Um Discurso Sobre a Oração - O ESTANDARTE DE...

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Traduzido do original em Inglês

A Discourse on Prayer

By John Gill

Via: PBMinistries.org

(Providence Baptist Ministries)

Tradução por José Antônio de Araújo Neto

Revisão por Camila Teixeira

Capa por William Teixeira

1ª Edição: Janeiro de 2017

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida

permissão do ministério Providence Baptist Ministries, sob a licença Creative Commons Attribution-

NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

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Um Discurso Sobre a Oração

Por John Gill

“Então o que? Orarei com o Espírito, e orarei com o entendimento também.”

(1 Coríntios 14:15)

O propósito dessa epístola é principalmente reprovar a Igreja em Corinto pelas divisões e

contendas que havia lá, quanto a preferências em relação aos seus ministros: uns eram de

Paulo, uns de Apolo, e outros de Cefas (Pedro); e erradicar algumas práticas erradas do

meio deles, as quais favoreciam ou toleravam abertamente, tais como permitir uma pessoa

iníqua em sua comunhão, ir à lei uns contra os outros perante magistrados pagãos, e o

comportamento desordenado de muitos à mesa do Senhor. Tendo terminado esta parte de

suas instruções, o apóstolo, no capítulo 12, insiste principalmente no assunto dos dons

espirituais, onde discorre sobre a diversidade deles, sobre seu doador, e suas várias

utilidades na igreja de Cristo, razão pela qual ele exorta os membros desta igreja a desejá-

los sinceramente, embora não quisesse que dependessem deles, uma vez que não são

necessários para salvação. No capítulo 13, ele prefere que busquem o dom da caridade,

ou do amor, e mostra que, sem ele, os dons são inúteis e sem proveito para quem os possui.

No capítulo 14, ele os encoraja a seguir o amor, e procurar com zelo os melhores dons

espirituais, principalmente, diz ele, o de profetizar. Ele prova por muitos argumentos,

especialmente com exemplos extraídos da edificação, que profetizar em um idioma

conhecido, na língua compreendida pelas pessoas, é preferível a falar em uma língua

desconhecida pelas pessoas, não conseguindo edificá-las. É evidente que, por profetizar,

ele quer dizer não apenas pregar, mas orar, como argumenta nas palavras precedentes no

texto acima, assim: Porque, se eu orar em uma língua desconhecida, o meu espírito ora

bem, mas a minha mente fica infrutífera; isto é, quando eu orar em língua desconhecida,

estando sob a inspiração do Espírito de Deus, faço uso desse dom extraordinário que ele

concedeu a mim, e meu próprio espírito é realmente edificado: Mas o que eu concebo,

entendo e expresso, é inútil e sem proveito para os outros, que não entendem o idioma no

qual eu oro; portanto, diz ele: O que, então? O que deve ser feito nesse caso? O que é mais

prudente e aconselhável? O que é mais desejável? Eu não devo orar com o Espírito em

absoluto? Não farei uso desse dom extraordinário que o Espírito derramou sobre mim?

Devo negligenciá-lo inteiramente, e colocá-lo de lado? Não, eu vou orar com o Espírito; vou

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fazer uso do dom que tenho, mas então será de tal forma que me farei compreendido pelos

outros, vou orar também com o entendimento. Nestas palavras podem ser consideradas:

I. A obra e o exercício da oração, a qual o apóstolo se dispôs realizar na força de Cristo e

com a assistência de Seu Espírito: vou orar. etc.

II. A maneira pela qual ele está desejoso de realizar esse dever: com o Espírito, e também

com o entendimento.

I. Devo considerar a obra e a prática da oração, que o apóstolo resolveu realizar na força

de Cristo e com a assistência de Seu Espírito. Não será inoportuno, sob este título,

investigar sobre o objeto da oração, suas várias partes, e seus diferentes tipos. Começarei,

1. O objeto da oração não é uma mera criatura. A oração é uma parte da adoração

religiosa, devida somente a Deus. Dirigir-se a um ser criado de forma tão solene é idolatria.

Este é um pecado do qual os gentios têm sido notoriamente culpados, pois têm prestado

devoção a criaturas animadas e inanimadas. O pagão idólatra é assim descrito pelo profeta

(Isaías 45:17): Ele fez de sua imagem de escultura um deus; ele se prostrou, e adorou, e

orou, e lhe disse: Livra-me, pois tu és o meu deus. Tal prática é uma amostra de grande

ignorância e estupidez; (Isaías 45:20) Eles não têm conhecimento, os que conduzem sua

imagem de escultura feita de madeira, e rogam a um deus que não pode salvar. Não é à

toa que suas orações serão em vão, já que os ídolos deles são prata e ouro, obra das mãos

dos homens: Têm boca, mas não falam; têm olhos, mas não veem; têm ouvidos, mas não

ouvem; são insensíveis aos desejos de seus devotos, e incapaz de ajudá-los; (Salmos

115:4-6) eles não têm capacidade para dar-lhes o mínimo de alívio, ou conceder-lhes a

mínima misericórdia: Porventura há, entre as vaidades dos gentios, alguém que faça

chover? Ou podem os céus dar chuvas? Não és tu, ó Senhor, nosso Deus? Portanto, vamos

esperar em ti; pois tu tens feito todas estas coisas. (Jeremias 14:22). Os papistas têm

seguido os pagãos em suas orações idólatras aos anjos, à Virgem Maria e outros santos

mortos, e até mesmo para muitos que não eram santos; mas pode-se dizer a eles o que

Elifaz disse a Jó (Jó 5:1) em outra ocasião: Chame agora, se há alguém que te responda;

e para qual dos santos te voltarás?

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Somente Deus deve ser objeto de oração. Minha oração, diz Davi, será para o Deus da

minha vida (Salmos 42:8). Deus tem o direito a esta parte da nossa adoração, pois ele é o

Deus de nossas vidas, em quem vivemos, nos movemos, e existimos; que nos concede

vida e favor, e cuja graça preserva nossos espíritos; que diariamente nos acompanha com

a Sua bondade, e nos cumula com Seus benefícios; de quem necessitamos toda

misericórdia, e de quem todo o sustento e continuidade das nossas existências dependem:

e temos maior estímulo e encorajamento para nos aproximar do trono de sua graça, pois

ele é o Deus de toda a graça, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais, nos

lugares celestiais, em Cristo Jesus; por tudo isso podemos nos assegurar de que Seus

olhos estão sobre nós, Seus ouvidos estão atentos aos nossos clamores, que Ele tanto

deseja como pode nos ajudar e dar alívio; Ele é um Deus que ouve e responde a oração, a

quem toda carne virá, àqueles que estão conscientes de sua necessidade e dependência

dEle; seu braço não está encolhido, para que não possa salvar, nem seu ouvido surdo para

que ele não possa ouvir; nem jamais dirá a qualquer um da descendência de Jacó: Buscai-

me em vão.

