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Uma solução lunáticaO ano de 2014 foi emblemático para a A. Lange & Söhne. Walter Lange cumpriu 90 anos. Praticamente ao mesmo tempo que se celebrava o 25.º aniversário da queda do Muro de Berlim e a consequente Reunificação Alemã, a manufatura relojoeira de Glashütte comemorou duas décadas sobre o seu renascimento — e o Richard Lange Perpetual Calendar Terraluna colecionou galardões um pouco por todo o mundo, cativando a crítica graças a uma solução do tipo ‘Ovo de Colombo’.

Texto Miguel Seabra, em Dresden | Fotografia A. Lange & Söhne

RePORTAGeM A. LAnge & Söhne RichARD LAnge TeRRALunA.

Richard Lange Perpetual Calendar "Terraluna".

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RePORTAGeM A. LAnge & Söhne RichARD LAnge TeRRALunA.

A qualidade dos relógios saídos da manufatura germânica é extremamente elevada e a sua fama também tem assentado em modelos inspirados pelo cosmos.

A relojoaria suíça mantém-se como a principal referência de uma indústria mecânica tradicional que se soube reinventar após a crise do quartzo, entre as décadas de 70 e 80 do século XX, mas há uma marca para além das fronteiras helvéticas que se tem destacado pela qualidade estratosférica: a A. Lange & Söhne. O termo estratosférico é utilizado no sentido próprio e figurativo: a qualidade dos relógios saídos da manufatura germânica é extremamente elevada e a sua fama também tem assentado em modelos inspirados pelo cosmos. O mais recente é o Richard Lange Perpetual calendar Terraluna, vencedor da categoria de Relógio de calendário no grand Prix d’horlogerie de genève e recipiente do galardão de Relógio do Ano um pouco por todo o lado – do México à Polónia.

A casa saxónica só começou a desvelar modelos dotados de complicações celestiais mais ou menos complexas a um ritmo constante somente cinco anos após Walter Lange, günter Blümlein e hartmut Knothe terem apresentado publicamente os relógios Lange & Söhne da nova era. O histórico relançamento da marca foi feito a 24 de outubro de 1994 e nenhum dos quatro modelos inaugurais (o Lange 1, que se tornaria na bandeira da marca; o Arkade, o Saxónia e o Tourbillon Pour Le Mérite) apresentava uma qualquer ligação cósmica: o destaque incidia fundamentalmente sobre a qualidade, a precisão, a estética, a inovadora data sobredimensionada ou a transmissão por corrente de fusée. e a recente celebração do 20.º aniversário, feita no renovado Residenzschloss (Palácio Real) com um jantar de gala na Schlosskapelle (capela do Palácio) para convidados de todo o mundo, foi acompanhada pela apresentação de um modelo comemorativo que também não revelou qualquer complicação sideral: o Lange 1 Tourbillon handwerkskunst.

Mas, para muitos júris por esse mundo fora, o relógio Lange & Söhne do ano foi mesmo o Richard Lange Perpetual calendar Terraluna.

Uma história astronómicaA relojoaria alemã, em geral, e a de glashütte, em particular, sempre estiveram mais focadas na busca da precisão absoluta do que propriamente em complicações cósmicas elaboradas. Dresden era uma capital da ciência, das artes e da cultura até que os bombardeamentos aliados a terraplanaram quando o final da Segunda Guerra Mundial já tinha sido decretado. Os 45 anos de jugo comunista que se seguiram pouco fizeram para reabilitar a cidade. Os milhões vindos da parte ocidental da Alemanha após a reunificação encarregaram-se de recuperar o esplendor de tempos idos e de reconstruir monumentos e museus que antes tinham contribuído para que Dresden ficasse conhecida como a ‘Florença do elba’.

no século XVi, Augusto – então eleitor da Saxónia – promoveu a pesquisa astronómica e fundou a câmara da Arte de Dresden, que depois deu lugar ao gabinete Real de instrumentos Físicos e Matemáticos que hoje em dia se apresenta como museu numa das alas do Zwinger (paços reais). O acervo inclui peças tão importantes como o relógio planetário de eberhard Baldewein (1568), o globo celestial de Johannes Reinhold e georg Roll (1586) ou o globo lunar de ernst Fischer (1875). Os relógios Lange & Söhne dotados de fases da Lua acabam por ser herdeiros dessa história; o próprio Lange 1, ex-líbris da marca, passou a ter, em 2001, uma versão com fases da Lua que, em 2013, passaria a acolher uma janela ainda maior para uma melhor reprodução da lunação no grand Lange 1 Moon Phase.

