UM ITINERÁRIO PARA A ARQUITETURA MODERNA EM...

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U M I TINERÁRIO PARA A A RQUITETURA M ODERNA EM F LORIANÓPOLIS Luiz Eduardo Fontoura Teixeira UFSC 1 Gilberto Sarkis Yunes UFSC 2 Marcos Marciel Sansão UFSC 3 . Marianna Spindola Godoy UFSC 4 Rafaela Regina de Souza UFSC 5 Resumo Apresenta percurso pelas edificações e espaços urbanos de Florianópolis, construídos na linguagem moderna de 1930 a 1970. São estudados elementos da modernidade, através dos planos estatais e a ação do capital. Vestígios do ideário moderno resultantes são levantados e documentados num itinerário cultural patrimonial. Uma tensão compositiva entre os espaços modernos e a cidade pretérita, por rupturas de gabarito, estrutura urbana e novas formulações plásticas, caracterizaria esses percursos. Palavras-chave: arquitetura moderna, itinerários culturais, Florianópolis. Abstract Presents a route through the buildings and urban spaces of Florianópolis, built in modern language from 1930 to 1970. Elements of modernity were studied, through state action plans and capital. Traces of modern ideas are researched and documented resulting in a cultural heritage itinerary. A compositional tension between the modern and the past tense city spaces for breaks of scale, urban structure and new plastic formulations characterize these pathways. Key words : modern architecture, cultural itineraries, Florianópolis. Nos anos de 1930, após a construção da Ponte Hercílio Luz, ligando a 1 Arquiteto e Urbanista pela UFRGS (1978). Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano pela UFSC (2002). Doutor em Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo pela USP, São Carlos (2009). Professor do Núcleo de Teoria e História (ARQ/UFSC). Atua no Programa de Pós Graduação em Arquitetura, Urbanismo e História da Cidade (PGAU- Cidade). Coordenador do Grupo de Pesquisa da Modernidade em Arquitetura e Urbanismo (ARQ/UFSC). Membro de Grupos de Pesquisa NUCOMO e SITUS (ARQ/UFSC) e do ICOMOS/BR/UNESCO. Email: [email protected] . 2 Arquiteto e Urbanista pela UFPel (1977). Graduação em Pintura EBA/UFPel (1972). Mestre em Arquitetura pela USP, São Carlos (1987). Doutor em Estruturas Ambientais Urbanas pela FAU/USP (1995). Master em Paisagens Culturais pela Università degli Studi di Napoli Federico II (2010). Professor do Núcleo de Projeto (ARQ/UFSC). Atua na Pós Graduação PGAU-Cidade. Membro do Grupo de Pesquisa da Modernidade em Arquitetura e Urbanismo e NUCOMO (ARQ/UFSC). Membro INEP/SINAES [email protected] 3 Graduando em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC. Bolsista Voluntário em Programa de Iniciação Científica (UFSC). Membro do Grupo de Pesquisa da Modernidade em Arquitetura e Urbanismo e NUCOMO (ARQ/UFSC).Email: [email protected] 4 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC. Bolsista Voluntária em Programa de Iniciação Científica (UFSC). Membro do Grupo de Pesquisa da Modernidade em Arquitetura e Urbanismo e NUCOMO (ARQ/UFSC). Email: [email protected] 5 Graduanda em Arquitetura e Urbanismo pela UFSC. Bolsista Voluntária em Programa de Iniciação Científica (UFSC). Membro do Grupo de Pesquisa da Modernidade em Arquitetura e Urbanismo e NUCOMO (ARQ/UFSC). Email: [email protected]

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UM ITI NERÁRI O PARA A ARQUITETURA MODERNA EM FLORI ANÓPOLI S

Lui z Eduardo F ontoura Teixei ra UFSC1 Gi lber to Sarkis Yunes UFSC2 Marcos Marciel Sansão UFSC3. Mar ianna Spindol a Godoy UFSC4 Rafaela Regi na de Souza UFSC5

