é apresentada em

dois momentos: 1) o primeiro descreve resultados obtidos em simulação

matemática ou por computador (simulated); 2) o segundo, resultados obtidos

através da experimentação efetiva com sistemas elétricos (experimental). Nos

demais AAEEs, esses dois momentos aparecem individualmente (EE#1, 3, 10,

14 e 15 contêm resultados experimentais e EE#2, 4 e 8, resultados de

simulação). Esse procedimento parece influenciar igualmente a maneira como

os TNVs são elaborados e organizados na seção, como ilustra a Figura 7.

Figura 7 – Exemplo do tratamento dos resultados de simulação e de

experimentação nos TNVs

(c) (b)

(a)

Fig. 8 Harmonic spectra by FFT, normalized to fundamental component at MI = 1.0 (simulation).

Fig. 16 Harmonic spectra by FFT, normalized to fundamental component at MI = 1.0 (experimental).

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5 6

A Figura 7 mostra TNVs contendo dados resultantes de ambas as etapas

(simulação e experimentação). A Figura 7(a) representa a comparação de

dados simulados (linha contínua) e experimentais (linha tracejada) no mesmo

TNV (EE#15), permitindo, ao observador, visualizar as áreas que representam

variações entre os dois tipos de resultados. Já as Figuras 7 (b) e (c) mostram

dois TNVs, cada qual apresentando um desses resultados, como sinalizam as

legendas dos gráficos (b) e (c) (simulation ou experimental).

A dupla natureza dos resultados mantém uma relação direta com o texto

verbal, no que tange ao léxico da seção. Conforme podemos observar na

Tabela 2, os lexemas explícitos da simulação dos resultados (models,

prediction paradigms, approximation, simulate, evaluate, assume to be,

calculate) parecem indicar uma etapa prévia da investigação, cujos resultados

devem se aproximar ao máximo possível do experimento efetivo. Essa etapa

pode abranger uma análise teórica (theoretical analysis), uma simulação por

computador (digital simulation) ou ainda cálculos matemáticos (equation

discovery systems).

Já os resultados experimentais são de caráter prático (practical

implementation, experimental verification), pois advêm da implementação de

protótipos e sistemas reais (setup, experiments, prototype). Assim, os

resultados experimentais parecem ter a função de confirmar os dados obtidos

na fase de simulação.

Ao final do AAEE, geralmente na Conclusão, há uma tentativa de

equiparar os resultados simulados e experimentais em termos de maior ou

menor concordância entre eles, conforme sintetizado no trecho ‘experimental

waveforms are in agreement with predicted waveforms’ (Tabela 2). Isso nos

fornece indicações de que o AA na disciplina seja considerado bem sucedido à

medida que os resultados da simulação consigam prever os da

experimentação.

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Tabela 2 – Simulação X experimentação no texto verbal Marcadores Exemplos

Res

ulta

dos

sim

ulad

os

by digital simulation /models prediction paradigms /simulation(s) approximation /predictive model equation discovery systems is/was simulated /was performed is evaluated /is assumed to be can be calculated /is used to calculate

The performance is evaluated by digital simulation for ... Simulations show reasonable ... behavior./ ... is simulated and shown Fig. 16. The approximation used in ... works with satisfactory accuracy. ... So that it should be possible to build a predictive model for them. Circuit simulation software ... is used to calculate the simulated results, Equation discovery systems help human experts to discover natural laws, expressed in the form of equations ...

Res

ulta

dos

expe

rim

enta

is experimental results /setup / technique

experimental verification / experiments practical implementation results were/has been performed Is/was implemented / is applied to ... were obtained / is/was demonstrated

When the method is applied to ..., ... was demonstrated through experimental results. Experimental verification of these results has been performed. ... is demonstrated in Figs. 19 and 20. Experimental results were obtained for ... / The proposed ... was implemented using ... . The practical implementation results were also presented. Experimental results are taken on a prototype ... . This results are given in Fig. 10.

Rel

ação

ent

re o

s do

is ti

pos

de r

esul

tado

s

both experiment and simulation show of which the results are the same as those similar / at a similar condition to relationship between in agreement with /agree well with each other ... simulated and then verified

The simulation and experimental results verify that the system has good performance ... Fig. 17 shows the simulation result ... . Fig. 18 shows the experimental results with a similar ... Fig. 11 (b) shows the theoretical and experimental relationship between ... . The experimental waveforms are in agreement with predicted waveforms. Fig. 16 shows ... of which the results are the same as those in Fig. 8. From experimental and simulation results, it appears that ... is as good as or, in most cases, superior to other methods as documented in the literature. Simulation reveals that ... . Experimental results verify this method. Figs. 6-9 show simulated and experimental waveforms The “interim” results, however, have resulted ... Theoretical analysis, simulation results, as well as experimental results ... were presented to verify the proposed concept.

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Em conclusão, é possível observar que o AAEE mantém a

macroestrutura IMRD característica do gênero. Por outro lado, esses mesmos

AAs incorporam variações, tais como 1) títulos de seções relacionados ao

conteúdo disciplinar e não à função retórica, 2) padrão de citação impessoal,

no qual autores e trabalhos prévios são identificados apenas por números entre

colchetes e 3) seção de Resultados e Discussão freqüentemente estruturada

nas etapas de simulação e de experimentação. A convenção de incluir duas

etapas possivelmente garante dados mais confiáveis na pesquisa final e evita

desperdício de recursos materiais e financeiros, já que a simulação permite

ajustes na pesquisa antes de ela ser efetivamente implementada.

Além dos aspectos acima, a presença marcante de TNVs, em

combinação com o verbal, fazem desse gênero uma manifestação semiótica

híbrida, como propõe Lemke (1998). Dessa forma, qualquer investigação sobre

como o AAEE constrói e veicula significados torna indispensável

considerarmos a relação entre as diferentes modalidades semióticas que

coexistem nesse gênero. Portanto, a partir daqui, passo a enfocar as

estratégias de coesão e coerência entre TNV e texto verbal no AAEE. Inicio, na

próxima seção, com o depoimento de informantes da EE em busca de uma

visão interna da disciplina sobre a utilização dos TNVs.

4.3 Como os informantes lêem e utilizam a informação no texto híbrido

As entrevistas com professores/pesquisadores da EE apontam a

importância de TNVs para representar todas a dimensões do objeto de estudo

na disciplina. Esses sujeitos destacam, inclusive, a necessidade de investir no

aprimoramento da representação visual, como pode ser constatado no excerto

a seguir:

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59

Exemplo 20 S2 A nossa área, como uma área técnica, que trabalha com topologias, com conversores, (...) a percepção visual é muito importante, pra entender a seqüência de operação de um condutor, por exemplo. Então as diversas figuras, por exemplo, que compõem os estágios de operação, como aqui, por exemplo [mostra uma topologia em livro da área], (...) estágio 1, estágio 2, (...). Então a gente tem muito (...) de a percepção visual ser maior do que a percepção [verbal] (...). Porque eu olho as formas de onda do conversor, (...) eu entendo mais rapidamente, do que vendo os valores aqui (...). Então é por isso que eu acho que a gente busca aprimorar cada vez mais a parte gráfica.

O Exemplo 20 revela o potencial semântico dos TNVs sob dois

aspectos. Primeiro, há evidência de uma maior familiaridade dos engenheiros

eletricistas com a linguagem não-verbal. Segundo, há diferentes tipos de TNVs

e cada tipo tem um determinado valor na disciplina. Exemplo disso é a

diferenciação que S2 faz entre o diagrama, adequado para representar a

seqüência de operação de um condutor (um aparato em funcionamento), e o

gráfico, para representar as formas de onda do conversor (a mensuração do

funcionamento de um aparato).

Quanto à seqüência de leitura do AA, cada informante descreveu um

roteiro particular que inclui os TNVs como etapa indispensável na compreensão

global do texto. S1, por exemplo, tende a observar os TNVs após uma leitura

superficial do AA, que inclui o abstract, as Referências e a Conclusão. Caso a

pesquisa o interesse, esse informante recorre então aos TNVs como fonte de

informação. Já S2, com freqüência, analisa os TNVs antes de qualquer outro

elemento do AA e, quando verificada a relevância do trabalho, através dos

TNVs, ele passa a ler o restante do AA.

Esses hábitos confirmam o uso seletivo da informação, em textos

híbridos, por leitores experientes, conforme apontam pesquisas anteriores

(Lemke, 1998:96; Miller, 1998:30). Além disso, se, na prática, o leitor

especialista recorre a esse processo de ir e vir entre texto verbal e TNV, para

construir o sentido do AAEE, é porque as duas modalidades mantêm uma

relação de coesão e interdependência nos textos da área.

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60

Nesta segmento, busquei elucidar a visão interna da disciplina sobre o

uso da linguagem não-verbal. A partir daqui, tento discutir em que medida as

constatações anteriores se evidenciam no texto da disciplina. Na próxima

seção, exploro o modo como as modalidades verbal e não-verbal são

combinadas na página do AAEE.

4.4 Distribuição e localização dos textos não-verbais por página

Para fins de quantificação, considerei cada TNV enquanto unidade,

observando dois critérios:1) o TNV deveria ser identificado através do termo

“Figure”, acompanhado de numeração cardinal, ou “Table”, acompanhado de

numeração romana, conforme convenção do periódico; 2) cada unidade

deveria conter uma legenda resumindo o conteúdo da mesma. Tal

diferenciação é importante, pois os AAs, por vezes, contêm 02 a 06 gráficos,

ocupando em torno de 50% da página e sob um único título.

A Tabela 3 apresenta o número de TNVs encontrados em cada um dos

AAEEs, bem como a extensão destes em número de páginas. Essa tabela

mostra que cada página dos AAEEs contém, em geral, dois TNVs (média de

1,73 e máximo de 2,71), o que é superior aos valores encontrados por Lemke

(1998:84-5) em Medicina (1,1 TNV/página) e em Física (1,2 TNV/página).

Quanto à posição dos TNVs, alguns aspectos podem ser destacados.

Em primeiro lugar, eles aparecem invariavelmente na parte superior da página

(à esquerda ou à direita), sobre uma das colunas de texto, ou ocupando a

largura integral da página sobre as duas colunas (Figura 8).

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Tabela 3 – Número de TNVs por AA e número médio de TNVs por

página

Identificação do AA

Número de páginas do

AA

Número de TNVs no AA

Média de TNVs por

página EE #15 07 19 2,71 EE #6 08 20 2,50 EE #10 07 17 2,43 EE #13 06 13 2,17 EE #7 08 17 2,13 EE #1 07 14 2,00 EE #11 08 15 1,88 EE #5 07 06 0,86 EE#8 08 14 1,75 EE #12 08 14 1,75 EE #9 07 12 1,71 EE #14 08 12 1,50 EE #2 08 9 1,13 EE #4 08 06 0,75 EE #3 06 04 0,67

Total 111 192 Média 1,73

Além disso, há vários AAEEs com TNVs que ocupam cerca de 80% da

página (EE#2, EE#4, EE#7, EE#8, EE#9, EE#15), como ilustra a Figura 3,

modelo de diagramação retirado do EE#4.

