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Revista de Medicina da Faculdade Atenas ISSN 2236-9686 v7, n1, 2019
UM NOVO OLHAR SOBRE A HIPODERMÓCLISE-conhecimento e Aplicabilidade
na Enfermagem atual
Polyane Calçado Guimaraes Araújo1
Nicolli Bellotti De Souza2
RESUMO
A hipodermóclise é uma técnica de administração de fluidos e fármacos
pela via subcutânea. É considerada uma técnica simples e de baixo custo, podendo
ser realizada em ambientes de saúde ou em domicilio. Seus primeiros relatos foram
no auxilio as epidemias e guerras. Porém, por mais que seja antiga, pouco ainda se
conhece sobre essa técnica, principalmente após a ocorrência de algumas
iatrogenias, o que a colocou em desuso, retornando em baixa escala. Apesar de
muito utilizada no passado, atualmente pouco se sabe sobre ela, tanto no meio
acadêmico quanto profissional. A hipodermóclise como qualquer outra via de
administração de medicamentos possui suas indicações, contraindicações,
vantagens e também desvantagens. Atualmente, ela tem sido indicada para os
tratamentos oncológicos, principalmente para aqueles pacientes que necessitam de
cuidados paliativos, podendo estar em seu próprio domicilio. A enfermagem é uma
das profissões que mais se dedica a cuidados diretos ao paciente. Visto isso, tem
um papel fundamental nesta técnica, no que diz respeito à aplicabilidade da mesma,
desde sua indicação, execução e monitoramento do acesso, até a avaliação da
eficácia do tratamento, prognostico e acompanhamento do paciente. A
hipodermóclise deve ser conhecida para ser aplicada.
Palavras-chave: Hipodermóclise. Enfermagem. Técnica. Conhecimento.
ABSTRACT
Hypodermoclisis is a technique of administering fluids and drugs by the
subcutaneous route. It is considered a simple and low-cost technique, and can be
performed in health settings or at home. His first reports were in the aid of epidemics
1 Acadêmica do curso de Enfermagem - UniAtenas
2 Docente e Orientadora Científica – UniAtenas
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and wars. However, although it is old, little is known about this technique, especially
after the occurrence of some iatrogenies, which put it in disuse, returning at a low
scale. Although much used in the past, little is known today about it, both in the
academic and professional settings. Hypodermoclisis like any other route of
administration of medicines has its indications, contraindications, advantages and
also disadvantages. Currently, it has been indicated for cancer treatments, mainly for
those patients who need palliative care, and may be in their own home. Nursing is
one of the professions most dedicated to direct patient care. Given this, it plays a
fundamental role in this technique, regarding its applicability, from its indication,
execution and monitoring of access, to the evaluation of the efficacy of treatment,
prognosis and follow-up of the patient. The hypodermoclisis should be known to be
applied.
Keywords: Hypodermoclase. Nursing. Technique. Knowledge.
INTRODUÇÃO
Os primeiros relatos sobre a Hipodermóclise se deu em 1886 na epidemia
de Cólera da Venezuela, onde o médico italiano Arnaldo Cantani propôs desde 1885
o uso da hipodermóclise para o tratamento rápido de desidratação e acidose
sanguínea dos pacientes. Essa epidemia durou cerca de um mês e ao termino
houve um resultado satisfatório quanto à aplicação da hipodermóclise visto que os
pacientes se encontravam na fase aguda da doença (DALL’OLIO; 2009).
A Hipodermóclise em 1913 foi utilizada, porém devido à presença de
iatrogênias, o seu uso teve um declive significativo (MANSFIELD et al, 1999).
A Hipodermóclise ou Terapia Subcutânea é utilizada para aqueles
pacientes onde a via oral, endovenosa e intramuscular já estão comprometidas, e
necessitam de infusões de fluidos, fármacos e grandes volumes de forma
intermitente ou contínua, podendo ser executada em ambiente hospitalar,
ambulatorial e até mesmo domiciliar, desde que supervisionada por um profissional
capacitado (AZEVEDO; SANTOS 2009).
Por ser uma técnica de simples aplicação e com baixo custo, é necessário
ter um olhar humanitário quanto a ela, pois tanto para o paciente quando a
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instituição vale a pena. Trata-se de uma técnica menos invasiva, com menores
riscos de infecção e contaminação, além de gerar menos desconforto e dor ao
paciente, podendo ser aplicada a pacientes paliativos e sob os cuidados de Home
CARE (SASSON, 2001).