Resumo Apresenta percurso pelas edi f i cações e espaços urbanos de F lor ianópol i s, const ruídos na l i nguagem moderna de 1930 a 1970. São estudados elementos da modernidade, at ravés dos planos estatais e a ação do capi tal . Vest ígios do ideár i o moderno resul tantes são l evantados e documentados num i t i nerár io cul tural pat r imoni al . Uma tensão composi t iva ent re os espaços moder nos e a cidade pretér i ta, por rupturas de gabar i to, est rutura urbana e novas formulações pl ást icas, caracter izar ia esses percursos. Palavras-ch ave: arqui tetura moderna, i t i nerár ios cul turais , F lor i anópol is. Abstract Presents a route through the bui l dings and urban spaces of F l or ianópol is , bui l t in modern language f rom 1930 t o 1970. E l ements of moderni ty were studied, through state act ion pl ans and capi tal . Traces of modern ideas are researched and documented resul t ing i n a cul tural her i tage i t inerary. A composi t ional tensi on between the m odern and the past tense ci ty spaces f or breaks of scale, urban st ructure and new pl ast ic formulat ions character ize these pathways. Key words: modern archi tecture, cul tural i t inerar ies, F l or ianópol i s.

Nos anos de 1930, após a const rução da Ponte Hercí l io Luz, l igando a

1 Arqu it eto e Urban is ta p el a UFRG S (1978) . Mest re em Desen vol vimento Reg ion al e Urbano pela UF SC ( 2002) . Dou to r em Teor ia e His tór ia d a Arqu it etu ra e do Urban ismo pel a USP, São Car los (2009) . Pro fessor do Núc leo d e Teor ia e His tó r ia (ARQ/UF SC) . At ua n o Pr ograma de Pós Graduaçã o em Arqui te tura , Urban ismo e His tór ia da C idad e (PG AU-Cidade) . Coorden ador do Grupo de Pesqu is a da Modernidade em Arqui te tura e Urban ismo (ARQ/ UF SC) . Membro de Grupos de Pesqu isa NU COMO e SITU S (ARQ/UFSC) e do ICOMOS/BR/U NESCO. Ema il: fon toura te ixe i ra@gmai l . com . 2 Arqui tet o e Urban ista pe la UFPel (197 7) . Graduação em Pin tu ra EBA/UF Pe l (1972) . Mest re em Arqu it etu ra pe la U SP, São Car l os (1987) . Dou t o r em Est ru tu ras Ambienta is Urbanas pela F AU/ USP (199 5) . M aste r em Pa is agens Cu ltu rais pe la Un ivers ità d eg l i Studi d i Napo l i Feder ico I I ( 2010) . Pro fessor do Núc leo de Pro je to (ARQ / UFSC) . Atua na Pós Graduação PG AU- C idade. Membro do Grupo de Pesq ui sa da Mo dern idade em Arqu it etu ra e Urban ism o e NUCOMO (ARQ/ UFSC) . Membro I NEP/SI N AES gsy unes @uo l.com.br 3 Graduando em Arqu it etu ra e Urban ismo pe la UF SC. Bo ls is ta Vo lun tá r io em Programa de In ic iação Cien t í f i ca (UF SC) . Membro do Grupo de Pesqu isa da Modernid ade em Ar qu ite tu ra e Urban ismo e NUCOMO (ARQ/UFSC) .Emai l : mmsansao@gmai l . com 4 Graduanda em Arqu it etu ra e Urban ismo pe la UF SC. Bo ls is ta Vo lun tá r ia em Programa de In ic iação Cien t í f i ca (UF SC) . Membro do Grupo de Pesqu isa da Modernidade em Ar qu ite tu ra e Urban ismo e NUCOMO (ARQ/UFSC) . Emai l : mar iannasgodoy @gma i l. com 5 Graduanda em Arqu it etu ra e Urban ismo pe la UF SC. Bo ls is ta Vo lun tá r ia em Programa de In ic iação Cien t í f i ca (UF SC) . Membro do Grupo de Pesqu isa da Modernidade em Ar qu ite tu ra e Urban ismo e NUCOMO (ARQ/UFSC) . Emai l : r a faela9souza@gma il . c om

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i lha ao cont i nente, e da Avenida Hercí l io Luz, na área per i fér i ca cent ral , i nic ia -se def ini t i vamente o processo de modernização de F lor ianópol is, que então se consol i da como capi tal catar inense. A poster ior expansão em di reção ao nor te da I l ha, nos anos de 1950, prenuncia a at iv idade tur íst ica l igada à balneabi l idade. Outro avanço urbano i mportante acontece na década de 1960,

quando se efetua a aber tura de uma grande Avenida na Baía Nor te, chegando ao cent ro da I lha. Este fato viabi l i za a poster ior instal ação da universidade federal e do órgão estatal atuante no processo de el et r i f i cação do estado.