O conjunto desses resultados sugere a importância conferida aos TNVs,

que, no periódico analisado, encontram-se em posição temática em relação ao

texto. Assim, conforme já evidenciado nas entrevistas, para os engenheiros

eletricistas, a posição temática do TNV o caracteriza como o registro de

linguagem conhecido (ver Kress & van Leeuwen, 1996:187), ou seja, a

informação com a qual eles estão familiarizados como parte de sua cultura

disciplinar. Já a linguagem verbal constitui o rema, isto é, a informação a ser

processada e apreendida com base na figura, a qual é auto-evidente para o

especialista.

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Figura 8 – Exemplo de diagramação da página no AAEE

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63

A dualidade Dado-Novo, tradicionalmente associada às posições

esquerda-direita, parece adequada para a análise dos AAEE, pois eles estão

dispostos em duas colunas.

Apesar de eu usar o termo TNVs apenas para figuras e tabelas,

considero importante lembrar que a linguagem não-verbal pode incluir

expressões matemáticas, especialmente em disciplinas como a EE. Conforme

evidenciado na Figura 8, nos AAEEs, a linguagem matemática é inserida

diretamente no fluxo do texto, através de marcas lingüísticas como the

following equation, the following formula, we express, we have, we obtain, is

given by, is obtained from, que antecipam a equação, e expressões como

where (em orações como, por exemplo, where x denotes the length of the input

vector), que sucedem a equação com a finalidade de identificar verbalmente as

variáveis matemáticas.

Lemke (1998:89) explica que, nesses casos, as expressões matemáticas

passam a fazer parte da sintaxe do texto, estendendo os recursos gramaticais

conforme demanda o registro de linguagem. No presente estudo, a maneira

como as equações são usadas é mais uma evidência da integração entre

diferentes modalidades semióticas no texto dos engenheiros eletricistas.

Além da interação entre modalidades diferentes, é possível observar

padrões que regulam a relação entre os próprios TNVs na página. Assim, na

seção seguinte, discuto um tipo de disposição observada entre diferentes TNVs

no AAEE.

4.5 A disposição entre os textos não-verbais na página

Quanto ao modo como diferentes TNVs relacionam-se entre si, observei

um padrão no qual dois TNVs encontram-se em relação vertical, dispostos um

acima do outro, conforme o exemplo na Figura 9 (EE#12).

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Figura 9 – TNVS em disposição sobreposta

Normalmente, a figura superior representa um aparato conhecido,

equivalente ao conhecimento Dado, conforme revela a legenda do primeiro

TNV (Fig. 11. Shaft voltage and beraing current for a conventional PWM

inverter-driven motor). A figura localizada na parte inferior, ao contrário, trata do

modelo proposto no AAEE (ver legenda do segundo TNV: Fig. 12. Shaft voltage

and beraing current for the proposed PWM inverter-driven motor), ou seja, o

conhecimento Novo, conforme propõem Kress e van Leeuwen (1996:188).

O léxico dos AAEEs, isto é, a parte verbal, parece reforçar esse padrão.

Em alguns exemplares (EE#6, EE#7, EE#8), os títulos contêm referência

explícita ao novo (new, novel). Nos demais, isso é explicitado no texto do

abstract ou da Revisão da Literatura, como mostra o Exemplo 21.

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Exemplo 21 EE#6 In this paper, a new (...) with high performance and low cost is proposed, as shown in Fig. 2(b)..

O exemplo acima mostra um trecho retirado da seção de Revisão da

Literatura, correspondente ao Movimento de Ocupar o nicho (através da

apresentação da pesquisa e suas principais características), conforme o

modelo CARS de Swales (1990:141), explicado no Capítulo 2. Nele, podemos

observar a questão da apresentação do novo (new, proposed) e de sua

descrição positiva (high performace, low cost).

A partir daqui, o termo Revisão da Literatura será utilizado para fazer

referência às seções de Introdução e de Revisão da Literatura propriamente

dita, já que o conteúdo dessas parece se mesclar no AAEE, seguindo uma

tendência já observada por Hendges (2001:63-4), para AAs eletrônicos de

Economia e de Lingüística.

A Tabela 4 contém uma listagem de itens lexicais referentes ao que

podemos denominar padrão Dado/Novo na relação entre TNVs refletida no

texto verbal. Esses itens foram retirados não apenas das legendas de TNVs,

mas também dos títulos dos AAEEs, dos abstracts e, principalmente, das

seções de Revisão da Literatura, nas quais esses TNVs são discutidos.

Tabela 4 – O padrão ‘Dado/Novo’ em itens lexicais no AAEE

Antes / Dado Depois / Novo

conventional proposed typical novel / novelty

traditional / traditionally alternative / alternate without ... with ...

well-known new

A Tabela 4 indica que as expressões à esquerda remetem ao

convencional e estabelecido (conventional, well-known), enquanto que a as

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expressões à direita denotam propostas, inovações (proposed, novel,

alternative).

Além disso, os engenheiros avaliam o Dado e o Novo de maneira

diferenciada, conforme sistematização na Tabela 5.

Tabela 5 – As lacunas no Dado e a superação no Novo

Antes / Dado Depois / Novo

variable improved distorted / distortion / distorting high-precision

degraded correct / correction problem efficient / efficiency / effective/effectively

excessively accurately

Essa tabela apresenta, à esquerda, expressões que apontam as

deficiências verificadas nos métodos e modelos conhecidos. Por outro lado, a

nova proposta apresentada nos AAEEs é descrita de forma positiva através de

itens lexicais que destacam sua capacidade de superar deficiências, como

podemos observar na coluna da direita.

Nas duas últimas seções, busquei exemplificar como a organização

espacial dos elementos textuais pode estar associada a uma maneira particular

de conceber e de apresentar a informação (nesse caso, como dada ou como

nova). Essa relação pode ser observada não apenas dentro da mesma

modalidade de linguagem (entre TNVs, por exemplo), mas também entre

modalidades diferentes, como no caso dos TNVs sobrepostos, cuja estratégia

coesiva se evidencia na modalidade verbal. No AAEE, TNVs são utilizados

conforme os diferentes estágios da informação, seja para apontar lacunas no

conhecimento (Introdução e Revisão da Literatura) e para propor alternativas

aos problemas da disciplina (Metodologia), ou, ainda, para avaliar o sucesso da

pesquisa, como no caso das figuras equiparando resultados de simulação e de

experimentação (Resultados e Discussão). Esses são os padrões mais

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recorrentes da relação entre TNVs no corpus. Outros padrões podem ser

investigados em pesquisas futuras.

Na próxima seção, apresento os resultados da investigação quanto aos

tipos de TNVs mais utilizados pelos engenheiros e a relação destes com as

seções retóricas do AA.

4.6 Natureza e localização dos textos não-verbais nas seções do artigo

acadêmico

De modo geral, os TNVs encontrados são gráficos, diagramas, tabelas,

esquemas e fotografias. No entanto, para fins de sistematização, decidi agrupá-

los em categorias mais abrangentes: 1) TNVs de natureza topológica, 2) TNVs

de natureza gráfica e 3) TNVs de natureza tabular.

É preciso esclarecer que conceituo topologia diferentemente de Lemke

(1998:87), para quem representações topológicas são utilizadas como

sinônimo de TNVs, em oposição a representações tipológicas, isto é,

linguagem verbal. Nesta pesquisa, utilizo o termo topologias por duas razões.

Primeiro, conforme as entrevistas, é consensual, na comunidade de EE,

identificar como topologias o grupo de figuras cuja natureza é diferente daquela

de gráficos e tabelas. Segundo, a origem do termo topologia (topus significa

lugar) nos permite associá-lo a descrições de objetos no espaço.

Nos AAEEs, TNVs de natureza topológica são esquemas, diagramas ou

fotografias que representam aparatos e sistemas elétricos. Assim, as

topologias se parecem fisicamente com o objeto ou fenômeno que

representam, diferentemente de gráficos, que retratam abstrações

matemáticas. Exemplos de TNVs de natureza topológica são apresentados na

Figura 10 a, b, c e d) (respectivamente, EE#5, 9, 1 e 15). Como é possível

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observar, essa categoria inclui diagramas de bloco (Figura 10 a), topologias ou

plantas (Figura 10 b), ilustrações (Figura 10 c) e fotografias (Figura 10 d).

Figura 10 – Progressão entre abstração e representação em TNVs

de natureza topológica

Essas representações se enquadram no que Oliveira (2001) denomina o

‘paradigma da natureza’, pois há, em maior ou menor grau, a manutenção de

um vínculo com a realidade física. Quanto mais a figura é fiel às características

reais do objeto (Figura 10 d) maior a representação. Quanto mais estilizada a

figura (Figura 10 a), maior a abstração.

Dessa forma, no que se refere ao componente Ideacional dos TNVs

(Kress & van Leeuwen, 1996), conforme discutido na seção 2.5, nas Figuras 10

(d) o corpus

(a) no corpus

(c) no corpus

(b) no corpus

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a e b há ênfase no significado narrativo dos sistemas representados, como se o

autor desejasse mostrar como tais sistemas funcionam. A diferença é que, na

Figura 10 a, os vetores representam a ação de um participante sobre outro (os

quatro retângulos), enquanto que, na Figura 10 b, os vetores apenas indicam a

direção de funcionamento, atenuando o caráter narrativo do TNV.

Nas Figuras 10 c e d, predomina o potencial conceitual dos TNVs, pois a

representação enfatiza a estrutura física dos objetos, através de relações de

contiguidade, distância e tamanho relativo. Embora as características

conceituais sejam mais evidentes nesses dois TNVs, aqueles das Figuras 10 a

e b também são conceituais na sua essência, uma vez que, retirados os

vetores, tais figuras mostram as dimensões físicas do sistema e seus

componentes.

Além das topologias, os AAEES apresentam TNVs de natureza gráfica e

de natureza tabular. Por TNVs de natureza gráfica, entendo aqueles cuja

função é representar a relação entre variáveis (gráficos e diagramas abstratos

e/ou matemáticos). Já TNVs de natureza tabular são aqueles que

desempenham a função de listar ou ordenar sistematicamente dados em

hierarquia vertical (colunas) e horizontal (linhas), ou seja, as tabelas.

Na Tabela 6, apresento a distribuição de TNVs nas seções dos AAEEs.

Para fins de contagem, utilizei apenas a primeira referência explícita feita à

figura ou à tabela no texto, de acordo com a seção do AA. Referências

posteriores ao mesmo TNV não foram incluídas na contagem. A divisão, na

Tabela 6, inclui uma seção de Revisão da Literatura e uma seção de

Conclusão.

Os TNVs predominam na seção de Resultados e Discussão do AAEE,

confirmando descobertas semelhantes em AAs da Sociologia (Brett, 1991:50) e

da Medicina (Busch-Lauer, 1998:115). Além disso, TNVs também aparecem

em alta concentração na Metodologia dos AAEEs – conforme já mencionado

na seção 4.2.3.

