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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA Prof. Gilmar Zampieri 2005-2 EMENTA A questão antropológica numa visão histórica e de abordagem sistemática. Concepção clássica, cristão-medieval, moderna e contemporânea do homem. A origem da pergunta sobre o ser humano. A concepção de homem no existencialismo. PROGRAMA 1 INTRODUÇÃO Conceituação de antropologia filosófica. Origem da pergunta pelo homem. A importância da antropologia filosófica. Discussão em torno de algumas concepções antropológicas. 2 ABORDAGEM HISTÓRICA DO HOMEM 2.1 Concepção clássica do homem 2.2 Concepção bíblico-cristã e medieval do homem 2.3 Concepção moderna do homem 2.4 Concepções contemporâneas do homem 3 ABORDAGEM SISTEMÁTICA DO HOMEM – ESTRUTURAS FUNDAMENTAIS DO HOMEM 3.1 A dimensão corpórea do homem (homo somaticus) 3.2 A dimensão da vida humana (homo vivens) 3.3 A dimensão cognoscitiva do homem (homo sapiens) 3.4 A dimensão volitiva, vontade, liberdade e amor (homo volens) 3.5 A dimensão da linguagem (homo loquens) 3.6 A dimensão social e política do homem ( homo socialis) 3.7 A dimensão cultural do homem (homo culturalis) 3.8 A dimensão do trabalho e da técnica ( homo faber) 3.9 A dimensão do jogo e divertimento (homo ludens) 3.10 A dimensão religiosa do homem (homo religiosus) 4 A PERSPECTIVA EXISTENCIALISTA DO HOMEM 4.1 Introdução geral ao existencialismo 4.2 O existencialismo humanista de Sartre BIBLIOGRAFIA Básica CORETH, Emerich. Antropologia filosófica, Brescia: Morcelliana, 1998. DALLE NOGARE, Pedro. Humanismos e anti-humanismos. Introdução à antropologia filosófica. 13ª ed. Petrópolis: Vozes, 1994. MONDIN, Batista. O homem, quem é ele? Elementos de Antropologia Filosófica. 7ª ed. São Paulo: Paulinas, 1980. RABUSKE, Edvino Aloísio. Antropologia filosófica: um estudo sistemático 7 ªed. Petrópolis: Vozes, 1999. 1

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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICAProf. Gilmar Zampieri2005-2EMENTAA questão antropológica numa visão histórica e de abordagem sistemática. Concepção clássica, cristão-medieval, moderna e contemporânea do homem. A origem da pergunta sobre o ser humano. A concepção de homem no existencialismo.

PROGRAMA1 INTRODUÇÃOConceituação de antropologia filosófica. Origem da pergunta pelo homem. A importância da antropologia filosófica. Discussão em torno de algumas concepções antropológicas.

2 ABORDAGEM HISTÓRICA DO HOMEM2.1 Concepção clássica do homem2.2 Concepção bíblico-cristã e medieval do homem2.3 Concepção moderna do homem2.4 Concepções contemporâneas do homem

3 ABORDAGEM SISTEMÁTICA DO HOMEM – ESTRUTURAS FUNDAMENTAIS DO HOMEM3.1 A dimensão corpórea do homem (homo somaticus)3.2 A dimensão da vida humana (homo vivens)3.3 A dimensão cognoscitiva do homem (homo sapiens)3.4 A dimensão volitiva, vontade, liberdade e amor (homo volens)3.5 A dimensão da linguagem (homo loquens)3.6 A dimensão social e política do homem ( homo socialis)3.7 A dimensão cultural do homem (homo culturalis)3.8 A dimensão do trabalho e da técnica ( homo faber)3.9 A dimensão do jogo e divertimento (homo ludens)3.10 A dimensão religiosa do homem (homo religiosus)

4 A PERSPECTIVA EXISTENCIALISTA DO HOMEM 4.1 Introdução geral ao existencialismo4.2 O existencialismo humanista de Sartre

BIBLIOGRAFIABásicaCORETH, Emerich. Antropologia filosófica, Brescia: Morcelliana, 1998.DALLE NOGARE, Pedro. Humanismos e anti-humanismos. Introdução à antropologia filosófica. 13ª ed. Petrópolis: Vozes, 1994.MONDIN, Batista. O homem, quem é ele? Elementos de Antropologia Filosófica. 7ª ed. São Paulo: Paulinas, 1980.RABUSKE, Edvino Aloísio. Antropologia filosófica: um estudo sistemático 7 ªed. Petrópolis: Vozes, 1999.VAZ, Henrique C. de Lima. Antropologia filosófica. Vol. I. São Paulo: Loyola, 1992.ComplementarCASSIRER, Ernst. Antropologia filosófica. 2ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1977.GALANTINO, Nunzio. Dizer homem hoje - novos caminhos da antropologia filosófica, São Paulo: Paulus, 2003.REALE, G e ANTISERI, Dario. História da filosofia. Vols. I, II e III. São Paulo: Paulus, 1991.SARTRE. J.P. O Existencialismo é um Humanismo. In: Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1987.

SCHELER, Max. A posição do homem no cosmos. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

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O programa:1- Ementa: A ementa é uma orientação, uma diretriz da disciplina fornecida ao professor pelo curso, portanto de responsabilidade da instituição. É a partir da ementa que os professores com alguma liberdade fazem seus programas de disciplina. A ementa dessa disciplina é bastante ampla e compreende três núcleos principais: 1- o núcleo histórico. O núcleo sistemático. E o núcleo de uma tendência, ou corrente representativa da antropologia contemporânea. É em cima dessa ementa que fiz um programa que me parece bastante amplo e consistente. De alguma forma abarcando as principais questões que envolve a disciplina.

Programa: 1- A introdução tem por objetivo situar e problematizar a disciplina. É

basicamente um convite à disciplina, uma motivação geral e um abrir o leque para as questões que serão tratadas ao longo do curso.

2- Abordagem histórica: A resposta à pergunta O QUE É O HOMEM? Tem uma história. Hoje é consensualmente aceito que cada grande pensador tem a sua concepção própria e pessoal do que é o homem. Se não fosse assim não teria permanecido na memória coletiva e feito história, sucessores etc...Seria impossível num curso como o nosso, que é mais um introdução geral a antropologia filosófica, perseguir o caminho histórico a partir dos autores. Para isso precisaríamos bem mais de um semestre. Por isso preferi uma abordagem histórica centrada nas grandes etapas, cosmovisões. Ou até paradigmas, modelos dentro dos quais se pensa. O ontológico grego medieval, centrado no ser, o gnosiológico moderno centrado no sujeito, e o ético e lingüístico centrado na intersubjetividade. É claro que no horizonte amplo de cada paradigma vai se tratar dos autores em particular também. O filósofo é filho do seu tempo, o tempo, por sua vez se compreende na filosofia. Por isso sempre que possível serão tratados os filósofos principais de cada período: na clássica: Alguns pré-socráticos, Platão, Aristóteles.....Agostinho, Tomas, Descartes etc...O OBJETIVO Da abordagem histórica é justamente nos situarmos desde a perspectiva do tempo e perceber como foi se constituindo a reflexão em torno do homem e como foi se formando aquilo que conhecemos como sendo a visão ocidental do homem. OBS. Aqui é preciso se dizer que vamos tratar especificamente da visão ocidental da filosofia sobre o homem. Isso é importante, fundamental, pois o oriente também tem uma visão de homem, uma autocompreensao de si mesmo. Os indianos, os chineses, japoneses os árabes etc...Certamente seria muito importante tratarmos disso também, mas é preciso fazer escolhas. Por outro lado a dificuldade de acesso a bibliografia...e o meu preparo também.

3- A ABORDAGEM SISTEMÁTICA: Com o andar do percurso históricos nos daremos conta que autores e épocas vão levantando questões e enfocando dimensões do humano dependendo do seu universo de compreensão temporal. Mas, para sermos críticos e realista, nenhuma época pode sozinha dizer do todo do homem. Se assim fosse a pergunta pelo homem

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teria cessado, o que não é o caso. Para não ficarmos na fragmentação das diversas posições é que eu ofereço esse segundo bloco como tentativa de síntese, de elaboração sistemática, daquilo que poderemos, sem reducionismos, dizer que é o homem. E aqui vai ser muito interessante pois vamos nos dando conta de que o homem é muito mais do que um animal racional.

4- O quarto bloco foi uma escolha pensada a partir de uma orientação que eu acho fundamental na discusão filosófica do homem atual. A partir de um texto de Sartre, curto, condensado, nós poderemos discutir e aprofundar alguns elementos de antropologia atual.

BIBLIOGRAFIA:A bibliografia é de duas naturezas. A básica são fundamentalmente manuais de antropologia filosófica. Qualquer um deles trata basicamente de todos os blocos contemplados no programa. Um dá acento mais num bloco, outro no outro. Todos eles tem uma orientação pessoal, um corte interpretativo pessoal. São indispensáveis para o curso. A bibliografia complementar é como o nome já diz, complementa aquilo que é básico e fundamental. Destacar algum sumário...

METODOLOGIA E AVALIAÇÃO:

METODOLOGIA:O primeiro, segundo e quarto bloco fica sob minha coordenação. Eu vou fazer exposição dialogada e a leitura comentada do texto do Sartre. O segundo bloco a proposta é que se faça em forma de seminários. E aqui entra a participação de vocês e com ela a avaliação.

Questões a combinar:

1- Avaliação:

G1- individualmente todos vão me entregar uma síntese de um texto até dia 28 de abril. O texto será estudado em grupo e apresentado em aula oportunamente, mas para o G1 eu vou querer uma reflexão pessoal e por escrito.

G2 terá duas notas. Uma de participação em sala de aula durante o semestre e durante a apresentação em grupo e uma outra nota uma prova no final do semestre sobre o texto de Sartre.

2- Formação dos grupos com os respectivos nomes dos componentes e o texto correspondente. Nove grupos. Os grupos terão uma noite para preparar a apresentação e se organizarem. Podem fazer divisão do texto na hora da apresentação, mas todos terão que lê-lo integralmente para ajudar.

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ANTROPOLOGIA FILOSÓFICIA

Introdução à disciplina:a) Aproximação conceitual – objeto e natureza da antropologia filosóficaAntes de mais nada parece ser indispensável situar a disciplina. E nada melhor do

que começar por longe, começar pelo próprio nome. O nome se compõe de dois termos com uma unidade significativa.

ETIMOLOGIA: Antropologia: é uma palavra grega que por sua vez é junção de dois vocábulos e (). significa HOMEM, e que vem de , significa estudo, conhecimento, razão. Antropologia é então estudo, pesquisa, investigação sobre o Homem, o SER HUMANO. O objeto material de estudo é então o SER HUMANO. A pergunta que subjaz a disciplina é então: O QUE É O HOMEM, QUEM É O HOMEM? O homem quem é ele?

Agora, o HOMEM, o Ser humano, é objeto de estudo de muitas disciplinas e de muitas ciências inclusive. A sociologia estuda o homem nas suas relações de classe, de poder, as instituições humanas e suas regras e relações com a política, com a economia etc.... A psicologia estuda o homem em relação as motivações, as constituições do EU, do psiquismo, das esferas da consciência e das inconsciências, da personalidade, dos possíveis traumas etc.... A religião ou a teologia estuda o homem desde a perspectiva específica com Deus, com o absoluto, com o transcendente nas suas diversas manifestações do fenômeno religioso etc.... A história estuda o Homem através do tempo, seus feitos, suas realizações, sua obra, seus heróis, dos fatos notáveis, a origem e processos de um povo, de uma civilização cronologicamente dispostos etc...

Então, se ficarmos só com a primeira parte do nome da nossa disciplina não teremos ainda nos aproximado satisfatoriamente do campo do estudo, até pelo contrário, ampliaríamos de tal forma que seria uma disciplina que abarcaria tudo. Então a primeira parte é necessária e indispensável mas não suficiente para o esclarecimento do universo temático que abarca a disciplina. Faz-se necessário então esclarecer o segundo termo da disciplina.

Filosófica: Estamos aqui desde o âmbito, da perspectiva da filosofia. Aperspectiva filosófica é o objeto formal. Agora o que é filosofia? Etimologicamente: Filosofia por sua vez é um termo composto de dois termos gregos: e . significa amizade, amor. significa saber, conhecimento. Filosofia significa então: amor à sabedoria, amor ao conhecimento. O termo filosofia é atribuído a Pitágoras, filósofo pré-socrático que diz que o conhecimento verdadeiro e total pertence aos Deuses, nós não o possuímos totalmente porque não somos deuses, no máximo nós o desejamos, amamos. Platão como veremos vai dizer que o filósofo e amante da sabedoria. E como amante é um intermediário entre os deuses que sabem tudo e os ignorantes que tudo ignoram. Para entender isso ele conta o mito do nascimento de Eros e o Eros é filosófico. Então, filosofia é amor ao saber, ao conhecimento.

