Uma esperança para um novo ciclo
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Moção ao XXVIº Congresso do CDS-PP
Uma Esperança Para Um Novo Ciclo
Diogo Feio
Paulo Núncio
Francisco Mendes da Silva
1. Introdução
No ciclo político que terminou com a investidura do actual Governo do PS, o CDS
exerceu a acção governativa de uma forma que deve orgulhar o partido. O Governo PSD-
CDS exerceu uma missão especialmente difícil, cumprindo com patriotismo o essencial dos
resultados que lhe eram exigidos. A coligação herdou um Estado falido, sob resgate, aos
pés dos credores, incapaz de se financiar, perante a perspectiva de colapso da economia e
dos mecanismos públicos de bem-estar, e entregou ao novo Governo um Estado com
credibilidade internacional e com as contas públicas consolidadas, condições sem as quais
não é possível sustentar níveis desejáveis de crescimento e tranquilidade sociais. A
recuperação exigiu um processo de ajustamento que afectou as condições de vida de
muitos portugueses, mas a causa do ajustamento não foi a eleição do governo PSD-CDS –
foi a situação de pré-bancarrota que aquele recebeu e solucionou. A esquerda insiste na
mentira de que o ajustamento foi obra do simples impulso ideológico do anterior Governo,
desligado de qualquer circunstancialismo de excepção – como se não tivesse sido o PS a
chamar a Troika, depois de anos de uma governação irresponsável e despesista, como se
não se tivesse comprometido com a estratégia do memorando que assinou, como se o
programa que o PSD e o CDS executaram não tivesse de o ser, no fundamental, por
qualquer outro partido responsável.
No Governo, o CDS mostrou o melhor de si. Foi um partido unido e focado na
missão de recuperação do país, que se mostrou política e tecnicamente competente,
contribuindo para a formação e renovação dos protagonistas políticos. Nos últimos anos o
CDS consolidou a sua marca como partido naturalmente vocacionado para o exercício de
responsabilidades governativas, resultado que se deve, acima de tudo, à inteligência,
competência e responsabilidade com que Paulo Portas liderou o partido. Neste momento,
o CDS e os portugueses devem-lhe esse reconhecimento.
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O CDS inicia agora um novo período da sua vida, em que terá de encontrar formas
de renovar e reforçar a sua posição no contexto político português. A fim de abordar o
novo ciclo com as melhores condições de afirmação, o CDS deve nortear a sua acção na
oposição com base em quatro princípios: o CDS deve ser uma oposição firme e
responsável ao PS; deve assumir-se como partido mais pragmático do que
identitário; deve repensar a sua proposta política, após o fim do período político
excepcional do resgate; e deve fazer uma aposta forte no ciclo eleitoral dos
próximos dois anos.
2. O CDS e a solução de governo saída das eleições
O CDS opôs-se à solução de governo saída das últimas eleições legislativas – um
governo minoritário do PS, partido derrotado no sufrágio, que apenas pôde entrar em
funções mediante um conjunto de acordos bilaterais de mera investidura com as forças
políticas da esquerda radical, beneficiando de um cenário de impasse que não poderia ser
resolvido através da marcação de novas eleições. As razões pelas quais o CDS se opôs
àquela solução de governo não desapareceram. Os problemas de tal solução não foram
sanados com a simples entrada em funções do Governo, pelo que o CDS, na sua acção
política de oposição a esse Governo, não pode deixar de continuar a alertar para a sua
especial fragilidade e para os riscos graves que esta implica para o país.
O Governo do PS tem um problema de autoridade material. É verdade que
uma qualquer maioria parlamentar pode gerar um Governo, mas o facto de qualquer
Governo com apoio parlamentar maioritário ter justificação constitucional não implica
necessariamente que todos os governos com apoio parlamentar maioritário tenham a
mesma legitimidade material. A democracia é tanto o “governo da maioria” como o
“governo de quem vence as eleições”: uma maioria que inclua as forças vencedoras de
eleições é sempre, por definição, mais respeitadora do princípio democrático, porque é
aquela que garante que o poder político representa melhor o centro político gerado pela
eleição. A solução de governo vigente, de resto, produziu até o efeito de reforçar o
enviesamento do sistema político em favor da representação dos grandes centros urbanos,
porque o PS, que perdeu as eleições na generalidade do território (e em muitos distritos
perdeu fortemente), teve de se aliar a forças políticas com grupos parlamentares que
representam essencialmente aqueles grandes centros.
