Uma proposta metodológica para análise de infográficos

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 Uma proposta metodológica para análise de infográficos  A methodologic propo sal to analise infog raphics  CALOMENO, Carolina Mestre - Unicenp Palavras Chave: análise, metodologia, inf ografia Este artigo apresenta uma proposta metodológica para análise de infográficos, fundamentada nos textos de pesquisadores como Gonzalo Peltzer, Jose Manuel De Pablos, Jose Valero Sanches, Jean-Marie Floch e Gr oupe µ. O trabalho objetiva comparar os diversos autores e seus trabalhos, na área de infografia e representação gráfica, no intuito de apontar uma estrutura metodológica que permita analisar um produto visual tão complexo como são os infográficos. A metodologia é exemplificada com análises de infográficos do período da Guerra do Iraque, em 2003, quando houve uma grande profusão de infográficos em nas mídias impressas (jornais e re vistas), eletrônica (televisão) e digital (internet). Keywords: analysis, methodology, infography This article presents a methodological proposal to analyse infographics, based on the texts of Gonzalo Peltzer, Jose  Manuel De Pablos, Jose Valero Sanches, Jean-Mar ie Floch e Groupe µ. The objective of this work is to compare the author’s works in the infography area and graphical presentation to point out a met hodological structure that makes it  possible to analize such complex visual product as infographics . The methodology is exemplified using an analysis of the Iraq War infographics, published in 2003, when there was a great profusion of infographics in printed media (newspapers and magazines), electronic media (television) and digital media (Internet). Introdução A infografia viabiliza a exposição de conteúdos complexos, como foi o caso das táticas, batalhas e tecnologias bélicas da Guerra do Iraque, por meio de conjuntos de elementos visuais, textuais, fotográficos e cromáticos, representando, assim, um exemplo do que se pode chamar de linguagem sincrética. Para analisar um infográfico e seus elementos componentes, ou seja, um sistema como um todo, é necessário estudar o seu modo de produção de sentido, as interpretações, as dimensões semi-simbólicas (GREIMAS E COURTÈS, 1991 p.228) do discurso em questão. O termo infografia é um neologismo adotado entre os anos 70 e 80, para nominar um antigo gênero gráfico informativo, característico pela mescla de mensagens verbais e visuais. No início da década de 80 ocorreu seu grande ressurgimento no jornalismo, nos Estados Unidos como information graphics ou gráficos de informação, logo passando a ser infographics . Pouco depois, com a notoriedade estilística alcançada pelos  jornais n orte-americ anos, por me io do USA Today, o termo atingiu a Europa, e na Espanha resultou no termo infografìa e, por conseguinte adotado na língua portuguesa como infografia. (De Pablos, 1999, p.18) No Brasil, o termo infografia, segundo Ary Moraes (1998, p.67), é utilizado desde a década de 80, quando das reformas gráficas de alguns dos principais jornais do país, como  O Estado de São Paulo e Zer o Hora. As reformas gráficas foram efetivadas com a vinda de profissionais espanhóis, sobretudo da Escola de Navarra, para consultorias, cursos e conferências, quando se falou sobre infografia e, a partir de então, o termo difundiu-se pelas redações brasileiras. Na Guerra do Iraque, em 2003, os leitores foram inundados de infográficos, difundidos em jornais, em revistas, na televisão e na internet. Foi uma guerra “anunciada” pelos meios de comunicação e todos os preparativos foram articulados com antecedência, inclusive a cobertura jornalística visual. Projetos gráficos de cadernos especiais sobre a guerra, iconografias geográficas e representativas dos temas relacionados ao Iraque, infográficos, foram estruturados previamente para estarem prontos para o início do conflito. Foi uma cobertura jornalística onerosa suportada somente pelas grandes corporações de comunicação que dispunham de tais recursos. Apenas dois repórteres brasileiros, da Folha de S.Paulo, o jornalista Sérgio Dávila e o

