Um novo contexto, uma nova aventura.

download Um novo contexto, uma nova aventura.

of 4

Transcript of Um novo contexto, uma nova aventura.

  • 8/14/2019 Um novo contexto, uma nova aventura.

    1/4

    O Estado de S Paulo

    domingo, 18 de maio de 2008

    Um novo contexto, uma nova aventura

    Carta a um amigo conservador

    No quero polemizar e muito menos convenc-lo. Mas depois de 30 anos trabalhando cominformao nos meios tradicionais e na nova mdia, no posso me furtar de lhe repassar a minhaviso sobre o momento que estamos vivendo. Entendo que a sociedade contempornea convivehoje, como sempre ocorreu em outros perodos da nossa histria, com estruturas e costumes dopassado. Estruturas que remontam ao feudalismo e at mesmo a pocas mais remotas. Mas oque manda, o que d o tom e forma o trend social, econmico e poltico so as dinmicas dofuturo e no as do passado. Isso, no nosso caso, significa o capitalismo entremeando-se narede.

    AlvinToffler, num recente artigo publicado no Estado em que criticava a miopia da campanha detodos os candidatos presidncia dos Estados Unidos, apontava que o industrialismo norte-americano foi superado pela rea de servios e o incio da estruturao da chamada economiado conhecimento em 1956. Para ele, o sistema de sade, de educao e at mesmo o sistemapoltico norte-americano esto falidos. um mundo que ficou para trs, apesar disso nosignificar a estruturao do novo do dia para a noite (veja mais sobre esta viso do Tofflerclicandoaqui).

    Toffler considera que se est formando uma nova sociedade com comportamentos eprocedimentos em formao na estruturao da famlia, nos relacionamentos dos jovens, comnovos conceitos de sexo, raa e idade, novas estruturas familiares e novas formasorganizacionais e culturais. Enfim, um novo mundo que segundo ele ainda no entendemos eno sabemos para que direo caminha.

    Pessoalmente, costumo fazer comparaes com o meu perodo de vida. Em relao minhacidade, tenho um sentimento que hoje vivemos numa estrutura social que no contribui oucontribui muito pouco para o desenvolvimento e fortalecimento da cidadania e da solidariedade,para falar s de dois conceitos bsicos para a civilizao. No era assim na So Paulo de 50anos atrs.

    Naquela poca, o ambiente era mais favorvel para provocar e fortalecer relacionamentos nasua rua, na quadra, no bairro. No dava medo andar nas ruas, no era banal ser assaltado ouseqestrado a qualquer momento. So Paulo no tinha 20 milhes de habitantes, no havia umcontraste to dramtico entre o centro e a periferia e a sociedade paulistana era infinitamentemenos fragmentada, diversa e complexa.

    Poucas semanas atrs, li no Estado uma entrevista com a dramaturga Leilah Assumpo. Numdeterminado trecho ela comenta as peas teatrais que na viso dela tinham contribudo parauma reflexo sobre a situao das mulheres na sociedade contempornea. Citava entre outras apea Fala baixo seno eu grito e comentava: "naquela poca, era o ano de 1969, tratava damulher. Hoje sobre a profunda solido da alma humana. Rpido demais, no ? Solido,solido, solido na sociedade da comunicao.

    No dia seguinte fui com um grupo de amigos ao Bar Brahma, l na esquina da So Joo com aIpiranga. Mesmo ali, numa noite em que todos procuravam diverso, voc podia sentir osentimento de solido, a ansiedade por no se sentir parte de algo, que ronda todos ns. Umgrupo de jovens, numa mesa ao lado da minha, comentava isso. O excesso de individualidade, afalta de objetivo que no seja monetrio, o imediatismo, a cultura da esperteza, a competitividade

    ao extremo.

    http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=8814http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=8814http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=8814
  • 8/14/2019 Um novo contexto, uma nova aventura.