METODOLOGIA DO ESTUDO
O estudo foi realizado através de pesquisa bibliográfica com revisão de
literatura com base em artigos, pareceres técnicos publicados por órgãos de
fiscalização profissional da enfermagem e livros publicados relacionados ao tema
(GALLUPO, 2012).
A base de dados utilizada foi o Google acadêmico. As palavras chaves
utilizadas serão: Hipodermóclise, Terapia Subcutânea, via subcutânea,
Hipodermóclise em cuidados paliativos.
Foi realizada também uma pesquisa entre os profissionais e acadêmicos
de Enfermagem, por meio de um questionário para avaliar o conhecimento da
referida técnica (Anexo). A todos os participantes foi aplicado o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido.
HIPODERMÓCLISE
CONCEITO
A Hipodermóclise é uma via alternativa de administração de fluidos,
eletrólitos, fármacos e soluções com pH próximo da neutralidade no tecido
subcutâneo, utilizada em pacientes que estejam com a via oral comprometida, cuja a
via endovenosa esteja de difícil acesso e tenha a possibilidade de continuar o
tratamento em domicilio, podendo ser administrada de forma contínua ou
intermitente tendo como objetivo a reposição hidroeletrolítica e/ou terapia
medicamentosa. A Hipodermóclise pode ser realizada em pacientes que necessitem
de cuidados paliativos em casos de neoplasias malignas (INCA, 2009).
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HISTÓRIA DA HIPODERMÓCLISE
Os primeiros relatos sobre a Hipodermóclise se deu em 1886 na epidemia
de Cólera da Venezuela, onde o médico italiano Arnaldo Cantani propôs desde 1885
o uso da hipodermóclise para o tratamento rápido de desidratação e acidose
sanguínea dos pacientes. Essa epidemia durou cerca de um mês e ao termino
houve um resultado satisfatório quanto à aplicação da HPC visto que os pacientes
se encontravam na fase aguda da doença (DALL’OLIO; 2009).
No ano de 1913 houve relatos sobre a aplicação da técnica de
Hipodermóclise utilizada em crianças e recém-nascidos. Porém, entrou em desuso
devido ao aparecimento de efeitos adversos graves em situações críticas que não
permitiam erros, sendo um fator definitivo para extinção da técnica. Na Inglaterra no
fim da década de 60, diante de um novo contexto sendo este em pacientes em
cuidados paliativos, a técnica de Hipodermóclise se iniciou novamente, expondo as
vantagens e desvantagens e que esta poderia ser mais uma opção de via de
administração de medicamentos, sendo ela pratica, eficaz, de baixo custo e segura,
tendo também a opção de não ser somente realizada em ambientes hospitalares
bem como também no próprio domicilio do paciente, proporcionando melhor conforto
e bem estar para o mesmo (OLIVEIRA, 2008).
Russel em 1979 relata o uso da Hipodermóclise como uma via alternativa
para administração de Morfina em pacientes oncológicos no estado já avançado.
Após este foram possíveis novos estudos para a contribuição e recomendação da
via subcutânea como uma via segura e eficaz na administração de fluidos e
fármacos.
Em 1991 McQueen M, et al descreveu um estudo realizado com pacientes
idosos saudáveis, onde foram infundidas soluções salinas por vias endovenosas e
subcutâneas por hipodermóclise, onde os resultados quando comparados referente
a absorção e eficácia fora quase idêntico (NOREÑA; RAMÍREZ,2009).
Desde 2008 a Hipodermóclise tem sido utilizada no NCP (Núcleo de
Cuidados Paliativos) do Hospital das Clinicas de Porto Alegre (HCPA) em pacientes
com câncer avançado em suporte clinico paliativo com reposição hidroeletrolítico e
medicamentoso com seus pacientes em internação (PONTALTI et al, 2015).