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Tabela 6 – Distribuição do tipo de TNV por seção nos AAEEs

Introdução Revisão Metodologia Resultados Conclusão Tp G Tb Tp G Tb Tp G Tb Tp G Tb Tp G Tb

EE#1 01 01 03 02 01 01 04 01 EE#2 01 01 01 01 05 EE#3 01 02 01 EE#4 03 03 EE#5 01 01 01 02 01 EE#6 01 01 11 02 05 EE#7 06 01 10 EE#8 01 04 03 01 05 EE#9 04 01 01 04 02 EE#10 03 14 EE#11 02 03 10 EE#12 05 02 07 EE#13 02 03 06 02 EE#14 02 01 07 02 EE#15 05 06 03 05 Total 01 02 05 01 44 25 04 08 83 18 01 Geral 03 06 73 109 01

Tp = Topologias; G = Gráficos; Tb = Tabelas

No que tange aos Resultados e Discussão, os dados contemplam as

expectativas, na medida que tal seção, convencionalmente, apresenta alta

densidade de informação nova. Assim, os TNVs servem ao propósito de

condensar e organizar grandes quantidades de dados, de modo a facilitar ao

escritor, a tarefa de comentá-los.

Quanto à presença dos TNVs na Metodologia, os dados sugerem uma

diferença significativa entre a EE e outras áreas. Na EE, o foco parece ser a

inovação do estudo (a construção de novos aparatos), o que pode explicar a

necessidade do engenheiro de recorrer a TNVs em proporções semelhantes ao

que ocorre nos Resultados e Discussão.

A literatura consultada não apresenta discussões sobre a natureza dos

TNVs em relação às diferentes seções retóricas do AA. Neste estudo, a

Metodologia apresenta, predominantemente, TNVs de natureza topológica,

conforme mostra a Figura 11 a. Já na seção de Resultados e Discussão,

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destacam-se os TNVs de natureza gráfica e tabular, em ordem decrescente,

como mostra a Figura 11 b.

A Metodologia apresenta número superior de topologias porque o foco dos

engenheiros, nesse estágio, é a descrição estrutural (conceitual) e funcional

(narrativa) dos sistemas elétricos. Quando há gráficos, eles provavelmente são

utilizados a título de revisão dos resultados de trabalhos anteriores.

Figura 11 – A natureza dos TNVs nas seções de Metodologia (a) e de Resultados e Discussão (b).

Já os Resultados e Discussão contêm um número significativo de TNVs

de natureza gráfica e tabular. Nessa seção, os escritores propõem inovações

em relação ao conhecimento corrente através da apresentação, explicação e

interpretação de dados (Brett, 1991:47-50). Assim, podemos concluir que

gráficos e tabelas representam a mensuração que permite avaliar a capacidade

e aplicação dos sistemas elétricos – aqueles cuja montagem e implementação

são descritas na Metodologia.

Em conclusão, é possível constatarmos que a utilização dos TNVs está

intimamente relacionada à estrutura genérica do AAEE. Os TNVs que hoje

apresentam resultados de pesquisa, em um estudo subseqüente, serão

assimilados ao conhecimento compartilhado. No momento que tal

(a) Seção de Metodologia

59%

36%

5%

topologias

gráficos

tabelas

(b) Seção de Resultados e Discussão

7%

76%

17% topologiastabelas

gráficos

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conhecimento não mais dê conta das necessidades na área, surgem novas

propostas, que geram novos conjuntos de dados, compilados em mais gráficos

e tabelas, de modo que o conhecimento na disciplina progrida em um processo

de acréscimo contínuo. Tal processo, conhecido na literatura como accretion of

knowledge, é apontado por Motta-Roth (1995:267) como característico do

desenvolvimento científico em Química, no qual cada nova descoberta é

construída sobre a pesquisa recente.

Até o momento, detive-me sobre a distribuição dos TNVs em relação ao

texto verbal, ao longo do AA, com o intuito de compreender a configuração

híbrida do gênero. Nas seções seguintes, passo a enfocar a estrutura textual

desse híbrido ao analisar o comentário verbal que acompanha os TNVs.

4.7 A estrutura do comentário de textos não-verbais no artigo acadêmico

de Engenharia Elétrica

O foco das pesquisas que abordam TNVs e seus respectivos

comentários verbais tem recaído sobre a seção de Resultados e Discussão

(ver, por exemplo, Brett ,1991; Swales & Feak, 1994; Busch-Lauer, 1998),

provavelmente porque, para a maioria das disciplinas acadêmicas, TNVs

predominam nessa seção.

Neste trabalho, optei por enfocar as topologias da seção de Metodologia

por três motivos. Primeiro, apesar do alto número de TNVs nos Resultados e

Discussão do AAEE, parece haver uma lacuna quanto à investigações sobre a

seção de Metodologia de modo geral. Segundo, a concentração de topologias

na Metodologia parece ser uma especificidade disciplinar. Terceiro, a

discussão sobre o duplo potencial de significação de topologias (ver seção

anterior) suscitou minha curiosidade para investigar em que medida o

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comentário verbal enfatiza ou a natureza conceitual ou a natureza narrativa das

topologias.

Quanto à organização global, os comentários de topologias, na

Metodologia, parecem seguir a estrutura sugerida por Swales & Feak (1994),

assim organizada: Etapa 1, Elemento de Localização e Sentença de Resumo;

Etapa 2, Sentenças de Destaque; Etapa 3, Conclusão do Comentário.

A Etapa 1 pode ser considerada o elemento obrigatório (Halliday &

Hasan, 1985:66-7) na configuração do comentário de TNVs. Nos AAEEs, tal

etapa ocorre em todos os comentários de topologias da Metodologia, sem

exceção. Através dos chamados Elementos de Localização que, em geral,

marcam o início do comentário, o escritor promove a coesão explícita entre a

figura na qual os dados podem ser encontrados e o texto verbal. Tais

expressões de referência geralmente ocorrem dentro de uma Sentença de

Resumo, que introduz o conteúdo do TNV, como ilustra a sentença (a) no

Exemplo 22.

Exemplo 22 (a) Fig. 1 shows a system configuration of a general UPFC, which is installed between the sending end and the receiving end. (b) The UPFC consists of a combination of a series device and a shunt device, the dc terminals of which are connected to a common dc-link capacitor. (c) The series device acts as a controllable voltage source , whereas the shunt device acts as a controllable current source . (d) The main purpose of the shunt device is to regulate the dc-0885– link voltage by adjusting the amount of active power drawn from the transmission line. (e) In addition, the shunt device has the capability of controlling reactive power. (f) In the following discussion, the shunt device is disregarded because the current owing into the shunt device, is not as large as the transmission line current . EE#9

O marcador ‘Fig. 1 shows’, na sentença (a), direciona a atenção do leitor

para o TNV, além de prever o tipo de informação que o leitor deverá encontrar

nesse TNV (a system configuration of a general UPFC).

A Etapa 2, Sentenças de Destaque, ocorre nas sentenças (b) a (e) do

Exemplo 22. Nelas, aspectos evidenciados no TNV são descritos,

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freqüentemente, através de sentenças no tempo presente (consists, are

connected). Essa etapa parece caracterizar um detalhamento da informação,

através do enfoque a aspectos específicos sobre a figura, tais como as partes

constituintes do aparato (series device, shunt device) e suas respectivas

funções (acts as, has the capability of).

Por fim, a Etapa 3, Conclusão, além de encerrar o comentário, é uma

espécie de discussão sobre o que significam os dados destacados na etapa

anterior. Assim, a Conclusão geralmente fornece explicações para a

configuração dos dados e implicações destes para a pesquisa ou para a

disciplina, com base nas informações da Etapa 2.

No Exemplo 22, isso ocorre na sentença (f), pois, nela, justifica-se a

decisão de desconsiderar um elemento do todo anteriormente descrito (is

disregarded because). A extrapolação do conteúdo imediato do TNV também

pode ser observada através do dêitico in the following discussion, que

estabelece conexão com outras partes do AA e redireciona o foco para o

trabalho em si.

Além disso, é importante destacar que, como a Conclusão vai além da

simples descrição e apresenta a interpretação do TNV, esse trecho tende a ser

o mais avaliativo entre as três etapas do comentário de TNVs. Apresento esse

dado na seção a seguir, sobre a microestrutura que caracteriza cada etapa do

comentário de topologias na seção de Metodologia dos AAEEs.

4.7.1 Etapa 1: como a atenção do leitor é direcionada aos textos não-

verbais

Na Etapa 1, o escritor chama a atenção do leitor para a inclusão do TNV

no discurso e fornece uma síntese sobre o conteúdo desse TNV. A análise da

seção de Metodologia revelou 57 referências explícitas a TNVs de natureza

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topológica devidamente identificados pela expressão ‘Fig’., acompanhadas de

um número.

A referência ao TNV ocorre através de mecanismos de antecipação e de

recapitulação (Tadros, 1985), que dirigirem a atenção do leitor para o TNV e,

ao mesmo tempo, comprometem o escritor a apresentar e estabelecer a função

desse elemento no texto (Tabela 7). Além disso, no corpus, o conteúdo do TNV

é antecipado e organizado através de enumeradores (Tadros, 1985:14-24) e

listagem (Hoey, 1983:139).

Tabela 7 – Tipo e freqüência das expressões utilizadas para fazer referência a TNVs nos AAEEs

Elementos de localização Ant. Rec. Total (as) shown in Fig. X 3 17 20 is/are shown in Fig. X 9 6 15 Fig. X shows 5 4 9 Fig. X is a ... showing 1 0 1 is given in Fig X 0 2 2 (see Fig X) 1 1 2 (Fig X) 0 3 3 the ... in Fig X must have... 0 1 1 referring to Fig X 0 1 1 consider the ... of fig X 0 1 1 paying attention to the ... of Fig X 0 1 1 is a modification of ... of Fig X 0 1 1 Total Absoluto 19 38 57 Total Percentual 33% 67%

Os antecipadores apresentam o TNV de maneira prospectiva, isto é,

prevêem a concretização do TNV (Tadros, 1985:22; Motta-Roth, 1997:117). No

corpus, os antecipadores mais recorrentes são exemplificados a seguir:

Exemplo 23 EE#9 Fig. 5 shows a block diagram of the control circuit.(...)

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Exemplo 24 EE#10 A gas-flow system is shown in Fig. 3. (...)

A principal diferença entre eles se refere à forma, já que o primeiro

encontra-se na voz ativa e segundo na voz passiva.

A Tabela 7 contém a listagem completa dos mecanismos de antecipação

e recapitulação encontrados no corpus. Como se pode observar nessa tabela,

há 38 casos nos quais as topologias são inseridas antes de sua menção no

texto e, portanto, sinalizadas através de recapituladores. Ao contrário dos

antecipadores, esses mecanismos recuperam o TNV que aparece

anteriormente a fim de apresentar a informação nova, isto é, o comentário

propriamente dito, como exemplifica o fragmento em negrito abaixo.

Exemplo 25 EE#11 As shown in Fig. 3, a capacitance is inserted between each gate and common ground. (...)

Diferentemente da definição de recapituladores (Tadros, 1985), alguns

dos mecanismos que recuperam a inserção de topologias no meu corpus

encontram-se no tempo presente, seja na voz ativa ou passiva, e, portanto,

assemelham-se formalmente aos mecanismos usados na antecipação.

Exemplo 26 EE#13 Fig. 1 shows a standard SMR with a MOSFET switch “S”. (...) Exemplo 27 EE#14 The structure of this robotic manipulator control system and its joint coordinates are shown in Fig. 1. (...)

