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UMA PROPOSTA PARA AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO DOS
ESTUDANTES EM ATIVIDADES ENVOLVENDO O CONCEITO DE
TRIÂNGULOS
Caio Sérgio Oliveira Xavier1
GD8 – Avaliação em Educação Matemática
RESUMO
Esse artigo refere-se a uma dissertação vinculada ao Programa de Pós Graduação em Educação Matemática
(PPGEM/UESC) cujo objetivo principal foi desenvolver uma proposta com base na Teoria dos Conjuntos
Fuzzy (TCF) para a avaliação do desempenho dos estudantes em atividades envolvendo área de triângulos; e
os objetivos específicos: investigar os métodos de avaliação utilizados pelos professores no contexto escolar
pesquisado e elaborar uma sequência de ensino envolvendo área de triângulos fundamentada na Teoria dos
Registros de Representação Semiótica (TRRS). A TCF permite a investigação de situações que envolvem a
subjetividade e imprecisão, situação que ocorre na avaliação por meio de variáveis linguísticas. A TRRS
consiste nos diversos tipos de representações de um objeto matemático para o processo de ensino e
aprendizagem dos conceitos. Metodologicamente, a pesquisa foi desenvolvida em duas fases. Na primeira fase,
os sujeitos da pesquisa foram quatro professores de matemática e uma coordenadora pedagógica de uma
unidade escolar do interior da Bahia. Como instrumento para a coleta de dados utilizamos: entrevista
estruturada e observação não participante. Ao analisar tais dados observamos que os aspectos cognitivos,
afetivos e psicomotores são os critérios de avaliação mais utilizados. Na segunda fase uma proposta avaliativa
com base na Teoria Fuzzy e uma sequência de ensino visando a dedução da fórmula para o cálculo da área de
triângulos. Dessa forma, percebemos que a TCF permitiu elaborar uma proposta permeando as diferentes
concepções dos professores. Já a sequência de ensino possibilitou analisar e interpretar as diversas
representações do conceito de área de triângulos.
.
Palavras chave: Avaliação; Triângulos; Teoria dos Conjuntos Fuzzy; Teoria dos Registros de Representação
Semiótica.
CONTEXTUALIZANDO
Ao nos remetermos ao processo educativo em nosso país, no período anterior a 1990, a
preocupação do Governo Federal estava na ampliação de vagas no Ensino Fundamental,
dado o interesse em expandir o número de acessos de crianças e adolescentes a rede pública
de ensino. Com o desenvolvimento de ações, como a criação de unidades escolares,
intensificou-se no país a investigação sobre a qualidade do ensino e aprendizagem, adotando
1 Mestre em Educação Matemática pelo Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática da
Universidade Estadual de Santa Cruz- UESC, e-mail: [email protected]. Orientador: Prof. Dr.
Eduardo Silva Palmeira, e-mail: [email protected]
assim o uso de avaliações como um mecanismo investigativo do desempenho e das
deficiências na aprendizagem dos estudantes.
Segundo Borges (2011) a preocupação passou da criação das políticas para a expansão da
oferta e operação da rede, para uma política de qualidade, analisadas por meio de testes
padronizados em larga escala. Nesse contexto ressaltado, foram estabelecidas avaliações
externas nas três esferas do ensino: Fundamental, Médio e Superior; tais como, SAEB,
ENEM, ENADE, Provinha Brasil, ambas estabelecidas pelo Governo Federal.
Esses modelos de avaliação, em sua maioria, estão centrados na interpretação e resolução de
problemas, utilizando a Teoria de Respostas ao Item (TRI) como uma maneira de avaliar as
habilidades e competências do sujeito, analisando cada item presente no teste ou exame, sem
a relevância do escore total, ou seja, o desempenho final não dependerá exclusivamente do
teste e sim de cada item que o integra. Todavia, esses procedimentos para análise das
respostas divergem do modelo de avaliação adotado pelos professores do nível básico, que
em sua grande maioria, fazem o uso do mesmo instrumento para avaliar o desempenho dos
estudantes, ponderando o número de acertos nas questões. Diferentemente, na TRI os
resultados são fornecidos por grau de proficiência dos itens.
