UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto...

14
¹ Graduando de Licenciatura em História da Universidade da Região de Joinville Univille. Contato: [email protected] ² Graduando de Licenciatura em História da Universidade da Região de Joinville Univille. Contato: [email protected] ³ Doutora em Artes Visuais pela ECA/USP e professora dos Departamentos de Artes Visuais e Design. Contato: [email protected] Professor dos Departamentos de História e Design e do Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade da Univille. Contato: [email protected] Mestra em História pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, e professora da Univille e historiadora do Arquivo Histórico de Joinville. Contato: [email protected] UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA UNIVILLE Éwerton de Oliveira Cercal¹ Moroni de Almeida Vidal² Alena Rizi Marmo Jahn³ Fernando Cesar SossaiArselle de Andrade da FontouraResumo: os museus vêm assumindo novas funções em diferentes formatos, estabelecendo-se como uma instituição que coloca em primeiro plano as experiências dos diferentes públicos que com eles interagem. Essa experiência, muitas vezes, é mediada pelo uso da tecnologia, cuja emergência e rápido desenvolvimento talvez estejam entre os maiores desafios dos museus no século XXI. Preservar? Como? Como mostrar? O MUVI-Univille pretende contribuir para que isso aconteça, à princípio e nessa primeira edição do projeto, por meio da disponibilização de quatro ambientes virtuais, a saber: o ambiente de exposição, o ambiente de educação, o ambiente de divulgação científica e o ambiente de mapeamento de possíveis patrimônios culturais da Universidade. Por meio desses ambientes, o conhecimento e as informações serão colocados à disposição para exercícios reflexivos dos visitantes que entrarem em contato com as exposições, além de ferramentas e atividades que promovam a participação e a interação com o visitante, em âmbito interdisciplinar. Logo, este artigo tem por objetivo apresentar uma conceituação de Museu Virtual e de outros termos envolvidos que estamos trabalhando, além de uma caracterização geral do projeto MUVI- Univille, bem como alguns resultados preliminares advindos do desenvolvimento deste projeto, compartilhando os conceitos e ideias trabalhadas e construídas até o momento e as dificuldades enfrentadas. Palavras-chave: Museu Virtual, Interdisciplinaridade, Educação Introdução É notório que as tecnologias estão cada vez mais inseridas no nosso cotidiano. Com tal permeação, se abriu um leque de novas possibilidades, de novas formas de explorar essas tecnologias, das mais variadas potências, e fomentar novas formas de interagir, novas experiências. Mas, como efetivamente fazer uso dessa possibilidade, desse potencial, sem criar uma réplica do mundo real na esfera virtual? É neste

Transcript of UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto...

Page 1: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

¹ Graduando de Licenciatura em História da Universidade da Região de Joinville – Univille. Contato: [email protected] ² Graduando de Licenciatura em História da Universidade da Região de Joinville – Univille. Contato: [email protected] ³ Doutora em Artes Visuais pela ECA/USP e professora dos Departamentos de Artes Visuais e Design. Contato: [email protected] ⁴ Professor dos Departamentos de História e Design e do Mestrado em Patrimônio Cultural e Sociedade da Univille. Contato: [email protected] ⁵ Mestra em História pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, e professora da Univille e historiadora do Arquivo Histórico de Joinville. Contato: [email protected]

