UMA REFLEXÃO SOBRE A TAREFA DE CASA E SUA … · Cumpre lembrar que muitos professores não...
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UMA REFLEXÃO SOBRE A TAREFA DE CASA E SUA IMPORTÂNCIA NA
APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA NO 6º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL
Jairo Luiz Hoffmann1 Ms. Susimeire Vivien Rosotti de Andrade2
Resumo
O presente artigo reúne a fundamentação teórica bem como o desenvolvimento de todo um trabalho do PDE 2012 relativo às tarefas de casa e a importância das mesmas na aprendizagem da Matemática, em turmas do 6º ano do Ensino Fundamental do turno matutino do Colégio Estadual João Arnaldo Ritt, localizado no Distrito de Vila Nova, Município de Toledo - PR. A escolha do tema levou em consideração um problema desta comunidade escolar, no sentido da necessidade da tarefa de casa contribuir, de fato, para a aprendizagem e na tentativa de superar conflitos entre alunos, pais e professores, resgatando, assim, a real contribuição deste importante instrumento de aprendizagem. Além disto, esta proposta vem deixar claro o papel de cada segmento neste processo, o tipo de atividade indicada para o complemento dos estudos no contraturno escolar e a motivação necessária para a sua realização e vem descrever cada etapa da efetivação do Projeto e as considerações acerca deste.
Palavras-Chave. Tarefa de casa; Aprendizagem; Motivação; Família; Escola; Professor. 1. Introdução
A tarefa de casa faz parte do dia a dia de alunos, professores e pais de
alunos e tem sido alvo de muitas críticas nos dias atuais. Uma parcela significativa
dos alunos não tem realizado as tarefas, outros simplesmente as copiam dos
colegas. Para os pais, é grande a quantidade de tarefas advindas da escola
diariamente e eles, em sua maioria, não têm como auxiliar o aluno na realização das
mesmas. Na visão dos alunos as tarefas de casa são demoradas e algumas vezes
difíceis de serem compreendidas. Numa perspectiva pedagógica muitas vezes as
tarefas consistem em exercícios repetitivos, extensos e raramente motivantes e
assim se tornam uma atividade automática, impensada, exaustiva, repetitiva.
1Professor da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná
2Orientadora PDE da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus de Foz do Iguaçu
Cumpre lembrar que muitos professores não refletem sobre a seleção das
atividades, não levam em conta o grau de amadurecimento de seus alunos, bem
como, as suas diferenças individuais. Nem sempre realizam um processo de
correção e/ou valorização da tarefa realizada em casa, o que faz com que a mesma
perca seu sentido de ser, caracterizando se em mera repetição, fruto de uma escola
tradicional 3 , que não desafia, não desenvolve e não acrescenta em nada na
construção do conhecimento de seus alunos. As escolas, bem como suas equipes
pedagógicas nem sempre oferecem subsídios/encaminhamentos que poderiam
auxiliar na exploração desta ferramenta de aprendizagem ao seu grupo de
professores. As famílias também, na maioria das vezes, não tem clareza de seu
papel nas tarefas de casa.
Segundo Nogueira (2002), a prática tradicional da tarefa de casa tem
sobrevivido às duras críticas e ainda há os que acreditam na sua importância na
aprendizagem de qualquer disciplina, não sendo diferente na disciplina que leciono:
a Matemática.
Pouco tem se encontrado ainda nas bibliografias existentes sobre a tarefa de
casa, motivo este que nos levou a aprofundar os estudos sobre o assunto e realizar
uma análise sobre o seu uso correto, para que a mesma possa contribuir para a
aprendizagem. A partir do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE foi
oportunizado estudar sobre o tema e contribuir com a comunidade escolar
realizando a proposta de intervenção no Colégio Estadual João Arnaldo Ritt,
localizado do Distrito de Vila Nova, Município de Toledo, Estado do Paraná. Onde o
objetivo principal é de que a tarefa de casa venha cumprir com as suas finalidades,
reforçando a aprendizagem e a criatividade do aluno, complementando uma carga
horária de estudos e aproximando a família e a escola, trazendo informações ao
docente sobre os conteúdos que já foram assimilados e o que deverá ser retomado.
Neste artigo iremos socializar as contribuições deste Projeto do PDE 2012,
bem como as dificuldades encontradas a partir do projeto de intervenção
pedagógica, da produção didático pedagógica, a implementação do projeto na
Escola e as contribuições decorrentes das discussões do Grupo de Trabalho
Docente - GTR 2012. Como estratégias de ação trabalhamos com professores e
equipe pedagógica através de reuniões e grupos de estudos, coleta e análise de
3 Segundo Saviani (1984, p. 50) [...] o ensino tradicional, se centra no professor, nos conteúdos e no aspecto
lógico, [...] se centra no professor, o adulto, que domina os conteúdos.
dados, com a família através de reuniões e estabelecimento de parcerias, e com
alunos foi realizado um levantamento de informações através de questionários.
2. Primeiras concepções a cerca da tarefa de casa: da justificativa à fundamentação teórica
Ao nos depararmos com o tema em estudo percebemos ao longo do tempo
que o mesmo não tem merecido atenção na prática docente, nem nos
planejamentos escolares, nas reuniões com professores e familiares dos alunos,
muito menos é apresentado nas propostas pedagógicas, nos projetos políticos
pedagógicos de nossas escolas. Autores como Nogueira (2002), Jesus (2011) e
Stein; Smith (2008) tem se destacado recentemente. Desta forma, surgem,
pesquisas, que vem trazendo valorosas contribuições que nos permitem refletir a
prática da tarefa de casa nos nossos espaços escolares.