    2/4

    Em 1992, quatro anos depois de comear a trabalhar com tecnologia, informao erelacionamento com o pblico e do pblico, vindo de uma carreira tradicional de jornalista demeios impressos, passei a ser o representante do Grupo Estado no MIT Media Lab. Estavadiretor da Agncia Estado e tinha me voltado para a evoluo das tecnologias de informao ecomunicao porque estava convencido que o futuro da empresa da minha famlia passava pora.

    ramos sponsors do programa News in the Future, que em pouco menos do que 10 anos evoluiupara Information: Organizede depois Simplicity. Na primeira vez que estive l tive o prazer deouvir pela primeira vez pessoalmente o cientista Nicholas Negroponte. Ele defendia a tese jnaquela poca de que a globalizao ou a acelerao deste processo por causa da evoluo dastecnologias de informao e comunicao privilegiava antes de tudo o glocal.

    Confesso que na poca no entendi. Ele analisava a fragmentao da sociedade contemporneae a capacidade das velhas instituies, criadas e desenvolvidas a partir de meados do sc XIX,quando surgiu a idia de Estado Nacional, sustentarem de forma adequada a sociedadecontempornea. Foi l tambm que pela primeira vez ouvi comparaes entre o comportamentodas formigas e o nosso futuro.

    Para ele, o conceito de nao tinha sido apropriado para este perodo histrico no qual houveuma transio do poder das cidades para um governo central de uma regio (o historiador efinancistaJaques Attali aborda este processo num livro delicioso - 1492). A sociedade do futuro,para o Negroponte, ser mais atomizada e fragmentada, com as suas unidades mais autnomas,se chegarmos l.

    No colocava esta viso de forma dogmtica, claro. Era todo um centro de pesquisa, no centrode inteligncia que o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), dedicado pesquisa eanlise dos impactos da evoluo das tecnologias de informao e comunicao sobre asociedade contempornea. O primeiro estudo sobre o processo de formao de redes de formaautnoma e natural em pases perifricos que eu vi tambm foi l. Eles falavam de redesorgnicas.

    Isso deve ter sido por volta de 1998. Depois disso, criou-se um grupo de trabalho patrocinadopela British Teleccomunication, BT, para estudar este fenmeno social sustentado pelatecnologia. Ao mesmo tempo havia outros grupos de cientistas fazendo pesquisa em torno doque inovao e quando ela acontece e o mesmo para o conceito de inteligncia coletiva.

    Tenho estes estudos comigo, meu caro amigo. Posso lhe dar uma cpia se voc tiver interesse.Era um enorme programa patrocinado pela BT. Transcrevo abaixo um conjunto de extratos dedois destes programas de pesquisa. Pode-se dizer em termos jornalsticos que se trata do leadde cada um dos programas.

    Sobre comunicaes - "As comunicaes esto prestes a se tornar caractersticas pessoais e

    embutidas no mundo que nos cerca. As novas tecnologias nos permitem construir dispositivoscom e sem fio, que so cada vez mais instalados e presentes, praticamente sem limites. Noprecisam de um backbone ou infra-estrutura para funcionar. Invs disso, utilizam vizinhos paraimprovisar tanto a distribuio de bits como a geo-localizao. Isto redistribui o domnio dascomunicaes, de um provedor integrado verticalmente, para o usurio final ou dispositivo final,segregando a distribuio de bits e os servios. As comunicaes podem se tornar algo que vocfaz, invs de algo que voc compra".

    De Adrew Lippman [1]e David P.Reed [2], pesquisadores laboratrio de mdia do Instituto deTecnologia de Massachusetts, o Media Lab [3].

    Sobre inovao - "O processo de inovao, muitas vezes, ocorre em ondas, quando osambientes social e econmico sincronizam-se em torno de uma oportunidade criada pela

    tecnologia. Isto ocorreu na dcada de 1930, com o telefone, na dcada de 1950, com oautomvel, e na dcada de 1980, com o computador pessoal. O setor de comunicaes est