Agora, há muitas formas de conhecimento. Existe o conhecimento científico experiencial. Existe o conhecimento religioso. Existe o conhecimento mítico. Existe o conhecimento do senso comum. Quando se fala de conhecimento filosófico estamos diante de algo bem particular. O conhecimento filosófico, diferentemente do conhecimento das

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ciências particulares, por exemplo, não tem como objeto de estudo nenhum objeto particular. E quando trata de objetos o trata sempre a partir da totalidade, dos princípios que lhe possibilitam ser, ou então do ser enquanto ser no sentido daquilo que lhe é essencial e universal. O senso comum tem um conhecimento do homem. Todos nós sabemos irreflexivamente, sem distanciamento teórico e conceitual, quem é o homem. O senso comum não confunde o homem com um animal qualquer. E se bem que às vezes tratamos melhor um animal de estimação do que ao homem, num caso limite somos propensos a salvar o homem ao animal.

Então, a pergunta o QUE É O HOMEM, é tratada aqui do ponto de vista filosófico. A própria pergunta O QUE É O HOMEM? É uma pergunta filosófica pois remete a totalidade do ser humano e não há uma esfera particular dele. A resposta a pergunta O QUE É O HOMEM é uma resposta filosófica porque a própria pergunta é filosófica. E por que é filosófica? Por que remete a investigação daquilo que é essencial e de totalidade significativa e não somente uma parcela do ser. É uma pergunta que tematiza a si mesmo e nesse aspecto é auto-reflexiva. O que distingue da ciência é que não trata de uma faceta do humano, e o que distingue do senso comum, da pré-compreensao é de que é reflexiva, racional. O que distingue do religioso é que não é revelado, mas fica no âmbito da racionalidade, daquilo que é possível conhecer pela investigação racional.

SÍNTESE: A antropologia filosófica trata da pergunta o que é o homem e a faz desde a perspectiva filosófica, isto é, a partir da totalidade (somático-psíquico e espiritual), a partir das condições universais de possibilidade do ser mesmo, a partir das estruturas fundamentais e essencial do ser. A partir das estruturas fundamentais do ser humano e sua relação com Deus, a natureza e o próprio homem, tanto individual, quando social e histórico. Nisso está a especificidade e natureza do âmbito da nossa disciplina.

ISSO é fundamental também pelo fato de que a antropologia também é uma ciência, e não toda a antropologia é filosófica. Não estaremos, portanto, fazendo antropologia cultural, antropologia física, antropologia sociológica, antropologia econômica, antropologia religiosa etc...Só para se ter uma idéia da diferença eu gostaria de demarcar a diferença de perspectiva entre antropologia filosófica e antropologia física ou cultural.

Antropologia Física: O que estuda? O homem. Em que perspectiva? A antropologia física investiga a origem do homem, tanto no tempo- quando (3 milhões de anos) como no espaço- onde ( na África), DIMENSÃO FÍSICO-GEOGRÁFICO, as etapas-eras evolutivas, qual a semelhança e diferenças entre o homem e os antropóides do ponto de vista físico-biológico. A antropologia física estuda o homem como um animal, enquanto vivo e sensível. As diferentes constituições físicas dependendo do tempo e lugar, seus hábitos alimentares etc..(ULLMANN, 1991, p. 30ss).

Antropologia Cultural: O que estuda? O homem. Em que perspectiva? Na perspectiva da sua obra, num sentido amplo cultura é tudo o que o homem faz. Não somente do ponto de vista material (arquitetura, monumentos, as instituições, os instrumentos tecnológico, a maquinaria, a agricultura, a economia em geral) mas também simbólico, que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, as leis, os costumes e hábitos do homem enquanto membro de uma comunidade. (ver MELO, p. 37ss). A antropologia cultural se divide em uma série de campos de investigação como podemos ver no esquema abaixo.

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ANTROPOLOGIA

FÍSICA CULTURAL FILOSÓFICAEstuda o homem na sua Dimensão da ação criativa Estuda o homem na Dimensão físico-geográfica Totalidade de sentido

(Corpo, mente, espírito...)(o que, qual o sentido...)

Arqueologia Etnografia Etnologia Lingüística Social

Arqueologia: Estuda as culturas extintas e as culturas atuais na sua fase pré-letrada valendo-se de testemunhos culturais não escritos: cerâmica, arte plástica, desenhos e pinturas, ferramentas....Etnografia: estuda descritivamente a cultura.Etnologia: Faz estudo comparativo entre as culturasLingüística: ocupa-se com a origem, a linguagem, a estrutura e parentesco entre as línguas.Social: Estuda as estruturas das relações sociais (econômicas, políticas, jurídicas, simbólica, ritual, rural, urbana etc,...)

Então, ficamos acertados que trataremos o homem desde a perspectiva filosófica e não desde a perspectiva física ou cultural simplesmente. Estamos interessados em ver o homem na sua totalidade essencial, aquilo que o constitui essencialmente, isto é, que não está condicionado a particularidades que uns podem ter e outros não. E quando se diz na perspectiva filosófica significa dizer que estaremos sempre diante da pergunta: o que é o homem? O que o define essencialmente? Quais suas características essenciais independentemente do tempo e espaço e cultura, mesmo que a eles seja relacionado? Veremos isso oportunamente

b) Origem e significado da pergunta pelo HomemO que nos impele a fazer a pergunta pela essência do homem? Qual é afinal a

origem da pergunta pelo homem? Quando se fala da origem da pergunta não se deve entender a origem cronológica, histórica da pergunta. É possível pensar a origem histórica e cronológica do desenvolvimento da pergunta. Nós faremos isso oportunamente.Vamos perceber que o homem desde sempre se perguntou por si mesmo, de onde veio, para onde vai, qual o sentido da existência etc... Mas, não é isso que está em questão nesse momento.

A questão é pensar a origem no sentido ontológico-metafísico, na condição de possibilidade da própria pergunta, no sentido de perguntar como é possível fazer essa pergunta em todos os tempos e espaços. E a origem da pergunta pelo homem é o fato de o próprio homem ser um PROBLEMA PARA SI MESMO, isto é, não sabemos quem somos.

Somos um enigma para nós mesmos. A pedra não é um enigma para si mesmo. O cachorro não é um enigma para si mesmo. E por que? Porque só o homem tem a capacidade que conhecemos como auto-referencialidade, ou auto-reflexão, ou autoconsciência, isto é, voltar-se sobre si mesmo, tomar-se como objeto de si mesmo. A pedra, o cachorro etc são o que são por força da natureza, são determinado, opacos, fechados em si. Por que o homem é aberto, não determinado, ele se pergunta por quem é afinal?

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Então, em síntese, só nos perguntamos por quem somos porque não sabemos quem somos e por isso perguntamos. Essa é a origem.

Mas qual a lógica da pergunta pelo essência de nós mesmos? Na pergunta por nós mesmos ocorre um fenômeno curioso e paradoxal. E por que curioso e paradoxal? Só posso perguntar se não conheço aquilo pelo que pergunto, caso contrário a pergunta seria superada pelo saber e por conta disso nunca mais poderia ser formulada. Isso por um lado. Por outro lado eu só posso perguntar se de alguma forma eu conheço aquilo por que pergunto. Se não fosse assim a pergunta não teria sentido, direção, objeto sendo então impossível formulá-la. Isso significa dizer que de alguma forma desde sempre sabemos quem somos, mas não o sabemos suficientemente e cabalmente. Somos mais do que um problema a resolver, mas um mistério a viver.

Esse paradoxo ou essa dialética é a mesma que está por trás da velha máxima de Sócrates: “Conheça-te a ti mesmo”. Não parece paradoxal dizer “conheça-te”? Ora, não é óbvio que eu saiba quem sou? Não é indubitável que eu saiba quem sou? E se eu sei quem sou então a pergunta “Conheça-te a ti mesmo” seria sem sentido. Mas a máxima, o lema de Sócrates não é sem sentido. E vai na mesma direção da lógica da pergunta que falávamos a pouco. Eu sei um pouco de mim. Mas sei também que não sei e por isso procuro saber mais. SÓ SEI QUE NADA SEI, diz uma outra máxima de Sócrates. O ignorante não sabe. Os deuses sabem tudo. Ao filósofo, o intermediário, cabe dizer que sabe que não sabe. Isso o torna mais que ignorante, e menos de um deus. O filósofo é um amante da sabedoria. Não é sábio, mas amante da sabedoria. O ignorante não pergunta porque nada sabe, os deuses não pergunta porque sabem tudo. O filósofo, o pensador, o homem com maiúsculo, cabe o intermediário de saber que não sabe e procurar avançar na sabedoria. Isso tudo é bem sintetizado no mito do Eros em Platão.

Mas voltando. O homem é um enigma para o homem e por isso pergunta pelo que é.Pergunta que está na base da antropologia filosófica e a possibilita enquanto pergunta pela totalidade: o que é o homem? É evidente que essa pergunta vai ter desdobramentos e respostas plurais. Isso nós iremos ver oportunamente. Só queria situar a problemática e estabelecer qual a natureza mesma da nossa disciplina e que universo ela abarca. Questões como qual a diferença entre o homem e o animal, se o homem tem ou não uma essência ou se tudo se passa relativamente e histórica e culturalmente, qual a relação entre corpo e alma, o problema do conhecimento e seus limites, o problema da consciência, da religiosidade, da ética, da politicidade e eticidade, da linguagem etc...são todas questões que envolvem a antropologia do ponto de vista filosófico.

OBS. Sobre esse ponto comum formula-se procedimentos diversos no tratamento da antropologia filosófica. Não há um método único de acesso a problemática filosófica do homem. Os autores dos manuais se dividem aqui. Qual o método mais acertado de acesso da problemática do homem na perspectiva filosófica? Basicamente há dois procedimentos metodológicos: o histórico e o sistemático. O histórico é aquele que procura desdobrar a problemática apresentando as sucessivas concepções particulares de épocas e dentro delas os autores principais. O sistemático é aquele que tenta conjugar a fenomenologia ou a ciência empírica com o método transcendental. Basicamente esse método parte do que é o homem no sentido biológico e cultural e mostra as suas insuficiências no sentido de dizer

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da totalidade do homem e por isso avança aplicando o método transcendental que unifica e transcende a pesquisa cientifica ou os dados fenomenologicamente descritos. Em outras palavras: a pesquisa científica ou antropologia física e cultural é um passo necessário mas insuficiente para o tratamento filosófico do homem. Para completá-lo deve-se compreender o homem desde a perspectiva espiritual, metafísica,da autotranscendência, da pessoa humana na perspectiva espiritual mesmo. VER RABUSKE, CORETH E MONDIN

C) Importância da AntropologIa Filosófica

Em filosofia a antropologia filosófica é uma disciplina chave. Como diz Kant existem quatro perguntas fundamentais que o filósofo deve perseguir: o que posso conhecer? O que posso esperar? O que devo fazer? E o que é o homem? Das quatro perguntas a última é a fundamental. Respondida essa as outras encontram o seu caminho de resposta também. Talvez se devesse perguntar pela importância dessa disciplina para um curso como a fisioterapia, a farmácia, ou química etc...Será uma disciplina inútil? Sim. É uma disciplina inútil se entendermos por utilidade na perspectiva positivista, instrumentalista, da eficácia, das ciências particulares que tentam resolver soluções particulares e imediatas. Inútil é a antropologia filosófica se pensarmos com mentalidade mercantilista. De fato essa disciplina não será útil para resolver problemas pontuais da saúde física dos pacientes de vocês, ou se será útil para a carreira profissional. Pensada assim ela é inútil. Mas talvez ela não seja inútil se pensada na perspectiva de que sempre e cada vez mais o que de fato afeta a todos são as questões de sentido da vida, de significado da nossa existência e de auto-compreensão. Existem muitos autores que falam que estamos numa época de profunda crise: crise de valores antes sustentados pela religião e que agora se desfaz, crise ecológica pelas ameaças sempre presentes pelo sistema que geramos e que de alguma forma vai pondo em risco própria vida sobre a terra. Crise política no descaso cada vez maior dos nossos representantes que se valem da representação para tirar proveito próprio. Crise que nos dão insegurança e medo. Pensar essa situação talvez não seja de todo inútil. Pensar o processo que nos levou até onde estamos enquanto humanidade, talvez não seja de todo inútil.

Talvez a antropologia filosófica não seja a disciplina mais útil e necessária para viver. Talvez, mas certamente é uma das mais excelsas para saber viver. Não só viver, mas bem viver. Não só viver bem, mas bem viver. Não só viver, mas pensar sobre o viver. Espero que ela cumpra esse papel reflexivo, interrogativo, instigante e crítico. Num mundo cada vez mais técnico e científico o problema principal ainda continuamos sendo nós mesmos. Um problema sem solução, porque mais do que um problema somos um mistério a viver.

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QUEM É O HOMEM?

c) Várias visões de homem do ponto de vista filosófico: A resposta à pergunta O QUE É O HOMEM, não é unívoca dentro da filosofia. E aqui a coisa se complica, mas ao mesmo tempo se enriquece, e nos fascina. Se houvesse uma única posição filosófica sobre o homem estaríamos diante de uma postura dogmática e filosofia não casa bem com dogmas, com posturas a-críticas, absolutas, fechadas. Então várias são as posições filosóficas sobre o homem. Depende da orientação filosófica. Dentro do racionalismo o homem é visto de uma forma. Dentro de uma postura religiosa será vista sob outro ângulo. Uma postura dualista terá uma conseqüente antropologia, uma postura monista terá uma outra postura. O mecanicismo terá uma antropologia, o espiritualismo ou vitalismo ou existencialismo terá outra...Vai depender do método obviamente: um método fenomenológico verá o homem de uma forma, o dialético o verá diferentemente, assim como o empirista etc...

