Cinco Pontos Da Arquitetura Moderna

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    Os cinco pontos da arquitetura moderna e a paisagem

    Dos cinco pontos fundamentais da arquitetura moderna difundidos por Le

    Corbusier147como condio para a existncia da experincia moderna do edifcio,

    pelo menos trs deles possuem relao direta com a questo da paisagem, sendo

    amplamente absorvidos pelos arquitetos brasileiros e sendo tambm

    possibilitadores de uma articulao harmoniosa e de uma cooperao mtua entre

    arquitetura e natureza.

    Em primeiro lugar, a noo de trreo livre que possibilitado pelo uso dos pilotis

    que eleva o volume arquitetnico do nvel do solo, mantendo com ele poucos e

    rgidos pontos de apoio, possibilitando plena adaptao s condies topogrficas

    do terreno e gerando, atravs desta manipulao, espaos livres de convivncia,

    estar e repouso nas reas cobertas sob o edifcio. Desta forma, se constri a

    possibilidade de circulao por baixo do edifcio, sem interrupo do movimento

    contnuo da ambincia.

    (...) os pilotis, ao mergulhar nos declives, dariam suporte casa pura,

    criariam gratuitamente espaos utilizveis, permitiriam que se plantassem

    rvores e se formasse gramados, substituindo uma paisagem de pedra,

    melanclica e medievalesca, por espaos verdejantes e contnuos, no meio

    dos quais surgiriam apenas os prismas das residncias. 148

    Os pilotis se caracterizam como elementos de transio entre o objeto

    arquitetnico e o solo liberado para uma livre circulao, deixando o solo virgem

    147Os Cinco Pontos da Nova Arquitetura so: planta livre (atravs de uma estrutura independentepermite a livre locao das paredes, j que estas no mais precisam exercer a funo estrutural);fachada livre (resulta igualmente da independncia da estrutura, assim, a fachada pode serprojetada sem impedimentos); pilotis (sistema de pilares que elevam o prdio do cho, permitindoo trnsito por debaixo do mesmo); terrao jardim (transformando as coberturas em terraoshabitveis, em contraposio aos telhados inclinados das construes tradicionais) e janelas emfita, oufentre en longueur(tambm conseqncia da independncia entre estrutura e vedaes, setrata de aberturas longilneas que cortam toda a extenso do edifcio, permitindo iluminao maisuniforme e vistas panormicas do exterior). Foram publicados em 1926 na revista francesaLEspirit Nouveau, porm implcitos no esquema Dom-ino de 1914 no qual se separava

    funcionalmente o suporte da vedao.148LE CORBUSIER. Precises: sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. Cosac& Naify, 2004. p. 61

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    e a paisagem intacta. Eles garantem a integridade formal da arquitetura purista

    sobreposta s caractersticas particulares de cada terreno149, acentuando o domnio

    da edificao sobre o entorno, sobre esse ambiente ideal. Assim, o edifcio pode

    ser visto por inteiro e, ao mesmo tempo, o observador, descolado do cho, abarca

    toda a vista do entorno, descartando, de certa maneira, uma relao mais ntima

    com o espao circundante.

    Imagem 44: Pilotis da Fundao Sua Cit Universitaire, Paris, Frana. Projeto de Le Corbusier.

    Esta manobra resolve por um lado o problema tcnico-funcional, possibilitando a

    livre circulao de pessoas e veculos sob casa, mas por outro, arma um

    dispositivo que tambm formal, na medida em que exige uma soluo para a

    superfcie do cho, um novo desenho para o territrio, no somente como apoio

    ao edifcio, mas como componente integrante de um nico projeto que agregue

    arquitetura, topografia, pavimentao e ajardinamento. E os arquitetos brasileiros,

    assim como o paisagista Burle Marx, compreenderam esta demanda, assimilando

    em seus trabalhos essa caracterstica de integrao entre objeto construdo eambiente natural atravs de uma implantao que favorea esta relao com a

    paisagem. Como resultado, ocorre um extravasamento do desenho do edifcio que

    passa a englobar o desenho do territrio e da paisagem. O jardim da frente se une

    ao jardim dos fundos, tornando-se um s, h ganho de espao, interao com o

    verde e sensao de bem estar. Ao incorporar a paisagem, a arquitetura assimila-a

    na sua estrutura, gerando uma nova entidade espacial.

    149As construes apoiadas em pilotis poderiam ser transpostas a qualquer stio e essa mobilidadeera anunciada por Le Corbusier em suas conferncias.