Inicialmente, supus que o uso dos verbos no presente (shows; are

shown) indicasse o emprego equivocado da recapitulação, já que, de acordo

com Tadros (1985:37), recapituladores tipicamente contêm verbos no passado

e aparecem depois do item recapitulado. Todavia, posteriormente, concluí que

pelo fato de o presente ser um tempo não marcado, o autor pode optar por

esse tempo para recuperar material já apresentado no texto.

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Dentre os Elementos de Localização na Metodologia, 65% são utilizados

na forma de recapitulação (38 ocorrências). Nos AAEEs, é comum encontrar

entre duas e três referências anafóricas ao mesmo TNV, o que pode explicar o

número substancialmente maior de recapituladores em relação aos

antecipadores. Além dessa constatação, o fato dos TNVs serem recuperados,

em média, mais de uma vez no decorrer do texto indica um alto grau de

integração dos TNVs no AAEE, uma vez que recapituladores são os

mecanismos que estabelecem a coesão imediata entre TNV e texto verbal no

AA.

Quanto ao conteúdo desses mecanismos, tanto em recapitulação quanto

em antecipação, o verbo show se destaca, aparecendo em 45 das 57

ocorrências (Tabela 7). Para Thomas e Hawes (1994), o verbo show indica alto

grau de certeza sobre a informação veiculada. Conseqüentemente, a seleção

desse verbo, na disciplina de EE, pode estar associada ao fato de que TNVs

sejam apresentados como dados auto-evidentes do experimento científico. O

TNV, então, não indica ou sugere, mas mostra ou permite ver os dados em

termos mais definitivos e conclusivos.

Uma vez descritos os Elementos de Localização, podemos passar à

microestrutura que caracteriza especificamente a Sentença de Resumo de

modo geral. Nos comentários de topologias, na seção de Metodologia, a

Sentença de Resumo parece funcionar como uma previsão (Hoey, 1983:138-

43) dos aspectos que serão detalhados nas Sentenças de Destaque que se

seguirão. Nos AAEEs, os principais mecanismos utilizados para prever o

detalhamento na Sentença de Resumo são a listagem e a enumeração. O

Exemplo 28 ilustra um caso de listagem.

Exemplo 28 Fig. 1 shows a system configuration of a general UPFC, which is installed between the sending end and the receiving end. The UPFC consists of a combination of a series device and a shunt device (...). EE#9

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No Exemplo 28, a listagem dos dois elementos (a series device and a

shunt device) que compõem o todo (a general UPFC) é antecipada pelo verbo

‘consists of’ e pelo lexema explícito ‘combination of’. O conjunto desses

mecanismos prevê o detalhamento subseqüente (ver Exemplo 22 acima).

Exemplo 29 Two winding arrangements are considered: a stacked arrangement, where the windings are wound on multilayers as shown in Fig. 4, and a planar arrangement, where the windings are wound on a single layer as shown in Fig. 5.EE#1

O Exemplo 29 mostra um caso de enumeração (two winding

arrangements: a stacked arrangement (...) and a planar arrangement), no qual

dois modelos de um componente são mencionados.

Exemplo 30 Fig. 1 is a block diagram showing the signal flow from input to output. The following sections describe in detail each of the sections in the block diagram. EE#9

No Exemplo 30, além do antecipador (the following sections describe),

temos a sinalização através do lexema explícito ‘detail’’, o qual indica o

detalhamento subseqüente da informação.

Como visto nos exemplos acima, parece haver uma combinação de

recursos para sinalizar o conteúdo do TNV nos comentários da EE. Alguns

desses mecanismos apontam para tipos específicos de informação explorados

nos TNVs. Nos Exemplos 28 e 29, a Sentença de Resumo prevê um enfoque

na estrutura física do sistema e em suas respectivas partes formadoras (device

e layer), enquanto que, no Exemplo 30, o enfoque parece recair no

funcionamento do sistema (the signal flow from input to output), pois o termo

flow sugere a existência de movimento ou ação. Essas observações indicam

que podemos ter um sistema configurado em partes ou um sistema em fluxos.

Assim, a partir da seção 4.9, devo concentrar a análise sobre como a

linguagem verbal enfatiza um ou outro aspecto das topologias.

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79

4.7.2 Etapa 2: como o texto não-verbal é descrito

Na Etapa 2, Sentenças de Destaque, o escritor explora verbalmente o

TNV, descrevendo os aspectos que considera mais importantes, como ilustra o

Exemplo 31.

Exemplo 31 (a) Fig. 2 shows a single-phase equivalent circuit of the UPFC, (b) where the reactor L and the resistor R represent inductance and resistance in the transmission line, respectively. (c) It is reasonable to remove the line resistance R because ù0L >> R in the overhead transmission line. (d) Thus, the line current phasor vector is given by (1) (...). EE#9

No exemplo acima, a Sentença de Destaque (b) é, na verdade, uma

oração subordinada, vinculada a elementos da Etapa 1 (Sentença de Resumo

e Elemento de Localização). A oração (b) descreve apenas dois componentes

do circuito: reactor e resistor, portanto, apenas uma parcela dos dados

presentes no TNV são explorados na forma verbal, o que evidencia que esses

são considerados mais relevantes pelo autor, em detrimento de outros dados

que compõem a totalidade do TNV, visto que a figura contém mais coisas além

do reator e do resistor.

As sentenças (c) e (d) exploram as conseqüências que a composição do

aparato podem ter sobre seu funcionamento e eficiência e, dessa forma,

caracterizei-as como sendo a Etapa 3 do comentário, função que será

explorada na próxima seção.

Em termos de microestrutura, as Sentenças de Destaque se configuram

como sentenças no tempo presente e contêm tipicamente os seguintes

marcadores:

1) Marcadores de validade que enfatizam determinados pontos, em geral

aqueles que o escritor deseja que seu leitor tome como de maior

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destaque no TNV (clearly, it is clear that, note that, this/it is obvious, it

can be seen that, it can be observed that, it is interesting to point out);

2) Recapituladores que fazem uma segunda menção ao TNV no

comentário (as shown in the above figure, as shown in this figure, as

mentioned earlier);

3) Conetivos textuais que sinalizam relações lógicas de causa-efeito entre

os componentes do TNV (as, since, if, when).

4) Conetivos textuais que sinalizam oposição ou exceções na configuração

geral do TNV (however, although, this is not the case with).

A informação veiculada nas Sentenças de Destaque, na maioria das

vezes, é uma transcrição dos dados não-verbais feita na forma verbal pelo

autor do AAEE. Essa característica pode, em princípio, resultar em

sobreposição de sentido, já que o significado ideacional é veiculado no TNV e

também explorado verbalmente. No intuito de vislumbrar essa relação, analiso

a natureza da informação nos comentários de TNVs, mais adiante na seção

4.9.

4.7.3 Etapa 3: como o texto não-verbal é interpretado

A função da Conclusão (Etapa 3) vai além do mero encerramento do

comentário e cumpre dois propósitos: 1) fornecer explicações para as

informações descritas nas Sentenças de Destaque (Etapa 2) e 2) discutir

implicações, ou seja, explorara e interpretar o significado da informação em

termos de conseqüência para a pesquisa ou para a disciplina, conforme mostra

o Exemplo 32.

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Exemplo 32

(a) Fig. 2 shows an inductor (b) with a toroidal core wound with litz wire. (c) While there are some advantages to this topology there are many apparent drawbacks, which make it unsuitable for broad-spectrum applications. EE#1

No exemplo anterior, a topologia é avaliada em termos de sua aplicação

para a disciplina na sentença (c). Lexemas explícitos indicam que o modelo é

considerado inadequado (drawbacks, unsuitable), apesar de apresentar

algumas vantagens (some advantages). Esse exemplo ilustra o caráter

avaliativo da Conclusão em relação às demais etapas do comentário de TNVs.

No corpus, a Etapa de Conclusão tipicamente apresenta os seguintes

marcadores:

1) Conetivos textuais que apontam o encerramento do bloco de

comentário, bem como a função de conclusão, quando esta coincide

com o final do comentário (finally, in conclusion, hence, therefore, thus);

2) Conetivos textuais que indicam o fornecimento de razões para a

configuração dos dados não-verbais (this can be attributed to, due to,

this is due to the fact that, because of) e, também, aqueles que

sinalizam implicações ou conseqüências (this is reflected in, this

means);

3) Lexemas explícitos que sinalizam aspectos negativos (suffers from,

drawbacks, technical difficulties, high cost, penalty, poor efficiency,

unfeasible, unsuitable, expensive, difficult to implement, unattractive) e

positivos (advantages, improved, improvement, merit, quality perfect,

easy, convenient, beneficial, improve), no que tange à aplicação do

mecanismo expresso no TNV;

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4) Marcadores de validade que indicam maior ou menor grau de certeza

sobre os benefícios ou as deficiências da topologia (seem, claim, it is

reasonable to, may be necessary, should be avoided).

5) Marcadores de atitude que expressam: 1) postura favorável

(significantly, quite well) ou 2) desfavorável (unfortunately, excessively,

extremely) do escritor em relação à significação dos dados não-verbais

e 3) destaque de determinados pontos (it is also worth noting that, It is

also interesting to point out), juntamente com comparativos (better,

easier, more convenient, smoother), os quais reforçam a atitude de

crítica ou elogio.

Quanto ao conteúdo, a função de fornecer implicações na Etapa 3 é

basicamente orientada por um critério de custo-benefício. Em outras palavras,

uma topologia é avaliada de modo positivo na medida em que houver um

equilíbrio entre os benefícios – para a disciplina e para a indústria – e o custo

demandado na montagem e operação do aparato, isto é, sua aplicação prática.

Conforme sugerem os comentários, custos abrangem tanto esforços de

fabricação (difficult to implement, poor efficiency, unfeasible, unsuitable for (...)

applications, the proposed algorithm is simpler) quanto recursos financeiros (a

cost penalty is involved, reduces the cost, high cost). Esses resultados refletem

claramente a ênfase na contribuição técnica do AA, tanto na evolução do

conhecimento científico, como no aspecto comercial, de acordo com a

discussão apresentada na seção 4.1.

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83

4.8 Variações na estrutura do comentário de textos não-verbais

Como já mencionei, a Etapa 1 (Elemento de Localização e Sentença de

Resumo) pode ser considerada o elemento obrigatório do comentário de TNVs,

do qual depende a conexão explícita entre verbal e não-verbal. As Etapas 2 e

3, por outro lado, são variáveis quanto à 1) ocorrência e 2) localização nos

comentários de TNVs da EE.

Em termos de localização, as Sentenças de Destaque e a Conclusão do

comentário tendem a ocorrer em blocos informativos separados, geralmente

nessa mesma ordem. Já a Conclusão (Etapa 3), que fornece avaliação na

forma de explicações e implicações, pode ocorrer de modo intercalado com as

Sentenças de Destaque, que apresentam a descrição do TNV (Etapa 2),

conforme ilustra o Exemplo 33.