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Uma proposta metodológica para análise de infográficos

 A methodologic proposal to analise infographics 

CALOMENO, Carolina

Mestre - Unicenp

Palavras Chave: análise, metodologia, infografia

Este artigo apresenta uma proposta metodológica para análise de infográficos, fundamentada nos textos depesquisadores como Gonzalo Peltzer, Jose Manuel De Pablos, Jose Valero Sanches, Jean-Marie Floch e Groupe µ . Otrabalho objetiva comparar os diversos autores e seus trabalhos, na área de infografia e representação gráfica, no intuitode apontar uma estrutura metodológica que permita analisar um produto visual tão complexo como são os infográficos.A metodologia é exemplificada com análises de infográficos do período da Guerra do Iraque, em 2003, quando houveuma grande profusão de infográficos em nas mídias impressas (jornais e revistas), eletrônica (televisão) e digital(internet).

Keywords: analysis, methodology, infography

This article presents a methodological proposal to analyse infographics, based on the texts of Gonzalo Peltzer, Jose

 Manuel De Pablos, Jose Valero Sanches, Jean-Marie Floch e Groupe µ . The objective of this work is to compare the

author’s works in the infography area and graphical presentation to point out a methodological structure that makes it 

 possible to analize such complex visual product as infographics. The methodology is exemplified using an analysis of 

the Iraq War infographics, published in 2003, when there was a great profusion of infographics in printed media

(newspapers and magazines), electronic media (television) and digital media (Internet).

IntroduçãoA infografia viabiliza a exposição de conteúdos complexos, como foi o caso das táticas, batalhas etecnologias bélicas da Guerra do Iraque, por meio de conjuntos de elementos visuais, textuais, fotográficos e

cromáticos, representando, assim, um exemplo do que se pode chamar de linguagem sincrética. Para analisarum infográfico e seus elementos componentes, ou seja, um sistema como um todo, é necessário estudar o seumodo de produção de sentido, as interpretações, as dimensões semi-simbólicas (GREIMAS E COURTÈS,1991 p.228) do discurso em questão.

O termo infografia é um neologismo adotado entre os anos 70 e 80, para nominar um antigo gênero gráficoinformativo, característico pela mescla de mensagens verbais e visuais. No início da década de 80 ocorreuseu grande ressurgimento no jornalismo, nos Estados Unidos como information graphics ou gráficos deinformação, logo passando a ser infographics. Pouco depois, com a notoriedade estilística alcançada pelos jornais norte-americanos, por meio do USA Today, o termo atingiu a Europa, e na Espanha resultou no termoinfografìa e, por conseguinte adotado na língua portuguesa como infografia. (De Pablos, 1999, p.18)

No Brasil, o termo infografia, segundo Ary Moraes (1998, p.67), é utilizado desde a década de 80, quandodas reformas gráficas de alguns dos principais jornais do país, como O Estado de São Paulo e Zero Hora. As

reformas gráficas foram efetivadas com a vinda de profissionais espanhóis, sobretudo da Escola de Navarra,para consultorias, cursos e conferências, quando se falou sobre infografia e, a partir de então, o termodifundiu-se pelas redações brasileiras.

Na Guerra do Iraque, em 2003, os leitores foram inundados de infográficos, difundidos em jornais, emrevistas, na televisão e na internet. Foi uma guerra “anunciada” pelos meios de comunicação e todos ospreparativos foram articulados com antecedência, inclusive a cobertura jornalística visual. Projetos gráficosde cadernos especiais sobre a guerra, iconografias geográficas e representativas dos temas relacionados aoIraque, infográficos, foram estruturados previamente para estarem prontos para o início do conflito. Foi umacobertura jornalística onerosa suportada somente pelas grandes corporações de comunicação que dispunhamde tais recursos. Apenas dois repórteres brasileiros, da Folha de S.Paulo, o jornalista Sérgio Dávila e o

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fotográfico Juca Varella, em Bagdá, cobriram o conflito direto de Bagdá. Portanto, muitas das matérias queforam veiculadas no Brasil, tiveram como fonte as grandes organizações de comunicação americanas ebritânicas.