Segundo Nogueira (2002), a indicação de realização de tarefas escolares
para casa tem muitos objetivos, seja para reforçar os conteúdos, ampliar o tempo de
estudo dos alunos, uma vez que o tempo que permanece na escola é considerado
insuficiente, seja para despertar a curiosidade, criatividade, responsabilidade no
aluno, ou como forma de integração entre a família e escola. É uma prática muito
difundida no Brasil e também em diversos países de primeiro mundo, entre os quais
citamos Estados Unidos, Japão, Canadá e Alemanha.
Considerando-se a tarefa de casa como um momento de aprendizagem, de
reforço, recorremos às Diretrizes Curriculares da Educação Básica (Seed-PR/2008):
[...] a recuperação de estudos deve acontecer a partir de uma lógica simples: os conteúdos selecionados para o ensino são importantes para a formação do aluno, então, é preciso em todas as estratégias e recursos possíveis para que ele aprenda. A recuperação é justamente isso: o esforço de retomar, de voltar ao conteúdo, de modificar os encaminhamentos metodológicos para assegurar a possibilidade de aprendizagem (Seed-PR/2008, p. 33).
Bem como ao indicar a realização da tarefa de casa, segundo as Diretrizes
Curriculares da Educação Básica (Seed-PR/2008, p. 67): “há uma expectativa do
professor de que o aluno recorra a conteúdos já desenvolvidos em sala de aula.
Além disso, exercícios e problemas são expressos por meio de enunciados que
devem ser claros e não darem margem a dúvidas”. Somente assim a tarefa de casa
cumprirá com seu papel de reforçar os conteúdos, retomada para a aprendizagem
de fato.
Para Nogueira (2002):
[...] a tarefa de casa pode e deve ser um momento propicio de aprendizagem e de enriquecimento. Mas para tanto urge ser pensada à luz de princípios educativos que permitam sistematizar o saber e o fazer. É preciso oferecer subsídios para que a prática da tarefa de casa seja
realmente de formação do sujeito cidadão (NOGUEIRA, 2002, p. 16).
A tarefa de casa tem trazido problemas de convivência na esfera família-
escola, alunos deixam de realizar a mesma, os pais são convocados pela escola e
orientados a cobrar a tarefa. Já por sua vez, os alunos nem sempre a fazem, pois
passam horas em frente da TV ou do computador. A internet e os sites de
relacionamentos tem tirado muita à atenção dos jovens e em desfavor a tarefa
escolar vem num segundo, terceiro plano. Em casa o relacionamento fica difícil, os
pais ameaçam e designam “castigos” tornando difícil a convivência familiar e a hora
do lazer, descanso dos pais, que trabalham o dia todo fora, não conseguem relaxar.
Alguns até tentam auxiliar na realização da tarefa, enquanto outros assumem que
não tem condições porque também tem baixo nível de escolaridade, ou porque há
muito tempo deixaram de ser alunos e não lembram mais o conteúdo. Situação esta
que se agrava ainda mais no caso da disciplina de Matemática, onde uma
explicação fundamentada se faz necessária; os conteúdos têm muitos pré-requisitos
o que dificulta o entendimento a partir de uma simples leitura, onde a figura do
professor é essencial. Ceccon; Oliveira; Oliveira (1984) afirma que:
Os pais também se sentem, eles próprios, meio culpados porque não são capazes de ajudar os filhos como gostariam nos deveres de casa e na preparação dos exames. Eles chegam em casa exaustos do trabalho, ainda têm que se ocupar dos filhos menores, e muitas vezes, não dominam os conhecimentos e as matérias que a escola exige (CECCON; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 1984, p. 13).
Quando os pais têm condições financeiras os mesmos recorrem às aulas
particulares, procuram alguém que possa auxiliar o filho no desenvolvimento das
atividades escolares, bem como, a se preparar para as eventuais provas. Sabemos
como educadores que a tarefa de casa é do aluno e o papel dos pais se restringe a
criar um ambiente de estudos em casa e acompanhar se realmente os mesmos
estão realizando as suas tarefas. Neste sentido Nogueira (2002) é enfática ao dizer:
Os pais reclamam que as relações com os filhos ficam muito difíceis por causa das obrigações da tarefa de casa e das cobranças [...] Os pais tem razão. Ensinar tarefa de casa não é responsabilidade nem tarefa deles. Ou os filhos fazem a tarefa de casa sozinhos ou voltam para a escola sem fazê-la, a fim de receber nova aula sobre o assunto. Ensinar é incumbência do professor, não dos pais. A tarefa de casa deve e precisa ser realizada pelo aluno [...] é de responsabilidade da escola oferecer ao aluno os procedimentos e conteúdos necessários, a fim de que ele tenha domínio das habilidades e dos conteúdos básicos para poder cumprir a contento suas obrigações para com a escola (NOGUEIRA, 2002, p. 92).
Autora também enfatiza que o professor deverá evitar tarefas muito longas
ao dia, mas frequentes. Para o aluno deverão ser garantidos os horários de
descanso e lazer, horas de conviver em família, onde o brincar é extremamente
importante no desenvolvimento cognitivo da criança.
Segundo Nogueira (2002, p. 95) “A criança precisa ter total independência
na feitura do dever de casa, que afinal é dela. Além disso, a criança precisa brincar.
Que haja tempo, espaço, para bem exercer este direito, que também é uma
necessidade básica”.
Os educadores devem redimensionar a prática da tarefa de casa, a fim de transformá-la em momento de real aprendizagem. O que importa para a tarefa de casa é formar o hábito do estudo e da leitura, desenvolver uma atitude formativa, desenvolver habilidades de pesquisa, síntese, elaboração. Assim o aluno terá ferramenta para aprender a estudar, aproveitando bem o horário de estudo, tendo respeitada sua necessidade de estudar e brincar (NOGUEIRA, 2002, p. 83, grifo do autor).
Reforçando a importância da tarefa de casa e a necessidade de ir além esta
metodologia pode ser um momento rico de reflexão.