Exemplo 33 (a) Fig. 1 is a block diagram (...).(b) The method used to detect ... is a ratio of (...) . (c) This is a simple method which has been used widely in speech processing. (d) Although it does not perform as well as other measures [3], it yields adequate results for this application and is not greatly affected by (...).(e) Equation (1) shows the calculation used. The frame is considered voiced if exceeds an empirically (...). EE#3

Nesse exemplo, as sentenças (c) e (d), que caracterizam a Etapa 3,

estão inseridas na descrição do TNV (Etapa 2). A sentença (c) fornece uma

avaliação sobre o nível de complexidade do método, descrito e explicitado

anteriormente na sentença (b), e sobre sua amplitude de aplicação na área. Em

seguida, a sentença (d) avalia o rendimento final do referido método. Já na

sentença seguinte, a (e), o comentário volta a apresentar e descrever os

procedimentos experimentais, função da Etapa 2.

Quanto à ocorrência, a Etapa 2 – Sentenças de Destaque – aparece em

43 dos 51 dos comentários analisados (84%) e, portanto, pode ser considerada

prototípica dos comentários de TNVs. Nos 08 casos que não apresentam as

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84

Sentenças de Destaque, o comentário parte da Etapa 1 diretamente para a

avaliação final (Etapa 3), como demonstra o Exemplo 34.

Exemplo 34 (a) Fig. 2 shows an inductor with a toroidal core wound with litz wire. (b) While there are some advantages to this topology there are many apparent drawbacks, which make it unsuitable for broad-spectrum applications. EE#9

O trecho (a) caracteriza a Sentença de Resumo (Etapa 1) e o trecho (b),

a Conclusão do Comentário (Etapa 3). Na Conclusão, a avaliação do TNV é

sinalizada por lexemas explícitos, os quais apontam as vantagens e

desvantagens do aparato (advantages, drawbacks, unsuitable) em termos de

sua aplicação na área (applications).

Ao omitir a Etapa 2 (Sentenças de Destaque), o escritor deve ter suposto

uma audiência especializada e, portanto, capaz de ‘ler’ o TNV e de fazer as

generalizações necessárias, conforme já apontado pelos pesquisadores

entrevistados neste trabalho.

A Conclusão é a etapa menos recorrente nos comentários de topologias,

na Metodologia, uma vez que aparece em 26 dos 51 exemplares (51%). Na

ausência da Etapa 3, o TNV é apresentado (Etapa 1) e seus dados são

explorados verbalmente (Etapa 2), sem que haja um encerramento e/ou

avaliação evidente dos dados, como indica o Exemplo 35.

Exemplo 35 (1) Fig. 4 and Table I show a main circuit of an experimental system rated at 10 kVA and its circuit parameters. (2) The main circuit of the series device consists of three single-phase H-bridge voltage-fed pulsewidth modulation (PWM) inverters. (EE#9)

É importante salientar, entretanto, que esse resultado se refere à Etapa

3 como um estágio textual delimitado e explicitamente sinalizado, já que, para

os analistas do discurso, a avaliação geralmente aparece embutida ao longo

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85

dos textos e pode, em função disso, fugir a uma classificação mais rígida como

ato discursivo localizado (Motta-Roth, 1995:138).

Outro aspecto interessante é que a Sentença de Destaque, no Exemplo

35, apenas prevê a informação do TNV, sem descrever em detalhe os três

elementos mencionados (consists of three ... inverters). Isso sugere que o autor

tenha delegado ao TNV a tarefa de complementar o significado pretendido.

Assim, o comentário verbal não contém a informação sobre cada um dos três

componentes porque isso parece ser evidente na topologia.

Esse padrão ocorre em 09 comentários (ver Tabela 8, mais adiante) e

pode ser considerado um indicador da hibridização do AAEE, pois revela que o

TNV e o texto verbal não veiculam a mesma informação, ao contrário, são

utilizados de modo complementar.

De modo geral, a omissão das Etapas 2 e 3 nos AAEEs parece refletir 1)

a confiança do escritor no conhecimento partilhado com seu leitor e 2) o

potencial dos TNVs para complementar a informação, especialmente no que

tange à Etapa 2.

Além disso, a própria função da seção pode responder, em parte, pela

ênfase da Etapa 2 em detrimento da Etapa 3 nos comentários da Metodologia

no AAEE. Em outras palavras, os comentários descrevem os procedimentos de

montagem e operação dos aparatos, uma vez que a função de avaliá-los cabe

aos Resultados e Discussão. Assim, a Etapa 3, por ser o trecho mais avaliativo

do comentário de TNVs, provavelmente receberá maior atenção nas seções de

Revisão da Literatura e Resultados e Discussão.

Em síntese, ao explorar as topologias verbalmente, na seção de

Metodologia, o engenheiro eletricista o faz em três estágios: 1) indica a

inclusão no discurso e apresenta o conteúdo do TNV, 2) destaca aspectos

relevantes sobre a estrutura e o funcionamento do aparato representado na

topologia e, com menor freqüência, 3) aponta razões para e/ou prevê

implicações para os aspectos observados em termos de custo-benefício para a

área.

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86

Com o intuito de compreender a natureza da informação que os

engenheiros prevêem na Sentença de Resumo e exploram nas Sentenças de

Destaque, discuto, na seção seguinte, quais aspectos das topologias são

enfatizados no comentário de TNVs.

4.9 A natureza da informação nos comentários de topologias na

Metodologia

Os comentários de topologias na seção de Metodologia basicamente

apresentam um detalhamento da informação não-verbal, o qual pode ser

explicado de acordo com Hoey (1983:144-167), através de categorias que ele

denomina ‘tipos de detalhe’.

Das categorias propostas por Hoey (Id:ibidem), encontrei, no corpus,

Detalhes de Estrutura (31 ocorrências), de Composição (04) e de

Funcionamento (19), como mostra a Tabela 8.

4.9.1 Detalhes de Estrutura

A categoria mais recorrente (69% dos comentários) é o Detalhe de

Estrutura (em azul), que responde à pergunta ‘Como você descreveria o

sistema?’, ou ainda: ‘Quais os componentes do sistema?’ e ‘Qual a relação

(espacial) entre eles?’.

A Tabela 8 sistematiza os tipos de detalhes sobre as topologias

encontrados nos comentários do corpus, bem como a freqüência com a qual

aparecem.

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Tabela 8 – Ocorrência dos tipos de detalhes nos comentários de

topologias CATEGORIA DE DETALHE Comentário

ESTRUTURA COMPOSIÇÃO FUNÇÃO FUNCIONA MENTO

PROCEDI MENTOS

1. EE#1F3a + + + 2. EE#1F3b + + + 3. EE#1F3c + 4. EE#1F2 + 5. EE#1F4e5 + + 6. EE#2F3e2 + 7. EE#2F3 + 8. EE#3F1 + + + 9. EE#6F3 + + + 10. EE#6F4 +* + 11. EE#6F5 + + 12. EE#6F6 + 13. EE#6F7 + + 14. EE#6F8e9 + 15. EE#6F10 + + 16. EE#6F11 + + 17. EE#6F13 + + 18. EE#6F14 + + 19. EE#8F1 + + + 20. EE#8F2 + + + 21. EE#8F6 +* 22. EE#8F6e7 + 23. EE#8F8 +* 24. EE#9F1 + + 25. EE#9F2a + + 26. EE#9F2b + + 27. EE#9F2c + 28. EE#9F4 + 29. EE#9F5 + 30. EE#10F1 + + + + 31. EE#10F2 + 32. EE#10F3 + + 33. EE#11F3 + 34. EE#11F4 + + 35. EE#11F3e5 + + 36. EE#11F3e4a + 37. EE#11F3e4b + + 38. EE#12F1 + + 39. EE#12F2 + + 40. EE#12F3 +* +

41. EE#12F4 + + 42. EE#12F5 + + 43. EE#13F1 +* 44. EE#13F5a + + + 45. EE#13F5b + 46. EE#14F1 +* 47. EE#14F2 + + + 48. EE#15F1 +* + 49. EE#15F2e3 +* + 50. EE#15F4 + + + 51. EE#15F10 +* + +

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Total Absoluto 35 04 13 15 28 Total Percentual 69% 8% 25% 29% 55%

*As ocorrências marcadas com asterisco indicam que os detalhes são apenas previstos no comentário verbal, mas concretizados no TNV.

O Exemplo 36 ilustra a ocorrência dos Detalhes de Estrutura,

destacados em azul, de acordo com o sistema de cores da Tabela 13.

Exemplo 36 Fig. 1 shows a system configuration of a general UPFC, which is installed between the sending end and the receiving end. The UPFC consists of a combination of a series device and a shunt device, the dc terminals of which are connected to a common dc-link capacitor (...) EE#9

Conforme podemos observar no excerto acima, alguns dos mecanismos

já apontados por Hoey (1983:147-8) foram verificados nos AAEEs, tais como

verbos que indicam o desmembramento de todo em partes (consists of), verbos

que indicam contato entre partes (are connected to) e locuções indicando

circunstância de localização ou posição (installed between the sending end and

the receiving end). Além desses, encontrei também lexemas explícitos de

estrutura (structure, design, system configuration, combination of) e de parte-

todo (lower portion, part, subsystem).

A Tabela 9 apresenta uma lista completa dos mecanismos que apontam

Detalhes de Estrutura nas topologias. Nessa tabela, os verbos encontrados

podem ser divididos em dois grupos: 1) verbos que identificam as partes que

compõem o sistema, ou seja, os componentes do todo (consist of,

comprehend, include) e 2) verbos que evidenciam as relações de contato e

proximidade entre os componentes do todo (are connected to, is separate from,

is inserted into). Vale lembrar que muitos dos verbos de contato (Hoey,

1983:146) foram assim classificados por aparecerem associados a locuções de

posição ou localização (are distributed around the, is installed between).

De modo similar, os verbos que remetem às partes componentes do

aparato são, com freqüência, acompanhados de lexemas sobre a constituição

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estrutural da topologia (structure, arrangement, system, subsystem, part, in

parallel, planar).

Tabela 9 – Mecanismos sinalizadores de Estrutura

Expressões

Com

pone

ntes

... consist of ... (2x) ... has/have ... (6x) ... comprehend ... ... include ... ... contains ...

... can be partioned into ...

... are considered (intransitivo)

Ver

bos

Con

tato

e

prox

imid

ade ... are connected to ... (2x)

... can be integrated with ...

... are distributed around ...

... are coupled together ...

... is separate from ...

... is introduced into ...

... (is) insert(ed) between ...

... is installed between ...

... (to) parallel ...

...sit/is /was... (6X)

Est

rutu

ra structure (4x)

design (3x) arrangement the whole system

system model system configuration system (2x) a combination of

Par

te

e to

do lower portion/device (2X)

second-order/fourth-order part

each (noun) (2x) subsystem

Form

a e

arra

njo

wound on multilayers/single layers (4x) lumped (2x) distributed (2x) stacked (2x)

planar (2x) toroidal in series in parallel

Pos

ição

Between the sending end /adjacent gates (4x) around the ... away from the ...

on the ... side on the surface of ... atop a ...

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Optei pela categorização anterior dos verbos na tentativa de delinear o

campo semântico dos mesmos como sendo relativo à estrutura física das

topologias. Entretanto, em termos de representação (metafunção Ideacional), a

grande maioria desses verbos (consist of, comprehend, have, be) se

enquadram na categoria dos processos relacionais (Halliday, 1994:119-38).

