Umbanda de Todos Nós

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UMBANDA DE TODOS NÓS

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Aprenda mais sobre essa linda religião.

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  • UMBANDA DE TODOS NS

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Silva, W. W. da Matta eUmbanda de Todos Ns / W. W. da Matta e Silva

    (Mestre Yapacani) . 16. ed. So Paulo : cone, 2014.

    ISBN 978-85-274-1027-4

    1. Umbanda (Culto) I. Ttulo.

    96-4343 CDD-299.60981

    ndices para catlogo sistemtico:

    1. Umbanda : Religio afro-brasileira 299.60981

  • W. W. da MATTA e SILVA(Mestre Yapacani)

    UMBANDA DE TODOS NS

    Compndio Hermtico

    16 EDIO

  • Copyright 2014 cone Editora Ltda.

    CapaRichard Veiga

    IlustraesW. W. da Matta e Silva

    RevisoJonas de Amaral Medeiros Negalha

    Antnio Carlos TostaPaulo Teixeira

    Projeto grfico, Composio e DiagramaoSuely Danelon

    Proibida a reproduo total ou parcial desta obra, de qualquer forma ou meio eletrnico, mecnico, inclusive atravs de processos xerogrficos,

    sem permisso expressa do editor (Lei n 9.610/98).

    Todos os direitos reservados CONE EDITORA LTDA.

    Rua Anhanguera, 56 Barra Funda CEP 01135-000 So Paulo SP

    Tel./Fax.: (11) 3392-7771www.iconeeditora.com.br

    [email protected]

  • APRESENTAO DA EDITORA

    com grande jbilo e honra que editamos a obra Umbanda de Todos Ns, do saudoso W. W. da Matta e Silva, talvez o mdium que mais servios tenha prestado ao Movimento Umbandista em seus cinquenta anos de militncia no meio. Escritor erudito e com um estilo mpar e fiel depositrio da Antiga Sabedoria da Umbanda, mostrou a real face deste caminho espiritual, levantando pela primeira vez vus ainda hoje desconhecidos pela maior parte dos Umbandistas e dos praticantes das chamadas cincias ocultas.

    Durante sua vida, batalhou incessantemente pelo resgate do bom nome da Umbanda nas sagradas areias de Itacuruss, onde mantinha sua Escola de Iniciao. Escreveu nove livros que revelam seu profundo conhecimento da Umbanda, justificando seu grau de Mestre.

  • SUMRIO

    Parabns! Umbanda de Todos Ns | Quarenta anos de Luzes! 09W.W. da Matta e Silva, Um Arauto do Alm 11A Yoshanan 27 Apresentao Panorama da Situao Nossos Objetivos Cultos Africanos: Inexistncia da Palavra Umbanda em seu meio Consideraes sobre a Palavra Umbanda28Carta do Capito lvares Pessoa 43Aparelhos Umbandistas, Alerta! 47As Sete Lgrimas do Pai Preto 53Aos aparelhos Umbandistas 57

    PRIMEIRA PARTE

    Definindo Umbanda 63Os Sete Orixs Linhas ou Vibraes 78Introduo ao Mapa da Numerologia da Lei de Umbanda 125Consideraes 131

    SEGUNDA PARTE

    Forma e Apresentao dos Espritos na Umbanda 155A Mediunidade na Lei de Umbanda 167Ritual 187Banhos de Ervas Defumadores 207Guias 221Os Sinais Riscados Lei de Pemba 231A Iniciao na Lei de Umbanda 253

  • TERCEIRA PARTE

    Esprito Lei e Magia Os Elementos e os Elementares 303Os Sete Planos Opostos da Lei de Umbanda 317Adendo Especial 337Mstica Umbanda 346Bibliografia 347Obras Sequenciais 350

    RELAO DOS MAPAS

    Mapa n 1 EncarteMapa n 1-A EncarteMapa n 2 EncarteMapa n 3 EncarteMapa n 4 187Mapa n 5 EncarteMapa n 5-A 202Mapa n6 203

  • omens, umbandistas ou no, contemplai quarenta anos de Luz Espi-ritual Revelada... Sim, foi nos idos de 1956 que esta magnfica e an-tolgica obra veio luz, descortinando inditos fundamentos da Filosofia Umbandista. Aps quarenta anos, na dcima sexta edio,

    esta obra continua atualizadssima e, qui, futurista... motivo de lisonja, mais uma vez, podermos introduzir uma obra de

    nosso saudoso e insigne Mestre. E seremos muito sucintos, pois ela fala por si, no necessitando de nossas palavras fleumticas.