Quanto a avaliação adotada pelo professor em sala de aula, a Lei de Diretrizes e Bases nº
9.394/96, recomenda no Artigo nº 24 (Inciso V, Alínea a) que a avaliação do desempenho
do estudante deve ser contínua e cumulativa, prevalecendo os aspectos qualitativos sobre os
quantitativos, assim como, os resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas
finais. Nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais, (BRASIL, 1998) descrevem a
avaliação como um componente do processo de ensino e aprendizagem, considerando
aspectos relativos ao desempenho dos estudantes, tais como: aquisição de conceitos, domínio
de procedimentos e desenvolvimento de atitudes.
Por meio dessas indicações, as unidades escolares têm a possibilidade de definir, através de
seu contexto, o processo avaliativo em dois campos, a saber: qualitativo e/ou quantitativo.
O primeiro campo é composto por um conjunto de pontos correspondentes a assiduidade,
comportamento, auto avaliação, participação nas tarefas, dentre outros. O segundo campo,
quantitativo, abrange os aspectos relativos a compreensão dos conceitos (cognitivo) e deste
modo, caracteriza-se por testes, provas, listas de exercícios e trabalhos individuais e
coletivos, cujo os resultados são armazenados pelos professores em diários de classe e ao
final do período letivo, levados para o conselho de classe2.
Todavia, Buriasco e Soares (2012) afirmam o que se faz frequentemente nas escolas
distancia-se de qualquer concepção de avaliação, ao verificar superficialmente o rendimento
escolar dos alunos apenas para conferir uma nota. Ainda relativo à prática dos professores,
Hoffmann (2009), menciona o fato do professor avaliar centralizado na nota, como uma
consequência de suas histórias de vida e das influências vivenciadas enquanto estudante,
levando a resumir o processo avaliativo a um valor numérico ou conceito.
Relativo a avaliação dos estudantes, restringindo nosso olhar para os aspectos cognitivos,
especificamente para a Geometria, Cardoso (2012) descreve que os resultados das avaliações
em larga escala, associada a matrizes de referência utilizadas, comprovam que os estudantes
possuem dificuldades em resolver problemas que envolvem conceitos geométricos. Para
Almouloud (2003) uma dessas dificuldades está no fato dos conceitos de Geometria
requererem a coordenação de diferentes registros de representação, o que pode ser um
empecilho para a interpretação do problema a ser resolvido e, consequentemente, para sua
resolução.
Com esses pontos ressaltados, buscamos na referida dissertação responder as seguintes
questões de pesquisa: Quais são as contribuições de uma proposta com base na Teoria Fuzzy
para a avaliação do desempenho dos estudantes em atividades envolvendo área de
triângulos? Quais são as contribuições de uma sequência de ensino envolvendo área de
triângulos, fundamentada na Teoria dos Registros de Representação, para avaliação do
aspecto cognitivo? Assim, temos como objetivo geral desenvolver uma proposta com base
na Teoria Fuzzy para a avaliação do desempenho dos estudantes em atividades envolvendo
área de triângulos. Os objetivos específicos foram: investigar os métodos de avaliação
utilizados pelos professores no contexto escolar pesquisado; elaborar uma Sequência de
Ensino envolvendo área de triângulos fundamentada na Teoria dos Registros de
Representação Semiótica visando avaliar o aspecto cognitivo.
Para alcançar esses objetivos e responder a nossa questão de pesquisa, apresentamos a seguir,
o embasamento teórico que permitiu o desenvolvimento desse estudo.