Através deles, os sistemas elétricos são 1) identificados (The topology is a

modification of the basic circuit; The reactor and the resistor represent

inductance and resistance) e 2) descritos em termos de atributos possessivos

(This scheme has two additional terms) e circunstanciais (Both ... sit atop a

lower device)

4.9.2 Detalhes de Composição

Para Hoey (1983:146), os Detalhes de Composição são aqueles que

respondem à pergunta ‘De que material isso é feito?’. No corpus, essa foi a

categoria menos recorrente, resumindo-se a 8% dos comentários.

Exemplo 37 Both reactors are shown in Fig. 1. The inner diameter of the silica tube was 20 mm and the outer diameter was 24 mm. The gas flow rate of the synthetic flue gas was set at 2 L/min at room temperature (...). EE#10

O Exemplo 37 contém elementos (identificados em rosa) que podem

caracterizar Detalhes de Composição, pois referem-se à constituição material

(silica, synthetic) dos objetos descritos no comentário.

No entanto, a locução ‘made of’, que Hoey (1983:146) propõe como

típica dos Detalhes de Composição, não aparece nos comentários da EE. As

únicas expressões associadas à composição material, no corpus, foram as

seguintes: ‘are designed using’, ‘are constructed with’. No entanto, tais

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locuções, inicialmente identificadas como de Composição, podem estar mais

vinculadas à questão estrutural do objeto descrito do que a sua composição

material, uma vez que os Detalhes de Composição usualmente aparecem

inseridos nos Detalhes de Estrutura, conforme ilustra o Exemplo 38.

Exemplo 38 The inductors shown below are designed using high-frequency ferrite cores with a lumped or distributed air gap to support the high mmf within the core. The windings are constructed with flat copper strips. EE#1

Nas raras vezes em que há referência ao material do qual os objetos são

feitos, ela ocorre basicamente na forma de adjetivos qualificando os

componentes dos aparatos (como apresentado no Exemplo 37). Os Detalhes

de Composição, portanto, não parecem ser muito representativos

isoladamente, ocorrendo talvez como uma sub-função dos Detalhes de

Estrutura.

4.9.3 Detalhes de Funcionamento

Os Detalhes de Funcionamento, isto é, aqueles que respondem à

pergunta ‘Como funciona o sistema (ou as etapas do sistema)?’, foram

verificados em 29% dos comentários no corpus:

Exemplo 39 Fig. 5 shows a block diagram of the control circuit. The three- to two-phase transformation obtains iá and iâ (...). The d-q transformation yields id and iq (...). The phase information ù0t is generated by a phase-lock- loop (PLL) circuit. Then v*Cd and v*Cq are given by (4). EE#9

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Como mostra o Exemplo 39, os Detalhes de Funcionamento (em verde)

descrevem o comportamento dos sistemas elétricos e podem conter marcas de

seqüência temporal (then, when, after, the first stage is) e de organização

lógica (as, if, since), responsáveis pelo caráter narrativo nesse tipo de detalhe.

Os verbos usados para descrever o funcionamento dos aparatos e

sistemas (obtain, generate, yield, give), em princípio, enquadram-se na

categoria dos processos materiais, ou seja, os processos do ‘fazer’ (Halliday,

1994:109) como, por exemplo, em the load conditioner tracks and provides

the harmonic currents required by the non-linear load. Os exemplares mais

recorrentes no corpus são produce (3X), generate (3x) e drive (2X).

Visto que o foco, nos Detalhes de Funcionamento, recai sobre o caráter

narrativo das topologias, os resultados acima são previsíveis, conforme

explicam Kress & van Leeuwen (1996:77). Para esses autores, o caráter

narrativo da linguagem verbal se evidencia, basicamente, através dos

processos materiais, que permitem representarmos ações envolvendo dois

participantes (harmonic currents produce harmonic voltages) e ações ou

acontecimentos com apenas um participante (a parameter change occurs).

No entanto, para detalhar o funcionamento dos sistemas elétricos, os

engenheiros freqüentemente optam por estratégias descritivas, nas quais os

processos são nominalizados e, assim, atenuam o caráter narrativo da

representação (ver seção 2.3.4), conforme ilustra o Exemplo 40.

Exemplo 40 Fig. 1 is a block diagram showing the signal flow from input to output. The following sections describe in detail each of the sections in the block diagram. A. Segmentation As the enhancement system is digital, the first stage in processing the speech is to convert the analog input into a digital sequence and segment it into frames. (...) C. Shift Determination: (...) The steps involved are spectrum truncation, pitch detection and harmonic grid fitting . EE#3

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O comentário do Exemplo 40 relata as etapas de um processo de

redução dos ruídos no sinal de rádio. Nele, a questão temporal é enfatizada

pela presença do marcas de seqüência (the first stage is, the steps involved

are). Todavia, convert e segment (processos materiais) aparecem em segundo

plano em relação a is, e are, que constituem processos relacionais. Além disso,

as ações (segmentation, shift determination, truncation, detection e fitting)

aparecem de forma nominalizada.

Em conclusão, no que concerne aos Detalhes de Funcionamento, as

topologias podem ser representadas tanto em estruturas predominantemente

narrativas, como em estruturas predominantemente conceituais. A explicação

para tal resultado pode ser encontrada em Kress & van Leeuwen (Idem:59) e

van Leeuwen & Humphrey (1996:43), que discutem a dupla natureza dos

diagramas. De acordo com eles, os diagramas podem ser interpretados como

eventos (estruturas narrativas), através do uso predominante de processos

materiais, ou como configurações espaciais (estruturas conceituais), através do

uso de nominalizações e de processos relacionais.

4.9.4 Detalhes de Função ou Finalidade

Além das categorias na taxonomia proposta por Hoey (1983:138-167),

verifiquei a ocorrência de dois outros tipos de detalhe: os de Função ou

Finalidade (13 ocorrências) e os de Procedimentos (28 ocorrências). Para

definir tais categorias, utilizei o sistema de perguntas de esclarecimento, que

elucida a natureza da informação no texto (Id.:27-30).

Os Detalhes de Função ou Finalidade respondem ao questionamento

‘Qual é a função ou papel de cada parte do sistema?’. O trecho destacado em

amarelo escuro, no Exemplo 41, descreve a função de dois elementos

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componentes de um sistema maior. A natureza dessa informação é marcada

por lexemas explícitos como purpose, capability of, acts as.

Exemplo 41 Fig. 1 shows a system configuration of a general UPFC, (...). The UPFC consists of (...) a series device and a shunt device, (...) The series device acts as a controllable voltage source, whereas the shunt device acts as a controllable current source. The main purpose of the shunt device is to regulate the dc-0885– link voltage by adjusting the amount of active power drawn from the transmission line. In addition, the shunt device has the capability of controlling reactive power. (...). EE#9

Apesar de ocorrerem em 25% dos comentários e serem, portanto,

relativamente expressivos, os Detalhes de Função/Finalidade, em geral,

constituem trechos sucintos, que não ultrapassam duas linhas. Na verdade, os

Detalhes de Função parecem ocorrer como uma sub-função dos Detalhes de

Estrutura e/ou de Funcionamento, já que, com freqüência, aparecem inseridos

nestes últimos.

4.9.5 Detalhes de Procedimentos

Os Detalhes de Procedimentos de Montagem, Implementação ou

Mensuração são aqueles que respondem às seguintes solicitações: 1) ‘Dê-me

mais detalhes sobre X.’; e 2) ‘Como x é montado, implementado e/ou

mensurado?’.

Nesse tipo de detalhe, o léxico e a sintaxe são típicos da seção de

Metodologia, conforme apresenta a Tabela 10, a qual reúne os mecanismos

sinalizadores de Detalhes de Procedimento no corpus. Dentre os traços mais

recorrentes, podemos destacar lexemas explícitos de procedimentos (method,

calculation, procedure), verbos de atividades experimentais (Thomas & Hawes,

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1994:133-5) (use, measure, compare, determine, apply, calculate) e uso da voz

passiva (was/were measured).

Tabela 10 – Mecanismos sinalizadores de Detalhes de Procedimento

EXPRESSÕES VERBAIS LEXEMAS

VO

Z P

AS

SIV

A ... (will be/ is/are) used to calculate/to find/for ... (6x)

... is employed to ...

... is proposed by using ...

... was applied ... (2x)

BY

IN

G (by) using a ... (5x)

(by) applying a ... (4x) by premultiplying ... (2x)

TOD

OS

E A

BO

RD

AG

EN

S

OU

TRO

S

... the user must first estimate ... a ... version of this technique uses ... Equation (8) defines the ... Equations ... describe/ shows the used ... the ... procedure uses the following steps ... The first version is based upon conversion of The method used to detect ... is ...

Métodos: analysis, approach, methods, model, measure, strategy, simulation/ experimental measurements, calculation, procedure, method, technique.

VO

Z P

AS

SIV

A

... is determined... (2x)

... is analyzed to determine ... .

... is sampled ( to detect) ... (2x)

... are ... reconstructed.

... is obtained

... is kept constant by adjusting the ...

... was changed ...

... is compared with/to ... (2X)

... is given by (equação)

... is divided by a factor of ...

... is/was set ... (2x)

... are measured as ... to establish

... can be modeled as ...

... can be found ... (3x)

... can be determined

... can be monitored

... can be selected ... (2x)

... can be bypassed at ...

... can be directly given to the ...

OB

TEN

ÇÃ

O E

MA

NIP

ULA

ÇÃ

O D

E V

AR

IÁV

EIS

BY

IN

G

... by assuming that ...

Variáveis mensuradas: (input/output) voltage, losses, resistance, capacitance, current, power, pulsewidth modulation, concentration of NO2, frequency, etc.)

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96

OU

TRO

S

... is (the sum of each) ... (2x)

... let us introduce ... as follows ...

... it is assumed that ... are

VO

Z P

AS

SIV

A ... was measured with a ...

... were measured ... (2x)

... was also digitally calculated by the ... ... could be used if ... are required.

MA

TER

IAL

BY

IN

G ... is taken using a ...

... by using a ... (3x)

Nomes dos aparatos: (Digital oscilloscope, Chemiluminescence analyzer, etc.)

A ocorrência dos Detalhes de Procedimento parece previsível, visto que

os comentários analisados provêm da seção de Metodologia, cuja função é

descrever o planejamento, a elaboração e a implementação do experimento ,

como ilustram os Exemplos 42 a 44.

Exemplo 42 (...) B. Voicing Decision The method used to detect ... is a simple ratio of (...). Equation (1) shows the calculation used. (...) EE#3

Exemplo 43 The equivalent circuit is shown in Fig 2. The typical repetition frequency tested was 200 pps. The input power was measured with a conventional analog power meter (Yokogawa 2041). The output voltage and current waveforms were measured by using a digital oscilloscope (Tektronix TDS 320), a 1000 : 1 high-voltage divider (Tektronix P6015), and a current transformer (Tektronix P6021) (...). EE#10

Exemplo 44 Both reactors are shown in Fig. 1. The inner diameter of the silica tube was 20 mm and the outer diameter was 24 mm. The gas flow rate of the synthetic flue gas was set at 2 L/min at room temperature to maintain the residence time, 1.4 s, for all experiments (...). EE#10

Os procedimentos de pesquisa (em vermelho) podem abranger a

escolha de métodos ou técnicas (Exemplo 42), a seleção dos materiais

(Exemplo 43) e a determinação de variáveis nos processos de avaliação dos

aparatos (Exemplo 44) (ver Tabela 10).

