Um Verniz de Civilização a Sociedade Recifense Vista Por Vauthier

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    UM VERNIZ DE CIVILIZAO: A SOCIEDADE RECIFENSE VISTA POR VAUTHIER

    Virgnia Pitta Pontual, Juliana Melo Pereira, Dirceu Cadena de Melo Filho, Laura NobreAlecrim

    Programa de Ps-graduao em Desenvolvimento Urbano, Universidade Federal de Pernambuco

    Resumo

    O artigo trata da viso do engenheiro francs Louis-Lger Vauthier sobre a sociedade

    recifense do sculo XIX. Para tal, foram utilizados os relatos que o mesmo deixou

    registrados em dois momentos diferentes: seu Dirio ntimo, escrito durante sua

    estadia no Recife (1940-46), e as Cartas sobre as casas de residncias no Brasil,escritas na Frana. A viso de mundo do engenheiro guiada por suas concepes

    fourieristas e suas impresses sobre a sociedade recifense so incrustadas de espanto,

    sobre o que, no olhar dele, era uma barbrie com verniz de civilizao. A partir

    dessa impresses o que se buscou foi verificar se seus relatos eram compatveis com

    outras vises de sua poca.

    Palavras-chave: Vauthier sociedade recifense sculo XIX

    Abstract

    The article deals with the vision of the French engineer Louis- Lger Vauthier on the

    nineteenth century society of Recife. We used the reports that he has written down in

    two different moments: his personal diary, written during his stay in Recife (1940-46),

    and the Letters on the homes of households in Brazil, written in France. The worldview

    of the engineer was guided by his Fourierists conceptions and his views on society of

    Recife are embedded in amazement , about what, in his eye, was a "veneer of

    civilization with barbarism." From this impression the idea was to check whether his

    registers were consistent with other views of his time.

    Keywords: Vauthier society of Recife nineteenth century

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    Introduo

    Sair da Frana e aportar no Brasil sem conhecer muitas pessoas hoje pode ser

    uma aventura. Embarcar em um navio, cruzar o Atlntico, e aportar em 1840 numaex-colnia portuguesa talvez fosse uma loucura. Essa foi a experincia que o

    engenheiro francs Louis-Lger Vauthier deixou registrada em seu Dirio ntimo e nas

    Cartas sobre as residncias no Brasil, a partir da qual foi apreendida a sociedade

    recifense do sculo XIX. Procuramos identificar enunciados, permanncias e rupturas,

    a fim de entender se os relatos de Vauthier sobre esta sociedade condiziam com

    outros da mesma poca. Cabe advertir o leitor que as Cartas e o Dirio mostram o

    autor em dois momentos diferentes: o Vauthier do Dirio escreve no fervor dos

    acontecimentos, em tom confessional, descreve suas impresses do cotidiano; o

    Vauthier das Cartas se distancia do objeto analisado e com rigor descreve o Brasil e

    suas construes de forma ampla e cuidadosa. Neste texto, optou-se por utilizar mais

    o Dirio por suas observaes mais diretas sobre a sociedade. As repetidas vezes em

    que Vauthier se refere sociedade recifense como barbrie, incrustada na selvageria,

    e malmaquiada por um verniz de civilizao foram o ponto de partida para o debate

    que se pretende aqui estabelecer.

    Entre o socialismo e a engenharia: as influncias da viso de mundo de Louis-

    Lger Vauthier

    Um socialista romntico e um engenheiro apaixonado. As palavras de Antnio

    Dimas (2010) definem bem os dois principais pontos que, aparentemente, guiaram a

    viso de mundo do francs Louis-Lger Vauthier. Um panorama, ainda que nos

    limites deste artigo breve, sobre a formao do engenheiro e o contexto intelectualem que ele se insere nos ajuda a compreender o olhar de um estrangeiro, que deixa

    um dos pases mais adiantado da Europa, para aportar num pas recm-independente

    ainda repleto de traos coloniais.