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    Opera-se assim uma grande modificao na relao entre arquitetura e natureza: a

    segunda no mais submetida primeira, mas elas interagem com respeito,

    possibilitando novos dilogos entre os possveis prismas puristas corbusianos e as

    paisagens circundantes. A espacialidade moderna exige uma nova escala de

    apreenso, e, por conseguinte, novas determinaes no territrio natural. Novas

    paisagens so projetadas no mais como puro embasamento para a forma

    arquitetnica, mas como possibilidade de experincia do ambiente de forma mais

    ampla. Assim, surge a necessidade de dar ao desenho do territrio uma nova

    visualidade, uma fora expressiva, possibilitando algumas aproximaes desta

    problemtica com a arte moderna no que se refere s tenses da superfcie visual.

    Era necessrio dar forma ao novo mundo, atribuir valor aos espaos, possibilitar

    natureza um novo desenho da conscincia, tornando-a inteligvel nas suas

    determinaes. Esta articulao definiria relaes harmnicas dos indivduos com

    as novas conformaes do ambiente.

    Na frente das grandes fachadas lmpidas transplantaremos neste inverno

    algumas belas rvores, cujo arabesco enriquecer a composio e cuja

    presena, quanto mais estudarmos a arquitetura e urbanismo, mais nos

    parecer bem vinda. (...) rvore, coisa mais maravilhosa e amada pelos

    homens.150

    Um segundo ponto amplamente relacionado com o primeiro a utilizao do

    terrao-jardim, a quinta fachada corbusiana, que se tornou um elemento central,

    quase mstico da arquitetura moderna para o sonho utpico da arquitetura de uma

    cidade do futuro, o contenedor de uma paisagem idealizada, um refgio, repletode flores, heras, tuias, loureiros da china, okubas, zaragatoas, lilases e rvores

    frutferas 151.

    No era um espao aberto a ser preenchido indiscriminadamente, nem era a

    oportunidade de se construir uma mini-rplica da natureza, de maneira romntica.

    150LE CORBUSIER. Precises: sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. Cosac

    & Naify, 2004. p. 52151LE CORBUSIER. Precises: sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. Cosac& Naify, 2004. p. 69

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    Tambm extrapola a simples questo funcional de possibilitar ao homem uma

    existncia saudvel, atravs do uso de espaos ensolarados, higinicos. Segundo

    Le Corbusier, o tipo destes jardins no ar parece-me a frmula moderna e prtica

    de usufruirmos do ar e estar ao alcance imediato do centro da vida. 152Era um

    terrao acessvel, que podia ser plantado, um espao de estar e contemplao que

    oferecia uma intensa experincia da natureza por promover uma relao com o

    cu e com o sol, onde se podia estar acima das copas das rvores do entorno,

    flutuando acima da linha do horizonte, evocando calma e reflexo.

    A tecnologia possibilitava a captura de uma poro do plano trreo deslocando-a

    para cima, criando um solo completamente artificial:

    O concreto armado chega ao teto-terrao e, com uma capa de quinze ou

    vinte centmetros de terra, ao teto-jardim. A grama d sombra e as razes

    comprimidas formam um espesso feltro isolante. Isolante do frio e isolante

    do calor. Ou seja, um produto isotrmico gratuito que no precisa de

    nenhuma manuteno. () O jardim do teto tem vida prpria; graas ao

    sol, as chuvas, aos ventos e aos pssaros portadores de sementes. 153

    No Brasil, o terrao-jardim assume mais do que um simples gesto de

    reconciliao ou uma maneira de introduzir a natureza em seu estado bruto na

    construo. Ele gera a possibilidade de insero de uma natureza estetizada,

    humanizada dentro ou por cima da arquitetura. Ele possibilita criar um plano com

    tratamento paisagstico paralelo ao solo onde a arquitetura se implanta. Desta

    maneira, o terrao-jardim passa a ser pensado tambm como extenso do edifcio,

    parte de sua estrutura, formando com ele um todo indissocivel composto pornatureza humanizada (entorno e terrao) e arquitetura.

    Quanto ao jardim suspenso do Ministrio, ele agora est to crescido que,

    olhando o prdio de baixo para cima, tem-se a misteriosa sensao de uma

    152LE CORBUSIER. Precises: sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. Cosac& Naify, 2004. p. 105

    153LE CORBUSIER. Una pequea casa. Buenos Aires, Infinito, 2005, p. 28. Traduzido e citadopor Juan Jos Mascar no texto Vigncia dos critrios ambientais de projeto de Le Corbusier.Arquitextos (So Paulo. Online), 2008.