Para estabelecer bases teóricas e a metodologia para analisar os infográficos recorreu-se aos textos deGonzalo Peltzer (1991)  Jornalismo Iconográfico, Jose M. De Pablos (1999) Infoperiodismo - El Periodista

Como Creador de Infografia. José Luis Valero Sancho (2001) La Infografia: Técnicas, Análisis Y UsosPeriodísticos, Jean-Marie Floch (1993) em Semiótica marketing y comunicacion, Groupe µ (1993) emTratado del Signo Visual. Para exemplificar a metodologia proposta, foram elaboradas duas análises deinfográficos da Guerra do Iraque, veiculados no período da guerra.

Definições de infografia

As terminologias e classificações, esse de gênero gráfico informativo, encontradas na pesquisa bibliográfica,apresentam noções bem distintas, pois as reflexões e pesquisas sobre o assunto são relativamente recentes.

A seguir algumas definições concordantes, de autores e pesquisadores do assunto, sobre o termo infografia.

José Manuel de Pablos Coelho (1999, p:19), pesquisador espanhol, da área do jornalismo, apresenta umadefinição bem ampla para infografia, inclusive evocando seus registros históricos, ‘... é a apresentaçãoimpressa de um binômio imagem + texto (bI+T), seja em qual for o suporte onde esta união informativa seapresente: tela, papel, plástico, barro, pergaminho, papiro, pedra.’

José Luis Valero Sancho (2001, p:21), também pesquisador espanhol da área do jornalismo, adiciona outrosaspectos mais pragmáticos, ‘... a infografia impressa é uma contribuição informativa, realizada comelementos icônicos e tipográficos, que permite ou facilita a compreensão dos acontecimentos, ações ouatualidades ou alguns de seus aspectos mais significativos, e acompanha ou substitui o texto informativo.’

Ary Moraes (1998 p.68), designer gráfico, infografista brasileiro e o primeiro pesquisar a academicamenteinfografia, na área do design, no Brasil, comenta que ‘... a infografia corresponde ao registro gráfico dainformação, pela combinação das linguagens verbal e iconográfica, com certo predomínio desta última.’

É inegável que a infografia e a informática têm afinidades, pois o advento dos computadores, na década de80, realmente, contribuiu para agilizar o processo de construção de um infográfico, mas esses equipamentos

não são pré-requisitos essenciais para a criação de uma infografia visto que a incidência da infografia nosmeios imprensso se deu muito antes da invenção desses equipamentos.

Bases teóricas

Sendo um infográfico um representante da linguagem sincrética, para analisá-lo bem como seus elementoscomponentes, é necessário estudar o seu modo de produção de sentido, as interpretações, as dimensões semi-simbólicas (Greimas e Courtès, 1991 p.228) do texto1 semiótico plástico em questão.

A análise semiótica potencializa a estruturação, a organização e a explicação dos atos de linguagem(enunciação), do texto como discurso ou qualquer outra manifestação significante, bem como a sua produção

de sentido e o seu esquema narrativo. Como comenta Martine Joly (2001, p.28) que "(...) é possível dizeratualmente que abordar ou estudar certos fenômenos em seu aspecto semiótico é considerar seu modo deprodução se sentido, ou seja, a maneira como provocam significados, isto é, interpretações."

Os textos infográficos analisados nesse trabalho se baseiam na semiótica plástica, expressão empregada porJean-Marie Floch no livro Petites Mythologies de l’aeil et de l’esprit - Pour une sémiotique plastique (1985)

apud Sant’anna (1999).