RABUSKE FAZ uma lista, vinte idéias sobre o homem, que sem pretender ser exaustiva e aprofundada nos dá uma idéia da complexidade da nossa empreitada. A título de informação e para um posterior debate apresento aqui onze dessas idéias em forma bem simples. Procedimento: formar 10 grupos de 4 alunos e distribuir um conceito cada grupo. O grupo lê e comenta, interpreta o conceito. Alguém do grupo fica responsável para socializar a discussão e a interpretação.

BÍBLIA: “Então Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”.

ARISTÓTELES: “O homem é um animal racional”.

GIORDANO BRUNO: “O homem se situa no limite entre eternidade e tempo, participando de ambos. O homem é cidadão de dois mundos”.

THOMAS HOBBES: “O homem é um lobo para o homem” (homo homini lupus).

ROUSSEAU: “O homem nasce bom, mas a sociedade o corrompe”.

PASCAL: “O coração tem razões que a razão desconhece”

KIERKEGAARD: “O homem é uma relação que se relaciona consigo mesmo”.

MARX: “O homem nada mais é do que o conjunto das relações sociais”.

ORTEGA Y GASSET: “O homem é ele e suas circunstâncias”.

MAX SCHELER: “O homem é um ser capaz de dizer não”.

JEAN-PAUL SARTRE: “O homem é um ser cuja existência precede a essência”.

HEIDEGGER: “O homem é o pastor do ser”.

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2 ABORDAGEM HISTÓRICA DO HOMEM

A pergunta “o que é o homem” acompanha a humanidade e perpassa os diversos momentos da história humana, mesmo que a sua formulação explícita somente tenha sido feita no período moderno e contemporâneo. Como vimos resposta final, cabal não há. Se houvesse já teria sido dada e não estaríamos aqui fazendo-a novamente. O certo é que a mesma pergunta recebeu diversas forma de tratamento ao longo da história. Filosoficamente poderíamos dizer que cada filósofo tem a sua concepção de homem. Não pretendo aqui reconstituir autor por autor. Essa seria uma tarefa herculana e infinda. Afinal quantos filósofos temos no ocidente? Só grandes filósofos poderíamos contar mais de 50. Sócrates, Platão, Aristóteles, Epicuro, Agostinho, Tomás de Aquino, Descartes, Maquiavel, Locke, Hobbes, Rousseau, Kant, Hegel, Marx, Nietzsche, Husserl, Heidegger, Sartre,....etc..Não. Não me interesso pela história da filosofia estrito senso perpassando seus mais significativos representantes. Nem mesmo as escolas: idealista, realistas, naturalista, empirista, espiritualistas, existencialistas, analíticos, materialistas etc...O corte é mais sistemático conceitual englobando as quatro grandes etapas da filosofia ocidental: Clássica, Medieval, Moderna e Contemporânea. Dentro dessas grandes etapas, ou cosmovisões, ou paradigmas globais nos deteremos em um ou outro mais representativo que de alguma forma sintetiza o pensar de um tempo, do espírito do tempo representado objetivamente.

Vamos iniciar por longe. Remontando aos primórdios, ao berço, a raiz da nossa civilização ocidental. Os gregos.

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2.1 A CONCEPÇÃO CLÁSSICA DO HOMEM

Três momentos: os mitos, a filosofia pré-socrática e os clássicos da filosofia

A EXPLICAÇÃO MÍTICA DO HOMEMA filosofia iniciou na Grécia no século VI antes de Cristo, com um filósofo

chamado Tales de Mileto que dizia que o princípio e fundamento do universo e de tudo o que existe é a água. E dizia isso tentando responder racionalmente uma questão que acompanha a humanidade e dela não consegue se livrar que é: qual a origem de todas as coisas, ou então, por que existe o ser e não antes o nada. E se existe o ser como o ser passou a ser? Não pode ter vindo do nada pois do nada nada vem. Então, diz tales tem que ter algo que seja eterno e dele advenha todas as coisas. Essa coisa tem as características divinas, mas ela mesma não é divina, é a água. Por rarefação vem o ar e por condensação vem a terra e universo inteiro. Outros filósofos vão dizer que o princípio primeiro não é a água, mas o ar, outros o fogo, outros os quatro elementos combinados. Todos tem uma coisa em comum. Querem explicar o mundo físico através de uma elemento primordial também físico sem recorrer a uma explicação fantasiosa, religiosa, mítica como era a explicação anterior ao surgimento da filosofia. Vou voltar a falar dos pré-socráticos em seguida e nele pontualizar a visão de homem. Mas,voltemos aos mitos.

Antes da explicação filosófica do mundo, da explicação racional e lógica do mundo os gregos explicavam o mundo e o homem dentro do mundo através do mito. Mito é uma narrativa de como o cosmo foi criado, os deuses e o próprio homem. Por isso os mitos podem ser classificados em cosmogônicos, teogônicos e antropogônicos. Eles cumprem uma função de coesão social, de educação, de autocompreensão do mundo. São verdadeiros por que cumpre o que prometem e não porque corresponde cientificamente com o que é narrado.

Em termos gerais poderíamos caracterizar a explicação mítica do homem através de três linhas dominantes:

LINHA TEOLÓGICA OU RELIGIOSA: é a linha que traça uma nítida separação e divisão e mesmo uma oposição entre o mundo dos deuses e o mundo dos homens. Os primeiros são imortais, os segundos efêmeros e mortais. Todo o poder por um lado e carência por outro. Essa condição provoca a hybris, o orgulho humano por um lado e a moira, e a resposta divina a essa ação desmedida, inscrita no destino implacável (moira), com um desfecho geralmente trágico. O mito evoca exatamente o orgulho humano para se igualar aos deuses como uma tentativa de mostrar a tragicidade da condição humana. O mito de Prometeu e de Sísifo e Édipo são paradigmáticos nesse sentido. CONCLUSÃO: Não se deve brincar com os deuses, eles são cruéis contra a hybris humana.

LINHA COSMOLÓGICA: A contemplação e admiração diante da ordem do mundo é uma das atitudes do homem grego partilhada por outras culturas antigas. Mas entre os gregos a atitude contemplativa e de admiração é constitutiva. O mundo é um cosmos ordenado e por isso belo. O belo e a ordem causam admiração. Admiração que é justamente a atitude básica do filosofar segundo Platão e Aristóteles. E com ela um estilo

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de vida que o homem grego reivindicará como sendo próprio: a vida teorética. Uma outra caracaterística está ligada a descoberta da homologia, ou a correspondência que deve reinar entre a ordem do universo, da physis e a ordem da cidade, da polis, regida por leis justas. A linha teológica cruzasse com a linha cosmológica para formar o conceito de necessidade inscrita na ordem do mundo e à qual deverão submeter-se os homens e os deuses. Um problema que aparecerá na filosofia posterior na idéia de conciliar a necessidade com a liberdade sem ser trágica.

LINHA ANTROPOLÓGICA: É a que nos interessa por ora, mas que se liga com as outras duas, tanto na relação com o destino, quanto na relação com a ordem e beleza. A pergunta aqui é a seguinte: que imagem o grego arcaico tem de si mesmo? E de que forma ele a constrói e a expressa? A mais conhecida e explícita expressão de si mesmo, articulada através do mito, pelo homem arcaico grego é a conhecida oposição entre o APOLÍNEO E O DIONISÍACO. Dito de outra forma, o Apolíneo e o Dionisíaco são duas dimensões constitutiva do homem projetadas pela visão mítica dos gregos.

APOLÍNEO: reflete o lado luminoso da visão grega de homem, a presença ordenadora do logos na vida humana, que o orienta para a claridade, para a medida, para o equilíbrio e para o agir equilibrado e razoável.

DIONISÍACO: O Dionisíaco traduz, personifica, o lado obscuro onde reina as forças da desmedida, das paixões, do desejo desenfreado, da embriagues, da festa sem regulamento, do instinto diríamos nós hoje.

A conciliação dessas duas forças, dessas duas condições humanas será obra que a filosofia posterior tomará como sua. No BANQUETE DE PLATÃO essa tentativa de conciliação será paradigmática para a filosofia ocidental.

BANQUETE: SÍNTESE: O AMOR É FILOSÓFICO E O FILÓSOFO É UM AMOROSO, UM APAIXONADO PELO BELO, BEM E VERDADEIRO. SÓCRATES É O MODELO TANTO DO AMANTE QUANTO DO FILÓSOFO. É O RACIONAL SEM SER SECO, FRIO, INSENSÍVEL. É CERTO QUE O AMOR PLATONICO SE DIRIGE PARA O BELO NÃO FÍSICO, MAS É AMOR EM MAIS ALTO GRAU.

DESTINO-MOIRA- Hybris (Audácia desafiadora, orgulho, auto-determinação)MITO DE SÍSIFO- O destino da morte contestada.MÍTO DE PROMETEU- MITO DE ÉDIPO- A impossibilidade de fugir ao destino

OS PRÉ-SOCRÁTICOS: Os pré-socráticos são os filósofos, os primeiros filósofos do ocidente, que antecedem os grandes filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles. A eles é atribuída a invenção, a criação do espírito filosófico propriamente dito. A filosofia surge com os pré-socráticos. Tales de Mileto é o primeiro. Eles se situam entre o século VI E V antes de Cristo. Comumente eles são conhecidos como cosmológicos, ou físicos por se preocuparem, sobretudo, em responder a uma pergunta metafísica, qual a origem de todas as coisas? E darem uma resposta física. Por exemplo: Tales de Mileto: a água é a origem de todas as coisas. Anaxímenes: o ar. Empédocles: os quatro elementos. Demócrito: o átomo. ETC....

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O que nós temos desses filósofos são apenas alguns fragmentos. Restos de um todo maior que se perdeu para sempre. Mas pelos fragmentos que nos resta é possível dizer que não só o problema cosmológico era a preocupação dos pré-socráticos mas também o problema teológico e antropológico.

De TALES DE MILETO (624- 547 a. C) nós temos um fragmento, uma frase enigmática, por não termos o contexto da frase, mas certamente importante para uma aproximação do universo de compreensão antropológica dos pré-socráticos. A frase diz: “todas as coisas estão cheias de deuses”.

INTERPRETAÇÃO: A interpretação dessa frase abarca as três linhas já presentes nos mitos: a teológica: a água é agora o novo deus. A cosmológica. A água é o elemento físico mais importantes no universo. Dela depende a vida. E finalmente a linha antropológica. Tudo tem uma alma, tudo está impregnado de forças vivas. Tudo é dinâmico, vivo. Isto significa: tudo participa da vida do homem e o homem participa da vida de tudo, do cosmos inteiro.

XENÓFANES DE Cólofon( 580- 460 a.C): Em Xenófanes a perspectiva antropológica fica mais explícita. Primeiramente na sua crítica aos deuses da crença popular, da religião oficial. Xenófanes é o primeiro crítico da religião e a sua postura é a mesma dos críticos modernos que dizem que não é Deus que cria os homens, mas os homens que criam os deuses a sua imagem e semelhança.

“Mas se os bois, os cavalos e os leões tivessem mãos ou pudessem pintar e realizar as obras que os homens realizam com as mãos, os cavalos pintariam imagens dos deuses semelhantes a cavalos, os bois semelhantes a bois, e plasmariam os corpos dos deuses semelhantes ao aspecto que tem cada um deles”. E mais: Os etíopes dizem que os seus deuses são negros e tem o nariz achatado, os trácios dizem, ao invés, que tem olhos azuis e cabelos ruivos”...

Portanto, Deus não pode ser semelhante ao homem, ser da mesma natureza: “ Aos deuses Homero e Hesíodo atribuem tudo o que para os homens é desonra e vergonha, roubar, cometer adultério, vingança, inveja, enganar-se mutuamente”...E sobre o nascimento dos deuses: “Mas os mortais consideram que os deuses nascem, que têm, vestes, voz e figura como eles”, não pode ser pois se nascem também morrem, e portanto não são deuses.

Se há Deuses esse não podem ser iguais ao humanos. Os humano. Cava-se já uma separação filosófica entre o divino e o humano, bem maior do que já havia na mitologia.

Mas o fundamental em Xenófanes, do ponto de vista antropológico, é ter estabelecido que a dignidade humana está não no seu vigor físico, do corpo, mas na sua capacidade reflexiva e de conhecimento. Num fragmento depois de se referir aos triunfos, honrarias reservados aos vitoriosos nas competições esportivas afirma categoricamente:

“O nosso saber vale muito mais do que o vigor dos homens e dos cavalos. Não é justo preferir a força ao vigor do saber. Não é a presença na cidade de um bom pugilista e de um bom corredor ou de um bom guerreiro que faz a cidade ficar em melhor ordem”.

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HERÁCLITO (500-400 a.C)

Mas de todos os pré-socráticos o mais destacado na perspectiva antropológica é sem dúvida Heráclito.

Heráclito é o maior dos pré-socráticos e mais vigoroso dos dialéticos redescoberto por Hegel e Marx no mundo moderno.

Dele temos 126 fragmentos que abarcam o universo do ser tanto no âmbito teológico e cosmológico, bem como o gnosiológico, ético e político e antropológico.