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A EXECUÇÃO DA HIPODERMÓCLISE
ANATOMIA DA PELE
A pele constitui o maior órgão do corpo humano, é um revestimento
heterogêneo e complexo, formada por três camadas de tecidos sobrepostas (Figura
1) a camada superior (epiderme), uma intermediária (derme) e outra camada mais
profunda (hipoderme), sendo nesta utilizada para instalação da HPC. Dentre as suas
funções apresenta as de transpiração, proteção, pigmentação, nutrição, termo
regulação, defesa e absorção (BATISTELA, 2007; (SANT’ANNA, 2003).
Figura 1- Camadas da Pele.
Fonte: Imagens google3.
A hipoderme não faz parte da pele, porém é de extrema importância por
fixar a epiderme e a derme às estruturas subjacentes, sendo também conhecida
como tela subcutânea, tecido subcutâneo ou fáscia superficial (GUIRRO e GUIRRO,
2002).
A hipoderme não faz mais parte da pele, é formada por tecido conjuntivo
frouxo, responsável pelo deslizamento da pele sobre as estruturas onde se apoia,
além de servir como depósito de gordura (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008). 3 Disponível em https://www.google.com.br/search?hl=pt-
BR&tbm=isch&source=hp&biw=1366&bih=608&ei=LaenW52JDsePwwSZ36a4Dg&q=CAMADAS+DA+PELE&oq=CAMADAS+DA+PELE&gs_l=img.3..0l10.810.4166.0.4934.16.11.0.5.5.0.240.1394.0j9j1.10.0....0...1ac.1.64.img..1.15.1500.0...0.7xZRpheIkvM#imgrc=qgypwo0dnyAQ8M: acesso 29/08/18.
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Em questão de absorção (Figura 2), a aplicação de substâncias via
Hipodermóclise tem o mesmo mecanismo de ação daquelas realizadas por via
intramuscular, porém com o tempo de ação prolongado, sendo estes tecidos
dotados de capilares sanguíneos, onde a solução é transportada para a macro
circulação por meio da difusão de fluidos e perfusão tecidual (INCA 2009).
Figura 2- Variação da concentração do medicamento na corrente sanguínea com o
tempo
Fonte: Adaptado de Lüllmann, Color Atlas of Pharmacology 2000 .
LOCAIS DE ADMINISTRAÇÃO DA HIPODERMÓCLISE
Os locais mais indicados para administração são: região deltoide, região
anterior do tórax, região escapular, região abdominal, e nas faces anterior e lateral
das coxas (Figura 3). Esta via tem a capacidade máxima de infusão 2000ml/24hs
em dois sítios, sendo 1000 ml em um mesmo acesso (SASSON, 2001).
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Figura 3- Locais de administração da hipodermóclise
Fonte: adaptado de AZEVEDO(2016)
3.3 TÉCNICA UTILIZADA NA HIPODERMÓCLISE
A técnica se realiza como qualquer outro tipo de punção venosa, porém
no tecido subcutâneo, necessitando dos seguintes materiais (D´AQUINO; SOUZA,
2012), como ilustrado na Figura 4:
a) solução preparada para ser instalada (soro, medicamentos);
b) equipo com dosador (ml/hora);
c) solução antisséptica (álcool 70% ou clorexidina);
d) gaze, luva de procedimento;
e) scalps 25, 27, 23 (tipo butterfly) ou jelco.
f) seringas de 3,5,10 ou 20ml;
g) soro fisiológico a 0,9%;
h) filme transparente para fixar;
i) esparadrapo para identificação da punção.
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Figura 4- Materiais necessários para a execução da hipodermóclise
Fonte: Azevedo (2016)
De acordo com o SASSON (2001), a técnica consiste na inserção de um
cateter agulhado (scalp-butterfly) ou não agulhado (jelco), no espaço subcutâneo,
não sendo necessário o garroteamento, seguindo os seguintes passos:
a) separar o material a ser utilizado em uma bandeja;
b) preparar o medicamento como, realizar diluição necessária e/ou
preencher o equipo de infusão com a solução a ser infundida;
c) explicar ao paciente sobre o procedimento;
d) realizar a assepsia das mãos e calçar as luvas de procedimento;
e) escolher o local da infusão;
f) fazer antissepsia e a prega cutânea na pele;
g) introduzir o scalp/jelco num ângulo de 30° a 45° (a agulha deverá ficar
solta no espaço subcutâneo);
h) fixar o scalp com o filme transparente;
i) assegurar que nenhum vaso tenha sido atingido (caso seja a técnica
deverá ser realizada novamente);
j) aplicar o medicamento direto no escalp/jelco ou conecta lo ao equipo
da solução,
k) identificar a punção com hora, data e o profissional que a realizou;
l) relatar o procedimento.