    Estendamos, sim, nossos parabns Editora cone, que teve a sensibilidade de edit-la, e aos ilustres leitores beneficiados por esta obra de singular manancial da Gnose Umbandista.

    Como um de seus iniciados, pois h outros que tambm poderiam intro-duzir esta obra, e o fazemos em obedincia a uma conscincia e a um pedido irrecusvel da Famlia Matta e Silva, sentimo-nos recompensados, pois assim como nossas obras literrias, a de nosso Mestre ter um tratamento seleto, marca registrada da Editora cone, que vem sendo pioneira em levar aos seus leitores obras srias, do porte da Umbanda de Todos Ns.

    A voc, leitor, entregamos mais uma edio e temos plena certeza de que estar de posse de uma valiosa e rara joia de revelaes, conhecimentos e luzes espirituais.

    Parabns, Umbanda de Todos Ns! Parabns, Leitor Amigo!

    F. Rivas Neto Mestre Arapiaga

    Parabns! Umbanda de Todos Ns Quarenta anos de Luzes!

    H

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    W. W. DA MATTA E SILVA: UM ARAUTO DO ALM

    (1917-1988)

    pedido da famlia Matta e Silva, que muito nos honra, estamos introdu-zindo esta portentosa e valiosa obra. Queremos ressaltar que a famlia Matta e Silva, liderada por seu filho car-nal Ubiratan da Matta e Silva, guiada pelas luzes do astral superior e, no

    temos a menor dvida, por Pai Guin, no pouparam esforos para que esta e outras obras do Mestre Matta e Silva fossem editadas pela Editora cone, deveras conhecida pelos servios prestados em favor da educao e cultura de nosso pas. Assim, reitera-mos que s aceitamos a tarefa de introduzir esta e outras obras de nosso Pai, Mestre e Amigo Matta e Silva por dois motivos:

    O primeiro deveu-se insistncia por parte da famlia Matta e Silva, principal-mente de seu filho carnal, Ubiratan, ao qual dispensamos profunda amizade e o que-remos como a um irmo. Igualmente, no poderamos nos furtar em aquiescer a um pedido de um grande Irmo e Amigo, o Sr. Fanelli, diretor-presidente da Editora cone.

    O segundo, e principal, deveu-se aos sinais do astral superior. Sim, as obras de meu Pai sero editadas na mesma editora que edita nossas obras h vrios anos. Por que ser?!?

    Sim, tudo um sequencial e quiseram os desgnios superiores que duas geraes unidas dessem seguimento a um trabalho iniciado h mais de quarenta anos.

    Com isso, esperamos responder a todos os incautos e mal-intencionados de que a justia sempre se expressa cedo ou tarde. Eis a, pois, a sua manifestao...

    Aps estas ligeiras explicaes, pedimos ao leitor amigo, simpatizante e inte-ressado nas obras e na pessoa de Matta e Silva, que leia atentamente o que se seguir,

    A

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    pois ser demonstrado de forma insofismvel os porqus de estarmos introduzindo estas e outras obras que viro.

    Conheamos um pouco sobre o homem Matta e Silva e tambm sobre o Mestre Espiritual Yapacani, verdadeiro Mensageiro do Alm.

    Nascido em Garanhuns, Pernambuco, em 28.06.1917, talvez tenha sido o mdium que maiores servios prestou ao Movimento Umbandista durante os seus 50 anos de mediunidade. No h dvidas, hoje, aps oito anos de sua passagem para outras dimenses da vida, de que suas nove obras escritas constituem as bases e os fundamentos do puro e real Umbandismo.