2 Entendemos como conselho de classe a reunião realizada ao final do ano letivo para discutir a situação dos
estudantes que não conseguiram a pontuação mínima para avançar ao ano seguinte.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Nessa investigação, nos baseamos na Teoria dos Registros das Representações Semióticas
(TRRS) e Teoria dos Conjuntos Fuzzy (TCF), que interligadas permitiram o
desenvolvimento desses estudos. As discutiremos de maneira sucinta, nas subseções abaixo.
Teoria dos Registros das Representações Semióticas (TRRS)
A Teoria de Registro de Representação Semiótica (TRRS) foi desenvolvida por Duval
(1995). Nessa teoria, Duval acredita que os objetos matemáticos não são acessíveis, se não
for através de suas representações, tratando-se de uma abordagem cognitiva, relacionada à
obtenção de conhecimentos, que permite ao sujeito compreender um determinado conceito
matemático, representado utilizando alguns registros semióticos como a representação
algébrica, representação gráfica, representação analítica.
Duval (2012) descreve as representações semióticas como sendo “produções constituídas
pelo emprego de signos pertencentes a um sistema de representações que tem inconvenientes
próprios de significação e de funcionamento” (DUVAL, 2012, p.269). Logo, o gráfico de
uma função afim, a fórmula algébrica para o cálculo da área de um retângulo, a representação
geométrica de um triângulo equilátero são alguns exemplos de representações na qual os
sistemas semióticos são distintos.
Nessa abordagem, Duval distingue três tipos de transformações entre os registros semióticos:
formação, tratamento e conversão. A primeira refere-se ao desenvolvimento de uma
representação semiótica, com base na aplicação de regras de conformidade e na seleção de
algumas características do conteúdo envolvido. Temos como exemplo: escrever uma
fórmula, desenhar uma figura geométrica, elaborar um esquema.
O segundo tipo de transformação (tratamento) trata-se de uma mudança interna ao registro.
Por exemplo, o cálculo de integrais é uma forma de tratamento próprio das escritas
simbólicas. A conversão é caracterizada pela alteração na representação de um registro, tal
como, para representar a área delimitada por um triângulo, podemos representar essa região
graficamente ou representar analiticamente, com intuito de facilitar a realização ou
compreensão.
Para o aluno compreender de forma significativa um conceito matemático, especificamente
a figura geométrica triângulo, é importante que ele observe e identifique a diferença entre os
objetos matemáticos e suas representações. Além disso, é fundamental que o sujeito possa
reconhecer as diversas representações de um mesmo objeto matemático, ou seja, coordene
os registros de representação. Duval (2003) acredita que para melhor compreensão dos
conhecimentos matemáticos adquiridos, é preciso que o aluno use pelo menos dois registros
de representações.
Nesse interim, esse autor salienta que a dificuldades dos estudantes para a apreensão dos
conceitos matemáticos está atrelada a conversão ou mobilização de dois registros de
representação, afirmando que “a compreensão em matemática implica a capacidade de
mudar de registro”. (DUVAL, 2003, p.21). Dessa forma, a TRRS pode auxiliar no processo
de ensino e aprendizagem dos conceitos de matemática, já que “uma pluralidade de registros
de representação de um mesmo objeto e a articulação desses diferentes registros é condição
para a compreensão em matemática” (DUVAL, 2003, p.31).
Teoria dos Conjuntos Fuzzy (TCF)
Desenvolvida por Lofti A. Zadeh (1965), a TCF se caracteriza pela possibilidade de
investigar e tratar matematicamente informações carregadas de subjetividade e imprecisão,
assim como, informações expressas por variáveis linguísticas. Segundo Corcoll-Spina
(2010) o termo Fuzzy tem origem inglesa e significa incerto, impreciso ou nebuloso, tais
como são as variáveis linguísticas.
Goncalves (2007) cita que a função essencial das variáveis linguísticas estar em fornecer um
modo sistemático de caracterizar fenômenos que possuem um grau de complexidade ou são
mal definidos, por carregarem implicitamente uma imprecisão ou incerteza. Essas variáveis
podem ser descritas por meio de conjuntos fuzzy e representados por funções de pertinência.
