Uma parte de mim -...
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Uma parte de mim — Ottonela Bezerra
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Feliz 2012
Quando o ano acaba, uma boa parte de nós, pára, mesmo que por alguns
instantes e reflecte sobre tudo o que se planeoou, no início do ano que agora finda,
os planos traçados, os objectivos concretizados ou as metas alcançadas, as perdas,
as conquistas. As novas amizades, os amores, os valores. Enfim, é um ciclo que a
cada recomeço é alimentado por esperanças, esperanças que fazem com que
tenhamos forças para traçar novos planos, fazer novas amizades, abrir o coração
para novos amores conservando os velhos, os que nunca nos abandonam,
abraçamos novos valores, ou devíamos... É sempre uma oportunidade que nos é
dada para sermos felizes, e acima de tudo para fazermos a nossa felicidade. É como
uma recarga, um combustível, a renovação de forças para enfrentarmos 12 meses
e tudo o que com eles teremos de ultrapassar e comemorar... Não podemos, aliás,
não devemos pensar só em derrotas. Não é isso que esperamos de nós, esperamos
sim, que a cada novo ano hajam, novas e melhores conquistas, melhores vitórias,
alegrias que possam encher-nos o peito, e que façam florir os nossos sorrisos mais
largos, expontâneos e verdadeiros. Os votos repetem-se incansavelmente nesta
época : Saúde, paz, harmonia, paz de espírito, alegrias, vitórias ou glórias, e acima
de tudo fé, para que possamos levantar a cada derrota mais fortes... e que estas
sejam poucas.
Feliz 2012
Uma parte de mim — Ottonela Bezerra
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A minha melhor amiga
Certamente todos nós temos um(a) melhor amigo(a).
Hoje deitada na cama pensei como seria incompleta, infeliz, vaga e imperfeita
a minha vida sem ela. Feliz ou infelizmente nós seres humanos temos a capacidade
de nos adaptarmos as situações por mais duras e cruéis que estas sejam.
Na verdade, todos os adjectivos que supracitei não fariam sentido, se eu
estivesse isolada num dos picos do Alaska pois habituaria-me a idéia de não ter
uma melhor amiga(o).
São pessoas que de um modo muito especial, entram, permanecem e que
raramente por um ou outro descuido do destino saiem da nossa vida. Podem
passar-se anos, até porque as circunstâncias da vida nem sempre estão a nosso
favor, mas um melhor amigo, será sempre um melhor amigo, até mesmo aqueles
que mais cedo vão ao encontro de Deus, estarão incondicionalmente em nosso
coração e como que por magia os sentimos olhando por nós.
Um melhor amigo, é alguém que de uma forma mais profunda humana e
verdadeira vê os nossos problemas como seus, busca compreender-nos até nas
nossas mais incompreensíveis atitudes, pessoas especiais com quem sabemos que
podemos sempre contar independentemente da situação. Pessoas que mesmo
sendo tão diferentes de nós aceitam as nossas escolhas, afagam dores, enxugam as
nossas lágrimas, arrancam sorrisos aos nossos lábios mesmo quando o que mais
queremos é chorar. Alguém que sacrifica noites, desejos e chega até a quebrar
promessas para atender ao nosso desejo mais banal. Alguém que apenas na
cumplicidade de um simples olhar traduz-nos segurança, paz e conforto. Um braço
direito que Deus pões no nosso caminho sempre por um motivo, um verdadeiro
anjo um grande amor e gerador das nossas maiores alegrias.
Hoje, ha sensivelmente 20 minutos venci a preguiça que normalmente se
apodera de mim todas as tardes ao chegar da universidade, e tentei traduzir nos
meus “primitivos escritos” o quão feliz e abençoada sou, por ter uma melhor amiga
como a minha.
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À moral aos bons costumes
Todos nós, no dia-a-dia deparamo-nos com determinadas situações, que a
dada altura e de um tempo a esta parte têm se tornando comuns, e por outro lado
até “normais”.