1. Grand Lange 1 Moon Phase junto ao globo celeste de Johannes Reinhold e georg Roll (Augsburg 1586).

2. Lange 1 Tourbillon Perpetual Calendar junto à Lua esculpida por ernst Fischer, nativo de Dresden, com base em fotografias e observações pessoais.

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O segredo está no versoJá o Richard Lange Perpetual calendar Terraluna foi diretamente inspirado no Cronómetro N.º 93 concebido por Johann heinrich Seyffert (que trabalhou como inspetor no Salão das Matemá-ticas e das Físicas no início do século XiX) em 1807, utilizando um mostrador em esmalte do tipo Regulador. A ideia da Lange & Söhne era fazer um Regulador com calendário perpétuo – só que, além de fazer acompanhar a apresentação das horas, dos minutos e dos segundos em eixos (e submostradores) distintos com janelas para a data, dia da semana e indicadores para os anos bissextos e a reserva de corda, não havia muito espaço para a janela das fases da Lua. Pelo menos, não havia espaço que proporcionasse uma solução estética aceitável.

A solução da equipa de desenvolvimento e produto liderada por Anthony de haas e Tino Bobe foi abrir uma outra dimensão. um autêntico ‘Ovo de colombo’; no fundo do relógio, a Lange & Söhne foi bem mais longe do que revelar o habitual ciclo lunar: a disposição orbital das fases da Lua com reprodução das mudanças de trajetória relativa-mente à Terra e ao Sol é patenteada e de enorme precisão. O disco orbital das fases lunares inclui um disco para a Terra no centro e um disco lunar por baixo que é visível através de uma abertura no disco celestial com mais de duas mil microestrelas. um sistema de rodagem planetária assegura que as fases da Lua são corretamente apresentadas e o mecanismo foi idealizado com uma tal precisão que são necessários 1058 anos até que seja requerida qualquer correção (de um dia).

Gostamos de complicações... mas gostamos de as fazer à nossa maneira, com algo de diferente. Anthony de Haas Departamento de Pesquisa e

Desenvolvimento de Produto A. Lange & Söhne

no centro do disco celestial, o disco terrestre efetua uma rotação de 360 graus por dia. e é dia na metade que enfrenta o Sol (genialmente representado pela roda de balanço do mecanismo), sendo noite na outra metade. A escala periférica de 24 horas apresenta uma referência aproximada do tempo nas regiões do hemisfério norte.

Um triângulo perfeitoDo lado do mostrador em prata maciça, os três círculos parcialmente sobrepostos dos submos-tradores evocam a disposição triangular do tal cronómetro n.º 93 de Johann heinrich Seyffert – acentuado pela típica janela sobredimensionada para a data da Lange & Söhne (embora seja o primeiro modelo da linha Richard Lange com data grande) como vértice imaginário e janelas para o dia da semana (entre as 8 h e as 9 h) e do mês (entre as 3 h e as 4 h) como pontas da base. uma pequena escotilha entre as 2 e as 3 h mostra o ciclo de anos bissextos e na parte inferior do mostrador surge uma abertura rasgada com a indicação em dias da reserva de corda.

As quatro indicações de calendário são saltantes – e saltam com extrema precisão. um escape de força constante controla a distribuição da enorme quantidade de energia armazenada nos dois tambores de corda para que o salto das indicações de calendário seja perfeito e a precisão seja mantida ao longo do espetro de 14 dias da reserva de marcha. no total, o calibre L096.1 é composto por 787 peças, 80 rubis (um dos quais com um chaton em ouro).