Uma função pertinência possibilita associar a cada elemento do conjunto um valor no
intervalo [0,1] equivalente ao grau de pertinência desse elemento ao conjunto definido,
evidenciando o nível de compatibilidade do elemento ao conceito a ser representado pelo
conjunto. Como exemplo que remete a essa situação, temos hipoteticamente o conjunto dos
alunos excelentes. Não há uma pertinência que defina quais são os elementos desse conjunto,
pois, o que é um aluno ser excelente? Qual deve ser o rendimento para o aluno ser
considerado excelente? O que poderá vir a ser um aluno excelente para um professor, pode
não ser para um outro. Logo, em investigações de casos como esses, que se estruturou e
definiu o conceito de função de pertinência.
Para Faria et. al (2008) a teoria dos conjuntos fuzzy é interessante ao possibilitar expressar
numericamente valores de variáveis imprecisas, tais como, bom, ótimo, ruim e excelente.
Essa relação é possível através da elaboração de um Sistema Baseado em Regras Fuzzy, que
Corcoll- Spina (2010) descreve como um sistema que permite a simulação de ações e
decisões humanas de caráter mais formal. Esse sistema de inferência está organizado em
quatro etapas: fuzzificação, base de regras, a inferência e a defuzzificação.
Ao escolher as variáveis de entrada no sistema (por exemplo: ruim, regular, bom e ótimo),
a fuzzificação consiste na modelagem matemática dessas variáveis; estabelecendo os
intervalos e as funções de pertinência equivalente a essas variáveis. Assim, podem ser
definidas funções de pertinência para esses termos, tal como se considerarmos a variável
Ruim definida no intervalo [0, 3].
Ruim (R (x)): {
1, 𝑠𝑒 𝑥 = 0−𝑥
3+ 1 , 𝑠𝑒 0 ≤ 𝑥 ≤ 3
0, 𝑠𝑒 𝑥 ≥ 3
A etapa referente a base de regras está atrelada a criação das proposições relacionadas aos
operadores lógicos se e então, visando mapear todas as possíveis situações que poderão
acontecer no sistema proposto. No caso da avaliação do desempenho dos estudantes
utilizando as variáveis de entrada citadas anteriormente, podemos citar como exemplo: Se o
aluno é assíduo, realiza pouco as atividades e tem um bom rendimento na prova então o
aluno é regular”.
Na terceira etapa, denominada inferência, são tratadas matematicamente cada proposição
Fuzzy, por meio das técnicas da lógica subjacente. Nessa etapa, são obtidas as conclusões
(resultados) com base nas regras estabelecidas, auxiliando no delineamento final do conceito
relativo a situação investigada. Logo, ao inserir no sistema de inferência, as notas
correspondentes a cada uma das variáveis de entrada, o próprio sistema por meio dos
conjuntos das bases de regras, seleciona quais as regras que serão ativadas e qual o resultado
final do desempenho do estudante.
A última etapa da elaboração de um sistema Fuzzy consiste na defuzzificação, nos quais os
resultados encontrados através do sistema de inferência são traduzidos para um número real.
Por exemplo, o estudante na situação hipotética: Se o aluno é pouco assíduo, realiza pouco
as atividades e tem um rendimento ruim na prova então o aluno é ruim”. Nesse caso o
desempenho do estudante foi ruim, com isso, aplicando o método de defuzzificação podemos
ter uma nota correspondente a essa variável, por exemplo, que o desempenho sem valores
numéricos seja de 3.2.
Nesse sentido, a TCF surge como ferramenta potencial para diminuir ou suavizar as
discrepâncias no ajustamento das notas qualitativas no processo avaliativo, visto que essa
teoria permite fazer uma interpretação muito adequada de variáveis que contenham
imprecisão, vagueza, falta de informação, dualidades; além de permitir a associação entre
variáveis qualitativas e quantitativas.