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Para além disso, a solução só seria completamente legítima se tivesse sido anunciada
como possível antes das eleições, o que não aconteceu. Na nossa cultura política vigora o
princípio de que o governo cabe a quem vence eleições. Esse costume, que traduz uma
interpretação reiterada da Constituição, gerou no eleitorado a expectativa de que é daquele
modo que as coisas se devem passar. Quem votou, fê-lo objectivamente convicto de que o
primeiro-ministro seria o líder da força mais votada. Ora, o Governo actual é sustentado
por um conjunto de acordos que ninguém tinha como minimamente previsível antes das
eleições, na eventualidade de nenhum dos partidos envolvidos ser o mais votado.
A solução de governo está longe, pois, de ser a que melhor respeita os resultados
das eleições legislativas, com todos os riscos que isso acarreta para a aceitação popular do
governo e para a sua autoridade política natural. Este problema de autoridade do Governo
ultra-minoritário do PS reforça a necessidade de uma sindicância política atenta,
rigorosa e implacável na oposição a todas as medidas que o CDS entenda como
violadoras da sensibilidade global maioritária saída das eleições.
Porém, é necessário compreender que não só o Governo não é ilegítimo, em
sentido próprio, como, em boa verdade, a insistência apenas no discurso da falta de
legitimidade material do Governo pode desgastar a vantagem moral e a base eleitoral do
CDS e do centro-direita. Esta é a realidade política que o país enfrenta. E é enfrentando e
combatendo, sem crispações desnecessárias, a actual solução parlamentar
socialista/bloquista/comunista/verde que sustenta o executivo que o CDS criará as
condições para voltar a exercer responsabilidades governativas. A maioria do eleitorado
aprecia as posturas de responsabilidade.
Aliás, a repetição constante daquele discurso apresenta o risco de o desvalorizar. É
que ele poderá vir a ter o seu momento e o seu pretexto, necessitando então de toda a sua
autoridade. Se o fundamento do actual Governo é uma suposta maioria parlamentar
positiva e duradoura, o Governo deixará de ter legitimidade quando se perceber que aquela
maioria não existe realmente.
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Neste Governo, a estabilidade e a legitimidade confundem-se: sem a
estabilidade, não haverá legitimidade. Isto é, se os partidos à esquerda deixarem de
apoiar sistematicamente o PS nos instrumentos essenciais da governação, e se o Governo
passar a necessitar de apoio à sua direita, terá de reconhecer-se ser falsa ou inexistente a sua
sustentabilidade política. Logo que esse momento ocorra, haverá um discurso
objectivo, simples, democrático, moderado e reformista a fazer em torno da
legitimidade e da necessidade de clarificação eleitoral, que o CDS deverá
protagonizar.
3. O CDS e a oposição necessária
O PS reconheceu o problema de legitimidade material ou autoridade natural da
solução de governo por si proposta. Desde cedo o actual primeiro-ministro declarou que
não inviabilizaria um governo PSD-CDS sem ter uma alternativa especialmente robusta –
uma maioria positiva, que não se limitasse a bloquear quem ganhou e assegurasse uma
governação estável a quatro anos. A falta de solidez eleitoral de um governo liderado pelo
PS teria de ser compensada pela estabilidade do apoio parlamentar a esse governo. Daí se
ter prometido a construção de uma alternativa “estável, responsável, coerente e
duradoura”. No entanto, o que temos é algo de completamente diferente. O Governo
assenta numa maioria negativa, artificial e oportunista, que se constituiu para impedir a
entrada em funções do governo PSD-CDS. Ou seja, um governo minoritário do PSD e do
CDS foi substituído por um outro governo minoritário, de um dos partidos perdedores,
que não assegura as condições de governabilidade que esse próprio partido – o PS – definiu
previamente como fundamentais. De facto, não se pode considerar que sirva os interesses
de Portugal um governo formado apenas por um partido perdedor, fragilmente apoiado
por um conjunto de diferentes acordos de incidência parlamentar, com uma geometria
variável de compromissos programáticos e assinados com partidos que não só não desejam
comprometer-se com a governação como nem sequer apreciam falar entre si, e com os
quais o PS está obrigado a estabelecer uma relação de controvérsia quotidiana.
O Bloco de Esquerda, o PCP e o PEV encontram-se na posição de não exercerem
o poder nem a oposição, um cinismo que não é sustentável durante muito tempo. O
Governo está, assim, totalmente dependente de aqueles partidos, a qualquer momento,
decidirem se querem fazer parte da solução governativa ou da oposição.