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA

UNIVILLE

Éwerton de Oliveira Cercal¹

Moroni de Almeida Vidal² Alena Rizi Marmo Jahn³ Fernando Cesar Sossai⁴

Arselle de Andrade da Fontoura⁵

Resumo: os museus vêm assumindo novas funções em diferentes formatos, estabelecendo-se como uma instituição que coloca em primeiro plano as experiências dos diferentes públicos que com eles interagem. Essa experiência, muitas vezes, é mediada pelo uso da tecnologia, cuja emergência e rápido desenvolvimento talvez estejam entre os maiores desafios dos museus no século XXI. Preservar? Como? Como mostrar? O MUVI-Univille pretende contribuir para que isso aconteça, à princípio e nessa primeira edição do projeto, por meio da disponibilização de quatro ambientes virtuais, a saber: o ambiente de exposição, o ambiente de educação, o ambiente de divulgação científica e o ambiente de mapeamento de possíveis patrimônios culturais da Universidade. Por meio desses ambientes, o conhecimento e as informações serão colocados à disposição para exercícios reflexivos dos visitantes que entrarem em contato com as exposições, além de ferramentas e atividades que promovam a participação e a interação com o visitante, em âmbito interdisciplinar. Logo, este artigo tem por objetivo apresentar uma conceituação de Museu Virtual e de outros termos envolvidos que estamos trabalhando, além de uma caracterização geral do projeto MUVI- Univille, bem como alguns resultados preliminares advindos do desenvolvimento deste projeto, compartilhando os conceitos e ideias trabalhadas e construídas até o momento e as dificuldades enfrentadas. Palavras-chave: Museu Virtual, Interdisciplinaridade, Educação

Introdução

É notório que as tecnologias estão cada vez mais inseridas no nosso cotidiano.

Com tal permeação, se abriu um leque de novas possibilidades, de novas formas de

explorar essas tecnologias, das mais variadas potências, e fomentar novas formas de

interagir, novas experiências. Mas, como efetivamente fazer uso dessa possibilidade,

desse potencial, sem criar uma réplica do mundo real na esfera virtual? É neste

Page 2: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

contexto que temos construído o Museu Virtual da Univille (MUVIUNI), um conjunto

de ciberambientes que ficarão disponíveis em rede às experiências de variados

públicos. Nesse sentido, este artigo desdobra-se do projeto MUVIUNI, cujo

desenvolvimento contou com financiamento do Fundo de Apoio à Extensão da

Univille, durante o ano de 2018. A partir da análise das práticas desse Projeto, neste

texto, buscamos socializar alguns dos resultados que conseguimos atingir, em

especial, o que acumulamos teórico e metodologicamente ao longo de 12 meses

trabalhos.

Nesse âmbito, o artigo encontra-se dividido em três partes. Na primeira,

conceituamos o termo museu virtual. Tal abordagem nos permite identificar, mas

também direcionar a forma como utilizaremos esse termo e como conceberemos seus

produtos.

Na seção “Museu virtual: possíveis conceitos e definições”, discutimos termos

estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc.

Tais termos ajudam a definir nossa visão e informar ao público quais foram as nossas

bases teóricas e metodológicas que fundamentam o projeto.

Em seguida, no item seguinte intitulado “Museu Virtual da Univille”,

apresentamos uma caracterização do MUVIUNI, enfocando seus objetivos e sua

proposta de socialização de conteúdos históricos e artísticos em âmbito digital.

No item “Experiências realizadas no MUVIUNI”, procedemos a um relato de

experiência sobre as atividades realizadas até o momento, particularmente acerca do

levantamento bibliográfico, a digitalização de acervos de interesse do MUVI e a

definição de requisitos e seleção de plataforma.

Por fim, encerramos este artigo com uma discussão sobre o estágio atual do

Projeto, enfocando desafios e dificuldades encontradas durante os trabalhos

desenvolvidos.

Ademais, esperamos que este artigo seja uma contribuição para pesquisadores

que se dedicam a refletir sobre desafios contemporâneos que atravessam práticas de

produção de espaços de memória interativos e colaborativos, procurando avançar a

compreensão do museu como mero espaço de contemplação de objetos artístico e/ou

históricos.

Page 3: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

Museu virtual: possíveis conceitos e definição

É preciso tomar cuidado quando falamos de museu virtual. Erkki Huptamo

(2002, p. 121) alerta para o fato de que, o termo já foi invocado tantas vezes que já

perdeu seu valor de novidade. Além disso, uma rápida pesquisa na internet por

museus virtuais nos leva a simples digitalizações de acervos ou livros. Uma plataforma

que, além de ser virtual, acima de tudo leva o nome de museu, não pode ser uma

mera réplica do mundo real.