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A execução da técnica encontra-se ilustrada na Figura 5.
Figura 5- Ilustração da execução da técnica de hipodermóclise.
Fonte : Adaptado de Azevedo (2016) e Araujo (2017).
Algumas observações relacionadas a punção também se fazem
necessárias tais como:
a) ao tomar banho deve proteger o local da punção pra evitar umidade e
possivelmente predisposição a bactérias.
b) a lavagem das mãos antes do manuseio do cateter é indispensável pra
prevenir infecções.
c) o gotejamento para a infusão de solução deve ser em torno de 60 a
125 ml/h, considerando as condições clínicas do paciente.
d) não é recomendado fazer a punção em locais com proeminências
ósseas.
e) Desde que não haja sinais flogísticos, a punção pode permanecer de
72 horas até de 4 a 7 dias e na presença destes fazer uso de calor
(bolsa térmica) para amenizar os sintomas. Caso haja sangramento,
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hiperemia ou hematoma, a punção deverá ser trocada (FERREIRA;
SANTOS, 2009).
MEDICAMENTOS MAIS UTILIZADOS VIA HIPODERMÓCLISE
Segundo D’Aquino e Souza (2012), os medicamentos que são comumente
administrados pela via subcutânea são aqueles cujo pH está próximo à neutralidade
e são hidrossolúveis como, por exemplo, a morfina, brometazida, ondrasetrona,
metadona, midalozan, prometazina, metrocloprsmida, fenobarbital, escopolamina,
dexametasona, clorpromazina, clonidina, ranitidina, garamicina, tramadol dentre
outros.
Grande parte das soluções isotônicas de uso endovenoso pode ser
administrada por via subcutânea, sendo mais utilizadas as isotônicas de sódio com e
sem glicose. Soluções eletrolíticas não vesicantes com ou sem lactato também
podem ser administradas. Já as soluções glicosadas de 5% a 10% não devem ser
utilizadas na hipodermóclise (TURNER, CASSANO 2004).
Thomas et al (2008), citaram que podem ser administrados também por
esta via, haloperidol, insulina, cloreto de potássio, aminofilina, hidrocortisona
penicilinas e extreptomicinas.
Embora escassos, já existem relatos sobre o uso de antimicrobianos
administrados por essa via, dentre eles estapenen, amicacina, gentamicina e
teicoplamina (AZEVEDO, 2012).
Existem também algumas soluções e medicamentos que não são
compatíveis com esta via como, por exemplo, diazepam, diclofenaco, eletrólitos não
diluídos e fenitoína (D’AQUINO; SOUZA, 2012)
ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DA HIPODERMÓCLISE
INDICAÇÕES
A hipodermóclise está indicada nos casos onde a ingesta oral de
alimentos líquidos e medicamentos são prejudicados, onde há perda significativa de
líquidos relacionada a vômitos, diarreia e outros; onde há dificuldade em puncionar
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ou até mesmo de se manter um acesso venoso periférico pérvio, pois existem
pacientes com veias debilitadas e frágeis, ou até mesmo colapsadas e finas que se
rompem facilmente. Está indicada também nos casos onde o paciente se encontra
no estado de sonolência, confusão e hipertermia. Indicada para hidratação em longo
prazo. Há também a possibilidade de ser realizada naqueles que não necessitem de
estar hospitalizado, porem necessitam de cuidados no domicilio (OLIVEIRA 2008;
INCA 2009; SASSON 2001).
CONTRA INDICAÇÕES
Assim como a hipodermóclise tem suas indicações, possuem também
algumas contraindicações que são necessárias ser ressaltadas como, por exemplo,
não pode ser aplicada em pacientes trombocitopênicos ou com problemas de
coagulação sanguínea; com distúrbios severos de eletrólitos; edemas, anasarca, e
risco de congestão pulmonar e em casos de todos os tipos de choques onde há
necessidade de infusão rápida (OLIVEIRA 2008; INCA 2009; SASSON 2001).