O processo de renovação urbana da área cent ral passa então pela ver t ical ização das novas edi f i cações, ent re as décadas de 1950 e 1970, cont rastando com a malha urbana pré-exist ente, da cul tura luso-brasi lei ra, e sua arqui t etura t r adi cional , quase sempre modesta e de volumetr ia hor izontal . A presença dessa arqui tetura de l inguagem moderna representa a sintoni a dos governantes locais com o espí r i to de renovação nacional , elemento comum desses di f erentes cic l os da moderni dade.

Como resul tado da pesquisa encontram-se mapeados os locais das edi f icações e espaços urbanos modernos divi didos em cinco setores, quat ro na i lha e um no cont inente. Proj etos e obras ainda existentes ou desaparecidos são l i stados, bem como os di versos agentes envolvi dos, autores e cl ientes. A lém de subsidiar ações de preservação, o t r abalho t em por obj et ivo divulgar o percurso deste ideár io na conf iguração urbana da cidade de F lor ianópol i s, suger indo rotei ros, f ís icos e vi r tuais, deste pat r imônio para moradores e

visi t antes da ci dade.

A cidade modernizad a O Município de F lor ianópol is compreende espacialment e uma porção

insular , local izada na costa at lânt ica, a I lha de Santa Catar ina, e uma cont i nental , o Est rei to. No contexto dos cicl os da modernidade, ent re os anos de 1930 e 1970, a cidade de F l or ianópol i s, capi tal de Santa Catar ina, tem seu desenvolvimento expl ic i tado em grande par te por edi f i cações e espaços urbanos projetados e const ruídos nas l inguagens modernas referenci adas nesta época (TEIXEIRA, 2009) .

Grande par te do processo de modernização do município deveu-se a

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ações estatais no sent ido de consol idar F lor ianópol is como capi tal do estado, como af i rmado aci ma, no iníc io do texto . A cidade i nic ia esse processo na década de 1930 e t em um per íodo de menor crescimento na década de 1940, quando os problemas gerados pel a 2ª Guerra Mundi al at ingi ram a capi tal , acabando por estagnar as at iv idades por tuári as, sua pr incipal economi a

urbana. O ideári o moderno recebe novo impulso na década de 1950, em processo af inado à conjuntura pol í t ica naci onal dos cicl os de desenvolviment ismo e que consagr ou a vontade das el i tes locai s. Nessa época, houve a renovação urbana da área cent ral e um processo de ver t ical ização das edi f icações, conforme ci tado anter i ormente.

Uma t ransformação urbana importante acontece na década de 1960, reforçando essa vocação tur íst ica do municípi o: a aber tura de uma grande Avenida na Baía Nor te chegando ao cent ro da I lha, l igando o cent ro formador aos seus bal neár ios. A expansão em di reção ao nor te da I lha pren unciar ia a at ividade tur íst ica, l igada à bal neabi l idade, como nova at iv idade econômica. Esta região for t aleceu-se como vetor do cresci mento também at ravés da instal ação da universidade federal e de órgão estatal atuante no processo de el et r i f i cação do estado em suas imediações. (SUGAI, 1994)

A t ransformação da l inguagem arqui tetôni ca foi marcante considerando o per íodo abordado em sua ampl iação, nos anos de 1930 a 1980. No processo foram const ruídas edi f icações em l inguagem Art Déco, Racional ismo Clássico, Modernismo e poster iormente, em uma espécie de canto do cisne do moderno,

na l inguagem convencionada como Brutal ismo. A pal avra vem do f rancês “brüt ”, desi gnando uma arqui tetura crua, t al como revelada ao se ret i rarem os mol des da edi f i cação em concreto armado. Isso t raduzi r ia, por cont radição, um ref i namento da técnica const rut iva, revelando a verdade dos mater iais. O Art Déco, como l inguagem de uma moderni dade popular ( porque não or iunda de um movimento erudi to) , vai geometr i zar os ornamentos, mimet i zando os el ementos formais das máquinas, símbol os expl íci tos da modernização. O Raci onal ismo Clássico, embora já se valendo da t écnica do concreto armado, vai ut i l i zar este de forma discreta. A vol umetr ia resul tante (pr incipalmente em edi f íc ios coorporat ivos) vai fazer uma interpretação atual izada dos el ementos da coluna clássica: embasamento, desenvolvimento em al tura dos pavimentos