A semiótica plástica constitui-se a partir dos estudos do dinamarquês Louis Hjelmslev sobre o sistema semi-simbólico, desenvolvido posteriormente por Algirdas Greimas. Jean-Marie Floch foi discípulo de Greimas

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que junto a outros pesquisadores europeus como Roman Jakobson, Lévi-Strauss e Roland Barthes, quefundaram o Círculo Parisiense de Semiótica em 1967.

Os sistemas semi-simbólicos segundo Greimas (2004, p.93) se definem pela conformidade que se opera entreas categorias de dois planos de linguagem e não entre os elementos isolados, como acontece nas semióticassimbólicas. Floch, inspirado em Hjalmslev, define os sistemas simbólicos e os semi-simbólicos (1993 p.106e 107):

- Los sistemas simbólicos son lenguajes en los que los dos planos – el plano de la expressión y el plano del

contenido – están em conformidad total; a cada elemento de la expressión le corresponde uno y solo uno de los

elementos del contenido, hasta el punto de que ni siquiera es rentable distinguir los dos planos, dado que tienen

la misma forma.

- Se considera que los sistemas semisimbólicos constituyen um tercer tipo, dado que dependen de outra forma de

semiosis, de outro tipo de relación entre expresión y contenido. 

Então o sistema semi-simbólico se define pela relação entre as categorias do plano de expressão e do planode conteúdo, o que permite à semiótica plástica analisar separadamente expressão e conteúdo, comporcategorias de expressão e categorias de conteúdo e estabelecer relações entre estas categorias nos doisplanos.

Para efetuar interpretações a atividade semiótica incumbe-se da descrição das condições de produção ecompreensão do sentido, investigando o sistema de relações invariáveis, que são os signos, “...o invariável,na variação.” - a forma significante, e conforme Floch (1993 p.23) “... la forma significante se reconoce

siempre por su primer objetivo: buscar el sistema de relaciones que hace que los signos puedan significar.” 

A trajetória de análise da produção de sentido do texto semiótico se estabelece das estruturas profundas àsestruturas de superfície, do mais simples ao mais complexo, do mais abstrato ao mais concreto. Nessepercurso distinguem-se três níveis de explicação dos mecanismos e regras que engendram o texto, da basepara o topo, cada qual com dois componentes, uma sintaxe e uma semântica, segundo Floch (1993 p.25): onível profundo, das estruturas fundamentais, estruturas elementares (lógico-conceptual); o nível de superfíciedas estruturas narrativas, nível sintático-semântico intermediário (antropomórfica); e o nível das estruturasdiscursivas (enunciação). Além da trajetória da produção de sentido do texto semiótico, Diana Luz Pessoa deBarros (2001, p.3) indica três pontos de concepção do discurso e sua possível análise: a relação do discurso

com a enunciação e com as condições de produção e de recepção; o discurso como lugar, ao mesmo tempo,do social e do indivíduo; e a articulação entre a narrativa e o discurso, isto é o discurso constituído sobreestruturas narrativas que o sustentam. E ainda completa com três possibilidades de análises estruturais:análise interna e imanente do texto, compreensão das estruturas objetivas e articulação do discurso com suascondições de produção

Neste trabalho, a análise do texto infográfico será baseada na articulação das estruturas narrativas internas eimanentes ao texto, sem considerar, por exemplo, no caso da mídia revista, a sua localização nas seções, nadiagramação e a sua proporção na página da revista. Somente os elementos que estão nos limites espaciais dotexto infográfico serão analisados.

Encontrar o que é essencial no discurso do texto semiótico plástico é o foco da análise e para conceber umestudo do signo visual e faz-se necessário um levantamento das categorias e figuras do plano de expressãoresponsáveis pelo suporte do conteúdo, e por conseguinte das formas significantes subjacentes. Segundo oGroupe µ (1993) em Tratado del Signo Visual, são categorias e figuras de expressão, ou formantes plásticos:a categoria relacional topológica, a categoria relacional eidética, a categoria constitucional cromática ecategoria textural.