    Sua tarefa na literatura umbandista, que fez milhares de simpatizantes e segui-dores, iniciou-se no ano de 1956. Sua primeira obra foi Umbanda de Todos Ns con-siderada por todos a Bblia da Umbanda, pois transcendentais e avanados eram e so seus ensinamentos. A l. edio veio luz por meio da Grfica e Editora Esperanto, a qual situava-se, na poca, rua General Argolo, 230 Rio de Janeiro.

    O volume n. 1 desta fabulosa e portentosa obra encontra-se em nosso poder, presenteados que fomos pelo insigne Mestre. Em sua dedicatria consta:

    Rivas, este exemplar o n 1. Te dou como prova do grande apreo que tenho por voc, Verdadeiro filho de F do meu Santurio do Pai Matta Itacuruss, 30.07.86.

    Desta mesma obra temos em mos as promissrias que foram pagas por Ele Grfica Esperanto, que facilitou o pagamento dos 3.500 exemplares em 180 dias ou 6 parcelas. Com isso, verifica-se que a l. edio de Umbanda de Todos Ns, para ser editada, teve seu autor de pag-la.

    Umbanda de Todos Ns agradou a milhares de umbandistas, que encontraram nela os reais fundamentos em que poderiam se escudar, mormente nos aspectos mais puros e lmpidos da doutrina umbandista. Mas, se para muitos foi um impulso reno-vador de f e convico, para outros, os interessados em iludir, fantasiar e vender ilu-ses, foi um verdadeiro obstculo s suas funestas pretenses, tanto que comearam a combat-la por todos os meios possveis e at socapa.

    Realmente, foi uma luta astral, uma demanda, em que as sombras e as trevas utilizaram-se de todos os meios agressivos e contundentes que possuam, arrebanhando para suas fileiras do dio e da discrdia tudo o que de mais nefasto e trevoso encon-trassem, quer fosse encarnado ou desencarnado.

    Momentos difceis assoberbaram a rgida postura do Mestre, que, muitas vezes, segundo ele, sentiu-se balanar. Mas no caiu!

    E os outros? Ah! Os outros...Decepcionado com a recepo destes verdadeiros opositores, renhidos e fan-

    ticos sua obra, Matta e Silva resolveu cruzar suas armas, que eram sua intuio, sua viso astral, calcada na lgica e na razo, e sua mquina de escrever... Embora confiasse

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    no astral, obteve Ag. para um pequeno recesso, onde encontraria mais foras e alguns raros e fiis aliados que o seguiriam no desempenho da misso que ainda o aguardava.

    Na poca, no fosse por seu astral, Matta e Silva teria desencarnado... Vrias vezes disse-nos, s no tombou porque Oxal no quis... Muitas vezes ,precisou dormir com sua gira firmada, pois o ameaavam de lev-lo durante o sono... Imaginem, leitores amigos, os assaltos que devem ter assoberbado o nobre Matta e Silva...

    Pai Cndido, que logo a seguir denominou-se como Pai Guin, assumiu toda responsabilidade pela manuteno e reequilbrio astrofsico de seu filho, para, em seguida, orient-lo na escrita de mais um livro. Sim, a se lanou, por meio da Editora Esperanto, Umbanda Sua Eterna Doutrina, obra de profunda filosofia transcendental. At ento, jamais haviam sido escritos os conceitos esotricos e metafsicos expostos. Brilhavam, como ponto alto em sua doutrina, os conceitos sobre o Cosmo Espiritual ou Reino Virginal, as origens dos Seres Espirituais etc. Os Seres Espirituais foram ditos como sendo incriados e, como tal, eternos...

    Por ser muito tcnica, Umbanda Sua Eterna Doutrina agradou aos estudiosos de todas as correntes. Os intelectuais sentiram peso em seus conceitos, e para dizer a verdade, passaram, at certo ponto, despercebidos pela grande massa de crentes e mesmo pelos ditos dirigentes umbandistas da poca.