O Senhor nosso Deus é o único Senhor, há um só Deus. Isso nós afirmamos baseados nas

Escrituras, em oposição ao politeísmo dos gentios, que tinham muitos deuses e muitos

senhores; ainda que haja uma pluralidade de pessoas na Divindade, que não são nem mais

nem menos do que três, o Pai, a Palavra, e o Espírito Santo, esses Três são Um; o Pai é

Deus, a Palavra é Deus, e o Espírito Santo é Deus; e, no entanto, não são três deuses, mas

um Deus. Embora as Pessoas na Divindade sejam mais do que uma, Deus é único e

indivisível. Ora, a Deus, em qualquer uma e cada uma das Três Pessoas divinas, podemos

orar. É lícito para nós dirigir oração ou a Deus o Pai, ou ao Filho de Deus, ou a Deus o

Espírito Santo distintamente, embora não a qualquer um deles para a exclusão dos outros,

e isso eu menciono para esclarecer o entendimento de alguns, que podem ter algumas

dúvidas e hesitações sobre orar para as Pessoas da Divindade separadamente. Ora, é fácil

observar que existem petições dirigidas a cada uma das três Pessoas; do que darei alguns

poucos exemplos tirados das Escrituras.

Às vezes, a oração é dirigida a Deus, o Pai, isolada e distintamente, embora não para

exclusão do Filho ou do Espírito. Seria muito demorado contar todas as ocorrências deste

tipo: a Epístola aos Efésios nos fornecerá um número suficiente para o nosso propósito.

Em certo lugar o apóstolo diz a eles (Efésios 1:16-17): Não cesso de dar graças por vós,

fazendo menção de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus

Cristo, o Pai da glória, possa dar-vos o Espírito de sabedoria e de revelação no pleno

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conhecimento dele; onde Deus o Pai é invocado, como distinto do Senhor Jesus Cristo,

cujo Deus e Pai ele é, e distinto do Espírito de sabedoria e de revelação. E em outro lugar

ele diz (Efésios 3:14, 16, 17): Por causa disto me ponho de joelhos perante o Pai de nosso

Senhor Jesus Cristo, que vos conceda, conforme as riquezas de sua glória, ser fortalecidos

com poder, pelo seu Espírito no homem interior, para que Cristo habite em seus corações

pela fé; nesta passagem Deus Pai é o objeto da oração, distinto de Cristo e do Espírito; o

primeiro dos quais Paulo deseja que possa habitar em seus corações pela fé, e que eles

possam ser fortificados por este último (o Espírito) no seu homem interior. Se esses casos

não forem suficientes, outros podem ser listados; mas, acerca de Deus o Pai ser objeto da

oração, não há dúvida, nem hesitação.

Podemos orar a Deus Filho, o Senhor Jesus Cristo, distintamente, conforme muitos

exemplos na Escritura. Às vezes, é feita oração a Ele junto com o seu Pai, como se

depreende de todas essas passagens (Romanos 1:7; 1 Coríntios 1:3; 2 Coríntios 1:2;

Gálatas 1:3; Efésios 1:2; Filipenses 1:2; Colossenses 1:2; 1 Tessalonicenses 1:1; 2

Tessalonicenses 1:2; 1 Timóteo 1:2; 2 Timóteo 1:2; Tito 1:4; Filemon 3; 2 João 3; Apocalipse

1:4-5) nas epístolas, onde graça e paz são desejadas de Deus nosso Pai, e do Senhor

Jesus Cristo; e de muitos outros, tais como 1 Tessalonicenses 3:11-12: Ora, o próprio Deus

e nosso Pai, e nosso Senhor Jesus nos abram o caminho até vocês; e o Senhor, isto é, o

Senhor Jesus, faça crescer e abundar em amor uns para com os outros, e para com todos,

como também o fazemos para convosco; e em outro lugar; 2 Tessalonicenses 2:16-17: Ora,

o nosso Senhor Jesus Cristo, e Deus, o nosso Pai, que nos amou e nos deu eterna

consolação e boa esperança, pela graça, consolem os vossos corações e os confirme em

toda boa obra e palavra; e às vezes, a Cristo, isoladamente; como por Estêvão no momento

da sua morte, quando ele orou, dizendo (Atos 7:59): Senhor Jesus, recebe o meu espírito.

Pelo apóstolo Paulo (2 Coríntios 12:8-9), quando ele tinha um espinho na carne, um

mensageiro de Satanás para o esbofetear; por isso, ele diz, pedi ao Senhor três vezes, ou

seja, ao Senhor Jesus Cristo, como se depreende do contexto, que o afastasse de mim. E

ele me disse: A minha graça te basta; o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa

vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que o poder de Cristo habite em

mim. Pelo apóstolo João, quando Cristo disse-lhe, em Apocalipse 22:20: Certamente cedo

venho, ele responde: Amém, vem, Senhor Jesus. E por muitos outros; tais como as

mencionadas por Ananias a Cristo, quando ele o mandou levantar-se e ir a Saulo, em Atos

9:14: Senhor, diz ele, tenho ouvido por muitos deste homem, quantos males tem feito aos

teus santos em Jerusalém; e aqui tem poder dos principais dos sacerdotes para prender a

todos os que invocam o teu nome.

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Podemos orar também a Deus o Espírito Santo, distintamente do Pai e do Filho; 2

Tessalonicenses 3:5: O Senhor encaminhe os vossos corações no amor de Deus, e na

paciência de Cristo. Por Senhor, eu entendo o Espírito do Senhor, cujo trabalho é

encaminhar os corações dos crentes no amor de Deus, e derramá-lo abundantemente em

seus corações; e que é manifestamente distinto nesta petição de Deus Pai, de quem é o

amor, e do Senhor Jesus Cristo, em cuja paciente espera os corações dos santos têm

desejado ser encaminhados por Ele. Às vezes, Ele é mencionado distintamente, em

conjunto com as outras duas Pessoas, como pelo apóstolo Paulo: A graça de nosso Senhor

Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós.

Amém (2 Coríntios 13:14) e pelo apóstolo João (Apocalipse 1:4-5): Graça a vós, e paz da

parte daquele que é, e que era, e que há de vir; e da dos sete espíritos que estão diante do

seu trono, e de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha. Os sete espíritos não podem ser

anjos; por isso não podemos pensar que eles, sendo criaturas, devam ser colocados em

um nível com o Ser divino, e serem com Ele tratados de forma tão solene; mas devemos

entendê-los como o Espírito Santo de Deus, que é assim chamado, quer em alusão a Isaías

11:2, ou por conta das sete igrejas da Ásia, a quem João escreveu, ou para denotar a

perfeição e a plenitude de Seus dons e graças.