Segundo Greimas (2004, p.88) o reconhecimento das categorias topológicas, cromáticas e eidéticas, nãofindam a sua articulação, são as bases taxionômicas capazes de tornar operatória a análise da linguagem.Ainda, o sistema visual humano e sua capacidade de perceber as dimensões de espacialidade, forma ecromatismo, analisa, integra e organiza os estímulos, em especial de inibição e extração de figuras. Então

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isso reforça que o enunciado plástico pode ser examinado numa sistemática do espaço, das formas e dascores, com suas respectivas unidades mínimas. (Groupe µ, 1993 p.82).

Categoria topológicaAs categorias topológicas referem-se a “um contrato logicamente pressuposto, estabelecido entre oenunciador-produtor e o enunciatário-leitor” (Greimas, 2004 p.86). Segundo Greimas é um ato produtor que“... instaura (...) um espaço enunciado do qual será o único comandante capaz de criar um ‘universo utópico’separado desse ato: garantindo, desse modo, ao objeto circunscrito o estatuto de ‘um todo de significação’...”Esta categoria está relacionada à combinação das coordenadas polares de posição e suas derivadas, quedelimitam regiões, orientam percursos e segmentam o conjunto e pode ser classificada, por exemplo, como:centrífuga / centrípeta, horizontal / vertical, ascendente / descente, esquerda / ascendente, direita / descendente, direita / ascendente, e esquerda / descendente.

Categoria eidéticaA categoria de expressão eidética ou formal é uma organização de formemas, cujo significante descreve-secomo mais que a soma dos seus componentes: a posição e a dimensão. (Groupe µ, 1993 p.219). Então, oformema é a unidade significativa mínima da forma e pode definir-se nos parâmetros posição e dimensão.A posição está relacionada ao fundo (delimitado pelos hábitos culturais) e ao foco, e pode ser: centro / 

margem, ascensão / lateral e alto / abaixo / esquerda / direita.Já a dimensão está relacionada a forma, ao fundo e ao foco. Poderá ser grande e/ou pequena em função daescala do observador e do tamanho do fundo, e classificada como: grande / pequeno, (para unidimensional),vasto /exíguo (para bidimensionalidade), volumoso / diminuto (para tridimensionalidade), comprido /curto(para perspectiva) e amplo / estreito (para lateralidade).

Categoria cromáticaA categoria de expressão cromática ou cor define-se pela sua posição num espaço de três dimensões, por trêscoordenadas ou cromemas (unidades significativas): a dominância, a luminância e a saturação. (Groupe µ,1993 p.227)

A dominância ou o tom é a qualidade que distingue uma cor da outra, a luminância ou o valor é o grau declaridade ou obscuridade refletida e a saturação ou a pureza corresponde ao grau de intensidade da cor.

Toda cor estrutura-se no sintagma:• enquanto unidade do plano de expressão, está situada em um ponto preciso de cada uma das três escalas:de luminância, saturação e dominância cromática.• enquanto unidade do plano de conteúdo, toma lugar individualmente em um dos vários eixos semânticosdisponíveis.• entre em uma rede de relações com as outras cores presentes no enunciado.

Categoria texturalA categoria textural compõe-se de duas formas de percepção: uma de ponto de visão integradora, pela qual atextura se dá plenamente e outra desintegradora, quando a visão consegue obter a forma em detrimento datextura.Ao considerar as relações de dimensionalidades da textura, o grão é a sua terceira dimensão e a mancha a suadistinção em duas dimensões.

Para uma classificação das texturas, os critérios exploratórios são: os elementos da microfotografia com seussub-elementos - o suporte e a matéria, e a lei da repetição com as variáveis: suporte e maneira de executar.

Exemplos de análise de infográficos

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Para efetuar uma análise de um infográfico se faz necessária uma leitura visual para estabelecer as relaçõesentre significado e significante, ou seja, na semiótica plástica, entre as categorias do plano de expressão e deconteúdo.