Cresci e fui educada, a cumprimentar, agradecer, respeitar, e saber onde
termina a liberdade dos outros para que então comece a minha.
Sou da chamada “geração perdida”, geração esta, aonde os valores morais e
éticos estão cada vez mais degradados e escassos.
Sempre ouvi dizer “que a educação parte de casa”, mas há neste mundo,
muito boa gente, pessoas de origem pobre, mas de alma nobre, como diria “Zeca
Pagodinho”, que nunca tiveram a oportunidade de estar numa escola, e muito
menos numa universidade, como a maioria dos jovens agora.
Pessoas, que aprenderam com a vida, de alma calejada mas de punho forte e
de uma educação inquestionável.
O anormal, tornou-se normal. As mulheres pediram e lutaram pela igualdade
do género, fico feliz por isso, pois defendo a idéia de que homens e mulheres
devem ser sim, tratados de igual modo. Mas como tudo tem um lado negro, essa
idéia de “igualdade” tornou-se numa justificativa para que muitas mulheres
vulgarizem e banalizem a figura da verdadeira mulher. Forte, determinada, que
defende e luta pelos seus interesses, sem discriminações.
Não tem a mulher, que beber até cair, fumar só para se afirmar perante a
sociedade, pois pelo contrário demostra a fragilidade que reside em todas nós, em
algumas mais que outras.
Paulatinamente vai se dizendo adeus, a verdadeira moral e aos bons
costumes.
“O obrigada”, “bom dia”, “se faz favor” e “com licença” dito por um jovem,
torna-cada vez mais raro. Mas antes fossem só os jovens, que com alguma
rebeldia, muitas vezes sem causa, pensam que sendo mal educados é uma forma
de se impôr perante a sociedade. Acontece com muitos de nós, ao chegar a algum
estabelecimento comercial, cumprimentar e como resposta receber um silêncio
ensurdecedor, por aqueles que se dizem ser os mais velhos, e que para nós
deveriam ser o exemplo.
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Tiro então daqui, a idéia de que para a educação, a moral, e os bons
costumes, não há idade, sexo, pobreza, e nem nobreza, deverá sim, haver
discernimento, entre o certo e o errado, o justo e o não justo.
Devemos todos, velar pela educação e pela moral, mesmo que a sociedade se
ria de nós, ou nos ignore. Pois se cada um de nós fizer a sua parte, respeitando o
próximo teremos uma sociedade sã e coesa, por mais tempo que isto leve a
acontecer, é necessário que se comece...
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Amor (Felicidade)
Nunca é fácil terminar uma relação quando ainda se ama a pessoa que esteve
ao nosso lado. Para a maior parte de nós, humanos, um dos pressupostos para ser-
se feliz, é amar e ser amado. O amargo nunca sabe bem quando se já provou o que
é doce, a solidão nunca é bem-vinda quando se sabe o quão agradável é estar com
alguém. O amor, um sentimento com tantas definições, tantos poetas serviram-se
de palavras e com a maior das emoções tentaram transparecer a sua nobreza.
Quando se ama tudo é mais belo, as cores são mais vivas, o sorriso é
espontâneo, o olhar é iluminado... a vida passa simplesmente a ser perfeita,
mesmo com tantas imperfeições... Involuntariamente pusemos de lado toda a
indisposição, tristeza, stress, mau-humor quando estamos com a pessoa amada.
Sentimo-nos completos mesmo faltando sempre qualquer coisa, sentimo-nos
alegres, mesmo quando só temos motivos para estar abatidos... Uma simples
palavra, um gesto, um olhar... de tudo isso é feito o amor. Aliás, ai é que mora a
sua nobreza. Ele, instala-se nos corações mais rudes, nas personalidades mais
dificéis, nos ambientes “mais pesados”, nas horas inesperadas... O amor é assim,
simples, chega devagar... e muitas vezes nem percebemos que ele está por perto...