    Filho de engenheiro, Vauthier formou-se na cole Polythecnique de Paris e

    especializou-se na cole des Ponts et Chausss, em ambas escolas foi estimulado a ter

    uma formao mltipla, onde teoria e prtica se cruzavam na busca de solues

    dirias de infra-estrutura. De acordo com Lucio (2000), o Corp des Ponts et Chausss

    (que data de 1716-1720) foi a primeira organizao de um corpo de engenheiros no

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    militar, que tinha como responsabilidade a administrao, construo e controle das

    obras pblicas no territrio francs. Em 1775, foi criada a cole Royal de Pont et

    Chausss, para formar engenheiros do Estado. Lucio (2000: 144) ainda aponta uma

    clara definio do ensino nesta escola: aplicao dos princpios da fsica e da

    matemtica arte de construir e conservar as obras, as tcnicas e a prtica daexecuo; a arte de redigir oramentos e os detalhes estimativos das obras a

    executar. A Pont et Chausss diferenciava-se da Academia Real de Arquitetura

    principalmente pela prtica profissional, em um momento em que as cidades j davam

    sinal de crescimento acelerado e que a demanda por infra-estrutura (construo de

    galpes, pontes, estradas, etc.) no era considerada pelos arquitetos, essa diferena

    foi crucial.

    A cole Polythecnique de Pariscriada em 1794, durante a Revoluo Francesa,

    teve importncia que foi muito alm da instituio e at da prpria Frana, como

    coloca Santos Filho (2010) e Chatiz (2010). Criada para formar um corpo de

    engenheiro desvinculados do Antigo Regime e por uma elite intelectual reunida em

    torno de Gaspar Monge (cientista e poltico, criador da geometria descritiva), a

    Polythecniquetinha como princpio a aplicao de conhecimentos tericos questes

    prticas (CHATIZ, 2010) e, ao contrrio das escolas de engenharia militar, propunha-

    se a compartilhar publicamente de seus resultados sem conhecimentos secretos. Era

    misso da Polythecnique treinar os engenheiros, disseminar pessoas esclarecidas nasociedade civil e despertar talentos que fizessem a cincia avanar (SANTOS FILHO,

    2010: 43). Os alunos desta escola eram instrudos durante trs anos com

    conhecimentos globais (Geometria Descritiva, Arquitetura, Desenho, Fsica, Qumica,

    etc), no trmino deste perodo os alunos formados poderiam trabalhar nos servios

    pblicos, ou se especializar nas Escolas de Aplicao, de Engenharia Militar ou na de

    Pontes e Caladas, como preferiu Vauthier. Lucio (2000) enfatiza o saber enciclopdico

    de Vauthier e dos engenheiros que compartilharam de sua mesma formao na

    Frana, que tinham conhecimento sobre diversas disciplinas e debatiam sobre os mais

    variados temas.

    O sculo XIX foi marcado, em toda Europa, por profundas transformaes nas

    cidades, submetidas a um sbito crescimento populacional que trouxe novas

    demandas. O inchao das cidades e as pssimas condies de vida da populao

    despertaram a ateno no s dos engenheiros, aptos a oferecer novas solues, mas

    tambm de tericos sociais que buscavam explicaes e alternativas ao novo mundo

    capitalista e industrial. Entre estes tericos estavam os socialistas utpicos, com os

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    quais Vauthier demonstrou, atravs de suas anotaes e prtica profissional, ter

    grande afinidade. Entre os livros lidos e analisados pelo engenheiro em seu dirio

    esto Julles Lechevalier, Sant-Simon, Robert Owen e Charles Fourier. Este ltimo, era

    o autor mais difundido na cole des Ponts et Chausss e guiou, inclusive, a forma de

    Vauthier enxergar o mundo ao seu redor.Precursor do socialismo utpico, o francs Charles Fourier deixou um dos mais

    completos e detalhados modelos de organizao social: a falange (ou falanstrio).

    Partindo de uma crtica ferrenha sociedade contempornea e a sua economia,

    Fourier construiu sua Teoria dos quatro movimentos em que antes de atingir a

    harmonia, a sociedade passaria por quatro etapas sucessivas: a selvageria, a barbrie,

    o patriarcado e a civilizao.