Para entendermos melhor este fundamento, devemos repartir a palavra museu

virtual em dois termos diferentes. Primeiramente, museu, segundo Jahn (2016, p. 28),

é pensado “enquanto fenômeno, levando em conta a sua multiplicidade de

manifestações nas diferentes esferas de percepção do real”. Já Rússio (1990, apud

JAHN, 2016, p. 28), “localiza a essência do museu nas relações humanas, no campo

do social (...)”. Adicionando uma terceira concepção acerca de museu, podemos citar

a definição mais conhecida segundo o estatuto do Conselho Internacional de Museus:

O museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação e deleite (ICOM, 2007, apud DESVALLÉES & MAIRESSE, 2013, p. 65).

Já o virtual, segundo Deloche (2001), deve ser tratado não como uma forma de

replicar o real, como oposto deste último, mas sim como o outro do atual. Ou seja, o

virtual nada mais é que o atual em potência. Tal visão, partindo do termo como um

adjetivo, se afasta, por exemplo, da definição na área de computação, na qual o virtual

é visto como “não existente fisicamente, mas criado por software para parecer físico”

(OXFORD DICTIONARIES, 2018).

Nossa base fundamentadora está mais próxima do que Jahn e Deloche

expõem, acepções mais abrangentes dos termos museu e virtual, especialmente no

que tange ao primeiro, pois segundo Scheiner:

O museu tradicional não é o único museu possível [...]. Existem outras dimensões de Museu. [...] O Museu deve ser pensado agora já não mais como coisa única (portanto estática), mas como fenômeno, e portanto coisa

Page 4: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

mais dinâmica, independente de um local e de um tempo específicos, podendo estar simultaneamente em muitos lugares, sob as mais diversas formas e manifestações (SCHEINER, 1998, p. 89 apud JAHN, 2016, p. 34).

Para além disso, a definição de Schweibenz (2004) sugere que um museu

virtual pode ser entendido como

Uma coleção de objetos digitalizados, articulada logicamente e composta por diversos suportes que, por sua conectividade e seu caráter multiacessível, permite transcender os modos tradicionais de comunicação e de interação com o visitante [..]; ele não dispõe de um lugar ou espaço real, e seus objetos, assim como as informações associadas, podem ser difundidos aos quatro cantos do mundo (SCHWEIBENZ, 2004 apud DESVALLÉES & MAIRESSE, 2013, p. 65).

Dada essa potência do virtual, conectividade e o acesso por múltiplos meios,

se apresenta como uma forma de atualização da função e papel do museu nesta atual

era digital. Conforme explicado por MacDonald:

Valores, atitudes e percepções que acompanham a transição tecnológica da sociedade industrial, para a sociedade da informação, podem tornar possível para os museus alcançar seu potencial como locais de aprendizagem, de e sobre um mundo, no qual a mídia de massa, de turismo internacional, de migração e de conexões instantâneas, via satélite, entre culturas, estão esculpindo uma nova consciência mundial e ajudando a dar forma a aquilo que Marshall McLuhan caracterizou como aldeia global (MACDONALD, 1992, p. 161 apud WITCOMB, 2007, p. 38).

Apesar do foco de MacDonald ser somente a entidade física, o museu virtual

também se insere nesse contexto como um estimulador de novas formas de

experiência, em consonância com um mundo cada vez mais multicultural.

Neste contexto, o Museu Virtual da Univille se explicita como um conjunto de

ciberambientes que, ancorados numa plataforma digital, utiliza-se do virtual para criar

e fomentar novas relações entre os diversos públicos e o museu, tendo caráter

multiacessível, conectivo e em rede. Assim, a intenção não é apenas disponibilizar

conteúdos organizados em diferentes ciberambientes, mas colocá-los em exercício

fazendo diferentes usos das especificidades do ambiente virtual em rede.