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( fuste) e coroamento (capi tel ). O Modernismo, em sua acepção mais erudi ta, compondo um Movimento de vanguarda, vai propor uma l inguagem de teor abst rato, calcada por um lado, na t écnica const rut iva do concreto armado e sua plast ic idade, e por out ro na el iminação do ornamento, propondo uma funci onal idade imediata, alusiva à modernidade da máquina.

Como em mui tos out ros l ugares do Brasi l , houve simul tanei dade temporal de inserção urbana das l inguagens Déco, Racional ista e Moderna. Isso se expl i ca pela conjuntura cul tural da época, na qual essas arqui teturas eram encaradas t odas como modernas, ou par te de um processo de modernidade da cidade.

Diversos elementos foram os propulsores dessa modernidade, tais como: a ação do capi tal pr ivado e a inf luênci a dos Planos Di retores, reguladores do planejamento urbano; as inic iat ivas estatais f ederal , estadual e municipal , e seu impacto no espaço urbano e no imaginár io da popul ação. Neste contexto, a presença da arqui tetura de l inguagem moderna, representou a sintoni a dos governantes locais com o espí r i to de renovação naci onal , comum aos di ferentes cicl os.

O processo de renovação urbana inic ia pe la área cent ral , sendo as caracter íst icas pr incipais do per í odo abordado o adensamento da regi ão e a t ransformação de l inguagem das arqui teturas, cont rastando radicalmente com as arqui teturas anter iores da cidade t radicional pela volumetr ia e caracter íst icas est i l íst icas e const rut ivas. A área passar ia também por um

início de ver t ical i zação em função do desenvolvimento urbano, val or ização imobi l iár ia e concentração de equi pamentos e i nf raest rutura no coração da cidade.

A est rutura fundi ár ia, que t r adicionalmente era marcada pel a t radição luso-brasi lei ra, foi sendo modi f icada nesse processo, at ravés da junção de lotes e consequente const rução de novas edi f icações em maior escala, atendendo aos programas arqui tetônico-urbanos da época. Dentre eles, podemos destacar os hotéis, cinemas, c lubes, edi f í cios estatais, r esidenciais e de escr i t ór ios. (TEIXEIRA, 2009)

Os vest í gios mater iai s do i deár io mo derno resul tantes dessas ações estão em fase f inal de levantamento e documentação. Deste quadro geral

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pode-se destacar a exi stência de obras importantes como representat ivas do ideár i o do movimento modernista nacional na regi ão: o Lagoa Iate Clube (1969) e o projeto de loteamento do bal neár io Jurerê de Oscar Niemeyer (1957); os proj etos pai sagíst icos de Bur le Marx para o aterro da Baía Sul e praça de convivência junto à rei tori a da Universidade F ederal de Santa

Catar ina (1970) ; o edi f íc io Normandie (1959) , de Rober to Fél ix Veronese; a infel izmente dest ruída residência Z ipser (1956) e o Palácio Santa Catar i na (1967) de Hans Broos; a B ibl ioteca Públ ica (1988) e as passarel as de Lelé (João F i lguei ras Lima) ; e a Assembleia Legi slat iva do Estado de Santa Catar ina (1964) de Pedro Paulo de Melo Saraiva, Paul o Mendes da Rocha e A lf redo Paesani .

Neste processo de estudo e reconheci mento do modernismo em Santa Catar ina, é notável , sej a na área das ar t es p lást icas, visuais ou da arqui tetura e urbanismo, a concentração de esforços de ref l exão e di vulgação da problemát ica do pat r imôni o moderno somente no meio acadêmico, sendo a mai or ia da produção resul tante de disser tações de mestrado e teses de doutorado real i zadas no Brasi l e no exter ior . O rebat imento destas ações de reconhecimento e preservação no plano i nst i tucional públ ico e pr ivado, e mesmo de gestão governamental , tem ocorr ido de forma lenta e sem resul tados di gnos, considerando sua importânci a para o contexto do desenvol vimento urbano e social do Estado.