Neste sentido, a tarefa de casa é uma ferramenta muito válida, desde que os
professores abram mão da sua forma tradicional, levando em conta as
facilidades/dificuldades dos alunos, seus pontos de vista, as suas formas de
aprender e o tempo de cada um.
Segundo Nogueira (2002):
A tarefa de casa precisa ser um momento de enriquecimento da aprendizagem do aluno, direcionada a dar oportunidades a ele para crescer rumo a sua independência na produção do saber. O aluno é por excelência aprendiz de produtor do conhecimento. Ele precisa ter direito e liberdade de errar. Os educadores são todo o tempo desafiados a partir do já instituído, já dado sobre a tarefa de casa para romper com o “mesmismo” em busca do melhor, de novos caminhos, de novas estratégias e até do diferente, para que a tarefa de casa seja um autêntico aprender a aprender (NOGUEIRA ,
2002, p. 67).
Desta forma, percebemos que nós professores não temos claro este
entendimento das tarefas de casa. Na nossa profissão acabamos reproduzindo a
forma com que fomos ensinados. Nem sempre os cursos de licenciaturas valorizam
a questão da didática, das metodologias no Ensino da Matemática no Ensino
Fundamental e Médio, o uso de diversos recursos para na relação ensino e
aprendizagem, dando uma ênfase muito grande nos conteúdos matemáticos
historicamente construídos.
Sobre a formação inicial e a necessidade da formação continuada, Paiva
relata que:
[...] a partir da formação inicial que proporciona uma base prévia ao exercí-cio da atividade docente, a formação pessoal e profissional do professor prossegue ao longo de sua carreira. Esta formação continuada coloca em destaque a preparação do professor no exercício de sua prática como ator que reflete sobre as ações que realiza em seu cotidiano. (PAIVA, 2003, p. 47).
Uma forma de compensar esta formação inicial muitas vezes precária é a
formação continuada. Mais que uma necessidade é um direito previsto na LDBEN4
4LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Ministério da Educação e Cultura, de 20 de dezembro de 1996.
Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.html> acesso em 03 set. 2013.
n. 9394/1996 em seu art. 67:
os sistemas de ensino promoverão a valorização dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério público […], inciso II – aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive com licenciamento periódico remunerado para esse fim.(Lei n. 9394/1996).
Além do Sistema de Ensino promover a formação continuada, cabe às
Direções das escolas disponibilizarem a participação efetiva de seu quadro docente,
o que contribuirá para a melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem.
3. Da elaboração do projeto à sua implementação
A elaboração do Projeto PDE 2012 teve início no primeiro semestre de 2012,
ao longo deste período foram proporcionados muitos momentos de estudos,
participação em cursos, orientações, atividades de inserções acadêmicas que
juntamente com minha experiência de sala de aula e de diretor de colégio
propiciaram a construção do projeto de intervenção, a produção do material didático
pedagógico, a orientação do Grupo de Trabalho em Rede (GTR-2012) e a
implementação da proposta no Colégio de atuação.
Todas estas etapas foram fundamentais e cada uma contribuiu de maneira
significativa no desenvolvimento desta proposta. Neste sentido, serão apresentadas
a seguir as principais atividades desenvolvidas, suas contribuições e dificuldades
encontradas no período.
Dessa forma adotamos a Pesquisa Qualitativa para embasar os trabalhos
que foram desenvolvidos a cerca deste Projeto de Intervenção. Sendo assim,
recorremos à interpretação de Oliveira (2007) onde conceitua Pesquisa Qualitativa
ou Abordagem Qualitativa como sendo:
um processo de reflexão e análise da realidade através da utilização de métodos e técnicas para compreensão detalhada do objeto de estudo em seu contexto histórico e/ou segundo sua estruturação. Esse processo implica em estudos segundo a literatura pertinente ao tema, observações, aplicação de questionários, entrevistas e análise de dados, que deve ser apresentada de forma descritiva (OLIVEIRA, 2007, p. 37).
Dentro da abordagem qualitativa realizamos a pesquisa bibliográfica,
propomos uma pesquisa de campo para a coleta de dados. Desta forma foram
aplicados questionários aos docentes, alunos e familiares, e neste momento,
necessitamos recorrer ao método da análise textual discursiva para o registro das
informações coletadas em consonância com a metodologia anteriormente definida.
Moraes e Galiazzi (2011) definem a análise textual discursiva:
é um processo integrado de análise e de síntese que se propõe a fazer uma leitura rigorosa e aprofundada de conjuntos de materiais textuais, com o objetivo de descrevê-los e interpretá-los no sentido de atingir uma compreensão mais complexa dos fenômenos e dos discursos a partir dos quais foram produzidos (MORAES E GALIAZZI, p. 114, 2011).
Desta forma, a partir dos relatos das entrevistas podemos estabelecer as
relações entre a teoria e a prática docente, buscando uma compreensão entre o
possível e o desejável, o que nos trouxe subsídios para o registro das mesmas.
3.1. O perfil do professor, seu entendimento a cerca da tarefa de casa e a formação continuada
Antes de apresentarmos a pesquisa vamos descrever um pouco sobre a
realidade escolar do Colégio Estadual João Arnaldo Ritt – Ensino Fundamental e
Médio. Localiza-se no Distrito de Vila Nova, Município de Toledo, sendo o único
educandário a ofertar o Ensino Fundamental – Anos finais e o Ensino Médio. O
Distrito tem uma agricultura muito forte, bem como a produção de aves e suínos,
com predominância das pequenas e médias propriedades rurais. Comércio atende
as necessidades imediatas da comunidade enquanto que a indústria tem uma
participação muito pequena.
O Colégio conta atualmente com 417 alunos, distribuídos em 15 turmas e em
três turnos de funcionamento. O corpo docente é formado por 41 professores e 10
funcionários, que preenchem o quadro pessoal da instituição de ensino.
