Uma Breve Reflexão Sobre o Dia Do Senhor

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UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE O DIA DO SENHOR lembra-te do dia de sábado para o santificar- Êx. 20: 8 Rev. Edvaldo Miranda Todos os domingos milhares de “cristãos” quebram o quarto mandamento e o argumento que muito usam é “que todos os dias são do Senhor”. Tal falácia é usada para não separar um dia especial e específico para Deus. Como bem disse o presbítero Solona Portela “pode parecer um argumento piedoso e religioso, mas não esclarece a questão nem auxilia a Igreja de Cristo na aplicação contemporânea do mandamento. Na realidade, isso confunde bastante os crentes e transforma o quarto mandamento, que é uma proposição clara e objetiva e que integra a Lei Moral de Deus, em um conceito nebuloso e subjetivo, dependente da interpretação individual de cada pessoa 1 ”. A esse respeito a Confissão de Fé de Westminster declara: “Embora os verdadeiros crentes não estejam debaixo da lei como um pacto de obras, para serem por ela justificados ou condenados, contudo ela lhes serve de grande proveito, como aos demais; informando-lhes, como regra de vida, a vontade de Deus e o dever que eles têm, ela os dirige e os obriga a andar segundo a retidão; descobre-lhes também as pecaminosas poluções de sua natureza, do seu coração e da sua vida, de maneira que eles, examinando-se por meio dela, alcançam mais profunda convicção de pecado, maior humilhação por causa dele e maior aversão a ele; ao mesmo tempo, lhes dá mais clara visão da necessidade que têm de Cristo e da perfeita obediência a ele 2 ” (XIX.VI). Os puritanos diziam que “o primeiro mandamento fixa o objetivo, o segundo, o meio, o terceiro, a maneira, e o quarto, o tempo”. Os pensadores puritanos nos mostra que o descanso do sétimo dia, era mais que um mandamento judaico; antes, era um memorial da criação, parte da lei moral (primeira tábua que prescreve a adoração apropriada ao Criador), e, como tal, era perpetuamente obrigatória para todos os homens. Assim, quando o Novo Testamento diz-nos que os cristãos se reuniam para adorar no primeiro dia da semana (At. 20:7; cf. 1Co. 16:1), guardando aquele dia como “o dia do Senhor” (Ap.1:10), isso só pode significar uma coisa: por preceito apostólico, e, provavelmente, de fato, por injunção dominical durante os quarenta dias antes da ascensão, esse tornara-se o dia em que os homens, doravante, deveriam guardar o dia de descanso prescrito pelo quarto mandamento. Os puritanos notavam que essa mudança, do sétimo dia da semana (o dia que assinalara o fim da antiga criação) para o primeiro (o dia da ressurreição de Cristo, que assinala o início da nova criação). As considerações feitas pelos puritanos, do dia do Senhor, está bem sintetizada na Confissão de Fé de Westminster (XXI: vii-viii): vii. Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão. Ref. Ex. 20:8-11; Gen. 2:3; I Cor. 16:1-2; At. 20:7; Apoc.1:10; Mat. 5: 17-18 1 http://www.monergismo.com/textos/dez_mandamentos/quarto_solano.htm 2 A Confissão de Fé de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2001

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por Rev. Edvaldo Miranda

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UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE O DIA DO SENHOR “lembra-te do dia de sábado para o santificar” - Êx. 20: 8

Rev. Edvaldo Miranda

Todos os domingos milhares de “cristãos” quebram o quarto mandamento e o argumento que muito usam é “que todos os dias são do Senhor”. Tal falácia é usada para não separar um dia especial e específico para Deus. Como bem disse o presbítero Solona Portela “pode parecer um argumento piedoso e religioso, mas não esclarece a questão nem auxilia a Igreja de Cristo na aplicação contemporânea do mandamento. Na realidade, isso confunde bastante os crentes e transforma o quarto mandamento, que é uma proposição clara e objetiva e que integra a Lei Moral de Deus, em um conceito nebuloso e subjetivo, dependente da interpretação individual de cada pessoa1”.

A esse respeito a Confissão de Fé de Westminster declara: “Embora os verdadeiros crentes não estejam debaixo da lei como um pacto de obras, para serem por ela justificados ou condenados, contudo ela lhes serve de grande proveito, como aos demais; informando-lhes, como regra de vida, a vontade de Deus e o dever que eles têm, ela os dirige e os obriga a andar segundo a retidão; descobre-lhes também as pecaminosas poluções de sua natureza, do seu coração e da sua vida, de maneira que eles, examinando-se por meio dela, alcançam mais profunda convicção de pecado, maior humilhação por causa dele e maior aversão a ele; ao mesmo tempo, lhes dá mais clara visão da necessidade que têm de Cristo e da perfeita obediência a ele2” (XIX.VI).