Após apresentar de forma resumida as teorias que fundamentaram a pesquisa aqui descrita,
a seção a seguir explicita os procedimentos metodológicos que nortearam a coleta e análise
dos dados.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Essa investigação possuiu uma abordagem qualitativa, que Ludke e André (1986) descrevem
como “um estudo ao ser realizado numa situação natural, com a coleta de dados
descritivamente, é flexível e tem o foco na realidade de maneira complexa e contextualizada”
(LUDKE; ANDRÉ, 1986, p.18).
Dado o nosso objetivo principal de desenvolver uma proposta para avaliar o desempenho
dos estudantes, optamos por realizar nossa investigação em duas fases, a saber: a diagnóstica
e a construção da proposta. Na primeira fase, buscamos compreender quais os critérios
adotados pelos professores de uma escola municipal do Interior do Estado da Bahia, para
avaliar os estudantes. A escolha da rede municipal de ensino, se deu pelo fato dos resultados
avaliativos serem expressos por variáveis linguísticas, por exemplo, regular, bom e ótimo.
Assim, adotamos como sujeitos da pesquisa quatro professores que lecionam matemática e
a coordenadora pedagógica responsável por essa área. A opção por esses profissionais se
deu pelo fato deles estarem lotados na rede municipal de ensino considerado como ambiente
de investigação e possuir o interesse em participar da pesquisa.
Para coletar as informações necessárias nessa fase, realizamos uma entrevista estruturada
composta por treze questões (subdivididas em três grupos) dado o interesse em conhecer os
critérios adotados para avaliar o desempenho dos estudantes, suas concepções em relação ao
processo avaliativo, os principais instrumentos utilizados. Para visualizar na prática as ações
utilizadas pelos professores para avaliar o desempenho dos estudantes foi realizada uma
observação não participante das aulas de matemática de uma turma do 9º ano do Ensino
Fundamental, durante o período de três meses.
As coletas desses dados foram importantes para o desenvolvimento da segunda fase da
pesquisa que consistiu na elaboração de uma proposta avaliativa pautada em variáveis
linguísticas. Além dessa proposta, estabelecemos uma sequência de ensino, composta de
cinco etapas, com o intuito de propor ao estudante a dedução do conceito de área de
triângulos. Vale salientar que a elaboração da proposta e a da sequência de ensino na
pesquisa descrita não foram aplicadas durante essa investigação.
Partindo disso, apresentamos na seção a seguir os principais resultados encontrados com o
desenvolvimento desses procedimentos metodológicos.
RESULTADOS ALCANÇADOS
Na primeira fase, ao realizarmos uma entrevista estruturada com os professores de
matemática e com a coordenadora pedagógica de matemática buscou-se compreender as
práticas utilizadas para avaliar o desempenho dos estudantes, sendo assim, elaboramos treze
questões que divididas em três grupos.
As questões do primeiro grupo possibilitaram a construção do perfil desses profissionais, no
qual percebemos que dentre os professores entrevistados, três são formados em Licenciatura
em Matemática e um em Ciências Econômicas, já a coordenadora pedagógica possui a
formação em Pedagogia. Outro fator que chamou a atenção é o fato desses profissionais
atuarem a um tempo significativo no contexto investigado (uma média de 15 anos
aproximadamente).
Na questão do segundo grupo “Em sua concepção, o que é avaliação da aprendizagem? ”
buscamos identificar a concepção dos professores sobre o que é avaliar. De forma geral,
analisamos que para esses profissionais a avaliação trata-se de um processo contínuo e
dinâmico, visando analisar se os objetivos específicos propostos foram alcançados, o que
possibilita analisar o desempenho dos estudantes e ao professor repensar suas práticas.