    A aproximao de Vauthier com as teorias socialistas aparece em diversos

    trechos de seu dirio, de forma que Lucio (2000) chega a concluir que entre os

    motivos que trouxeram o engenheiro francs ao Brasil alm do desejo por aventura

    e fortuna estavam os estudos para a implantao de um possvel falanstrio.

    Nossa leitura sobre os escritos de Vauthier no nos permite chegar a tal

    afirmao, mas certamente no podemos negar o papel do engenheiro na propagao

    das idias socialistas no Brasil.

    Ao aportar em Pernambuco, Vauthier se depara com um quadro bem diferente

    do que deixara na Frana. O Brasil, com mais de 75% de populao analfabeta,contrastava-se com a Frana, que desde 1833, institura o ensino primrio gratuito

    obrigatrio. Apesar de no acreditar que as elites pernambucanas formavam um

    conjunto intelectual significativo, Vauthier relaciona-se com parte da elite

    pernambucana, chegando com alguns a compartilhar os iderios progressistas. Santos

    Filho (2010) destaca o caso de Antnio Pedro de Figueiredo, editor da revista O

    Progresso, que j continha em seu primeiro nmero um texto do engenheiro.

    A aproximao de Vauthier com as elites pernambucanas um fato bastante

    questionado, bem como a relao do socialista com a escravido. Marzon (2000)

    considera ambgua a prtica de Vauthier, argumenta que, em alguns pontos, o

    exerccio de sua profisso no era coerente com seu discurso socialista cita como

    exemplo a construo de estradas que favoreceriam grandes proprietrios de acar.

    J Mrian (2000: 157), no atribui ambigidade prtica de Vauthier, visto que este

    no seria um militante, mas sim um reformista que acreditava na fora das idias.

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    Cabea sem corpo1: a cidade do Recife em 1840

    Numa poca em que navegar era preciso, Vauthier se lana aos mares em 24 de

    julho de 1840 com destino ao incerto em busca de uma realizao pessoal composta

    de fortuna, sucesso, reconhecimento, novas experincias e ideologias. Recife era odestino herdado pela vida onde as incertezas seriam curadas e os sonhos

    conquistados. Mas como era a Cidade dos trpicos em 1840? O que acontecia naquela

    cidade to distante, em todos os aspectos, das cidades francesas?

    O escravo detinha um papel fundamental na sociedade brasileira do sculo XIX,

    servindo como fora de trabalho nos engenhos de acar pelo interior da nao, ou

    realizando trabalhos braais e servios indesejveis nas grandes cidades. Tratados de

    forma ambgua, os escravos eram cativos, subjugados a trabalhos insalubres, sofrendo

    com penas severas em funo de faltas brandas e, ao mesmo tempo, mantinham

    relaes intimas com a populao livre. Em Casa Grande e Senzala, Freyre (2003)

    relata de forma singular a adoo de alguns escravos que participavam da vida

    familiar ao ponto de receber o nome da famlia acolhedora. As gravuras de Debret2

    (FIGURA 1), que fez parte da Misso Francesa no Brasil, tambm mostram uma

    relao de proximidade entre os negros e as famlias proprietrias.

    Figura 1: Interior de uma casa de famlia brasileira no sculo XIX.

    1Cabea sem corpo. Gente a qual preciso dar comida na boca.(VAUTHIER, 2010:135)2

    Jean-Baptiste Debret foi um pintor e desenhista francs, integrou a Misso Francesa no Brasile permaneceu aqui durante 15 anos.

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    Fonte: Debret, 1993

    Se aparentemente nos arredores do Recife a relao dos escravos com os

    homens livres seguia um caminho harmonioso, alguns relatos de visitantes mostram

    como a sociedade urbana tratava sua principal fora de trabalho no sculo XIX:

    Estava pobremente abastecido, devido s circunstncias da cidade, que faziamcom que a maior parte dos possuidores de novos escravos os conservassembem fechados nos depoimentos. Contudo cerca de cinqenta jovens criaturas,rapazes e moas, com todas as aparncias da melancolia e da penria,conseqncia da alimentao escassa e do longo isolamento em lugaresdoentes, estavam sentados e deitados na rua, no meio dos mais imundosanimais (GRAHAM,1990:134)

    .Talvez as prticas relatadas por Maria Graham3 causem desconforto a um leitor do

    sculo XXI, porm importante lembrar que quela poca uma viso pautada naigualdade racial no existia no Recife e, possivelmente, em nenhuma cidade do Brasil.