Um it inerário para a arq uitetura moderna Os I t inerár ios da Arqui tetura Moderna de F lor ianópol i s se conf i gura m

como produto da pesquisa e regi st ro dos exemplares de edi f icações e setores urbanos consi derados como representat ivos desta l inguagem, podendo t ambém abranger out ras mani festações anter iores e poster iores consideradas importantes para a sua compreensão e consagração .

A l ém de subsídi o para as ações de preservação desse pat r imônio recente, mas não menos ameaçado, este t rabalho t em como obj et ivo di vul gar possí veis percursos, sob a forma de rotei ros desses bens cul t urais, para moradores e vis i tantes da ci dade.

Dentro do enfoque metodológico da pesquisa, f oram mapeados e

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agrupados sob a forma de zoneamentos as edi f i cações e espaços urbanos de interesse para o recor te de estudo da pesqui sa no município de F lor ianópol is. Assim, conforme se pode observar na F igura 1, as regiões da ci dade onde se encontram os exemplares foram def inidas por ci nco setores: Penínsul a Central e arredores (S1) , Cont inente (S2) , e região do Campus Central da

Uni versidade F ederal de Santa Catar ina e Bacia do I tacorubi (S3) , Nor te da I lha (S4) e Lagoa da Conceição (S5) .

Esses zoneamentos ou regiões correspondem em par te ao própr io percurso de modernização da cidade, conf igurando consequentemente suas expansões, como também do cr i tér io espaci al adotado para a classi f i cação dos exempl ares em estudo no âmbi to da pesqui sa .

Figura 1 Mapa geral dos setores distribuídos nas regiões onde se encontram em Florianópolis. Fonte: Google Maps, Captado em junho de 2014. Intervenção gráfica dos autores.

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Como ver i f i cado na pesquisa, a grande concent ração de exemplares local iza-se no cent ro urbano i nsular (S1) , correspondente ao espaço fundador da cidade e suas expansões. Este espaço é del imi tado por uma península t r iangular formada pel as baías Nor te e Sul e pelo maciço montanhoso a Leste, o Morro da Cruz. Assim tem-se grande concentração i nic ial de exemplares na

área do entorno da Praça XV e, poster i ormente, nas áreas def inidas pel a Avenida Hercí l io Luz e Chácara de Espanha.

Foram cadast radas até o momento 53 exemplares de projetos e obras real izadas ai nda exist entes e t rês demol idos. No processo de t rabal ho são ident i f i cadas edi f icações, lot eamentos, proje tos paisagíst i cos e equipamentos urbanos. Cada exemplar tem sua especi f icação, com local ização, autor ia, data de const rução e de projeto, usos (or igi nai s ou atuais) , número de pavimentos, descr ição do edi f í cio, estudo de sua inserção no contexto, referênci as bi bl iográf icas, fotos e desenho técnico, quando disponí vel .

Na execução t em si do ut i l i zado o método hist ór ico-cr í t i co, ut i l i zando de recursos como pesqui sa de campo, bibl iográf i ca, fontes pri már ias (proj etos arqui tetônicos or iginais) e documentação i conográf ica ( f otos e desenhos) . Esses elementos col etados foram organizados e anal isados como objeto de ref l exão cr í t i ca.

Paralel amente ao cadast ro de exemplares, a pesquisa procura t ambém fazer o regist ro das autor ias dos proj etos, t raçando assim o per f i l dos prof issionais observando sua formação, atuação em escr i tór ios e i nst i tuições

públ i cas, número de obras e suas especí f i cas concepções como cont r ibuição para a produção regional . Encontram-se regi st rados até o momento 30 autores, ent re arqui tetos, engenhei ros, desenhistas e um paisagista, bem como os di versos agentes envol vidos, proj et istas e cl ientes.