O Museu Virtual da Univille

Page 5: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

O Museu Virtual da Univille é um projeto vinculado à Pró-reitoria de Extensão e

Assuntos Comunitários (PROEX), coordenado pela professora Alena Rizi Marmo Jahn

em colaboração com os professores Fernando Cesar Sossai, Arselle de Andrade da

Fontoura e Ilanil Coelho. O projeto conta com o apoio dos bolsistas de graduação

Antônio Viana Neves Jr. (curso de Design) e Éwerton de Oliveira Cercal (Licenciatura

em História), além da participação do voluntário Moroni de Almeida Vidal (Licenciatura

em História. Além disso, tal projeto encontra-se associado ao Laboratório de História

Oral e ao Centro Memorial da Univille, bem como ao Programa Arte na Escola.

Em linhas gerais, o objetivo do projeto MUVIUNI é assim definido:

A partir da articulação de práticas de ensino, pesquisa e extensão e da interação com as comunidades internas e externas à Universidade, constituir o Museu Virtual da Univille como um espaço virtual voltado à experimentação com conteúdos históricos e artísticos e cuja arquitetura digital, em rede, estimule a interação, a convergência e a integração de ciberambientes dotados de diferentes conhecimentos sobre a Univille, seus programas e projetos institucionais do presente e do passado (UNIVILLE, MUSEU VIRTUAL, 2017, p. 5).

A partir desses objetivos, a equipe do Projeto definiu para o Museu Virtual da

Univille a seguinte identidade institucional:

Missão: promover experiências on-line de ensino, pesquisa e extensão voltadas ao reconhecimento, valorização e difusão da memória institucional e do patrimônio intelectual produzido pela Univille.

Visão: ser reconhecido nacional e internacionalmente como um museu universitário de referência em relação à promoção de ações expositivas e projetos de ensino, pesquisa e extensão (UNIVILLE, MUSEU VIRTUAL, 2017, p. 3).

Em sintonia com essa identidade institucional, construiu-se os objetivos do

Museu Virtual da Univille apresentados a seguir:

Contribuir para que a Univille cumpra a sua Missão, Visão e Valores institucionais.

Estimular o sentimento de pertencimento das comunidades internas e externas para com a Universidade.

Aproximar a Univille às comunidades internas e externas por meio de ações que envolvam os ambientes digitais do Museu Virtual da Univille.

Page 6: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

Constituir-se como um espaço voltado à experimentação de/com conteúdos históricos e artísticos, cuja arquitetura digital, em rede, estimule a interação, a convergência e a integração de ambientes dotados de diferentes conhecimentos sobre a Univille (programas e projetos institucionais do presente e do passado) (UNIVILLE, MUSEU VIRTUAL, 2017, p. 3).

Explicitada essa caracterização da proposta institucional do MUVIUNI,

doravante, prosseguimos com um relato sobre as primeiras experiências de trabalho

nesse projeto.

Experiências Realizadas no Projeto

Como primeiro passo, a professora Alena com a colaboração do professor

Fernando Sossai realizaram o levantamento bibliográfico que embasou a criação do

projeto. Neste estágio, se levou em consideração o conhecimento e experiência prévia

da professora Alena com exposições virtuais, aliado ao domínio do conhecimento

acerca das tecnologias digitais do professor Sossai.

Como parte do embasamento da justificativa do nosso projeto, foram

trabalhados autores como Nicolas Bourriaud (Estética Relacional), Manuel Castells (A

sociedade em rede), Marília Xavier Cury (Exposição, montagem e avaliação), Pierry

Lévy (Cibercultura), Lucia Santaella (Navegar no ciberespaço: o perfil cognitivo do

leitor imersivo) e Tereza Scheiner (Apolo e Dionísio no templo dos museus – museu:

gênese, ideia e representações na cultura ocidental).

Já referente a iniciação aos estudos dos bolsistas envolvidos, foram levantados

diversos outros materiais, merecendo destaque os livros Arte, museo y nuevas

tecnologías de María Luisa Bellido Gant, El museo virtual de Bernard Deloche,

Museums in a Digital Age com edição de Ross Parry, a tese de doutorado O Museu

Que Nunca Fecha: a exposição virtual digital como um programa de ação educativa

da professora Alena, além do livro Conceitos-chave de Museologia de André

Desvallés e François Mairesse e artigos de Werner Schweinbenz etc.