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    selva erguendo-se fantasticamente para o cu e trazendo as nuvens de

    chuva para o nvel dos dois tubos exaustores azuis que encerram os poos

    de elevador e as cisternas de gua do que ainda o mais belo arranha cu

    do Rio.154

    O projeto para o Ministrio de Educao e Sade (1936) foi pensado de maneira a

    possibilitar ao edifcio trs camadas sobrepostas de paisagem construda

    (projetada por Burle Marx): a primeira camada, a mais alta, no terrao da

    cobertura do bloco principal; a segunda, alguns metros abaixo, o terrao sobre a

    ala das exposies; e a terceira e ltima camada, ao rs do solo, onde os canteiros

    se espalham o redor do prdio. como se a paisagem suspensa dos terraos

    jardim transbordassem os limites fsicos e atingissem todo o terreno, estampando-

    o com a mesma linguagem. Decorre deste movimento uma conjuno de

    percepes provenientes de trajetos horizontais e verticais: a viso do caminhante

    ao nvel trreo que descobre a riqueza visual dos planos que se constroem ao seu

    redor; a contemplao dos que se situam nos andares superiores em direo ao

    terreno; ou ainda a contemplao a partir do terrao, ao ar livre, de onde se pode

    construir relaes entre os jardins, a arquitetura e a paisagem circundante.

    Imagem 45: Terrao-jardim do Ministrio de Educao e Sade

    154VINCENT, Claude. The modern garden in Brazil In: Architectural Reviewmaio de 1947,

    pg 172. Citado por FRASER, Valerie. Canibalizando Le Corbusier: os jardins do MES de BurleMarx In: CAVALCANTI, Lauro; EL DAHDAH, Fares.Roberto Burle Marx: a permanncia doinstvel, 100 anos.Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 224

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    Vale a pena ressaltar que antes da concretizao deste projeto, Burle Marx

    realizou experimentaes no terrao jardim do Instituto de Resseguros do Brasil

    (IRB), projeto de Marcelo (1908-1964) e Milton Roberto (1914-1953), entre 1939

    e 1942.155 Como j visto, o conceito de terrao-jardim preconizado por Le

    Corbusier define a cobertura como um lugar onde se pode contemplar a

    arquitetura e paisagem. No projeto para o IRB, havia uma ampliao deste

    conceito - que seria posteriormente aperfeioado no Ministrio de Educao e

    Sade atravs da incluso de acontecimentos plsticos, sociais e de lazer no

    espao alm de uma experimentao com a vegetao nativa exuberante e do

    estabelecimento de uma correspondncia definitiva entre edifcio, jardim e

    paisagem:

    Completo com lago e pedras para se pisar, plantado com feixes de papiros

    emplumados, retalhos contrastantes de plantas vermelho bife e grama Saint

    Augustine verde claro, este 'fragmento terrestre' da natureza provavelmente

    conseguiu um efeito surrealista em contraste com o contexto do Rio

    moderno e a baa, espelhando no plano as montanhas de Niteri ao

    longe.156

    Imagem 46: Projeto para o terrao-jardim do Instituto de Resseguros do Brasil

    155 Ver DOURADO, Guilherme Mazza.Modernidade Verde: Jardins de Burle Marx. Senac, SP.2009. p. 176

    156 Ver IMBERT, Dotothe. Parterres no ar: Roberto Burle Marx e o jardim suspensomodernista. In: CAVALCANTI, Lauro; EL DAHDAH, Fares. Roberto Burle Marx: apermanncia do instvel, 100 anos.Rio de Janeiro: Rocco, 2009, p. 206

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    De volta ao ltimo dos cinco pontos da arquitetura dos trs que nos interessa

    explorar aqui - vale a pena citar a questo das aberturas do edifcio, um problema

    fundamental para Le Corbusier. A fachada se oferecia livre de comprometimento

    estrutural, possibilitando a ampliao mxima dos vos. As grandes janelas

    corridas resultantes possibilitavam a concepo de um limite por vezes impalpvel

    entre interior e exterior, atravs da ampla apreenso da paisagem circundante

    arquitetura. Segundo Sophia Telles:

    a relao entre interior e exterior ter sido o problema mais delicado do

    projeto moderno, seja na posio limite de Mies, que suprime a fachada e

    quase dissolve o objeto em um plano extensvel, indicando deslocamento do

    olhar perspectivo, seja na posio de Corbusier, que mantendo o volume,

    obriga-o a um exerccio constante em relao ao corte e fachada, e o leva

    a enfrentar a locao do objeto em relao paisagem e, finalmente, o faz

    definir a arquitetura como o objeto construdo para ser essencialmente uma

    presena plstica para o julgamento do indivduo. 157

    Os grandes vos contnuos vedados por panos de vidro debruam-se sobre a

    paisagem como mirantes contemplativos, capturando, enquadrando e realando a

    vista atravs da arquitetura.Com este artifcio, os limites entre interior e exterior

    se dissolvem, havendo um extravasamento da arquitetura em direo paisagem

    ao mesmo tempo em que a paisagem invade e contamina a arquitetura, ao entrar

    no ambiente domstico, reforando o sentimento de continuidade entre estes.