ANTROPOLOGIA DE HERÁCLITO: A perspectiva antropológica não é separada da cosmológica e teológica. É como se

houvesse três círculos concêntricos e o antropológico fosse o central. A chave de compreensão tanto do cosmos quanto do homem é o DEVIR, A MUDANÇA, A DINAMICIDADE, A DIALETICIDADE, A MUTABILIDADE POR OPOSIÇÃO. A DIALÉTICA ENFIM. É bem conhecida a idéia de Heráclito que tudo muda: Um fragmento, 91, diz explicitamente isso: “Não se pode entrar duas vezes no mesmo rio, na segunda vez correm outras e novas águas”. “A guerra é mãe de todas as coisas”...

PENSAMENTO:

a) O fluxo perpétuo de todas as coisas. Os milesianos, de Milésio, Mileto, interessavam-se pelo princípio que explicasse todas as coisas, isto é, se preocupavam pela gênese do cosmos a partir de um principio. Notavam certamente o dinamismo de mudança em todo o cosmo, o nascer e perecer, a transformação constante. Mas não a tematizam. É o que faz exatamente e precisamente Heráclito. Em primeiro lugar Heráclito chamou a atenção para a mutabilidade de todas as coisas. Nada permanece imóvel, tudo muda, tudo se transforma, sem cessar e sem exceção. Para exprimir essa verdade Heráclito valeu-se da Imagem do fluir do rio em fragmentos que se tornaram célebres: “De quem desce ao mesmo rio vêm ao encontro água sempre novas”. “ Descemos e não descemos ao mesmo rio, nós somos e não somos”. O sentido do fragmento é claro: aquilo que é aparentemente sempre o mesmo, muda constantemente. No rio corre águas sempre novas, e nós mesmo quando entramos na segunda vez no rio não somos mais os mesmos. Por isso o somo e não somos. E isso vale para todas as coisas sem exceção. Portanto, nada permanece, e tudo advém. Só o devir das coisas é que é permanente, as coisas não tem identidade, senão o perene devir. Só o devir das coisas é que é permanente. Esse é o aspecto da doutrina de Heráclito que se tornou mais célebre, sintetizada na máxima: “tudo flui” (). Crátilo, discípulo de Heráclito, seguindo e o mestre vai mais longe, acabou dizendo que por que tudo flui o conhecimento é impossível e que portanto o máximo que se poderia fazer é mostrar as coisas com os dedos....

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b) A harmonia dos opostos. O devir é um contínuo fluir das coisas de um contrário ao outro. As coisas frias se aquecem, as coisas quentes se esfriam, as coisas úmidas secam, as coisas secas umedecem, o jovem envelhece, o vivo morre, e assim por diante...O devir é pois conflito de contrários. É um constante luta, guerra. “ A guerra é a mãe de todas as coisas e de todas a rainha”. Só que a guerra não é de destruição. A guerra revela uma harmonia escondida que precisa ser expressa. A guerra leva a uma harmonia de contrários. O fragmento 8 diz: “o que é oposição se concilia e, das coisas diferentes, nasce a mais perfeita harmonia, e tudo se gera por via de contraste. O fragmento 51 “os ignorantes não compreendem que o que é diferente concorda com ele mesmo, harmonia de contrários, como a harmonia do arco e da lira. O sentido só pode ser dado nos contrários, não se conheceria a injustiça sem a justiça e a justiça sem a injustiça...a saciedade só é boa devido a sede...O caminho para cima e o caminho para baixo é o mesmo....e´o exemplo da escada. Deus mesmo é dia e noite, guerra e paz, saciedade e fome. O divino é a síntese dos contrários. Deus é a harmonia dos contrários, a unidade dos opostos. É o início da dialética. Hegel vai dizer que não há proposição de Heráclito que não tenha colhido em sua lógica...O fogo recebe destaque como símbolo da filosofia de Heráclito. O fogo é na verdade o símbolo da transformação... E nisso permanece como físico.

c) VERDADE, O LOGOS, A RAZAO UNIVERSAL: a verdade consiste em captar o Logos, a racionalidade que perpassa a mudança empírica particular. O logos primordial é uma força em movimento. O homem tem dois instrumentos para o conhecimento, os sentidos e a razão, o logos, quem vive segundo a razão estará no caminho do conhecimento e da verdade. E quem vive segundo o caminho da verdade será moralmente bom pois conduzirá sua alma para o bem...Os sentidos nos enganam pois dão a impressão que as coisas estão paradas e tem sempre a mesma identidade... Existe uma ordem racional que estabelece a medida de todas as coisas...O logos é que capta a harmonia universal do cosmo na diversidade aparente..Só o Logos, a razão consegue captar a razão universal que governa todas as coisas..

ANTROPOLOGIA DE HERÁCLITO

Isso já nos dá uma idéia da concepção antropológica de Heráclito. O ser humano não é estático, parado, inerte, mas é dinâmico, mutável, se transforma. Isso desde o ponto de vista geral. Mais pontualmente sobre o homem diz Heráclito:

Se a felicidade consistisse nos prazeres do corpo, deveríamos proclamar felizes os bois, quando encontram pasto para comer.

O mais belo símio é feio comparado ao homem Uma coisa preferem os melhores a tudo: a glória eterna às coisas perecíveis;

mas a massa empanturra-se como gado. O povo deve lutar por leis como por muralhas.

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Mesmo percorrendo todos os caminhos, jamais encontrarás os limites da alma, tão profundo é o seu ser.

Não devemos julgar apressadamente as grandes coisas. O tempo é uma criança que brinca, movendo as pedras do joga para lá e para

cá. O homem é infantil frente à divindade, assim como a criança frente ao

homem. O mais sábio dos homens, comparado a Deus, parecer-se-á a um símio, em

sabedoria, beleza e todo o resto. EU ME PROCUREI A MIM MESMO. CONHEÇA-TE A TI MESMO

CONCLUSÃO: O logos nos assemelha ao divino que vê para além das aparências. As coisas parecem sempre as mesmas, mas isso é opinião infantil, saber é ver o logos que conduz tudo para a mudança, ver a transformação na aparente imutabilidade, eis o conhecimento só alcançado com o LOGOS. Os sentido nos enganam. A mesma dinâmica do universo é a dinâmica do humano. Eterno em nós só o fluxo que move tudo sem parar.

A inflexão, o desvio, a mudança de perspectiva para a centralidade do HOMEM se completa com os sofistas.

SOFISTAS

Os sofistas são os primeiros verdadeiramente humanistas no ocidente filosófico. Humanista no sentido de fazer do homem seu tema e problema diferentemente dos pré-socráticos que apesar de já apresentarem uma reflexão ou preocupação sobre o homem tem no cosmos o seu problema principal e por isso são chamados de cosmológicos.

Os sofistas não. Os sofistas não se preocupam com o cosmo, com sua origem, com o princípio de todas as coisas. Os sofistas trazem a reflexão do céu para a terra. O seu foco investigativo é o homem e tudo o que a ele está ligado: as leis, os sistema jurídico, a política, a educação, a arte, a retórica etc...

Sofistas: significa etimologicamente aquele que sabe. Aquele que tem algum conhecimento e o transmite, tanto o teórico quanto o prático. Acontece que o que passou para a história é que sofista é o charlatão, aquele que vende o próprio conhecimento e aquele que não está preocupado com a verdade, mas com a aparência da verdade, está preocupado com a persuasão, com o convencimento e não preocupado em convencer-se da verdade, mas convencer da própria verdade. Nesse sentido são falsos pensadores e não merecem o nome de filósofos. Essa é a posição tanto de Platão quanto de Aristóteles. Sofistas são caçadores de jovens ricos para vender um conhecimento como arte de persuasão, de convencimento.

Mas deixemos esse debate de lado, por certo muito interessante. Concentremo-nos na antropologia sofística:

REPRESENTANTES MAIORES: Protágoras, Górgias, Hípias, Pródicos. Viveram no auge da democracia grega e são seu fomentadores e educadores.

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Protágoras é a síntese dos sofistas. E a síntese de seu pensamento está condensado numa máxima que se tornou a máxima de todo relativismo moral. “O HOMEM É A MEDIDA DE TODAS AS COISAS. DAS QUE SÃO ENQUANTO SÃO E DAS QUE NÃO SÃO ENQUANTO NÃO SÃO”.

Interpretação: 1- Não há verdade, ou dever moral inscrito em nenhum lugar por obra divina ou por obra da natureza. Não é Deus a medida de todas as coisas, mas o próprio homem. E o homem entendido individualmente. Eu sou critério de verdade para mim mesmo e tu és para ti mesmo e não posso querer que tu penses e ages como eu penso e ajo. Politicamente isso vai significar o seguinte. Se eu sou o critério da verdade então eu devo persuadir o outro da minha verdade. O outro deve persuadir da sua. Nessa luta, nessa dialética, nesse diálogo vença o melhor argumente. Concepção de homem como animal racional. Não há uma verdade que A e B tenham que ambos se curvarem, ambos tenham que aceitar objetivamente. Não. A verdade, o bem, o belo é uma questão de ponto de vista. É o começo do subjetivismo. Isso tem algo de altamente positivo. Algo de revolucionário. Algo de extremamente importante para a cultura ocidental. Pela primeira vez o sujeito levanta vôo, o indivíduo se alça para se afirmar como o centro do mundo. Os sofistas são pós-modernos antes mesmo de serem medievais e modernos.

2- Um prolongamento desse princípio será a separação entre natureza e cultura. Physis e nomos. A educação forma a cultura a civilização. Somos seres culturais, seres separados da natureza. A educação, a Paidéia como dizem os gregos, é obra humana e essa obra é feita pelos homens. A cultura supre o que o homem tem de carência pela natureza. O homem é o ser mais frágil e desprotegido naturalmente, mas o maior dos seres quando se faz culturalmente. A cultura supre o que é negado pela natureza. É, juntamente com o lado racional e retórico a maior contribuição para a concepção do homem no ocidente.

SÓCRATESSe a inflexão antropológica inicia com os sofistas, terá em Sócrates o seu desfecho

definitivo. A orientação até hoje da antropologia filosófica, a sua luz mais longínqua é sem dúvida Sócrates. Sócrates é o primeiro humanista, do ponto de vista filosófico, no seu sentido positivo. Sócrates está num momento de transição. Transição entre os sofistas e os filósofos clássicos posteriores. Com a sua entrada em cena uma nova concepção antropológica entra também em cena e depois dela permanecerá nos seus sucessores imediatos, Platão e Aristóteles.

Há um problema em Sócrates, é o chamado problema Sócrates. E por que há um problema Sócrates? Há um problema Sócrates porque Sócrates nada escreveu. Tudo o que sabemos dele é através de Platão, Xenofonte, e Aristóteles. E num caso assim, tal como em Jesus Cristo, nunca se saberá o que ele realmente disse, o que pregou, o que disse ou deixou de dizer. Mas isso não inviabiliza o seu pensamento. Somente que para uma boa interpretação é fundamental ter em conta o conjunto do legado dos seus discípulos que divergem mas não se contradizem naquilo que é fundamental no seu pensamento e que passou para a história como sendo o pensamento e a posição de Sócrates sobre variados temas (O homem, a ética, o conhecimento).

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1- A concepção de homem em Sócrates

Uma constante nas meditações, nos diálogos socráticos, a filosofia para Sócrates é diálogo vivo com o interlocutor, sem a mediação da escrita que não consegue se defender sozinha, uma constante nas meditações gira em torno do que é propriamente humano, ou das “coisas humanas”.

Antes de pontuar propriamente a contribuição de Sócrates para a antropologia considero importante demarcar a diferença metodológica, filosófica entre Sócrates e os sofistas.Enquanto os sofistas ensinam, transmitem conhecimentos técnicos e teóricos através de aulas, onde um expõe e outro escuta, permanecendo portanto numa relação de alguém que sabe transmite algo para alguém que não sabe e aprende, o método socrático é bem diferente. O método é dialógico. Qual a essência do diálogo? O diálogo só é verdadeiramente diálogos se os interlocutores estão pelo menos numa condição comum. Qual a condição comum? A procura da verdade. Ambos os dialogantes tem que estarem abertos para ensinar e aprender. O conhecimento não é algo que venha de fora para dentro, mas de dentro para fora. É uma das máximas de Sócrates, só sei que nada sei. Se sei que não sei e não me satisfaço com isso vou procurar conhecer, saber mais. Mas o mestre dizer isso significa dizer que ele mesmo está a caminho, em busca e o procedimento para essa busca é o caminho do diálogo. Diálogo com o outro e diálogo consigo mesmo. Sócrates não quer convencer de alguma verdade, mas quer uma verdade para se convencer.

OS PASSOS DO DIÁLOGO E O TEMA: O diálogo se passava em qualquer lugar da cidade ou fora dela sempre com um tema de discussão, o amor, amizade, a coragem, a virtude etc....

IRONIA, A MAIÊUTICA E A INDUÇÃO. Ironia: consistia basicamente em mostrar que o interlocutor era um ignorante, que

não conhecia o que pretensamente achava que conhecia. Com esse passo Sócrates pré-dispunha o interlocutor a se abri para a verdade que não conhecia. Ele mesmo confessava: SÓ SEI QUE NADA SEI. Por isso procurava conhecer.