O Setor 1 (S1) , correspondente à península cent ral , compreende o mai or número de exempl ares, sendo f ormado por edi f i cações, praças e equipamentos de di ferentes per íodos e l inguagens, demonstrando a inserção e subst i tuição de exempl ares gerada no processo de modernização do núcl eo or i ginár io da cidade. Neste espaço destacam-se os projetos const ruídos para edi f íc ios administ rat ivos públ i cos, serviços de hotel ar ia e hospi tais. As const ruções resi denci ais mul t i fami l iares em al tura e poster i ormente, as

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uni fami l iares dos l oteamentos de expansão, tornam-se os grandes invest imentos i mobi l i ár ios da regi ão. Ent re as pr incipai s obras desf iguradas encontra-se o proj eto dos jardins para o aterro da baía sul , o Parque Dias Velho (1970) de Rober to Bur le Marx.

Figura 2 – Vista aérea da área central em 1950, no início do processo de modernização pela verticalização. Fonte: Casa da Memória FFC, PMF.

Figura 3 – O Edifício das Diretorias e sua inserção urbana em esquina da área central. Fonte: Acervo da Pesquisa Itinerários da Arquitetura Moderna na Região de Florianópolis. Dario de Almeida

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Prado, captado em 19 maio de 2008.

O Setor 2 (S2) , com quatro exempl ares cadast rados, corresponde a área Cont inental , sendo estes exemplares um edi f íc io públ ico inst i tucional , dois resi denci ai s e um de uso comercial . Neste destaca-se o Edi f ício Normandie, projetado por Roberto Veronese em 1964 como hotel e cassino, hoje abr igando apar tamentos residenciais (BALTHAZAR, 2012) .

No Setor 3 (S3) , cor respondente à área da UFSC e I tacorubi , se deu a expansão da cidade na segunda metade do sécul o XX em diante , com oi to edi f íc ios inst i tucionais, sendo cinco públ i cos. Na área da Tr indade encontram-

se os edi f íci os inst i tucionais do campus da UFSC, com const rução inic iada em f ins da década de 1950, antes mesmo do estabelecimento of i cial da inst i tuição. Destacam-se a B ibl ioteca Universi tár ia (1959) , a Rei t or ia (1959) , o Centro de Convi vênci a (1960) e a Praça da Cidadania (1970) , projeto de Rober to Bur le Marx, atualmente al terada parcialmente. Há ainda nas imediações da universi dade o edi f í cio da El et rosul , de 1975. No bai r ro do I tacorubi , ao nor t e, encontram-se as sedes da CELESC (1988) , TELESC (1976) e do CREA (1978) , que representam o úl t imo cic lo da modernização da capi tal regi st rado na pesquisa.

Figura 4 – Vista da Reitoria da UFSC, do Centro de Comunicação de Expressão e da praça central projetada por Roberto Burle Marx. Fonte: AGECOM – UFSC, Captado em 13 de março de 1996.

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No Setor 4 (S4) , def inido na região de Jurerê, l ocal izado no Norte da

I lha, foi cadast rado o loteamento Praia do F or te, de autor ia de Oscar Niemeyer . Projeto de 1957, o loteamento incl uía uma edi f icação para restaurante conhecida como Catet inho, poster iormente demol ida. A est rutura

fundi ár ia do loteamento, no entanto, permanece preservada apesar das pressões imobi l iári as, com seus passei os de pedest re em di reção à prai a no mei o de quadra. (TEIXEIRA; ADAMS, 2007)

No Setor 5 (S5) , local izado na porção Leste da I lha, i dent i f i cou-se o complexo para lot eamento à margem da Lagoa da Conceição denominado Centro I nternaci onal de Turi smo – CIT, com sede para cl ube espor t i vo e soc ial , o Lagoa Iate Clube, de 1969, conforme F igura 5 (YUNES, 2009) .

Figura 5 – Vista Aérea do Lagoa Iate Clube – LIC, projeto de Oscar Niemeyer. Fonte: Casa da Memória FFC, PMF [19--].

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Atualmente a pesquisa se encontra em etapa de desenvol vimento f inal , ut i l i zando como campo de estudo a def i nição dos exemplares por respect ivos setores, relacionando e complementando as i nformações levantadas, buscando t raçar as est ratégias de reconhecimento dos percursos e ações de divulgação e preservação do pat r imôni o l evantado at ravés da produção e publ i cação de

ar t i gos, l i vro e conteúdo vi r tual , consi derando esses exemplares em sua importânci a como documentos que conec tam os di versos momentos de produção urbana.