Embora cada Pessoa divina possa ser isoladamente e distintamente abordada em oração,

e todos os Três juntos, sendo o único Deus, sejam considerados como o objeto da mesma;

ainda, de acordo com a ordem de Pessoas na Divindade, e adequadamente às várias e

distintas partes, que por acordo, tomam no caso da salvação do homem, Deus o Pai é

geralmente abordado como objeto de oração, embora não para a exclusão do Filho e do

Espírito; Cristo é o Mediador, por quem nos aproximamos de Deus; e o Espírito Santo é o

transmissor das nossas orações, e quem nos assiste levando-as ao Pai.

A primeira Pessoa é normalmente abordada em oração sob o caráter de um Pai, e como

nosso Pai; assim Cristo ensinou Seus discípulos a orar (Mateus 6:9): Pai nosso que estás

no céu, etc., e ele deve ser considerado nessa relação conosco, seja como o Pai de nossos

espíritos, o Autor de nosso ser, pelo qual somos providos, supridos e sustentados. Desta

maneira, a igreja no tempo de Isaías referia-se a Ele (Isaías 64:8-9): Mas agora, ó Senhor,

tu és nosso Pai; nós somos o barro, e tu o nosso oleiro, e somos todos obras das tuas

mãos. Não te enfureças tanto, ó Senhor, nem te lembres da iniquidade para sempre: Olha,

pois, nós te pedimos, todos nós somos o teu povo. Ou ele pode ser considerado como o

Pai ou Autor de nossas misericórdias, temporais e espirituais, que Ele de uma forma

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bondosa e graciosa nos concede, através de Cristo, e como o Pai de Cristo, e como nosso

Deus e Pai, em Cristo. Com esta visão o apóstolo se dirige ao dizer (2 Coríntios 1:3):

Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus

de toda consolação. E, em outro lugar (Efésios 1:3): Bendito seja o Deus e Pai de nosso

Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares

celestiais em Cristo. Ora, essas várias considerações fornecem tantas razões e argumentos

para nos induzir e nos incentivar a nos dedicarmos Àquele que é o Deus de toda a graça,

e é capaz e desejoso de suprir nossas necessidades segundo as suas riquezas na glória

em Cristo Jesus.

A segunda Pessoa, o Senhor Jesus Cristo, que é Deus e homem, é o Mediador entre Deus

e o homem. Considerado absolutamente Deus, é um fogo consumidor; não há comparação

entre Ele e as criaturas e especialmente as criaturas pecaminosas. Jó foi sensível a isso

quando disse (Jó 9:32-33): Ele não é um homem como eu, para eu lhe responder, para nos

encontrarmos em juízo; nem há árbitro entre nós, que possa colocar suas mãos sobre nós.

Cristo é o árbitro, o Mediador, que abriu um caminho para nós a Deus, um caminho novo e

vivo, que ele nos consagrou através do véu, isto é, da sua carne. (Hebreus 10:20; João

14:6; Efésios 2:18, 1:6; 1 Pedro 2:5): Ele mesmo é o caminho, a verdade e a vida; Ele é a

via de acesso a Deus; através dele, tanto judeus como gregos têm acesso, em um só

Espírito, ao Pai; Ele é o meio de aceitação com Deus; nossas pessoas são aceitas no

Amado, e nossos sacrifícios espirituais de oração e louvor são aceitáveis a Deus por Jesus

Cristo: As orações dos santos são chamadas de perfumes (Apocalipse 5:8 e 8:3-4) são de

um doce cheiro a Deus; que é devido à mediação de Cristo, o Anjo da presença de Deus,

que está continuamente no altar de ouro diante do trono, com um incensário de ouro na

mão, a quem é dado muito incenso, com o qual ele oferece as orações de todos os santos,

o que os torna um cheiro suave a Deus. Nossos incentivos à oração, e ao exercício da

graça, e nossos apelos para as bênçãos da graça, são fundados sobre a Pessoa, sangue,

justiça, sacrifício, e intercessão de Cristo. Vendo, pois, diz o apóstolo (Hebreus 4:14-16)

que temos um Sumo Sacerdote, que penetrou os céus, Jesus, o Filho de Deus, retenhamos

firmemente a nossa confissão: Porque não temos um sumo sacerdote que não possa ser

tocado com o sentimento de nossas fraquezas; mas, em tudo foi tentado como nós somos,

mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos

alcançar misericórdia e achar graça para socorro em tempo de necessidade. E em outra

passagem (Hebreus 10:22), ele exorta e encoraja à esta obra da mesma maneira: Tendo,

diz ele, um Sumo Sacerdote sobre a casa de Deus, cheguemo-nos com verdadeiro coração,

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em plena certeza de fé, tendo os corações purificados da má consciência, e o corpo lavado

com água pura.

A terceira Pessoa, o Espírito Santo, tem Sua parte e lugar peculiar nesta obra; Ele é o autor

da oração, o transmissor dela, quem a forma em nossos corações, cria suspiros e desejos

pelas coisas espirituais, nos desperta para a oração e nos auxilia nela. Por isso Ele é

chamado (Zacarias 12:10) de O Espírito de graça e de súplicas; tanto o dom e a graça da

oração vêm dEle; Ele nos informa sobre nossos desejos, familiariza-nos com as nossas

necessidades, nos ensina de que modo e pelo que devemos orar; o que é mais adequado

para nós, e de acordo com a vontade de Deus conceder-nos, e nos ajuda em todas as

nossas fraquezas em oração; o que é observado pelo apóstolo, para o uso, instrução e

conforto dos crentes, quando ele diz em Romanos 8:26-27: Também o Espírito ajuda as

nossas fraquezas; porque não sabemos o que havemos de pedir como convém; mas o

Espírito mesmo intercede por nós com gemidos inexprimíveis; e aquele que sonda os

corações sabe qual é a mente do Espírito, porque ele intercede pelos santos, de acordo

com a vontade de Deus. Como Cristo é o nosso Advogado junto ao Pai, defende a nossa

causa, e faz intercessão à destra de Deus para a aceitação das nossas pessoas e orações,

assim o Espírito Santo é o nosso Advogado dentro de nós; Ele intercede por nós em nossos

próprios corações; Ele nos fortalece; nos enche a boca com argumentos e nos permite

pleitear com Deus. Cristo é o Mediador, por quem — junto com o do Espírito, o Consolador

— temos acesso ao Pai. Deus, como o Deus de toda graça, ternamente nos convida a Si

mesmo; Cristo, o Mediador, nos dá ousadia; e o Espírito da graça, dá liberdade em nosso

acesso a Ele; e é isso que as Escrituras chamam de Orar com toda oração e súplica no

Espírito, e orando no Espírito Santo. Mas falaremos sobre isso mais adiante. Prossigo:

2. Ao considerar as várias partes da oração, não pretendo prescrever alguma forma

precisa dela, mas observar-lhe o método e a composição, para que possa servir para

orientar e ajudar-lhes. É apropriado começá-la com uma celebração e adoração de uma

ou mais das perfeições Divinas, que terá a tendência de atingir as nossas mentes com um

senso próprio da Majestade divina, glorificá-Lo e incentivar-nos em nossas súplicas a Ele;

tudo o que é altamente necessário a nossa entrada em oração. Todas as perfeições de