Neste início da pesquisa de campo primeiramente foi levantado o perfil dos
docentes de Matemática do Ensino Fundamental do Colégio Estadual João Arnaldo
Ritt.
Dessa maneira, teve início em novembro de 2012, com a aplicação de um
questionário para os três professores de Matemática do Ensino Fundamental para a
verificação do entendimento destes a cerca da tarefa de casa. Optou-se pela busca
de dados antecipada a fim de evitar que a visão do autor deste artigo tivesse alguma
influência na forma de pensar e agir em relação ao tema a ser estudado.
Baseados nas respostas dos três professores, aqui denominados A., B. e C.
(como forma de preservar seu anonimato), verificamos que os mesmos têm uma boa
caminhada em relação às tarefas de casa. O tempo médio de docência no ensino
fundamental é de 6 anos. Sendo um do Quadro Próprio do Magistério (efetivo) e dois
temporários.
Para o Professor A.: “a tarefa de casa auxilia na aprendizagem, faz com que
assimile melhor os conteúdos abordados em sala de aula e desperta no aluno o
interesse em sempre estar estudando”. Nogueira (2002) corrobora quando afirma
que “a tarefa de casa se justifica em razão de dois objetivos fundamentais: fixar a
aprendizagem realizada em sala de aula e desenvolver no aluno o senso de
responsabilidade”.
De um modo geral, os professores entrevistados escolhem atividades do livro
didático para serem encaminhadas como tarefas de casa. Como podemos observar
pela resposta da Professora B.: “Seleciono as atividades do livro didático que estão
de acordo com o tema abordado, pois é uma maneira de estarem revendo e assim,
memorizando os exercícios”. Oliveira (2010) alerta sobre a necessidade da reflexão
e regulação dos procedimentos metodológicos possíveis e desejáveis para a análise
dos livros didáticos. Neste sentido ele é um instrumento fundamental no ensino da
Matemática, e de qualquer disciplina, mas nunca deve ser o único recurso disponível.
Ao questionar como são realizadas as correções das tarefas de casa, as
respostas dos entrevistados destacam que no retorno do aluno com as atividades de
casa, as mesmas são retomadas. Como verificamos no relato do Professor A.: “faço
a correção da tarefa junto com os alunos no quadro e verifico quais os estudantes
que fizeram a tarefa e sempre comento com os alunos a importância de
resolverem/fazer à tarefa”.
Nogueira (2002) afirma que é importante que a correção “seja feita com
tempo suficiente, a fim de que o aluno esclareça suas dúvidas e se torne capaz de
realizar os exercícios solicitados”.
Quando indagados sobre a importância da família neste processo os mesmos
acreditam ser fundamental. De acordo com o Professor A.:
A importância da família no auxílio/aprendizagem do aluno é fundamental para o desenvolvimento do raciocínio do aluno, a família deve auxiliar o aluno na resolução de suas atividades e sempre participar/estimular/cobrar atitudes dos alunos. Muitos alunos não possuem responsabilidade com suas atividades de estudante e, caso a família não auxilie este estudante, somente o professor/escola não consegue desenvolver o raciocínio lógico necessário para o avanço em seus estudos. Quando a família cobra resultados/tarefa de seus filhos, o ensino por parte do professor e por parte da escola é facilmente alcançado pelo estudante. Sem a participação em conjunto por parte de professores/pais/escola os objetivos dificilmente são
alcançados pelos estudantes (Professor A., 2012).
Percebemos que há certa preocupação dos professores participantes da
pesquisa em relação à realização das tarefas de casa, ao acompanhamento das
mesmas pela família, do reforço à aprendizagem, mas ainda temos que avançar:
praticamente sempre, conforme indicado pelos entrevistados, estas tarefas se
restringem às atividades retiradas do livro didático, são repetitivas e nem sempre
motivam o aluno para a realização. Da mesma forma não levam em conta as
diferenças individuais dos alunos no encaminhamento. Jesus (2011) acrescenta que:
Muitos professores ao planejarem suas aulas simplesmente escolhem as tarefas com base somente nos conteúdos que estão sendo trabalhados, ou porque essas estão contempladas em livros didáticos. Neste contexto, as tarefas podem tornar-se sinônimo de listas de exercícios, nas quais o trabalho dos estudantes se limita a resolvê-los de forma mecânica. (JESUS, 2011, p. 22).
Após esta visão inicial apresentamos oficialmente o Projeto do PDE sobre as
tarefas escolares aos professores, direção, equipe pedagógica e funcionários do
Colégio no dia 04 de fevereiro de 2013. Partimos da justificativa pela escolha do
tema, sua relevância e as ações planejadas para a sua implementação (cronograma),
bem como os objetivos a serem alcançados.
Neste sentido, foram organizados grupos de estudos com os professores do
Ensino Fundamental, da disciplina de Matemática. Sendo que um dos professores
de matemática já respondeu ao questionário em 2012 era o denominado professor C.
e um outro será aqui denominado de Professores D. Divididos em três encontros de
4 horas cada. Nestes momentos foram disponibilizados cópias do Projeto de
Intervenção e do Material Didático produzido para todos os professores de
Matemática do Ensino Fundamental do Colégio, bem como, outros textos sobre as
tarefas de casa para uma leitura prévia, visto que o tempo do grupo de estudo foi
limitado, e propiciado momentos de trocas de experiências e reflexões sobre a
prática docente.
Os trabalhos dos Grupos de Estudos ficaram pouco comprometidos pelo fato
de todos os professores do Ensino Fundamental em 2013 serem temporários e com
pouca carga horária no Colégio e desta forma, atuarem em outros estabelecimentos
de ensino e em dias diferenciados o que dificultou o trabalho de grupo como um todo.