É uma sensação maravilhosa, quase inexplicável que todos nós tentamos partilhar
e manifestar das mais diversas formas... O amor, é benigno, é divino, é natural, o
amor é simplesmente algo que dá ânimo a nossa vida, cor aos nossos dias, o amor
faz-nos sonhar acordados, fantasiar, planear, faz-nos dançar ao som de uma música
que só nós ouvimos, conforta o nosso coração, rouba-nos os sorrisos mais bem
guardados... O amor é um mistério, uma bêncão, pois poucos são os que de
verdade sabem amar... O amor, é a salvação para esta selva em que se tornou a
humanidade, o alcoól para as feridas da alma, o amor é simplesmente o que de
mais belo nos pode acontecer...
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Luanda 436
Hoje, decidi “pôr de lado” um pouco os meus textos sentimentalistas, para
falar e fazer uma “ligeira” vénia a esta cidade que nos viu nascer e crescer.
De modo caricato olho para Luanda e vejo um sorriso...em cada olhar, em
cada esquina, a cada raio de sol que ilumina a capital de um dos países mais
abençoados do mundo, que mesmo depois de passar por “muitas e boas” continua
na luta por um futuro melhor.
A nossa Luanda de hoje, que quer dizer correria, engarrafamentos, taxistas,
zungueiras, motorizadas...enfim!
Sinto saudades de tempos que não vivi, apenas ouvi falar pelos meus pais.
O saudoso Cinema Volante que todas as semanas dava o ar da sua graça aos
mais variados bairros da capital, do Cine Império, actual cine atlântico, do Cine
Miramar que rodou por semanas ineterruptamente fruto da grande aderecência os
famosos filmes “Orfeu negro” e “ A canção da felicidade”, saudades da calçada da
missão conhecida por muitos de nós (nova geração) pelo belíssimo poema
intitulado “Namoro” da autoria de Viriato da Cruz, musicado por Rui Mingas,
saudades de tudo o que nos acompanha nesta nostálgica viagem ao passado,
saudades do largo do baleizão um dos principais términos dos transportes públicos
na época, transportes estes que saiam directamente dos musseques distribuindo
“o pessoal” para os seus postos de trabalho, da famosa ilha de Luanda a nossa
Kianda que tantos mistérios carrega, Luanda do mercado do Kinaxixi, do Palácio
Dona Ana Joaquina, do Liceu Salvador Correia, do Hospital Universitário Américo
Boa Vida, ladeado de eucaliptos e fazendo frente ao simpático bairro Indígena, dos
meninos que jogavam à bola com os pés descalços.
Alvalade e Miramar eram “meia dúzia” de casas e exclusividade dos
milionários que do seu poder financeiro faziam belos palácios.
Do famoso morro da maianga aonde actualmente é o mercado do Prenda...
Enfim!Luanda do mufete aos sábados...do saudoso carnaval... Luanda é tudo isso...
E muito mais..
De lá pra cá muita coisa mudou, a menina cresceu e tornou-se mulher, na
nossa Luanda de hoje, Luanda do Belas Shopping, da nova marginal, dos
intermináveis engarrafamentos, e dos bonitos e luxuosos hotéis na famosa “baixa”.
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Luanda que como uma verdadeira mãe-capital tantos filhos adoptou... E não
há como falar de Luanda pondo de lado o sentimentalismo. Pois Luanda é
sentimento, cor, ritmo, alegria, calor humano,energia, é nunca se deixar abalar
pelo stress do dia-a-dia.
Hoje, especialmente paro e agradeço por tudo o que representas para nós...
Porque apesar dos pesares, como se diz na gíria “Luanda não nos deixa mal”!
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Luz e Escuridão
São muitas as vezes em que pensamos que chegamos ao fim do túnel..
caminhamos perdidos pela escuridão e sem norte pensamos que simplesmente
que tudo acabou... como por magia tudo comeÇa a escapar-nos pelas mãos, as
lágrimas escorrem-nos pelos olhos involuntariamente.