As questões “Quais critérios são utilizados em sua prática docente para a avaliação da
aprendizagem dos estudantes? ”, “O uso de provas e testes faz parte de sua metodologia de
avaliação? ”, “Como são atribuídas as notas ou conceitos aos estudantes? Como essas
avaliações são relatadas? Há um programa específico para essa ação? “Quais tipos de
avaliação da aprendizagem estão inseridos em sua prática? ” e “Existe um modelo de
avaliação que auxilie em sua prática? ” juntas compõem as questões do terceiro grupo,
traziam como objetivo identificar as práticas avaliativas e os principais critérios presentes
em suas ações avaliativas.
Analisando as respostas fornecidas, observa-se que a avaliação do desempenho dos
estudantes ocorre de forma contínua e processual, considerando a fatores como: participação
oral e escrita, atividades em classe, trabalhos em grupos, mudanças e atitudes, assiduidade e
aquisição do conhecimento. Vale ressaltar que o uso de provas e testes também faz parte dos
instrumentos avaliativos adotados pelos professores.
Nesse sentido, os aspectos relacionados a avaliação do desempenho apresentar
características de um sistema de classificação dividido em três domínios que vão ao encontro
da Taxinomia de Bloom: o cognitivo, o afetivo e o psicomotor. Em relação a atribuição das
notas ou conceitos aos estudantes, identificamos que os conceitos atribuídos ao desempenho
dos estudantes utilizam as variáveis: Sim, Não, Ainda não e Não Avaliado, no qual, a
variável sim está relacionada ao estudante conseguir alcançar o objetivo de forma clara; não,
se o estudante não conseguiu alcançar o objetivo esperado, apresentando dificuldades; ainda
não, se ainda não alcançou o que é proposto no objetivo , e por fim, não avaliado, quando o
desempenho do estudante com base nesse objetivo ainda não foi observado pelo professor.
Durante a observação não participante, analisamos no terceiro trimestre as práticas
avaliativas de um dos professores de matemática que participaram da entrevista. Nesse
período, foi possível observar que esse professor avaliava o desempenho dos estudantes de
forma contínua, ponderando as atividades propostas em sala, o comportamento e assiduidade
dos estudantes, a participação durante a exposição dos conceitos.
As informações coletadas na primeira fase da pesquisa (entrevista semiestruturada e
observação não participante) foram importantes para o desenvolvimento da segunda fase da
pesquisa, que consistiu na elaboração da proposta de avaliação fundamentada na TCF.
Nesse viés, utilizamos o software Matlab R2013a, especificamente, o Toolbox Fuzzy já que
permite o processamento dos dados por meio de sistemas de inferência. Nessa ferramenta,
desenvolvemos as quatro etapas referentes ao sistema de inferência: fuzzificação, elaboração
da base de regras, sistema de inferência e a defuzzificação. Na primeira etapa, foram
considerados os conhecimentos cognitivos, a participação dos estudantes nas atividades e a
assiduidade o comportamento. Em relação as variáveis linguísticas, adotou-se os termos
ruim, regular, bom e ótimo para a avaliação do desempenho dos estudantes, relacionadas no
intervalo entre [0, 10]. Dessa forma, tem-se os seguintes intervalos: ruim [0, 4]; regular [2.5;
6]; bom [5, 8] e ótimo [7, 10].
Na segunda etapa, as bases de regras foram elaboradas de forma condizente com a avaliação
no ambiente investigado e utilizando a árvore de possibilidades para montar os possíveis
casos que poderiam acontecer nesse contexto. Assim, foram estabelecidas 64 regras que
contemplasse o maior número de situações. Dentre essas, temos “se o cognitivo é regular e
a participação em atividades são bons e a assiduidade comportamento são ótimas então o
resultado final é bom”. Uma vantagem dessa proposta ao estabelecer bases de regras está no
fato desses termos permitirem ao professor ter opiniões distintas quanto ao desempenho dos
estudantes, mas que serão balizadas de formas indistintas pelo sistema de inferência.