    Desta forma, no de se estranhar que negros fossem tratados com indiferenas,

    mesmo pelas elites intelectuais da poca.

    Outra caracterstica tpica da sociedade recifense pode ser vista nas festas

    promovidas pelas elites. Como apresenta Lucio (2000), nos saraus das pessoas nobres

    se falava francs, servia sucos de frutos da poca em taas de cristal e as danas que

    embalavam os flertes proibidos entre jovens damas e senhores eram as mesmas

    encontradas em qualquer salo da Europa. A alta sociedade recifense estava sempre

    com a cabea voltada para a Europa, mas com o corpo preso as relaes culturais do

    Brasil. Desta forma era normal para o alto escalo ir estudar na Frana ou Portugal

    onde se adquiria conhecimento terico sobre diversas aes, e, ao retornar ao Brasil,

    manter certas tendncias conservadoras.

    A abertura do pas ao comrcio exterior e o conseqente contato com a cultura

    europia fez com que essas elites vissem as cidades brasileiras como "antiquadas" e

    "imprprias (ZANCHETI, 1989: 77) e por isso diversas tentativas de construir um

    novo Recife foram empreendidas. A principal talvez tenha sido colocada em prtica por

    Francisco do Rgo Barro, conhecido posteriormente como o Conde da Boa Vista 4. As

    mudanas empreendidas alteraram a dinmica scio-espacial no apenas da cidade,

    mas as formas de divertimento (SANTOS, 2009) e os acessos s reas rurais. Em sua

    3Maria Dundas Graham Callcott foi uma escritora inglesa que esteve de passagem no Brasilentre 1821 e 1823 e deixou registradas as suas impresses sobres diversas cidades do Brasil.4

    Filho de donos de engenho, logo se interessou pela carreira militar e poltica e, aps retornardos estudos superiores em Paris, empreendeu diversas aes urbanas na sociedade recifense.

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    gesto foram feitas estradas, pontes, penitencirias, palcios e teatros.

    O Teatro de Santa Isabel, obra iniciada no governo de Francisco do Rgo Barros,

    projetado originalmente por Vauthier, exemplifica bem como as mudanas

    empreendidas pelo governante alteraram os hbitos das elites locais. Ao mesmo

    tempo em que funcionava como local de exibio e sociabilidade das altas castas, erao local possvel de esquecer as danas, msicas, festas e comidas produzidas nas

    senzalas (FIGURA 2).

    Figura 2: Campo das Princesas, esquerda o Teatro Santa Izabel (projeto de Vauthier), aocentro o Palcio do Governo da Provncia. Recife, sculo XIX.Fonte: Schlappriz, 1863.

    Com relao as mulheres, interessante notar que a tradicional recluso

    observada por viajantes europeus no se aplicava s negras, forras e livres pobres.

    Assim, era comum encontrar mulheres nas ruas trabalhando em vendas ou vagando

    em busca de exercer algum ofcio, dominando os perigos das cidades (SILVA, 2005).

    Sobre o assunto, o viajante francs Tollenare5anota em 1817:

    5

    L.F. Tollenare foi um viajante francs que esteve na cidade do Recife entre 1816 e 1817,suas impresses foram registradas em Notas dominicais: tomadas durante uma viagem em

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    negras percorrem as ruas oferecendo venda lenos e outras fazendas quetrazem em cestos sobre a cabea (...). No se v absolutamente mulheresbrancas na rua.Um pequeno mercado junto de uma igreja oferece minhavista montes de razes de mandioca, bananas, ananases, cajus, mangas elaranjas. As vendedeiras, mui sucintamente vestidas, algumas de cachimbo

    ao queixo, preparam grosseiros manjares para o povo (...) (TOLLENARE1978, p.58 apud SILVA, 2005, p.4)

    Outra caracterstica do Recife do sculo XIX era a facilidade com que crimes

    ocorriam. Interesses polticos, financeiros ou simples casos de amor seriam motivos

    suficientes para se tirar a vida de outra pessoa. Como mostra o Conde de Suzannet6

    (1954:208 apud LUCIO, 2000:55):

    os assassinos so mandados por homens ricos que oferecem asilo e proteo aos que

    eles empregam, a fim de se fazerem respeitados e temidos pelos seus vizinhos e

    outros proprietrios(...)