    Como num quadro, a fachada um plano alm do qual se abre um espao

    imaginrio que traz luz e vista do entorno, onde o espao natural exterior recortado. Assim, a paisagem, que um patrimnio coletivo, assume tambm a

    propriedade esttica particular atravs da janela-quadro, aproximando a natureza

    da convivncia domstica.

    157 TELLES, Sophia. Arquitetura Moderna no Brasil: o desenho da superfcie. Dissertao deMestrado. So Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas USP, 1998.p. 29

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    Imagem 47: Apropriao da paisagem no projeto de arquitetura. Croquis de Le Corbusier.

    A arquitetura moderna brasileira explora ainda os ptios e varandas - elementos da

    arquitetura tradicional brasileira - que funcionam como mecanismo de transio e

    permeabilidade entre ntimo e social, entre interior e exterior. A utilizao de

    ptios possibilita abrir o interior das casas sem perder o sentido de intimidade do

    ambiente domstico. Alm do mais, estes elementos podem ser transformados em

    reas livres de contemplao, possibilitando a informalidade, a leveza e a abertura

    possibilitada pelo clima dos trpicos, transmitindo um equilbrio reconfortante e

    convidativo, entre homem e natureza.

    A casa moderna extraordinariamente sensvel ao mundo exterior; ela

    participa no somente da paisagem como do clima, dos acidentes

    topogrficos, e at das variaes atmosfricas. (...) A revoluo

    arquitetnica no , pois, puramente externa. Ao contrrio. Ela se dirige

    para fora e para dentro do edifcio, onde permite que pela primeira vez,

    tenhamos conscincia fsica do avesso do espao, da sua existncia

    fsica.158

    158PEDROSA, Mario.Dos murais de Portinari aos espaos de Braslia.So Paulo: Perspectiva,Coleo Debates n.170, 1981. p. 253

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    Imagem 48: Casa sem dono 3, projeto de Lucio Costa na dcada de 1930.

    De maneira clara e precisa, Le Corbusier resume os trs pontos da Nova

    Arquitetura explorados acima: o terreno sob a casa, ficou desimpedido; o teto,

    foi reconquistado; a fachada est inteiramente livre e, assim, no estou mais

    paralisado. 159

    Tambm a enftica soluo dos brise soleil um recurso que atinge forte

    expressividade ao transformar a extensa superfcie do edifcio em um plano

    ativado por uma operao compositiva de luz e sombra, que gera a possibilidade

    de abertura para o exterior sem o prejuzo da proteo contra o sol. O cobog

    um elemento vazado que possibilita vedao parcial da construo, trazendo

    memria os muxarabis das edificaes coloniais mineiras. Do lado de fora, o

    efeito do rendilhado adquire um valor de superfcie e de vedao; pela vista

    interior, difunde a luminosidade exterior em uma luminosidade controlada e

    ntima, trazendo a natureza para o interior de maneira sutil, e realizando uma

    transio suave para a cidade160.

    159LE CORBUSIER. Precises: sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. Cosac

    & Naify, 2004. p. 52160TELLES, Sophia Lcio Costa: monumentalidade e intimismo. So Paulo, Novos EstudosCEBRAP, 1989. p. 85-86

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    Imagem 49: Cobogs no Parque Guinle, projeto de Lucio Costa (1948).

    Tambm associado aos cinco pontos, o conceito dapromenade architecturale- ou

    o passeio arquitetural -possibilita a valorizao do percurso como uma estratgia

    conceitual de fruio da relao objeto arquitetnico versusnatureza. Trata-se

    de uma maneira de ordenar tanto interna como externamente a arquitetura,

    pontuando a experincia com surpresas constantes, trabalhado conscientemente

    com a realizao de variaes do percurso. Atravs desta manobra, age-se no

    sentido de obrigar a experincia do objeto em diferentes posies e pontos de

    vista, variando constantemente a relao entre o objeto e o fruidor possibilitando

    tambm o prolongamento da percepo tanto da paisagem quanto do edifcio. O

    prprio Le Corbusier revela a origem do conceito da Promenade:

    A arquitetura rabe nos d um ensinamento precioso. Ela apreciada no

    percurso a p; caminhando, se deslocando que se v desenvolverem as

    ordenaes da arquitetura. Trata-se de um princpio contrrio

    arquitetura barroca que concebida sobre o papel, ao redor de um ponto

    terico fixo. Eu prefiro o ensinamento da arquitetura rabe. 161

    Como j visto anteriormente, a partir da experincia da paisagem carioca, Le

    161"Larchitecture arabe nous donne un enseignement prcieux. Elle sapprcie la marche, avecle pied; cest en marchant, en se dplaant que lon voit se dvelopper les ordonnances de

    larchitecture. Cest un principe contraire larchitecture baroque qui est conue sur le papier,autour dun point fixe thorique. Je prfre lenseignement de larchitecture arabe. Le Corbusier.Jeanneret. Oeuvre Complte 1929-1934, p. 24

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    Corbusier reconstri seu ideal urbano. As solues preconizadas para a cidade

    ideal do futuro162 como a Ville Radieuse- com a concentrao de edifcios em

    altura com grandes blocos isolados como unidades autnomas possibilitando a

    liberao de grandes reas de terreno, preservando-se grandes extenses de rea

    arborizada, com a garantia de uma vista desimpedida, alm da presena de sol, ar

    e verde para todos - passavam a demonstrar uma preocupao com a questo da

    paisagem. Neste caso, o isolamento propiciaria uma grande rea verde

    ininterrupta, possibilitando uma maior intimidade com a natureza, num esforo

    por encontrar as condies naturais perdidas na cidade maquinista.

    Imagem 50: Edifcio da Secretaria, Palcio das Naes, Genebra, Le Corbusier, 1922

    No momento conservo o pasto e os rebanhos, o arvoredo secular e as

    encantadoras perspectivas que a paisagem nos proporciona. (...) Tudo

    participa desta composio: os rebanhos, as pastagens, as pequeninas

    flores que esto no primeiro patamar, em que pisamos e que acariciamos

    com o olhar, o lago, os Alpes, o cu... e as propores divinas. 163

    Para ele, a cidade insere-se no meio do verde, como um grande parque, dando

    continuidade e consistncia a uma apropriao do solo, possibilitando ao habitante

    sade e higiene, proporcionadas pelo ar livre:

    A cidade moderna ser repleta de rvores. uma necessidade para os

    162 Le Corbusier e a vanguarda modernista europeia estavam engajados desde os anos 20 na

    articulao de um novo paradigma de projeto para a cidade do sculo XX.163LE CORBUSIER. Precises: sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. Cosac& Naify, 2004. p. 60

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    pulmes, uma ternura com respeito a nossos coraes, o prprio

    tempero da grande plstica geomtrica introduzida na arquitetura

    contempornea pelo ferro e pelo concreto armado. 164

    A presena da natureza nos espaos urbanos, alm de seguir as premissas

    higienistas, possibilita a reconciliao do ser humano com o ambiente natural. A

    cidade transformada num mar de rvores, salpicada por formas prismticas

    puras de cristais majestosos, como imagina o Plan Voisinpara Paris de 1925.

    Como se uma base abstrata verde fosse estruturada por uma arquitetura racional, e

    pontuada por elementos-rvores.

    Imagem 51: Relao entre edifcios e espaos livres, croquis de Le Corbusier.

    A vegetao para Le Corbusier assume o carter de mediador entre a escala

    humana dos habitantes da cidade e a grande escala arquitetnica, dos blocos

    monumentais. Alm disso, a vegetao oferece abrigo e bem estar: a rvore

    parece ser esse elemento essencial ao nosso conforto que proporciona cidade

    algo como uma carcia, uma delicada amabilidade, em meio a nossas obras

    autoritrias. 165

    Podemos dizer que Le Corbusier deu nfase ao poder evocativo da paisagem em

    seus projetos, porm no desenvolveu diretamente um projeto de jardim. Ele se

    164LE CORBUSIER. Precises: sobre um estado presente da arquitetura e do urbanismo. Cosac& Naify, 2004. p. 156165LE CORBUSIER. Urbanismo. So Paulo, Martins Fontes, 2 edio , 2000 p.223

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    preocupou com a presena da natureza na paisagem urbana, mas no elabora

    projetos paisagsticos. Para ele, o solo deve estar livre, e recoberto por um

    gramado amplo e flexvel que permite as circulaes e comporta as funes de

    educao e recreao; trata-se de uma abstrao geomtrica, uma homogeneidade

    verde, que serviria de contraponto para os edifcios - a grande obra humana - e

    possibilitaria o uso democrtico das reas livres. A questo do verde e da

    paisagem para Le Corbusier est mais relacionado ao conceito clssico de

    harmonia com a natureza do que ao gesto de humanizao desta natureza. Para

    ele, a paisagem contemplada, enquadrada e explorada, mas no se estabelece

    com ela uma relao de igualdade. Se mantm numa atitude esttica: a atitude

    racional acaba por conspirar para o distanciamento do observador.