    Ainda no se esgotara a primeira edio de Sua Eterna Doutrina e Pai Matta j lanava outra obra clssica, que viria a enriquecer ainda mais a Doutrina do Movimento Umbandista. Complemento e ampliao dos conceitos hermticos esposados por Sua Eterna Doutrina, o novo livro, Doutrina Secreta da Umbanda, agradou mais uma vez a milhares de pessoas.

    No obstante suas obras serem lidas no s por adeptos umbandistas, mas tam-bm por simpatizantes e mesmo estudiosos das ditas Cincias Ocultas, seu Santurio, em Itacuruss, era frequentado pelos simples, pelos humildes, que sequer desconfiavam ser o velho Matta um escritor conceituado no meio umbandista. Em seu santurio, Pai Matta guardou o anonimato por vrios anos, em contato com a natureza e com a pureza de sentimentos dos simples e humildes. Ele merecera esta ddiva, e nesta doce Paz de seu terreirinho, escreveria mais outra obra, tambm potente em conceitos.

    Assim nasceu Lies de Umbanda e Quimbanda na Palavra de um Preto-Velho, obra medinica que apresenta um dilogo edificante entre um Filho de F (ZiCer) e a Entidade Espiritual que se diz Preto-Velho. Obra de nvel, mas de fcil entendimento, sem dvida, foi um marco para a doutrina do Movimento Umbandista.

    Aps quatro obras, Matta e Silva tornou-se por demais conhecido, sendo procu-rado por simpatizantes de todo o Brasil. Embora atendesse a milhares de casos, como em geral so atendidos em tantos e tantos terreiros por este Brasil afora, havia em seu atendimento uma diferena fundamental: as dores e mazelas que as humanas criaturas

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    carregavam eram retiradas, seus dramas equacionados luz da Razo e da Caridade, fazendo com que a Choupana do Velho Guin quase todos os dias estivesse lotada... Atendia tambm aos oriundos de Itacuruss na ocasio, uma cidade sem recursos que, ao necessitar de mdico, e no havendo nenhum na cidade, recorria ao Velho Matta. Ficou conhecido como curandeiro, e sua fama ultrapassou os limites citadinos, chegando s ilhas prximas, onde acorreram centenas de sofredores de vrios matizes.

    Como se v, total iniquidade e falta de conhecimento atribuir a Matta e Silva a pecha de elitista. Suas obras so honestas, sinceras, reais, e revelam em suas causas o hermetismo desta Umbanda de Todos Ns.

    Continuando com sua jornada missionria, Pai Matta escreveu mais uma obra: Mistrios e Prticas da Lei de Umbanda. Logo a seguir viria Segredos da Magia de Umbanda e Quimbanda. A primeira, ressalta de forma bem simples e objetiva as razes mticas e msticas da Umbanda. Aprofunda-se no sincretismo dos cultos afro-brasilei-ros, descortinando o panorama do atual Movimento Umbandista. A segunda, aborda a magia etreo Fsica, revela e ensina de maneira simples e prtica certos rituais seletos da Magia de Umbanda. Constitui obra de cunho essencialmente prtico e muito eficiente.

    Prosseguindo, chegamos Umbanda e o Poder da Mediunidade. Nessa obra, entenderemos como e por que ressurgiu a Umbanda no Brasil. Ela aponta as verda-deiras origens da Umbanda. Fala-nos da magia e do mdium-magista. Conta-nos, em detalhes, ngulos importantssimos da magia sexual. Nesse livro, h uma descrio dantesca sobre as zonas cavernosas do baixo astral, revelando covas com seus magos negros que, insistentemente, so alimentados em suas foras por pensamentos, atos e at por oferendas grosseiras das humanas criaturas.