    Este era o cenrio que Vauthier encontrou na cidade do Recife ao chegar em 8

    de setembro de 1840. Uma cidade que exala escravos, predominantemente agrria,

    com crimes banais e que, apesar de independente, ainda mantinha fortes resqucios

    dos tempos coloniais. A cidade, ao mesmo tempo em que buscava a imagem de uma

    cidade moderna, no se libertava das amarras tradicionais (FIGURA 3).

    Portugal e no Brasil em 1816, 1817 e 1818. Bahia: Progresso, 1956.6Conde Suzannet foi um visitante francs que esteve no Brasil por volta de 1840.

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    Figura 3: Rua da Cruz (atual Rua do Bom Jesus), Recife, sc. XIX. Observar osescravos, comrcio, a busca por gua na fonte pblica.Fonte: Schlappriz, 1863.

    As palavras de Vauthier nos revelam a viso de um fourierista que acredita que

    a sociedade marcha para estados melhores at um dia, talvez alcanar a harmonia. No

    entanto, tambm revela a viso de um jovem politcnico que por trs dos anseios de

    progresso, esconde um certo olhar colonizador. De acordo com Gallo (2010: 43),

    Vauthier munido de um modelo antecipadamente formado, lia o pas atravs dos

    olhos do europeu civilizado. Mas, se a obra um dirio, logo, de carter pessoal, por

    que esse mpeto colonizador de Vauthier no diretamente revelado? Porque nempara os prprios politcnicos esta era uma questo esclarecida, como mostrou Filho

    (2010: 45):

    O teste prtico dos primeiros alunos formados na Escola Politcnica foi agrande expedio francesa ao Egito, iniciada em 1797 e que alm de terobviamente um carter militar, possua uma dimenso cientfica muitopronunciada (...) A comisso comeou a trabalhar logo depois dodesembarque no Cairo das tropas francesas chefiadas por Napoleo, Monge e

    Fourier. Essa misso pode, sem dvida, ser vista na perspectiva do

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    avassalador mpeto imperialista das metrpoles europias no sculo XIX. Deacordo com a viso de Monge, no entanto, sua principal funo seria oprogresso e a propagao de idias iluministas no Egito, e bem possvel queos jovens egressos da Politcnica acreditassem sinceramente na nobrezadesses ideais, para alm de uma condio puramente de agentes docolonialismo francs.

    Em alguns momentos, Vauthier se mostra desacreditado com a possibilidade de

    desenvolvimento desta sociedade: Mesmo assim, apesar dessa vida simples, sua

    preguia e imprevidncia so tais, que o problema da existncia dessa gente parece

    insolvel (VAUTHIER, 2010: 103). A todo o momento, o engenheiro insiste na

    preguia dos brasileiros, que para ele responsvel por grande parte do atraso, pois

    como fourierista que era, apostava no prazer pelo trabalho e na cincia para alcanar o

    progresso e instaurar na terra certa ordem e regularidade e de se estabelecer o

    sistema que torne a maioria feliz (op. Cit.:75)

    Em Recife, o Vauthier fica decepcionado com o intelecto do povo, do Presidente

    da Provncia, esperava inteligncia mais fina (op. Cit.:84), assim como da maior

    parte das pessoas com que vem a conviver. O engenheiro sente falta de ter com quem

    conversar, acha impossvel falar sobre negcios com o Presidente e que acharia

    agradvel ter alguns minutos de uma conversao alegre, brincalhona, para poder

    trocar idias mesmo superficiais, mas idias. Idias! Quem as tem neste pobre

    pas? (op. Cit.:148-149) Tamanho era o seu isolamento que, ao saber que FelipeNeto7era fourierista, segundo o seu dirio, pediu licena ao presidente para ir visit-

    lo, pois as idias inovadoras poderiam interess-lo (op. Cit.:226).