Patrimônio moderno : problemas de co nservação

A arqui tetura moderna, por ser vanguarda, enf rentou a oposição das correntes est i l íst icas conservadoras à época. Com a const rução sistemát ica de projetos, veio a ter também problemas pragmát icos, l igados às questões de tecnologi a const rut iva, manutenção e conservação, como alert a Morei ra (2010, p189) : emprego de mater iais novos sem comprovação empír ica de desempenho, falhas de detalhamento e cons t rução, obsol escência f unci onal e operat iva ao longo do t empo e sist emas de i nf raest rutura ant iquados. Isso t udo al iado, no caso brasi lei ro, a um processo incipiente de indust r ial ização, com suas precar iedades na const rução ci vi l .

São “novos desaf ios que merecem uma ref lexão mai s cuidadosa” (MOREIRA, 2010:189) , que incluem questões di retamente l igadas à atual ização das concei tuações e mecanismos legai s envolvendo a i ntegr idade dessa

produção arqui tetônica em sua especi f i cidade. A lém disso, ocorreram em vár ios exemplos e ci rcunstâncias, al terações, mui tas vezes i r reversíveis , em sua espacial idade proposta. Casos i nfel izmente mais corri quei ros são, por exempl o, o f echamento parcial ou t otal dos pavimentos tér reos e seus pi lot is das edi f icações modernas, como aconteceu com o Hospi tal Celso Ramos, em Flor ianópol is, proj eto de 1959 de autor ia dos arqui tetos Moysés Liz e Walmy Bit t rencour t (CASTELLS, 2012) .

As possibi l idades de f lexibi l i zação espacial no emprego do concreto armado e seu sist ema const rut ivo ret icul ar fasci naram os arqui tetos nos anos de 1950 e acabaram por dominar o campo da t ecnologi a de const rução. Fatores pragmát icos, como a economia de mei os, r epet ição de pavimentos-

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t ipo, ausência de ornamentos ar tesana is e out ros não devem ser desconsiderados na recepção dessa l inguagem, junto aos empreendedores.

Houve, ao que parece, um excesso de conf iança em uma das qual idades mais divulgadas, para além das potencial idades pl ást icas e est ruturais do concreto: sua sol idez, aparentemente inf ini ta. O preço pago pelo vanguardismo

assim também se mani festou na precar i edade e no empi r ismo das soluções est ruturais, com a inexistência de normas técnicas precisas. A pr imei ra norma brasi lei ra – a NB 01 – é de 1940 e o foco nos probl emas de durabi l idade somente f oi obj eto de normat ivas no iníc io do sécul o XXI . Mui tas obras modernas sof reram nesse í nter im os efei tos do t empo, inclusive o da fal ta de manutenção cr i ter iosa, pr inci pal mente em se t ratando de prédios públ i cos.

Por out ro lado, os edi f íc ios modernos f oram const ruídos em um ci clo de ausência de preocupação com a ef iciência energét ica, nos quai s o paradigma dos cinco pontos da arqui tetura moderna prat i camente só incluía os br i se-

solei ls como ar tefatos cont roladores da inso lação. Caber i a aos equi pamentos de ar condi cionado resolver esse problema, o que l evou, em mui tos casos, a inter ferências danosas na conf i guração plást i ca e int egr idade f ísica das paredes externas dos edi f ícios modernos.

Um efei to desse teor parece t er ocor r ido no Edi f íc io das Di retor ias, projeto do Engenhei ro e Arqui teto Domingos Tr indade, de 1953-1961 (CASTRO, 2013) . As salas vol tadas para oeste são ut i l i zadas à t arde com cor t inas e i l uminação ar t i f i c ial e “a grelha de concreto remanescente ( . . . )

passou a supor te para a f ixação de aparelhos de ar condicionado” (TEIXEIRA et al l , op ci t ) . As i ntervenções contemporâneas de adequação ao uso de novos sistemas mecânicos, el ét r icos e de comuni cações t ambém têm, em mui tos casos, s ido fei tas sem cr i tér ios claros, que respei tem a conf iguração or iginal dessas edi f icações.