VANTAGENS
A hipodermóclise tem como uma das maiores vantagens o seu baixo
custo, sendo uma técnica simples segura e eficaz, de fácil administração, podendo
ser realizada em domicílio, por um membro da equipe de enfermagem ou por um
cuidador de saúde treinado. Também exige menos tempo de supervisão técnica de
um enfermeiro, além possibilitar a alta precoce do paciente de um ambiente
hospitalar, favorece a funcionalidade do paciente por ser quase indolor. Oferece
mínimo desconforto de posicionamento e risco de complicação local ou sistêmica,
além de menor risco de sobrecarga cardíaca por infusão rápida (OLIVEIRA 2008;
INCA 2009; SASSON 2001).
DESVANTAGENS
A Hipodermóclise não é via de escolha para infusão de grandes volumes
ou infusão rápida, tendo uma capacidade máxima em cada sitio de punção. Algumas
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medicações que são contraindicadas como, por exemplo, diazepam e diclofenaco e
há associações medicamentosas que não são convenientes como exemplo a
Metadona com a morfina, exigindo avaliação criteriosa. Sua absorção também pode
variar de acordo com a perfusão e vascularização de cada paciente (OLIVEIRA
2008; INCA 2009; SASSON 2001).
ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO FRENTE À HIPODERMÓCLISE
A enfermagem tem um papel fundamental na terapêutica de um paciente.
O enfermeiro é responsável pela administração de medicamentos, o que exige o
conhecimento sobre anatomia, fisiologia, microbiologia e bioquímica para que tal
procedimento seja realizado de maneira segura e eficaz. É necessário saber
também a ação medicamentosa que se espera de uma determinada medicação bem
como as possíveis interações com outros medicamentos e possíveis reações
adversas e erros, como os de administração incorreta (FILHO; CASSIANI, 2009).
A hipodermóclise pode ser realizada pelo enfermeiro ou por um membro
da sua equipe e até mesmo um cuidador em domicílio desde que receba um
treinamento para tal procedimento (MCCAFFERY; PASSERO, 2000)
O parecer tecnico nº 06/2015 do Conselho Regional de Enfermagem do
Sergipe descreve:
a) a hipodermóclise pode ser executada pelos membros da Equipe de Enfermagem (Auxiliares, Técnicos de Enfermagem e Enfermeiros) observando-se o seguimento de criterios cientificos de aplicabilidade e de condutas sistematizadas e previstas em Manual de Protocolos da Instituição;
b) a prática da hipodermóclise pelo auxiliar e Técnico de Enfermagem somente poderá ser Realizada mediante supervisão direta do Enfermeiro;
c) inexistem impedimentos à aplicação da hipodermóclise nos serviços de saúde desde que as condutas sejam instucionalizadas, os profissionais de Enfermagem possuam treinamento adequado e se sintam aptos para sua operacionalização;
d) a administração de medicamentos por via diferente da oral nao é de competencia do cuidador por exigir conhecimentos cientificos especificos, configurando-se atribuição de Enfermagem.
Cabe ao enfermeiro ter conhecimentos específicos sobre a
hipodermóclise considerando que ele é o responsável pela realização ou supervisão
da técnica, da manutenção e permeabilidade do acesso, a fim de comparar os
resultados obtidos no tratamento, se este foi eficaz ou nao, e avaliar as condições
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clínicas do paciente, verificando se há possibilidades de continuidade ou se outras
intervenções terapêuticas serão necessárias (TAKAKI; KLEIN, 2010).
A terapia subcutânea é pouco conhecida no meio acadêmico e também
entre os profissionais já graduados, sendo necessária a discussão sobre o tema ou
até mesmo a criação de uma normalização ou um programa que viabilize a
utilização desta via de administração para mendicamentos, realizando treinamentos
e educação continuada dos profissionais, além de orientações e cuidados que sejam
necessários aos pacientes e familiares (PEREIRA, 2008).
Para Oliveira (2008), o desconhecimento sobre o assunto se dá devido à
falta de discussão sobre o tema nas escolas e faculdades, locais onde deveríamos
ter o primeiro contato.