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Esta dependência absoluta da extrema-esquerda torna o Governo minoritário do PS
não só institucionalmente muito frágil mas também especialmente propenso ao
radicalismo. O pior que poderia acontecer ao sistema político português seria a
oposição optar por uma resposta simétrica, de um radicalismo identitário de
inclinação contrária. Aquilo de que o país necessita é de uma oposição que seja um
contraponto de moderação, abrangência e pragmatismo.
O CDS é um partido doutrinariamente preparado para ser uma parte
fundamental dessa oposição. A sua vocação é para ser um partido de âmbito largo na
área não socialista, reformista e transversal, defensor da subsidiariedade do Estado e das
realidades orgânicas de que depende a moderação do seu poder – a família, as liberdades
individuais, a economia de mercado, as associações civis.
O CDS deve afirmar a sua vocação maioritária e vontade de liderar o seu
espaço político, evitando a tendência para afunilar a sua capacidade de atracção e
representação dos portugueses descontentes com o Governo, não correndo o risco
de se acantonar em nichos eleitorais redutores.
O Governo minoritário do PS, assente nos acordos à esquerda, pode ter os
problemas de legitimidade que acima se apontam, mas a sua investidura mudou
significativamente o regime, porque inculcou no sistema político a noção, que no futuro
será fonte de legitimidade, de que a partir de agora não interessará qual o partido que
obtém mais votos, mas sim que coligação dispõe da maioria dos deputados eleitos.
Trata-se de uma nova prática constitucional que potencia a extinção da ideia
do “voto útil”. A menorização estrutural decorrente dessa inércia do voto táctico
prejudicou sempre a afirmação do CDS, que teve por vezes de se recolher em eleitorados
demasiado específicos. Esta estratégia era necessária, mas ao mesmo tempo que garantia ao
partido uma reserva de votos essencial também impedia um crescimento suficiente para
que aquele reclamasse um lugar mais apropriado à sua vocação histórica e doutrinária.
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Sendo certo que o “voto útil” não terminou automaticamente com a actual solução
de governo (os hábitos de voto são realidades sociológicas bastante enraizadas), o CDS não
pode perder esta oportunidade histórica de incorporar no seu discurso a noção de que
todos os partidos se encontram colocados no mesmo ponto de partida, não se distinguindo
pela capacidade abstracta de vencer eleições mas pela interpretação da realidade, pelas
propostas políticas, pela consistência das suas posições, pela competência das suas soluções
e dos seus quadros, pela abertura à sociedade.
Neste quadro, para sublinhar o seu posicionamento e capacidade de representar um
eleitorado vasto e sem limites pré-definidos, o CDS deve ser um partido mais
pragmático do que identitário. Não significa isto, é claro, que o CDS esqueça ou
secundarize a sua matriz de valores. O que se defende é que o CDS, em vez de escolher
as suas prioridades em nome da afirmação da sua identidade ideológica, seja capaz
de dar verdadeira utilidade aos seus princípios fundadores, percebendo de que
modo, em cada circunstância, a concretização prática desses princípios serve
melhor a solução dos problemas concretos. É pela prática política do partido que a sua
base doutrinária deve ser naturalmente revelada, não pela permanente enunciação de
princípios.
Para além disso, o CDS deve saber valorizar a sua reputação mediante a abertura à
sociedade. O CDS terá de se empenhar em reformar o seu modo de funcionamento,
as suas estruturas e os seus órgãos de modo a facilitar a participação de cada vez
mais pessoas na vida do partido e, através deste, no exercício de cargos públicos.
Vivemos numa época em que existe uma percepção geral de que nos partidos apenas
conseguem ter participação relevante os membros de pequenos directórios enquistados.
Por isso, as pessoas tenderão a recompensar um partido que vejam como estando
organizado de modo a permitir uma constante abertura à renovação.
O CDS é, neste momento, um partido que já dá provas inequívocas de
pragmatismo. Em grande parte da última década e meia o partido não só exerceu o poder a
nível nacional como esteve no governo de muitas das maiores autarquias do país, o que lhe
confere hoje uma cultura típica de um partido de governo – a cultura do realismo e do
compromisso.
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Esta cultura é indispensável num cenário em que só poderá formar governo
quem conseguir crescer eleitoralmente sem inviabilizar as pontes que possam vir a
revelar-se indispensáveis à construção de coligações maioritárias.