MAIEUTICA: a mãe de Sócrates, Fenarete, era parteira. O segundo passo do método era justamente processar o parto das idéias. Sócrates se definia como “parteiro das almas”. Isso significa que não era ele o pai das idéias que nasciam da alma do interlocutor, mas que ele, tal como a parteira, tinha apenas um papel auxiliar. Seu papel era suscitar no interlocutor o desejo de saber. A verdade não está na natureza, mas está dentro de nós e devemos procurá-la. Através de perguntas sucessivas esse momento do método se estabelecia, mostrando os pré-conceitos do interlocutor.

DEFINIÇÃO POR INDUÇÃO. É o resultado do método quando se encontra a essência universal e racional lógica da coisa buscada: o que é o amor, o que é a amizade, o que é a virtude etc...geralmente os diálogos terminam sem uma solução definitiva, e o diálogo termina em aberto para que a busca continue....

Dito isso voltemos a Antropologia de Sócrates:

ANTROPOLOGIA SOCRÁTICA:

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No bem da verdade a questão humana, ou as questões humanas são o tema constante de todas as meditações socráticas. Agora, o que é o humano para Sócrates?

Na visão de Sócrates o humano só tem sentido e explicação ser referido a um princípio interior ou a uma dimensão de interioridade presente em cada homem e que ele designou com o termo psyché: ALMA. Para a pergunta: o que é o homem Sócrates responde, o homem é a sua ALMA. O que nos distingue de qualquer outro ser é a ALMA. A pergunta é: o que Sócrates entendia por ALMA? Diretamente ALMA para Sócrates significa o EU CONSCIENTE, A PERSONALIDADE INTELECTUAL E MORAL. É POR ISSO QUE ELE INSISTIA: “Conheça-te a ti mesmo e cuida-te de ti mesmo”. Ao dizer isso não estava querendo dizer para conhecer o próprio corpo e cuidar do próprio corpo, mas cuidar de si e cuidar de si é cuidar da ALMA.( Ler aqui APOLOGIA A SÓCRATES, P. 15. 29e -30b).

Cuidar da alma faz o homem virtuoso e o homem virtuoso é um homem Feliz. Agora, o que é a virtude da alma? Virtude é conduzir retamente a interioridade para o BEM, o Belo, Bom e verdadeiro. Para isso o conhecimento interior é fundamental. Quem conhece prática o BEM e o Mal é fruto da ignorância. Daí a importância do cuidado e do conhecimento de si mesmo dado por Sócrates. Daí vem o chamado intelectualismo moral e filosófico de Sócrates que depois será questionado por Santo Agostinho que diz, dentro da tradição cristã, que não basta conhecer o Bem para praticá-lo, é preciso querê-lo é preciso ter vontade e a vontade é livre e pode escolher o mal mesmo sabendo que é um mal e não escolher o bem sabendo que é um bem. Além do elemento da insuficiência da capacidade humana para o bem sem o concurso e a graça de Deus.

Então, a verdadeira virtude, a ARETÉ, como diz os gregos, não é a virtude do guerreiro, do fabricante de instrumentos, não é a virtude do vigor físico, ou na posso de bens exteriores ou conhecimentos externos, mas conhecimentos internos ligados a ALMA e não ao corpo. Com isso Sócrates revoluciona a tábua dos valores tradicionais, os valores tradicionais estavam ligados ao corpo e agora há uma nítida superioridade hierárquica da alma com relação ao corpo. Então a beleza exterior, a riqueza, a honra militar etc de nada vale, o que vale é a virtude da alma que conduz o ser para o BEM E O VERDADEIRO.

Está formada a condição para a separação entre corpo e alma no ocidente que vai se radicalizar em Platão e depois através do cristianismo neo-platônico.

CONCLUSAO:

Sócrates se preocupa com as coisas humanas. Das humanas o cerne é a ALMA e as virtudes da alma. Por isso o conhecimento para melhor praticar o bem.

ANTROPOLOGIA PLATÔNICA

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Platão foi discípulo de Sócrates. E ao contrário de Sócrates, Platão escreveu e escreveu muito. 35 DIÁLOGOS E 7 CARTAS. Platão é o primeiro grande sintetizador da filosofia grega, seguido pelo discípulo Aristóteles. Em Platão nós temos o pensamento alçando vôo como em nenhum momento da história tenha alçado. A influência de Platão no ocidente é de tal envergadura que seria inimaginável a cultura ocidental sem a presença de Platão.

Platão escreveu sobre tudo. Sobre Cosmologia e teologia (Timeu). Sobre educação e política (República, o político e as leis). Sobre o amor e a amizade (Fedro, Banquete e Lisis). Sobre a imortalidade da alma (Fédon). Sobre o conhecimento ( conjunto da obra). Sobre a linguagem (Crátilo). Sobre a retórica e contra os sofistas (Górgias, Protágoras, O Sofista). Sobre a dialética (Fedro, Teeteto). Sobre o Ser (O sofista). De tal forma que é impossível separar em Platão a questão propriamente humana da questão metafísica-ontológica, do conhecimento, da ação ética-política.

Certamente a questão principal em Platão do ponto de vista antropológico é a relação entre corpo e alma. Mas para chegar a essa relação faz-se necessário entender a base metafísica do seu pensamento pois ela é o fundamento tanto para o homem, quanto para o conhecimento, quanto para a ação ética e política. Por isso inicio traçando em grandes linhas e de forma esquemática a estrutura do pensamento platônico e daí deduzir uma antropologia. Princípio organizador do ser e pensar e agir.

METAFÍSICA PLATÕNICA:

Platão postula a idéia de que esse mundo, o mundo físico, o mundo da natureza, o mundo dos sentidos, o mundo material, tudo o que vemos e sentimos, tocamos, que está ao nosso redor não se explica por ele mesmo. O princípio, a causa explicativa desse mundo está fora do mundo. Está em outro mundo, e a esse outro mundo Platão chama o mundo das idéias. Então temos esquematicamente e simbolicamente a seguinte situação.

ALMA MUNDO DAS IDÉIASMUNDO INTELIGÍVEL

MUNDO DO EM-SI- NAO É APARENTE E NÃO DEPENDE DE NÓS

Necessidade e Universalidade- NÃO MUDAEPISTEME REALIDADE VERDADEIRAMENTE REAL

Eterno, imóvel, universal

MUNDO MATERIALMUNDO SENSÍVEL

MUNDO APARENTE- NÃO SE AUTO-EXPLICADOXA

Contingência e particular- MUDA CONSTANTEMENTECORPO CÓPIA DA REALIDADE

Passageiro, mutável, particular

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Isso significa que se tomarmos qualquer coisa desse mundo, por exemplo, uma cadeira ela não se explica por si mesma e a sua causa última tem que ser procurada fora dela mesma no mundo das idéias. É no mundo das idéias, do modelo ideal, que está a verdadeira cadeira e a cadeira real é apenas cópia mal feita da cadeira ideal. A relação entre os dois mundo é a mesma relação que há entre o modelo, o projeto e a obra. O projeto vem antes, a casa vem depois. A casa só se explica pelo modelo do projetista, do arquiteto. O que Platão procura é a essências das coisas, a causa última das coisas e ele a encontra fora das coisas mesmas, num outro mundo, no mundo ideal, no mundo das idéias.

Do ponto de vista do conhecimento temos aqui um racionalismo, ou um idealismo objetivo. As idéias são reais, as únicas realmente verdadeiras e objetivas. Não são invenções ou convenções subjetivas. A dialética é o método de partir do particular para chegar ao geral, a idéia e partir da idéia para chegar ao particular. É a chamada dialética ascendente e descendente que aparece na alegoria da caverna. Do ponto de vista do conhecimento temos ainda uma outra idéia interessante em PLATAO que diz o seguinte. A nossa alma é a que mais se assemelha ao mundo inteligível. E ela é imortal. Sempre existiu e um dia ela já contemplou todas as idéias como elas são. Na encarnação há um processo de esquecimento, mas aos esbarrar com as coisas a alma se eleva novamente num processo de reminiscência, isto é, conhecer no fundo nada mais é do que recordar. Nada de empirismo, há antes a idéia universal que o particular só desperta mas não é ele a causa do universal como seria num empirismo clássico que diz que o conhecimento seria fruto de experiências sucessivas até o salto para a generalização da essência daquilo que é e como é.

Teríamos muitas pontas para puxar aqui na explicação platônica. A questão política e pedagógica por exemplo ou a questão teológica do Demiurgo que plasma a realidade a partir da contemplação das idéias, mas isso vai além do nosso intento por ora. Importa analisarmos aquilo que é o foco da nossa disciplina, ou seja a questão da antropologia.

Qual a visão de homem que podemos deduzir dessa concepção metafísica?

1- A CONCEPÇÃO DUALISTA DO HOMEM

Os comentarista de Platão discutem exaustivamente se ele é ou não dualista no ponto de vista metafísico ou do conhecimento. Uns dizem que sim, outros acham que não. Mas não há discussão em torno de se Platão é ou não dualista do ponto de vista antropológico. É unânime a idéia que Platão é dualista. Dualista significando aqui que separa elementos e pólos e contrapõe um contra outro, um sendo absolutamente positivo, e outro sendo negativo e mau. E de fato Platão nos seus textos, sobretudo no Fédon contrapõe a parte supra-sensível que o compõe, a ALMA, a parte sensível, O CORPO. Qual a visão de Platão de corpo? Corpo é o cárcere, a tumba da alma onde ela habita somente para expiar suas PENAS. A alma está unida ao corpo por uma razão acidental. É uma tumba porque? Porque nós somos nossa alma e enquanto a alma habita um corpo é como se estivesse morta. Nesse sentido o nosso viver é como se estivéssemos mortos, e ao morrer é como se vivêssemos. A morte é a libertação do corpo que nos prende ao sensível. O corpo é a raiz do mal, fontes das paixões, das inimizades, das discórdias, das ignorâncias....e tudo isso representa efetivamente a morte para a ALMA. É por isso que Platão diz pela boca de

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Sócrates no Fédon que o verdadeiro filósofo é aquele que se prepara para a morte, é aquele que deseja ardentemente a morte, pois somente com a morte a Alma pode enfim retornar ao seu estágio superior. Por isso, enquanto estivermos presos ao corpo o melhor que podemos fazer é buscarmos as virtudes da ALMA: A SABEDORIA, O ENTENDIMENTO, A MODERAÇÃO, O EQUILÍBRIO, A FORTALEZA, A TEMPERANÇA ETC...É isso que faz o CUIDADO COM A ALMA.

Como correlato dessa posição temos uma teoria fundamental em PLATAO que é a teoria da imortalidade da ALMA.

2- A IMORTALIDADE DA ALMA ORFISMO: A teoria da imortalidade da alma e da metempsicose Platão deve ao Orfismo. Segundo o orfismo a alma é imortal e passa por sucessivas expiações até a purificação total.. Algumas características são marcantes no orfismo:a) No homem vive um princípio divino, daimônion, (força impulsionadora,

não do mal, como em Sócrates que é guidado pelo daimônion. Esse daimônion é unido ao corpo por causa de uma culpa original. Os cristãos chamam isso de Alma. Platão também.

b) Esse daimônion pré-existe ao corpo, é imortal, e portanto não morre com o corpo, mas é destinado a sucessivas reencarnações para expiar as suas culpas.

c) A vida órfica é a única capaz, pelas suas práticas de purificações, pôr fim ao ciclo de reencarnações.

d) Por isso para quem vive a vida Órfica entrará, depois dessa existência, no estado de perfeita felicidade, ao passo que quem não vive será fadado a sucessivas reencarnações.

Platão deve à doutrina órfica a sua concepção dualistas e a concepção da imortalidade da alma. A alma é imortal porque ela não pertence ao mundo material, mas é da mesma natureza das idéias e essas são eternas e imortais. O destino das almas após a morte vai depender da conduta ética nesta vida.

3- ANTROPOLOGIA RACIONALISTA:

O que se depreende disso tudo é que temos em Platão o que poderia se chamar de antropologia racionalista. Ou se quiser, a visão de homem que surge com Platão, aliás na seqüência dos pré-socráticos e Sócrates, é uma concepção de homem marcadamente racionalista. E quando se diz racionalista se diz ancorada, fundada na razão humana, no conhecimento como característica fundamental do homem. E isso quer dizer que os sentimentos, o coração, as paixões, a liberdade, o amor, a história recebem um tratamento secundário e até desprezível. O material e o corpóreo serão sacrificados no altar da racionalidade pura. A essência da realidade humana radica somente no racional. O ideal humano é a total desmaterialização possível da vida. O bem é alcançado por força da razão que conhece. Conhecer é por si só suficiente para praticar o bem. O bem é fruto do conhecimento e não da vontade como dirá mais tarde Santo Agostinho.

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ARISTÓTELES

Também em Aristóteles será preciso entender primeiro a sua metafísica para dela deduzir uma antropologia. Vou traçar umas linhas fundamentais no pensamento filosófico, na estrutura do pensamento de Aristóteles e depois enfrentar o problema da concepção de homem.