    Aps sete obras, atendendo a numerosos pedidos de simpatizantes, resolveu o Mestre lanar um trabalho que sintetizasse e simplificasse todas as outras j escritas. Assim, surgiu Umbanda do Brasil, seu oitavo livro. Agradou a todos e, em seis meses, esgotou-se. Em 1978, lanaria o Mestre sua ltima obra: Macumbas e Candombls na Umbanda. Esse livro, um registro fidedigno de vivncias msticas e religiosas dos chamados cultos afro-brasileiros. Constitui um apanhado geral das vrias unidades--terreiros, as quais refletem os graus de conscincia de seus adeptos e praticantes. Ilus-trado com dezenas de fotografias explicativas, define de maneira clara e insofismvel a Umbanda popular, as Macumbas, os Candombls de Caboclo e d noes sobre Culto de Nao Africana etc.

    O leitor atento deve ter percebido que, durante nossos 18 anos de convivncia iniciativa, e mesmo de relacionamento Pai-Filho com o Pai Matta, algumas das fases que citamos ns presenciamos in loco... Conhecemo-lo quando, aps ler Umbanda de Todos Ns, tivemos forte impulso de procur-lo. Na ocasio, morvamos em So Paulo. Fomos procur-lo em virtude de nosso astral casar-se profundamente com o

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    que estava escrito naquele livro, principalmente sobre os conceitos relativos s 7 linhas, modelo de ritual e a to famosa Lei de Pemba. Assim que nos dirigimos ao Rio de Janeiro, sem saber se o encontraramos. Para nosso regozijo, encontramo-lo na livraria da rua 7 de Setembro.

    Quando nos viu, disse que j nos aguardava e por que havamos demorado tanto?!

    Realmente ficamos perplexos, deslumbrados... Parecia que j o conhecamos h milnios. E, segundo Ele, conhecamo-nos, mesmo, h vrias reencarnaes...

    A partir desta data, mantivemos um contato estreito, frequentando, uma vez por ms, a famosssima Gira de Pai Guin em Itacuruss verdadeira Terra da Cruz Sagrada, onde Pai Guin firmou suas razes, as quais iriam espalhar-se, difundindo-se por todo o Brasil. Mas, voltando, falemos de nosso convvio com o insigne Mestre.

    Conhecer Matta e Silva foi realmente um privilgio, uma ddiva dos Orixs, que guardo como sagrado no mago de meu ser. Nesta hora, muitos podem estar perguntando:

    Mas como era este tal de Matta e Silva?Primeiramente, muito humano, fazendo questo de ressaltar este fato. Alis,

    era avesso ao endeusamento, mais ainda mitificao de sua pessoa. Como humano, era muito sensvel e de personalidade firme, acostumado que estava a enfrentar os embates da prpria vida... Era inteligentssimo!

    Tinha os sentidos aguadssimos, mas era um profundo solitrio, apesar de ter vivido cercado por centenas de pessoas, muitas delas convivendo com Ele por vrios anos, no o compreenderam... Seu Esprito voava, interpenetrando e interpretando em causas o motivo das dores, sofrimentos e mazelas vrias...

    A todos tinha uma palavra amiga e individualizada. Pai Matta no tratava casos; tratava almas. E, como tal, tinha para cada pessoa uma forma de agir, segundo o seu prprio grau de conscincia!

    Sua cultura era exuberante, mas sem perder a simplicidade e a originalidade. De tudo falava, era muito atualizado nos mnimos detalhes... Discutia cincia, poltica, filosofia, arte, cincias sociais com tal naturalidade que parecia ser Mestre em cada disciplina. E era! Quantas e quantas vezes discutamos medicina, e eu, como mdico, confesso, tinha de me curvar aos seus conceitos, simples, mas avanados...

    No mediunismo era portentoso. Seu pequeno copo da vidncia parecia uma televiso tridimensional! Sua percepo transcendia! Na mecnica da incorporao, era singular o seu desempenho! Em conjunto simbitico com Pai Guin ou Caboclo Jurema, trazia-nos mensagens relevantes, edificantes e reveladoras, alm de certos fenmenos mgicos, que no devemos citar...