Deus são instrutivas para nós nesta obra, e servem para influenciar nossas mentes e afetos

para com Ele, comandar o nosso temor e reverência a Ele, envolver a nossa fé nEle,

fortalecer a nossa dependência dEle, e aumentar em nós expectativas de receber coisas

boas dEle. A grandeza, glória, poder e majestade de Deus, a santidade, a pureza e a justiça

de Sua natureza, nos obrigam a uma humilde submissão a Ele e reverente temor. A

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consideração do Seu amor, graça, misericórdia e bondade não nos produzirá terror. Nós

aprendemos de Sua onisciência, que Ele não somente conhece quem somos, como

também nossos desejos e o que é mais adequado para nós, quando é a época mais

conveniente, e qual a melhor forma e maneira de dá-los a nós. Pode haver grande

satisfação para nós que todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele com

quem temos de prestar contas; os pensamentos de nossos corações não Lhe são ocultos;

as exclamações secretas de nossas mentes são conhecidas por Ele; as aspirações e

desejos de nossas almas estão diante dEle; Deus entende a linguagem de um suspiro e

gemido; mesmo quando tagarelamos como um ganso ou uma andorinha, não passa

despercebido por ele. Sua onipotência nos assegura que nada é tão difícil ou impossível

para Ele; que Ele é capaz de fazer muito mais abundantemente além daquilo que pedimos

ou pensamos; que não podemos estar em uma humilhação tal ou condição angustiada, ou

com tais dilemas e dificuldades que Ele não seja capaz de aliviar, libertar e nos salvar.

Conclui-se de Sua onipresença, que enche os céus e a terra, que Ele está em todos os

lugares, em todos os momentos; que Ele é um Deus de perto, e também Deus de longe;

que Ele está próximo de nós, onde quer que estivermos, pronto para nos ajudar, e será um

socorro bem presente na angústia. Sua imutabilidade em Seu conselho e fidelidade ao Seu

pacto dão aos herdeiros da promessa firme consolação. Isto nos dá razão para acreditar

que nenhuma das boas coisas que o Senhor prometeu jamais falhará; o que Ele disse, isso

fará: e o que Ele propôs ou prometeu, isso cumprirá: Ele não exporá sua fidelidade ao

fracasso; sua aliança, não a quebrará, nem alterará o que saiu dos seus lábios. Observe

que o anúncio dessas coisas é necessário tanto para a glória de Deus como para nosso

próprio consolo. Também é muito bom que, quando iniciamos nossa oração a Deus,

mencionemos um ou mais de Seus nomes e títulos, como Yahwéh, Senhor Deus, etc,, e o

que Ele significa para nós; não apenas como o Deus da criação, o Autor de nossos seres,

o Doador de nossas misericórdias e Preservador de nossas vidas, mas como o Deus da

graça, o Pai de Cristo, e Deus da nossa Aliança, e Pai em Cristo. Dessa maneira nosso

Senhor ensinou os Seus discípulos a orarem, começando com Pai nosso, que estás no céu,

etc.

Em seguida, é importante reconhecer nossa miséria e indignidade, fazer a confissão dos

nossos pecados e transgressões, e orar por novas descobertas e manifestações de amor

perdoador e graça. Quando entramos na presença divina, e falamos com o Senhor,

devemos reconhecer como Abraão (Gênesis 18:27) que somos pó e cinza; e como Jacó

(Gênesis 32:10) que não somos dignos da menor de todas as misericórdias e de toda a

verdade que Deus nos mostrou. A confissão do pecado, tanto de nossa natureza como das

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nossas vidas, é uma parte muito adequada e necessária. Esta tem sido a prática dos santos

em todas as épocas; desde Davi, que confessa com suas próprias palavras (Salmos 32:5):

Eu reconheço meu pecado a ti, e as minhas iniquidades não escondi: eu disse, vou

confessar as minhas transgressões ao Senhor, e tu perdoaste a maldade do meu pecado.

E Daniel, quando voltou seu rosto para o Senhor Deus, para o buscar com oração e

súplicas, fez confissão tanto de seus próprios pecados e os dos outros: Orei ao Senhor meu

Deus, diz ele em Daniel 9:4-6, e fiz a minha confissão, e disse: Ó Senhor, o Deus grande e

tremendo, que guardas a aliança e a misericórdia para os que te amam, e para os que

guardam os teus mandamentos. Pecamos e cometemos iniquidade, e agimos perversa-

mente, e fomos rebeldes, apartando-nos dos teus preceitos e das tuas ordenanças; Não

demos ouvidos aos teus servos, os profetas, que em teu nome falaram aos nossos reis,

nossos príncipes, e nossos pais, e a todos os povos da terra. E o apóstolo João que diz

para o encorajamento dos crentes nesta parte do dever da oração (1 João 1:9): Se

confessarmos os nossos pecados, ele, que é Deus, é justo e fiel para nos perdoar os

pecados, e nos purificar de toda injustiça: Não que a confissão do pecado seja tanto a causa

de aquisição ou meios, ou condição de perdão e purificação, pois ambos são devidos ao

sangue de Cristo; na justiça e fidelidade dAquele que o derramou, Deus perdoa os pecados

de Seu povo, e purifica-os; mas a intenção do apóstolo é mostrar o pecado dos santos, e

que é cometido por eles, e que a confissão do pecado é certa e aceitável diante de Deus;

e, para animá-los e incentivá-los, ele toma conhecimento da justiça e fidelidade de Deus

em perdoar e limpar o Seu povo, através do sangue de Cristo, que, como ele tinha um

pouco antes observado, nos purifica de todo pecado. Não, não devemos apenas a fazer a

confissão do pecado na oração, mas para orar pelo perdão. Cristo dirigiu aos Seus

discípulos esta parte do seu dever, quando os ensinou a orar desta maneira (Mateus 6:12):

Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Esta

tem sido a prática constante dos santos, a partir de Moisés (Êxodo 34:9): Ó Senhor, que o

meu Senhor, peço-te, vá no meio de nós, e perdoa as nossas iniquidades e nosso pecado,

e toma-nos por tua herança. De Davi (Salmos 25:11): Por amor do teu nome, Senhor,

perdoa minha maldade, pois é grande. Sim, ele diz ao Senhor (Salmos 32:6): Por isso, deve

todo aquele que é piedoso orar a ti, a tempo de te poder achar. E de Daniel, ó Senhor, ouve

(Daniel 9:19): Ó Senhor, perdoa; Ó Senhor, atende-nos, e não tardes, por amor de Ti, ó

meu Deus; pois tua cidade e teu povo são chamados pelo teu nome. Agora, deve ser

observado que, muito frequentemente, quando os santos oram, seja para o perdão dos

seus próprios pecados, ou dos outros, Deus, de uma forma providencial, livra-os na

necessidade, retira a Sua mão quando os aflige e pesa sobre eles, ou afasta tais

julgamentos que parecem pairar sobre as suas cabeças e muito os ameaça, e é uma

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indicação de que Ele perdoou-os. Devemos entender muitas petições de Moisés (Êxodo