Na terceira etapa, adotamos o modelo de inferência de Mandani que permite analisar todas
as regras que implementadas no sistema que combinadas auxiliam na tomada de decisão,
nesse caso, o conceito final relativo ao desempenho dos estudantes. Logo, ao inserir as notas
das variáveis de entrada, o próprio sistema de inferência ativa aos conjuntos de bases de
regras, identifica quais regras são ativadas e por fim, qual o resultado final do desempenho
do estudante. Já quarta e última etapa, relativa a defuzzificação, os resultados que são
fornecidos pelo sistema de inferência são traduzidos para um número real.
De forma geral, descrevemos como um ponto positivo na utilização de uma proposta
avaliativa com base na Teoria dos Conjuntos Fuzzy está na padronização dessa ação,
evitando a disparidades nos conceitos, ao tratar-se de avaliações pautadas em variáveis
linguísticas.
Para a avaliação do aspecto cognitivo, foi estabelecida uma Sequência de Ensino para a
dedução da fórmula da área de triângulos com base na TRRS, ponderando as diversas
representações desse objeto matemático (representação natural, representação natural,
representação numérica, representação algébrica e representação figural) visando
proporcionar aos estudantes a possibilidade de associar os diferentes tipos de representação,
compreender as similaridades e diferenças entre cada registro.
Sendo assim, a desenvolvemos em cinco etapas: A primeira etapa focalizando o contexto
histórico das primeiras técnicas de medição; a segunda etapa propõe observar a planta de um
apartamento, dada a discussão das técnicas atuais para a medição de áreas; a terceira etapa
são abordadas o cálculo de área de figuras planas e quarta etapa focalizando o conceito da
área de quadrados e retângulos, ambas trazendo o uso de malhas quadriculadas, por fim, a
quinta e última etapa propõe a formalização por meio do algoritmo da fórmula para a área
de triângulos.
Todas as etapas foram organizadas em quatro momentos, sendo apresentado no primeiro
momento a leitura e observação da situação motivadora; no segundo momento a discussão
coletiva entre os estudantes; no terceiro momento a resolução de exercícios aplicando as
técnicas discutidas na etapa e no quarto e último momento sugerimos que o professor
socialize e formalize os conceitos abordados no momento.
Nesse aspecto, a aplicação dessa SE pode ser uma prática importante para o desenvolvimento
do processo ensino-aprendizagem-avaliação no sentido do professor não fornecer
imediatamente o conceito ao estudante e sim proporcionar a possibilidade do próprio
estudante formalizar ao conceito abordado, além disso, possibilita a sala de aula ser um
espaço de reflexão, construção e socialização de ideias e conhecimentos. Em relação ao uso
dos diversos registros para a compreensão de conceitos matemáticos, fazemos a alusão a fala
de Duval quando menciona que para a realização de uma atividade matemática será original
se requisitar que o estudante realize a conversão ou tratamento de pelo menos dois registros
de representação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao desenvolver essa investigação, observamos como contribuições da elaboração de uma
proposta avaliativa com base na Teoria Fuzzy o fato do professor ter a possibilidade de
utilizar distintos critérios e instrumentos para avaliar o desempenho dos estudantes, não
restringindo apenas ao aspecto cognitivo. Além disso, o fato do professor poder determinar
o desempenho dos estudantes por meio de termos linguísticos poderá diminuir a
subjetividade existente no contexto investigado.
Quanto as contribuições da elaboração da Sequência de Ensino pautada na Teoria dos
Registros de Representação Semiótica, ressaltamos o fato da avaliação não utilizar provas e
testes como únicos instrumentos avaliativos; a possibilidade do estudante construir seu
próprio conceito coordenando os diversos registros de representação para uma melhor
compreensão do objeto matemático em questão (conceito de área de triângulos).
Para melhor percepção das contribuições da proposta avaliativa e da sequência de ensino, a
aplicação desses instrumentos no contexto investigado permitirá uma melhor compreensão
das possíveis contribuições e limitações.
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