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    Assim, caro leitor, centenas de vezes participamos como mdiuns atuantes da Tenda de Umbanda Oriental, verdadeira Escola de Iniciao Umbanda Esotrica de Itacuruss. A Tenda de Umbanda Oriental (T.U.O.) era um humilde prdio de 50 m2. Sua construo, simples e pobre, era limpa e rica em Assistncia Astral. Era a verda-deira Tenda dos Orixs... Foi a, nesse recinto sagrado, onde se respirava a doce Paz da Umbanda, que, em 1978, fomos coroados como Mestres de Iniciao de 7 grau e considerados representantes diretos da Raiz de Pai Guin em So Paulo. Antes de ser-mos coroados, j havamos passado por rituais que antecedem a Coroao Inicitica.

    necessrio frisar que, desde 1969, tnhamos nossa humilde choupana de tra-balhos umbandistas em So Paulo, onde atendamos centenas de pessoas, muitas das quais enviadas por Pai Matta. Muitos deles os que vieram tornaram-se mdiuns de nossa choupana, a Ordem Inicitica do Cruzeiro Divino.

    Muitas e muitas vezes tivemos a felicidade e a oportunidade mpares de con-tarmos com a presena de Pai Matta em nossa choupana, fosse em rituais seletos ou pblicos e mesmo em memorveis e inesquecveis palestras e cursos. Uma delas, alis, constitui o acervo do arquivo da Ordem Inicitica do Cruzeiro Divino: uma fita de videocassete em que seus netos de Sant lhe fazem perguntas sobre sua vida, dou-trina e mediunidade. Constam ainda em nossos arquivos centenas e centenas de fotos tiradas em So Paulo, Rio de Janeiro e em outros e vrios locais.

    Para encerrar esta longa conversa com o prezado leitor, pois se continuarmos, um livro de mil pginas no seria suficiente, relatemos a ltima vez que Pai Matta esteve em So Paulo, isso em dezembro de 1987.

    Em novembro de 1987, estivemos em Itacuruss, pois nosso astral j vinha nos alertando que a pesada e nobre tarefa do Velho Mestre estava chegando ao fim... Surpre-endeu-nos, quando l chegamos, que ele nos chamou e, a ss e em tom grave, disse-nos:

    Rivas, minha tarefa est chegando ao fim. O Pai Guin j me avisou... Pediu--me que eu v a So Paulo e l, no seu terreiro, ele baixar para promover, em singelo ritual, a passagem, a transmisso do Comando Vibratrio de nossa Raiz...

    Bem, caro leitor, no dia 2 de dezembro, um domingo, nosso querido Mestre chegava do Rio de Janeiro. Hospedou-se em nossa residncia, como fazia sempre que vinha a So Paulo, pediu-nos que o levssemos a um oftalmologista de nossa confiana, j que havia se submetido sem sucesso a trs cirurgias paliativas no controle do glau-coma (interessante que desde muito cedo comeou a ter estes problemas devido a... ). Antes disso, foi submetido a rigoroso exame clnico cardiolgico, em que foi diagnos-ticada uma hipertenso arterial acompanhada de uma angina de peito, porm estvel. Tratamo-lo e levamo-lo ao colega oftalmologista. Sentamos que ele estava ansioso e, na ocasio, disse-nos que o Pai Guin queria fazer o mais rpido possvel o ritual. Disse-nos tambm que a responsabilidade da literatura ficaria ao nosso cargo, j que

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    lera Umbanda A Proto-Sntese Csmica e Umbanda Luz na Eternidade, vindo a prefaciar as duas obras. Pediu-nos que fizssemos o que o Sr. 7 Espadas havia nos orientado, isto , que lanssemos primeiro Umbanda A Proto-Sntese Csmica. Segundo Pai Matta, este livro viria a revolucionar o meio Umbandista e os que andavam em paralelo, mormente os ditos estudiosos das cincias esotricas ou ocultas. Mas, para no divagarmos ainda mais, cheguemos ao dia 7 de dezembro de 1987.