    No que o Recife desconhecesse as idias que vinham da Europa. Segundo

    Poncioni (2010:351) a presena de livros franceses era forte no Brasil desde meados

    do sculo XIX e existia um mercado, embora restrito, consumidor de livros na

    provncia. Freyre (apud Poncioni, 2010:351) insiste na influncia dos livros franceses

    em tornar o Recife daquela poca em um grande centro de atividades polticas e

    sociais. O Recife queria ser modernizar. S que para Vauthier isso consistia em uma

    vaidade oca (VAUTHIER, 2010:109), que apesar da sociedade desejar esta evoluo,

    nada faz para isso, e vive de farsas.

    No pensam, estou certo, nem a quarta parte de uma nica palavra queescrevem. Que povo de farsas e de aparncias exageradas! uma terraadmiravelmente preparada para a cultura de idias polticas. Por isso brotamtantas! Isso me enjoa. Quando falam de seu pas, tudo o que lhe sucede demal, atribuem a falta de patriotismo. Sim, de fato, o patriotismo nobre e

    7Segundo Poncioni (2010) Felipe Neto participou da Revoluo Praieira em 1848.

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    bom, como todos os sentimentos nos homens que derivam do unitesmo, masser cabvel infelizes, em meio de sua desordem e de sua misria...?Trabalhem para melhorar sua posio. Trabalhem! Movam os braos e ainteligncia e depois vir o patriotismo. Eu gostaria mesmo que algumpedisse a um desses vadios que tanto falam de falta de patriotismo quecarregasse uma mira e ajudasse a fazer um nivelamento. Diria logo que no

    nem criado nem cativo, que livre e no nasceu para carregar coisa alguma.Pobre gente! (op.Cit.: 159-160)

    Poncioni (2010: 350) afirma que, adepto ao fourrierismo, Vauthier do grupo

    majoritrio dos propagadores, que acreditam que a principal tarefa a realizar a

    difuso do iderio fourierista, por meio da leitura e da propaganda o que ele no um

    revolucionrio; quer uma transformao progressiva da sociedade. De fato, possvel

    perceber a vontade que o engenheiro tem em discutir estas idias, e a dificuldade que

    tem em encontrar com que discuti-las desde quando estava a caminho de Recife.

    H em mim um desejo imperioso, uma viva necessidade de falar s vezesdessas coisas elevadas que ainda hoje a cincia pressente mais do queexplica. Mas bem raras que tm idnticas aspiraes e desejos. Tenho entode refletir sozinho, - porm o trabalho solitrio do pensamento me extremamente penoso. As idias que no posso transmitir perdem para mimtodo o encanto (VAUTHIER, 2010:70)

    Diante deste contexto, Vauthier se empenha em sua funo de propagador,

    colocando livros a venda ou mesmo emprestando para aqueles que no podiamcomprar (PONCIONI, 2010: 352), e tambm pelo grande nmero de assinaturas que

    consegue para as revistas La Phalange, La Dmocratiee O socialistada Provncia do

    Rio de Janeiro. O ltimo ano de seu dirio, as poucas anotaes que aparecem se

    referem a distribuio desses volumes. Vauthier pode no ter entrado em choque com

    as elites locais, mas foi atravs de seus livros, revistas, artigos e discusses que

    encontrou a melhor forma de disseminar as idias socialistas, afinal, era esta a

    essncia do fourierismo: a revoluo pacfica, a reforma, a procura de uma nova

    ordem econmica e social, baseada na harmonia e na concrdia (MRIAN, 2000:

    157).

    A relao de Vauthier com a escravido no Brasil ainda uma lacuna. Se em

    vrios momentos ele se declara, em seu dirio, horrorizado com o tratamento

    concedido aos escravos, poucas foram as vezes em que fez algo para aliviar as

    condies dessa parcela da populao8, o que de se admirar quando consideramos

    8

    Quando Vauthier deixa o Recife em 1846 ele cita a existncia de uma possvel escrava,aparentemente uma bab de seu filho.