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97

Observei também que a relação lógica Instrumento-Realização (Hoey,

1983: 19-23) é peculiar entre as sentenças nos Detalhes de Procedimento da

EE. Nesses casos, a oração principal constitui a Realização, enquanto que a

oração subordinada constitui o Instrumento, por meio do qual se efetiva a

realização. O item by-ing é o elo entre as orações e indica a relação

instrumental entre elas, conforme podemos observar nos Exemplos 45 a 47.

Exemplo 45 The average circuit model of a (...) is obtained by applying a moving average operator to each switching branch in the switching model shown in Fig. 8. EE#6

Exemplo 47 (...) By pre-multiplying both sides of (5) by the transformation matrix, the voltage vector can be found as follows (...).EE#8

Exemplo 48 The output voltage and current waveforms were measured by using a digital oscilloscope (...), and a current transformer (...).EE#10

A partícula by também pode ser suprimida, o que resulta em uma oração

subordinada, contendo apenas o verbo no gerúndio. Apesar da redução, o

valor dessa relação, como sendo Instrumento-Realização, é mantido, conforme

podemos constatar no Exemplo 49.

Exemplo 49 Using a time-discrete controller design, the transfer function can be found. EE#15

De modo geral, os Detalhes de Procedimentos se destacam entre os

demais, uma vez que estão presentes em 55% dos comentários de topologias,

equiparando-se apenas aos Detalhes de Estrutura (69%).

Para concluir este segmento, podemos estabelecer uma correlação

entre a seção de Metodologia no AAEE e os tipos de detalhe indicados nos

textos, de acordo com os objetivos da disciplina. A maior incidência dos

Detalhes de Estrutura (69% dos comentários), Procedimentos (55%) e

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Funcionamento (29%) revela que, na Metodologia, os engenheiros descrevem

suas escolhas em termos do projeto, construção, implementação e avaliação

de aparatos elétricos. Portanto, tão importante quanto descrever os

procedimentos para a obtenção dos aparatos e experimentos, é descrever a

composição estrutural desses aparatos.

4.10 Os tipos de detalhe e a natureza conceitual e narrativa das topologias

Os Detalhes de Estrutura, Composição e Função correspondem às

características mais estáveis das topologias, isto é, traços que não se alteram

substancialmente no decorrer do tempo, tais como tamanho, posição entre

elementos constituintes, composição material. Dessa forma, quando os

detalhes são desse tipo, os comentários verbais enfatizam a natureza

conceitual das topologias, considerando-as como configurações espaciais, que

podem ser identificadas e caracterizadas através de processos relacionais,

como mostram os exemplos abaixo.

Exemplo 50 The circuit model for (10)–(13) is shown in Fig. 10. In DQO rotating coordinates, the inverter can be partitioned into two subsystems. The O channel is a second-order system, like a dc–dc buck converter, while D and Q channels are coupled together to become a fourth-order system. In the DQ sub-system, if the coupling sources can be decoupled, the whole system will become three independent dc–dc buck converters. EE#6

No Exemplo 50, o foco é a identificação do objeto (inverter) e de suas

partes constituintes (O channel e D and Q channels ou subsystems). Para isso,

o escritor recorre a processos relacionais como is e become, além de can be

partioned into, que tem valor semelhante a consists of. Através deles,

identidades são atribuídas aos objetos. Além disso, é freqüente o uso de

expressões usadas para identificar os participantes (second-order system, dc–

dc buck converter, fourth-order system, independent dc–dc buck converters).

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Exemplo 51 Conventional three phase inverters consist of three legs and six switches (Fig. 1). In some cases, a single three-phase bridge contains 12 switches, where two switches are connected in parallel with six parallel combinations in order to increase the current rating. In both cases, the inverter output voltage is limited to eight switching states and therefore generates a nonzero common-mode voltage. (...)EE#12 No Exemplo 51, a topologia é descrita quanto a seus atributos

possessivos (consists of, contains), em especial, às partes que compõem a

estrutura, e atributos circunstanciais (are connected in parallel with), que, nos

AAEEs, representam e relação espacial entre as partes da estrutura.

Por outro lado, os de Detalhes de Funcionamento e Procedimento

enfatizam as características mais transitórias dos objetos, tais como movimento

e intervenções no mundo físico em geral. Nesses dois tipos de detalhes,

parece natural que a linguagem verbal enfatize a natureza narrativa das

topologias, considerando-as como eventos que devem ser relatados, seja, em

termos da ação empreendida para criar (design, construct) e avaliar (measure,

multiply) um objeto, seja em termos da ação do próprio objeto em

funcionamento (work track).

Em princípio, essas ações são representadas pelos processos materiais,

conforme os verbos exemplificados acima. Todavia, conforme constatei

anteriormente (ver seção 4.9.3), nos AAEEs, quando há processos materiais,

eles tendem a ser utilizados de forma nominalizada (transformation, detection)

ou, em segundo plano, associados a processos relacionais (the first stage is to

convert). Para Halliday & Martin (1993:33-4), essa é uma característica dos

textos científicos e reflete o caráter técnico do registro em questão.

Nesse sentido, a nominalização pode ser considerada uma metáfora

gramatical, na qual processos são utilizados fora de sua categoria habitual e,

por esse motivo, constróem a realidade de maneira diferenciada (Id.:79). O que

originalmente constitui um processo passa ser representado como entidade.

(...) a linguagem técnica permite que os cientistas reclassifiquem o mundo. As taxonomias que eles estabelecem, na verdade, organizam os

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100

fenômenos como se fossem coisas – porque são as coisas e não os processos que se prestam, de imediato, à categorização enquanto classes e sub-classes e enquanto parte e todo. Então, ao serem classificados, os processos são nominalizados e organizados como coisas (Id.:212)

Assim, podemos concluir que, quando se trata de explorar verbalmente

as topologias na Metodologia, engenheiros eletricistas tendem a fazê-lo sob

duas perspectivas. Na primeira, eles explicam detalhes subjacentes à

montagem e implementação dos aparatos (Detalhes de Procedimentos) e o

princípio operacional dos mesmos (Detalhes de Funcionamento). Para tanto,

utilizam-se principalmente dos processos materiais, ou seja, os processos do

‘fazer’ (produce, generate, drive, use, apply, measure), com maior ênfase sobre

os eventos em si (segment) ou sobre a categorização de tais eventos como

etapas científicas (segmentation).

Na segunda perspectiva, as topologias são tomadas como objetos

relativamente acabados e estáticos. Isso permite que o autor identifique e

atribua características aos aparatos representados visualmente, o que é feito

através de uma estratégia verbal predominantemente descritiva. Nela,

predominam os processos relacionais (be, consist of, have), isto é, aqueles que

revelam o potencial da linguagem para generalizar e estabelecer relações entre

diferentes aspectos da experiência humana (Halliday, 1994:107).

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CAPÍTULO 5 - CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES DO ESTUDO E SUGESTÕES

PARA FUTURAS PESQUISAS

O propósito deste trabalho foi investigar de que modo as necessidades

de prática de uma comunidade especifica são incorporadas ao AA, tendo como

foco a interface entre o texto verbal e o TNV.

De modo geral, os resultados apontam a manutenção da organização

retórica do AA na área de Engenharia Elétrica, em termos das seções IMRD e

da microestrutura que as caracteriza. No entanto, os resultados também

revelaram aspectos particulares, tais como: as convenções para citação de

pesquisas prévias, a subdivisão da seção de Resultados em função da

natureza simulada e experimental de investigação, bem como a presença

significativa dos chamados TNVs.

Essa última observação indica que a Engenharia Elétrica segue uma

tendência das demais ciências duras (hard sciences), que desenvolveram, ao

longo do tempo, recursos visuais particulares para conceituar os fenômenos

que investigam, já que os recursos lingüísticos, isoladamente, mostraram-se

incapazes de satisfazer todas as suas necessidades cognitivas e

comunicativas (Rowley-Jolivet, 2002:22). O fato dos engenheiros utilizarem alto

índice de TNVs na construção do AA reforça, portanto, a noção de que não

podemos mais ignorar a constituição híbrida dos gêneros acadêmicos, pois,

como verificado neste estudo, gráficos, tabelas, diagramas e expressões

matemáticas têm sentido próprio na disciplina e, principalmente, influenciam a

organização e o sentido do texto verbal.

Segundo Lemke (1998:86), a simples presença de TNVs em um gênero,

tanto em número, quanto em proporção de espaço ocupado na página, revela o

papel central desses elementos no contexto investigado. Especificamente na

Engenharia Elétrica, algumas estratégias de coesão e coerência entre verbal e

não-verbal contribuem para a hibridização da unidade semântica do texto.

Dentre essas estratégias, destaco: os marcadores de antecipação (Tadros,

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1985:22-8) e recapitulação (Id.:35-42), que estabelecem referência explícita

entre as duas modalidades; a enumeração (Id.: 14-22) e a listagem (Hoey,

1983:139), que prevêem o enfoque em determinados detalhes do TNV; e os

lexemas explícitos (Nwogu, 1990:129), que estabelecem o campo semântico

comum entre verbal e não-verbal.

Tanto a análise dos AAs quanto os depoimentos sugerem que, para a

Engenharia Elétrica, TNVs constituem informação naturalizada e altamente

convencionalizada. Se considerarmos um periódico de circulação internacional,

a familiaridade com a linguagem não-verbal pode, até certo ponto, amenizar

dificuldades com o código verbal, principalmente quando o AA está escrito em

língua estrangeira. Assim, membros da comunidade que sejam nativos de

outros idiomas podem tirar partido desse caráter universal da linguagem não-

verbal (Lowe, 1996:217; Horn, 1998:40;219).

Conforme explica Miller (1998:31), quando a natureza caótica é reduzida

a figuras e números, ela pode ser descrita com mais precisão e confiança. Isso

significa que, na prática, os fenômenos ocorrem de modo simultâneo e

aparentemente desordenado. Ao representar tais fenômenos através de

desenhos ou fotografias (topologias), valores matemáticos (equações e

tabelas) e formas de onda (gráficos), o engenheiro eletricista passa a ter

controle sobre a situação, o que lhe permite isolar determinados aspectos,

desconsiderar outros, agrupá-los e, acima de tudo, compreendê-los.

Esse processo de compreensão parece envolver etapas que coincidem

com a própria estrutura do AA. Assim, na Revisão da Literatura, os

engenheiros trabalham sobre o conhecimento dado e apontam as limitações e

avanços das pesquisas anteriores, tanto sobre a estrutura dos aparatos

(topologias), quanto de seu rendimento (gráficos e tabelas). Já, na

Metodologia, os engenheiros eletricistas relatam os procedimentos de

montagem, implementação e avaliação dos sistemas e aparatos elétricos

propostos (topologias), ou seja, o conhecimento novo. Portanto, nessa seção, a

predominância de topologias está vinculada basicamente a três aspectos sobre

os novos sistemas elétricos: 1) a metodologia de montagem; 2) a configuração

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física; e 3) o princípio operacional. Finalmente, a seção que reúne Resultados e

Discussão contém maior número de gráficos e tabelas, TNVs responsáveis

pela avaliação dos sistemas propostos, através da condensação e organização

sistemática dos dados obtidos. Uma vez publicados os resultados, o

conhecimento novo passa a ser conhecimento compartilhado e pode gerar um

novo ciclo no desenvolvimento da pesquisa.