    Neste contexto, Burle Marx tem um papel fundamental pois realiza uma revoluo

    na maneira de conceber o espao do jardim - amplamente conectado com os

    movimentos estticos europeus que lhes eram contemporneos - possibilitando a

    materializao de um procedimento de construo da paisagem mediante uma

    ordem e, consequentemente, o desenvolvimento de uma linguagem necessria

    criao de um objeto projetado. Atravs da imposio do desenho sobre a

    natureza - por intermdio do projeto166 - ele constri uma dimenso esttica. Em

    oposio homogeneidade verde de Le Corbusier onde os gramados, caminhos e

    rvores conformam o espao de onde emerge a arquitetura, se destaca a

    preferncia de Burle Marx por composies coloridas e exuberantes que abraam

    os edifcios. Atravs deste gesto, a paisagem extrapola o conceito de cena

    aprazvelsobre o qual se destaca a arquitetura, transformando-se verdadeiramente

    em um lugaronde se podem instaurar novas relaes entre o espao e o homem.

    Assim, o artista se projeta no meio, constri uma dimenso mais abrangente depaisagem. Alm disso, utiliza em seu repertrio espcies ainda no utilizadas na

    arte do paisagismo bromlias, filodendros, epfitas entre outras - ilustrando esse

    controle na manipulao da matria natural: a partir do respeito pelo localizado e

    pelo particular, cria uma intimidade com os processos e efeitos produzidos pelos

    materiais, buscando uma operao no s esttica, mas geogrfica e botnica, feita

    166Projeto desenho, trao que traduz o dado emprico em dado intelectualou ainda carter

    intencional como afirmao clara da dimenso cultural Ver ARGAN, Giulio Carlo. ArteModerna. Do Iluminismo aos movimentos Contemporneos.So Paulo: Companhia das Letras,1992. p. 25

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    em ateno ao clima, gua, ao solo, ao relevo, e sobretudo flora.

    Observa-se uma inquietude em seus trabalhos, advinda de uma preocupao em

    em buscar novas formas de modelar os espaos. Neste caso, a vegetao tropical

    um poderoso aliado para que o paisagista atinja seus objetivos, atravs da

    explorao das formas, cores, texturas e volumes de determinadas espcies.

    Assim, ele enxerga as plantas no como simples elementos usados para preencher

    as formas de seus canteiros, mas como partes integrantes de um todo, e o faz

    atravs de um processo integrado que torna legvel a complexidade da vegetao

    tropical.

    Vale ressaltar que as definies das composies paisagsticas de Burle Marx

    eram fundamentadas em seu amplo conhecimento das condies da flora

    brasileira. Para tal, realizava incurses ao interior do pas, coletando, analisando e

    colecionando novas espcies, a exemplo das viagens dos naturalistas estrangeiros

    do sculo XIX em misses cientficas. A grande diferena entre eles, como bem

    afirma Ablio Guerra, est na finalidade dessas viagens: enquanto as expedies

    dos estrangeiros eram financiadas pelos governos metropolitanos para que se

    pudesse ter conhecimento especfico das potencialidades econmicas do pas, no

    caso de Burle Marx, as viagens representavam a parte inicial de seu trabalho, uma

    pesquisa de espcies com potencial paisagstico que posteriormente seriam

    introduzidas em seus projetos. Alm do mais, o contato com as paisagens, com os

    costumes e cores de cada regio permitia o desvendamento das realidades

    desconhecidas no interior do pas transformando-se em fonte permanente de ideias

    e trazendo referncias constantes para o meio habitado.167 Para Burle Marx, a

    observao fonte sensvel de compreenso do mundo, vetor de descoberta danatureza que poderia ser estendido para a totalidade orgnica do jardim.

    "E atravs da observao que chegamos a compreender a razo de ser

    de muitas coisas, o sentido da existncia de determinados seres e a beleza

    que neles existe. Quero insistir em que a natureza um todo sinfnico, em

    que os elementos esto todos intimamente relacionados - tamanho, forma,

    167GUERRA NETO, Ablio S. Lucio Costa, Gregori Warchavchik e Roberto Burle Marx: snteseentre arquitetura e natureza tropical. Arquitextos (So Paulo. Online), 2002.