4. O CDS e o programa político do novo ciclo
Para chegar ao poder, o PS teve de firmar com os partidos à sua esquerda um
mínimo compromisso possível ao preço mais elevado possível, assumindo um mandato de
governação que está armadilhado desde o início. A fim de garantir o apoio parlamentar ao
Governo, o PS teve de se comprometer com um conjunto de políticas de aumento da
despesa que fazem perigar a indispensável sustentabilidade das finanças públicas. Como
bem se viu a propósito da negociação do Orçamento do Estado para 2016, o ritmo de
reposição de rendimentos assumido pelo PS é incompatível com o cumprimento dos
compromissos internacionais: para manter as medidas a que internamente se vinculou,
direccionadas primordialmente para os portugueses que trabalham exclusivamente no
sector público, o Governo teve de aumentar impostos que oneram o sector privado e
inviabilizam a concretização da própria política económica central do programa com que o
PS se apresentou a eleições – a de promover o crescimento através do aumento do
consumo interno gerado pelo aumento do rendimento disponível.
Impedido de sequer poder levar a cabo esta sua directriz política nuclear, o PS
exerce actualmente o poder sem ter sobre Portugal uma visão estruturada e de médio ou
longo prazo, animado apenas por uma patologia radical de reversão e destruição de tudo o
que o anterior Governo fez, sem o mínimo critério ou gradualismo. O Governo dá
prioridade à distribuição de benesses de curto-prazo para garantir vantagens eleitorais
imediatas, que acentuam os desequilíbrios de rendimento e estatuto entre os portugueses
que trabalham no sector público e os que trabalham no sector privado, pensando na
simples realocação do esforço de ajustamento sem se preocupar minimamente com a
criação de riqueza, os fundamentos do investimento privado e as dinâmicas do crescimento
sustentável e da geração de emprego. Para além disso, é um Governo refém dos
corporativismos mais atávicos da sociedade portuguesa e de forças políticas e sindicais que
privilegiam e promovem um discurso abertamente hostil às instituições da União Europeia,
da Zona Euro, e aos credores internacionais de que depende o financiamento da República
e do Estado Social.
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O PS não está hoje em condições de governar com os olhos postos no futuro
porque simplesmente está refém de partidos retrógrados e parados no tempo – aos quais
juntou o seu destino –, que continuam a olhar para a economia de mercado, a propriedade
privada e o empreendedorismo empresarial como principais alvos a abater.
O CDS não pode deixar de ser uma oposição frontal, inequívoca e
permanente a este modelo de governação.
Contudo, no novo ciclo, o CDS tem a obrigação de actualizar a sua proposta
política e de oferecer aos portugueses a perspectiva de um futuro melhor do que o
presente. O CDS cumpriu a sua obrigação nacional, enquanto partido responsável e
de governo, ao salvar o país da bancarrota socialista. Durante o período do resgate,
designadamente durante a primeira metade da legislatura anterior, o CDS colocou
sempre o interesse do país em primeiro lugar, tendo aprovado medidas que não
aprovaria se o país não estivesse a enfrentar uma situação de emergência financeira.
Mas o CDS não pode ficar dependente da ideologia do período de
emergência e do quadro mental da crise e do resgate. Fechado o programa de
ajustamento e recuperada a autonomia orçamental, o CDS tem especial
responsabilidade em protagonizar uma nova esperança para os portugueses.
Seguramente que a situação do país continua a requerer prudência e gradualismo,
mas o CDS deve apresentar uma proposta política reformista, capaz de gerar
consensos alargados, nas áreas orçamental, económica, social e de reforço da
qualidade da democracia.
No que diz respeito à política orçamental, o CDS deve ser o campeão da
redução da despesa pública e da diminuição do peso do Estado na sociedade e na
economia. A afirmação do princípio de um Estado subsidiário, que estará sempre presente
para aqueles que dele efectivamente precisam, compromete o CDS na redução de um
Estado que está hoje claramente sobredimensionado, absorve demasiados recursos,
interfere nas escolhas das famílias e onera o crescimento económico.
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O nível da despesa pública é hoje o principal inimigo dos contribuintes.
Depois dos avanços alcançados na consolidação das contas públicas, é agora fundamental
centrar a acção governativa na redução dos gastos incomportáveis do Estado. É do
sucesso deste combate que depende directamente a redução consistente da carga
fiscal sobre as famílias e as empresas. Para além do alívio fiscal necessário, que deverá
ser gradual e responsável para não pôr em causa a consolidação das contas públicas
alcançada nos últimos quatro anos, o CDS deve comprometer-se com a reintrodução e
aprofundamento do quociente familiar no IRS, um pilar estrutural de uma política
fiscal inovadora virada para as famílias com filhos, bem como com o desenvolvimento
da reforma do IRC e o reforço das condições de competitividade fiscal para as
nossas empresas.