Se a linguagem não-verbal é consenso na disciplina, o comentário verbal,

ao contrário, constitui o registro com o qual os engenheiros eletricistas parecem

ter menor familiaridade. A necessidade de publicar resultados de pesquisas, no

entanto, ainda obriga estudantes e pesquisadores a buscarem o

aperfeiçoamento de sua prática de escrita acadêmica para atender às

exigências e padrões dos periódicos nacionais e internacionais. Uma dessas

exigências, utilizada como critério para a avaliação de um AA (ver seção 4.1), é

de que as figuras sejam acompanhadas de uma discussão verbal. Entretanto,

tal critério não era claramente definido pela IEEE.

Através desta pesquisa, pudemos constatar que uma figura efetivamente

discutida é aquela que apresenta um comentário contendo, ao menos, uma,

mas em geral, três etapas. A Etapa 1 constitui a configuração mínima do

coemntário de TNVs e envolve a referência ao TNV e previsão do tópico a ser

abordado no comentário; a Etapa 2 contém a descrição do tópico com foco nos

aspectos considerados mais importantes sobre a figura; e a Etapa 3 envolve a

interpretação dos aspectos descritos na etapa anterior, em termos de

explicações e implicações para a disciplina. Esse padrão de três etapas

corresponde, em grande parte, à estrutura proposta por Swales & Feak

(1994:80).

Na Etapa 2, os TNVs são explorados verbalmente segundo um

encadeamento que se assemelha à estrutura textual Previsão-Detalhe de Hoey

(1983:138-51). A Previsão, em geral, coincide com a Etapa 1 da proposta de

Swales & Feak (1994:80). Já os Detalhes equivalem às Sentenças de

Destaque (Etapa 2), nas quais se concretiza o detalhamento da informação

sinalizado na Previsão.

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104

A Conclusão (Etapa 3), apesar de ser considerada um estágio final e

separado, pode ocorrer ao longo do comentário de TNVs. Nesse caso, o

engenheiro opta por interpretar cada aspecto da figura à medida que o

menciona. Ainda assim, como os comentários que analisei são oriundos da

seção de Metodologia, é compreensível que a interpretação, como um etapa

específica, seja menos recorrente, já que a referida seção é tipicamente menos

interpretativa que a Revisão da Literatura e a Discussão, por exemplo.

Além de revelar a organização lógica do comentário de TNVs,

especialmente no que tange às Etapas 1 e 2, o modelo Previsão-Detalhe

possibilitou elucidar a natureza da informação enfatizada no texto verbal que

explora as topologias. Dentre os tipos de detalhe verificados, destaco, como

mais representativos na seção de Metodologia da EE, os Detalhes de

Estrutura, os de Funcionamento e os de Procedimentos.

Os Detalhes de Procedimento são usados quando o engenheiro

eletricista explica os passos e materiais usados na montagem, implementação

e avaliação das topologias, ou seja, a própria função da seção de Metodologia.

Os detalhes de Estrutura e de Funcionamento servem, respectivamente, ao

propósito de descrever as características físicas da topologia e de explicar seus

princípios operacionais.

A partir dos Detalhes de Estrutura e Funcionamento, podemos

estabelecer conclusões sobre a relação de sentido entre o TNV, isto é, a

topologia, e o verbal. Quando a topologia representa um objeto estático, o

comentário verbal enfatiza a constituição física e estrutural desse aparato, com

ênfase em noções como distância, tamanho e formato entre as partes que

compõem o todo (Detalhes de Estrutura). Para tanto, o engenheiro eletricista

utiliza, preferencialmente, processos relacionais (Halliday, 1994:119), conforme

sugerem Kress & van Leeuwen (1996:114), sobre a realização de estruturas

conceituais analíticas na linguagem. Processos relacionais permitem aos

engenheiros generalizar e descrever os aparatos como conceitos científicos,

tanto pela identificação (X is Y), quanto pela designação de atributos

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possessivos (X consists of x1 and x2) ou circunstanciais (X is at point B) do

aparato e de suas partes constituintes.

Quando as topologias são tomadas como representações congeladas de

um processo elétrico em andamento, o comentário verbal privilegia significados

tais como ação, transformação e movimento (Detalhes de Funcionamento). Se,

nas topologias, esses sentidos são representados por meio de vetores (setas),

no comentário verbal, essa função é desempenhada pelos processos materiais

(X does something; X does something to Y; X happens) (Halliday, 1985:109).

Como explicam Kress & van Leeuwen (1996:76-7), estruturas visuais narrativas

são realizadas na linguagem verbal através desse restrito grupo de processos,

visto que eles permitem representar eventos como acontecimentos ou como

ações no mundo material, sejam elas entre um ou mais participantes.

Nesses casos, a realidade é construída na forma de eventos que

precisam ser explicados pelo engenheiro eletricista. No entanto, assim como as

setas pode ser atenuadas e indicarem apenas a direção do circuito, a

característica narrativa dos Detalhes de Funcionamento é amenizada através

de recursos como 1) a nominalização dos processos materiais (the

segmentaion of X into Y and Z ao invés de X segments into Y and Z) e 2) a

utilização de processos materiais em segundo plano, associados à processos

relacionais (The next step is to segment X into Y and Z).

Tais recursos permitem que os eventos sejam representados como

nominalizações, isto é, conceitos que se prestam melhor à descrição e

categorização. De modo geral, isso indica uma ênfase dos AAEEs para

construir a realidade como estruturas conceituais de representação, seja na

modalidade não-verbal ou na verbal. Conforme interpretam Halliday & Martin

(1993:212-3), a nominalização facilita a classificação da realidade, mas, por

outro lado, acentua o caráter técnico do registro científico.

Ao desconstruir textos e apontar aspectos como os revelados acima, as

pesquisas em análise de gênero podem contribuir para o entendimento dos

gêneros e acesso a bens intelectuais no meio acadêmico.

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5.1 Implicações para o ensino de Inglês para Fins Acadêmicos

O conhecimento explícito sobre a configuração dos gêneros como

eventos comunicativos pode auxiliar na preparação de material didático e

planejamento de cursos de Inglês para Fins Acadêmicos ao elucidar traços

lingüísticos e visuais particulares que assumem importância especial para

contextos disciplinares específicos.

Conforme assevera Busch-Lauer (1998:115), leitores assimilam uma

informação com maior rapidez se puderem prever, de certa forma, o tipo de

informação que irão encontrar no documento e onde, no documento, devem

procurar por tal informação. Portanto, os resultados desta pesquisa em termos

da freqüência e localização dos TNVs na página e nas seções do AAEE podem

ser relevantes tanto como critérios para se compreender o papel dos TNVs na

disciplina quanto para, futuramente, orientar o ensino de leitura e redação

acadêmica.

É preciso considerar como as diferentes modalidades se combinam em

híbridos semióticos para veicular significados que extrapolam os significados

individuais de cada modalidade. Assim, futuras pesquisas poderiam investigar

em maior profundidade as situações nas quais informação equivalente é

veiculada simultaneamente na modalidade verbal e na não-verbal e aquelas

situações nas quais a informação entre tais modalidade é de natureza

diferente. Desde que asseguradas as particularidades de cada disciplina, o

conhecimento sobre as potencialidades e recursos de cada tipo de TNV e

destes em relação ao verbal pode garantir que utilizemos as linguagens a

nossa disposição com maior sucesso.

Portanto, pesquisas nessa linha podem servir para desenvolver as

chamadas literacias visuais e acadêmicas, ou seja, consciência e habilidade

para ler e utilizar TNVs em contextos disciplinares específicos. Isso significa

conhecer as convenções acadêmicas que regulam o uso de TNVs em sintonia

com o verbal, tanto as escolhas na elaboração e distribuição das figuras na

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página (meio impresso) ou tela (meio eletrônico), quanto as possibilidades para

explorar verbalmente essas figuras, em termos de organização do comentário

em estágios retóricos e de seleção lexical com a finalidade de obter os efeitos

desejados.

Essa considerações são particularmente relevantes com o advento dos

recursos eletrônicos para divulgação de pesquisas produzidas pela

comunidade acadêmica (conforme resultados do Relatório de Produtividade em

Pesquisa CNPq no 35039/985. Motta-Roth, 2002). Além de maximizar as

potencialidades da linguagem visual, esse meio oferece ainda a inserção de

ícones, animação, som, e recursos de realidade virtual (Id.:ibidem). A animação

e os efeitos da realidade virtual, por exemplo, possibilitam veicular os

significados do movimento, do processual, muito mais do que outras

modalidades. Com o recurso do movimento, a linguagem não-verbal que, na

sua forma estática, é predominantemente conceitual, pode ter expandida sua

capacidade de representar estruturas narrativas de significação e permitir ao

observador acompanhar, por exemplo, o ciclo completo de um circuito elétrico

em andamento.

Avanços nesse sentido podem, em futuro próximo, aumentar a

interdependência entre as linguagens no meio acadêmico, de forma que visual,

verbal e cinético possam coexistir de modo complementar contribuindo para um

maior refinamento do significado final e maior proximidade do observador ao

experimento.

5.2 Limitações do estudo e sugestões para futuras pesquisas

Acredito que a decisão de enfocar a relação entre o verbal e o não-

verbal tenha sido a modesta contribuição desta pesquisa, visto que a literatura

sobre TNVs tende a explorar o potencial semântico de uma dessas

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modalidades e seu valor constitutivo ou secundário (pesquisas que contrastam

textos acadêmicos e textos não acadêmicos, por exemplo), sem, no entanto,

identificar as estratégias de acomodação entre as linguagens. A falta de

trabalhos nesse sentido limitou a definição de categorias coesivas entre o

verbal e o não-verbal.

Em função da limitação apontada acima e do reconhecimento sobre os

avanços tecnológicos da Internet e dos recursos de animação e realidade

virtual, posso sugerir algumas áreas para futuras pesquisas:

1. A interface entre texto verbal e não-verbal em outras disciplinas de

modo que possamos avançar o conhecimento sobre a complexa

relação entre as duas modalidades e buscar novas categorias que

respondam pelas estratégias e processos de integração entre verbal

e não-verbal;

2. Estudos contrastivos entre diferentes disciplinas, a fim de estabelecer

as práticas que são particulares ao contexto investigado e aquelas

que perpassam o contexto acadêmico de modo geral, no que

concerne à acomodação entre figuras, equações e texto verbal.

3. Pesquisas que explorem a relação entre o verbal e o não-verbal no

meio eletrônico em termos de avanço e superação das limitações do

meio impresso, por exemplo, o uso do movimento e da

representação tridimensional ou ainda a possibilidade de interação e

intervenção, por parte do interlocutor, o que deve gerar mudanças

nas práticas de leitura.

Enfim, para fazermos ciência, falarmos em ciência, lermos ou

escrevermos em ciência é preciso que combinemos diferentes modalidades

semióticas como as figuras, as equações matemáticas e a linguagem verbal

(Lemke, 1998:87). Consequentemente, para investigarmos o discurso da

ciência, devemos fazê-lo considerando o papel de cada modalidade, bem como

os recursos que permitem a modalidades diferentes construirem, de modo

conjunto, a unidade semântica do texto.

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