Este projeto foi implementado em dois 6ºs anos (A e C), no turno matutino. O
trabalho do grupo de estudos com o Professor C, docente das turmas onde realizei a
Implementação do Projeto PDE, foi possível estabelecer uma melhor parceria, pois
em vários momentos de sua hora atividade conseguimos debater sobre a realização
das tarefas, o tipo de tarefas indicadas, a análise de atividades do Livro Didático
Público adotado neste estabelecimento de ensino, a troca de experiências quanto ao
acompanhamento das atividades e o estudo dos Níveis de Demandas Cognitivas
visando à melhoria da aprendizagem Matemática e uma reflexão sobre as atividades
propostas para os alunos.
Tardif (2007, p.52) afirma que é dessa forma, a partir destas relações com os
seus pares, com o coletivo, por meio “do confronto entre os saberes produzidos pela
experiência coletiva dos professores, que os saberes experienciais adquirem certa
objetividade)”.
Neste sentido, debatemos o texto Stein; Smith (2008), onde discutem o tipo
de atividades bem como o nível de exigências de demandas cognitivas, a saber:
memorização e procedimentos sem conexões – exigências de nível reduzido de
demandas cognitivas; procedimentos com conexões e fazendo matemática –
exigências de nível elevado de demandas cognitivas.
Como fruto de discussões e trocas de experiências com o Professor C e
Equipe Pedagógica adotamos a Agenda do Estudante distribuída gratuitamente
(patrocínio da APMF – Associação de Pais, Mestres e Funcionários do Colégio
Estadual João Arnaldo Ritt) a todos os alunos dos 6º anos. A agenda foi
confeccionada em gráfica e consta de calendário escolar, agendamentos de
compromissos (trabalhos, tarefas entre outros). Além de auxiliar na organização dos
estudantes também é uma forma de comunicação entre escola e família onde
informações importantes são repassadas, lidas e vistadas sendo de escola para a
família ou da família para a escola.
No que se refere especificamente a tarefa foi adotado o uso de carimbo: ora
parabenizando os alunos pela realização das tarefas escolares e outrora alertando
os familiares no caso da não realização das mesmas. Os demais professores do 6º
anos se envolveram nas reuniões, no estabelecimento de um acordo buscando
valorizar a tarefa de casa, a tomada de atitudes padronizadas no envio, na correção,
durante todo o processo. Convencionamos com a Direção, Equipe pedagógica e
professores dos 6ºs anos que a partir da terceira vez que a aluno não trouxer a
tarefa realizada haverá convocação dos pais. Com os professores de Matemática
do Ensino Fundamental elaboramos atividades para serem utilizadas como tarefas
de casa envolvendo Números e Álgebra, Grandezas e Medidas.
No mês de abril/2013, após as atividades de Grupo de Estudos aplicamos o
questionário ao Professor C e D., que haviam sido propostos inicialmente, na
tentativa de evidenciar avanços por parte dos professores na compreensão e
utilização da tarefa de casa como ferramenta de aprendizagem. No relato do
professor C. verificamos que:
a tarefa de casa é fundamental para o aluno, pois faz com que ele enfrente desafios pedagógicos fora do cotidiano escolar, permitindo assim um melhor aprendizado, pois fixa muito mais o conteúdo que aprendeu na escola e visa construir sua autonomia.(PROFESSOR C., 2013).
Quando questionado sobre as mudanças na sua prática docente após a
participação no Grupo de Estudos o Professor D. assume conseguir uma melhor
organização do tempo em sala de aula para trabalhar com os alunos, pois através da
correção da tarefa favorece aos professores diagnosticar as dificuldades dos
mesmos.
Nóvoa (1995, p. 26) defende que: “troca de experiências e a partilha de
saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é
chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando”.
Sobre o envolvimento da família na escola as mudanças percebidas segundo
o Professor C. foram:
a família auxiliando os alunos, verificando se tem tarefas ajuda muito pois assim os alunos não deixam as tarefas sem fazer, e proporcionam um melhor rendimento de aprendizado nas próximas aulas, e também uma maneira da família acompanhar o aprendizado dos seus filhos. (PROFESSOR C., 2013).
De acordo com os professores envolvidos na pesquisa todos são unanimes
sobre a continuidade do Projeto das Tarefas Escolares e possível expansão para as
demais turmas do colégio, consideram muito importante e plenamente viável.
Para Hoffmann (2006):
As tarefas são elementos essenciais para a observação das hipóteses construídas pelos alunos ao longo do processo. Através delas, professores de todos os graus de ensino poderão estabelecer o diálogo com os educandos, no sentido de debruçar-se sobre sua produção de conhecimento para compreender em que momento se encontram, qual a dimensão de seu entendimento. Preocupam-se entendimentos sobre uma prática avaliativa inovadora que abandone a realização de tarefas pelos alunos em qualquer grau de ensino. É importante que se respeite o saber elaborado pelo aluno, espontâneo, partindo de ações desencadeadoras de reflexão sobre tal saber, desafiando-o a evoluir, encontrar novas e diferentes soluções às tarefas sucessivas apresentadas pelo professor. (HOFFMANN, 2006, p. 57).
Para avançarmos nesta perspectiva como grupo de professores
consideramos fundamental a Formação Continuada, mediante o debate e a troca de
experiências permanentes. A atribulação do dia a dia, o excesso de compromissos e
as cobranças faz com que a comodidade e a indiferença floresçam dificultando o
avanço, a motivação e a criatividade, qualidades fundamentais em nossa prática
docente. Carrascosa (2001), declara que:
[...] a formação de um professor é um processo a longo prazo que não se finaliza com a obtenção do título de licenciado […] a formação docente é um processo complexo para o qual são necessários muitos conhecimentos e habilidades, impossíveis de ser todos adquiridos num curto espaço de tempo que dura sua formação inicial. […] é necessário que os professores disponham de possibilidades de formação e atualização permanente, diversificada e de qualidade, sendo também garantidas facilidades de acesso a tais programas. (CARRASCOSA. 2001, p. 10-11).