Quanto à política económica, as prioridades devem focar-se no investimento das
nossas empresas, no aumento das exportações e na consequente criação de
emprego. O Estado tem obrigação de criar um quadro competitivo que promova e dê
estabilidade ao investimento privado, quer nacional quer estrangeiro, que estimule o risco e
o empreendedorismo, e que fomente a internacionalização e a exportações das empresas
portuguesas. Só um crescimento económico sustentado, virado para os mercados externos,
sem com isso descurar a componente interna, pode ser gerador de novas e consistentes
oportunidades de trabalho.
Para além disso, o CDS deverá ser uma força política reconhecida por se
empenhar nas políticas públicas das áreas sociais, como a saúde, a educação ou o
sector solidário, num quadro de responsabilidade orçamental, quer pela promoção das
condições de prestação dos serviços por parte dos organismos do Estado, quer através do
reforço e modernização da oferta e da qualidade, através do aprofundamento dos
princípios de subsidiariedade e complementaridade com os prestadores do sector privado.
Relativamente à qualidade da nossa democracia será importante que o CDS
apresente propostas no sentido de melhorar os níveis de participação dos cidadãos. O
CDS deverá ser também um exemplo quanto à melhoria da forma de funcionamento dos
partidos políticos, possibilitando uma maior aproximação aos eleitores e renovando a sua
organização de modo a tornar-se mais aberto à intervenção daqueles que não estejam
interessados em participar nos órgãos partidários tradicionais.
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5. O CDS e o próximo ciclo eleitoral
A fragilidade do Governo minoritário do PS introduz uma volatilidade evidente na
situação política, pelo que não se encontra afastada a possibilidade de haver eleições
legislativas antecipadas. Não obstante esta hipótese, o CDS deve centrar a sua acção do dia-
a-dia na afirmação e consolidação da nova liderança e da sua proposta política para
o novo ciclo do partido.
Seja como for, a volatilidade da situação política é suficiente para que o CDS deva
estar preparado para a eventualidade de, em algum momento dos próximos dois anos, o
actual Governo deixar de ter condições para exercer o seu mandato. Se tal suceder, a culpa
e o ónus político da instabilidade recairão integralmente sobre o PS e os partidos à sua
esquerda, que sujeitaram o país ao experimentalismo dos seus frágeis acordos
parlamentares.
O CDS não deve colocar de parte a possibilidade de aceitar a formação de um novo
governo dentro do quadro parlamentar vigente, desde que a solução em causa respeite os
resultados eleitorais das últimas eleições e seja a que permita superar mais eficazmente o
impasse que vier a ser gerado.
No entanto, na eventualidade de eleições legislativas, o CDS deverá, em
circunstâncias normais, apresentar listas próprias, como forma de afirmação
autónoma do seu projecto para o novo ciclo.
Aquilo que a realidade recente nos mostra é que o centro-direita só voltará a
governar se obtiver maioria absoluta de deputados eleitos. Se essa maioria não existir,
o precedente criado com a actual solução governativa incentivará em princípio a coligação
entre os perdedores. Por outro lado, a experiência mostra também que aquela maioria
absoluta dificilmente será obtida por um só partido. Este cenário significa que a
estratégia mais apropriada é a de cada partido se apresentar de forma
independente, com projectos distintos (ainda que possivelmente conciliáveis), de
modo a alargar a capacidade de atracção de voto.
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De resto, as últimas eleições presidenciais, que deram a terceira vitória
consecutiva à primeira volta a um candidato proveniente do centro-direita,
mostraram que a obtenção de maiorias absolutas está perfeitamente ao alcance
desse espaço político, se os partidos se apresentarem com discursos abrangentes,
moderados e positivos, que dêem esperança e respeitem a aspiração dos
portugueses.
Nos próximos dois anos, haverá lugar a eleições regionais e autárquicas. Estas
últimas, dada a sua importância nacional, não poderão deixar de ser uma
oportunidade para a afirmação do CDS no novo ciclo. Não há verdadeira afirmação
política sem a existência de ganhos eleitorais e sem o exercício de cargos públicos por
vontade popular.
O CDS tem um historial de coligações autárquicas relevantes, de sucesso, com o
PSD. Essa relação pode e deve, obviamente, ser aprofundada. Todavia, o CDS deve
empenhar-se em fortalecer a sua presença autárquica em nome próprio, robustecendo a
implantação territorial do partido. As eleições autárquicas, dado o número de pessoas cujo
envolvimento é necessário, são uma óptima ocasião para a abertura do partido a novos
protagonistas. Para além disso, os dirigentes e os quadros do partido com maior visibilidade
e reconhecimento, nacional e local, devem estar disponíveis para protagonizar candidaturas,
em nome da afirmação do partido. Este será o melhor caminho para o sucesso do nosso
partido.