Isso ref let i r ia um desconheci mento ou descaso com a importânci a cul tural dessa arqui tetura como pat r imônio urbano. Entendida como mater ial i zação de um ci clo ident i tár io da ci dade e concreção de uma l inguagem arqui tetônica emanada dos programas do nacional -desenvolviment ismo, esse pat r imônio recente não tem ai nda reconhecimento como tal . Além dos problemas inerentes à sua const rução e ut i l ização, como exposto acima, e da

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fal ta de vis i bi l idade histór ica por par te da população e de (mui tos) arqui tetos, a arqui tetura moderna e as demai s l inguagens da moderni dade enf rentam a ausência de efet ivos mecanismos legais de conservação e preservação.

Embora com a cr iação do IPHAN em 1937 se t enha inaugurado a proteção dos bens arqui tetônicos modernos, como o Minist ér io da Educação e

Saúde, no Rio de Janei ro, e a I grej a da Pampulha, em Belo Hor izonte ainda na década de 1940, esse cuidado f oi pontua l . Outra corrente da arqui tetura moderna no Brasi l , fora do âmbi to da chamada escol a car ioca, veio a ser consi derada obj eto de tombamento f ederal somente nos anos de 1980, como foi o caso das t rês casas de Gregor i Warchavchi k (1927 a 1930) . Exemplares di gnos de proteção nacional , como a Casa de Vidro de Li na Bo Bardi (São Paul o, 1951) e o E levador Lacerda (Salvador , 1929) cr iação de F leming Thiesen/Prent ice & F loderer f oram el encados somente no i ní c io do sécul o XXI (ANDRADE JÚNIOR; CARVALHO; FREIRE, 2010:333) .

Em F lor ianópol is não há edi f icações modernas tombadas nas esferas federal e estadual . Persi ste em geral a ausência de uma cont inuidade sistemát ica de i dent i f i cação e regist ro, bem como ações de preservação do pat r imônio da moderni dade no plano nacional . No plano estadual , ao que parece, não há também movimentação mai or nesse sent ido.

Na esfera do município, da cidade-cap i tal , as cont radições se acumul am. Pressionados pel a especulação imobi l iár ia e consequente valor ização dos l otes cent rais , os imóveis representat ivos desse cic l o do

moderno, exemplos i nt eressantes da rel ação edi f íc io-cidade, t êm si do ví t ima sistemát ica das demol ições. Ocorr i da em outubro de 2010, a demol ição do Edi f íci o Mussi , projeto de Wol fgang Ludwig Rau de 1957, resul tou de um ato municipal cont roverso. A municipal idade aparentemente desconsiderou duas de suas leis de proteção pat r i monial : a Lei 6486/2004 que determina que não será permi t ido sem prév ia autor ização do SEPHAN (Serviço do Patr imôni o Histór ico, Ar tíst ico e Natural ) qual quer obra ou demol ição no entorno de edi f i cações preservadas nas categor ias P1 e P2; e a Lei Complementar 154/2005, que proíbe em um raio de 100 metros, obras “que possam i nter f er i r na visual ização de edi f icações i ntegrantes do pat r imônio”. Esse era o caso do Ed i f íci o Mussi , v izinho da Igrej a Luterana, bem munici pal tombado.

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Outro caso é o da Residência Z ipser , proj eto de Hans Broos de 1959, também si tuada na península cent ral e obra de um arqui teto internaci onalmente conhecido. Projeto concebido em l inguagem moderna, guardada a cont radição, poder ia ser considerado um representante do modernismo clássico e exemplo do avanço da cidade para fora do núcl eo

fundador, com lotes mais generosos e uso resi dencial . Novamente os especial istas do órgão municipal de preservação f oram, ao que parece, venci dos pela força do capi tal i mobi l iár io e por cer ta i noperânci a dos di r igentes do setor públ ico competente.

Os aspectos levantados nesse t rabal ho levam a crer na grande importânci a do regist ro e documentação dessa produção moderna, at ravés de métodos e mídias contemporâneos. Um dos objet ivos ser ia dar apoi o logíst ico a ações de preservação e educação pat r imoni al s ist emát ica, dando maior v isi bi l idade e reconhecimento, junto à população, dessas obras representat ivas de ci clos sociocul turai s da cidade-capi tal . Referências e bib liograf ia pesquisad a

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