    A Ordem Inicitica do Cruzeiro Divino, com todo seu corpo medinico pre-sente, se engalanava, vibratoriamente falando, para receber nosso querido Mestre e, muito especialmente, Pai Guin. s 20 horas em ponto, adentramos o recinto sagrado de nosso santurio esotrico. Pai Matta fez pequena exortao, dizendo-se feliz de estar mais uma vez em nosso humilde terreiro e abriu a gira. Embora felizes, sentamos em nosso Eu que aquela seria a ltima vez que, como encarnado, nosso Mestre pisaria na areia de nosso Cong. Bem, Pai Guin, ao baixar, saudou a todos e promoveu um ritual simples, mas profundamente vibrado e significativo. Num determinado instante do ritual, na apoteose do mesmo, em tom baixo, sussurrando ao nosso ouvido, disse-nos:

    Arapiaga, meu filho, sempre fostes fiel ao meu cavalo e ao astral, mas sabeis tambm que a tarefa de meu cavalo no foi fcil, e a vossa tambm no ser. No vos deixeis impressionar por aqueles que querem usurpar e s sabem trair; lembrai-vos de que Oxal, o Mestre dos Mestres, foi coroado com uma coroa de espinhos... Que Oxal abenoe vossa jornada, estarei sempre convosco...

    Em uma madeira de cedro, deu-nos um ponto riscado, cravou um ponteiro e, ao beber o vinho da Taa Sagrada, disse-nos:

    Podes beber da taa que dei ao meu cavalo. Ao beberes, seguirs o determi-nado. Que Oxal te abenoe sempre!

    A seguir, em voz alta, transmitiu-nos o comando mgico vibratrio de nossa raiz...

    Caro leitor, em poucas palavras, foi assim o ritual de transmisso de comando, que, com a aquiescncia de Pai Guin, temos gravado em videocassete e em vrias fotografias.

    Alguns dias aps o ritual, Pai Matta mostrou-nos um documento com firma reconhecida, no qual declarava que ns ramos seus representantes diretos, em mbito nacional e internacional. Sinceramente, ficamos perplexos! Na ocasio, no entend-amos o porqu de tal precauo, mesmo porque queramos e queremos ser apenas ns mesmos, ou seja, no ser sucessor de ningum, quanto mais de nosso Mestre.

    Talvez, por circunstncia astral, ele e Pai Guin no pudessem deixar um hiato, onde usurpadores vrios poderiam, como aventureiros, aproveitarem-se para destruir o que eles haviam construdo! Sabiam que, como sucessor do grande Mestre, eu no seria nada mais que um fiel depositrio de seus mananciais doutrinrios!

  • 18 W. W. da Matta e Silva (Mestre Yapacani)

    Quem nos conhece a fundo sabe que somos desimbudos da tola vaidade! Podemos ter milhares de defeitos, e realmente os temos, mas a vaidade no um deles, mormente nas coisas do espiritual. No estaramos de p, durante 34 anos de lutas e batalhas, se o astral no estivesse conosco. Assim, queremos deixar claro a todos que, nem ao Pai Guin ou ao Pai Matta, em momento algum, solicitamos isto ou aquilo referente nossa Iniciao e muito menos sua sucesso... Foi o astral que nos pediu (o videocassete mostra) e, como sempre, o fizemos, a ele obedecemos.

    Mas o que queremos, em verdade, ser aquilo que sempre fomos: ns mesmos. No estamos atrs de status; queremos servir. Queremos ajudar, como outros, a seme-adura, pois quem tem um pingo de esclarecimento sabe que amanh...

    No mesmo dia que alhures citamos, Pai Guin pediu-nos que deixssemos em nosso Cong, por um perodo de sete anos aps a passagem de nosso Mestre para outras dimenses da vida, os Sinais de Pemba, as Ordens e Direitos que dera ao seu aparelho.

    Aps este perodo de sete anos, recolocssemos os Sinais Riscados das nossas Ordens e Direitos estendidas por Velho Pay (Urubato da Guia) em perfeita incor-porao sobre ns h mais de vinte anos. Sim, disse-nos que ele, Pai Guin, havia preparado o Advento do Velho Pay, detentor da Tradio Csmica velada pela raa vermelha, a primeira a habitar o orbe terreno.