    http://www.scribd.com/word/full/304887?access_key=hbm2fdnrvyeluhttp://www.scribd.com/word/full/304887?access_key=hbm2fdnrvyeluhttp://www.scribd.com/word/full/304887?access_key=hbm2fdnrvyeluhttp://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&safe=off&q=+Grupo+Estado+AND++MIT+%E2%80%93+Media+Lab&btnG=Pesquisar&meta=http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&safe=off&q=rodrigo+mesquita+AND+Media+Lab&btnG=Pesquisar&meta=http://io.media.mit.edu/http://io.media.mit.edu/http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=2036http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=2036http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/99.pdfhttp://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/99.pdfhttp://www.wikirus.com.br/Redes_Sociais_s%C3%A3o_o_caminho_%C3%A0_frentehttp://www.wikirus.com.br/Redes_Sociais_s%C3%A3o_o_caminho_%C3%A0_frentehttp://www.wikirus.com.br/Redes_Sociais_s%C3%A3o_o_caminho_%C3%A0_frentehttp://www.wikirus.com.br/A_m%C3%ADdia_em_massa_oferece_conte%C3%BAdo_%E2%80%93_a_intelig%C3%AAncia_coletiva_cria_novo_conte%C3%BAdo.http://www.wikirus.com.br/A_m%C3%ADdia_em_massa_oferece_conte%C3%BAdo_%E2%80%93_a_intelig%C3%AAncia_coletiva_cria_novo_conte%C3%BAdo.http://web.media.mit.edu/~liphttp://www.media.mit.edu/people/bio_dpreed.htmlhttp://www.media.mit.edu/http://www.scribd.com/word/full/304887?access_key=hbm2fdnrvyeluhttp://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&safe=off&q=+Grupo+Estado+AND++MIT+%E2%80%93+Media+Lab&btnG=Pesquisar&meta=http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&safe=off&q=rodrigo+mesquita+AND+Media+Lab&btnG=Pesquisar&meta=http://io.media.mit.edu/http://www.peabirus.com.br/redes/form/post?topico_id=2036http://www.cpdoc.fgv.br/revista/arq/99.pdfhttp://www.wikirus.com.br/Redes_Sociais_s%C3%A3o_o_caminho_%C3%A0_frentehttp://www.wikirus.com.br/Redes_Sociais_s%C3%A3o_o_caminho_%C3%A0_frentehttp://www.wikirus.com.br/A_m%C3%ADdia_em_massa_oferece_conte%C3%BAdo_%E2%80%93_a_intelig%C3%AAncia_coletiva_cria_novo_conte%C3%BAdo.http://web.media.mit.edu/~liphttp://www.media.mit.edu/people/bio_dpreed.htmlhttp://www.media.mit.edu/
  • 8/14/2019 Um novo contexto, uma nova aventura.

    3/4

    face a uma ruptura semelhante. Assim como no passado, gigantes verticalmente integrados,amarrados a tecnologias e servios centralizados ou de grande porte, esto sendo suplantadospor novatos armados com novas idias sobre propriedade individual, adoo incremental erotatividade instantnea. A tecnologia permite esta mudana, tornando a inteligncia local maisbarata; a sociedade transforma esta capacidade em algo que lhe til; o potencial parainvestimento econmico difuso estimula novas opes".

    De Adrew Lippman [4]e David P.Reed [5], pesquisadores laboratrio de mdia do Instituto deTecnologia de Massachusetts, o Media Lab [6].

    Minha formao em histria. Comecei a atuar como jornalista h pouco mais do que 30 anos.Entre o jornalismo tradicional dos meios impressos e o que se sustenta em tecnologias digitais etelecomunicao. Nem sempre este baseado em conversao e estruturao de novas formasde relacionamento. Muito do que est na rede, como voc sabe, estruturado em processos dedistribuio de informao broadcast (ou seja: s ida, sem interatividade). Algumas vezes porqueisso necessrio. um servio de informao e ponto. Outras vezes, por burrice, ignorncia,arrogncia e outros bichos desta espcie.

    Quanto ao lixo que est na rede, ele permeia todos os processos de comunicao. No umprivilgio da rede. O pior, aquele que no tem o que fazer e impede qualquer ao construtiva, o que se impregna por falta de sorte ou por responsabilidade nossa nas nossas cabeas.

    um abrao,

    ps: Voc j leu o livro do Alan Greenspan? Na era da Turbulncia? Vale a pena, de certa formaele dirigiu os rumos da economia mundial durante 19 anos. Logo no primeiro captulo faz umasntese dos impactos da recente e avassaladora evoluo das tecnologias de informao ecomunicao sobre a sociedade contempornea e especialmente a economia norte-americana:"Nas ltimas duas dcadas, a economia americana se tornou mais resiliente a choques. Adesregulamentao dos mercados financeiros, a maior flexibilidade dos mercados de trabalho e,mais recentemente, os grandes avanos das tecnologias de informao aumentaram a nossa

    capacidade de absorver rupturas e de nos recuperarmos do choque."