32:32; Números 14:19-20), Jó (Jó 7:21), Salomão (1 Reis 8:30, 34, 36, 39, 50) e outros,

neste sentido. Além disso, quando os crentes agora oram pelo perdão do pecado, o seu

significado não é que o sangue de Cristo deve ser derramado novamente para a remissão

dos seus pecados; ou que qualquer novo ato de perdão deve surgir na mente de Deus, mas

que eles possam ter o bom senso, a manifestação, e a aplicação da graça perdoadora para

suas almas. Não estamos imaginando que, tão frequentemente como os santos pecam,

arrependem-se, confessam seus pecados e oram pelo perdão deles, que Deus faz e passa

novos atos de perdão; pois ele, por um ato eterno e completo de graça, na visão do sangue

e do sacrifício de Seu Filho, livre e plenamente perdoou todos os pecados de Seus eleitos,

todos os seus pecados, passados, presentes, e futuros; mas enquanto eles pecam

diariamente contra Deus, entristecem o Seu Espírito e ferem suas próprias consciências,

eles têm necessidade de aspersões do sangue de Jesus e de manifestações renovadas de

perdão para as suas almas; e é a sua necessidade se aproximarem do trono da graça.

Outra parte da oração é fazer petições a Deus por coisas boas, misericórdias temporais e

espirituais, as bênçãos naturais e da graça. Assim como devemos viver na dependência da

providência divina, assim devemos orar diariamente pelo sustento comum de nossos

corpos, pelo conforto, apoio e preservação de nossas vidas; como nosso Senhor nos

ensinou, dizendo: Dá-nos hoje o nosso pão de cada dia (Mateus 6:11). Nossos pedidos,

desta forma, devem ser frequentes, mas não grandes: não devemos buscar grandes coisas

para nós mesmos. A oração de Agur (Provérbios 30:7-9) é um exemplo adequado para

seguirmos: Duas coisas, ele diz ao Senhor, tenho pedido a ti, não me negues, antes que

eu morra; Afasta de mim a vaidade e as mentiras: Não me dês nem a pobreza nem a

riqueza; alimenta-me com a comida necessária para mim, para que eu não fique farto e não

te negue, e diga: Quem é o Senhor? Ou que empobrecido roube, e tome o nome de Deus

em vão. As bênçãos espirituais que devemos pedir são as tais que Deus depositou no pacto

da graça, que é ordenado em todas as coisas e seguro, e as que Cristo adquiriu pelo Seu

sangue, revelando o evangelho, e o Espírito de Deus intercede por nós em nossos próprios

corações, de acordo com a vontade de Deus; por estas coisas devemos orar com fé, em

nada duvidando (Tiago 1:6; 1 João 5:14-15) pois esta é a confiança que temos nele, que é

Deus, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve; e, se sabemos

que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos as petições que pedimos.

Quando oramos por misericórdias especiais, bênçãos espirituais, tais como a conversão de

amigos e parentes não convertidos, devemos orar em submissão à vontade secreta de

Deus.

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Ação de graças pela misericórdia recebida é outra coisa que não deve ser esquecida diante

do trono da graça: Em tudo, pela oração e pela súplica, com ações de graças, diz o apóstolo

(Filipenses 4:6), vossas petições sejam conhecidas diante de Deus. Como sempre temos

misericórdias para pedir, assim também sempre devemos agradecer por elas; isso nos leva

a continuar em oração (Colossenses 4:2) pelo suprimento constante do céu, e para

aguardar com ações de graças, ou seja, esperar as bênçãos que têm pedido, e quando as

receberem, aguardar a oportunidade adequada, e fazer uso dela, para oferecer sacrifício

de louvor a Deus, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome. Quando esta parte

é negligenciada, é altamente censurada pelo Senhor; como se depreende do caso dos dez

leprosos, (Lucas 17:15-18) quando um deles, vendo que estava curado, voltou agradecido,

e com grande voz glorificavam a Deus, e caiu com o rosto em seus pés, dando-lhe graças;

e este era samaritano; dos quais nosso Senhor diz: Não foram dez os limpos? Mas onde

estão os nove? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro.

Antes de concluir esta parte, é apropriado remover de tais males que estão sobre nós ou

sabemos que somos susceptíveis ou que podem se abater sobre nós; tais como tentações

de Satanás, as armadilhas do mundo, as angústias da vida, calamidades públicas, etc. Isso

foi em parte praticado por Daniel: Ó Senhor, diz ele, (Daniel 9:16): de acordo com toda a

tua justiça, peço-te que desvie a tua ira e o teu furor da tua cidade de Jerusalém, do teu

santo monte; por causa dos nossos pecados e as iniquidades de nossos pais, Jerusalém e

o teu povo são opróbrio para todos os que estão perto de nós. E isto é anunciado por Cristo

aos Seus discípulos, naquele excelente ensino sobre a oração que lhes deu, parte do qual

foi essa: Não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. (Mateus 6:13)

No final da oração, é necessário fazer uso de doxologias ou atribuições de glória a Deus; à

medida que começamos com Deus, devemos acabar com Ele; como no início atribuímos

grandeza a Ele, então na conclusão devemos atribuir-lhe glória. Tal atribuição de glória a

Deus foi usada por Cristo no fim da oração que ensinou aos Seus discípulos, desta maneira

(Mateus 6:13): Teu é o reino, o poder e a glória. Pelo apóstolo Paulo nesta forma (Efésios

3:21): Para ele, isto é, Deus, seja a glória na igreja, por Cristo Jesus, por todas as gerações,

para todo o sempre. E em outro lugar, assim (1 Timóteo 1:17): Ora, ao Rei eterno, imortal,

invisível, o único Deus, seja honra e glória para todo o sempre. Pelo apóstolo Judas com

estas palavras: Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-

vos irrepreensíveis diante da presença de sua glória, com alegria; ao único Deus sábio,

Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora e sempre (Judas 24-25),

e pelo apóstolo João desta maneira (Apocalipse 1:5-6): Àquele que nos amou e nos lavou

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de nossos pecados no seu próprio sangue, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu

Pai; A Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Estas, e outras atribuições de glória

a Deus, Pai, Filho, e Espírito Santo, são necessárias no final das nossas súplicas, uma vez

que as misericórdias e bênçãos que tenhamos pedido ou agradecido vêm dEle. Além disso,

elas servem para demonstrar louvores a Deus, e para expressar nosso sentimento de

gratidão a Ele, nossa dependência dEle, e nossa expectativa de receber coisas boas dEle.