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    suas filiaes socialistas utpicas. Apesar de aceitar o trabalho escravo como parte do

    sistema produtivo, Vauthier no concorda com o tratamento que muitas vezes foi dado

    aos negros, como possvel perceber no relato sobre a reao de Madame Sarmento a

    uma negra que lhe tinha roubado:

    Madame Sarmento nos contou que como sua negrinha lhe tinha roubado seisvintns, ela amarrou-lhe as mos e deu-lhe umas boas chicotadas!!!Levantando- lhe a roupa!!! Sem nenhum constrangimento!!! Diante dosfilhos!!! O mais velho deles observou que o posterior da negrinha no era maisbonito do que o de um cavalo, quando levanta a cauda. Qualquer pessoapoderia chegar a praticar coisas semelhantes num momento de excitao eenvergonhar-se delas depois, mas cont-las... Que mulher! Que alma!(VAUTHIER, 2010:132)

    Essa postura, aparentemente contraditria, no era exclusiva de Vauthier, mas

    tambm outros contemporneos que partilhavam das mesmas idias. Mrian (2010)e Poncini (2010) destacam o fato dos principais jornais difusores do iderio socialista

    no pas O Socialista e O Progresso ignorarem o problema social da escravido.

    Supomos que, neste momento, a escravido era tida como uma condio inerente a

    existncia e funcionamento da sociedade brasileira, que no cabia aos fourrieristas

    (pelo menos aos olhos deles) discutir.

    Vauthier tambm estranha com a relao, to ntima, que se d entre senhores

    e escravos, nessa relao to comum, que quando resultam filhos de relaes de

    senhores e escravas, estes so aceitos como parte da

    famlia.

    Ele visitou Madame Sarmento que, a despeito de seus princpios religiosos,toma dispositivos para comprar uma negrinha, servente de um convento defreiras onde se d mal, porque ali no pode ver homens. Pois bem! Quandoelas tem filhos, os donos ficam com eles: o costume do pas. Costume dopas! Que querem mais? Madame Sarmento acha que isso lhe convm.(VAUTHIER, 2010:95)

    Se no identificamos na prtica de Vauthier tentativas de amenizar as chagas da

    escravido, durante o perodo em que chefiou a Repartio de Obras Pblicas de

    Pernambuco (1840-46) exigiu melhorias nas condies dos trabalhadores

    (vestimentas, alimentao, abrigo). Lcio (2000) destaca que, independente de serem

    escravos ou empregados livres, Vauthier considerava-os homens e exigia que fossem

    tratados como tal. A autora ainda coloca que Vauthier insistiu em extinguir o trabalho

    escravo da ROP baseado em dois principais argumentos: dar servio multido

    desempregada e melhorar o nvel tcnico dos trabalhadores, e, conseqentemente a

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    qualidade das obras executadas.

    As mulheres brasileiras so descritas por Vauthier, em seu dirio, em tom

    crtico, como quase tudo no pas. Em ocasio, no Baile da Sociedade Apolnea declara:

    Sala pouco elegante. Mulheres do mesmo nvel. (VAUTHIER, 2010:91). Porm, nas

    cartas que descrevem com pormenores a organizao espacial das casas no Brasil quese percebe claramente o papel da mulher em uma sociedade patriarcal do sculo XIX.

    Todas as casas, das urbanas s rurais, tm em comum no expor suas mulheres, para

    Vauthier a mulher no Brasil, mantida sob uma reserva extrema, em uma clausura

    quase absoluta (VAUTHIER, 1943:137). Uma contradio, ao se considerar que neste

    momento a sociedade recifense tentava se mostrar moderna e civilizada. Como

    poderia uma sociedade avanada conceder semelhante tratamento s mulheres?