O processo de formação é muito dinâmico desta forma, um professor nunca
“se forma”, pelo contrário, quanto mais estuda, mais necessidade tem de continuar
estudando. Esta busca pelo conhecimento constante reflete em sala de aula; o
professor é exemplo e motiva aos alunos em busca do conhecimento.
3.2. O perfil das famílias e seu grau de envolvimento nas tarefas escolares: acordos firmados entre família e escola
O trabalho com as famílias dos 6º anos do turno matutino iniciou-se em 26 de
fevereiro de 2013. No inicio da reunião aplicamos um questionário aos
pais/responsáveis presentes com o objetivo de buscar um perfil dos mesmos e seu
entendimento sobre a questão das tarefas escolares em geral. Fizeram se presentes
20 pais, o que corresponde a 48% do total de famílias envolvidas.
Neste momento quero compartilhar alguns dados possibilitados pela pesquisa
de campo realizada com pais de alunos. De um modo geral a compreensão destes
pais em relação à tarefa de casa é bastante pertinente. Para preservar seu
anonimato iremos denominá-los de modo semelhante ao utilizado com os
professores.
A seguir, a visão da Mãe A., que afirma que a tarefa é “muito importante, pois
é um complemento daquilo que é aprendido em sala de aula, ajuda ele a refletir mais
sobre o que o professor explicou”.
Deste questionário podemos identificar que:
a) a faixa etária dominante dos pais/responsáveis é de 34 a 38 anos;
b) o grau de instrução destes pais/responsáveis da maioria, 40%, tem Ensino
Médio Completo. Nenhum tem curso superior e 25% não tem o Ensino Fundamental
concluído;
c) todos (100%) consideram a tarefa de casa muito importante para a
aprendizagem escolar;
d) 75% destes costumam ajudar seu filho na realização das tarefas. Sendo
que a maioria explica e ajuda no que for necessário (25%); 5% só ajudam quando
têm dificuldades, mas sempre conferem; 10% alegam que pouco podem ajudar, pois
não tem estudo;
e) o tempo médio gasto com Tarefas Escolares na visão da maioria dos pais é
de uma hora (45%);
f) entre outras atividades que os filhos realizam em casa no contra turno
escolar estão: Descansar, brincar, praticar esportes, computador e internet, assistir
TV e a maioria ajuda nas tarefas de casa/sítio (24%);
g) as maiores dificuldades que percebem no filho durante a realização das
atividades são a não compreensão das explicações em sala de aula, dificuldades
nos cálculos e identificação da operação correta para resolução dos
problemas/atividades, dificuldade de concentração e produção de textos. Juntas
estas dificuldades perfazem 45%, enquanto que dois pais declaram que os filhos
reclamam quando as tarefas são muito longas e outro que o filho se estressa quando
não consegue realizar as mesmas e desiste da atividade.
As respostas vai ao encontro de nossa fundamentação teórica ?????
Após a aplicação do questionário assistimos o vídeo 5 “ajudar o filho a
estudar”, que consiste numa entrevista do Programa Bom Dia Paraná ao Educador e
Psicólogo Marcos Meyer exibido no dia 21 de abril de 2008, com duração de 3min e
15s. A partir do vídeo foi realizado um debate com os participantes onde vários pais
contaram experiências de realização das Tarefes de Casa, positivas e negativas,
onde nos chamou a atenção o fato de uma mãe ter assumido para o grupo que dita
respostas prontas para a filha, pois a mesma demora demais para procurar/realizar
as mesmas sozinha e acaba tomando seu tempo de assistir a novela.
Nogueira (2002) relata uma situação semelhante e a chama de uma “tríplice
farsa”, onde os filhos:
apresentam suas tarefas de casa que não foram feitas por eles. A mãe as faz no lugar dos filhos e os autoriza a entregá-las como se fossem feitas por eles. A professora acredita que foram feitas pelos alunos. A mãe engana a si mesma, aos filhos e à professora. Os filhos enganam a si mesmos e à professora.(NOGUEIRA, 2002, p. 86).
Para a finalização do encontro com os pais foram apresentadas e entregues
impressas algumas “Dicas sobre como Acompanhar as Tarefas de Casa”, com
base leitura da bibliografia de Nogueira (2002, p. 85-97) e na fala de Meyer (2008).
5Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=9kFwTqk1dSY>, acesso em: 12 mar. 2013.
A partir do questionário aplicado aos pais, relativo a sua colaboração em
relação as atividades de casa e as dificuldades que percebe, a Mãe B., afirma que:
Ela não lê com atenção as questões ou os textos para achar a resposta. Eu preciso ler com ela e explicar. Já certas coisas eu procuro deixar para ela pensar e tirar suas próprias conclusões. No mais ela é muito inteligente. Tem um bom raciocínio. (MÃE B., 2013).
Todos os pais presentes alegaram a importância e o apoio neste projeto e na
entrega de boletins no dia 02 de maio de 2013 retomado o tema das tarefas de casa
e os pais que não compareceram na reunião anterior (52%) justificaram a ausência
devido o trabalho no sítio, visto que, a maioria trabalha nas atividades de agricultura
e agropecuária e sugeriram que as demais reuniões se realizem no período noturno,
facilitando a sua participação. Assim as reuniões terão continuidade com
periodicidade bimestral.
3.3. Perfil dos alunos dos 6ºs anos em relação à tarefa de casa
O trabalho efetivo com alunos iniciou-se no final do mês de fevereiro de 2013
e consistiu na aplicação de um questionário para verificar a visão destes em relação
à prática da tarefa de casa. Num total de 41 alunos, das Turmas de 6ºs Anos A e C
do Ensino Fundamental, do Turno Matutino, do Colégio Estadual João Arnaldo Ritt
que preencheram o questionário.