Todo este exercício de oração deve ser concluído com a pronúncia da palavra Amém; como

uma confirmação do nosso consentimento sincero com o que temos expressado, e dos

nossos sinceros desejos que o que temos pedido possa ser atendido, e da nossa plena e

firme persuasão e convicta certeza de que Deus é capaz, disposto e fiel para realizar tudo

o que prometeu, e dar tudo o que temos pedido a Ele, segundo a Sua vontade. Mas eu

prossigo:

3. Considerando os vários tipos de oração, ou as várias distribuições em que possa

ser feita, ou os diferentes pontos de vista que podem ser considerados.

A oração pode ser tanto mental como vocal. A oração mental é a que só é concebida na

mente; ela consiste de exclamações secretas no coração, que não são expressas com uma

voz audível e articulada. Tal era a oração de Ana, de quem se disse (1 Samuel 1:12-13)

que, como ela continuou a orar diante do Senhor, Eli observou a sua boca. Agora Ana falava

no seu coração, seus lábios se moviam; mas sua voz não foi ouvida, pelo que Eli a teve por

embriagada. Oração vocal é aquela que, sendo concebida e formada no coração, é

expressa pela língua, com palavras, com voz audível e articulada, de modo a ser ouvida e

compreendida. Isso é o que o profeta pretende, quando diz (Oséias 14:2): Tomai convosco

palavras, e convertei-vos ao Senhor, dizei-lhe: Tira toda a iniquidade, e recebe o bem; assim

daremos os sacrifícios dos nossos lábios.

A oração também pode ser pública ou particular. Oração particular é aquela que é proferida

na família, ou pelo chefe dela, com os demais se unindo, ou por uma reunião de cristãos

em uma casa particular, ou por uma única pessoa só e em secreto, e a respeito da qual

Cristo dá essas orientações e instruções (Mateus 6:5-6): Quando orares, diz ele, não sejas

como os hipócritas; pois se comprazem em orar em pé nas sinagogas e nas esquinas das

ruas, para que possam ser vistos pelos homens: em verdade, eu vos digo: já receberam

sua recompensa. Mas tu, quando orares, entra no teu aposento; e quando fechares a porta,

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ora a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará

publicamente. Oração pública é a que é feita na casa de Deus, que é então chamada (Isaías

56:7) casa de oração; onde o povo de Deus se reúne, e ora junto com as outras partes da

adoração divina, pública e social. Os primeiros cristãos, nos primeiros dias do Evangelho,

são elogiados, entre outras coisas, por sua contínua perseverança na oração, ou seja, nas

orações públicas (Atos 2:42); eles constantemente se reuniam aonde se costumava fazer

oração; e Deus se agradava em dar um sinal de Sua aprovação quanto a essa prática; pois,

em um determinado momento, tendo eles orado, o lugar onde estavam reunidos foi

abalado; e todos foram cheios do Espírito Santo, e falavam a palavra de Deus com ousadia

(Atos 4:31).

A oração também pode ser extraordinária ou comum. Oração extraordinária é a que é feita

em ocasiões particulares e especiais; como a que foi feita pela igreja quando Pedro esteve

na prisão. O historiador inspirado diz (Atos 7:5) que Pedro estava na prisão; mas a oração

era feita sem cessar pela igreja a Deus por ele; essa oração extraordinária foi seguida com

um evento extraordinário; pois enquanto eles estavam orando, um anjo foi enviado do céu

e libertou Pedro de suas cadeias, e ele chegou ao lugar onde a igreja estava reunida, antes

mesmo de terem terminado as orações. Assim também foram as orações dos anciãos da

igreja naqueles tempos pelos doentes, dos quais o apóstolo Tiago fala (Tiago 5:14-15): está

alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele,

ungindo-o com óleo em nome do Senhor; e a oração da fé salvará o doente, e o Senhor o

levantará. A oração comum é a que é usada em comum na igreja de Deus, em uma família

religiosa, ou por uma única pessoa, em horas determinadas; com Davi e Daniel no Antigo

Testamento, por exemplo, eram três vezes por dia (Salmos 55:17; Daniel 6:10): à noite, de

manhã e ao meio-dia. Qualquer prática pode ser ideal para se seguir, desde que não se

caia na obrigação de manter momentos precisos que condicionem nossa aceitação por

Deus, e nossa permanência sob Seu favor, o que seria retornar ao pacto das obras, enlaçar

as nossas almas, e trazer-nos a um estado de escravidão.

II. Passo agora a considerar a maneira pela qual o apóstolo estava desejoso de realizar

esse dever.

1. Com o Espírito. Por “Espírito”, alguns entendem nada mais do que a respiração humana,

ou a voz; e suponho que o significado que o apóstolo dá é que ele oraria em voz alta, com

uma voz articulada, com sons distintos, de modo a ser compreendido: talvez algumas

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passagens deste capítulo, que podem parecer favorecer este sentido, possam incliná-los a

isso; como quando o apóstolo observa, em 1 Coríntios 14:7-11, que as coisas inanimadas

que emitem som, seja flauta ou harpa, a menos que deem um som distinto, como se saberá

se são flautas ou harpas? Porque, se a trombeta der sonido incerto, quem se preparará

para a batalha? Assim também vós, se não disserem palavras que possam ser entendidas,

como se conhecerá o que é falado? Porque haveis de falar para o ar. Existem, possi-

velmente, muitos tipos de vozes no mundo, e nenhuma delas é sem significação; portanto,

se eu não souber o sentido da voz, serei um bárbaro para aquele que fala; e o que fala, um

bárbaro para mim. Mas o apóstolo aqui, por voz e distinção em sons, não fala apenas de

uma voz clara, distinta, articulada, mas da língua materna, a língua conhecida, em oposição

a uma língua desconhecida e estrangeira, não compreendida pelas pessoas. Neste sentido

as palavras são vazias e sem sentido, bem como forçadas e deformadas.

Por Espírito, entende-se o dom extraordinário do Espírito dado ao apóstolo e a outros,

através do qual eles falaram em diferentes línguas, e do qual ele decidiu fazer uso, mas de

maneira que fosse entendido: ele não o utilizaria sem a devida interpretação. Este é o

sentido que já tenho exposto, e é o mais geralmente aceito pelos intérpretes, e que pode

ser confirmado através da utilização da palavra no contexto; como no versículo 2: O que

fala em uma língua desconhecida, não fala aos homens, mas a Deus, pois ninguém o

entende; todavia, no Espírito, isto é, através do exercício do dom extraordinário do Espírito,

fala mistérios; e no versículo 14, se eu orar em língua, o meu espírito ora, ou seja, eu oro

em virtude do dom extraordinário do Espírito, concedido a mim; mas o meu entendimento

fica sem fruto; eu não sou de nenhum proveito aos que me ouvem. Assim também no

versículo 16: do mesmo modo, se tu bendisseres com o Espírito, isto é, quando tu dás

graças em uma língua desconhecida, através do dom do Espírito, como o que ocupa o lugar

de indouto dirá Amém, pela tua ação de graças, visto que não entende o que dizes?