O desespero é tão grande que deixa-nos cegos, esquecemo-nos deste modo,
que há no fundo do túnel sempre uma luz, e que por mais fraca que esa seja,
lanteja no compasso dos batimentos do nosso coraÇão.
Dói muito, sofremos, caímos sem esperanças de um dia levantar e voltar a
caminhar como dantes...
Mas é assim que acontece... Entre um piscar e outro,entre um batimento e
outro levantamos mesmo sem querer...
As vezes, nós é que transformamos a nossa vida neste túnel, e sem saber
temos a capacidade de transformar a escuridão em luz.
Não nos podemos esquecer que “enquanto há vida, há esperança”. E,
pessoalmente, contrariando o tradicional ditado que diz que “ a esperança é a
última a morrer”, a esperança para mim, nunca morre.
E o “buraco nunca é tão fundo quanto nos parece”.
Assim prefiro pensar e crer que os sentimentos traansformam-se.
As dores, as perdas, e o vazio inexplicável com a ajuda do tempo, que é o
maior de todos os mestres serão transformados em saudades.
Saudades dos bons momentos e dos largos e espontâneos sorrisos.
O ódio, o rancor, a inveja, a falsidade, estes sim, devem ser extintos, não
fazem bem, maltratam a alma causando feridas profundas ao coração.
Viver com paz de espírito, abrir o coração, esquecer as mágoas, e ultrapassar
os problemas. É de tudo isso que precismos para viver em paz, connosco e com os
outros também.
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Os angolanos e o onze de Novembro
A independência nacional tem uma enorme importância na vida de todos os
angolanos, importância esta ofuscada e que muitas vezes é esquecida. A maioria de
nós, preocupa-se apenas em usufruir de mais um feriado, na agitação das caixas
térmicas, grelhados e longas mas, animadas e divertidas caminhadas para fora das
localidades. Mussulo, Barra do Kuanza, Cabo Ledo, ou até mesmo para fora da
Cidade da Kianda.
Confesso que durante muitos anos deixei-me levar pelo feriado sem me
preocupar em parar e reflectir o mínimo que fosse sobre este dia.
Hoje, escrevo, e dedico este texto, pois ainda não me considero uma cronista,
aos meus avós, pais, tios e a todos os que fizeram com que a terra da Palanca
Negra, da Ilha de Luanda, da Praia Morena, da Fenda da Tundavala, da Serra da
Leba, das Quedas de Calandula, da Welwitshia Mirabilis e de tantas outras
maravilhas que aqui temos, se tornasse numa verdadeira Nação.
Com ela, ficou para trás o saudoso “tempo do colono”, as longas filas para
comprar um pão apenas, os famosos cartões que a poquíssima gente era acessível.
Considero-me leiga na matéria, pois nasci 15 anos depois deste histórico
acontecimento, o pouco que sei baseia-se nas minhas monótonas lições de história
de Angola que recebia na 5ª 6ª e 7ª classes, e quanto aos testemunhos orais
agradeço aos meus pais que casualmente discutiam comigo e com os meus irmãos
a propósito deste assunto.
Bem haja, a batalha de Kifangondo, e ao poeta e saudoso Primeiro Presidente
da nação António Agostinho Neto. Com a independência, Angola aprendeu a
caminhar com os próprios pés, e como um bebé que dá os seus primeiros passos,
encontrou vários obstáculos pelo caminho. Vários dissabores, e o maior deles a
guerra, que em 92 provocou a maior instabilidade que vimos até hoje.
Mas como nada dura para sempre em 2002 veio a paz, dar o ar da sua graça,
mostrando e provando ao mundo a garra deste povo que nunca deixou de sorrir.
Há ainda muito que se melhore, mas como diz o poeta, “o caminho, faz-se
caminhando”... Viva o 11/11 que este ano é de 11 também.