Os puritanos diziam que “o primeiro mandamento fixa o objetivo, o segundo, o meio, o terceiro, a maneira, e o quarto, o tempo”. Os pensadores puritanos nos mostra que o descanso do sétimo dia, era mais que um mandamento judaico; antes, era um memorial da criação, parte da lei moral (primeira tábua que prescreve a adoração apropriada ao Criador), e, como tal, era perpetuamente obrigatória para todos os homens. Assim, quando o Novo Testamento diz-nos que os cristãos se reuniam para adorar no primeiro dia da semana (At. 20:7; cf. 1Co. 16:1), guardando aquele dia como “o dia do Senhor” (Ap.1:10), isso só pode significar uma coisa: por preceito apostólico, e, provavelmente, de fato, por injunção dominical durante os quarenta dias antes da ascensão, esse tornara-se o dia em que os homens, doravante, deveriam guardar o dia de descanso prescrito pelo quarto mandamento. Os puritanos notavam que essa mudança, do sétimo dia da semana (o dia que assinalara o fim da antiga criação) para o primeiro (o dia da ressurreição de Cristo, que assinala o início da nova criação). As considerações feitas pelos puritanos, do dia do Senhor, está bem sintetizada na Confissão de Fé de Westminster (XXI: vii-viii):

vii. Como é lei da natureza que, em geral, uma devida proporção do tempo seja destinada ao culto de Deus, assim também em sua palavra, por um preceito positivo, moral e perpétuo, preceito que obriga a todos os homens em todos os séculos, Deus designou particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão. Ref. Ex. 20:8-11; Gen. 2:3; I Cor. 16:1-2; At. 20:7; Apoc.1:10; Mat. 5: 17-18

1 http://www.monergismo.com/textos/dez_mandamentos/quarto_solano.htm

2 A Confissão de Fé de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2001

viii. Este sábado é santificado ao Senhor quando os homens, tendo devidamente preparado os seus corações e de antemão ordenado os seus negócios ordinários, não só guardam, durante todo o dia, um santo descanso das suas próprias obras, palavras e pensamentos a respeito dos seus empregos seculares e das suas recreações, mas também ocupam todo o tempo em exercícios públicos e particulares de culto e nos deveres de necessidade e misericórdia. Ref. Ex. 16:23-26,29:30, e 31:15-16; Isa.58:133.

O sábado é parte imprescindível como tempo para busca diferenciada de Deus

(mandato espiritual), como oportunidade de descanso e comunhão do ser humano com seu próximo (mandato social) e como sinal de que Deus é fonte e garantia de todo desenvolvimento e sustento humano (mandato cultural). A igreja é uma “comunidade” pactual. Os que se dizem crentes em Cristo, assumem um compromisso com o cumprimento dos mandatos criacionais (espiritual, social e cultural). O quarto mandamento passa a ser considerado à luz da redenção4. O shabbat coloca diante de nós os grandes feitos de Deus na criação e na redenção. No sábado cristão somos graciosamente capacitados por Deus em nos centralizarmos na criação e na redenção e despertar nossos corações e mentes ao seu louvor.

O argumento de Richard Baxter é que o Dia do Senhor é uma preparação para o céu: “Qual o dia mais apropriado para subir ao céu do que aquele em que Ele ressurgiu da terra e triunfou completamente sobre a morte e o inferno? Use o seu shabbat como passos para a glorificação até que tenha passado por todos eles e chegue à glória5”

O teólogo John Murray, acertadamente disse: “O shabbat semanal é uma promessa, um sinal, e um antegozo daquele descanso consumado. A filosofia bíblica do shabbat é de tal maneira, que negar sua perpetuidade é privar o movimento da redenção de uma das suas mais preciosas características”

Concordo com Ian Hamilton quando afirmou “que o sucesso dos puritanos pode ser traçado por seu compromisso de guardar o Dia do Senhor para honra de Deus. Deus abençoou grandemente seus labores, seus escritos, porque foram homens e mulheres que honraram o dia do Senhor”.

Finalmente, quero trazer uma palavra aos queridos companheiros de ministério. Pastores, não sejam negligentes com o ensino do quarto mandamento, e também não sejam coniventes com os membros da sua igreja que não guardam o dia do Senhor. Não tenha medo de ensinar, mesmo que isso traga incomodo para aqueles irmãos que vão para o shopping no domingo, ou com aqueles que deixam de cultuar a Deus para jogar futebol no horário do culto. Faço minhas as palavras do apóstolo Paulo: “Não te faças negligente para com o dom que há em ti, o qual te foi concedido mediante profecia, com a imposição das mãos do presbitério. Medita estas coisas e nelas sê diligente, para que o teu progresso a todos seja manifesto. Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1 Tm. 4:13-16).”

3 A Confissão de Fé de Westminster, São Paulo: Cultura Cristã, 2001

4 http://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/igreja/o-quarto-mandamento-lembra-te-do-dia-de-

sabado-para-o-santificar/ 5 Revista Os Puritanos. Ano XVII: Nº 4: 2009. Págs.: 11,12