Aristóteles foi discípulo de Platão, mas com bom discípulo superou o seu mestre. Nietzsche diz que o maior louvor que o discípulo pode fazer ao seu mestre é ir além dele. E Aristóteles foi um dos discípulos que prestou louvor a Platão. O ir além não significa superá-lo no sentido de que o mestre esteja errado. Não. Significa ver coisas e de uma forma que o mestre não via. Foi assim com Aristóteles. Ele via tudo mais ou menos de outra forma. Com outras categorias tentava explicar a realidade na sua totalidade. Se Platão é idealista, Aristóteles é realista. Há um quadro pintado por Rafael representando o pórtico da Academia de Platão, onde Platão aparece com de pé ao lado de Aristóteles e Platão está com a mão apontando para o alto, e Aristóteles com a mão direita apontando para o chão. É um pouco isso o que realmente acontece com Aristóteles. Ele quer trazer novamente as coisa para a terra, já que Platão tinha levado para as nuvens.

E o que significa trazer as coisas novamente para a terra? O que significa o realismo de Aristóteles. A questão de fundo é a mesma. Qual a causa ou as causas que explique a realidade? Platão ao responder essa pergunta disse que a causa que explica esse mundo está fora dele, está no mundo das formas, das essências, das idéias. Só conhecendo a essência das coisas pode-se dizer que realmente se está fazendo filosofia, ciência. Aristóteles concorda com Platão que é preciso buscar o que permanece na transformação. Mas não aceita que o que diz o que a coisa é na sua universalidade e necessidade esteja fora da coisa mesma. O que a coisa é, a natureza especial de algo deve ser encontrada na coisa mesma e não fora dela. Como pergunta Aristóteles? E responde. Buscando as Causas. Se explicam as coisas pelas causas internas as coisas mesmas. Quais são essas causas que explica as coisas que Aristóteles chama de SUBSTÂNCIA?

Quatro causas:CAUSA MATERIAL: Do que é feita a substânciaCAUSA FORMAL: O que faz a coisa ser o que é, a essênciaCAUSA EFICIENTE: quem a fezCAUSA FINAL. Para que foi feita

Qualquer coisa segundo Aristóteles terá sempre essa quatro causas inclusive no homem. Uma mesa por exemplo:

Como isso funciona no ser que é o HOMEM e qual a especificidade humana em relação a todos os outros seres? Essa é a questão fundamental.

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CAUSA MATERIAL: Somos seres físicos, carne, osso, moléculas etc..a causa material é a que dá individuação aos seres. Mas o que chamamos corpo individual, o corpo próprio não é nada sem a junção com a forma, que Aristóteles chama para o ser humano de ALMA:

CAUSA FORMAL: A causa formal no homem é a ALMA, o princípio vital que o distingue de outros seres, dos vegetais e dos animais.

CAUSA EFICIENTE: O pai e a mãe.CAUSA FINAL: É A função na natureza geral, a função intelectual. O homem é um animal de natureza intelectual.

O que é fundamental para Aristóteles é como ele vê a relação entre matéria e forma.Não há separação entre matéria e forma. Há distinção, mas não separação. O que significa dizer que entre corpo e alma não pode haver separação, mas união substancial.

Com isso podemos estabelecer os principais traços da concepção antropológica aristotétlica assim enumerados:

1- ESTRUTURA BIOPSÍQUICA DO HOMEM (ou a teoria da PSYCHÉ). O homem é um ser vivo, não é um mineral, e como todo ser vivo o homem é composto de soma (corpo) e psyché, (alma). A alma é a perfeição ou ato do corpo organizado. É o fim do dualismo portanto. A concepção do homem é um composto de matéria e forma, de corpo e alma. Não existe corpo sem alma, existiria matéria informe, a morte portanto. Assim como não existe alma sem corpo. O que significa de imediato que para Aristóteles a alma não é imortal. Pelo menos não a alma individual. Só a espécie humana seria imortal, a forma humana na espécie se perpetuaria, mas individualmente quando da morte morre o ser e não subsiste a alma, pois a alma só é alma no corpo, é o corpo organizado, é a FORMA DO CORPO e em sendo forma do corpo está em todos os lugares e não está em lugar nenhum. Quando falamos em ALMA estamos nos referindo as múltiplas ações: nutrir-se, sentir e pensar. Essas atividades não podem realizar-se sem o corpo. Não há visão sem os olhos, não há sensação sem os sentidos, não há o pensar sem o cérebro etc....A alma não é pois uma substância separada do corpo. Agora, é evidente que existem diferenças de seres vivos. Há os vegetais, os animais e os homens. Essa é a escala dos seres vivos. A alma é uma só, mas cumpre três funções: a nutritiva, a sensitiva e a pensante. A função nutritiva é comum a todos os seres vivos e consiste na alimentação e reprodução, sem ela não há ser vivo. A FUNÇÃO SENSITIVA: cumpre a função sentir (dor, prazer), desejar, apetecer e mover-se no espaço. E A FUNÇÃO PENSANTE: Superior das três e só presente nos humanos. Só no homem há as três funções, no animal há duas e no vegetal uma apenas. A diferença específica no homem é pois a sua racionalidade.

2- HOMEM COMO UM ANIMAL RACIONAL: O homem pertence ao mundo natural dos viventes, mas se distingue de todos os viventes pela racionalidade. O

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homem é um animal racional. Aristóteles é grego e o grego está preocupado em determinar a natureza do ser em relação aos demais seres. E por isso busca a distinção, aquilo que é próprio e o próprio no homem é a racionalidade. Enquanto ser de LOGOS de alguma forma o homem transcende a natureza e não pode ser considerado um ser simplesmente natural. É o que depois se chamará a dimensão cultural do homem, pouco explorada pelos gregos.

A racionalidade humana se desdobra em três grandes área conforme o fim, ou alvos que a razão pode alcançar que dá origem a três grandes grupos ciências:

CIENCIAS- Teoréticas- que busca o conhecer pelo conhecer, pelo prazer da contemplação investigando a verdade das coisas que não podem mudar. Nessa área temos a metafísica, a física e a matemática. Não se produz o objeto, mas o busca compreender como ele é. Centradas no objeto em si.

Produtiva- a qual pertencem o grupo de ciências particulares que visam a produção, fabricam o próprio objeto do conhecimento cuja a finalidade é a utilidade e o prazer (artes, retórica, poesia etc...). Centradas no objeto produzido.

Práticas (Práxis)- visam o bem do indivíduo ou da comunidade, a perfeição moral do próprio conhecedor, do sujeito do conhecimento. Centrada no sujeito do conhecer. Aqui encontramos a ÉTICA E A POLÍTICA.

3- HOMEM COMO UM SER ÉTICO-POLÍTICO:

Ao fazer do domínio da práxis um domínio autônomo de racionalidade Aristóteles pode ser considerado o sistematizador inicial da ética e da política como dimensões essenciais do homem e portanto da antropologia. O homem racional, o homem como animal racional faz do homem um animal ético e político por excelência. E o homem ético e político é o homem que conduz sua ação individual e coletiva segundo a razão. Tanto a ética quanto a política se preocupam com a vida feliz, com a felicidade do homem. Todo homem tem um fim que é uma vida feliz. A felicidade é o fim último que todo homem busca. Não é meio para nada. É fim em si mesmo. Ninguém quer ser feliz para outra coisa. E a felicidade não está na posse, na honra e nem mesmo na saúde. A felicidade está em cumprir aquilo que ao homem lhe é por natureza, isto é, a racionalidade. O homem feliz é o homem virtuoso e a virtude é a ação conduzida pela reta razão. Feliz é o homem que dirige a sua vida conduzido pela racionalidade. A felicidade individual é tema da ética. A felicidade coletiva é tema da política. O VIVER BEM, A VIA BOA, E NÃO A BOA VIDA.

Agora, qual o critério que Aristóteles utiliza para determinar uma vida boa, uma vida virtuosa? Quando Aristóteles analisa isso ele introduz uma outra dimensão do homem que é um ser de PAIXAO E DESEJO. Somos RAZAO sim, mas também somo paixão e desejo. Uma vida boa, virtuosa é aquela em que a razão modela, modera, equilibra as paixões e os desejos. Vida boa não é levar uma vida desenfreada, uma vida governada pelos prazeres. Vida boa é aquela em que a razão modera justamente os desejos e paixões. Vida boa é sempre um meio termo de outro

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entre paixões por excesso ou por falta. Entre a avareza e a prodigalidade a vida boa é a generosidade. Entre o medo e a audácia a vida boa é a coragem. Entre a pobreza e a opulência a vida boa na política é aquela que constitui uma legislação intermediária que possa fazer JUSTIÇA. A JUSTIÇA É UMA VIRTUDE POLÍTICA POR EXCELÊNCIA. A VIRTUDE ESTÁ NO MEIO. MEIO TERMO DE OURO. NEM TANTO A TERRA NEM TANTO AO MAR. AS VIRTUDE DIANOÉTICA FAZ O HOMEM FELICÍSSIMO..

Conclusão: A antropologia aristotélica continua sendo até hoje um dos fundamentos da concepção ocidental do homem. O GREGO PENSA O HOMEM COMO UMA COISA ENTRE AS COISAS. UM SER INTERMEDIÁRIO NA ESCALA DOS SERES, ENTRE OS DEUSES E OS ANIMAIS. Evidentemente que ele pensa o homem grego, mas a sua concepção de homem e as categorias do pensamento para expressá-lo marcaram definitivamente a cultura ocidental e em muitos aspectos continua vivo o seu pensamento, mesmo que tenha passado por sucessivas revisões e até críticas...

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2.2 A ANTROPOLOGIA DA IDADE HELENÍSTICA

A antropologia Helênica é a antropologia subjacente ao fim do período grego, da polis grega, que tem seu término com Felipe da MACEDÔNIA E depois com Alexandre o Grande que conquista o mundo espalhando a cultura grega e preparando para um período cosmopolita que se efetivará mais tarde com o Império romano. Cronologicamente estamos aqui diante de seis século. Três antes de Cristo e três depois de Cristo. O período filosófico depois do helênico, quando a Grécia é dominada política e economicamente, mas domina culturalmente espalhando sua cultura pelo mundo até então conhecido, é o neoplatonismo com Plotino e depois com Santo Agostinho que faz um diálogo entre o cristianismo e o platonismo.

Interessa-me aqui apenas chamar a atenção para duas escolas importantes no período helênico e suas teses principais: O epicurismo e o estoicismo. Duas escolas com um fundo comum, o fim da ideal de cidadão grego que via na polis o mais alto ideal de vida, e o início da idéia de indivíduo cosmopolita. Não um indivíduo individualista como na modernidade, mas já a afirmação do indivíduo como cidadão universal que no tempo do Império romano, mesmo sem abolir a escravatura, é propagado pelos estóicos sobretudo.

Nesse período, o período helenístico, basicamente a filosofia cumpre um papel e uma função: dar sentido a vida, orientar na busca da felicidade. E para a busca da felicidade e sentido a vida já não dá para contar com a POLIS que com suas instituições livres garantia ao cidadão a mais ampla felicidade. Agora a polis já não existe e o cidadão também não. É a hora do Indivíduo pensar novas formas de felicidade, apoiando-se nas próprias forças. É o período da solidão interior. Pede a filosofia que lhe dê respostas à sonhada felicidade. É nesse sentido que a filosofia helenística tem um sentido eminentemente ético, antropológico diríamos hoje.

Duas escolas se destacam nesse período: o estoicismo e o epicurismo.

ESTOICISMO:Representantes: Zenão (336-274 a .C); Crisipo (281-208); Epicteto (50-138 d.C ); Sêneca (4 A c. 65 D. c); Marco Aurélio (121-180 d. C).

Tese fundamental: Do ponto de vista antropológico a tese fundamental do estoicismo é de que pelo LOGOS somos todos iguais, todos os homens são sagrados para o outro homem, somo todos membros de um grande corpo, o corpo humano. O humano é um composto de matéria e de LOGOS. O Logos no homem, isto é, a racionalidade no homem está ligada ao grande LOGOS que é o divino. Nós participamos do divino pela centelha do Logos que habita em nós através da alma. Há uma razão no mundo e essa razão se chama deus- LOGOS. A manifestação do logos, da razão do mundo se dá pelas leis da natureza. Nada é por acaso na natureza. E viver bem, a vida boa, a felicidade consiste em aceitar passivamente,

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resignadamente o destino natural das coisas. A imperturbabilidade diante dos acontecimentos da vida é a forma de ser feliz. Agüentar a vida como ela é, nos seus infortúnios ou glórias sem apresentar alteração emocional, impávido, controlado, indiferente as contingências da vida. Para isso é preciso controlar racionalmente as paixões que existem em nós. O sábio é feliz, e o sábio é aquele que é apático, isto é, aquele que anula as paixões através da razão. Para isso é preciso saber distinguir o que é necessário e o que é de liberdade, de livre escolha. A maioria dos nossos problemas são fruto da pretensão de querer mudar o que não tem mudança. Há uma liberdade em nós, mas essa liberdade só é boa se fizermos o que deve ser feito. Há portanto um rigorismo moral na concepção do homem estóico. Dai-me força para mudar o que pode ser mudado, e paciência para aceitar o que deve ser aceito é uma oração estóica. Apatia, imperturbabilidade estUma idéia estóica é interessante também. O estóico admite a licença ao suicídio quando em tal sofrimento e dor já não se pode mais controlar as paixões e viver segundo a razão.