    Sobre a recluso das mulheres da alta sociedade, Vauthier observa durante a

    visita ao Engenho Camaragibe:

    Fomos levados a um salo que serve ao dono da casa de gabinete de trabalhoe que no revelava nenhum indcio de presena feminina. [...] Enfim, depoisde duas cruis horas de espera, fomos chamados sala de jantar. Eu tinhaavistado, pelas portas entreabertas, as costas de uma mulher, evidentementea dona da casa. Esperava encontr-la na sala de jantar. Nem sombra damulher (VAUTHIER, 2010:141)

    Aparentemente essa viso de Vauthier sobre o mundo feminino, expressa em

    seu dirio intimo, representa um olhar do homem da alta sociedade. Neste ponto, as

    observaes so voltadas para os atributos fsicos femininos, e da possibilidade de

    futuros relacionamentos sexuais. Enquanto que nas cartas, a viso volta para o papel

    da mulher na sociedade, onde Vauthier nota a presena feminina nas ruas da cidade:

    negras, trazendo cabea um tabuleiro (bandeja de madeira com bordos)cobertos de pilhas de bolinho e compoteiras, com doces de frutas, percorrem rua buscando freguesia e instalam-se afinal em alguma encruzilhada bem

    freqentada, onde, como um pirilampo em um arbusto, acendero umapequena lanterna sobre o cesto pra indicar a sua presena (VAUTHIER,1943:179).

    A respeito da violncia na cidade, Vauthier se mostrou de incio incrdulo com os

    avisos de Monsieur Thrbege, um mdico francs, que lhe antecipou detalhes sobre o

    Brasil: Detalhes sobre o pas, em que no acreditei. Segundo ele, aqui matam as

    pessoas como moscas. Esqueci de lhe perguntar quantas vezes ele foi morto.

    (VAUTHIER, 2010:91). Porm, ao longo de sua estadia no Recife, com os constantes

    relatos sobre assassinatos por motivos de toda ordem principalmente interesses

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    polticos, Vauthier muda de opinio e passa a temer por sua vida, inclusive adquirindo

    armas para defesa pessoal.

    Antes de v-lo, tinha tido alguma desconfiana. Ocorreu-me a idia de levar aspistolas. Comprei os coldres expressamente com esse fim. Lev-los,

    entretanto, seria mostrar muito claramente minha desconfiana. Preferi deix-los. Levei apenas uma faca de ponta no bolso. (VAUTHIER, 2010:167)

    A estadia de Vauthier no Recife foi uma constante surpresa, como pode ser

    observado em seu dirio intimo. Ao final de cada dia, onde o jovem francs anotava

    suas profundas observaes sobre a sociedade ao seu redor, ele se apresentava cada

    vez mais perplexo com sua constatao de que o povo se encontrava em uma

    barbrie. Estremo conhecedor da cidade do Recife e dos arredores, para onde realizou

    constantes viagens (FIGURA 4), os relatos de Vauthier mostram um engenheiro no

    apenas preocupado com as limitaes estruturais do Brasil, mas em busca de

    alteraes sociais e de melhorias nas condies humanas.

    Figura 4: Ilustrao indicativa dos locais citados por Vauthier em seu dirio.

    Fonte: Juliana Pereira, Magna Milfont e Virginia Pontual, 2009

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    Concluso

    Vauthier representava o resultado de um contexto peculiar. Tendo adquirido

    amplo conhecimento social juntamente com as noes profundas da engenharia na

    cole Polythecnique de Paris, desenvolveu aes numa cidade voltada para o futuro,mas com prticas tradicionais. Apesar de o Recife ser uma das mais importantes

    cidades do Brasil independente, o local mantinha atrasos de uma colnia. Vauthier

    apresentou estas caractersticas ao longo de seu dirio: Escravido, violncia, recluso

    da mulher eram temas recorrentes.

    Seus relatos apresentam um estrangeiro insatisfeito com as condies em que

    se encontrava a sociedade. O Recife observado por Vauthier no era um nico. Como

    foi buscou apresentar ao longo do texto, outros visitantes tambm compartilharam de

    seu espanto. Tanto os franceses Tollenare, Conde de Suzannet e Debret, quanto a

    inglesa Maria Graham deixaram observaes semelhantes sobre a sociedade recifense.

    Vauthier deixou marcas profundas no Recife que vo alm do campo da

    engenharia. Ele reformou no apenas as formas da cidade, mas foi um dos principais

    propagadores dos novos ideais que viriam a mudar o mundo no sculo XX.

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