Ataque ao Iraque - Revista VejaO primeiro infográfico selecionado,intitulado "Ataque ao Iraque"(Fig. 01), foiveiculado na Revista Veja, n º12, página53, de 26 de março de 2003 (a primeiraedição da revista após o início dosconflitos em 21 de março), em umadiagramação diferenciada, sendo estaedição um exemplo do quanto os meios decomunicação anteciparam o seu design deeditorial e de informação para arepresentação visual do acontecimento,que já havia sido anunciado meses antes.

Esse infográfico apresenta as estratégiasde ataque da Coalizão no período de umasemana, com o recurso de um mapapolítico e de relevo da região,representado com desenhos e cores.

No canto superior esquerdo, num retângulo de fundo branco, estabelece-se uma codificação associandoelementos visuais e verbais para permitir a leitura do infográfico. A cor azul para o avanço terrestre, a corvermelha para ataques aéreos, o ícone de uma figura humana com pára-quedas, para indicar tal ofensiva euma forma estrelada, pontiaguda, para indicar as cidades bombardeadas

Conforme as bases teóricas citadas anteriormente, inicia-se a análise pelo plano de expressão e suascategorias topológicas, eidéticas, cromáticas e texturais. Ver tabela 1, a seguir.

Tabela 01 - Síntese da análise do plano de expressão e plano de conteúdo do infográfico “Ataque ao Iraque”categorias plano de expressão plano de conteúdo

topológica  acima / abaixo  percurso de leitura, visão aérea do terreno centrípeta / centrífuga  sentido de deslocamento das tropas da coalizão 

eidética  sinuoso / retilíneo  contornos do país 

cromática  contraste / continuidade  hierarquia de leitura e suporte de fundo / deserto e mar, tipos deataques 

contraste quente / frio  legibilidade contraste claro / escuro transição e estabilidade

textural  opaco / transparente definido e indefinidogrão grosso / grão fino geografia plana / montanhosa

Relacionando as categorias do plano de expressão e do plano de conteúdo, pode-se observar a reiteração euma sobreposição nos diversos formantes plásticos, num total significante.O primeiro efeito de sentido se estabelece com a representação de um plano superior, distante, aéreo,conferido pela textura de grão grosso e fino da representação do relevo (montanhas e planície) da região -semelhante às fotografias registradas em grandes altitudes; pelas indicativas vermelhas com sombrasprojetadas ao solo e pela proporção dos ícones dos aviões e mísseis, na cor preta. Trata-se de uma imagem detal dimensão e distância do observador que permite ao enunciatário, identificar o local do acontecimento, ospaíses vizinhos, os mares das cercanias e o relevo da região.O país alvo é destacado pela cores, mais intensas na sua superfície, laranja e amarelo ouro, em degradê,muito mais quentes do que seus vizinhos, tons de bege a ocre e os mares, pelas cores branca e azul clara.

Figura 01 . Infográfico da Revista Veja

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Nesse caso, esses tons podem colaborar no efeito de sentido da aridez do deserto (tons areia) e de água,quando se colocam em aproximação à cor do objeto concreto. Contudo, algumas cores, neste infográfico, nãoestão cumprindo funções materiais, nem simbólicas. O vermelho, culturalmente associado ao perigo ematerialmente associado ao sangue, o azul, associado à tranqüilidade e o preto, associado à morte, aqui,desempenham a função de cores contrastantes, para que as informações possam ser lidas.

Os boxes em preto do título do infográfico e branco da legenda, estão em contraste formal com as sinuosasrepresentações dos limites físicos dos países e ainda produzem um sentido de acima e abaixo, indicando umprimeiro, segundo e terceiro plano de leitura.