O Richard Lange Perpetual calendar Terraluna está disponível em versões em ouro branco e ouro rosa, com um diâmetro de caixa de 45,5 mm. Pode parecer muito para um relógio clássico, mas a verdade é que as linhas são tão elegantes que o relógio assenta perfeitamente mesmo em pulsos mais pequenos. É um relógio para líricos que nos deixa já a sonhar com a criação que a Lange & Söhne apresentará para o ano – quando comemorar o seu 170 aniversário!

Para já, ficam as palavras do próprio Anthony de haas a propósito desta obra prima.

RePORTAGeM A. LAnge & Söhne RichARD LAnge TeRRALunA.

1. ursula Seliger completou numerosos desenhos pormenorizados da Lua, que registou e catalogou. É com a mesma precisão e clareza que o Richard Lange Terraluna, pretende representar a realidade.

2. O Calibre L096.1 que dá vida ao Richard Lange Terraluna.

3. Desenho técnico do mesmo calibre, no qual podemos ver no disco a Terra dividida entre dia e noite.

enTReviSTA AnThOny De hAAS

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Qual é a história por trás da criação do Terraluna?não era sequer para ser chamado Terraluna; era para ser um modelo Richard Lange com mostrador Regulador e calendário perpétuo. começámos a colocar as indicações no mostrador — a data sobredimensionada, o dia da semana, o mês, o ano bissexto e a reserva de corda... e verificámos que não havia mais lugar para a abertura da Lua no desenho particular de um mostrador Regulador. então pensámos em colocá-lo no verso. Mas como? não queríamos fazer um buraco ou pôr outro mostrador na parte de trás para não esconder a bonita arquitetura do calibre. Temos connosco Mario Karsch, um jovem desenhador de movimentos que antes era relojoeiro, e cujo hobby é a astronomia. Foi ele que teve a ideia de usar a roda do balanço como posição do Sol que brilha em direção à Terra. e adicionámos uma indicação dia/noite. Parece muito complicado, mas, na verdade, é uma solução simples para o disco das fases da Lua. As estrelas são meramente decorativas, mas o efeito cénico é extraordinário e temos uma patente especial para a decoração do disco.

e qual é essa particularidade decorativa?Desenvolvemos com a universidade de Dresden uma espécie de camada de verniz sobre um disco de ouro (branco ou rosa) que representa o céu, mas que não é pintada — e que, na verdade, é transparente, mas que quebra a luz, de modo a

parecer azul. A cobertura do disco do Terraluna é semelhante. A diferença está na utilização de um laser de precisão que queima o verniz em forma de estrela para elas aparecerem; as cores são diferentes consoante o modo como a superfície debaixo do verniz é tratada, seja polida para obter cores mais claras ou escovada para as mais escuras.

De onde surgiu a inspiração para o Terraluna?Vimos os relógios do Museu do Salão das Matemáticas e da Física aqui em Dresden, mas não nos serviu de muito porque, historicamente, só utilizavam fases da Lua tradicionais. na verdade, Dresden e sobretudo glashütte não tinham uma cultura de calendários perpétuos nem de complicações acústicas. O ênfase era colocado na precisão, no fabrico de cronómetros. nós é que iniciámos uma tradição de complicações acústicas e calendários perpétuos. gostamos de complicações... mas gostamos de as fazer à nossa maneira, com algo de diferente. Pode-se fazer uma reserva de corda de 14 dias normal, nós fazemo-lo com força constante. Podemos fazer um turbilhão clássico, mas acrescentamos-lhe um mecanismo de paragem para um melhor acerto e com stop-seconds. E o Terraluna, fizemo-lo à nossa maneira!

AnThOny De hAASDePARTAMenTO De PeSquiSA e DeSenVOLViMenTO De PRODuTO DA A. LAnge & Söhne

Anthony de haas com o novo Lange 1 Tourbillon handwerkskunst, modelo comemorativo dos vinte anos de ressurreição da A. Lange & Söhne.