Após este levantamento, outra experiência realizada diz respeito ao acervo de

gravuras presente no Laboratório de História Oral (LHO)/Centro Memorial da Univille

(CMU). Tal acervo fez parte de um projeto-exposição do início dos anos 2000. Como

Page 7: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

um dos nossos ciberambientes é focado em exposição, vimos a oportunidade de se

utilizar destas gravuras para lançar a primeira exposição, no intuito de lançar um

protótipo. Ou seja, este acervo chega até nós com fins de lançar o primeiro protótipo

do Museu Virtual da Univille com gravuras de valor artístico e que já pertenceram a

ações passadas da Univille.

A primeira ação desenvolvida pelos bolsistas do projeto foi a realização do

levantamento das gravuras existentes no laboratório. Comparada as listagens (uma

do ano 2000, outra realizada pelo laboratório), percebemos discrepância nas

contagens. Enquanto o documento original apresentava um total de 152 gravuras, as

presentes no laboratório contabilizavam 77. Isso se deve ao fato de que nem todas as

gravuras foram retornadas na época, mas muitas delas se encontram ainda expostas

pela universidade.

Feito este levantamento, iniciou-se o processo de digitalização do acervo.

Utilizamos um scanner de resolução 4K da Digiscanner, modelo S1500 A2, e o

software HSPS v5.1. Nossos parâmetros de configuração para captura podem ser

observados na figura 1. Vale destacar que não foi feito nenhuma pesquisa prévia de

como realizar esta espécie de procedimento. Ou seja, a atividade foi realizada

conforme os conhecimentos já acumulados de ambos os executores da atividade.

Figura 1: Propriedades do digitalizador.

Fonte: Acervo dos autores.

Page 8: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

Para o procedimento de manipulação do acervo, foi feita a utilização de luvas

cirúrgicas descartáveis, já que muitas dessas gravuras são antigas (algumas com

quase 20 anos de idade). O suporte de apoio foram as mesas do laboratório e, em

alguns casos os quais as artes eram muito grandes, utilizou-se um pano preto como

base no chão para apoiar as gravuras e aumentar a distância entre o aparelho e o

objeto a ser capturado.

E na figura 2, podemos ver um exemplo de digitalização realizada. Esta

gravura, da artista Odete Chagas, é de 1988 e foi utilizada a técnica de serigrafia para

sua produção.

Figura 2: Digitalização da arte de Odete Chagas, sem título. Serigrafia, 1988.

Page 9: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

Fonte: Acervo dos autores.

Como parte do trabalho relativo ainda as gravuras, iniciou-se uma pesquisa

mais profunda sobre os autores destas obras, pois a biografia e os trabalhos

relacionados dos mesmos serão parte do ambiente de exposição e irão compor uma

rede, com ligações externas.

Dentre alguns artistas que recebemos as obras como doações, podemos citar

Paulo Tarso Cheida Sans, Odete Chagas, Constança Lucas, Arriet Chahin, Marina de

Page 10: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

Falco, Wladimir Fontes, George Rembrandt Gütlich etc. As técnicas compreendidas

por estes autores variam desde linogravura à calcogravura, xilogravura, entre outras.

Tendo sido realizado o levantamento bibliográfico, diálogos acerca dos

conceitos bases do Museu Virtual da Univille e feito o trabalho de digitalização do

acervo, prosseguiu-se com o próximo passo do projeto, que foi a definição dos

requisitos e seleção da plataforma base.

Por definição, não nos referimos a parte puramente técnica, como requisitos

funcionais, não-funcionais etc., mas sim com qual tipo de software será trabalhado ou

se será escolhido um caminho novo, ou seja, desenvolvimento a partir da estaca zero.

Visto que uma criação pura seria, por demasiado onerosa tanto em tempo

quanto em recursos, a primeira opção que fizemos é a de selecionarmos plataformas

pré-existentes no mercado como base. Tal plataforma deve atender outros dois

requisitos: ser gratuita e possuir código aberto.