OBS. O estoicismo vai influenciar muito o cristianismo, sobretudo através de João que fala da semente do verbo, do logo. Mas aqui o logos se faz carne.

EPICURISMO:

O fundador é EPICURO de Samos falecido por volta de 260 a . C. O epicurismo é uma filosofia que em muito aspecto se contrapõe ao estoicismo. É essencialmente materialista (somo soma de átomos), mecanicista (todos os fenômenos se reduzem ao movimento e suas leis), sensista (o conhecimento vem dos sentidos). Não vou falar da teoria do conhecimento e da lógica de Epicuro. Vou me deter aqui na antropologia e na ética sobretudo na concepção de felicidade.

A FELICIDADE ou o bem supremo consiste no prazer (hedoné e daí o hedonismo). O prazer é o critério da vida. Do prazer nos dirigimos e da dor nos afastamos. Agora o que Epicuro entendia por prazer? Não é qualquer prazer. Ele diz: “todos os prazeres são bons, mas uns são inconvenientes, são os prazeres do homem corrompido, que pensa só em comer, beber e nas mulheres”.

O prazer no qual, para Epicuro, consiste a felicidade é a vida pacífica, a paz da alma, a tranquilidade da alma, a ausência de qualquer preocupação, a ataraxia. O prazer é portanto entendido como ausência de dor e não como satisfação das paixões. Epicurista é aquele que diante de uma prazer vai medir a proporção do prazer com a proporção da dor causado pelo prazer. Se é maior a dor, então evita-se o prazer. O homem virtuoso é aquele que aproveita o deleite com moderação e que se limita aos prazeres que não perturba a alma. A paz da alma é o fim, ataraxia.

Para plena consecução da paz da alma Epicuro recomenda libertar-se de três preocupações: Dos deuses, da morte e da atividade política. Não há razão para se preocupar com os deuses, eles não se preocupam com as coisas desse mundo. Não há razão para se preocupar com a morte. Quando ela vem, não existimos mais. Não

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vale a pena dedicar-se à atividade política porque ela é cheia de preocupações que não redundam em nada. O indivíduo se basta a si mesmo, é autárquico, não precisa das instituições para ser feliz. A felicidade é uma questão de foro íntimo, de vida privada, cada qual cuida do seu JARDIM. Nisso todos os homens são iguais, porque todos aspiram a paz de espírito. Por conseqüência o Jardim está aberto para todos: nobres, escravos, homens e mulheres. O hedonismo moderno é mais vão. O de Epicuro era sofistica, não buscava o prazer físico sem mais, mas o prazer da alma sem dor, a harmonia da alma. A regra não é o prazer pelo prazer, mas a razão que julga e descrimina, isto é, a sabedoria que entre os prazeres escolhe os que não causam dor rejeitando os prazeres fáceis e momentâneos que trazem perturbações e dor.

EXISTEM VÁRIOS TIPOS DE PRAZER: Os naturais e necessários; 2)naturais mas não necessários. 3)não naturais e não necessários. OS primeiros estão ligados a conservação (comer quando se tem fome, beber quando se tem sede, repousar quando se está cansado etc...). Os segundos são supérfluos, comer e beber comidas e bebidas refinadas, vestir-se com roupas sofisticadas etc...OS do terceiro grupo são os prazeres vãos da honra, das riquezas, do poder etc...os do primeiro grupo estao ligados a eliminação da dor. Os do segundo grupo não tem LIMITE pois não subtrai a dor do corpo, mas está em função do prazer pelo prazer. OS do terceiro grupo além de não eliminar a dor causam perturbação da alma. Por isso a felicidade requer pouca coisa, uma casinha, uns cds, amigos...et..o supérfluo atrai o supérfluo....para causar prazer bastamo-nos, somos autárquicos. E O QUE fazer quando somos atingidos por males físicos indesejados? Se é leve é suportável, se é agudo passa logo e se é agudíssimo nos leva a morte logo que é o fim da dor. Enfim a felicidade vem de Dentro de nós e não de fora. O verdadeiro bem mesmo é a vida e para manter esse bem basta poucas coisas. No fim da vida com muita dor ele dizia A VIDA É DOCE. O QUE ACHAM DISSO?

Como se vê o Epicurismo denota mais claramente a decadência da sociedade de Alexandria. Já que a política não realiza o ideal sonhado, não nos leva para um porto seguro, melhor é ficar apreciando hedonisticamente as maravilhas do mar. Ao fim e ao cabo cai-se num individualismo e num egoísmo de interesse particular.

Os estóicos visavam formar uma espécie de super-homem moral. Os epicuristas (Lucrécio, epicuro) se contentavam em orientar o homem comum. Os estóicos e os epicuristas são dois extremos que Aristóteles tinha prevenido para ser feliz.

TRANSIÇÃO PARA O CRISTIANISMO:

Agostinho é sem dúvida o maior teólogo e filósofo cristão do período inicial do cristianismo. Mas antes dele houveram outros de renome como FÍLON DE ALEXANDRIA que faz um diálogo entre o platonismo e o judaísmo. Clemente de Alexandria que faz um diálogo entre platonismo e o cristianismo dizendo que se

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para o Judeu a lei prepara a encarnação do Verbo, do logos, para o grego quem faz essa preparação para aceitar as verdades reveladas por Cristo é a própria filosofia, a razão não é portanto contra a fé. Tertuliano, ao contrário vai dizer que é preciso crer sem razão, crer porque absurdo. Orígenes por sua vez faz um diálogo entre platão e o gênesis e o novo testamento com a doutrina da santíssima trindade. O mundo é criado por deus. Para a criação do mundo se serviu do logos que é deus filho, mas inferior ao pai. O logos cria antes de tudo os homens racionais mais perto de si mesmo. Mas os espíritos, os homens racionais são finitos e por isso não são perfeito e podem pecar. O homem peca e precisa ser restaurado, e aí vem o verbo para a encarnação e restauração.

PLOTINO (205-270):

Plotino vai noutra direção. Faz uma síntese entre a filosofia platônica e as religiões pagãs orientais. Ele é sem dúvida o maior dos neoplatônico.O neoplatonismo tem um objetivo, fornecer às classes cultas e aos espíritos elevados uma visão da vida que possa competir com a visão judaico-cristao, seja como expressão doutrinal seja como orientação moral e mística.

O maior empenho de Plotino é estabelecer a relação entre o Absoluto e nós. Ao Absoluto Plotino dá o nome de UNO. Dele não dá para dizer nada, simplesmente que é. Dá para dizer o que ele não é, mas não dá para dizer positivamente. Ele é transcendente e simples, e só das coisas compostas pode-se dizer algo. Ele não é nem alma, nem pensamento, nem quantidade, não se move nem está em repouso, não está em lugar algum e nem em tempo algum. Ele é os opostos simultaneamente. Ele está acima de todas as coisas. Ele é anterior ao movimento, ao pensamento. Ele é sempre mais do que dele se pode pensar e dizer. Para falar dele partimos das coisas posteriores e dele falamos por analogia.

Do UNO tudo vem, mas não por criação, mas por emanação, como os galhos provem do tronco, como os raios do sol do sol, como os afluentes da mesma fonte. Há uma ordem nas criaturas: o NOUS, a inteligência, da inteligência procede a vida, da vida a alma universal e da alma universal a alma de cada homem. A última emanação que procede do UNO é a matéria. É a emanação mais pobre e imperfeita. Enquanto procedo do UNO É boa, enquanto a mais afastada é má. O mal não é um princípio autônomo, é apenas uma deficiência. A metéria é a fonte do mal e da morte. Mas não é mal absoluto. É antes negação do bem, como as trevas são a negação da luz. O HOMEM É UM COMPOSTO DE CORPO E ALMA. A ALMA É distinta do corpo e a precede. A união não é explicada como culpa, mas como uma necessidade que governa a emanação. O composto de alma e corpo gera no homem a tendência para o alto e a tendência para baixo. Para o alto é conversão. Para baixo é dispersão. Elevar-se exige empenho, baixar-se é fácil.Mas é dessa fadiga que o homem encontra a perfeição. O homem é luta entre instinto e vontade, inconsciência e despertar. Ser livre é dirigir a vontade para a UNIDADE e não para a dispersão, isso é libertinagem, arbítrio.

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O MÉRITO DE PLOTINO foi ter acabado com a pluralidade de princípios (demiurgo, idéias, motor imóvel, matéria). Faz assim toda a realidade proceder de uma única raiz divina. Além disso superou o maniqueísmo que via na matéria um princípio do mal. A ética não é mais naturalista, mas espiritualista, o fim do homem é DEUS. DEMÉRITOS: A emanação é fantasiosa e não garante a transcendência de DEUS. A superação do dualismo é fraco. A matéria continua sendo a ocasião do mal.

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2.3 A CONCEPÇÃO CRISTÃO – MEDIEVAL DO HOMEM

A concepção cristão-medieval do homem prevalece na cultura ocidental do século VI ao Séc. XV, e o seu influxo se estenderão modernidade e contemporaneidade adentro. Trata-se de uma concepção teológica, no sentido cristão de teologia, isto é, dar as razões da própria esperança, ou a inteligência da fé, mas os instrumentos conceituais na sua elaboração advém em grande parte da filosofia grega.

A concepção Cristão- Medieval de homem advém assim de duas fontes: a) a tradição bíblica, do antigo e novo testamento;b) a tradição filosófica grega. Agostinho neo-platônico, Tomás aristotélico.

A fonte bíblica é normativa e por isso haverá sempre uma tensão entre fé-razão que é o constitui propriamente o grande problema nesse período. Não se pretende aqui reconstruir a totalidade dessa tensão. Apenas traçarei em grandes linhas a concepção bíblica de homem e num segundo momento a concepção tanto patrística-agostiniana quanto medieval do homem, que é o que de fato pode nos dar uma antropologia cristã pensada filosoficamente e teologicamente.

2.3.1 ANTROPOLOGIA BÍBLICA

Que imagem de homem transparece na tradição bíblica do antigo e do novo testamento? Entre os traços possíveis de uma concepção bíblica de homem poderíamos destacar um com seus desdobramentos:a) DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. Salmo 8 e Gn 1 Imagem e semelhançaInteligência, vontade e amor. B)A UNIDADE RADICAL DO SER HUMANO. De forma simples e direta

poderíamos dizer que a concepção bíblica de homem não conhece o dualismo da filosofia grega, sobrevalorizando a alma- razão em detrimento do corpo-sentidos. Aqui os comentadores dizem algo interessante. Os filósofos gregos pensavam de forma dualista pois viviam numa sociedade escravocrata. E numa sociedade escravocrata o desprezo pelo corpo e pelo trabalho do corpo é evidente. Em contrapartida a sobrevalorização da alma, entendida como razão. Bem ao contrário se passa com Israel e com Jesus e seus discípulos. O povo hebraico é um povo trabalhador e ao mesmo tempo um povo livre. A escravidão lhe é imposta e contra a vontade de Deus que quer o homem livre. Para eles é claro que o homem é um só. O pensamento acompanha as atividades corporais. É por isso que não encontramos na bíblia conceitos que se apliquem a distintas partes do homem. Não há na bíblia equivalentes dos termos corpo e alma como nos gregos. As palavras hebraicas que os tradutores traduzem por corpo ou carne (basar), alma ou espírito (ruah) não dizem respeito a uma parte ou elemento constitutivo do homem e sim a diversos aspectos da sua totalidade. BASAR (CARNE) VIVER segundo a carne como diz Paulo (HOMEM VELHO HOMEM

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NOVO, TREVAS- LUZ), não significa corpo como distinto da alma, mas sim viver segundo a fraqueza humana, a fragilidade humana e tentação ao pecado e nesse caso pode ser espiritual como a inveja, o rancor, o ódio etc...A linguagem bíblica não se refere a duas naturezas, mas a situações existenciais de adesão e escolha total. Assim a CARNE está mais no intelecto e na vontade do que na matéria. VIVER SEGUNDO A CARNE é partilhar da condição possível do homem todo dirigir a sua vida para o pecado e a injustiça. A fragilidade da carne, da condição humana está compensada pela vitalidade do espírito que é o espírito de vida e vida em abundância na graça de DEUS. Nisso reside a unidade substancial da concepção bíblica do homem.

Por outro lado a unidade radical do ser humano se manifesta também na perspectiva soteriológica, isto é, na perspectiva do plano de salvação, do homem bíblico. Essas unidade é compreendida pela perspectiva histórica do homem bíblico. História de unidade de uma relação entre palavra de DEUS e resposta livre do homem. Unidade de origem, expressa nos temas da CRIAÇÃO, QUEDA E PROMESSA. Unidade de Vocação expressa no tema da aliança entre Deus e o Homem que percorre o antigo testamento e se consuma no NT no evento Verbo feito carne. Unidade de fim expressa no tema da vida na presença de Deus e da vida em Deus.