Takaki; Klein (2010) realizaram um estudo descritivo e exploratório
através da aplicação de um questionario em uma instituiçao hospitalar privada na
cidade de São Paulo com 07 enfermeiros atuantes em unidade de internação na
assistência direta ao paciente. Esse estudo mostrou que a maioria dos enfermeiros
desconhece sobre a hipodérmoclise, visto que neste estudo, apenas 02 enfermeiros
tiveram conhecimento sobre a técnica, o restante (05 participantes) nunca ouviu falar
ou tevve contato com a mesma. Todos os participantes informaram não receber
nenhuma informação sobre tal por parte da instituição. Os autores sugeriram que
este tema seja mais abordado nos cursos de graduação, sendo necessário discutir
seus benefícios, indicações e possíveis reações adversas, enfatizando a atuação do
enfermeiro frente a essa técnica, visto que o seu papel é de suma importância na
assistência e supervisão do processo terapêutico do paciente.
Para Oliveira (2008) no Brasil são notórias a carência de estudos,
utilização eficaz e divulgação da hipodermoclise, o que exige pesquisas para melhor
consolidação do assunto. Deve-se considerar a falta de conhecimentos por parte
dos profissionais de saúde, sendo médicos, enfermeiros e farmacêuticos, o que
provavelmente está relacionado com a falta de informação e discussão do tema
desde a formação acadêmica, tornando necessária a inserção do conteúdo nas
grades acadêmicas.
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O CONHECIMENTO DOS PROFISSIONAIS E ACADÊMICOS DE ENFERMAGEM
SOBRE A HIPODERMÓCLISE EM PARACATU
Quinze pessoas, incluindo acadêmicos de enfermagem do Centro
Universitário Atenas e funcionários do Hospital municipal de Paracatu, participaram
do estudo, respondendo ao questionário que consta no Anexo A. Dentre os
participantes, 14 pessoas (93,7%) era do sexo feminino e 01(6,6%) do sexo
masculino, com idade média de 31 anos.
Com relação às ocupações dos participantes, conforme ilustrado no
Gráfico 1, 04 pessoas (27%) eram acadêmicos de enfermagem cursando o 10°
período e se encontravam em estágio hospitalar; 11 pessoas (73%) já são
graduadas, sendo que 07 pessoas (46,5%) trabalham em ambiente hospitalar e 04
pessoas (26,5%) trabalham em UBS (Unidade Básica de Saúde).
Os anos de graduação dos participantes variaram de 2001 a 2017. Os 04
acadêmicos (27%) entrevistados concluirão o curso em dezembro do ano corrente.
Gráfico 1 – Ocupação dos entrevistados
Fonte: elaborado pelo próprio autor
Dentre os 07 entrevistados que trabalham em ambiente hospitalar, 01
pessoa (14,28%) na coordenação administrativa; 01(14,28%) em supervisão de
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ocupação
Profissionais de ambienteHospitalar 46%
Profissionais de UnidadesBásicas de Saúde 27%
Acadêmicos 27%
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estágio; 01 pessoa (14,28%) na classificação de risco; 04 pessoas (57,16%) como
plantonista.
Com relação aos 04 entrevistados que trabalham em UBS, 01 pessoa
(25%) trabalha como supervisora de estágio; outra (25%) como coordenada da
atenção básica da cidade de Guarda Mor e 02 pessoas (50%) como enfermeiras da
saúde da família.
Como ilustrado no Gráfico 2, dos 15 entrevistados , 07 pessoas (47%)
não sabem nenhuma informação sobre o assunto, enquanto 08 pessoas (53%)
obtiveram algum conhecimento sobre a hipodermóclise.
Gráfico 2 - Conhecimento sobre a hipodermóclise
Fonte: Elaborado pelo autor
Dentre os que declararam conhecimento sobre a hipodermóclise, 08
entrevistados: 02 pessoas (25%) obtiveram o conhecimento durante a faculdade; 01
pessoa (12,5%) foi através de terceiros; 01 pessoa (12,5%) através de outro
profissional de outra área (veterinário); 01 pessoa (12,5%) através de explicação
verbal através de uma médica; 01 pessoa (12,5%) através de sua pós-graduação
em oncologia e 02 pessoas (25%) obteve conhecimento através da internet e por
artigos científicos. Esses resultados encontram-se ilustrados no Gráfico 3.