Apresento neste momento alguns dados apurados durante esta etapa da
pesquisa de campo:
a) o tempo médio gasto para a realização das tarefas de casa é de uma hora
diária (37%);
b) todas as disciplinas enviam tarefas de casa, de acordo com o número de
aulas semanais;
c) 44% dos alunos realizam as atividades no quarto; 10% as realizam ouvindo
rádio ou assistindo televisão; um aluno realiza as mesmas em cima da cama.
d) 32%, ou seja, a grande maioria, afirmam que os pais sempre auxiliam na
realização das tarefas através de explicações. 15% de alunos afirmam que não
necessitam de ajuda na realização das tarefas; os demais dividem opiniões entre
ajudas esporádicas ou um simples acompanhamento indireto;
e) 67% dos alunos afirmam que os professores verificam as tarefas, dão um
visto e corrigem no quadro. Apenas um aluno afirmou que o professor apenas olha o
caderno e dá visto.
f) 58% dos alunos afirmam que sempre conseguem realizar a tarefa sozinhos;
23% afirmam que as vezes conseguem realizar a tarefa sozinhos e 19% assumem
que necessitam de ajuda diária. Mesmo assim, quando questionados se as tarefas
de casa são bem explicadas 95% concordam.
g) 100% dos alunos afirmam que as tarefas de casa consistem em atividades
do Livro Didático, que muitas vezes foram iniciadas na aula e são terminadas em
casa.
Após este levantamento de dados sobre a visão dos alunos em relação à
suas tarefas escolares damos continuidade à implementação com reunião de pais e
o grupo de estudos com os professores, que já foram descritos anteriormente.
No final do mês de abril de 2013 aplicamos outro questionário aos alunos
para verificar a mudança de atitudes em relação à sua tarefa; a mudança na
metodologia dos professores e o acompanhamento da família nas atividades para
casa, após um trabalho de conscientização realizado na implementação deste
Projeto.
Sobre as mudanças que ocorreram no empenho nos estudos o Aluno A.
afirma que “mudou muito, porque agora eu me dedico mais aos estudos e faço as
tarefas em lugar adequado e os professores explicam melhor as tarefas”. Sua colega
de classe Aluna B. afirma que “antes eu nem me preocupava com as tarefas, agora
eu estou estudando mais e fazendo todas as tarefas que eu consigo”. De
semelhante forma a Aluna C. relata que “Comecei a estudar mais, me preocupar
mais com os meus estudos, e menos com o computador e com a TV”.
A Aluna D afirma que “ocorreu uma mudança, antes eu fazia na cama e agora
faço na mesa. O tempo de estudo é de duas horas ao menos, se é bastante tarefa,
demoro mais para fazer”.
Especificamente sobre a mudança de metodologia dos professores o Aluno E.
relata que “os professores passaram a dar mais tarefas de casa e começaram a
“pegar pesado”, enquanto a sua colega de sala a Aluna
F. afirma que “os professores explicam melhor e conseguimos fazer bem direito”.
Finalizando a pesquisa de campo compreendemos que há a necessidade de
repensar a prática da tarefa de casa, unindo todos os segmentos escolares. Tal
posicionamento é compartilhado por Nogueira (2002) quando sugere:
[...] cada escola poderia reunir-se com os pais e, juntos, numa parceria educativa, planejar a Tarefa de Casa para cada semestre ou ano: frequência, quantidade, responsabilidade da escola, dos alunos e dos pais, dificuldades, entre outros quesitos (NOGUEIRA, 2002, p. 128).
A citação acima resume as ações desenvolvidas no trabalho com pais, alunos
e professores e tenho a convicção de que nos indicam o caminho a ser seguido na
concepção atual de tarefa de casa, um avanço da visão tradicional a ser superada.
Da mesma forma o processo de transição anos iniciais – anos finais do
Ensino Fundamental deve ser considerada. Neste sentido, Nogueira (2002) afirma
que se bem trabalhada nas séries iniciais do Ensino Fundamental, a tarefa de casa
poderá sedimentar no aluno o alicerce da construção de hábitos e atitudes e do
desenvolvimento de habilidade favoráveis ao estudo.
3.4. Do contexto escolar ao Grupo de Trabalho em Rede – GTR 2012
Concomitante à implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica no
Colégio de atuação, realizamos no primeiro semestre de 2013 a orientação do GTR
2012, um curso de formação à distância destinado aos professores da Rede
Estadual de Ensino, onde o Professor PDE atua como Tutor no Ambiente Virtual de
Aprendizagem da Secretaria Estadual da Educação – SEED/PR.
Este ambiente virtual de estudos foi muito importante neste processo de
formação continuada, possibilitou além do estudo coletivo, a troca de experiências e
atividades para a utilização com alunos. Podemos conviver com 15 outros
professores, de realidades diferentes (da Periferia de Curitiba, Londrina, Formosa do
Oeste, Carambeí, Toledo, São Miguel do Iguaçu, Cornélio Procópio, e escola de
assentamento em Rio Bonito do Iguaçu), em modalidades de ensino regulares e EJA
– Educação de Jovens e Adultos.