Há um outro sentido da frase, que não estou disposto a omitir, e que é o seguinte: Por orar

com o Espírito, alguns entendem o próprio espírito do apóstolo, ou sua oração de uma

forma espiritual, com um espírito de devoção e fervor; e, na verdade, dessa maneira ele

executou cada parte do culto religioso e serviço, quer pregando ou orando, ou fazendo

qualquer outra coisa: Deus é minha testemunha, ele diz em Romanos 1:9, a quem sirvo em

meu espírito, no evangelho de seu Filho; o tipo de culto que é mais agradável à natureza

de Deus (João 4:23): Ele é Espírito, e os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.

E para que nos tornemos fervorosos no espírito, enquanto estamos servindo ao Senhor.

Tal condição da alma, particularmente em oração, é a mais adequada para o dever, mais

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desejável para os santos e agradável a Deus, e poderoso com Ele; a súplica do justo pode

muito (Tiago 5:16).

Podemos ser ditos orar com os nossos espíritos, ou de uma forma espiritual, quando nos

aproximamos de Deus com um coração verdadeiro; ou quando somos capazes de levantar

os nossos corações e as mãos para Deus nos céus; as pessoas podem aproximar-se dele,

como os judeus do passado fizeram (Isaías 29:13) honrá-Lo com sua boca e com os lábios,

e ainda, ao mesmo tempo, seu coração pode estar longe dEle, e seu temor a Ele não passar

de preceito de homens. Uma coisa é ter o dom da oração, e outra é ter a graça da oração;

e na prática, uma coisa é orar com a boca, e outra é orar com o coração. Orar de maneira

formal, sem a graça, é mero culto exterior, provêm dos lábios, é um exercício corporal que

para nada aproveita; é inútil para os homens e inaceitável para Deus, que a considera nada

além de um uivo. Por isso Ele diz sobre alguns (Oséias 7:14): Eles não clamaram a mim

com seu coração, quando uivaram nas suas camas. A oração espiritual fervorosa é, em

alguma medida, realizada no exercício da graça da fé; de modo a aproximar-se de Deus

com um coração verdadeiro e também em plena certeza de fé. O apóstolo Tiago descreve

a oração desta forma (Tiago 1:5-7): Se algum de vós, diz ele, tem falta de sabedoria, peça-

a a Deus, que a todos dá liberalmente e não censura, e será dado a ele: Mas que peça com

fé, em nada duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada pelo

vento e agitada: Não pense tal homem que receberá alguma coisa do Senhor. Não devemos

ter apenas uma certeza de fé, no que diz respeito ao objeto ao qual nos dirigimos, o que é

absolutamente necessário (Hebreus 11:6): Porque quem se aproxima de Deus, creia que

ele existe, e que é galardoador dos que o buscam; mas também no que diz respeito às

coisas pelas quais oramos, quando são de tal ordem que Deus prometeu, que Ele incluiu

na Sua aliança, pôs nas mãos de Seu Filho e, sabemos, estão de acordo com a Sua mente

e vontade revelada conceder-nos; tudo o que seja consistente com aquela reverência e

temor, pela qual servimos a Deus agradavelmente; com aquela humildade que nos torna

suplicantes, e é grata a Deus, que resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes: e com

submissão e renúncia de nossas vontades à Sua vontade, em que Cristo é um padrão

glorioso para nós, quando Ele disse em oração (Lucas 22:42): Pai, se queres, retire de mim

este cálice; no entanto, não a minha vontade, mas a tua. Em uma palavra, quando oramos

com nossos espíritos, ou de uma forma espiritual, não somente elevamos os nossos

corações a Deus, mas o que pedimos, pedimos com fé, com um temor reverencial e filial

da Majestade divina, na profunda humildade de alma, e com inteira submissão à vontade

de Deus; e também em nome e por amor de nosso Senhor Jesus Cristo; nós não lançamos

as nossas súplicas a Deus pela nossa justiça, mas por causa do Senhor, e pelas suas

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grandes misericórdias; nós não vamos em nosso próprio nome, mas no de Cristo; nós não

seguimos adiante em nossa própria força, mas na dEle; fazemos menção de Sua justiça

somente; suplicamos pelos méritos e eficácia de Seu sangue; trazemos Seu sacrifício nos

braços de nossa fé; aguardamos ser ouvidos e aceitos por Seu favor somente, e que as

nossas petições e pedidos sejam ouvidos e atendidos por Sua graça somente, e os

deixamos com Aquele, que é o nosso Advogado junto ao Pai. A isto ele chamou de oração

verdadeira, espiritual, fervorosa e eficaz.

A oração não pode ser feita como acima descrito sem a influência e ajuda do Espírito de

Deus. Alguns, portanto, acham que pelo Espírito, no meu texto, significa o Espírito Santo

de Deus; e que orar com o Espírito é o mesmo que o apóstolo Judas chama de orar no

Espírito Santo. Se tomarmos as palavras nesse sentido, não devemos supor que quando o

apóstolo diz, orarei com o Espírito, que ele imaginasse que pudesse orar com o Espírito

Santo e sob Sua influência quando quisesse; suas palavras devem ser consideradas

apenas como expressão do sentido que ele tinha da necessidade do Espírito de Deus na

oração, e de seu desejo sincero por Sua graciosa assistência no desempenho da mesma.

Já observei que lugar o Espírito Santo tem na oração; Ele é o Autor da mesma; Ele é o

Espírito de graça e de súplicas; Aquele que a forma no coração; (Tiago 5:16) a oração

eficaz e fervorosa, ενεργδμενη, inspirada, de um justo pode muito; ou seja, tal oração

formada na alma por uma força poderosa do Espírito de Deus, que põe as coisas no

coração e palavras na boca, (Oséias 14:2): Tomai convosco palavras, e voltai para o

Senhor; dizei-lhe: Tira toda a iniquidade, e recebe-nos graciosamente: Ele guia no assunto

da oração (Romanos 8:26-27): pois nós não sabemos o que havemos de pedir como

convém; ele intercede pelos santos, de acordo com a vontade de Deus. E, de fato, quem

melhor do que Aquele que sonda as profundezas de Deus e conhece perfeitamente Sua

mente? Ele ajuda os santos em todas as suas fraquezas; quando eles estão calados em

suas almas, e não conseguem orar com liberdade, Ele dilata os seus corações, e dá-lhes a

liberdade de alma, e liberdade de expressão, de modo que eles possam derramar a alma

diante de Deus, e dizer-Lhe tudo que há em sua mente: Onde está o Espírito do Senhor, aí

há liberdade (2 Coríntios 3:17). Sem Ele não podemos orar, seja com fé ou fervor; nem

podemos clamar ao Deus nosso Pai sem o Espírito de adoção, ou usar essa liberdade com

Ele, como filhos para com o Pai; mas porque sois filhos, diz o apóstolo em Gálatas 4:6,

Deus enviou o Espírito de seu Filho aos seus corações, que clama: Aba, Pai.