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    cor, perfume, movimento, etc."168

    como se, atravs do processo de observao, ele construsse uma espcie de

    repertrio de possibilidades, sntese do que encontrou de mais interessante nas

    expedies, colecionando, reorganizando e re-endereando estes elementos em

    seu trabalho. Os exemplares botnicos eram colecionados no Stio Santo Antnio

    da Bica, de sua propriedade adquirido em 1949, onde reunia a mais representativa

    coleo de plantas ornamentais brasileiras que se tinha notcia na dcada de 60

    alm de espcies raras dos trpicos em geral.169Na dcada de 80, a totalidade do

    conjunto chegava a 3500 espcies, incluindo exemplares tpicos do Brasil e dos

    trpicos.170

    Imagem 52: Stio Santo Antnio da Bica, atualmente, Stio Roberto Burle Marx, Pedra deGuaratiba, Rio de Janeiro.

    Essa postura investigativa frente natureza, num primeiro momento pode parecer

    um simples gesto de investigao e conhecimento prprio do vegetal e suas

    associaes como matria-prima de seus trabalhos. Mas na verdade, essa maneira

    168BURLE MARX, Roberto. Conceitos de composio em paisagismo.In: Arte e Paisagem. SoPaulo, Nobel, 1987.169 DOURADO, Guilherme Mazza. Modernidade Verde: Jardins de Burle Marx. Senac, SP.

    2009. p. 71170DOURADO, Guilherme Mazza.Modernidade Verde: Jardins de Burle Marx. Senac, SP.2009. p. 77

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    de colocar-se perante as descobertas tm um sentido muito mais amplo: Burle

    Marx cria meios para que toda a populao urbana possa participar desse

    aprofundamento de conhecimento da flora, tornando-a cotidiana da paisagem. Ao

    retirar uma planta do seu habitat natural e reinser-la numa realidade humanizada,

    urbana de um jardim, age no sentido tir-la do anonimato e traz-la para perto das

    pessoas171, proporcionando seu conhecimento dentro da escala urbana e tornando-

    a familiar ao cotidiano da paisagem. H um intercambialidade muito mais ampla

    entre plantas, cidade, solo, clima e pessoas, uma vez que a populao toma

    conscincia das possibilidades de se construir a cidade como um local de

    conhecimento e convivncia urbana. O jardim torna-se um recurso educativo

    atravs da arte e da beleza, na construo de uma outra natureza: a natureza

    humanizada, impregnada de cultura.

    Em funo disso, podemos dizer que Burle Marx cria no s um cruzamento entre

    cultura e natureza, racionalidade e sensibilidade, mas tambm entre tradio e

    modernidade no sentido em que cria uma abertura para os novos procedimentos

    plsticos da nova esttica da modernidade e ao mesmo tempo se interessa pelas

    razes e pelo vernculo perdido do passado172. Ele mantm de um lado a

    racionalidade e universalidade abstrata fundamentadas em Le Corbusier e no

    cubismo e por outro, enfatiza a especificidade da paisagem tropical e a

    singularidade das razes da cultura brasileira dentro da cultura universal, atitude

    que teve como pea fundamental o pensamento de Lcio Costa.

    Respeitamos a lio de Le Corbusier. () Queremos isso sim, a aplicao

    rigorosa da tcnica moderna e a satisfao precisa das exigncias locais,

    tudo porm guiado e controlado, no conjunto e nos detalhes, pelo desejoconstante de fazer obra de arte plstica no sentido mais puro da expresso.

    Essa quebra de rigidez, esse movimento ordenado, que percorre de um

    extremo a outro toda a composio tem mesmo qualquer coisa de barroco

    no bom sentido da palavra o que muito importante para ns, pois

    representa de certo modo uma ligao com o esprito tradicional da

    171MOTTA , Flvio L.Roberto Burle Marx e a nova viso da paisagem. So Paulo: Nobel, 1983.

    p. 5172Burle Marx manteve sempre contato com as razes populares da arte brasileira como pode servisto em suas colees particulares em seu stio Santo Antnio da Bica.

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    arquitetura luso-brasileira.