O GTR 2012 – Grupo de Trabalho em Rede esteve composto de três
temáticas, respectivamente sobre o Projeto de Intervenção, a Produção Didática e
sobre a Implementação do Projeto. Inicialmente levava aos participantes realizarem
a sua apresentação pessoal e experiência profissional. Posteriormente as atividades
estavam divididas em Diário e Fórum, nas Temáticas 1, 2 e 3. Muitas contribuições
foram propiciadas pelos professores da Rede Estadual de Ensino, os relatos e trocas
de experiências foram excepcionais para o desenvolvimento da função docente, bem
como as atividades sugeridas para as tarefas de casa. O professor E. nos relatou no
ambiente virtual de aprendizagem:
[...] a tarefa de casa deve ser considerada como uma importante ferramenta relacionando ensino aprendizagem, [...] deverá servir de diagnóstico do nosso trabalho desenvolvido em sala de aula para verificar até que ponto o aluno assimilou os conteúdos trabalhados e em contrapartida para avaliar se realmente o que estamos ensinando e a forma como estamos ensinando está sendo proveitosa. (PROFESSOR E., 2013).
Da mesma forma a participante do GTR Professora F.:
[...] a realização da tarefa escolar é de suma importância para o esclarecimento de dúvidas, bem como, a fixação do conteúdo trabalhado naquele dia. É com esta importante ferramenta que o processo de ensino aprendizagem se efetiva em toda sua totalidade e grandiosidade. Momento único de absorção e sistematização do próprio saber, apropriado pelo aluno, para o resto de sua vida. A partir desta conscientização do aluno a tarefa tornar-se-á muito mais satisfatória. (PROFESSORA F., 2013).
O Ambiente Virtual de Aprendizagem do GTR-2012, realizado em 2013 foi
muito proveitoso, nos proporcionou possibilidades de trocas de experiências,
algumas atividades inéditas, outras conhecidas, mas abordadas sob novos enfoques,
que contribuíram com todo o grupo no sentido de subsidiar propostas de envio de
atividades para tarefa de casa. Muitas realidades diferentes, mas que curiosamente
enfrentam problemas semelhantes na questão do envio, realização, correção,
envolvimento de alunos, pais, professores, bem como o incentivo (ou não) da
direção escolar e equipe pedagógica: mais uma vez fica clara há necessidade de
união de esforços, o uso da mesma concepção teórica para conseguir mudar a
realidade a cerca das tarefas e o comprometimento dos alunos em relação ao
estudo.
3. Considerações finais
Ao findar dois anos de estudos sobre as tarefas de casa muito conseguimos
ler, analisar, compreender sobre a realidade das mesmas, o seu papel na relação de
ensino e aprendizagem. Tais estudos nos levaram a confirmar a necessidade da
discussão deste importante tema com todos os segmentos escolares, bem como, a
necessidade da elaboração de uma proposta única de todos os docentes e com o
apoio da direção, equipe pedagógica, familiares e o desenvolvimento de um
ambiente prazeroso de aprendizagem. Ambiente este onde o aluno tenha subsídios
para a realização das atividades propostas para casa, consciência da sua
necessidade, a adoção de critérios claros de avaliação e retomada dos conteúdos
não assimilados. Da mesma forma, que professores e familiares tenham noção de
seu papel e o desempenhem de forma coerente.
Muitas foram as sugestões advindas de todos os envolvidos no projeto, desde
a simples troca de experiências a uma conversa informal no intervalo do recreio ou
até mesmo nas formalidades desenvolvidas durante o processo de realização deste
PDE.
No decorrer da implementação deste projeto, ficou claro que é necessário
avançar ainda mais na compreensão da tarefa de casa enquanto instrumento de
aprendizagem, a forma com que o aluno aprende e como as atividades são
encaminhadas e retomadas/avaliadas, as dificuldades individuais versus as
atividades padronizadas para todos, dificuldades estas que precisam ser superadas.
Neste sentido, percebemos possibilidades de avanços na forma de envio das
tarefas de casa (observando o excesso de tarefas simultâneas, o prazo para a
entrega), bem como, no tipo das atividades, uma mudança no próprio discurso, pois
os professores apontavam a necessidade da repetição e treino de atividades para
memorizar os exercícios e a contribuição dos pais na realização efetiva da tarefa de
casa e isto foi conseguido.
Reforçamos a necessidade da assimilação de conteúdos e a necessidade do
próprio aluno realizar suas atividades sendo obrigação dos pais o acompanhar, o
incentivar e a garantir de que seu filho realize, ele mesmo, as atividades e, em caso
da não dominar as condições necessárias, que o aluno retorne à escola e tire
dúvidas com o próprio professor. Entendemos que somente assim a tarefa cumprirá
com seu papel efetivo e contribuirá de fato com a aprendizagem.
Acreditamos que damos um primeiro passo e que o caminho é longo.
Conseguimos parar para refletir sobre a nossa prática, embasados em uma
fundamentação teórica que nos amparou no processo de mudança que está apenas
iniciando.
Sabemos que o desafio é grande, tal como o grau de comodidade e porque
não dizer “desconhecimento” da maioria da classe docente. Necessitamos mais
momentos de reflexão da nossa prática, momentos de trocas de experiências, de
formação continuada e apoio da escola como um todo, da família, das políticas
educacionais. Da mesma forma, faz-se necessária a parceria com as escolas que
ofertam o Ensino Fundamental – Séries Iniciais, pois percebemos que o aluno que
vem com o hábito da tarefa de casa dá continuidade a este processo e o que não
tem este hábito tem muito dificuldade quanto ao comprometimento e continuidade
dos estudos no contraturno escolar.
Durante a implementação, constatamos que ainda temos muitas dificuldades
em dialogar, estudar a educação, os desafios, seja por motivo de cumprimento de
um calendário escolar, seja pela dificuldade de reunir todos os docentes, que
cumprem sua jornada em inúmeras escolas com um número de aulas reduzido em
cada uma.
O PDE é uma excelente oportunidade para superar estas dificuldades, pois é
um momento de preparo, de complementação de estudos, uma forma de contribuir
para a comunidade escolar, repensando a prática docente e apontando caminhos
para a superação das dificuldades, vendo a escola de fora para dentro, com
maturidade e ânimo renovado.
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