A questão de código aberto é muito importante pois é ela quem irá permitir a

adaptação do produto para nossas necessidades. Quanto a gratuidade, isto parte não

somente dos recursos disponíveis, mas também de uma filosofia de, apesar de o

ciberespaço ter valor monetário, o conteúdo que muitas vezes é criado nele é de

origem pública, de graça e acessível de diversas formas. Logo, embarcamos também

neste meio com o desejo de não monetizar conteúdos, e neste caso nos referimos a

utilização de uma plataforma paga, que serão dispostos para todos. Pois, afinal, a

plataforma também é parte desse produto que será oferecido.

Definido estes dois requisitos, iniciou-se o processo de pesquisa pelos

envolvidos no projeto, o que levou a quatro nomes para avaliação: Omeka S,

Collective Access e Open Exhibits.

A plataforma Omeka S é uma ferramenta de publicação voltada para a

universidade, galerias, livrarias e museus. Ela, ao mesmo tempo que oferece um

sistema de catalogação, também gera páginas web para visitação ou acesso a

informações (documentos). É altamente customizável, tanto no nível técnico, com

possibilidade de integração com outras plataformas e plug-ins, quanto no nível de

design (CORPORATION FOR DIGITAL SCHOLARSHIP, 2018).

Já a Collective Access é uma ferramenta de catalogação, que oferece a

possibilidade de criação de páginas a partir dos itens cadastrados, apresentando

Page 11: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

facilidade na criação de leiautes e na criação de relações entre os objetos (hiperlinks).

Também oferece integração com ferramentas de pesquisa online, como a Google

(COLLECTIVE ACCESS, 2018).

O Open Exhibits se difere dos anteriores por ser focado em exposição de

museu que se utilizem de multimídia, no caso telas touchscreen. Como é um produto

de código aberto, apresenta a possibilidade de adaptação, já que chamou muito a

atenção por seu alto poder de manipulação de objetos 3D, além de oferecer a

possibilidade de integração com uma das plataformas anteriores (INSTITUTE OF

MUSEUM AND LIBRARY SERVICES, 2018).

Realizada as discussões dos pontos fortes e fracos de cada plataforma, aliado

a opinião técnica acerca delas realizada tanto pelo bolsista com experiência prévia na

área de tecnologia quanto do bolsista de design, se escolheu a plataforma Omeka S

para trabalhar em conjunto com a Open Exhibits como base do primeiro protótipo do

Museu Virtual.

Definida as plataformas a serem utilizadas, nos encontramos no estágio atual

de preparação do ambiente para desenvolvimento. Como tais softwares possuem

desempenho melhor em ambientes de código aberto, se faz necessário a instalação

e uso de um sistema Linux para implementação do produto. O sistema escolhido foi o

Debian, versão 9.5.0, por ser uma distribuição estável, com poucas alterações, que

utiliza poucos recursos e nos oferece um grande leque de ferramentas voltadas para

a web logo no processo de instalação (SOFTWARE IN THE PUBLIC INTEREST

INCORPORATED, 2018).

Outra frente de trabalho nossa é a procura e recuperação das gravuras

faltantes para serem digitalizadas e armazenadas no LHO/CMU. Além disso, está

sendo feito o levantamento de outros materiais de outros acervos presentes no

laboratório, com o objetivo de identificar outros possíveis materiais base, tanto para o

ciberambiente de exposição, quanto para os outros três ciberambientes restante.

Encontra-se também em estágio de desenvolvimento a identidade visual do

museu virtual pelo designer da equipe do projeto.

Ainda relativo as experiências acumuladas, como todo projeto, o Museu Virtual

não ficou sem sua parcela de dificuldades. Quanto ao âmbito do trabalho

Page 12: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

desenvolvido, um dos maiores contratempos enfrentados pela equipe foi durante a

digitalização do acervo de gravuras.

Ao ser realizada a análise das imagens em resolução 4K, notamos que havia

padrões de ondulações de interferência, como pode ser observado na figura x. Isto se

deve ao fato que a frequência de captura utilizada era de 50Hz.

Figura 3: Ondulações na digitalização da gravura “Águas de Viagem” de Constança Lucas.