    Segundo Henrique Mindlin, a arquitetura brasileira possua a tradio popular

    antiga mantida viva pelos mestres de obras refletia uma atitude espiritual, levada

    a uma autoconscincia pelas idias lanadas por Le Corbusier. 173

    Lcio Costa compreende que a experincia acumulada do passado colonial deve

    ser tomada como referncia, como ponto de partida, atualizada, porm, segundo

    os princpios arquitetnicos modernos e principalmente adaptada ao lugar

    especfico de implantao. No Parque Hotel de Friburgo de 1944, por exemplo,

    ocorre a busca por uma harmonia e a criao de vnculos do edifcio com a

    paisagem circundante174. Enquanto a clareza geomtrica da sua base moderna

    acentua sua independncia e autonomia, a aparncia vernacular deste realiza essa

    ligao com a terra.

    Imagem 53: Parque Hotel, Nova Friburgo. Projeto de Lcio Costa (1944).

    Percebe-se tambm que o tema da integrao entre a arquitetura e a paisagem vai

    permear os escritos de Lcio Costa sobre urbanismo, baseado, no entanto, sempre

    no intimismo, na introverso e na busca de uma paisagem buclica e desordenada.

    Segundo Sophia Telles, atribudo um sentido lrico paisagem nativa, como

    coisa legtima da terra, ao contrrio do olhar mais plstico e abstrato de Le

    Corbusier, onde a paisagem do Rio de Janeiro se apresentava como um sinttico

    173Ver MINDLIN, Henrique. Arquitetura Moderna no Brasil, Rio de Janeiro, Aeroplano, 1999.

    p.30174 Ver TELLES, Sophia "Lcio Costa: monumentalidade e intimismo". So Paulo, NovosEstudos CEBRAP, 1989. p. 87

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    perfil de linhas sinuosas.

    Em funo desta viso, Lucio Costa busca a participao de arbustos e do

    prprio descampado como complementos naturais. 175 No projeto para a vila

    operria de Monlevade (1934), quanto vegetao, alm do aproveitamento das

    rvores existentes () seria de toda vantagem um plano completo que no se

    limitasse s ruas e praas, mas inclusse nos seus cuidados os prprios jardins

    das casas, contribuindo assim para a harmonia do conjunto. No entanto, ao

    mesmo tempo que prope uma ocupao humana que seguisse uma determinada

    racionalidade atravs da implantao de um plano, complementa: a

    administrao da vila deveria tambm proibir terminantemente a poda das

    rvores ou arbustos em formas bizarras ou geomtricas, pois constitui um dos

    preceitos da urbanizao moderna o contraste entre a nitidez, simetria, disciplina

    da arquitetura e a impreciso, assimetria, o imprevisto da vegetao. 176Nesta

    passagem, Lcio Costa pressupe a manuteno de uma natureza intocada, como

    uma superfcie contnua, opondo-se s atitudes predadoras adotadas nos moldes

    usuais de ocupao urbana. Assim, para ele, o tratamento rstico da paisagem

    com a manuteno do solo natural agreste buscaria dissolver o carter

    marcadamente urbano dos seus espaos.

    Imagem 54: Vila Monlevade. Projeto de Lcio Costa (1934).

    175 COSTA, Lucio Consideraes sobre arte Contempornea Anos 40 In: Registro de uma

    vivncia. So Paulo: Empresa das Artes, 1995.p. 246176COSTA, Lucio Monlevade 1934 Projeto Rejeitado In:Registro de uma vivncia. So Paulo:Empresa das Artes, 1995.p. 99

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    Essa postura se distancia extremamente da maneira como Burle Marx busca

    intervir na paisagem, ao assumir um gesto construtivo: prope que o projeto

    moderno se expanda pela paisagem atravs da construo ativa de um ambiente

    apropriado. Dessa forma, h a superao da prpria tendncia catica inerente ao

    clima tropical atravs do recurso de manipulao inventiva do territrio,

    produzindo uma ordem de informaes visuais estabilizadoras e planificadoras.

    Desse gesto surgem formas ao mesmo tempo rigorosas e livres, funcionais e

    inventivas, que se propagam pelo entorno, entrelaam as formas da arquitetura

    produzindo um conjunto articulado e uma paisagem transformada onde homem e

    natureza se reencontraram.

    Nesse sentido, a arquitetura moderna brasileira se dispe incisivamente sobre a

    paisagem tropical. Esta, por sua vez manipulada pelo paisagista atravs do uso

    de uma linguagem coerente com o seu tempo, gerando jardins que no so

    passivos, mas participam do entendimento da arquitetura inserida em um contexto

    bem definido. O jardim se configura como um lugar onde a arquitetura se estende

    atravs de elementos que a relacionam com a paisagem. Esta ao possibilita o

    estabelecimento da relao e a aproximao entre o homem e a natureza.

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