Talvez possa ser objetado que se o Espírito de Deus é tão absolutamente necessário em

oração, os homens não devem orar, a menos que tenham o Espírito, ou estejam sob a

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influência mediata da Sua graça. Ao que respondo, essa oração pode ser considerada

como um dever natural: e, como tal, é obrigatória para todos os homens, mesmo em um

homem natural, destituído do Espírito, e deve ser, e pode ser, efetuada de uma forma

natural; disso há algo análogo nos seres irracionais, cujos olhos esperam no Senhor; e ele

dá aos animais o seu alimento, e aos filhos dos corvos que clamam (Salmos 145:15 e

147:9). E podemos observar que o apóstolo Pedro mandou Simão o Mago orar, embora ele

estivesse em um estado de irregeneracão: Arrepende-te, diz ele em Atos 8:22, dessa tua

maldade; e ora a Deus, se talvez o pensamento do teu coração pode ser perdoado. É

verdade, ninguém a não ser um homem espiritual pode orar de uma maneira espiritual;

mas, o homem espiritual não está sempre sob as influências graciosas e poderosas do

Espírito de Deus; ele às vezes é destituído delas, o que parece ser o caso de Davi quando

disse (Salmos 51:11-12): Não me lances fora da tua presença, e não retire o teu santo

Espírito de mim; restitui-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito

voluntário; e ainda temos que orar sem cessar, orar sempre, e não desfalecer (1

Tessalonicenses 5:17). E algo pelo que devemos orar é para que o Espírito influencie e

ajude-nos em oração, e para operar em nós tudo o que é agradável diante de Deus; e nós

temos razão para acreditar que tal petição será ouvida e atendida; pois se pais terrenos

sabem dar boas dádivas aos seus filhos, quanto mais o Pai celestial dará o Espírito Santo

àqueles que lho pedirem? (Lucas 18:1). E, na verdade, quando estamos em trevas e

angústia, sem a luz da face de Deus, as influências do Seu Espírito, e as comunicações da

Sua graça, temos necessidade de orar mais, e devemos estar mais constantes diante do

trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça para socorro em

tempo de necessidade. Essa foi a prática de Davi (Salmos 130:1): Das profundezas, diz

ele, clamei a ti, ó Senhor; e assim foi com Jonas, quando ele estava no ventre do inferno,

e disse: lançado estou de diante dos teus olhos; no entanto, diz ele, vou contemplar de

novo o teu santo templo (Jonas 2:2, 4, 7), e acrescenta: Quando desfalecia a minha alma

dentro de mim, eu me lembrei do Senhor; e minha oração chegou a ti, no teu santo templo.

E essa era a prática da igreja no tempo de Asafe; que, sob trevas e angústia, disse (Salmos

130:3, 4, 19): Faze-nos voltar, ó Deus, e faz com que a tua face brilhe, e seremos salvos.

O Senhor Deus dos exércitos, até quando estarás irado contra a oração do teu povo? Mas,

prossigo:

2. Observe que o apóstolo está desejoso de realizar este dever da oração também

com o entendimento, ou seja, em uma linguagem que pode ser compreendida por

outros; pois, como ele observa no verso 9, a não ser com palavras fáceis de ser entendidas,

como se saberá o que é falado? E, de sua parte, ele declara, no versículo 19, ele preferiria

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antes falar cinco palavras na igreja com sua inteligência, para que com sua voz ele pudesse

também instruir os outros, do que dez mil palavras em língua desconhecida. Isto condena

a prática dos papistas, que oram em uma língua não compreendida pelo povo.

Ou orar com o entendimento é orar com a compreensão iluminada pelo Espírito de Deus,

ou é orar com uma compreensão espiritual e experimental das coisas. Um homem pode

usar muitas palavras na oração, e fazer um grande número de petições, e ainda não ter

experiência ou compreensão espiritual das coisas pelas quais ele ora. A compreensão do

homem é naturalmente obscura quanto às coisas divinas e espirituais. O Espírito Santo é

o espírito de sabedoria e de revelação no pleno conhecimento de Cristo, que ilumina os

olhos de nosso entendimento, para ver o nosso estado e condição de perdição por natureza,

a excessiva malignidade do pecado, a impureza dos nossos corações, a imperfeição da

nossa obediência, a insuficiência da nossa justiça, a necessidade de Cristo e da salvação

por meio dEle, e a abundante graça e misericórdia de Deus, que fluem através da pessoa

do Mediador. Os que são assim iluminados são capazes de orar com o entendimento

também: eles sabem para quem oram, enquanto outros adoram o que não conhecem; eles

podem vir a Deus como seu Deus e Pai, como o Deus de toda graça e misericórdia; eles

conhecem o caminho de acesso a Ele, e estão conscientes de sua necessidade do Espírito

para influenciar e ajudá-los, por quem eles sabem o que orar como deveriam, e estão bem

certos da vontade de Deus para ouvir e responder-lhes por causa de Cristo: e, diz o apóstolo

em 1 João 5:15: Se sabemos que ele nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos que temos

as petições que lhe pedimos. Estas são as pessoas que oram com o Espírito, e também

com o entendimento; estas valorizam esta obra, a qual é um prazer para elas.

Terminarei esse discurso com algumas palavras, a título de incentivo a esta parte da

adoração a Deus. É bom para os santos se aproximarem de Deus; não só é bom porque é

seu dever, mas porque produz em suas almas um prazer espiritual; e também de grande

lucro e proveito: Muitas vezes, é uma ordenança de Deus para conceder graça ao nosso

espírito, para restringir e subjugar a corrupção dos nossos corações, e para trazer nossas

almas a uma comunhão mais próxima consigo mesmo. Satanás muitas vezes sentiu a força

e o poder dessa parte da nossa armadura espiritual; e é, de fato, a última que o crente é

orientado para fazer uso. Almas que oram são proveitosas para as famílias, bairros, igrejas

e comunidades, enquanto aqueles que não oram são, em grande, parte inúteis. O crente

tem o maior incentivo a essa obra que ele pode desejar; ele pode vir a Deus, não como

num trono de justiça, mas como num trono da graça. Cristo é o Mediador entre Deus e ele,

seu caminho de acesso a Deus, e seu advogado com o Pai; o Espírito é o seu Guia, Mestre,

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21

e Ajudador; ele tem muitas preciosas e mui grandes promessas para suplicar a Deus; não

deve duvidar de uma recepção amável, uma audiência graciosa, e uma resposta adequada,

embora aquele que ora seja sempre tão mau e indigno em si mesmo; pois, o Senhor

atenderá à oração do desamparado, e não desprezará a sua oração.

.

Sola Scriptura! Sola Gratia! Sola Fide!

Solus Christus! Soli Deo Gloria!

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

OUTRAS LEITURAS QUE RECOMENDAMOS Baixe estes e outros e-books gratuitamente no site oEstandarteDeCristo.com.

— Sola Scriptura • Sola Gratia • Sola Fide • Solus Christus • Soli Deo Gloria —

Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.