Fonte: Acervo dos autores.

Quando houve a troca para uma frequência maior, tal padrão sumia. Assim

sendo, foi necessário refazer uma grande quantidade de capturas novamente, o que

gerou um retrabalho de em torno de 30% do acervo já digitalizado.

Já quanto aos desafios enfrentados pelo projeto, dois merecem especial

destaque: tamanho da equipe e recursos quanto a plataforma. No que cabe ao

tamanho da equipe, por sermos poucos integrantes, a carga de trabalho costuma ser

grande e isto entra em conflito direto por todos serem profissionais e alunos que

possuem outras obrigações no dia a dia. Já na questão referente a plataforma, o

problema reside na sua adaptação para conceber nosso projeto como o imaginamos,

o que se prova algo extremamente difícil e que exigi uma grande quantidade de horas

Page 13: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

de trabalho prático, tanto preparando o sistema operacional quanto no

desenvolvimento propriamente dito em linguagem de computador.

Considerações finais

Para o curto prazo, é pretendido disponibilizar o ciberambiente de exposição

até o meado de dezembro de 2018. Isto como parte de um protótipo base para ser

testado no ciberespaço. Caso estes testes sejam bem sucedidos, teremos assim a

nossa disposição uma base sólida para todos os outros ciberambientes.

Em um segundo momento, é importante definirmos e estudarmos o que será

colocado em exercício neste museu virtual, a saber: realizar um levantamento mais

abrangente de possíveis materiais dentro da universidade, de cunho científico e

patrimonial, além de integrar trabalhos de extensão e a própria comunidade.

Outro ponto importante a ser explorado no desenvolvimento do MUVIUNI é o

cruzamento entre o ensino, a pesquisa e a extensão que são as frentes de trabalho e

produção da Univille, de forma a fazer valer a estrutura em rede própria de um museu

que tem a internet como o seu fundamento. Contudo, talvez o maior desafio a ser

enfrentado com a construção do nosso museu seja o de não apenas disponibilizar e

cruzar os seus diferentes conteúdos, mas sim colocá-los em exercício.

REFERÊNCIAS COLLECTIVE ACCESS (Nova Iorque). Collective access. 2018. Disponível em: <https://www.collectiveaccess.org/>. Acesso em: 13 jun. 2018. CORPORATION FOR DIGITAL SCHOLARSHIP (Viena). Omeka S. 2018. Disponível em: <https://omeka.org/s/>. Acesso em: 13 jun. 2018. DELOCHE, Bernard. El museo virtual. Asturias: Trea, 2001. DESVALLÉES, André; MAIRESSE, François. Conceitos-chave de museologia. São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 2013. HUPTAMO, Erkki. On the Origins of the Virtual Museum. In: PARRY, Ross (ed.). Museums in a digital age. Nova Iorque: Routledge, 2010. p. 121-135. INSTITUTE OF MUSEUM AND LIBRARY SERVICES. Open Exhibits. 2018. Disponível em: <http://openexhibits.org/>. Acessado em: 13 jun. 2018.

Page 14: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE O MUSEU VIRTUAL DA … · 2018-10-29 · estruturantes do projeto MUVIUNI, tais como: ciberespaço, multimídia, hipermídia etc. Tais termos ajudam

JAHN, Alena Rizi Marmo. O museu que nunca fecha: a exposição virtual digital como um programa de ação educativa. 2016. 314 f. Tese (Doutorado) - Curso de Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. SOFTWARE IN THE PUBLIC INTEREST INCORPORATED. Debian. 2018. Disponível em: <https://www.debian.org/>. Acessado em: 28 ago. 2018. WITCOMB, Andrea. The materiality of virtual Technologies: a new approach to thinking about the impact of multimedia in museums. In: CAMERON, Fiona; KENDERDINE, Sarah (edit.). Theorizing digital cultural heritage. Cambridge: MIT Press, 2007. p. 35-48. UNIVILLE. Projeto [MUVIUNI] Museu Virtual da Univille. Joinville: Univille, 2017.