Finalmente, e de forma paradigmática a unidade da concepção bíblica do homem se expressa pela encarnação do verbo de Deus. O homem Cristo- JESUS passa a ser dentro da narrativa histórica da salvação bíblica o arquétipo para se pensar uma antropologia bíblica de corte unitário. No homem Jesus temos a condição humana na sua totalidade, na sua condição de historicidade, de precariedade, de mortalidade. Mas no homem Jesus nós temos também o CRISTO, o divino. Em Jesus Cristo o humano e o divino se unem de tal forma que ele é todo humano e todo divino. Ele é o DEUS feito humano, duas natureza numa mesma pessoa. É esse modelo que irá inspirar a teologia e antropologia cristã posterior tanto na patrística como no medievo. Ora, se nós somos feito a imagem e semelhança de Deus, e se Jesus é o filho de Deus, nós somos feito a imagem e semelhança de CRISTO O FILHO DE DEUS. Então nada de desprezo pelo corpo, mas sim valorização total da vida.

C) Uma segunda característica da antropologia bíblica é de que não é uma teoria sobre o homem. A mensagem bíblica não é uma mensagem teórica ou especulativa, mas uma mensagem de amor. Amor de deus aos homens e resposta humana a esse amor. Há portanto uma antropologia da relação entre pessoas, assim como há uma relação intrínsica entre as três pessoas da santíssima trindade que convida a todos entrarem nessa relação. É pois uma antropologia do Amor a Deus e amor ao próximo. Essa é a mensagem central das escrituras.

D) Um terceiro elemento fundamental na antropologia bíblica é o conceito de História. A idéia de que a temporalidade, tanto na origem quanto no fim, tem um sentido, não é fruto do acaso, ou um processo inconsciente da matéria, mas é fruto de um plano, o plano de salvação que avança na aliança entre um povo e Deus e se estende universalmente em Jesus Cristo. A noção de história como passado, criação,

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presente, queda, e futuro, redenção , portanto, uma história teleológica, é essencialmente judaico cristão.

2.3.2 ANTROPOLOGIA PATRÍSTICA

Por antropologia patrística comprendemos aqui a antropologia subjacente aos primeiros Padres, pais da Igreja depois das primeiras comunidades. Do ponto de vista histórico isso vai se estender do século II ao séc. VI d.C com influências até o século XII depois de Cristo onde entra em cena aquilo que conhecemos como antropologia medieval de homem sobretudo com TOMAS DE AQUINO.

a) Situando a Patrística: a patrística divide-se em duas grandes correntes: a patrística grega e a patrística latina. Na patrística Grega temos nomes importantes como Orígenes, Gregório de Nissa, Nemésio de Emesa. Na patrística Latina os dois nomes fundamentais são Tertuliano e Sto Agostinho. É com Santo Agostinho que a concepção cristã do homem alcança uma amplitude e profundidade que fizeram dela um marco decisivo na história da cultura ocidental. Por sua representatividade máxima é dele que falaremos rapidamente.

SANTO AGOSTINHO (354-430)

Segundo Henrique de Lima Vaz podemos identificar três fontes principais que confluíram na visão agostiniana de homem:a) O NEOPLATONISMO: que constitui a base da formação filosófica de

Agostinho e ao qual teve acesso através de Plotino e Porfírio. É do neo-platonismo que Agostinho tira a idéia de que Deus é superior, mas ao mesmo tempo interior ao homem.

b) A antropologia paulina: É da antropologia paulina a idéia agostiniana de pecado original e graça na dialética entre as duas a idéia do livre arbítrio.

c) Antropologia da narração bíblica da criação: do relato da criação Agostinho retém a idéia de que o homem é feito a imagem e semelhança de Deus, isto é, um ser de inteligência, de vontade e de amor. E mais, no relato da criação Agostinho encontra a idéia de que tudo o que sai das mãos do criador é bom e que por conta disso o mal só pode ser fruto da negação livre fruto da vontade livre do ser humano. O mal é então, diferentemente do que pensam os maniqueístas fruto não de um princípio metafísico do mal, mas da condição humana de liberdade de poder pecar.

d) Essas três influências, junto com a itinerário da própria experiência subjetiva e pessoal, agostinho é o primeiro pensador que faz da própria biografia o tema constante de estudo, ele inventa o que poderíamos chamar hoje a AUTOBIOGRAFIA INTELECTUAL, de quem procura fazer o bem que conhece mas acaba fazendo o mal que não quer e por isso se debate numa luta incessante, é que dão o horizonte daquilo que podemos definir como a antropologia agostiniana que Henrique de Lima Vaz assim sintetiza:

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- O homem como ser uno: Apesar das influências neoplatônicas a unidade do homem é assegurada através da valorização da narrativa da criação onde o homem aparece como a culminância da criação e numa perspectiva otimista do homem no sentido que em sendo criado por Deus é totalmente bom, superando assim a visão dualista de Platão que via no corpo uma prisão da alma. Ver aqui o problema do Mal em agostinho. O mal não é originário da matéria, a matéria é boa. O MAL É fruto da vontade livre do ser criado por Deus. Um outro ponto alto da antropologia agostiniana é a ENCARNAÇÃO DO VERBO, implicando com isso a assunção do corpo na unidade da natureza humana. Por fim a RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO, antecipação e promessa de ressurreição de todos nós, não só na alma, mas de corpo.

- O homem como ser itinerante: Esse aspecto refere-se diretamente à experiência pessoal de Agostinho que reflete sempre na primeira pessoa, com forte acento existencial paradigmático nas CONFISSOES. A itinerância aponta para uma antropologia do caminho, um caminho que se desenrola em direção a Deus num processo de permanente conversão a Deus. Para Agostinho o homem vive num constante processo dialético entre os amores próprios e o amor a Deus que o transforma interiormente, na sua vontade, e também intelectualmente superando assim o egoísmo próprio abrindo-se a ação da Graça divina, na medida da sua abertura e acolhida. É certo que para Agostinho o homem diante de Deus tem poucos méritos. Não são os méritos humanos que podem ser reclamados diante de Deus. Não são os méritos próprios que nos salva. O que salva o homem é a graça de Deus. Há nisso um certo pessimismo difícil de aceitar. Parece que o pecado original deturpou de tal forma a essência e natureza humana que agora ele só pode ser salvo não pela racionalidade, pelo conhecimento, mas pela vontade divina, pelo resgate divino. Entra aqui a polêmica com Pelágio que diz que mesmo que Adão tivesse pecado a culpa seria só dele e não de toda a humanidade. NÃO é possível que herdemos dos progenitores as conseqüências de sua culpa e que tenhamos sido privados da capacidade de fazer o bem, diz Pelágio. Agostinho rebate dizendo que depois do pecado original, todos somos culpados por herança humana e não mais podemos voltar atrás na inocência primitiva que a vontade livre deturpou. O mal entra no mundo pelo pecado, pelo desvio da vontade e é resgatado pela graça de Deus. Segundo Agostinho, se o homem não tivesse pecado não precisaria a vinda de Jesus. O que é contestado pelos fransciscanos, São Boaventura que diz que fomos feito a imagem de Jesus, portanto Jesus é anterior ao próprio pecado.

- Homem imagem de Deus. A imagem de Deus no homem é provada pelas faculdades humanas semelhantes as divinas a memória, o amor-vondade e o conhecimento- inteligência. Por vontade e amor Deus cria o mundo, pelo conhecimento o governa e pela memória o mantém.

Com essas características a antropologia agostiniana fará a transposição da filosofia neo-platônica para dentro da concepção medieval do homem.

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TOMÁS DE AQUINO (1225-1274)

A visão agostiniana perdura no ocidente até o séc. XIII. O ocidente cristão até o século XII não conhece outra concepção de homem senão a neoplatônica agostiniana. No século XIII é a vez de um outro sistematizador entrar em cena. Tomás de AQUINO. Ele vai agora dialogar não com Platão, mas com Aristóteles. A síntese tomista, vai ter categorias aristotélicas. Como estamos aqui num vôo de águia e não tanto num ciscar da galinha que se detém em detalhes, vamos destacar alguns pontos daquilo que poderia ser a contribuição de Tomás de Aquino para a sistematização da antropologia filosófica-teológica cristã que elabora uma síntese entre a filosofia clássica grega, sobretudo aristotélica e a doutrina crista. Portanto, a antropologia tomista faz a mesma síntese entre o aristotelismo e a antropologia bíblico-cristã. A antropologia tomásica pode ser considerada a partir de três coordenadas:

1- O homem como partícipe de dois mundos: O homem, o ser humano é a unidade composta de matéria e espírito, ou se quiser, de corpo e alma e como tal uma síntese perfeita entre o material e o espiritual. No ser humano a matéria é o que dá individuação (este homem chamado Pedro com as características tais e tais), assim como esta mesa que não é igual a aquela. Mas a matéria sem a forma é indeterminada. No ser humano a forma, ou o princípio da vida se chama ALMA. Alma tem também os vegetais (alma vegetativa) e os animais (alma sensitiva que além da alma vegetativa sente e se move). No homem a alma vegetativa (alimenta-se,cresce e se reproduz) e a alma sensitiva (sente e se move) estão subordinada a alma racional que entende e quer abarcando as outras duas. Nesse sentido se quisermos uma definição de homem em Tomás de Aquino poderíamos dizer que o homem é um ser individual de natureza racional. A nota específica do homem, tal como em Aristóteles é a racionalidade. É por isso que se diz que em Tomás de Aquino nós temos um cristianismo racionalizado e uma antropologia com marcas nitidamente racionalistas no sentido de que o que constitui o homem não é tanto sua vontade, amor, ou liberdade, mas sua racionalidade. Como conseqüência temos a idéia tomásica de que não há alma sem corpo e corpo sem alma. Isso é Aristóteles puro. Porém algo vai além de Aristóteles. É a questão da alma imortal. Para Aristóteles a morte do corpo é a morte da alma também, pois a alma é apenas a forma do corpo. Para Tomás, num contexto cristão, a alma não é mortal, contudo, diferentemente de Platão ela não é pré-existente ao corpo, a alma é infundida ao corpo no ato mesmo do nascimento e após a morte física ela subsiste, pois ela é de natureza espiritual, e o espiritual não degenera, não deixa de existir, tal como os anjos, porém diferente na medida que a alma humana é humana pelo corpo. Por isso somos seres em tensão entre tempo e eternidade, entre horizontalidade e verticalidade, horizonte de confins entre o corpóreo e incorpóreo, entre natureza e graça divina, entre razão e revelação, entre filosofia e teologia. Uma supõe a outra e não estão em oposição de exclusão. O corpo e a alma formam uma unidade substancial, tão íntima e profunda, que é absurdo pensar na possibilidade de eles existirem separados, como é absurdo a cabeça viver separado do tronco e dos membros do corpo. Eu sou minha alma dizia

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platão, Tomás diz: eu sou corpo e alma juntos. Mas por ser imaterial a alma é imortal. As operações vegetativas e sensitivas dependem do corpo, mas as operações da alma, as intelectivas são atemporais, imateriais, e estão além do alcance da materialidade, essas são infundidas ao corpo pela criação. Se a alma executa ações independentes da matéria então significa que ela é imaterial, ela é espiritual e portanto imortal. No mundo eminentemente espiritual não há lugar para a morte. O que é espiritual é sem composição e portanto sem decomposição.

A antropologia racionalista fica por conta de que o peculiar do humano é a sua racionalidade. Onde não há razão, não há dignidade de pessoa. Pessoa é um conceito tomista.

2- O HOMEM É IMAGEM DE DEUS

Tomás é um filósofo de alta envergadura, mas é também um teólogo cristão. Seu esforço investigativo vai na direção de não ver oposição de exclusão entre filosofia e teologia. Entre o ser criado e o criador. A filosofia trata do ser criado e o esgota a partir da natureza mesma do ser criado através da racionalidade imanente. A teologia procura uma reflexão sistemática e racional dos dogmas da fé, inteligência da fé. Filosofia e teologia são parceiras na busca da verdade. O campo da filosofia é o natural, o ser. O campo e o domínio da teologia é o sobrenatural e o ser por excelência que é DEUS. Segundo Tomás de Aquino essa relação não é de contradição, mas de complementaridade. E isso somente é possível porque o homem é um ser natural aberto ao sobrenatural. Ele participa do ser que é Deus por semelhança, não por gênero ou espécie, mas uma analogia de semelhança. O existir da criatura está na dependência do criador que é DEUS. A racionalidade nesse aspecto não nega a divindade, mas a supõe para poder se autoafirmar. A filosofia, a razão humana nesse aspecto não contradiz os princípios da fé, mas os confirma e os explicitam. E o princípio da fé nos diz que o homem é feito a imagem e semelhança de Deus.Agora, o que é semelhante a Deus no homem? Ou, em que sentido podemos falar de que o homem é feito a imagem e semelhança de Deus? Dizer semelhança significa dizer aqui que em parte as criaturas são diferentes, em outras partes são iguais. Não há identidade pura. Mas também não há equivocidade pura. HÁ analogia. Analogia de ser. Isso significa que aquilo que se fala das criaturas pode se falar do criador, mas não do mesmo modo e da mesma intensidade. Nesse aspecto nós sabemos mais do que Deus não é do que ele é. Há no homem uma perfeição relativa que participa da perfeição absoluta de Deus do qual decorre a capacidade de conhecer a verdade e de agir moralmente segundo o bem. De qualquer forma, pode-se dizer que o homem em Tomas não se compreende senão na sua relação com DEUS. Nesse aspecto a antropologia é mais teológica do que filosófica.

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