    Nas obras de Matta e Silva, ele deixa claro que a verdadeira tradio estava de posse da raa vermelha, e, como sabemos, Pai Guin era um dos condutores da raa negra, a qual vinha preparando o ressurgimento, a restaurao da Sntese Perdida, que patrimnio da raa vermelha (a raa csmica).

    Assim, aps nossas elucidaes, reiteramos que no somos seu sucessor. Con-tinuamos, sim, de onde parou. Transcendemos, segundo suas prprias palavras, no prefcio da obra Umbanda A Proto-Sntese Csmica.

    Seguimos a raiz de Velho Pay, que afirmamos preconizar os fundamentos csmicos de Umbanda, de uma Umbanda universal, aplicada, vivenciada e ensinada em qualquer regio do planeta e no apenas no Brasil.

    Quanto aos outros irmos de f iniciados que se mantiveram ortodoxos, sec-trios e estacionrios nos fundamentos preconizados pelo Mestre, pouco ou nada temos a lhes dizer... Eles, j escolheram o caminho. A Eles, nosso profundo e sincero respeito e aceitao pelos seus graus de conscincia.

    Os Fundamentos, por ns atualmente seguidos, so os da raiz de Velho Pay, que a raiz de Pai Guin revigorada, atualizada, com fundamentos pr-prios. Isso se deve dialtica Umbandista que, como sabemos, uma marcha, um processo sem fim.

  • Umbanda de Todos Ns 19

    Quando conclamamos a todos os irmos de raiz para uma aproximao, para discutirmos quais os novos, atualizados e revigorados fundamentos de nossa raiz, infelizmente, muitos deles encolheram-se. Outros disseram que iriam reativar a raiz de Guin, que, segundo os Filhos do Mestre, havia ficado parada por sete anos; alis, ento, bom corrigir, oito anos. Pode?!?

    bvio que o bom senso refuta tal absurdo. um acinte aos bons princpios da lgica e luz que norteiam os mentores espirituais de Umbanda. Portanto, cremos que tal aberrao escatolgica, destituda de qualquer sentido de sanidade e higi-dez mento-espiritual. Infelizmente, falta-lhes sustentao dialtica... o que fazer?!! Pacincia, compreenso...

    No podemos confundir leis espirituais srias, como so as da Umbanda, com vaidades pessoais, inveja, despeito e despreparo para o dilogo calcado na lgica e na razo. Mas, a todos: respeitamos e achamos justo que sigam os antigos Fundamentos, pois, para muitos, sero novos.

    Estamos nos prticos do III Milnio, o milnio da Grande Confraternizao Universal. Urge, pois, que assumamos uma posio madura e no pueril perante a Umbanda. Ns, a pedido do astral, do prprio Pai Guin, assumimos a nossa, que queramos fosse de todos, mas?!?

    Por fim, mais uma vez queremos agradecer a honra a ns concedida pela famlia de Matta e Silva, enviando um fraternal Sarav a Senhora no Sant, Carolina Corra, pela sua dignidade, lucidez, profunda simpatia e carinho para com nossa pessoa.

    Assim, esperamos ter deixado claro e patente do por qu as obras de W.W. da Matta e Silva terem sido reeditadas na mesma editora para a qual escrevemos. As obras portentosas e altamente dignificantes e esclarecedoras de Pai Matta foram a base para a nossa formao de cunho universalista. de lamentar-se que outros tidos como filhos do Mestre no tenham adentrado no mbito interno de seus ensinamentos de vida, atendo-se apenas a Umbanda de Terreiro.

    A verdadeira Umbanda preconizada por Matta e Silva transcendia o visvel e sensvel, penetrava no mago, na essncia, no templo do eu espiritual que hoje e sempre ser csmico.

    Com um fraternal e sincero Sarav a todos do

    RIVAS NETO (ARAPIAGA)