O movimento de fora para dentro se estabelece com as indicativas vermelhas e azuis com a extremidade daponta próxima a Bagdá. As indicativas vermelhas têm o seu início em degradê, pouco saturado em relação aofundo, logo se tornando cor saturada, por representarem os ataques aéreos sem um ponto definido de partidaou então fora do ângulo de visão do enunciatário. Já a indicativa azul, de cor saturada, tem o seu iníciopreciso no território do Kuwait. Depois, divide-se em duas, por meio de curvas, para direções distintas. Aindicativa azul da direita alcança as proximidades de Bagdá, fragmentada em pequenos traços, representandoo trajeto a ser percorrido por terra.

Os sons do ataque - jornal O Globo O próximo infográfico (Figura 2), composto em página dupla do jornal O Globo, publicado no dia 21 demarço, nas páginas 8 e 9, apresenta o início da guerra com o bombardeio à capital iraquiana, Bagdá. O título“Os sons do ataque” refere-se ao momento do bombardeio. Pode-se observar uma comparação do aparatobélico da coalizão com o do Iraque, em número de homens, armamentos, forças áreas e terrestres. Destacam-se em maior proporção o Caça F-117 Nighthawk e o míssel Tomahawk, dos norte-americanos.

Anteriormente, afirmou-se que houve todo um preparo dos meios de comunicação para o advento da Guerrado Iraque. Esse infográfico, de página dupla, veiculado logo na manhã posterior ao início dos ataques dacoalizão, reforça tal afirmação. Devido às suas dimensões e composição de inúmeros elementos, demandariaum tempo de preparo muito maior do que foram as poucas horas entre o acontecimento do bombardeio e aimpressão do jornal.

Conforme as bases teóricas citadas anteriormente, segue uma análise do infográfico, segundo a semióticaplástica (FLOCH, 1985). Ver Tabela 2, abaixo:

Tabela 02 - Síntese da análise do plano de expressão e plano de conteúdo do infográfico “Sons do ataque”

categorias plano de expressão plano de conteúdo

topológica acima / abaixo visão aérea do terrenocentrípeta / centrífuga sentido de deslocamento das tropas da coalizãohorizontal / vertical percurso de leituraesquerda descendente sentido do alvo, Bagdá

eidética margem / centro limite físicos do Iraque e seus circunvizinhoscomparação de poderio bélico (tanques e mísseis)

grande / pequeno número de tropasvolumoso / diminutovasto / exíguo

cromática contraste quente / friodistinção das indicativas ao fundo e aos mares, para legibilidade / deserto e mar

contraste claro / escuro indefinido / definidodegradê / monotonal indefinido / definido

textural grão fino bom acabamento

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Ao abrir a página dupla, o leitorpercebe, à sua direita, margeando apágina toda, uma coluna deinformações referentes às forçasiraquianas atuantes no conflito. Anacionalidade está indicada por meio deum elemento circular no qual seinscreve a bandeira do Iraque,cabeceando a coluna. O texto “Iraque”,alinhado na proximidade lateral inferioresquerda, sana um possível nãoreconhecimento do símbolo nacionaliraquiano.

Lateralmente oposta, encontra-se acoluna de informações referentes àsforças da coalizão atuantes no conflito

e, da mesma forma, se dá oreconhecimento da nacionalidade, EUAe Grã-Bretanha.

Logo se estabelece a relação comparativa entre as duas colunas e os dados distinguem o poderio bélico dasduas nações. A figura humana e muitos equipamentos estão representados formalmente com o mínimo deinformações visuais, em silhueta, em alto contraste, com a cor preta sobre fundo branco. Esses íconesapresentam uma idealização de soldado, de tanque, de porta-aviões, de navios, de bombas, etc, por issoservem para representar tanto um grupo como o outro; contudo a sua incidência é acompanhada peloscorrespondentes volumes numéricos de cada um dos lados envolvidos no conflito.