    Mais adiante, comenta: "Vrias foras globais alteraram aos poucos, s vezes de maneira quasesub-reptcia, o mundo conhecido. A mais visvel para quase todos ns, de maneira quase diria,tem sido a adoo cada vez mais intensa de novas tecnologias, como telefones celulares,computadores pessoais, correio eletrnico, internet e assistentes pessoais digitais....Estas novastecnologias no s descortinaram novos horizontes para as telecomunicaes de baixo custo,mas tambm facilitaram avanos em finanas, que ampliaram em muito nossa capacidade dedirecionar poupanas escassas para investimentos de capital produtivos, fator crtico para arpida expanso da globalizao e da prosperidade".No se pode dizer que otimista sobre o futuro. Ele comenta j neste captulo as escolhas queteremos que fazer e, claro, o preo a pagar em cada uma das situaes: "A competio estressante, pois os mercados competitivos criam vencedores e perdedores. Este livro tentarexaminar os efeitos do choque entre a economia globalizada em rpida transformao e anatureza humana rgida e constante. O sucesso econmico do ltimo quarto de milnio oresultado desta luta, assim como o a ansiedade decorrente dessas mudanas aceleradas".

    Como se v, meu caro amigo, a sociedade global em formao iniciou seu processo desuperao dos Estados Nacionais atravs da integrao acelerada da comunidade financeirainternacional. A primeira mercadoria a se globalizar totalmente foi o capital, em funo docontnuo desenvolvimento do comrcio e, como consequncia, da exponenciao dos processosde interao social que a rede permite e fomenta. O ciclo industrial apenas um desdobramentodeste processo iniciado no sculo 15.

    Este processo irreversvel reproduz-se analogamente em todos os aspectos da atividadehumana, ampliando exponencialmente nosso referencial cultural. Mas s atingir o apogeu do

    http://web.media.mit.edu/~liphttp://www.media.mit.edu/people/bio_dpreed.htmlhttp://www.media.mit.edu/http://www.scribd.com/word/full/2430214?access_key=key-1352befpi9cjki16fcabhttp://web.media.mit.edu/~liphttp://www.media.mit.edu/people/bio_dpreed.htmlhttp://www.media.mit.edu/http://www.scribd.com/word/full/2430214?access_key=key-1352befpi9cjki16fcab
  • 8/14/2019 Um novo contexto, uma nova aventura.

    4/4

    seu ciclo quando for capaz de superar as resistncias nacionalistas, representadas pelasdemarcaes geo-polticas. Quando isso for alcanado, a sim a cidadania ser global eestaremos vivendo numa nova sociedade.

    No me considere, meu caro amigo, um entusiasta ou fantico da rede. No sou. Minha procurae meus sonhos esto nos pontos perdidos da histria. Mas como Marshall McLuhanconsidero

    que o meio ambiente do homem dinmico e no s composto por elementos da natureza. composto tambm pelo que criamos e isso, gostemos ou no, contribui para o condicionamentodas nossas vidas.

    Rodrigo Lara Mesquita jornalista. Atua hoje na rede social PEABIRUS (www.peabirus.com.br)[email protected]

    http://www.peabirus.com.br/redes/form/videos?comunidade_id=268http://www.peabirus.com.br/redes/form/videos?comunidade_id=268http://www.peabirus.com.br/redes/form/perfil?id=56http://www.peabirus.com.br/redes/form/perfil?id=56http://www.peabirus.com.br/http://www.peabirus.com.br/mailto:[email protected]://www.peabirus.com.br/redes/form/videos?comunidade_id=268http://www.peabirus.com.br/redes/form/perfil?id=56http://www.peabirus.com.br/mailto:[email protected]