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conhecimento
não possuem conhecimento 47% possuem conhecimento 53 %
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Gráfico 3 – Via de aquisição do conhecimento sobre a hipodermóclise
Fonte: Elaborado pelo autor
Com relação à opinião sobre o grau de conhecimento a respeito da
hipodermóclise, 10 pessoas (66,7%) relataram que o grau de conhecimento é
escasso; 04 pessoas (26,7%) não souberam responder; 01 pessoa (6,6%) não
respondeu. Esses resultados encontram-se ilustrados no Gráfico 4.
Gráfico 4 – Opinião dos entrevistados sobre o grau de conhecimento a respeito da
hipodermóclise
Fonte: Elaborado pelo autor
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vist
ado
s (%
)
vias de aquisiçao
Durante a faculdade 25%
Através de terceiros 12,5%
Profissionais de outra área12,5%
Explicação verbal médica12,5%
Pós graduação 12,5%
Internet e artigos científicos25%
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ESCASSO 66,7% NÃO SOUBERAM RESPONDER 26,7%
NÃO RESPONDERAM 6,6%
en
tre
vist
ado
s (%
)
opinião
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Como é possível observar no Gráfico 5, todos os entrevistados, 10
pessoas (66,7%) além de apontarem escassez de informaçao, relataram que falta
divulgação, treinamentos e palestras sobre o assunto; 03 pessoas (20%) não
souberam responder e 02 pessoas (13,3%) não responderam.
Gráfico 5 – Motivos do desconhecimento sobre a hipodermóclise
Fonte: Elaborado pelo autor
Em acordo com outros estudos apontaram (TAKAKI, KLEIN 2010;
OLIVEIRA 2008), é possível concluir que há uma grande deficiência no grau de
conhecimento tantos dos Enfermeiros quanto dos acadêmicos de enfermagem, e
que seria necessária uma melhor divulgação e implantação do conteúdo nas
faculdades e instituições de saúde com treinamentos, capacitações e
aperfeiçoamentos para os profissionais para melhor aceitação e aplicabilidade da
mesma, expondo suas indicações, vantagens, desvantagens e até mesmo as
possíveis complicações e reações adversas. Assim, sendo mais amplamente
conhecida, a hipodermóclise configurará uma via alternativa de administração de
medicamentos e fluidos, não somente na ala de cuidados paliativos, mas onde
houver necessidade e indicação de uso da mesma.
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falta divulgação,palestras e treinamentos
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CONCLUSÃO
A hipodermóclise quando comparada a outras vias de administração de
fluidos e fármacos, se torna uma via alternativa simples, de baixo custo, de fácil
instalaçao no paciente, de boa disponibilidade de materiais e mão de obra, e é
considerada com poucas contra indicações e reações adversas, sendo muito
utilizada em pacientes oncológicos diante dos cuidados paliativos prestados.
Uma de suas principais indicações é a possibilidade de permanência do
paciente em seu próprio domicílio, mesmo necessitando de alguns cuidados,
evitando assim hospitalizações desnecessárias e prolongadas, diminuindo o risco de
infecções e doenças oportunistas, trazendo assim um conforto e aconchego familiar
cada vez mais próximo do paciente.
A enfermagem atua na assistencia direta ao paciente, desempenhando
um papel fundamental na sua aplicação e suporte, devendo sempre aprimorar seus
conhecimentos, para prestar um atendimento efetivo e de qualidade.
Visto que a hipodermóclise mesmo sendo uma técnica antiga, com início
em meados dos anos 80, nos dias atuais ainda é pouco conhecida no meio
profissional e acadêmico de enfermagem. Fica claro que é necessário fornecer mais
informação sobre a técnica, por meio da educação continuada daqueles que já
exercem a profissão e para aqueles que ainda são graduandos, seria ideal que o
assunto fosse abordado de maneira a adquirir o conhecimento e um primeiro contato
com a técnica, despertando assim o interesse em aprimorar cada dia mais sua base
de dados.
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ANEXO: Questionário para avaliar o conhecimento a respeito da Hipodermóclise.
1. Qual cargo e área de atuação você exerce na área de Enfermagem?
2. O que você tem como conhecimento e bagagem sobre a
Hipodermóclise?
3. Como adquiriu tal conhecimento?
4. Qual a importância desta técnica, em sua opinião?
5. Qual o papel da enfermagem na execução desta técnica?
6. Em sua visão, como é o grau de conhecimento sobre tal técnica?
7. O que falta para que ela seja mais conhecida e aplicada?