Os limites territoriais do Iraque estão representados, esquematicamente, com linhas retilíneas reduzindo aomínimo os detalhes geográficos das fronteiras. No mapa, Iraque distingue-se dos seus vizinhos por uma

espessa linha que lhe confere uma elevação simbólica, visto que não corresponde às características geofísicasda região, no intuito de destacá-lo. Isso pode ter sido configurado devido à necessidade de singularizar o paísdos demais, numa aérea gráfica onde há um grau de dominância cromática de muita proximidade entre aspartes. Isso não ocorre na seleção cromática para as áreas de mar – a cor azul, em total contraste ao laranjaclaro e ao ocre (área do Iraque). Azul e ocre estão exercendo o efeito de sentido de água e deserto porassociação material e distinguem-se prontamente ao olhar do leitor.

As ofensivas aéreas aparecem com as indicativas vermelhas e extremidades pontiagudas próximas a Bagdá,estabelecendo o movimento da margem para o centro, ou seja, a representação do ataque da coalizão àcapital iraquiana. Da mesma forma que em outros infográficos, as indicativas vermelhas têm o seu início emdegradê, pouco saturado, possivelmente por representarem os ataques aéreos sem um ponto definido departida ou, então, fora do ângulo de visão do enunciatário.Uma única forma estrelada no foco das indicativas vermelhas, de cor alaranjada, representa as explosões da

noite do bombardeio. Essa forma possui um volume formal central maior e as extremidades, menores,pontiagudas, produzindo um efeito de sentido de movimento centrífugo, similar aos deslocamentosprovocados por uma explosão.

O olhar do leitor é atraído pela representação do caça F-117A, de cor predominantemente cinza escuro, deforma pontiaguda, posicionado de forma a indicar o “alvo”, a capital iraquiana. Por proximidade, estabelece-se um percurso de leitura, pelo título “OS SONS DO ATAQUE”, em uma tipografia sem serifa, negrito,condensada, inserida em dois retângulos (box): um vermelho e outro preto. Uma grande capitular “A”, naseqüência chama a atenção do leitor ao texto. Mas o leitor pode optar em seguir o grande mapa queapresenta, visualmente, os acontecimentos da noite anterior. As colunas de informações complementares dosaparatos bélicos dos grupos envolvidos no conflito margeiam e emolduram o mapa. Três dos maiores

Figura 02 . Infográfico do Jornal O Globo

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elementos gráficos dessas colunas direcionam-se da margem ao centro, reforçando o percurso de leitura e oobjeto principal desse complexo infográfico de duas páginas. 

Conclusão

O presente trabalho apresente uma proposta metodológica de análise de infográficos. Primeiramenteapresenta definições de infografia, pois sendo um neologismo, necessita desse tipo abordagem para localizare consolidar o uso específico dessa nomenclatura. A seguir apresenta as bases teóricas, fundamentada nostextos de pesquisadores espanhóis, como Gonzalo Peltzer, Jose Manuel De Pablos, Jose Valero Sanches, dofrancês Jean-Marie Floch e do grupo de pesquisa Groupe µ.A partir das bases teóricas exemplifica-se a metodologia em duas análises de infográficos da Guerra doIraque, veiculados na Revista Veja e no Jornal O Globo. Observa-se nessas análises que a metodologiaproposta permite analisar a estrutura interna e imanente do texto infográfico, compreender as estruturasobjetivas e articulação do discurso visual.Como continuidade, esta proposta metodológica permite analisar outros tipos de infográficos, como osdigitais e eletrônicos, os quais podem ser alvo de futuras pesquisas, pois a infografia tem ainda poucostrabalhos desenvolvidos na área do design.

Nota1 Texto, segundo Greimas (1979, p 460-61) ou textualização são entendidos como a junção do plano de conteúdo com oplano de expressão. Ainda, segundo Winfried Nöth (1999, p.54) “O texto é a totalidade na qual se manifestam asestruturas do sistema. As estruturas dos sistemas são deduzidas do texto, com o alvo de determinar classes de

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Carolina Calomeno [email protected]